29 setembro 2024
Confira os 10 livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2024
Eu tinha um colega – ele acabou se mudando para uma
outra cidade bem distante da minha – que tinha um hábito que eu reputava ‘meio’
maluco e ao mesmo tempo bem descarado e que feria um dos dez mandamentos do
leitor que é “ler qualquer gênero de livro e em qualquer lugar”.
Esse colega adorava ficção, mas achava que devido a
sua profissão (ele é advogado e um bom advogado) “pegava mal” ficar lendo esse
gênero literário em público. Ele vivia me dizendo: “se alguém me flagra lendo
uma Colleen Hoover tô perdido”. Pois é, nos saguões dos aeroportos, terminais
rodoviários e de metrôs; enfim, em qualquer lugar público ele sempre lia obras
relacionadas a sua profissão ou então conteúdos, digamos... mais elitizados,
mas ao chegar no conforto e no segredo de sua casa, imediatamente ele sacava
uma Colleen Hoover ou um Sidney Sheldon (que ele adorava) e começa a devorar
avidamente.
Eu, pelo contrário, sempre segui à risca o tal
mandamento sagrado dos leitores. Se tenho algum tempo sobrando, lá estou eu com
as minhas ficções preferidas em mãos lendo e viajando, sem me incomodar com o
que as outras pessoas irão pensar ou deixar de pensar sobre a minha atitude
literária ou sobre o meu intelecto.
Aliás galera, eu adoro ou melhor, eu amo ficção.
Livros técnicos sobre jornalismo são importantes para o aprimoramento e
desenvolvimento da minha profissão? Claro que sim; mas confesso que alguns
deles são bem chatinhos e por isso mesmo, se eu dissesse que as suas leituras
me dão prazer, estaria mentindo. Resumindo: eu adoro viajar nas asas de um
enredo fictício, me imaginar ali, dentro da história me interagindo com os seus
personagens, participando de as suas alegrias e tristezas, vitórias e derrotas.
Por gostar tanto assim de ficção resolvi elaborar uma
postagem sobre as obras do gênero mais vendidas nestes nove meses de 2024. Com
essa listagem pretendo auxiliar aqueles leitores que pensam como eu e que
adoram os chamados enredos ficcionais a escolherem alguns livros para devora-los.
Selecionei como referência para montar esse toplist
literário os “paradões” de mais vendidos das revistas Veja e Época, além da
listagem da PublishNews. Completei também com uma relação publicada pela CNN
Brasil, a qual achei muito confiável. Todas essas referências são bem parecidas
entre si, por isso foi fácil fazer uma média e publicar aqui no blog.
Ah! Vocês devem estar se perguntando - E quanto ao top list da Amazon? Bem galera,
resolvi dar uma folga para a listagem da Amazon que é muito boa, mas relaciona
apenas os livros mais vendidos em seu portal e não em outras livrarias e
plataformas.
Dadas as devidas explicações, vamos parar de enrolação
e ir direto para a nossa lista de livros ficcionais mais vendidos, até agora.
em 2024. Ah! Acredito que teremos poucas alterações nesse “paradão” já que
restam apenas três meses para o fim do ano.
01
– É assim que acaba (Colleen Hoover)
Este é o primeiro de Colleen Hover em nossa lista; sim
o primeiro, porque ainda temos outras três obras da autora texana aqui, no
“paradão” dos mais vendidos em 2024. Não tem jeito, digam o que digam, mas ela
é um fenômeno da literatura mundial.
É
assim que acaba é considerado o livro do ano e acabou
virando uma verdadeira febre no TikTok e sozinho já acumulou mais de um milhão
de exemplares vendidos no Brasil. Nesse livro, Colleen Hoover nos apresenta
Lily, uma jovem que se mudou de uma cidadezinha do Maine para Boston, se formou
em marketing e abriu a própria floricultura onde acaba conhecendo Ryle, um
neurocirurgião confiante, teimoso e talvez até um pouco arrogante, com uma
grande aversão a relacionamentos, mas que se sente muito atraído por ela.
Quando os dois se apaixonam e começam a se relacionar,
Kyle tem uma atitude abusiva. Depois disso, Lily se lembra do passado sombrio
de Kyle e deve decidir se o amor por si só pode levar o casamento adiante. Para
complicar ainda mais as coisas, um amor antigo reaparece em sua vida.
02
– É assim que começa (Colleen Hoover)
Olha o fenômeno Colleen Hoover novamente aí. O livro é
uma sequência direta de É assim que acaba
que explodiu em vendagens em todo o Brasil consagrando definitivamente o nome
de Hoover no mercado literário mundial.
Em É assim que
começa, Lily Bloom continua administrando uma floricultura. Seu ex-marido
abusivo, Ryle Kincaid, ainda é um cirurgião. Mas agora os dois estão
oficialmente divorciados e dividem a guarda da filha, Emerson. Quando Lily
esbarra em Atlas — com quem não fala há quase dois anos —, parece que
finalmente chegou o momento de retomar o relacionamento da adolescência, já que
ele também está solteiro e parece retribuir os sentimentos de Lily.
Mas apesar de divorciada, Lily não está exatamente
livre de Ryle. Culpando Atlas pelo fim de seu casamento, Ryle não está nada
disposto a aceitar o novo relacionamento de Lily, ainda mais com Atlas, o
último homem que aceitaria ver perto de sua filha e da ex-esposa.
03
– A biblioteca da meia noite (Matt Haig)
A
biblioteca da meia noite publicado no Brasil em 2021 pela
editora Bertrand Brasil continua sendo um dos livros de ficção mais procurados
no Brasil.
A obra é uma ficção científica e filosófica que fala
dos infinitos rumos que a vida pode tomar e da busca incessante pelo rumo
certo. A trama acompanha Nora Seed, uma mulher de 35 anos infeliz que recebe a
oportunidade de experimentar vidas que ela poderia ter tido se tivesse feito
escolhas diferentes.
Arrependida das escolhas que fez no passado, ela vive
se perguntando o que poderia ter acontecido caso tivesse vivido de maneira
diferente. Após ser demitida e seu gato ser atropelado, Nora vê pouco sentido
em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo. Porém, quando se vê
na Biblioteca da Meia-Noite, Nora ganha uma oportunidade única de viver todas
as vidas que poderia ter vivido.
Neste lugar entre a vida e a morte, e graças à ajuda
de uma velha amiga, Nora pode, finalmente, se mudar para a Austrália, reatar
relacionamentos antigos – ou começar outros –, ser uma estrela do rock, uma
glaciologista, uma nadadora olímpica e outras infinatas opções. Mas será que
alguma dessas outras vidas é realmente melhor do que a que ela já tem?
04
– A hipótese do amor (Ali Hazelwood)
Querem conhecer o poder de fogo de A hipótese do amor? Ok; eu conto. O
livro da escritora italiana Ali Hazelwood que viralizou no Tik Tok em 2022 –
data de seu lançamento – esgotou na pré-venda! É verdade! E vocês hão de
concordar que um livro que se esgote na fase de pré-venda, ou seja, antes de
seu lançamento, não é algo normal. ‘Entonce’,
o livro de Hazelwood conseguiu essa proeza. E tem mais: quando a editora
Arqueiro anunciou a presença da autora italiana na Bienal do Livro de 2022 que
aconteceu em São Paulo, em 10 minutos, todas as 500 senhas para ver e ouvir
Hazelwood acabaram.
No estande da editora, A hipótese do amor foi o best-seller, com mais de 6 mil cópias
vendidas. Em dois meses, segundo a editora, foram vendidos quase 80 mil
exemplares do romance.
Agora me respondam se esse livro, mesmo tendo sido
lançado há quase dois anos, não merece estar nessa lista?
A história acompanha a personagem Olive que é aluna de
doutorado do curso de biologia de Stanford. Ela saiu algumas vezes com Jeremy,
mas percebeu que é sua melhor amiga, Anh, quem gosta do rapaz. Para juntá-los,
no entanto, ela precisa convencer Anh de que "superou" Jeremy. Dessa
forma, ao ver no corredor da universidade, Adam Carlsen, o mais odiado
professor da escola, Olive resolve tascar um beijo no teacher na frente da
amiga.
A situação se desenrola em um acordo de interesses
entre Olive e Adam, que envolve um namoro de mentira. Para ele, esse namoro é
bom para a visão que a universidade tem sobre sua estabilidade ali; para Olive,
é um jeito de garantir que Anh e Jeremy vão ter uma chance. Mas, como acontece
em determinados experimentos, algumas variáveis podem sair do controle.
05
– Verity (Colleen Hoover)
Ela, novamente por aqui?! Viu só como Colleen Hoover é
um fenômeno? E aguarde porque ainda não terminou; mais para frente, a autora dará
as caras outra vez em nosso paradão literário. Mas vamos lá; o que interessa
agora é Verity.
Apesar de já ter passado quase cinco anos de seu
lançamento, Verity ainda continua na
listagem de obras mais vendidas em vários paradões literários de respeito.
Um casal apaixonado. Uma intrusa. Três mentes
doentias. Finalista do prêmio Goodreads como melhor romance de 2019, Verity é o primeiro thriller de Hoover
e deixa os leitores envolvidos do começo ao fim.
Verity Crawford, a misteriosa personagem do livro, é a
autora best-seller por trás de uma série de sucesso. Ela está no auge de sua
carreira, aclamada pela crítica e pelo público, no entanto, um súbito e terrível
acidente acaba interrompendo suas atividades, deixando-a sem condições de
concluir a história... E é nessa complexa circunstância que surge Lowen
Ashleigh, uma escritora à beira da falência convidada a escrever, sob um
pseudônimo, os três livros restantes da já consolidada série.
Para que consiga entender melhor o processo criativo
de Verity, Lowen decide passar alguns dias na casa dos Crawford, imersa no
caótico escritório de Verity - e, lá, encontra uma espécie de autobiografia
onde a escritora narra os fatos acontecidos desde o dia em que conhece Jeremy,
seu marido, até os instantes imediatamente anteriores a seu acidente -
incluindo sua perspectiva sobre as tragédias ocorridas às filhas do casal.
Muitos segredos serão revelados. Li o livro e adorei
com exceção do final. Veja resenha aqui.
06
– Tudo é rio (Carla Madeira)
E tem escritora brasileira na área. Tudo é rio, livro de estreia de Carla
Madeira, narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida
transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de
Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho
deles, formando um triângulo amoroso.
Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo
delicada e poética. A escritora e poetisa Martha Medeiros que faz a apresentação
da obra de Carla Madeira escreve na orelha do livro: Tudo é rio é uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É
daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo
instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase,
deixar-se abraçar pela poesia da prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais
lenta é quase impossível, pois a correnteza dos acontecimentos nos leva até a
última página sem nos dar chance para respirar. É preciso manter-se à tona ou a
gente se afoga.”
07
– A Empregada (Freida McFadden)
Quem leu A mulher na janela e A garota no trem
certamente irá gostar de A Empregada
da autora norte-americana Freida Mc Fadden porque ambos enveredam pela mesma
trilha: o chamado suspense crescente, ou seja, aquele que ao longo da trama vai
aumentando gradativamente com novas revelações até atingir o clímax nas páginas
finais.
Aqui, vale ressaltar uma curiosidade com relação a
autora. Além de escritora, ela também é médica especialista em lesões no
cérebro em Nova Iorque. Freida McFadden é um pseudônimo para diferenciar do seu
trabalho como médica.
A
empregada vendeu mais de 400 mil exemplares e teve os direitos
negociados em 33 países. No enredo, a personagem Millie está à procura de um
emprego estável e que a pague bem. O único agravante é que ela não tem a ficha
tão limpa. Mesmo assim, ela acaba conseguindo a vaga, quando Nina e Andrew
Winchester a aceitam como empregada.
Só que nada será tão fácil assim. Millie limpa a casa
deles de cima a baixo, pega a filha do casal na escola, prepara refeições para
a família e faz tudo o que desejarem. Ela tenta não reclamar de absolutamente
nada, nem mesmo quando Nina começa a provocá-la, deixando a casa ainda mais
suja.
No entanto, nada do que parece realmente é. Nina conta
diversas mentiras e tortura psicologicamente seu marido que parece totalmente
fragilizado. Tudo o que Mille faz é ignorar, afinal, ela não está em posição de
nada porque se descobrirem sobre seu passado, o que fariam com ela? Até que...
bem leiam o livro. Para quem gosta de um enredo recheado de plot twist, A empregada é um prato cheio. Eu ainda não
li, mas conheço vários leitores que devoraram a obra de McFadden e amaram.
08
– Em agosto nos vemos (Gabriel Garcia Marquez)
Em
agosto nos vemos é um romance póstumo de Gabriel García
Márquez, prêmio Nobel de Literatura de 1982. O livro foi lançado
simultaneamente em mais de 50 países.
Todo mês de agosto, Ana Magdalena Bach pega uma barca
para uma ilha caribenha a fim de colocar um ramo de gladíolos no túmulo de sua
mãe. Neste livro do saudoso autor colombiano, o enredo gira em torno da vida da
personagem Ana Magdalena Bach. Todo mês de agosto, ela pega uma barca para uma
ilha caribenha a fim de colocar um ramo de gladíolos no túmulo de sua mãe.
Ana Magdalena costuma seguir a mesma rotina sempre,
até que, certa vez, um homem a convida para tomar uma bebida. Depois do
primeiro gole, sentindo-se atrevida, alegre, capaz de tudo — inclusive de se
despir de suas amarras conjugais, esquecendo momentaneamente marido e filhos —,
ela cede aos avanços do desconhecido e o leva para seu quarto. Essa noite faz
com que Ana Magdalena — e sua vida — mude para sempre. Ela passa a ansiar por
cada mês de agosto, quando não apenas visita o túmulo de sua mãe como também
tem a chance de escolher um amante diferente todos os anos.
09
– A empregada está de olho ((Freida McFadden)
Freida McFadden ataca novamente. Este é o terceiro
livro da série iniciada com A empregada,
que já vendeu mais de 3 milhões de exemplares em todo o mundo.
Como não conheço nenhum dos três livros da série não
tenho condições de dar a minha opinião pessoal. Por isso vou publicar, na
integra, a resenha da obra que está nos releases de divulgação da editora
Arqueio.
“Acostumada a limpar a casa dos outros, Millie mal
consegue acreditar que agora esta realmente pertence a ela. A cozinha charmosa,
a tranquila rua sem saída, o quintal enorme. Ela e o marido, Enzo, economizaram
por muitos anos para poder dar aos dois filhos a vida que eles merecem.
Como nada é perfeito, assim que ela conhece a Sra.
Lowell, sua nova vizinha, a mulher a deixa desconfortável com suas críticas
disfarçadas de elogios e a intimidade forçada com que trata Enzo. Mas, ao
receber um convite dela para jantar, Millie tem a oportunidade perfeita para
desfazer a má impressão. Quando a empregada dos Lowells abre a porta, de
avental branco e os cabelos presos num coque apertado, Millie está decidida a
ser simpática, afinal, sabe exatamente como é estar nessa posição. Só que o
olhar insistente dela lhe dá calafrios. E essa não é a única coisa esquisita no
novo bairro. Millie passa a ver uma figura sinistra sempre à espreita,
observando sua família, e, para piorar, seu marido começa a fazer passeios
noturnos misteriosos. Como se não bastasse, a vizinha do outro lado da rua a
adverte: ‘Se eu fosse você, tomaria cuidado com aquela mulher.’
O release da editora completa: “Será que comprar essa
casa foi um erro? Millie acreditava que havia deixado seus segredos mais
sombrios para trás, mas talvez esse bairro aprazível seja o lugar mais perigoso
de todos”.
10
– Todas as imperfeições (Colleen Hoover)
Fecho o nosso listão de livros mais vendidos nestes
nove meses de 2024 com mais uma obra de Colleen Hoover.
Todas
as suas imperfeições narra a história de Quinn e Graham. Eles
se conhecem no pior dia de suas vidas; ela chega mais cedo de uma viagem para
surpreender o noivo, ele testemunha a traição da namorada. E é assim que ambos
acabam no corredor de um prédio, trocando confidências, biscoitos da sorte e
palavras de conforto.
Fim da dança... se o destino não tivesse outros planos
para os dois. Meses mais tarde, os acordes tocam para o casal mais uma vez e
eles se reencontram. Graham está convencido de que são almas gêmeas. Quinn
jamais se sentiu dessa forma antes. A intensidade do sentimento os assusta, mas
eles mergulham de cabeça mesmo assim.
O casamento é tudo o que sonhavam, a parceria
perfeita. Mesmo nos momentos difíceis, sabem que podem contar com o outro.
Nenhum deles desiste do amor que sentem. Até que a primeira nota dissonante
abala a sinfonia do casal. Até que Quinn parece estar disposta a trocar tudo o
que é pela única coisa que não consegue ser: mãe.
A luta do casal por um filho arrisca os alicerces da
relação. Quinn não pode engravidar. Graham não é um candidato para adoção por
conta de um erro do passado. O impasse os deixa parados no salão, no silêncio.
Pois é, Coleen Hoover, um dos principais nomes do
BookTok — comunidade do TikTok reservada para apaixonados por livros — , provou
para que veio. A autora dominou até agora a lista dos principais paradões de
livros, incluindo o Tik Tok com quatro obras. E convenhamos, essa façanha não é
para qualquer um.
Taí galera, espero que esse listão possa ajuda-los no
momento em que forem escolher uma boa história para devorar nesse restinho de
2024.
25 setembro 2024
O menino do dedo verde
Você julga um livro pela capa ou então, pelas suas
condições de uso? Olha, eu gostaria de dizer que não, mas depois de topar com O Menino do Dedo Verde abandonado num
canto da minha estante com as páginas amareladas, dobradas e grifadas, além da
capa muito malconservada, juro que... não fiquei muito estimulado a ler a sua
história.
Tinha ganhado o livro de uma colega de universidade
que por motivo de mudança havia partilhado algumas de suas obras com outras
pessoas mais próximas e eu fui um dos escolhidos. Coube a mim receber o livro
todo “amassadinho” do escritor francês Maurice Druon.
Decidi encarar a obra depois de uns... acho que 20
anos. Acredita? Isso mesmo, vinte anos! Sempre que ‘batia’ os olhos naquele
livrinho, o interesse em lê-lo não vinha. E assim, foi ‘rolando’ até há alguns
atrás quando decidi encará-lo. Comecei folheando-o sem compromisso, mas então, fui
me interessando pelas suas primeiras linhas, suas primeiras frases, seus
primeiros parágrafos e pensei comigo: “Puxa! Porque demorei tanto tempo para
ler essa joia?!
A história idealizada por Druon é maravilhosa e lembra
muito outros dois livros: Meu Pé de
Laranja Lima e O Pequeno Príncipe;
mas acredito que se pareça bem mais com a obra de Jose Mauro de Vasconcelos.
Tistu, o menino do dedo verde é parecido em suas
angustias e expectativas com Zezé, o protagonista de Meu Pé de Laranja Lima. Eles anseiam viver num mundo com menos
sofrimento e tentam com todas as suas forças melhorar esse mundo nem que seja
só um pouquinho.
O
Menino do Dedo Verde me encantou, da mesma maneira que
encantou milhares de jovens e adultos que tiveram a oportunidade de ler a sua
história. O personagem idealizado por Druon se chama Tistu, um menino rico, que
morava em uma mansão (Casa-que-brilha), em um lugar chamado Mirapólvora. Seus
pais eram donos de uma fábrica de canhões – a maior do mundo.
Quando completou oito anos, ele foi para a escola, mas foi expulso no terceiro dia porque dormiu durante a aula. Seus pais, então, decidiram que estudaria fora da escola, observando a vida e tirando suas próprias conclusões. E já no primeiro dia dessa nova experiência, o garoto descobriu, com o jardineiro Bigode, que possuía um dom muito especial.
Um momento emocionante que marcou a minha leitura foi o
capítulo em que Tistu levado a conhecer uma prisão, passa o polegar por tudo e
transforma a cadeia com flores incríveis. O mesmo acontece na favela, no meio
da miséria que atinge tantas pessoas sofridas; no hospital, com as crianças
doentes e infelizes; no zoológico, com os animais solitários e na guerra. Esse
poder de transformação de Tistu tem um grande efeito em todos os lugares, mudando
a ‘percepção de mundo’ das pessoas, fazendo que elas passem a reagir de uma
maneira mais positiva.
Enfim, um livro muito especial. Pena ter descoberto
isso tão tarde.
22 setembro 2024
Vou continuar fazendo o sinal da cruz, vou continuar agradecendo a Deus pelas minhas conquistas. Parabéns para cinco atletas que tiveram essa atitude
Divagações, divagações... e para variar, vamos com
outra divagação nesse espaço que não foi criado para divagações (rs). Tudo bem,
sei que tenho que escrever sobre livros, fazer resenhas, elaborar listas
literárias e etc, mas sabem né... a carne é fraca e, às vezes – mas, um “as
vezes com frequência” (rs) – surgem alguns assuntos que eu acho que merecem uma
divagação nesse portal; e um desses assuntos pipocou na manhã de hoje, enquanto
passava a leitura das notícias do dia nas redes sociais.
Tudo começou com a notícia envolvendo a suspensão de
um judoca sérvio por violar regras religiosas durante as Olimpíadas de Paris de
2024. Por meio das redes sociais, o atleta contou que ficará cinco meses fora
dos tatames por decisão da Federação Internacional de Judô.
O judoca enfrentava o seu adversário pelas oitavas de
final da categoria até 90 kg quando gesticulou o sinal da cruz. Além de ter
perdido o duelo, o judoca sérvio recebeu o comunicado de suspensão um mês
depois do fim das Olimpíadas. Como parte da punição, ele não pode disputar,
treinar ou se preparar no judô.
Judoca sérvio Nemanja Majdov punido pelo Comitê Olímpico por ter feito o sinal da cruz
Cara, isso mesmo que você leu: o sujeito foi punido
por ter feito o sinal da cruz! Fiquei sabendo que a chamada “Carta Olímpica”
que foi uma espécie de decreto com um conjunto de normas que deveriam ser
seguidas na competição tinha um artigo que estabelecia que nenhum tipo de
manifestação religiosa seria permitida. Então, chega a abertura dos Jogos
Olímpicos e os seus organizadores arrebentam ou melhor, implodem um dos maiores
símbolos da fé católica: a imagem da “Última Ceia de Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
Para nós, católicos, a Última Ceia não é apenas um
quadro pintado por Leonardo Da Vinci. Esta imagem é muito mais do que uma
obra-prima artística; ela representa a instituição da Sagrada Eucaristia, um
dos ritos mais sagrados de nossa fé.
O que estou querendo ‘dizer’ é que eles proibiram
manifestações religiosas, mas foram os primeiros a utilizar um símbolo
religioso na abertura do seu evento; indo além: promovendo a degradação desse
símbolo religioso. Do outro lado da moeda estão os atletas que tem a sua fé, a
sua religião e não podem fazer o sinal da cruz ou se ajoelharem. Creio que a
palavra certa para isso seria: dois pesos e duas medidas, algo do tipo: isto
está proibido, mas eu posso fazer; você, não.
Judocas Larissa Pimenta e Odete Giuffrida
Se a justificativa do Comitê Organizador dos Jogos
Olímpicos de Paris foi proibir as manifestações de cunho religioso, durante as
competições, pensando na segurança dos atletas para evitar conflitos - envolvendo
credos diferentes - que poderiam desencadear atos violentos, então porque
escolheu justamente um símbolo religioso para polemizar? Na minha opinião,
errou e errou feio.
A atitude do atleta sérvio me levou a uma outra
reflexão relacionada diretamente ao que disse um conhecido jornalista esportivo
que opinou sobre as convicções e atitudes religiosas da skatista Rayssa Leal e
das judocas Larissa Pimenta e Odette Giufridda (Itália). Segundo esse jornalista, a
religiosidade extrema dos católicos e evangélicos serve como anulação do ser
humano, de suas potencialidades e qualidades. Segundo ele, o que adianta Rayssa
Leal ter treinado se Deus decidiu que ela não teria prata como na última
Olimpíada.
Ginasta brasileira Rebeca Andrade, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris
Acredito que esse jornalista quis dizer – com outras
palavras – que atribuir a Deus o êxito pela conquista da medalha seria bobagem.
Ôpa! Pera lá. Discordo, novamente. Cara, creio que atribuir
a Deus o resultado de uma conquista ou de uma derrota não significa que o
atleta não tem consciência dos fatores físicos e técnicos envolvidos.
Nossas atletas Rayssa, Larissa, além da judoca italiana Odette, com certeza,
sabem que só estão nas Olimpíadas de Paris porque ralaram muito. Não é
diferente com Rebeca Andrade, a estrela da ginástica que também fez questão de agradecer a Deus. Todas elas atribuem o
sucesso à combinação entre fé e treinamento árduo.
Nas Olimpíadas da França, a skatista Rayssa Leal utilizou a linguagem de sinais para expressar a sua fé
Concordo inteiramente com o que escreveu o sociólogo
Valdinei Ferreira num artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo – aliás, um
artigo muito bem escrito - quando disse que a mente do crente, ou seja,
daqueles que creem em Deus não é cheia de um ‘crentismo’ exagerado. De acordo
com o sociólogo, a crença religiosa, longe de anular as potencialidades e
qualidades humanas, frequentemente funciona como um elemento que desperta e
mantém a disciplina na vida pessoal e profissional.
Eu penso da seguinte maneira: quando eu consigo uma
conquista, uma vitória em minha atividade profissional eu agradeço a Deus pelo
dom, pelo talento que ele me deu; mas eu tenho consciência, também, que cabe a
mim desenvolver esse talento. O que estou querendo dizer é que naquele momento
em que os atletas cristãos atribuem suas conquistas a Deus, não significa que
estejam se autodesprezando. Trata-se mais do vínculo de reciprocidade
estabelecido numa relação entre pai e filhos. Portanto, acredito que no momento
em que eu, você ou um atleta cristão conquista uma vitória, pensamos: Deus me
deu a vida, a saúde e o talento, portanto, é justo que eu reconheça a
participação dele nas minhas conquistas.
Dessa forma, vou sim, continuar fazendo o sinal da
cruz; vou sim, continuar agradecendo a Deus por cada uma de minhas conquistas. Parabéns
para o judoca russo, para a judoca italiana e parabéns para as nossas três atletas brasileiras.
18 setembro 2024
5 clássicos antigos da literatura infanto-juvenil capazes de despertar o interesse da leitura na ‘Geração Alfa’
Acreditem. Nesta época de dancinhas do Tik Tok,
videogames e endeusamento de influenciadores digitais, ainda existem clássicos
literários do passado com o poder de conquistar a Geração Alfa. Mas o que é Geração
Alfa ou Alpha – como alguns preferem escrever? Esta geração é composta pelos
nascidos entre 2010 e 2025. Eles são, em sua grande maioria, filhos da geração
Millennial (nascidos entre 1981 e 1994) e sucedem a geração Z (nascidos entre
1995 e 2009), sendo a geração mais atual no mundo.
Os Alfas nasceram e estão crescendo em um mundo
altamente tecnológico e conectado. Mesmo antes de andar, já estão conectados e
interagindo com aparelhos digitais. Os joguinhos, videogames, redes sociais
começam a fazer parte do dia a dia dessas crianças muito, mas muito cedo,
ocupando toda a sua rotina não deixando espaço para as brincadeiras ao ar
livre, relacionamentos sociais com outros amiguinhos e principalmente não
deixando espaço para a leitura de bons livros.
Por toda essa influência do meio digital na vida da ‘Geração
Alfa”, a responsabilidade dos pais aumenta. Cabe a eles encontrar meios de despertar
o prazer da leitura nos pequenos e, acreditem, obras escritas há décadas ou até
mesmo há mais de um século podem ajudar nessa missão.
É importante frisar que não tenho nada contra os
clássicos contemporâneos para essa faixa etária. Portanto que venham sagas como
A Rainha Vermelha, A Seleção e Harry Potter (aqui, aqui, aqui, esse aqui, mais aqui, novamente aqui e
finalmente aqui) mas não posso negar que os clássicos infanto-juvenis dos anos
60 e 70 ou pasmem até de anos anteriores tem ‘um Q à mais’ que falta para essas
obras contemporâneas. E é esse “quezinho a mais” que tem o poder de despertar o
interesse nos jovens leitores de hoje, afastando-os um pouco mais da fantasia
distópica ou então do poderio tecnológico de hoje dominado pelo Tik Tok e por influencers digitais. Ao
mesmo tempo esses clássicos antigos ainda tem força suficiente para despertar a
magia do prazer da leitura em nossas crianças alfas.
Não posso negar que autoras como Victoria Aveyard, Kiera
Cass e J.K. Rowling - através de uma linguagem fluida e enredos criativos -conseguiram
ganhar a confiança e simpatia de milhares de jovens leitores, mas não há como
compararmos as suas obras com as obras de verdadeiros cânones da literatura
infanto-juvenil de décadas atrás. Entres esses cânones cito: Júlio Verne,
Alexandre Dumas; e aqui da nossa terrinha posso citar dois: Monteiro Lobato e
José Mauro de Vasconcelos.
São autores que também acredito, tem o poder de
afastar a ‘Geração Alfa’ das famigeradas dancinhas do Tik Tok e da interferência
dos nossos influenciadores digitais. Autores de livros que os pais de hoje
deveriam indicar aos seus filhos. E basta indica-los porque se esses jovens, de
fato, tiverem a verve da leitura escondinha no fundo da alma, essa verve, com
toda a certeza, irá se aflorar.
Escolhi cinco clássicos antigos que irão fisgar
facilmente a atenção dos jovens leitores de hoje. Vamos a eles.
01
– Vinte mil léguas submarinas (Júlio Verne)
Para aqueles que acham que Júlio Verne perdeu o poder
de encantar os jovens leitores de hoje, apresento-lhes: Vinte mil léguas submarinas, um de seus mais famosos romances. A
obra continuas ganhando novas edições em novos formatos ao longo de séculos –
percebam que eu disse séculos e não décadas. Vinte mil léguas submarinas se tornou um verdadeiro clássico da
literatura mundial com a capacidade de romper a linha do tempo e continuar
conquistando jovens leitores ao longo dos anos.
A narrativa de um dos criadores da ficção científica é
fluida e cativante, sem enrolações. A bordo do submarino Nautilus, comandado
pelo enigmático Capitão Nemo, o professor Aronnax, seu fiel criado Conseil e o
arpoeiro Ned Land embarcam em uma jornada extraordinária.
À medida que exploram os segredos do fundo do mar,
descobrem incríveis criaturas marinhas, cidades submersas e os mais profundos
mistérios do oceano. Este clássico da literatura de aventura combina ciência,
suspense e a imensidão do mar, desafiando os limites da imaginação e do conhecimento
humano. Você ainda acha que esse enredo vai passar despercebido pelos jovens
leitores de hoje?
02
– Meu pé de laranja lima (José Mauro de Vasconcelos)
A história do pequeno Zezé, que aprendeu a usar sua
imaginação e habilidade de contar histórias para sobreviver em um ambiente
violento, já ganhou o mundo.
E para aqueles que acham o enredo de O meu pé laranja lima piegas e sem
capacidade para prender a atenção dos jovens da ‘Geração Alfa’ lá vai algumas
peculiaridades da obra de José Mauro de Vasconcelos. Anote aí: em quase 54 anos de seu lançamento,
o livro, exclusivo da Melhoramentos, vendeu mais de 2 milhões de exemplares só
no Brasil onde teve 150 edições nos mais variados formatos. Tem mais: fora do
país, a história foi traduzida em 15 idiomas (entre eles turco, coreano,
catalão e mandarim) e publicada em 23 países. Outra ‘cosita’: no Japão e na
Coreia ganhou uma versão em forma de mangá (história em quadrinhos).
A história de um menino chamado Zezé e que encantou o
mundo é bem simples, mas... emocionante. Zezé vive em uma família muito pobre,
na zona norte do Rio de Janeiro. Arteiro, o moleque de quase 6 anos de idade
tem o diabo no corpo e apanha de todo o mundo: pai, irmãos, vizinhos etc. O seu
único consolo é um pé de laranja lima, que lhe serve de confidente. Até que
surge Manuel Valadares, o Portuga. De “inimigo”, o imigrante português se torna
o melhor amigo de Zezé.
03
– O jardim secreto (Frances Rodgson Burnett)
O Jardim Secreto é uma obra que venceu o tempo, capaz de
encantar crianças e adolescentes independentemente da época em que eles
nasceram.
É impossível não se apaixonar pelos personagens
criados pela escritora inglesa Frances Rodgson Burnett. Eles fazem parte de um
enredo simples, mas ao mesmo tempo carregado de uma carga emocional enorme. Uma
narrativa da qual podemos tirar muitas lições de vida.
Lendo O Jardim
Secreto, cheguei a conclusão de que as histórias infanto-juvenis
contemporâneas são por demais simplórias se comparadas com a obra de Frances
Burnett e outras similares. Tenho certeza de que a ‘Geração Alfa’ irá amar.
O
livro conta a história de Mary Lennox, uma
menina solitária que perde os pais em um surto de cólera na Índia e, como
consequência, é enviada para uma mansão em Yorkshire para morar com seu tio
misterioso. Cheia de incertezas diante da nova realidade cinzenta da
Inglaterra, ela encontra consolo na natureza ao seu redor. E, quando descobre a
existência de um jardim secreto nos terrenos da mansão e encontra a chave
perdida, um mundo mágico se descortina diante de seus olhos. A menina e a
natureza desabrocham juntas, em um percurso repleto de companheiros improváveis
e amigos para vida inteira.
04
- As caçadas de Pedrinho (Monteiro Lobato)
Jamais poderia esquecer de incluir um livro de
Monteiro Lobato nessa lista. As obras do autor de Taubaté continuam embalando
gerações. Seus livros são atemporais, ou seja, encantaram a geração jovem de
ontem, continuam encantando hoje e, certamente, continuarão despertando o
prazer da leitura nas crianças e adolescentes que ainda estão por vir.
Na história, escrita em 1933, Pedrinho, ao lado de
Narizinho, Emília, Rabicó e Visconde de Sabugosa, vai à caça de uma
onça-pintada escondida na mata fechada do capoeirão de taquaraçus, próxima ao
Sítio do Picapau Amarelo. E aí, o que acontece? Se vocês torcem pela onça,
Lobato nos mostra que há sempre uma forma de se defender coletivamente, sem
depender das ações do governo, que no livro só atrapalha.
A criançada e também os adolescentes irão vibrar com a
assembleia dos bichos, que se reúnem para decidir no voto, depois de ouvidas
todas as opiniões, até mesmo as mais disparatadas, a melhor forma de se
livrarem dos ataques dos humanos.
Um rinoceronte fugido de um circo também passeia pelas
páginas de Caçadas de Pedrinho em uma divertida e absurda crítica à burocracia
já tão presente no país naquela época. Monteiro Lobato conta uma história que é
parte da memória afetiva de sucessivas gerações, narrando de maneira criativa
as artimanhas das crianças, zombando das complicações do mundo adulto e
inventando a infância brasileira.
05
– Os três mosqueteiros (Alexandre Dumas)
OsTrês Mosqueteiros é considerado um divisor de águas no
gênero, com o poder de “enfeitiçar e seduzir” leitores há mais de 160 anos.
Realmente, não dá para comparar Os Três
Mosqueteiros com os best-sellers contemporâneos lançados há pouco tempo e
que já caíram no esquecimento total. Livros que brilharam somente por alguns
meses ou poucos mais.
Além disso, Dumas conseguiu uma verdadeira proeza na
época: popularizar um romance histórico, transformando-o em capa e espada,
mesclando personagens reais e imaginários.
A história é conhecida por adultos, crianças,
adolescentes e idosos, ou será que você não se recorda daquele jovem gascão, de
18 anos, destemido e aventureiro que um dia resolve deixar o seu velho pai para
tentar realizar o sonho de se tornar membro do corpo de elite dos guardas do
rei da França, os famosos mosqueteiros. Chegando a Paris, após algumas
aventuras e confusões, esse jovem chamado D’Artagnan conhece três mosqueteiros
apelidados de "os inseparáveis”: Athos, Porthos e Aramis. Juntos, os
quatro enfrentam grandes aventuras a serviço do rei da França, Luís XIII e
principalmente, da rainha, Ana d’Áustria.
Os
três mosqueteiros ainda tem força suficiente para encantar
os jovens leitores nascidos a partir de 2010, mesmo tendo sido escrito há mais
de 180 anos.
14 setembro 2024
Uma saga e mais dois livros de ficção científica com o poder de fazer com que os leitores atravessem madrugadas lendo
Considero ficção científica um gênero literário sui
generis porque grande parte dos autores, sejam eles novos ou já consagrados,
optam por uma linguagem mais descritiva ou introspectiva deixando a aventura ou
o suspense para um segundo plano. Taí 2001,
Uma Odisseia no Espaço e Fahrenheit
451 de Arthur C. Clarke e Ray Bradbury, respectivamente, que não me deixam
mentir. Essas duas obras são verdadeiros clássicos do gênero, mas o estilo
narrativo lento adotado pelos seus autores vai agradar somente aqueles que são
verdadeiros amantes da ficção científica. Já os leitores que estão iniciando
agora no gênero ou então aqueles mais ecléticos – que apreciam vários gêneros
literários – poderão achar a narrativa um pouco cansativa e menos fluida.
De fato, são narrativas mais lentas e que exploram
temas como o impacto da tecnologia nas relações humanas, o controle da
informação e como seria o nosso mundo após um contato de terceiro grau, ou
seja, com seres alienígenas. São assuntos interessantes, mas na maioria das
vezes um pouco cansativos. Claro que há exceções. Há livros de ficção
científica que são verdadeiras montanhas russas onde a ação se funde com o
suspense e até mesmo o thriller psicológico.
Apesar dessas particularidades, eu amo o gênero e os
livros que eu li proporcionaram viagens inesquecíveis.
Hoje, enquanto observava a minha estante já planejando
a mudança de posição de alguns livros, parei no gênero dedicado à ficção
científica e fiquei observando uma saga formada por três livros, além de outras
duas obras de um mesmo autor. A trilogia que me refiro foi escrita por John
Scalzi, enquanto os dois outros livros são de Michael Crichton. Posso afirmar,
sem medo de errar, que a trilogia A
Guerra do Velho de Scalzi, além de Presa
e Micro foram os melhores livros de
ficção científica que já li. Me perdoem aqueles que amaram verdadeiros
clássicos do gênero que entraram para o cânone da ficção científica, obras bem
mais famosas do que as minhas preferidas escritas por Scalzi e Crichton, mas no
meu caso, esses cinco livros foram os melhores.
Considere a postagem de hoje como um lobby, mas um
lobby merecido porque A Guerra do Velho,
Presa e Micro são muito bons e merecem serem lidos e relidos.
Saga
“A Guerra do Velho”
No primeiro volume que leva o nome da saga acompanhamos
a vida de John Perry, um homem viúvo que, aos 75 anos, decide se alistar para
um programa de defesa espacial da Terra. As Forças Coloniais de Defesa (FCD)
são responsáveis por manter a segurança do planeta livre de ataques
alienígenas, além de procurar outros planetas habitáveis.
O interessante é que esse programa militar só permite
o recrutamento de idosos. John Perry, com sete décadas e meia “nas costas”,
acaba aceitando esse desafio, após a morte de sua esposa, mesmo tendo apenas
uma vaga ideia do que pode esperar.
Scalzi trata de
temas comuns, mas ao mesmo tempo polêmicos que fazem parte do nosso dia a dia,
como militarismo, ética, envelhecimento e amor.
Guerra
do Velho foi lançado originalmente em 2005 e faz parte de uma
saga de seis livros, dos quais li apenas a primeira trilogia (A Guerra do Velho, As Brigadas Fantasma e A Última Colônia). Ainda não tive a oportunidade de ler a segunda trilogia (O Conto de Zoe, A Humanidade Dividida e O Fim
de Todas as Coisas). As duas trilogias foram publicadas pela editora Aleph
no Brasil entre 2016 e 2023.
O segundo livro da saga – As Brigadas Fantasmas - não é uma sequência direta de A Guerra do Velho. Para que o leitor
tenha uma ideia, o nome de John Perry, personagem principal do primeiro livro, é citado apenas duas ou três vezes no enredo,
com ênfase maior no final da história; no mais, Scalzi preferiu ignorar o personagem
marcante de A Guerra do Velho, apesar
isso, trata-se de livraço, uma baita sequência.
Se você se interessou pelas tropas de elite das Forças
Coloniais de Defesa – as famosas Brigadas Fantasma - que arrasaram em A Guerra do Velho, pode se preparar
porque esse segundo volume da saga é dedicado com honras e glórias a essa
“tropa de elite”.
Sai John Perry e seus companheiros de pelotão das
Forças Coloniais de Defesa e entram Jared Dirac e a galera explosiva das Brigadas
Fantasma.
Planejados para serem mais fortes, espertos e
inteligentes, os soldados que integram as Brigadas Fantasma são convocados para
tentar evitar um extermínio em massa da humanidade por seres alienígenas
sanguinários.
Já A Última
Colônia é uma sequência direta dos outros dois livros da série, por isso se
a galera resolver ler a obra sem dominar o universo da ‘União Colonial (UC)’ e
das ‘Forças Coloniais de Defesa’ (FCD) criado pelo autor, sinto muito, mas
vocês ficarão desorientados. Os três livros são interligados e precisam ser
‘devorados’ na sequência para que se tenha uma leitura da saga mais prazerosa.
Se você seguir esse conselho, certamente gostará muito
de A Última Colônia que fecha com
chave de ouro e de uma maneira emocionante a “Saga do Velho” como ficou
conhecida por alguns leitores.
Presa e Micro (Michael Crichton)
Vamos agora aos livros: outras duas joias lapidadas em minha estante. Aqueles que acompanham o blog há bastante tempo sabem o quanto sou fã de Michael Crichton. Sabem também que considero Presa e Micro dois de seus melhores livros.
Presa
é imbatível, insuperável. Cara, que livro! Você não consegue larga-lo um minuto
sequer. Costumo dizer para os meus amigos leitores que a medida que vamos nos
aprofundando na trama entramos no modo “leitura frenética”. Neste livro, Crichton
mistura ficção científica hard com suspense, presenteando os seus leitores com
um excelente techno-thriller. O enredo envolve nanotecnologia: um
microorganismo artificial capaz de se mover em nuvens, como um enxame de
abelhas, e ainda de evoluir sozinho como um ser vivo. Logo essa nuvem de
nanopartículas se torna uma ameaça, desenvolvendo inteligência e aprendendo até
mesmo a mimetizar seres humanos. Cabe a um programador chamado Jack marido de
Julia, uma das cientistas do projeto, buscar uma solução para o problema.
Uma das poucas obras literárias me fez atravessar
madrugadas.
Quanto a Micro
é um livro póstumo de Michael Crichton. Há rumores de que Crichton teria
escrito apenas 73% da obra antes de morrer. O restante da história foi completado por Richard
Preston.
Bem resumidamente, o enredo estilo montanha-russa de Micro descreve a aventura de sete
promissores estudantes, cada um deles, graduado em determinado campo da ciência
(aracnologia, entomologia, bioquímica, envenenamento, etc) que são
miniaturizados a proporções microscópicas e enviados ao chamado ‘micro-mundo’
habitado por insetos, bactérias e outros
“animaizinhos” peçonhentos e perigosos para recolher amostras que podem ser
utilizadas na fabricação de medicamentos. Outro livraço com o poder de fazer
com que você atravesse madrugadas lendo.
Espero ter colaborados com algumas sugestões de leituras
para os amantes de ficção científica.
11 setembro 2024
Desenhos ocultos
E lá vou eu novamente nadando contra a maré. Desenhos Ocultos de Jason Rekulak é
praticamente uma unanimidade no Skoob, na Amazon, em quase todas as resenhas
que li nos blogs; enfim, uma “unanimidade nacional”. Todos elogiam a sua linguagem
fluída, mas os maiores aplausos ficam para o seu plot twist. A maioria - aliás,
uma enoooorme maioria – dos leitores ficaram estupefatos com a reviravolta que acontece
perto do final da narrativa. Mas no meu caso... não gostei. E por que não
gostei? Como diz aquele velho ditado popular “fui com muita sede ao pote”.
Cara, após ler praticamente ‘todo o mundo’ comentando
o final “bombástico” da trama, comecei a ler o livro com uma expectativa lá nas
nuvens, não vendo a hora de chegar ao tão “famoso” plot twist. Eu só faltava
engolir as páginas e então... chegou a comentada reviravolta e... me
decepcionei.
Não estou querendo ‘dizer’ que essa reviravolta é
muchiba ou ruim. Não. O que estou expondo é que se trata apenas de um plot comum,
mas não bombástico. Talvez, um dos motivos da minha decepção tenha sido a minha
expectativa que, de fato, estava muito alta. Bem; agora, não importa o motivo,
a verdade é que o tão afamado plot não me impactou.
Desenhos
Ocultos, na realidade, trabalha com três plot twists. Dois
deles relacionados a mãe de um garoto; uma criança de cinco anos que tem o
hábito de fazer estranhos desenhos. A mulher traz escondida em seu corpo uma
tatuagem que ao ser revelada acaba fazendo com que o leitor descubra dois fatos
importantes relacionados a vida do garoto. Podemos dizer que a descoberta da
tatuagem é a porta de entrada para duas reviravoltas que irão esclarecer
detalhes importantes sobre a vida da criança. Chamo essa primeira mudança
repentina na trama de “reviravolta real”. Isto porque o livro traz ainda uma
“reviravolta sobrenatural” intimamente ligada a origem dos desenhos. Inclusive,
nesse ponto da história, o autor dá uma enganadinha nos leitores levando-o a
acreditar numa teoria falsa para logo depois revelar a verdadeira origem dos
tais desenhos ocultos.
Com relação a “reviravolta real” envolvendo Teddy – o
garoto de cinco anos – e os seus pais, já vi, inclusive, alguns filmes que
abordaram temática semelhante o que contribuiu para diminuir ainda mais o
impacto.
Tudo bem; aí você me pergunta se o livro é ruim. Eu
respondo que não. Como já coloquei no início dessa postagem, Desenhos Ocultos tem uma narrativa
fluida que prende a atenção dos leitores até a chega dos plot – como já disse
acima, para mim, decepcionantes. Durante a leitura, expectativas são criadas,
os personagens são carismáticos, o autor é direto e não enrola, e os desenhos
aumentam o clima de tensão. Bom... resumindo: o problema está apenas nos plot
twists.
O livro de Rekulak narra a história de Mallory Quinn,
uma jovem, recém saída da habilitação devido ao seu vício em drogas que
consegue um emprego como babá na casa de um estranho casal mas que aos olhos da
vizinhança levam uma vida perfeita. Sua principal função é tomar conta de
Teddy, o filho de cinco anos do casal.
Mallory imediatamente se apaixona pelo trabalho, além
disso constrói laços sinceros com Teddy, um menino doce e tímido que nunca
abandona o seu caderno, o seu lápis e os seus desenhos que com o passar do
tempo vão se tornando cada vez mais macabros.
Ah! Já ia me esquecendo: perto do final do livro há
uma perseguição que certamente fará com que os leitores prendam o folêgo de
tanto suspense.
O meu conselho para aqueles que ainda não leram a obra
é que não criem expectativas exageradas quanto aos plots. Seguindo esse
conselho, acredito que terão pela frente uma boa história.