30 março 2024
Oito filmes que ficaram muito mais conhecidos do que os livros. Ambos, excelentes
É muito raro, eu sei; mas algumas vezes determinados
filmes conseguem dar o balão em um livro. São poucos, mas conseguem. Quando escrevo
“dar o balão” estou querendo ‘dizer’ que a produção cinematográfica ficou muito
melhor do que o enredo literário que lhe serviu de base. Por outro lado, também
pode acontecer do livro ser tão bom quanto o filme ou até melhor, mas devido ao
grande sucesso do filme, a obra escrita acaba ficando ofuscada. Tenho alguns
amigos que enaltecem várias produções cinematográficas sem saber que elas foram
baseadas em excelentes livros que apesar de excelentes acabam ficando “meio
que” no esquecimento.
No post de hoje, pretendo fazer justiça a essas obras
literárias que “pariram” filmes muito bons, mas que infelizmente passaram despercebidas
por causa do sucesso estrondoso dos seus “filhos”.
01
– Forrest Gump – O Contador de Histórias (1994)
Livro:
Forrest Gump (Winston Groom)
Tenho certeza de que a maioria dos seguidores do
“Livros e Opinião” não leram Forrest Gump
de Winston Groom, mas em contrapartida assistiram ao filme de Robert Zemeckis.
A premiada e elogiada adaptação cinematográfica conquistou seis prêmios Oscar
incluindo o de “Melhor Filme” e “melhor Ator” para Tom Hanks.
Depois do estrondoso sucesso do filme de Zemeckis, o
livro de Groom não parou mais nas prateleiras das livrarias e chegou a vender
mais de 1,7 milhões de cópias em todo o mundo.
Uma curiosidade é que o personagem das telonas é muito
diferente do Forrest das páginas. Explico melhor nesta postagem aqui.
02
– Rambo – Programado para Matar (1982)
Livro:
Primeiro Sangue (David Morrell)
Apesar do livro de David Morrell ter dado origem a uma
das sagas de ação mais icônicas dos cinemas, ele foi ignorado pela maioria dos
cinéfilos e até mesmo para os leitores que se tornaram fãs incondicionais do
ex-combatente do Vietnã, John Rambo.
O filme de Sylvester Stallone só veio dez anos após a
publicação de Primeiro Sangue. O
livro só faria o sucesso merecido após o lançamento do terceiro filme da série:
“Rambo III (1988). Devido a ótima aceitação dos dois primeiros filmes – “Rambo:
Programado para Matar” e “Rambo II: A Missão” – somado a expectativa do
lançamento do terceiro da saga, a editora Nova Cultural decidiu embarcar na
onda e relançar a obra de Morrell mudando o seu título original de Primeiro Sangue para Rambo.
O livro lançado junto com o terceiro filme fez parte
da coleção Campeões de Bilheteria e
vendeu “horrores” o que não tinha acontecido na época de sua publicação
original em 1972.
03
– Trainspotting (1996)
Livro:
Trainspotting (Irvine Welsh)
Taí outro filme que serviu como trampolim para o livro
do qual foi adaptado. E diga-se, um excelente livro à exemplo do filme. A
produção cinematográfica que explora a história de um grupo de viciados veio
três anos depois do lançamento do livro de Irvine Welsh e conquistou as telas
do planeta.
O filme fez tanto sucesso que provocou uma verdadeira
avalanche de leitores e também cinéfilos nas livrarias a procura da obra
literária que havia servido de base para a produção nos cinemas.
O próprio autor Irvine Welsh não tem nenhuma vergonha
em afirmar que o filme catapultou as vendas de seu livro. “Eu gosto mesmo do
filme. Não só porque me encheu de dinheiro”, afirma o autor em seu site.
04
– Assédio Sexual (1994)
Livro:
Revelação (Michael Crichton)
O filme dirigido por Barry Levinson foi lançado praticamente na mesma época do livro de Michael Crichton. Por causa da temática polêmica para aquela época – aliás, continua polêmica nos tempos atuais – somado a enorme campanha publicitária de divulgação do filme e por fim, aos nomes de Michael Douglas e Demi Moore, naquela época, considerada um dos símbolos sexuais dos cinemas, o filme de Levinson bombou nos cinemas.
As chamadas e cartazes do filme que mostravam os dois personagens principais em cenas e poses provocativas e que os mais puritanos achavam apelativas só serviram para despertar ainda mais o interesse dos cinéfilos. Não posso me esquecer também que Demi Moore trazia em sua bagagem o mega sucesso “Ghost, do Outro Lado da Vida” (1990) onde ela contracenou com Patrick Swayze, além de um outro filme com um tema muito polêmico chamado "Proposta Indecente” (1993).
Todos esses fatores transformaram “Assédio Sexual” num verdadeiro
vulcão em ponto de ebulição. Todo mundo queria assistir a “Demi Moore seduzindo
o Michael Douglas”, fugindo daquela linha de assédio dos anos 80 e 90, onde
geralmente as maiores vítimas eram as mulheres e não os homens. Esta hecatombe
de detalhes acabou desviando o interesse da galera para o filme, deixando Revelação num segundo plano.
05
– Um Estranho Ninho (1975)
Livro:
Um Estranho no Ninho (Ken Kesey)
Imagine um filme que custou cerca de três milhões e
faturou mais de cem. Pois é, “Um Estranho no Ninho” conseguiu essa proeza. A
produção cinematográfica nos mostra diversos personagens em conflitos presos num
hospital psiquiátrico onde a esperança de dias melhores se perdem nos métodos
distantes, frios e com a falta de sensibilidade de quem deveria acreditar num
melhor desenvolvimento dos tratamento que executam. Baseado no livro homônimo
escrito por Ken Kesey e dirigido pelo cineasta tcheco Milos Forman, o
longa-metragem venceu cinco Oscars, inclusive todos das categorias principais.
Na trama, conhecemos R.P. McMurphy (Jack Nicholson),
um criminoso de 38 anos de idade chegando em uma clínica psiquiátrica para ser
analisado se é um doente mental ou não. Aos poucos, o protagonista começa a
quebrar as regras e as rotinas do lugar, se aproxima de outros pacientes
colocando forte influência e novas ideias do viver ali, fato que o leva a um
confronto com a cruel enfermeira Ratched, vivida brilhantemente por Louise Fletcher.
O filme que só foi adaptado 13 anos depois da
publicação do livro de Kesey é mais um exemplo de uma produção de cinema que
acabou ofuscando um excelente livro que serviu de base para a sua adaptação.
06
– A Primeira Noite de um Homem (1967)
Livro:
A Primeira Noite de um Homem (Charles Webb).
O livro que chegou ao Brasil em 1963 através da
editora Eldorado só foi descoberto pelos leitores tupiniquins depois do
lançamento do filme “A Primeira Noite de um Homem” (1967) com Dustin Hoffman e
Anne Bancroft, considerada um ícone de beleza e sensualidade nos anos 1960.
O filme que conquistou o prêmio Oscar de “Melhor
Direção” também consagrou a dupla Simon e Garfunkel que ficou responsável pela
maravilhosa trilha sonora ou será que vocês não se lembram da icônica “Mr.
Robinson”?
Livro e filme abordam a saga do jovem Benjamim que é
seduzido pela quarentona Miss Robinson, esposa do sócio de seu pai. A ligação
que nasceu entre os dois acaba mergulhando o jovem em confusão, dando a
impressão de que nunca mais conseguirá se livrar daquela crise de incerteza e
perplexidade, tocada de sensualidade e de equívocos. A coisa se complica quando
ele conhece a filha da amante e se apaixona.
O sucesso do filme fez com que a obra literária de
Webb voltasse a vender bastante o que não aconteceu na época de sua publicação
em 1963.
07
– Dança com Lobos (1990)
Livro:
Dança com Lobos (Michael Blake)
O filmaço de 1990 dirigido e estrelado por Kevin
Costner papou sete Oscars das 12 categorias nas quais foi indicado. “Dança com
Lobos” levou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor (Kevin Costner), Melhor
Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora (John Barry), Melhores
Efeitos Sonoros e adivinhem... Melhor Roteiro Adaptado.
O livro foi escrito por Michael Blake em 1988 e
publicado no mesmo ano no Brasil pela editora Rocco. O romance chegou por aqui
sem muito alarde e passou quase despercebido, só despertando o interesse dos
leitores, dois anos depois graças ao tremendo sucesso do filme. Uma pena porque
aqueles que leram o livro adoraram e o acharam tão interessante quanto a
produção dos cinemas.
Tanto livro quanto filme contam a história de John
Dunbar, um oficial de cavalaria que se destaca como herói na Guerra Civil
Americana e, por isto, recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele
escolhe um posto longínquo e solitário, na fronteira. Ali estabelece amizade
com um grupo de índios Sioux - Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços
com o exército estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o
adota.
08
– Duro de Matar (1988)
Livro:
Duro de Matar (1979)
Pode parecer mentira mas não é: “Duro de Matar” com
Bruce Willis, um dos filmes de ação mais cultuados de Hollywood, foi baseado
num livro. A obra literária que chamou a
atenção dos roteiristas foi a história de Roderick Thorp, de 1979, Nothing Lasts Forever que na época de
sua publicação não chegou a ter uma edição brasileira. Isso só foi acontecer
depois do lançamento da produção com Bruce Willis que fez tanto sucesso no
Brasil que levou a editora Record a relançar o livro de Thorp aqui na terrinha,
mas com a capa e o nome do filme (confira a resenha do livro aqui).
É importante frisar que o livro é uma sequência do
trabalho anterior de Thorp, The detective
(1966), que acompanha o detetive novaiorquino Joe Leland, contratado por uma femme
fatale e envolvido numa teia de mentiras.
The
detective também foi adaptado para o cinema: "A lei é para
todos" (1968), de Gordon Douglas, teve Frank Sinatra no papel principal.
A ideia para fazer uma sequência com o mesmo
personagem veio a Thorp enquanto ele assistia a "Inferno na torre"
(1974), filme de John Guillermin sobre um arranha-céus em chamas estrelado por
Paul Newman e Steve McQueen. Segundo a lenda, Thorp cochilou no cinema e sonhou
com o seu Joe Leland sendo perseguido em um arranha-céus por bandidos armados.
Pronto, nascia assim o enredo do livro que deu origem a um dos maiores
blockbusters dos cinemas nas últimas décadas.
24 março 2024
Cinco livros que falam sobre ataques terroristas
Juro que estou estarrecido desde anteontem; e ainda
continuarei estarrecido por um bom
tempo, com o ataque terrorista de sexta-feira (22) que deixou 115 mortos numa
casa de shows localizada na região de Moscou.
O atentado, reivindicado por um braço do grupo
terrorista Estado Islâmico, aconteceu na casa de shows Crocus City Hall e é o
pior dos últimos 20 anos na Rússia. Segundo autoridades russas, ao menos cinco
homens com armas de fogo invadiram o local e começaram a atirar indiscriminadamente
contra o público, que gritava e tentava fugir. O massacre aconteceu antes da
apresentação de um grupo de rock.
As cenas chocantes que vi nos noticiários da TV fez
com que eu recordasse, além do ataque às torres gêmeas no fatídico 11 de
setembro, os atentados terroristas que aconteceram em Madri no dia 11 de março
de 2004 e que deixou 191 mortos e 1.900 feridos; na Noruega que ocorreu em 22
de julho de 2011 com um rastro de 77 mortos e também ao ataque terrorista
ocorrido na Alemanha durante os Jogos Olímpicos de Munique em 1972.
Fico imaginando os familiares dessas vítimas e as
cicatrizes que para muitos até hoje continuam abertas. Cara, é muito triste.
Atualmente, os atentados terroristas estão na lista
das principais ameaças e riscos contra a vida em uma sociedade em diversos
países. Religião, política e ideologias distintas são alguns dos motivos que
levam grupos a cometerem atos violentos.
Especialistas em antiterrorismo acreditam que hoje em
dia está cada vez mais difícil detectar ações de grupos, uma vez que o
terrorismo tem sido levado à individualização por meio dos “lobos solitários”,
ou seja, terroristas que agem sozinhos, a qualquer momento e em qualquer lugar
que o mesmo julga propício. Outra preocupação diz respeito as chamadas células
de grupos terroristas que estão espalhadas e camufladas em vários países.
Para aqueles leitores que quiserem saber mais sobre o
assunto, selecionei cinco livros sobre o tema. Vamos conferir?
01
– Planos de Ataque - A História dos Voos
de 11 de Setembro (Ivan Sant’Anna)
O 11 de setembro de 2001 é uma data que está guardada
na mente de todos nós. Data em que aconteceu o maior ataque terrorista do
planeta onde 2.997 pessoas perderam a vida. Mas como foi planejado esse
atentado? Como os pilotos suicidas foram recrutados, e que treinamento
receberam, nas montanhas do Afeganistão? Como viveram secretamente nos Estados
Unidos, nos meses anteriores ao ataque? E o que aconteceu durante os voos
daquela manhã que o mundo não vai esquecer? Piloto amador e fascinado por
aviões, o escritor Ivan Sant'anna, autor do best-seller Caixa Preta, resolveu dedicar três anos de sua vida para pesquisar
minuciosamente tudo o que aconteceu nos voos de 11 de setembro.
O autor relata a trajetória dos homens que planejaram
o atentado e daqueles que sequestraram os quatro aviões – reconstituindo
episódios ainda pouco conhecidos do drama humano dos terroristas e também das
suas vítimas.
Editora:
Objetiva
Capa:
Brochura
Ano:
2014
Páginas:
270
02
– O único Avião no Céu (Garrett M. Graff)
Taí mais um livro sobre o ataque terrorista às Torres
Gêmeas do World Trade Center que aconteceu em 11 de setembro de 2002.
O Único Avião no Céu de Garret M. Graff é um livro de depoimentos
de pessoas que conseguiram sobreviver ao ataque de 11 de setembro. A obra traz
ainda testemunhos de familiares das vítimas que estavam nos aviões e também de
parentes e conhecidos dos bombeiros, policiais e paramédicos que morreram no
momento em que as duas torres desmoronaram pouco tempo depois do impacto dos
aviões.
São mais de 500 páginas seguindo o formato: “nome do
depoente” – “função que o depoente desempenhava em 11 de setembro” –
“depoimento”. Antes de cada capítulo, Graff faz uma pequena introdução – não
mais de meia página – contextualizando as informações das testemunhas. E
depois... tome relatos e mais relatos de sobreviventes ou então de familiares
das vítimas.
Editora:
Todavia
Capa:
Brochura
Ano:
2021
Páginas:
560
03
– Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror (Michael Wess e Hassan
Hassan)
O recente atentado em Moscou colocou novamente o
Estado Islâmico no centro das atenções da mídia, o que aumenta o interesse dos
livros sobre esse grupo extremista lançados no Brasil.
O livro do jornalista americano Michael Weiss e do
cientista político sírio Hassan Hassan se concentra no processo de crescimento
do exército jihadista e seu apelo para voluntários internacionais (estima-se um
contingente de dezenas de milhares), com base em entrevistas exclusivas com
militares americanos e combatentes do Estado Islâmico.
Os dois autores explicam quem são os protagonistas do
Estado Islâmico, de onde vêm, como conquistaram tanto apoio local e global e
como eles operam. Mostram também como a organização surgiu das cinzas da
Al-Qaeda no Iraque, construindo pacientemente células “adormecidas”, comprando
lealdade e intimidando comunidades locais, eliminando assim qualquer
possibilidade de resistência interna.
Editora:
Seoman
Capa:
Brochura
Ano:
2011
Páginas:
272
04
– Contra-Ataque (Aaron J. Klein)
O ataque aos Jogos Olímpicos de Munique de 1972 é
considerado o maior ato terrorista cometido durante um evento esportivo. O caso
ocorreu 15 dias após o início da competição, disputada em Munique que fazia
parte da Alemanha Ocidental.
Na ocasião, oito membros do grupo Setembro Negro
invadiram a vila dos atletas e se dirigiram ao prédio que abrigava os
competidores israelenses. A organização terrorista fez 11 deles reféns. Para
liberá-los, foi exigido o pagamento de 250 presos palestinos, algo negado pelo
governo de Israel.
Cerca de 24 horas depois, três helicópteros chegaram à
Vila Olímpica para levar os terroristas e os reféns para o aeroporto de
Fuerstenfeldbruck; de onde seriam encaminhados para a Tunísia — como parte do
acordo feito nas negociações.
Após os helicópteros alçarem voo, porém, atiradores de
elite do Exército alemão entraram em ação e um tiroteio começou. Pouco depois,
uma explosão aconteceu em um dos helicópteros. A troca de tiros culminou com a
morte de todos os reféns.
O livro de Aaron J. Klein dá detalhes sobre esse
atentado, além de relatar o contra-ataque israelense a esse ataque terrorista.
O relato é baseado no contato com personagens-chave e que até agora jamais
tinham falado a respeito do Massacre de Munique e da reação de Israel: uma
campanha antiterrorista de trinta anos mortal e supersecreta visando caçar os
assassinos.
Editora:
Ediouro
Capa:
Brochura
Ano:
2006
Páginas:
230
05
– Um de Nós (Asne Seierstad)
Um
de Nós de Asne Seierstade traz a história do mais chocante
atentado terrorista da Noruega. A autora, além de escritora é uma correspondente
internacional consagrada, Åsne passou anos escrevendo sobre as pessoas
envolvidas em conflitos violentos ao redor do mundo. Agora, pela primeira vez,
a autora se dedica a reportar o terror dentro de seu próprio país – e o fez por
meio de pesquisas, entrevistas e depoimentos.
O livro reconstrói o maior atentado da história da
Noruega, aquele que, em 22 de julho de 2011, vitimou 77 pessoas e impôs as
questões fundamentais: Como isso pôde acontecer? Por quê? E quem era Anders
Behring Breivik, o assassino?
Em 22 de julho de 2011, Breivik explodiu uma bomba
perto da sede do governo em Oslo, matando oito pessoas, e, enquanto a polícia
estava mobilizada pelo atentado, o terrorista matou outras 69 pessoas, a
maioria adolescentes, em um acampamento de verão na ilha de Utøya.
Editora:
Record
Capa:
Brochura
Ano:
2016
Páginas:
560
20 março 2024
Livros que marcaram a minha fase de rato de bibliotecas
Uma das fases mais felizes da minha vida foi a época
de “rato de bibliotecas” quando na adolescência e juventude com a grana contada
para as necessidades básicas, tinha que apelar para as bibliotecas públicas ou
escolares para satisfazer a minha fome de devorador de livros.
Neste período – saudosos anos 70 e começo dos 80 –
mesmo com pouco dinheiro no bolso nunca deixava de adquirir um livro do qual
gostava, mas não podia abusar, por isso as aquisições próprias eram poucas. A
minha fome literária era mantida pela minha mãe, meu irmão e principalmente
pelas bibliotecas que eu visitava com frequência.
Desse período trago ótimas recordações que valeram,
até mesmo, várias postagens aqui no blog, como por exemplo essa aqui, onde
abordo a importância que algumas bibliotecárias tiveram em minha vida de
leitor.
Hoje, relembrando essa fase com Lulu, descobri, para
minha surpresa, que ela teve uma trajetória semelhante à minha. Ela também foi
uma rata de biblioteca, assim como eu; e pelo mesmo motivo: grana curta. Lulu
me disse também que era uma assinante do Círculo do Livro, mas com um adendo:
eram os seus pais que pagavam a assinatura.
Conversa vai e conversa vem, ela acabou me dando a
ideia de escrever uma postagem sobre os livros que marcaram a minha fase de
rato de bibliotecas. Achei uma boa ideia e no início queria incluir não só os
meus, mas também os seus livros marcaram a sua fase de rata (rs). Mas, a minha
ratinha achou melhor “falar” apenas sobre as obras que marcaram a minha vida de
rato. Concordei com a sua proposta e assim nasceu esse texto que você está
lendo agora. Espero que goste. Então, vamos lá.
01
– Os Doze Trabalhos de Hércules (Monteiro Lobato)
Esta obra de Monteiro Lobato marcou muito determinado
momento de minha vida. Foi o dia em que a minha mãe me levou pela primeira vez
à uma biblioteca. Esta é uma das recordações que jamais iriei esquecer: a
imagem de dona Lázara me buscando na escola primária. Antes de irmos para casa,
ela fazia questão de toda a semana dar uma passadinha comigo na a Biblioteca
Pública Municipal. Ela fazia isso com a desculpa de que iria conversar um pouco
com a sua amiga que era a bibliotecária.
Quando chegávamos por lá, antes ficar papeando com a
amiga, ela me levava para o setor de literatura infantil e dizia para que eu
escolhesse alguns livros para ler. Depois colocava esses livros sobre a mesa,
ficava um pouquinho comigo, e ia pôr as “histórias da cidade” em dia com a
amiga bibliotecária.
Foi ali que tive o meu primeiro contato com o mundo
mágico do Sitio do Pica Pau Amarelo e de seus personagens. Um dos livros que
marcou essa minha fase de leitor foi Os Doze Trabalhos de Hércules, obra que até hoje trago guardada na memória, tanto é
que já reli várias vezes, a mais recente, em outubro do ano passado.
A genialidade de Monteiro Lobato fica evidente nessa
obra. Ele consegue ensinar mitologia grega, explorando vários momentos
importantes desse gênero de uma maneira leve e divertida. É algo ímpar, uma
verdadeira magia, ver Pedrinho, Narizinho, Emília, enfim, toda a turma do Sítio
do Pica-Pau Amarelo interagindo com personagens marcantes da mitologia grega.
Outro detalhe importante que vale a releitura foi a ideia genial que Lobato
teve ao compor um Hércules diferenciado daquele ser poderoso e infalível da
mitologia. O Hércules de Lobato é mais “acessível”, ou seja, mais humano. Ele
também erra, tem as suas falhas, além de ser menos arrogante do que o Hércules
original que aprendemos a conhecer. Gostei muito dessa reconstrução do
personagem.
02
– David Copperfield (Charles Dickens)
Este livro faz com que eu me recorde de uma
bibliotecária muito especial e também muito importante em minha vida, pois
contribuiu bastante para que eu me tornasse um leitor assíduo, daqueles de carteirinha.
Posso dizer que ela foi uma das responsáveis por plantar uma das sementinhas
que desenvolveram o meu hábito pela leitura.
Dona Alice Tuma foi a minha bibliotecária no ginasial.
Ainda me recordo, vagamente, da biblioteca da antiga escola Industrial; hoje,
Escola em Tempo Integral “Professora Maria Angélica Marcondes”. Não vou
esconder que deixava de correr, jogar bola, conversa fora e também de paquerar
as alunas de outras séries, mas revelo que na maioria das vezes, aproveitava a
hora do recreio para ficar ‘enfurnado’ na biblioteca lendo os meus livros
preferidos. Toda vez que chegava no recinto, Dona Alice já ia dizendo mais ou
menos assim: “Oba! Lá vem um dos meus visitantes preferidos!” Ela tinha uma
tática infalível que era a de perguntar detalhes sobre o livro que eu havia
lido. – Me conte o que você achou da história – dizia ela. Agora me responda,
qual devorador de livros não gosta de falar sobre o que leu? Eu, claro, não era
uma exceção e assim, mais do que rápido começava a lhe contar detalhes sobre a
narrativa. Dona Alice colocava as mãos no queixo e ficava olhando para mim e
escutando com toda a atenção. Eu saía daquela biblioteca realizado e... com
mais vontade ainda de ler.
Ela usou essa tática com o clássico David Copperfield de Charles Dickens e
deu certo. Apesar dos meus 15 anos, naquela época, ainda me recordo que foi dona
Alice que me indicou esse livro, dizendo que já tinha lido e que depois que eu
lesse, iriamos conversar sobre a obra. Gostei tanto do livro que acabei utilizando-o num trabalho de escola.
David
Copperfield dispensa comentários. Basta dizer que é
um verdadeiro clássico da literatura mundial. A obra é um relato de formação de um menino
descobrindo um mundo que é, ao mesmo tempo, mágico, assustador e terrivelmente
real. Assim, seguimos a vida de David, desde a sua infância pobre e difícil até
a descoberta da vocação de escritor, numa jornada repleta de aventuras cômicas,
sentimentais e por vezes trágicas. É impossível não se comover com o destino do
personagem.
03
– Os Sobreviventes (Piers Paul Read)
Quase todo final de tarde, após o trabalho, tinha
parada obrigatória na Biblioteca Municipal e lá ficava vasculhando algumas
obras para ler. Foi durante a minha fase de reco do “Tiro de Guerra”, lá para
os meus 18 anos.
Pois é, nessa biblioteca tinha outros dois “anjos da
guarda literários”: Ângela e Cida. A Ângela utilizava uma tática quase parecida
com a de Dona Alice para incentivar o meu amor pelos livros. Sempre que chegava
na biblioteca – naquela época, funcionava onde hoje se encontra a 2ª Companhia
de Policiamento Militar - para pegar alguns livros emprestados, logo de cara ia
ganhando um elogio da Ângela - Nossa! você deve ser muito inteligente. Continue
lendo bastante. – Quase sempre, ela também me pedia sugestões de leitura.
Resumindo: As suas atitudes tinham o poder de turbinar ainda mais a minha
vontade de ler.
Já a “Cida das Flores” – ela tinha esse apelido porque
além de ter um amor enorme por flores, sempre trazia uma nos cabelos - utilizava um método diferente. Sempre que eu
passava na Biblioteca Municipal, via em cima de sua mesa dois ou três livros já
me esperando. Obras que ela já tinha lido e gostado e por isso as deixava
separadas para mim.
Cara, essas duas bibliotecárias foram dois verdadeiros
anjos literários em minha vida, à exemplo de dona Alice, minha mãe, e outros.
Os
Sobreviventes de Piers Paul Read foi uma sugestão tanto
da Ângela quanto da Cida. Gostei bastante da indicação que narra um acidente de
avião, ocorrido em 1972, que levava um time de rugby uruguaio para uma competição
no Chile e que acabou caindo caiu na Cordilheira dos Andes após se chocar com
uma montanha de gelo. O enredo narra a saga de um grupo de sobreviventes num
local isolado de tudo e de todos.
04
– Um Estranho no Espelho (Sidney Sheldon)
O meu primeiro contato com Sidney Sheldon foi numa
biblioteca. Para ser mais exato, na Biblioteca Pública Municipal de minha
cidade.
Ainda me lembro que enquanto os meus amigos, após o
serviço, iam direto para os barzinhos ou butecos da vida, o rato de biblioteca,
aqui, se enfunava no meio dos livros para mergulhar em viagens fantásticas que vários
enredos tinham o poder proporcionar. No final, sempre levava um livro para ler
em casa.
Foi naquela saudosa biblioteca que ‘peguei’ gosto
pelos livros de Sidney Shelson. Ainda me recordo que havia uma coleção de uns
10 livros do autor, a qual acabei devorando todinha. Pois é, Um estranho no espelho, fazia parte
dessa coleção. Gostei tanto do livro que acabei relendo-o outras vezes, sendo a
mais recente no mês passado.
Os personagens Toby Temple e Jill Castle foram os
primeiros de Sheldon, os quais tive contato. Eles representam, a grosso modo, o
bem e o mau, o lado médico e o lado monstro. Toby é o egocêntrico narcista,
metido e insensível. Ele se considera um rei e por isso, pode fazer o que
quiser com as pessoas e quando quiser. Por sua vez, Jill é aquela mocinha que
sofreu, foi enganada e humilhada por todos, mas mesmo assim, aguentou firme,
sem revidar. Quando os dois se encontram e começam um relacionamento, muitas
surpresas e reviravoltas começam a acontecer.
Como já citei acima, foi a partir de Um Estranho no Espelho que me tornei um
grande fã de Sidney Sheldon.
05
– O Destino do Poseidon (Paul Gallico)
Apesar de ter sido apenas um “crianção” no início dos
anos 70, ainda me recordo do filme O Destino do Poseidon sobre um enorme transatlântico que após ser atingido
por um vagalhão, vira de cabeça para baixo, fazendo com que um grupo de
sobreviventes lute para chegar ao casco antes que a embarcação afunde. Esta
produção cinematográfica com Gene Hackman, Ernest Borgnine e Shelley Winter foi
um verdadeiro “arrasa-quarteirões” em 1972.
Após ter visto o filme; no dia seguinte, fui correndo
até a biblioteca da minha escola e passei horas e horas lendo o livro de Paul
Gallico publicado originalmente em 1969 e que serviu de base para a produção
que passou nos cinemas. Anos depois, já adulto, o tal do livro voltou a minha
memória reativando toda aquela vontade louca de relê-lo. Pronto, e assim, lá
vai este blogueiro atrás da obra de Paul Gallico. Foi uma verdadeira saga para
consegui-la. Após muito esforço, localizei um livreiro que tinha a obra e
assim, realizei o meu sonho. Há anos guardo a edição de bolso de O Destino do
Poseidon (1978) com todo o cuidado e carinho numa posição de destaque em minha
estante. E imaginar que tudo começou com um filme e depois se estendeu para uma
biblioteca.
06
– Pássaros Feridos (Colleen McCullough)
Pássaros Feridos foi mais um livro da minha fase de rato de biblioteca. Descobri a obra na biblioteca da minha escola, na época do ginasial. Havia lido na minha adolescência, mas após tantos anos, resolvi rele-la e achei o enredo um tanto cansativo, Estranho, né? Na primeira vez em que li numa biblioteca, havia gostado, tanto é verdade que resolvi reler a obra depois, mas com o passar do tempo, analisando o enredo de uma maneira mais madura, acabei mudando a minha maneira de “enxergar” a história de Colleen McCullough. Apesar disso, não posso negar que foi uma obra que fez parte do meu período de rato de bibliotecas.
A saga de Pássaros
Feridos começa no início do século XX e conta os acontecimentos de três
gerações da família Cleary, misturando ambição, amor e ódio; conquistas e
derrotas. Ao contrário do que muitos leitores pensam não se trata de uma
simples história de amor proibido envolvendo uma mulher e um padre. O enredo vai muito mais
além. A autora australiana narra a saga de três gerações de uma família no
período de 1915 a 1969.
O livro aborda as alegrias e tristezas da família
Cleary - formada pelo casal Paddy, Fee e
os seus sete filhos – que devido a dificuldades financeiras decidem mudar-se de
sua humildade propriedade na Nova Zelândia e emigrar para a Austrália, após
receberem um convite de Mary Carson,
irmã de Paddy . Como ela não vê o
irmão há muitas décadas e encontra-se sozinha e com a saúde debilitada, decide
convidá-lo, juntamente com a sua família, á morarem e trabalharem em sua
propriedade chamada Drogheda, uma vasta e rica fazenda de criação de carneiros.
A partir daí começam os momentos bons e ruins vividos pelos Cleary’s. Alguns
personagens morrem, outros nascem; tristezas e alegrias chegam e vão; e por aí
afora.
Por hoje é só, inté galera!
16 março 2024
“Médico de Homens e de Almas”: nem mesmo uma baita gripe me impediu de iniciar a releitura dessa obra prima
Praticamente uma semana. Isso mesmo, uma semana sem postar
nada no blog. Desculpe-me aí galera seguidora do “Livros e Opinião”. Aliás, não
quero encontrar nenhuma desculpa para essa “morgada” – há muito tempo tinha um
patrão que usava esse termo quando um funcionário não queria trabalhar ou
ficava ‘matando’ o tempo no seu serviço – mas confesso que a grande culpada dessa
esticada no período de postagens foi a ‘dona gripe’ que literalmente me
derrubou. Derrubou tanto a mim quanto a Lulu: os dois ainda estão de molho.
Será que a “desculpa” colou? (rs). Agora é sério
galera; não estou mentindo. Bem, o que eu fiz nestes seis dias com dores no
corpo, tosse, garganta inflamada e coriza? Li. Verdade; os livros, ou melhor,
um livro foi o meu grande companheiro de convalescença, Ele ainda está me
acompanhando na cama, no sofá, na cadeira do papai, na cadeira de varanda;
enfim, onde me sinto mais confortável. Por enquanto, estou no começo do seu
enredo. Costumo dizer que a leitura ainda está verde porque estou apenas começando.
Mas apesar de verde, e muito verde, estou amando a história, mas amando
meeeesmo.
A prova de que o livro te engole, é que apesar das
dores atrozes provocadas por uma gripe FDP, incluindo as dores de cabeça que
muitas vezes parece que vai estourar, simplesmente, eu
não consigo parar de ler. Quer mais uma prova de que o enredo pode,
tranquilamente, ganhar o status de antológico? Ok, eu ‘digo’: não se trata de
uma leitura, mas de uma releitura. Já tinha lido esse enredo com mais de 660
páginas. E reler um livro com um número de páginas extraordinariamente grande e
ainda por cima estando doente e desanimado, olha... é praticamente impossível
se o livro não for, de fato, antológico. E podem acreditar: Médico de Homens e de Almas de Taylor
Caldwell é antológico. Um livro que merece duas, três, quatro, quantas resenhas
forem necessárias.
Agora, dei um tempo na releitura para escrever esse
post, não com o objetivo de resenhar a obra pela segunda vez, o que pretendo
fazer assim que terminar a releitura – a primeira resenha está aqui, com vários
spoilers que soltei na minha inocência e empolgação de blogueiro literária ainda
iniciante e por isso, bem cru – mas apenas para ‘dizer’ que Médico de Homens e de Almas é tão
especial que consegue romper todas as barreiras físicas que você estiver
enfrentando como essa gripe ‘das cadelas’ – mais um termo que o meu antigo patrão
tinha o hábito de usar – que deixa você prostrado e com dores terríveis.
Não vejo o momento de chegar o capítulo em que Lucano –
este era o nome de São Lucas – se encontra com Maria, a mãe de Nosso Senhor
Jesus Cristo para ‘entrevistá-la’. Caramba! Na minha opinião é o momento mais emocionante
da obra de Caldwell. Lucano inicia a sua peregrinação até Israel na esperança
de encontrar a mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo para que ela conte detalhes
sobre a vida do Mestre; e quando esse encontro se concretiza... cara, você,
simplesmente, não consegue segurar as lágrimas de tanta emoção.
O livro traz ainda outras interações se não tão
emocionantes, mas muito interessantes como por exemplo, o encontro de Lucano
com Pilatos, Paulo de Tarso e João, outros dois apóstolos conhecidos.
Lucano escreveu o maior dos evangelhos sobre a vida de
Jesus e também o Ato dos Apóstolos. Ele foi o único apóstolo que não era judeu,
nunca viu Cristo, e tudo o que está escrito em seu Evangelho foi adquirido por
meio de pesquisas e dos testemunhos da mãe de Cristo, dos discípulos e dos
apóstolos.
O estilo romanceado sobre a vida de São Lucas em nada
diminui o seu valor porque a sua autora, explica no prefácio que leu cerca de
1000 livros sobre Lucano antes de escrever sobre ele e demorou mais de 45 anos
para concluir a sua obra.
Fico por aqui. Agora, vou voltar a minha releitura.
10 março 2024
Procure nas Cinzas
Logo no início dessa postagem quero deixar um recado
para aqueles leitores que ainda não tiveram a oportunidade de ler nenhum dos
sete livros de Charlie Donlea publicados até agora: paciência; aliás... muita paciência.
“Digo” isso porque as pessoas que procuram as obras desse autor também estão à
procura de plot twists porque Donlea se tornou conhecido no mercado editorial
como um escritor que explora ao máximo as reviravoltas em seus enredos. E
voltando a questão da paciência, dos três livros que eu li até agora – A Garota do Lago, Não Confie em Ninguém e Procure
nas Cinzas: s tais plots demoraram “uma eternidade” para aparecer. Dessa
forma, aqueles que tiverem uma paciência curta, acabarão acelerando a sua
leitura ou na pior das hipóteses, abandonando os livros do autor. Mas os
leitores que resistirem ao enredo inicial arrastado e as vezes monótono serão
brindados com reviravoltas, de fato, surpreendentes; mas torno a frisar, elas
vão demorar para chegar.
Procure
nas Cinzas, seu penúltimo livro, publicado no Brasil pela Faro
Editorial, em setembro de 2021, não foge desse padrão. O seu início é parado
com alguns trechos maçantes, mas do meio para o final quando os plot twists
começam a aparecer, o enredo vai ganhando um dinamismo capaz de aguçar a
curiosidade do leitor e prender a sua atenção. Por isso, aqui vai um conselho
de alguém que acabou de ler Procure nas
Cinzas: não abandone a leitura; pelo contrário, aproveite para ir se
familiarizando com os personagens, principalmente a famosa apresentadora de TV,
Avery Mason que guarda um grande segredo envolvendo sua família; o enigmático
policial aposentado do FBI, Waly Jenkins que também guarda um segredo
bombástico e Victoria Ford, uma mulher que estava numa das torres gêmeas no dia
do ataque terrorista de 11 de setembro e que, adivinhem? Também guardava um
grande segredo, aliás, um bombástico segredo.
Quando os segredos desses personagens começarem a ser
revelados, “sai de baixo”, as surpresas serão muitas e com capacidade para
derrubar o queixo dos leitores; lembrando que o enredo tem um total de cinco
plot twists.
O enredo da obra de Donlea traz duas linhas de
investigação diferentes: a primeira envolvendo um assassinato e a outra,
relacionada a um desaparecimento, na realidade, uma fuga. Apesar de serem duas
linhas díspares, ao longo da narrativa, elas acabam se tornando dependentes uma
da outra. Infelizmente, não posso revelar mais do que isso porque acabaria
propagando spoilers.
Procure
nas Cinzas tem como pano de fundo o ataque terrorista às Torres Gêmeas
do World Trade Center que chocou mundo vinte anos atrás. A destruição dos
edifícios deu fim à vida de Victória Ford, a principal suspeita de um crime
brutal ― sem que ela tivesse a chance de se defender. Momentos antes de do
prédio, onde Victoria se encontrava, desabar, ela consegue realizar uma última
ligação pedindo que sua irmã a ajudasse a provar sua inocência. O caso fica
abandonado por duas décadas, até que a evolução das técnicas forenses
possibilitou a identificação do DNA de uma das vítimas dos ataques ― justamente
de Victoria. Avery Manson, uma famosa apresentadora investigativa de TV, vê no
caso uma oportunidade de alavancar ainda mais a sua carreira e audiência. Seu
faro jornalístico a leva até a irmã da suposta assassina, e a jornalista e
apresentadora decide fazer o que for preciso para reabrir o caso, expor as
falhas da polícia e descobrir se Victoria era ou não inocente.
Mas a própria Avery também guarda muitos segredos que,
na busca insaciável por conseguir uma ótima história, podem ser expostos e
destruir todo o sucesso que conquistou.
Em resumo, esse é o enredo de Procure nas Cinzas, um livro que começa em marcha lenta mas vai acelerando aos poucos. Para ser mais exato, o enredo pega fogo a partir do meio de suas quase 350 páginas até o final, graças as reviravoltas na trama. Por isso, vale a pena suportar o marasmo do início da trama.
06 março 2024
10 plot twists que gostei tanto, mas tanto, que resolvi reler os livros
Aqueles que acompanham o “Livros e Opinião” há algum
tempo já sabem que sou apaixonado por enredos com plot twists, mas daqueles
twists que chegam a dar um nó em nossas cabeças de tão surpreendentes. Sou tão
apaixonado que já escrevi vários posts sobre o assunto nesse blog.
Pelo menos até agora não conheci nenhum leitor que
tenha afirmado que não goste dessas reviravoltas no enredo. Pelo contrário,
conheço leitores que reclamam quando essas reviravoltas inexistem ou então
chegam em doses homeopáticas no enredo.
Li muitos livros com plot twists incríveis. Eles me
marcaram tanto que mesmo sabendo dessas mudanças absurdamente saborosas no
enredo, resolvi relê-los por causa da qualidade do enredo. Separei algumas
dessas obras para a galera leitora. Portanto, se você ama plot twists, se
prepara porque esse texto é pra vocês.
01
– Até você ser minha (Samantha Hayes)
O plot twist criado por Samantha Hayes é fantástico e com
toda certeza ficará gravado na mente dos leitores. A autora conseguiu impactar
toda a galera. Juro que no final do livro me senti deliciosamente trolado,
enganado, mesmo.
Tudo bem que a história tenha apenas uma reviravolta e
praticamente perto do final do livro, mas essa “mudança de rumo” vale muito
apena porque é uma tremenda rasteira no leitor.
Até você ser minha conta a história de uma assistente social
chamada Claudia Morgan-Brown que após vários abortos involuntários está prestes
a realizar o sonho de sua vida: dar à luz uma menininha. Apesar da ausência do
marido ao longo da gravidez – James é um oficial da Marinha que fica semanas e
até meses longe de casa – ela mal pode esperar para segurar o seu bebê nos
braços após várias tentativas e perdas.
Porém, as diversas atividades de Cláudia, além da
responsabilidade de cuidar dos gêmeos, filhos do primeiro casamento de James,
deixam o casal preocupado, ainda mais com a aproximação de uma nova partida do
sujeito. É então que eles decidem contratar uma babá chamada Zoe que deseja
muito esse emprego. Com as melhores recomendações, ela conquista a confiança da
família e se muda para o lar do casal. Com o passar dos dias, Cláudia teme que
a misteriosa mulher tenha outros motivos para se aproximar de sua família.
Entonce, chega o final e com ele a grande reviravolta.
02
– Eles merecem a morte (Peter Swanson)
Pow! Baam! Kaboom! Smack! Eles Merecem a Morte tem porradas para nocautear qualquer pessoa. Cara,
as reviravoltas da trama deixam nocauteados qualquer leitor. São quatro
porradas bem dadas. As três primeiras irão deixar o leitor desorientado e de
queixo caído.
Peter Swanson, no início de seu enredo, nos conduz
para um desfecho dentro da normalidade, ‘entonce’, a partir da página 136, de
sopetão, vem a primeira pancada. Esta primeira reviravolta mexe com toda a
trama e modifica o chamado ‘modus operandi’ de alguns personagens. Fiquei
impactado.
As duas outras porradas no decorrer de Eles merecem a morte não tiram o chão do
leitor, como a primeira, mas também são ‘trucões pesados’ e desnorteiam. O
autor faz você pensar que vai acontecer algo, mas esse algo não acontece.
Então, você para e diz: “ué, cadê?!” Quando se recupera dessa surpresa e
prossegue a leitura, chega o ‘golpaço’ inesperado.
Aí chega a quarta pancada; quero ‘dizer’ a quarta
reviravolta – já no final do enredo - que com apenas apenas oito linhas
consegue, novamente deixar o leitor boquiaberto.
No livro, o personagem Ted Severson - que aguarda no
aeroporto o voo de Londres para Boston - conhece a bela e misteriosa Lily Kintner.
Depois de vários martinis, os dois estranhos decidem fazer um jogo: cada um
deve contar os seus segredos mais íntimos a respeito de si mesmo. Ted revela,
então, que está sendo traído por sua esposa, Miranda. Porém, o que começa
apenas como uma brincadeira inocente entre dois desconhecidos acaba tomando
proporções perigosas quando Ted sugere que sente vontade de matar a sua mulher,
e Lily surpreendentemente decide ajuda-lo.
03
– Por trás de seus olhos (Sarah Pinborough)
O plot twist final de Por trás de seus olhos é tão “fora da casinha”, tão fora da
realidade que o leitor leva um choque. Eu mesmo, quando li a reviravolta:
parei, olhei para cima, abri a boca e fiquei assim com cara de bobo durante
alguns segundos. Galera, o que foi aquilo!
O enredo criado por Sarah Pinborough é excelente e
consegue prender o leitor. A sua narrativa cria em nós expectativas dúbias com
relação aos personagens. Você não sabe quem está mentindo, quem está falando a
verdade, enfim, quem é o gato ou o rato.
Então, quando os segredos desses personagens começam a
ser desvendados, principalmente os segredos sinistros do estranho casal David e
Adele, o leitor fica piradão porque a sua curiosidade cresce de tal maneira, ao
ponto de você ir ‘engolindo’ as páginas para descobrir o que fulana ou sicrano
estão tramando.
Mas aí, no ápice do enredo vem aquele final louco da
porr... O que foi aquilo cara?!! Acho que a autora estava ‘mutcho loka’ naquele
momento. Tranquilamente entrou para a minha lista de releituras
04
– Deixei você ir (Clare Mackintosh)
Deixei você ir de Clare Mackintosh tem um plot twist incrível. No
final da primeira parte do enredo somos apresentados a uma das reviravoltas
mais fantásticas que eu já vi nos meus muitos anos de leitor. Levei um
verdadeiro tapa na cara, e depois desse tapa não via a hora de chegar ao fim da
narrativa para saber o seu desfecho. Perto do final vem outro tapa e bem dado.
Em Deixei Você
Ir, uma criança de cinco anos morre atropelada em uma rua de Bristol,
Inglaterra, depois de ter soltado a mão da mãe
em um dia chuvoso. O motorista do carro que o atinge
acelera e foge. Desvendar sua morte vira um caso para o detetive Ray e seus
colegas, Kate e Stumpy. Determinado a encontrar o assassino, Ray se vê
consumido a ponto de colocar tanto a vida profissional quanto a pessoal em
jogo.
Jenna, assombrada pela morte do menino, abandona tudo
e se muda para uma pequena cidade costeira do País de Gales. Ela passa os dias
em seu chalé tentando esquecer as lembranças do terrível acidente e aos poucos
começa a ter algo parecido com uma vida normal e vislumbrar a felicidade em seu
futuro. Mas o passado vai alcançá-la, e as consequências serão devastadoras.
05
– A verdade sobre o caso Harry Quebert (Joel Dicker)
Acabei de reler na semana passada. Aliás, você está à
procura de um livro com muitos plot twists? Ok, anote esta indicação: A verdade sobre o caso Harry Quebert do
escritor suíço Joel Dicker.
A propósito, ler essa obra é como participar de uma
luta de boxe, enfrentando um campeão mundial que estivesse nos cobrindo de porradas.
A primeira dessas porradas – aquela na qual irá se basear todos os mistérios do
enredo – acontece logo de cara no segundo capítulo. Depois, aos poucos, vão
chegando os outros plot twist que se tornam cada vez mais surpreendentes com o virar
das páginas. O leitor, meio cambaleando, ainda consegue aguentar essas
reviravoltas na trama, perplexo, mas consegue; só que os três golpes finais são
verdadeiros ‘uppercut’ desferido de baixo para cima no queixo. Cara, você não
resiste, vai acabar indo à lona.
A
verdade sobre o caso Harry Quebert conta a história do
desaparecimento misterioso de Nola Kellergan, uma adolescente de quinze anos,
que é vista pela última vez sendo perseguida na floresta que margeia a pequena
cidade de Aurora, em New Hampshire. Ela nunca mais é encontrada. O fato mexe
com todos os moradores do pacato lugar.
Trinta e três anos depois, Marcus Goldman, um jovem
escritor de sucesso, deixa Nova York para ir a Aurora encontrar seu amigo e
professor, o respeitado romancista Harry Quebert, na esperança de conseguir se
livrar de um bloqueio criativo. Neste período em que fica em Aurora, um fato
inusitado, faz com que Marcus se veja obrigado a começar uma investigação, por
conta própria, sobre o estranho desaparecimento de Nola. A partir daí uma teia
de segredos vai emergindo, surpreendendo Goldman e também os leitores.
06
– Não conte a ninguém (Harlan Coben)
Imagine um bolo com várias camadas, em cada camada um
recheio diferente; e por isso, em cada uma dessas camadas uma surpresa para o
seu paladar. Esta foi a melhor definição que encontrei, mesmo que a grosso
modo, para Não Conte a Ninguém de
Harlan Coben, considerado, até agora o melhor livro de toda a sua carreira
literária.
Não
Conte a Ninguém não é aquele livro que você vai lendo,
vai lendo, mas pensando apenas na chegada do plot twist final que se encontra
no último capítulo. Pelo contrário, a obra de Coben tem várias reviravoltas ao
longo da trama que vão preparando o leitor para o grand finale. E quando esse
grand finale chega... Coben em menos de meia página, arremata a história de uma
maneira que deixa qualquer leitor de queixo caído. Este plot twist “miserável”
(no bom sentido) muda grande parte do que você já tinha lido, além de alterar
algumas reviravoltas anteriores.
A reviravolta final conseguiu dar um baita nó em minha
cabeça. Juro que não esperava por aquilo. Meu Deus! Por isso, quero relê-lo
Coben narra a saga do casal Dr. David Beck e sua
esposa Elizabeth. Há oito anos, enquanto comemoravam o aniversário de seu
primeiro beijo, eles sofreram um terrível ataque. Ele foi golpeado e caiu no
lago, inconsciente. Ela foi raptada e brutalmente assassinada por um serial
killer. O caso volta à tona quando a polícia encontra dois corpos enterrados
perto do local do crime, junto com o taco de beisebol usado para nocautear
David. Ao mesmo tempo, o médico recebe um misterioso e-mail, que,
aparentemente, só pode ter sido enviado por sua esposa. Esses novos fatos fazem
ressurgir inúmeras perguntas sem respostas: Como David conseguiu sair do lago?
Elizabeth está viva? E, se estiver, de quem era o corpo enterrado oito anos
antes? Por que ela demorou tanto para entrar em contato com o marido? Todos
esses questionamentos são esclarecidos ao longo da trama, cada um deles com um
plot twist de virar a cabeça de qualquer leitor.
07
– Conte-me seus sonhos (Sidney Sheldon)
Conte-me seus sonhos tem um “The End’ que tira o ar dos nossos
pulmões. Quando terminei o livro, jamais pensei naquela conclusão.
Sheldon narra uma série de assassinatos brutais onde
as vítimas são mortas de maneira cruel. Os crimes ganham repercussão mundial e
após várias investigações, a polícia chega a uma suspeita em potencial: Ashley
Patterson, de 20 anos. Uma moça de bom coração, uma verdadeira samaritana.
Resumindo: a moça é presa e vai a julgamento.
De um lado, um promotor que afirma ter provas
ferrenhas de que ela é a criminosa e por isso, exige a pena de morte. Do outro
lado; um jovem advogado que coloca a sua carreira em jogo por defender Ashley,
acreditando veemente em sua inocência.
Com o “andar da carruagem”, surgem mais duas lindas
mulheres que também podem estar envolvidas nos crimes: Toni Prescott e Allete
Peters. Todas jovens e sem antecedentes criminais. A grande pergunta é quem
cometeu os crimes brutais?
Entonce... vem a surpresa. E que surpresa!
08
– Os sete minutos (Irving Wallace)
Um misterioso escritor chamado J.J. Jadway escreveu
“Os Sete Minutos”, considerado o romance mais injuriado e polêmico de todos os
tempos. Tido pelos jornais e críticos como o livro mais pornográfico já escrito
desde que Gutenberg descobriu a imprensa.
Na época de seu lançamento, “Os Sete Minutos”
escandalizou toda a sociedade e ficou proibido durante 35 anos, ganhando o
status de obra maldita, mas por outro lado cultuada. Quanto a J.J. Jadway, se
tornou um mito, uma verdadeira lenda.
Por causa da obra polêmica, há três décadas e meia,
Jadway acabou sendo expatriado e a partir desse momento ninguém nunca mais
souber informar o seu paradeiro: se ele estava vivo ou morto. O lendário escritor
que havia revolucionado a linguagem dos romances convencionais, após cair em
desgraça por causa de sua obra, simplesmente desapareceu, mas “Os Sete Minutos”
continuaria causando furor.
Decorrido todo esse tempo, uma editora resolveu
relançar o polêmico romance, mas um
ambicioso e retrógrado promotor de uma pequena cidade americana, ainda entendia
que o livro se tratava de uma obra obscena. Por isso, o magistrado acaba
prendendo um pacato livreiro que vendia exemplares de “Os Sete Minutos” em sua
loja.
De acordo com o código penal da Califórnia, em seu
artigo 31, a venda de material obsceno é crime passível de prisão. Para
complicar ainda mais a vida do pobre livreiro, a obra teria sido a causa de um
estupro brutal seguido de homicídio. Um adolescente afirma que após ler o texto
maldito de Jadway, teria perdido o controle, vindo a estuprar e matar uma
jovem.
Leitores... preparem-se para a incrível reviravolta na
trama envolvendo o personagem J.J.Jadway. Os Sete Minutos de Irving Wallace tem um dos melhores plot twist que já li,
juntamente com Eles merecem a morte e
Mentirosos.
09
– Flores partidas (Karin Slaughter)
Este livro foi uma sugestão de leitura que recebi. Cara,
fiquei chocado com a história. Muito pesada e cheia de gatilhos.
Vale lembrar que os livros escritos por Karin
Slaughter quase sempre tem mulheres como personagens centrais. Em Flores Partidas, ela narra a história
dramática de duas irmãs. Quando Lydia conta à irmã que o cunhado tentou
estuprá-la, Claire não acredita. Dezoito anos depois, o marido de Claire morre,
e agora ela começa a descobrir todas as suas mentiras e mentiras terríveis. O
livro tem muitas passagens de estupros e violência, por isso a leitura não é
recomendável para as pessoas mais sensíveis.
Conheço dois leitores que leram a trama e me disseram
a mesma coisa: o plot twist no meio do enredo é surpreendente até a última
gota. Deixa as pernas bambas de qualquer um.
10
– Mentirosos (E. Lockhart)
Encerro esse post com o meu livro favorito quando o
assunto é plot twists. O final de Mentirosos
ficou guardado minha memória e acredito que ainda ficará por muito tempo. Não
tenho vergonha em dizer que até hoje, após vários anos, depois de ter lido Mentirosos de E.Lockhart ainda me
emociono.
O final da trama não é só surpreendente – e quando
digo surpreendente, estou querendo dizer algo do tipo: tirar completamente o
chão dos leitores – mas emocionante até a última gota.
A tal virada surpreendente acontece no último capítulo
intitulado ‘Verdade’. Garanto que é algo bombástico. É a partir daí que todos
os esclarecimentos envolvendo os quatro personagens principais da trama chegam
à tona. Mesmo a autora, em alguns trechos, soltando algumas pistas sobre o
final impactante, tenho convicção que o leitor não irá sequer imaginar o que o
último capítulo lhe reserva. É algo inimaginável.
Na trama, os Sinclair são uma família rica e renomada,
que se recusa a admitir que está em decadência e se agarra a todo custo às
tradições. Assim, todo ano eles passam as férias de verão numa ilha particular.
Cadence — neta primogênita e principal herdeira —, seus primos Johnny e Mirren
e o amigo Gat são inseparáveis desde pequenos, e juntos formam um grupo chamado
Mentirosos. Cadence admira Gat por suas convicções políticas e, conforme os
anos passam, a amizade com aquele garoto intenso evolui para algo mais. Mas
tudo desmorona durante o verão de seus quinze anos, quando Cadence sofre um
estranho acidente do qual não se recorda. Ela passa os próximos dois anos em um
período conturbado, com amnésia, depressão, fortes dores de cabeça e muitos
analgésicos. Toda a família a trata com extremo cuidado e se recusa a dar mais
detalhes sobre o ocorrido… até que Cadence finalmente volta à ilha para juntar
as lembranças do que realmente aconteceu. E quando ela descobre... vem a
surpresa arrebatadora.
Estão à procura de obras literárias com reviravoltas
incríveis? Escolha qualquer uma dessas dez; garanto que vocês irão gostar
tanto, mas tanto, que não irão resistir e acabarão por relê-las.