29 setembro 2013
Hannibal
Duas horas e 40 minutos!!! E da madruga!! Meu amigo,
confesso que não sei se terei condições físicas, psicológicas e neuronais... Pera
aí... neuronais??? Putz, ta vendo só, como já não estou concatenando os
pensamentos de maneira, pelo menos, satisfatória. Afinal, o que vem a ser
neuronais? Melhor deixar pra lá. Este é o horário exato, no qual acabei de
concluir uma reportagem sobre algo que detesto, mas sou obrigado a fazer por
força da minha profissão: entrevistar uma classe de .... de.... Cê sabe né...
aqueles caras que vivem prometendo, prometendo e... . Para vai! Deixe-me ficar ‘caladinho
da Silva” para não levar bronca no meu serviço depois. Tá vendo só o que o sono
e o cansaço fazem com a gente? Se descuidarmos, acabam soltando a língua, a
boca, as bochechas, os dentes! Emfim, tudo! Você confessa o que deve e também o
que não deve; por isso, vou me restringir apenas ao assunto do post que é o
livro “Hannibal”, de Thomas Harris.
Decidi sair no tapa com Morfeu pela madrugada afora,
porque já deveria ter publicado esse post há alguns dias, como havia prometido
no ‘Face” do Livros e Opinião. Então, mesmo com os ‘faróis’ baixos, vamos ao
que interessa e desde já me desculpe por alguns erros que certamente deverão ‘brotar’
no texto. Culpa de Morfeu.
Gente, já vou dizendo escrevendo logo de
cara: “Hannibal” é o pior livro da saga do Dr. Lecter. Não se iludam, este
livro - considerado pela ordem cronológica, o último da série – não chega aos
pés dos outros três (“Hannibal, A Origem do Mal”, “Dragão Vermelho” e “O
Silêncio dos Inocentes”). Mas vejam bem,
nem por isso, eu vou ficar malhando a obra de Harris, porque ela tem algumas
qualidades; bem poucas, mas tem. O problema
é que essas virtudes acabam sendo engolidas pelos defeitos que são ‘exageradamente
muitos’. E o maior deles é a liberdade de Hannibal Lecter. Mêo, o Lecter preso é um cara, aliás é “o cara”; já o Lecter
solto, fica totalmente descaracterizado. Mas aí você pode me encarar e dizer: “Em
Hannibal – A Origem do Mal”, o Lecter também está solto”. Acontece que as
situações são bem distintas. No livro mais recente de Harris, ele relata a
origem do personagem, ou seja, sua infância, juventude e mocidade. Revela também
os motivos que levaram uma criança inocente a se transformar num dos mais
temidos serial-killers da literatura policial. Portanto, não há como comparar as
duas obras.
Bem, retomando, à partir do momento que o autor retirou
o psiquiatra canibal de trás das grades, evaporou-se aquela aura mística de
perigo, suspense e até mesmo terror da história. Em “Dragão Vermelho” e “O
Silencio dos Inocentes”, para que policiais, médicos, agentes e outras pessoasas
pudessem se aproximar de Lecter, tinham de seguir todo um ritual. Mesmo atrás
das grades, ele era perigoso, pois podia matar uma pessoa utilizando apenas as
palavras que saiam de sua boca, como fez com um vizinho de cela que
desrespeitou a agente Starling em “O Silencio dos Inocentes”. Após o ocorrido,
Lecter cochichou algumas coisinhas no ouvido do infeliz, induzindo-o ao
suicídio.
Lecter era um perigoso predador que não podia ficar
solto de maneira nenhuma, pois apesar de imobilizado com uma camisa de força e usando
a sua emblemática focinheira exalava um clima do mais puro terror. Reportando,
mais uma vez, ao livro “O Silencio dos Inocentes”, será que o leitor se lembra do
que o psiquiatra canibal fez com uma enfermeira do manicômio onde estava preso?
Para aqueles que não se recordam, basta dizer que ele, simplesmente, devorou
parte do rosto da vítima que se abaixou para colocar alguns elétrodos em seu
peito para fazer um eletrocardiograma, creio eu. E olha que Lecter estava bem
amarradinho na maca, mas sem a focinheira.
Outro momento tenso do livro diz respeito ao
primeiro encontro entre Starling e Lecter. Quando a agente do FBI entra num
corredor lúgubre e mal iluminado com várias portas de aço sendo fechadas às
suas costas e depois caminha tensa e insegura até a cela onde está o
psicopata... caraca!! É de gelar o sangue!
É claro que não vou contar o final de “O Silencio
dos Inocentes”, pois seria um grande ‘calhorda sonolento’ - Ehehehe... gostaram
do ‘sonolento’? – mas o fechamento do enredo idealizado por Harris, foi
fantástico, pois manteve aquela aura de suspense. Em minha opinião, não haveria
a necessidade de mais um livro. A saga foi concluída com chave de ouro na obra
anterior, mas então chega a massacrante indústria cinematográfica hollywoodiana
‘intimando’ a criação de um novo roteiro, uma nova sequencia para o personagem
e lá vai o autor – seduzido pelos milhares de dólares a mais – inventar uma
continuação meia boca e toda esfarrapada. Resultado: tanto livro quanto filme
foram considerados grandes decepções, sendo malhados pela crítica e público.
Outra falha de “Hannibal” foram os personagens
caricatos. No livro quem é bom é bom e quem é mau é mau ao extremo e ponto
final. E pasmem! Os vilões são tão caricatos que conseguem, por sua vez,
transformar Lecter em uma alma caridosa. O vilão principal do livro: Mason Verger
é uma piada. O cara é tão desequilibrado que chega a beber lágrimas de
crianças! Pô Harris! Menos né?! Gente, não tem como não torcer pelo Dr. Lecter
na história.
Bem, o que sobra de bom no livro? Clarice Starling.
O leitor irá conhecer novos detalhes da vida da agente do FBI, ou seja, em que
ela se transformou após sete anos, que é a passagem de tempo entre “O Silêncio
dos Inocentes” e “Hannibal”. Garanto que Starling mudou demais as suas convicções
sobre o FBI.
Galera, palavra de honra que nem Lecter e nem Verger
atraíram minha atenção no romance; esse papel coube à agente Starling.
Ah! Já ia me esquecendo do final do livro. Éca, éca,
éca, éca e novamente éca!! E mil vezes novamente éca! Nojento e impressionante.
Quando o Dr. Lecter decide abrir a.... Ehehhe... achou que eu ia contar? No e
no, porque apesar de não ter gostado do livro, a minha opinião não pode ser
considerada um supra-sumo, já que pelo que vi em algumas redes sócias, há um
pessoal que idolatra o livro. Assim, seguramente, muitos irão ler a obra e
estragar o final nojento seria uma calhordice desse ‘calhorda sonolento”.
“Hannibal” começa onde termina “O Silencio dos
Inocentes”, com Hannibal Lecter foragido em um paraíso tropical que descobrimos
ser o Brasil, terra de grandes cirurgiões plásticos. Com novo visual, ele
distribui charme e cultura em Florença, onde passa a se dedicar a pesquisas
históricas. No entanto, para conseguir um cargo importante, o psicopata elimina a dentadas o antigo pesquisador. Mas o
FBI não desistiu de pôr as mãos no Dr. Lecter e usa a agente Clarice Starling
para atrair o canibal. O perigo maior para Lecter, porém, não são os agentes.
Totalmente desfigurado, mas com muito dinheiro em caixa, Mason Verger, uma
vítima de Lecter que conseguiu sobreviver, investe em uma mórbida vingança.
É isso aí galera! Quem quiser, fique à vontade para
ler. Talvez, ao contrário do ‘menino’ aqui, vocês acabem gostando da história.
Dios! Consegui chegar ao fim do post! O café da Lulu
até que conseguiu assustar um pouquinho o tal Morfeu.
Quem sabe, antes de encarar esses lençóis deliciosos
e esta cama que me seduz, eu ainda leia mais um conto da nova coletânea do
César Bravo, “Contos Além da Carne”. Este é para ler em doses homeopáticas;
digamos que eles sejam... bem insanos, como diz o próprio autor. Brevemente
escreverei sobre eles.
Inté galera!
22 setembro 2013
O Silêncio dos Inocentes
Responda-me uma coisinha. Você se lembra qual livro é considerado a pedra angular de sua estante ou biblioteca? Aquele que representou
o começo de tudo, tal como o Gênesis na Bíblia? Pensou? E aí? Estou fazendo
essa pergunta porque dou uma importância enorme ao livro que é considerado o
abre-alas da minha estante. Afinal de contas, ele foi o responsável pela
criação de ‘uma tal’ amada sala de leitura que é o espaço mais adorado da casa
desse blogueiro.
Quando comprei “O Silêncio dos Inocentes”, há mais
de uma década e meia, creio que em 1998, já tinha assistido e adorado o filme
de Jonathan Demme. Gostei tanto da produção cinematográfica que fiquei curioso
para saber se havia muita diferença entre as histórias das telas e das páginas.
Para matar essa curiosidade comprei correndo o livro de Thomas Harris, mas com
a quase certeza de que jamais iria superar a adaptação dirigida por Demme. Bem,
emprestando um jargão popular do Kid Tourão, posso dizer que “cai do cavalo”
porque, no final, acabei achando o livro bem melhor do que o filme.
A obra de Harris é profunda, completa em todos os
detalhes. A origem, os vícios, virtudes, medos, conflitos, maldades e
insegurança dos personagens são explorados à exaustão pelo autor.
É evidente que a galera sabe que ler é diferente de
assistir uma história. Os livros nos dão um panorama amplo da história e de
seus personagens, dissecando-os ao máximo, afinal de contas, as editoras não
impõem um limite de páginas a serem escritas por autores conhecidos. A
orientação dada pelos executivos editoriais deve ser mais ou menos essa: “Meu
filho coloque no papel tudo o que quiser, desde que venda muito; muito mesmo”.
Portanto, é dada aos autores a oportunidade de explorar um amplo horizonte e da
maneira que ele quiser. Já a sétima arte, restringe, tolhe, corta e poda a
história. O pobre do diretor ou roteirista de uma película tem que espremer em
uma hora e meia ou duas que seja, uma história de 500, 800 ou até mil páginas!
É claro que a saga de Lecter nos livros e também nos
cinemas não foge desse contexto. Harris teve toda a liberdade do mundo para
“brincar” com o seu enredo e personagens, enquanto Demme deve ter suado sangue
para resumir uma história tão detalhista e bem escrita por Harris. Vale lembrar
que Demme, além de diretor também adaptou o roteiro juntamente com Ted Tally.
Em “O Silêncio dos Inocentes” é possível perceber o
quanto a história foi enxugada para caber em quase 120 minutos de película; 118
para ser exato. Cara, muita coisa boa ficou de fora! Vejam bem, não estou
cometendo a heresia de criticar o filme, só estou dizendo escrevendo que
o livro é melhor; simples assim. E porque é melhor? Porque é mais completo,
completo ao extremo. A obra de Harris conta com personagens muito emblemáticos
e que precisam ter as suas origens vasculhadas, fuçadas, enfim, reviradas de
ponta de cabeça, para que os leitores possam curtir ao máximo o enredo no qual
eles estão inseridos. E isso não acontece no filme, ou se acontece, ocorre de
modo muito superficial.
Quer um exemplo? Ok, vamos lá. Búffalo Bill. O
psicopata assassino de jovens mulheres que é caçado pelo FBI com a ajuda do Dr.
Lecter tem o seu perfil praticamente desprezado no filme. Já no livro, tanto
Búffalo Bill quanto os outros personagens tem as suas vidas passada e presente
muito bem exploradas. Na obra literária de Harris podemos ver um relato
completo de como Búffalo Bill acabou se tornando um perigoso serial killer. O
autor invade a intimidade do assassino, mostrando todos os seus “podres”, o que
já não acontece no filme.
As personagens agente Starling; senadora Ruth
Martin; a sua filha Catherine Martin e o agente especial, Jack Crawford, também
tem as suas vidas expostas pelo autor, fazendo com que o leitor se familiarize
com os personagens, conhecendo suas origens, jeitos e trejeitos. No livro, temos
um perfil psicológico de Catherine e de sua mãe Ruth; conhecemos um segredo
familiar de Crawford envolvendo a sua esposa; passamos a ter contato com a
infância e adolescência detalhada de Clarice. São detalhes importantes que foram
abordados apenas superficialmente no filme, deixando esses coadjuvantes de luxo
meio que sem sal e açúcar.
Costumo dizer aos meus amigos que se eles quiserem
conhecer à fundo todos os personagens – sejam eles principais ou secundários –
do filme “O Silencio dos Inocentes”, simplesmente leia o livro; fácil assim. A
exceção fica com Hannibal Lecter que tem muito pouco ou quase nada de seu
passado explicado tanto no livro quanto no filme. Por ser o segundo livro de
uma trilogia (naquela época, Harris pretendia escrever somente três livros), “O
Silencio dos Inocentes” omite essas informações, sendo que o autor deixou para
relatar alguns detalhes sobre a juventude do personagem no livro “Dragão
Vermelho”, o primeiro da saga.
Autor Thomas Harris |
Para aqueles que desconhecem o enredo de “O Silencio
dos Inocentes” – o que acho quase impossível, já que de cada 10 pessoas, pelo
menos, mais da metade assistiram ou leram a história – Harris escreve sobre
cinco mulheres que são brutalmente assassinadas em diferentes localidades dos
Estados Unidos. A situação se complica quando o serial killer conhecido por
Búffalo Bill, seqüestra a filha de uma influente senadora do Estado do
Tennessee. Para chegar até o sanguinário assassino, uma jovem treinada pelo FBI,
Clarice Starling recebe a missão de entrevistar o Dr. Hannibal Lecter, um
brilhante psiquiatra que no passado tinha o hábito de matar e comer alguns de
seus pacientes, digamos que aqueles que não apresentassem uma evolução clinica
satisfatória ao seu tratamento. Lecter concorda em traçar um perfil psicológico
de Buffalo Bill, desde que Clarice também concorde em passar por uma espécie de
consulta psiquiátrica com ele, revelando detalhes de sua infância. Desta
maneira, a agente do FBI terá que lidar com um serial killer para poder prender
o outro. Ao seguir as pistas apontadas por Lecter, a jovem se vê envolvida numa
teia mortífera e surpreendente .
O livro “O Silêncio dos Inocentes” conta com uma das
passagens mais arrepiantes e tensas do chamado thriller policial. Preste
atenção no momento que Clarice vai se encontrar com o Dr. Lecter pela primeira
vez num hospital para criminosos mentais. Quando ela começa a descer as
escadarias de um corredor lúgubre que dá acesso à cela do psiquiatra canibal,
com o diretor do manicômio ao seu lado, contando as escabrosidades cometidas por
Lecter no passado... Brrrrrrr...... Se quiser saber detalhes dessa passagem do
livro confira aqui.
Enfim, “O Silêncio dos Inocentes” é um livro para o
leitor se aprofundar nos personagens, conhecê-los por completo, não deixando
nada pela metade. E venhamos e convenhamos, quando isso ocorre, ou seja, quando
você se familiariza com os personagens de determinado livro, conhecendo as suas
fraquezas, virtudes e medos, o enredo fica bem mais atrativo. E Harris é mestre
nisso.
17 setembro 2013
Hannibal – A Origem do Mal
Algumas pessoas acham os livros de Thomas Harris
fracos, mas endeusam as adaptações cinematográficas baseadas nas obras do autor.
Foi assim que aconteceu com toda a saga de Hannibal Lecter, “O Canibal”. A
maioria dos comentários que via nas redes sociais e também nos blogs dizia que
os filmes do psicopata eram verdadeiros clássicos, bem melhores do que os
livros. Teve um colega blogueiro que até usou um termo bem sugestivo: “A
Maldição da Saga Lecter”. Tétrico, não? O autor do post queria dizer que
enquanto os filmes baseados nos livros de Harris decolavam, a obra literária
ficava no limbo.
Com todo o respeito ao artigo escrito pelo colega,
não posso concordar com tal afirmativa porque considero os quatro livros sobre Hannibal
Lecter – “O Silencio dos Inocentes, “Hannibal”, “Dragão Vermelho” e Hannibal: A
Origem do Mal” muito bons. Muito bons não; excelentes! Ao contrário, por
exemplo, da adaptação cinematográfica de “Hannibal” que foi um verdadeiro
desastre. Quanto aos outros filmes, excetuando “O Silencio dos Inocentes” –
este sim, um clássico – nunca chegaram aos pés dos livros.
Com “Hannibal, A Origem do Mal” não foi diferente.
Achei o filme bem abaixo do nível do livro. Considero Harris um dos autores
mais detalhistas em seu gênero, ou seja, no thriller psicológico e no suspense
policial. Ele tem uma qualidade impar que falta em muitos escritores
consagrados: a facilidade para compor um personagem, descrevê-lo, esmiuçá-lo.
Não dá para comparar o Lecter, o Búfalo Bill, a Starling, o Graham ou ainda o Francis
Dolarhyde dos filmes com os mesmos personagens dos livros. Nas obras literárias
esses personagens são aprofundados, tendo um passado e um presente muito bem
explorados. Nada é jogado aleatóriamente nas páginas. Por exemplo, em “O
Silencio dos Inocentes” temos um perfil psicológico muito bem elaborado do
serial killer Búfalo Bill. Algo que não ocorre no filme, dando a impressão de
que o vilão foi jogado ali, no enredo cinematográfico, meio que de paraquedas. O mesmo acontece com Lecter, que apesar da
brilhante interpretação de Anthony Hopkins não chega a ser tão visceral, doentio
e – como costumo dizer ou escrever – “classudo” quanto o Lecter dos livros. Sei
lá galera, talvez dentro do contexto comparativo entre filme e livro, eu deva
ser a ovelha negra, já que, certamente, a maioria das pessoas acharam o filme bem melhor. Mas tudo bem,
afinal de contas, vivemos numa democracia.
Mas vamos ao que interessa, escrever sobre
“Hannibal, A Origem do Mal”, quarto livro sobre o personagem idealizado por
Harris, mas que dentro da cronologia da saga é considerado o primeiro ou, como
queiram, a origem, o gênesis, onde tudo começou.
A obra de Harris publicada em 2006 é fantástica,
daquelas que você lê numa tacada só, principalmente aquele leitor que já está
familiarizado com o Dr.Lecter. O personagem pode ser considerado um dos mais
famosos e complexos da literatura policial. Um serial killer letal e impiedoso,
mas com uma classe... uma educação... um verdadeiro gentleman. E além de tudo,
com um QI bem acima do normal. E é esse caráter dúbio que faz de Lecter um
personagem, de fato, apaixonante.
Os três primeiros livros da saga, trazem
pouquíssimas informações sobre a infância e a mocidade do serial killer. Temos
apenas pequenos resquícios desse período, somente o necessário para que o
leitor entenda, bem a grosso modo, o que levou Lecter a se tornar um perigoso
matador de pessoas com o estranho habito de se banquetear com alguns pedaços de suas vítimas.
Em “Hannibal, A Origem da Mal”, o autor aproveita
para nadar de braçadas na infância, adolescência e juventude do personagem,
dando todas as informações possíveis sobre o Lecter criança, o Lecter adolescente e o Lecter jovem.
Após ler as 343 páginas da saga, cheguei a conclusão
de que Hannibal Lecter só se transformou num dos piores serial-killers da
história da literatura policial por causa dos eventos da 2ª Guerra Mundial.
Creio que se, aquela criança de oito anos de idade que nutria um amor
incondicional por sua irmã Misha que tinha quase a sua idade, não tivesse
vivido os horrores daquele conflito, hoje o temido “Lecter Canibal” não
existiria.
Aquela criança dócil deixou de existir em 1945, após
ver os seus pais serem mortos num confronto entre o Exército Vermelho e os
alemães. Como não bastasse esse trauma, o pequeno Lecter ainda presenciou a sua
querida Misha ser canibalizada por um grupo de lituanos traidores e famintos
que ajudavam os nazistas. Este fato, com certeza acabou contribuindo para que o
personagem adquirisse o hábito de degustar as suas incautas vítimas. Sei lá, talvez,
o trauma de ver Misha sendo comida por seus algozes acabou provocando um
desequilibrio tão grande na mente daquela criança, de apenas oito anos, que a
melhor maneira encontrada por ela para suportar tais lembranças foi fazer o
mesmo com outras pessoas. Cara, como diz o ditado: “Só Freud explica”.
‘Anniba’, como sua irmãzinha costumava chamá-lo, viu
e sentiu na pele tanta crueldade dos homens durante a guerra que acabou
apagando em sua mente todos os resquícios de respeito à existência humana.
Bem, esta é a essência de “Hannibal – A Origem do
Mal”, livraço escrito por Harris. É evidente que não vou ficar vomitando
spoilers do enredo neste post. Basta dizer que o autor dá detalhes não só sobre
a juventude de Lecter, mas também sobre os seus pais: um conde lituano casado
com uma mulher pertencente a alta burguesia italiana.
O leitor tem a oportunidade de ver momentos
emocionantes vividos pelos dois irmãos que se amavam mutuamente; a fase do “Lecter
estudante e como ele acabou se tornando um brilhante psiquiatra, um dos mais
influentes do país.
Harris esclarece ainda como o personagem acabou
ingressando na criminalidade, dando os primeiros passos para se tornar um
perigoso serial killer.
Um dos momentos mais tensos da obra é aquele em que Lecter,
após atingir a maioridade, decide voltar as ruínas do local onde Misha foi
morta e devorada, com o firme propósito de encontrar os soldados lituanos
responsáveis pelo crime. Então tem início a sua terrível e selvagem vingança. Um
livro imperdível para os fãs da saga do Dr. Lecter.
No final desse post, aproveito para dar uma sugestão
à galera. Se vocês pretendem ler os quatro livros sobre o serial killer,
comecem pela “Origem do Mal”, depois leiam “Dragão Vermelho”, na sequência agarrem
“Silencio dos Inocentes” e por último ataquem de “Hannibal”. Fazendo isso,
vocês terão uma sequência lógica do enredo, passando a entender melhor esse
complexo personagem da literatura policial. Não façam como eu que “promovi” uma
verdadeira salada russa, lendo inicialmente “O Silencio dos Inocentes”, depois “Hannibal”,
na sequência “Dragão Vermelho” e por último “Hannibal, A Origem do Mal”. Se eu
fizesse a leitura dos livros em ordem cronológica, com certeza, teria
aproveitado melhor essa excelente saga policial.
Boa leitura!
11 setembro 2013
“O Judoka”: O herói brazuca dos quadrinhos que deixou saudades
Com certeza, o Afrânio que é um baita de um gozador e ávido
acompanhante do blog ao terminar de ler esse post irá gritar na minha orelha
com o seu inconfundível sotaque gaúcho: - “Ahahaha!! Virou a casaca heinn?!
Deixou os livros de lado e adotou os quadrinhos! Não falei que tu não
agüentava!”.
Este grande amigo meu é fissurado em quadrinhos da Marvel. O
cara tem um verdadeiro arsenal de almanaques e gibis espalhados em sua casa. O Afrânio
vive tentando mudar o meu gosto e fazer com que volte a ser um leitor
desesperadamente devorador de quadrinhos. Quando respondo que essa minha fase
já passou e que hoje leio apenas alguma coisa da Marvel ou DC esporadicamente,
ele me ataca com todos os golpes baixos possíveis e inimagináveis. Coisa do
tipo: “Ta vendo Tiê! Ta cuspindo no prato que comeu. Era louco por quadrinhos –
ele abomina a palavra gibi; sempre me olha torto, mordendo o canto da boca
quando pronuncio tal palavra – e agora ó fala mal!” Até eu explicar para o
Afrânio que gato não é lebre, demora. Lá vai eu esclarecer que não é bem
assim... que ainda gosto de ler alguma coisa do gênero, mas hoje, prefiro os
livros.
O motivo para que eu quebre, novamente, a regra básica do blog
que é postar somente assuntos relacionados à livros é que um personagem dos ‘gibis’
(olha o Afrânio bravo aí!) foi um dos meus heróis preferidos. O sujeito não
tinha super-poderes e nem fazia o tipo saradão, ao contrário, ele era até bem
franzino, mas bom de briga. Caceteava até os inimigos que davam dois deles.
Verdade! Estou me referindo à Carlos da Silva. Queeemmm????? Caraca! Quem
é esse peão aí?! Calma gente; falando dessa
maneira, você pensará que se trata de qualquer Carlão da vida. Não, nada disso.
O alter-ego do Carlos da Silva era o Judoka: o cara’, ‘a lenda’, ‘ o brazucão
dos quadrinhos’. Ele mesmo!
O gibi “O Judoka” foi publicado entre 1969 e 1973 pela
editora Ebal e inicialmente quem estrelava os quadrinhos não era Carlos da
Silva, mas um tal “Mestre Judoca”, personagem desenvolvido pela Charlton Comics
(atualmente DC Comics), porém a revista original não emplacou e acabou sendo
cancelada nos Estados Unidos logo na sexta edição. Ocorre que os responsáveis
pela Ebal foram com a cara do Mestre Judoca e acreditavam que as histórias do
herói da terra do Tio Sam poderiam continuar emplacando por aqui, tanto é que,
apesar dos quadrinhos terem sido um fracasso nos states, no Brasil, eles faziam
sucesso.
Dessa forma, a Ebal resolveu dar sequência nas aventuras do
“Judomaster” ou “Mestre Judoca”, mas por questões contratuais, foi obrigada a
criar uma versão brasileira do herói. Pronto! Nascia assim, o nosso Judoka com
histórias escritas por Pedro Anísio e a arte desenvolvida pelo jovem desenhista
Eduardo Baron. Tanto Anísio quanto Baron que eram grandes amigos dos donos da
Ebal não se recusaram em atender o pedido da alta cúpula da editora.
Em outubro de 1969 chegaria as bancas o número 7 da revista
“O Judoka”, marcando a estréia do personagem genuinamente brazuca.
A primeira medida adotada por Baron foi modificar o uniforme
do do sujeito. Enquanto, o “Mestre Judoca” da Comics usava máscara e roupas
vermelhas com detalhes amarelos, o Judoka brasileiro passou a utilizar uma
máscara verde e um quimono sobre um collant, também verde, com um losango
amarelo no peito. O uniforme era uma representação, a grosso modo da bandeira brasileira.
Carlos da Silva era um jovem estudante que tinha como mestre
de Judô e Karatê, Shiram Minamoto, o
qual havia salvo de um atropelamento. Como gratidão, o velho mestre decidiu ensinar ao jovem todas as técnicas e segredos
das artes marciais. Carlos acabou se transformando no “Judoka” e com o tempo,
Lúcia - namorada do herói - também passaria a treinar Judô e lutar a seu lado.
O nosso herói brazucão, apesar de não ter super-poderes, era
fodástico (caraca como estou usando esse termo ultimamente, desculpem aí os
mais .... digamos recatados). Dono da faixa preta e ocupando o último Dan, o
sujeito era duro na queda. Quando o nosso Carlão colocava aquele uniforme
esquisito e saia pelas noites cariocas (o personagem havia nascido e vivido no
Rio de Janeiro) descendo o sarrafo em criminosos perigosos, sem dúvida, muitos
leitores iam ao deleite.
Os gibis “O Judoka” publicados pela Ebal, incluindo os seis
números da Charlton Comics tiveram 52 edições, sendo que o último número foi lançado
em julho de 1973.
Os quadrinhos fizeram tanto sucesso no Brasil que acabaram
levando o personagem mascarado para as telas do cinema em 1972. No blog Mania de Gibi, vocês irão encontrar curiosidades bem interessantes sobre o filme que
foi triturado pela crítica da época. Coube a Pedrinho Aguinaga interpretar
Carlos da Silva e seu alter ego o Judoka e à atriz Elizangela, viver a namorada
do herói, Lúcia.
Cena do filme de 1972 "O Judoka" com Pedrinho Aguinaga |
Lembro-me do filme bem vagamente, pois tinha apenas 12 anos
quando foi lançado nos cinemas, mas me recordo de Aguinaga em algumas cenas.
Pelo que eu vi nas redes sociais, a sua interpretação foi risível. Apesar de
ser considerado no início dos anos 70, o homem mais bonito do Brasil, Aguinaga
não tinha nenhuma experiência como ator, a não ser num comercial de uma marca
de cigarro que tinha o slogan: “O fino que satisfaz”.
Mas vamos esquecer que o filme com o “fino que satisfaz” (rs)
foi um fracasso retumbante, o que importa, de fato, é que os gibis do Judoka
fizeram tanto sucesso nos anos 70 que se tornaram antológicos.
Putz que emoção! Gibizaço que fgez história! E ainda por cima
de um herói brasileiro! Fica bravo não Afrânio; deixa o seu amigo extravassar.
Lá vai: G-I-B-I-Z-A-Ç-O!!
Inté galera...’
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