31 outubro 2022

O Sorriso da Hiena

O Sorriso da Hiena de Gustavo Ávila não tem o poder de curar o leitor de uma ressaca literária, mas é um bom livro; excetuando o final. Pode ser que até grande parte dos leitores tenha gostado da conclusão da história, mas no meu caso, por não apreciar finais abertos ou semi-abertos, simplesmente me decepcionou. Não quero entrar em detalhes ou então liberar os tais malditos spoillers que estão escancaradamente presentes na contracapa do livro – aliás, deixe-me fazer um alerta para aqueles que pretendem ler a obra: ignorem a sobrecapa e a contracapa que trazem spoilers cavalares do enredo – mas o final envolvendo um dos vilões quebrou todo o clima do antefinal da narrativa; sim, porque o livros tem mais de um vilão – um acentuadamente vilão, o outro vilão por tabela e o terceiro, vilão por contingência do destino.

Adorei o “The End” envolvendo um desses vilões. Cara, o autor foi muito feliz! Que final inteligente! Quando o leitor acredita que o crime já caiu no esquecimento e que um dos envolvidos conseguiu escapar impune, eis que acontece um fato completamente inesperado e o detetive Artur Veiga  (adorei esse cara) crau! Dá o bote. O problema maior se resume ao final dos outros dois vilões que achei muito mal resolvido: um, rápido demais, do tipo vapt-vupt, e o outro final, em aberto. Sinceramente não gostei.

Quanto a narrativa, como já ‘disse’ no início do post é boa mas não para lhe tirar de uma ressaca ou Depressão Pós Livro (DPL). Se você estiver passando por isso, indico outras obras, como essas aqui. Mas independentemente disso, O Sorriso da Hiena cumpre o seu papel; e excetuando os finais a que me referi, é uma leitura agradável e fluída. Do tipo para ler, curtir e depois esquecer.

Além da fluidez do texto, outro ponto positivo da obra é o detetive Artur Veiga criado por Gustavo Ávila. Que personagem! O autor foi muito feliz na composição do policial que trava um duelo de inteligência com os vilões, principalmente o vilão principal que utiliza um método cruel para mutilar as suas vítimas ainda com vida. Arghhhhh Só em pensar me dá calafrios.

Ávila saiu da mesmice ao elaborar Artur Veiga. O detetive é um personagem com um transtorno neurológico conhecido por Síndrome de Asperger, um tipo de autismo que não causa nenhum atraso no desenvolvimento intelectual, mas molda a pessoa com certas peculiaridades. As características mais comuns são uma grande dificuldade em interagir com os outros e de entender emoções não verbais, além de movimentos desajeitados. Mas por outro lado, o personagem tem uma habilidade de lógica acima da média, além da tendência de falar sempre o que pensa. Artur Veiga é considerado o melhor detetive da Divisão de Homicídios da cidade, capaz de resolver os casos mais complicados. Me diverti muito com as suas “tiradas”. Por não perceber emoções que não sejam verbais e por sempre falar o que pensa - sendo sincero além da conta - ele acaba vivendo situações engraçadas e também inusitadas. Fiquei super fã do personagem.

Agora, sem spoilers: a narrativa é sobre um serial killer que mutila as suas vítimas ainda vivas – uma mutilação, como já tive, horrível e cruel. Depois de eliminá-las, some com os corpos. Ele faz isso por causa de um trauma que sofreu na infância e agora quer que os outros também sintam na pele o que ele sentiu.

Bem, é isso. Se revelar mais algum detalhe vou acabar soltando spoilers como fez a contracapa do livro. Aiii que raiva!! Depois que li a apresentação da obra na sobrecapa e a sinopse da editora na contracapa, comecei o livro sabendo “uns” 40% da trama.

Valeu galera!

28 outubro 2022

Dez best-sellers que viraram filmes antológicos nos anos 70 e 80

Nos últimos dias, venho assistindo muitos filmes dos anos 70 e 80 e confesso que estou adorando. Aliás, na minha opinião, as melhores produções cinematográficas – aquelas que podemos chamar de antológicas – foram produzidas nessa época. Após ‘maratonar’ alguns filmes ‘setentistas’ e ‘oitentistas’ parei para pensar quantas daquelas produções foram baseadas em livros; e quantos desses livros fizeram sucesso. Daí veio a ideia dessa postagem: elaborar uma lista de livros que foram transformados em filmes marcantes nas décadas de 1970 e 1980. Espero que gostem. Torço, também, para que essa toplist auxilie a galera saudosista na escolha de alguns filmes ou livros daquele período para “matar” saudades e também o tempo ocioso. Vamos conferir:

01 – O Exorcista (William Peter Blatty)

Livro: 1971 / Filme: 1973

O livro de William Peter Blaty é por demais assustador. Tão assustador que demorei um bom tempo para lê-lo. Sempre fui adiando a leitura porque achava que a história era muito pesada.

Lembro-me que nos meus dias de estudante secundarista, quando era um verdadeiro rato de biblioteca, cheguei a sacar o livro (uma edição de bolso em folha de papel jornal) da estante, mas ao ler as primeiras páginas acabei desistindo. Não que o livro fosse ruim. Longe disso, a criação de Blatty é uma verdadeira obra prima; o problema era comigo mesmo. Eu considerava O Exorcista, o monte Everest dos livros de terror e para encará-lo tinha que estar preparado. Não queria fazer como fiz com o filme em minha pré-adolescência, quando resolvi assisti-lo e depois...  me arrependi. Fiquei sem dormir alguns dias pensando na personagem da Linda Blair possuída virando o pescoço para trás num ângulo de 360 graus e descendo uma escadaria imitando uma aranha. Sei que hoje, esses efeitos especiais são um pouco simplórios, mas há 50 anos eram, de fato, assustadores.

Bem, resumindo, após exorcizar todos os meus fantasmas e chegar à conclusão que estava em “ponto de bala” para encarar o livro, não pestanejei em compra-lo num sebo. Ao terminar a leitura pude ratificar que O Exorcista ainda tem o poder de provocar muitos sustos e calafrios.

O filme de 1973 não fica atrás em seu tempo. Na época houve relatos na imprensa de pessoas que passaram mal nos cinemas e tiveram que ser retiradas por causa das cenas chocantes. O filme fez tanto sucesso que provocou filas de vários quarteirões nos cinemas. Toda essa coqueluche acabou alavancando ainda mais as vendas do livro de Blatty.

Entre tantas cenas antológicas, três delas marcaram muito a minha vida de cinéfilo. A primeira delas foi aquela ‘descida” de escada horripilante da personagem de Linda Blair após ter sido possuída. A garota parecia uma aranha! A segunda cena marca a chegada do padre Merrin na casa dos pais da garota Regan para dar início ao rito de exorcismo. Achei por demais sinistra e tenebrosa aquela imagem do padre, todo de preto, debaixo de um poste com iluminação fraca observando a casa onde iria entrar para enfrentar o demônio. E por fim, a terceira cena que mexeu muito comigo foi o exorcismo de Regan onde os padres Merrin e Damien Karras tentam expulsar o demônio do corpo da garota.

Livraço e filmaço dos anos 70.

02 – It  (Stephen King)

Livro: 1986 / Filmes: 1990, 2017 e 2019

Livro e filmes fantásticos! Sei que muitos criticam a produção de 1990 chamada “It – Uma Obra Prima do Medo”, mas o filme tem as suas virtudes; inclusive, na minha opinião, achei o palhaço Pennywise interpretado pelo ator Tim Curry bem mais sinistro e assustador do que aquele vivido por Bill Skarsgård nas produções de 2017 e 2019. 

“It Uma Obra Prima do Medo” foi concebido para passar apenas na TV como uma minissérie, mas por causa do sucesso obtido na época, acabou indo parar, também em VHS.

Quanto ao filme “It – A Coisa” que foi dividido em duas partes (2017 e 2018) teve uma produção mais caprichada no que se refere aos efeitos visuais, mesmo assim, repito, achei o Pennywise de Curry bem mais assustador apesar dos efeitos visuais simplórios dos anos 90. Todavia, “It – A Coisa” partes I e II recebeu muitos elogios da crítica e também do público conseguindo uma excelente bilheteria.


Quanto ao livro de Stephen King, vejo como o mais assustador de toda a carreira do mestre do terror. Apesar de suas quase mil páginas devorei o enredo em poucos dias.

It é claustrofóbico, angustiante, tenso e mete medo pra caramba. Enfim, tudo o que uma obra de terror que se preze deve ter. O palhaço Pennywise das páginas é assustador. De todos os vilões da literatura de terror, admito  que esse palhaço maligno foi o que mais me provocou calafrios; e nem fobia de palhaço eu não tenho. Ele é a própria essência do mal.

03 – A Casa dos Espíritos (Isabel Allende)

Livro: 1982 / Filme: 1993

ACasa dos Espíritos narra a saga da fictícia família Trueba no período de 1905 a 1975 e funciona como uma biografia disfarçada sobre vida da autora - principalmente na segunda parte da saga que conta o golpe militar ocorrido no Chile em 11 de setembro de 1973 que culminou com a deposição do presidente  Salvador Allende.

A escritora é sobrinha do ex-presidente do Chile e relata no livro – mesclando personagens reais e fictícios - os momentos tensos que culminaram com a eleição de Salvador Allende e logo depois com a sua deposição e suicídio.

A obra de Isabel Allende vendeu muito em todo o mundo, inclusive no Brasil, tornando-se um grande clássico da literatura mundial. A adaptação cinematográfica seguiu o mesmo caminho do livro: sucesso de público e crítica. 

O diretor Billy August conseguiu reunir uma “rempa” de atores que estavam em evidência no início dos anos 90, tais como: Meryl Streep, Glenn Close, Jeremy Irons, Antônio Banderas e Winona Ruyder, entre outros.

04 – O Nome da Rosa (Umberto Eco)

Livro: 1980 / Filme: 1986

Ambientado num mosteiro franciscano italiano no ano de 1327, o livro de mistério histórico escrito por Umberto Eco foi publicado pela primeira vez em 1980.

O frei Guilherme de Baskerville é enviado para investigar os monges que estão sendo acusados de heresia, mas sua missão é interrompida por assassinatos que lembram cenas apocalípticas. Mais que uma história de investigação criminal, O Nome da Rosa combina semiótica, análise bíblica, teoria literária e é, ainda, uma preciosa crônica sobre a Idade Média.

O Nome da Rosa foi publicado em 1980 e logo atingiu a marca de 500 mil exemplares vendidos virando um grande Best-seller, sendo em seguida traduzido para o alemão e o francês. Quanto a versão cinematográfica de Jean-Jacques Annaud que chegou seis anos depois do livro de Eco, apesar de não ter contato com o apoio da crítica, foi muito bem recebido pelo público. O filme traz nos papéis principais o ator escocês Sean Connery e Christian Slater.

Uma prova de que os críticos que malharam o filme estavam errados é que “O Nome da Rosa” recebeu 17 prêmios, entre eles o César de melhor filme estrangeiro, o BAFTA de Melhor Ator e Melhor Maquiagem, e cinco prêmios David di Donatello, maior premiação do cinema italiano.

05 – Tubarão (Peter Benchley)

Livro: 1974 / Filme: 1975

Tubarão (aqui e aqui)é o clássico romance de Peter Benchley que deu origem ao primeiro blockbuster de Steven Spielberg. Mas, mesmo antes do sucesso nos cinemas, a obra literária converteu-se num fenômeno de vendas. O best-seller internacional foi o principal responsável em elevar os tubarões ao status de perfeitas encarnações do mal. Podem acreditar, tanto livro quanto filme conseguiram incutir essa mentalidade na maioria das pessoas. 

A história se passa em Amity, um balneário ficcional situado em Long Island, Nova York. Quando o corpo de uma turista é encontrado na praia o chefe de polícia Martin Brody ordena o fechamento das praias da região. Mas o prefeito Larry Vaughan, mais preocupado com o dinheiro dos veranistas, consegue abafar a notícia e libera o banho de mar na cidade. O banquete está servido.

O impacto dessa obra pop foi tão violento, que gerações passaram a pensar duas vezes antes de cair no mar. O resultado foi a perseguição desenfreada a esses peixes de dentes afiados, tanto é que Benchley se tornou um ativista contra a matança indiscriminada dos tubarões.

O longa fez um sucesso tão grande, que superou outros gigantes do cinema, como “O Poderoso Chefão” e no Brasil seu recorde só foi batido mais de 20 anos depois pelo lançamento de “Titanic”.

06 – Primeiro Sangue (David Morrell)

Livro: 1972 / Filme: 1982

Rambo é um dos personagens mais icônicos de toda a história da sétima arte, responsável por projetar a carreira de Sylvester Stallone que ficou conhecido como um dos atores mais famosos de filmes de ação, elevando o seu nome no topo da lista dos “brucutus” do cinema. Mas o que pouca gente sabe é que o primeiro filme “Rambo” que abriu as portas para a franquia do herói nas telonas foi baseada num livro de David Morrell chamado Primeiro Sangue. O filme Rambo só viria dez anos depois do lançamento da obra literária. 

Inspirado pelos sucessos de livro e filme, Morrell decidiu escrever as novelizações de Rambo II e Rambo III.

Diferente do filme de 1982, o personagem das páginas não pensa duas vezes em puxar o gatilho para eliminar quem entre em seu caminho; para ele a sua única amiga é a liberdade e para alcançá-la é capaz de tudo. O ex-combatente do Vietnã provoca várias mortes, até mesmo de pessoas inocentes, tudo para conseguir fugir e se ver livre.

O embate entre Rambo e o xerife Teasle é eletrizante e ao contrário do filme, o personagem não usa uma faca multifuncional, mas apenas um rifle e isso já é o suficiente para provocar uma chacina durante a sua fuga.

Vale lembrar que o filme “Rambo” foi responsável por impulsionar as vendas de Primeiro Sangue dez anos depois do lançamento do livro. Hoje a obra de Morrel está quase esgotada, sendo vendida a peso de ouro nos sebos.

07 – A Cor Púrpura (Alice Walker)

Livro: 1982 / Filme: 1985

O filme é baseado no livro homônimo da Alice Walker (vencedor de vários prêmios, incluindo o Pulitzer) e começa no ano de 1909 no sul dos EUA durante o período pós-abolição da escravidão, mas com algumas regiões do País ainda resistentes às mudanças.

Walker narra a história da personagem Celie (Whoopi Goldberg) que sofreu abuso sexual de seu pai, tendo 2 filhos com ele e o mesmo pai a casou (de forma forçada) com o Albert Johnson (Danny Glover), que a trata com desdém, com um comportamento análogo à escravidão. Seu único lampejo de alegria é na convivência com a sua irmã, Nettie, mas não demora muito para que elas sejam separadas pelo Albert.

O filme acompanha 40 anos da vida da protagonista vivida por Goldberg que neste meio tempo conhece duas personagens que vão mudar drasticamente a sua vida: Sofia, vivida pela Oprah Winfrey e Shug, papel da Margaret Avery.

Livro e filme fizeram um baita sucesso e foram muito elogiados pela crítica. Os cinéfilos e leitores também adoraram.

A produção cinematográfica dirigida por Steven Spielberg concorreu a 11 Oscars, mas infeliuzmente não ganhou nenhum. A indiferença foi percebida e gerou controvérsias porque muitos consideraram o melhor filme de 1985.

08 – O Chefão (Mário Puzo)

Livro: 1969 / Filme: 1972

Lançado em março de 1969, o livro O Chefão de Mário Puzo encabeçou a lista de mais comercializados do New York Times, relação onde permaneceu durante 67 semanas. A adaptação para o cinema reforçou esse sucesso e, ao mesmo tempo, deu um novo impulso para que a obra seguisse rendendo boas cifras. Contagens mais recentes indicam que “O Chefão” vendeu, ao menos, 21 milhões de exemplares pelo mundo.

O estrondoso sucesso de vendas da obra literária de Puzo acabou despertando interesse da Paramount Pictures que não pensou duas vezes em produzir um filme baseado no livro. Nasceria assim uma produção antológica que entraria para os anais da história da sétima: “O Poderoso Chefão” com Marlon Brando e Al Pacino.

Em quase todas as listas de melhores filmes de todos os tempos, “O Poderoso Chefão” aparece em primeiro lugar. Críticos e fãs de cinema o idolatram.

O diretor do longa, Francis Ford Coppola comprou uma briga enorme com a Paramount que não queria que Marlon Brando interpretasse Don Corleone pois o ator tinha fama de indisciplinado e também não gostaram da escalação do então desconhecido Al Pacino para o papel de Michael Corleone. Mas graças a persistência de Coppola o filme saiu como o planejado.

Mais um filmaço e mais um livraço!

09 – O Expresso da Meia-Noite (Billy Hayes)

Livro: 1977 / Filme: 1978

Assisti “O Expresso da Meia-Noite” no cinema da minha cidade em 1978, na data de seu lançamento. Mesmo após décadas, o filme dirigido por Alan Parker e roteirizado por Oliver Stone não sai da minha cabeça. Uma das produções cinematográficas mais densas que já vi. Ainda me lembro que saí do cinema chocado com a temática explorada.

Muito tempo depois fiquei sabendo que o filme havia sido baseado em um livro também chocante. E, agora, recentemente fui informado que se trata de uma obra autobiográfica e por isso, uma história real.

Livro e filme contam a história do jovem Billy Hayes (Brad Davis), que em 1970 está viajando de férias pela Turquia com sua namorada Susan (Irene Miracle). No aeroporto de Istambul, prestes a embarcar para os Estados Unidos, ele é detido com dois quilos de haxixe. É quando começa seu calvário. Às voltas com ameaças terroristas, a polícia turca se mostra especialmente intransigente.

Billy é investigado e apesar de colaborar, termina preso. Tenta escapar, o que piora sua situação: é brutalmente espancado. Vai parar na prisão de Sagmalcılar, que não é nada diferente daquilo que imaginamos ser o inferno. Lá conhece Jimmy (Randy Quaid), um ladrão americano, Max (John Hurt), um viciado inglês e Erich (Norbert Weisser), um traficante sueco. 

Apesar da intervenção de seu pai (Mike Kelin), Billy é condenado a quatro anos e passa a viver os horrores de uma prisão onde só impera a desumanidade. Quando a justiça turca estende sua pena para insuportáveis 30 anos, só resta a ele embarcar no tal expresso da meia-noite, uma gíria usada pelos prisioneiros para se referir ao plano de fuga pelos túneis subterrâneos da prisão. Mas vale ressaltar que essa fuga não será nada fácil.

“O Expresso da Meia-Noite” se tornou um grande sucesso nos cinemas. Também não poderia ser diferente, já que a produção contava com os talentos Parker e Stone.

10 -  Laranja Mecânica (Anthony Burgess)

Livro: 1972 / Filme: 1972

O livro de Anthony Burgess chegou ao Brasil, pela primeira vez, em 1972 através da editora Artenova, 10 anos depois de seu lançamento nos “States”. Na mesma data em que a obra desembarcava nas livrarias brasileiras, também estreava nos cinemas, aqui da terrinha, o filme de Stanley Kubrick baseado no enredo de Burgess. Tanto livro quanto filme se tornaram uma verdadeira febre no País.

Aliás, a obra literária fez tanto sucesso que cinco anos depois, a Artenova promoveria o seu relançamento com uma nova capa. A partir daí, Laranja Mecânica foi ganhando novas várias edições ao longo dos anos, sendo a mais recente aquela lançada em 2015 pela Aleph. Três anos antes, em 2012, a editora colocou no mercado uma edição comemorativa ‘chic nu urtimu’ alusiva aos 50 anos do livro no Brasil.

O enredo criado por Burgess é tido como um verdadeiro clássico da ficção científica; um marco na história da cultura pop e da literatura distópica. Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma resposta igualmente agressiva de um governo totalitário.

Ao lado de 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, Laranja Mecânica é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século 20.

A estranha linguagem utilizada por Alex, conhecida como Nadsat, merece destaque na obra; criada pelo próprio Burgess, fornece ao romance uma dimensão quase lírica.

A trama, que conta a história de uma violenta gangue de adolescentes que sai às ruas buscando divertimento de uma maneira um tanto controversa, incita profundas reflexões sobre temas atemporais, como o conceito de liberdade, a violência – seja ela social física ou psicológica – e os limites da relação entre o Estado e o Indivíduo.

Por hoje é só. Espero que leitores e cinéfilos tenham apreciado a nossa lista.

23 outubro 2022

Dez opções de livros para você comprar na Black Friday

Resta pouco tempo para chegada da Black Friday 2022. Cara, estou contando nos dedos as semanas que ainda faltam. E como todo devorador de livros também estou visitando sites e mais sites, sebos e mais sebos on line, preparando uma listinha de novos “bebês” que pretendo comprar, torcendo para que eles estejam com descontos especiais ou pelo menos, frete grátis no dia 25 do próximo mês.

Enquanto estava preparando a minha listinha, tive a ideia de escrever essa postagem na esperança de poder auxiliar outros leitores na escolha de livros nessa Black Friday. Parti do princípio de escolher as obras mais vendidas e comentadas pela galera, independentemente de ser lançamento ou não.

Garanto que não selecionei nenhum desses livros de forma aleatória; conheço todos eles, mesmo não tendo lido alguns: “uns” dois ou três. Apesar disso, aqueles que eu não li, procurei pesquisa-los nas redes sociais. Fui atrás de comentários e críticas para fazer uma avaliação justa. Quanto aos que eu li, se estão aqui, é porque gostei.

Mas sem mais delongas e milongas vamos a nossa toplist da black Friday desse ano. Podem reservar algum dinheirinho extra porque essas obras são “Dez”.

01 – O sete maridos de Evelyn Hugo (Taylor Jenkins Reid)

Quer saber o motivo da escolha desse livro para a nossa lista? Eu conto. Apesar de Os sete maridosde Evelyn Hugo ter sido lançado há quase três anos, ele ainda continua ocupando inúmeras listas de obras mais vendidas, entre as quais a da Revista Veja e também da Amazon. Além do mais eu amei o enredo. Por isso, não dá para deixar de fora a obra escrita por Taylor Jenkins Reid. 

A personagem Evelyn Hugo consegue te prender do início ao fim. A medida que detalhes e segredos de sua vida vão sendo revelados, o leitor fica cada vez mais curiosos para saber mais e mais.

À exemplo de Daisy Jones & The Six – outro sucesso da autora, lançado no mesmo ano – a história de Os Sete Maridos de Evelyn Hugo conquistou uma legião de leitores. Prova disse é que apesar do livro ter sido lançado nos Estados Unidos em 2017 e no Brasil em 2019, ele encontrava-se, até a semana passada, entre os 10 mais vendidos na listagem da Amazon.

Aos setenta e nove anos, Evelyn Hugo é uma lenda do cinema. Com seu icônico cabelo loiro e dona de uma beleza de dar inveja, seguiu um roteiro digno dos filmes que protagonizou: deixou para trás a origem simples para se alçar ao estrelato e se transformar na grande sensação das telas nos anos 1960. Nos bastidores, levou uma vida igualmente agitada, incluindo sete casamentos e muitos escândalos nos tabloides de fofocas.

Vivendo reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história ― ou sua “verdadeira história” ―, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso ― e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

02 - Daisy Jones & The Six: Uma história de amor e música (Taylor Jenkins Reid)

Quando você comprar Os Sete Maridos de Evelyn Hugo aproveite e também inclua no pacote Daisy Jones & The Six: Uma história de amor e música. Garanto que a Taylor Jenkins Reid arrebentou nessas duas obras. Os dois enredos irão propiciar uma leitura viciante. Merecem estar em nossa lista de compras nesta Black Friday. Daisy Jones & The Six pode ser considerado um dos romances contemporâneos mais aclamados pelos amantes do universo literário.

Da mesma forma como acontece em Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, os personagens de Daisy Jones são tão carismáticos que parecem reais. A ilusão que temos ao ler a obra literária é que o “The Six”, grupo musical fictício dos anos 70, de fato, existe. A minha sensação foi a de que Daisy Jones, Billy Dune, Graham Dunne, Karen Sirko e os demais integrantes do grupo eram de carne e osso. Parecia que eu estava lá no meio da gritaria dos fãs assistindo um show da banda, vivendo o clima contagiante de uma apresentação ao vivo; presenciando os desentendimentos, erros e acertos do “The Six”; vendo uma Daisy Jones tão real que a minha impressão era de que a personagem estava se abrindo comigo revelando os seus segredos, as suas alegrias e principalmente as suas tristezas.

Cara, um livro tão bom assim só poderia ir parar no cinema ou na TV. E assim será. A obra literária de Jenkins Reid vai ganhar uma minissérie de 12 capítulos no Prime Video, streaming da Amazon. As gravações já terminaram e agora é só aguardar a definição de sua data de estreia na TV.

03 – Verity (Colleen Hoover)

Verity lançado aqui no Brasil em 2020 arrebentou em vendas, tornando um dos preferidos de toda a galera que aprecia o gênero thriller psicológico.

Apesar de ter sido lançado há mais de dois anos, o livro ocupa a sexta posição na lista de livros mais vendidos da Amazon. Confesso que não sou muito adepto das obras de Colleen Hoover, mas Verity se tornou uma exceção. Gostei muito do livro, apesar do seu final que achei meio assim e assim... mas no geral, trata-se de um excelente thriller psicológico e merece fazer parte dessa lista.

Finalista do prêmio Goodreads como melhor romance de 2019, Verity narra a história envolvendo um casal apaixonado, uma intrusa e três mentes doentias. Verity Crawford é a autora best-seller por trás de uma série de sucesso. Ela está no auge de sua carreira, aclamada pela crítica e pelo público, no entanto, um súbito e terrível acidente acaba interrompendo suas atividades, deixando-a sem condições de concluir a história... E é nessa complexa circunstância que surge Lowen Ashleigh, uma escritora à beira da falência convidada a escrever, sob um pseudônimo, os três livros restantes da já consolidada série. Para que consiga entender melhor o processo criativo de Verity com relação aos livros publicados e, ainda, tentar descobrir seus possíveis planos para os próximos, Lowen decide passar alguns dias na casa dos Crawford, imersa no caótico escritório de Verity - e, lá... bem, digamos, que as coisas começam a se complicar. Podem incluir em sua lista da Black Friday, vale a pena.

04 -  É assim que começa (Colleen Hoover)

Pois é, disse acima que não sou fã dos livro de Colleen Hoover, mas não posso negar que a autora está dominando a maioria das top lists de obras mais vendidas no País. Para que você tenha uma ideia, basta dizer que na sondagem da Amazon, a autora ocupa as quatro primeiras posições, além de três lambujas, no caso a sexta, décima nona e vigésima colocações. Cara, só dá a escritora!! Portanto, eu não poderia ser hipócrita e rifá-la da lista. 

É assim que começa ocupa a primeira posição dos mais vendidos na Amazon. Isso prova que a galera leitora amou o livro. A narrativa é a sequência da história do casal Lily e Atlas de É Assim Que Acaba. Caráculas... acho que vou ter que indicar uma terceira obra de Hoover nessa lista.

Nesta sequência, a personagem Lily Bloom, agora separada de seu ex-marido abusivo, continua administrando uma floricultura quando acaba reencontrando um antigo namorado. Ela acredita que chegou a hora de recomeçar a sua vida ao lado de Atlas, sua antiga paixão, mas tudo seria perfeito se no caminho do casal não estivesse o ex-marido abusovo e ciumento.

05 – É assim que acaba (Colleen Hoover)

Vichiiii! Colleen Hoover, de novo. Não tem jeito, vamos ter de inclui-la novamente em nossa lista de opções para a Black Friday desse ano. O problema é que se você ler apenas É assim que começa ficará completamente perdida (o) porque o enredo é uma sequência direta de É assim que acaba. Capiche? Portanto, o correto é ler os dois livros sequencialmente. Resultado: se a galera leitora optar pela compra de um deles nessa Black Friday terá de comprar o outro. 

Em É assim que acaba, Colleen Hoover nos apresenta Lily, uma jovem que se mudou de uma cidadezinha do Maine para Boston, se formou em marketing e abriu a própria floricultura. E é em um dos terraços de Boston que ela conhece Ryle, um neurocirurgião confiante, teimoso e talvez até um pouco arrogante, com uma grande aversão a relacionamentos, mas que se sente muito atraído por ela.

Quando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento e abusivo que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja?

O livro é considerado a obra mais pessoal de Hoovere e explora as relações tóxicas, e como o amor e o abuso muitas vezes coexistem em uma confusão de sentimentos.

06 – A biblioteca da meia-noite (Matt Haig)

Livraço! A Biblioteca da Meia-Noite está recebendo rasgados elogios nas redes sociais. Quem leu, gostou. Matt Haig narra a história da personagem Nora Seed que aos 35 anos é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Arrependida das escolhas que fez no passado, ela vive se perguntando o que poderia ter acontecido caso tivesse vivido de maneira diferente. 

Após ser demitida e seu gato ser atropelado, Nora vê pouco sentido em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo. Porém, quando se vê na Biblioteca da Meia-Noite, Nora ganha uma oportunidade única de viver todas as vidas que poderia ter vivido.

Neste lugar entre a vida e a morte, e graças à ajuda de uma velha amiga, Nora pode, finalmente, se mudar para a Austrália, reatar relacionamentos antigos – ou começar outros –, ser uma estrela do rock, uma glaciologista, uma nadadora olímpica... enfim, as opções são infinitas. Mas será que alguma dessas outras vidas é realmente melhor do que a que ela já tem?

Em A Biblioteca da Meia-Noite, Nora Seed se vê exatamente na situação pela qual todos gostaríamos de poder passar: voltar no tempo e desfazer algo de que nos arrependemos. Diante dessa possibilidade, Nora faz um mergulho interior viajando pelos livros da Biblioteca da Meia-Noite até entender o que é verdadeiramente importante na vida e o que faz, de fato, com que ela valha a pena ser vivida.

07 – Histórias lindas de morrer (Ana Cláudia Quintana Arantes)

Como já escrevi neste post (confira aqui) que publiquei no começo de abril, não há nem por brincadeira, nenhuma chance de falar mal do livro de Ana Cláudia Quintana Arantes. Histórias Lindas de Morrer é muito bom, mas bom, de fato. Os depoimentos de pacientes – através das palavras da autora - que estão em fase terminal de determinadas doenças são por demais emocionantes e nos ensinam muitas lições, entre elas, a importância do perdão e do amor incondicional.

Dedicada a quebrar o tabu sobre a morte no Brasil, Ana Claudia que é médica paliativa nos traz uma coleção de emocionantes histórias reais, colhidas em sua prática diária, em que a proximidade do fim nos revela em toda a nossa profundidade.

São pessoas de várias idades, crenças e origens, que deixam aos leitores verdadeiras lições de vida. Um dos capítulos que mais despertaram o meu interesse foi aquele em que a autora abriu o seu coração ao contar como enfrentou a perda de seu pai e de sua mãe que morreram, respectivamente, de Colangite (uma inflamação das vias biliares) e Esclerose Lateral Amiotrófica (a mesma doença do físico Stephen Hawking). Fiquei muito emocionado com esses dois capítulos. Ana Cláudia explora o seu drama sob todos os ângulos: vemos o seu comportamento como filha e também como médica e, então, descobrimos todas as suas qualidades como profissional da área de cuidados paliativos, a qual se tornou uma referência.

Li o livro da editora Sextante em dois dias, apesar do grande fluxo de atividades que tinha que desenvolver em meu trabalho. A narrativa dinâmica de Ana Cláudia deixa o leitor ligado em 220 Volts (como diz um velho ditado popular). Mal você termina de ler um desses depoimentos, já quer, imediatamente, embarcar na história de vida de um outro paciente.

08 – Vermelho, branco e sangue azul (Casey McQuiston)

Lançado em 2019, Vermelho, Branco e Sangue Azul continua fazendo parte de várias listas de mais vendidos, incluindo Amazon e Publishnews.

A trama de Casey McQuiston gira em torno do personagem de Alex Claremont-Diaz, filho da presidente dos Estados Unidos, e seu relacionamento com o príncipe Henry, um príncipe britânico, abordando temas de divergências políticas e também humor.

Quando sua mãe foi eleita presidenta dos Estados Unidos, Alex Claremont-Diaz se tornou o novo queridinho da mídia norte-americana. Bonito, carismático e com personalidade forte, Alex tem tudo para seguir os passos de seus pais e conquistar uma carreira na política, como tanto deseja. Mas quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, irmão mais novo de Philip, o príncipe mais adorado do mundo, com quem ele é constantemente comparado ― e que ele não suporta.

O encontro entre os dois sai pior do que o esperado, e no dia seguinte todos os jornais do mundo estampam fotos de Alex e Henry caídos em cima do bolo real, insinuando uma briga séria entre os dois. Para evitar um desastre diplomático, eles passam um fim de semana fingindo ser melhores amigos e não demora para que essa relação evolua para algo que nenhum dos dois poderia imaginar ― e que não tem nenhuma chance de dar certo. Ou tem?

09 – Mulheres correm com os lobos (Clarissa Pinkola Estés)

Podem acreditar! Um livro que foi lançado em 2018 ocupa, atualmente, o primeiro lugar na listagem dos mais vendidos da Revista Veja na categoria “não-ficção”. Isso prova que a obra da analista junguiana Clarissa Pinkola Estés é excelente, uma verdadeira joia lapidada.

Clarissa explica que os lobos quase sempre foram pintados com um pincel negro nos contos de fada e até hoje assustam meninas indefesas. Mas nem sempre eles foram vistos como criaturas terríveis e violentas. Na Grécia antiga e em Roma, o animal era o consorte de Artemis, a caçadora, e carinhosamente amamentava os heróis.

A analista junguiana acredita que na nossa sociedade as mulheres vêm sendo tratadas de uma forma semelhante. Ao investigar o esmagamento da natureza instintiva feminina, Clarissa descobriu a chave da sensação de impotência da mulher moderna. Seu livro, Mulheres que correm com os lobos aborda 19 mitos, lendas e contos de fada, como a história do patinho feio e do Barba-Azul.

Clarissa mostra como a natureza instintiva da mulher foi sendo domesticada ao longo dos tempos, num processo que punia todas aquelas que se rebelavam. Segundo a analista, a exemplo das florestas virgens e dos animais silvestres, os instintos foram devastados e os ciclos naturais femininos transformados à força em ritmos artificiais para agradar aos outros.

Mas sua energia vital, segundo ela, pode ser restaurada por escavações psíquico-arqueológicas' nas ruínas do mundo subterrâneo. Até o ponto em que, emergindo das grossas camadas de condicionamento cultural, apareça a corajosa loba que vive em cada mulher.

10 – Mentirosos (E. Lockhart)

Fecho essa lista com um dos melhores livros que já li e que tem, por sua vez, um melhores plot twists que já vi. Aliás, existem finais de livros que ficam guardados em nossa memória por toda a vida. Nós podemos ficar velhos, e diga-se, muito velhos, e mesmo assim aquele final sempre fará parte das nossas recordações. Os meus olhos ficaram úmidos com o “The End” de Mentirosos. Estilhaçou o meu coração e me fez entrar numa depressão pós-livro profunda.

Além do final emocionante, como já citei acima, se preparem também para uma virada avassaladora na história, daquelas viradas que tiram o chão do leitor. A tal virada acontece no último capítulo intitulado ‘Verdade’. Posso garantir que é algo bombástico. É a partir daí que todos os esclarecimentos chegam à tona. Mesmo a autora, em alguns trechos da trama, liberando algumas pistas sobre esse final surpresa, certamente a galera nem irá imaginar o que o último capítulo lhes reserva. É algo... sei lá, que não passa pela cabeça de nenhum leitor. E quando você descobre a verdade, o seu queixo cai.

Mentirosos merece fazer parte dessa lista.

Taí galera! Espero ter ajudado. Agora é só escolher as obras que mais despertaram o seu interesse e esperar o 25 de novembro para confirmar a compra.

Inté!

18 outubro 2022

Realidades adaptadas

Não tenho como negar que no começo foi muito difícil me conectar com o estilo narrativo de Philip K. Dick. Só fui... como posso dizer... acho que o termo correto é “plugar”. Isso mesmo, só pluguei a partir do início do segundo conto. Juro que estava para desistir da leitura logo de cara, ao ler a história que serviu de base para a adaptação cinematográfica de “O Vingador do Futuro” que se transformou num dos maiores sucessos de toda carreira do brucutu Arnold Schwarzenegger. Depois, a leitura saiu do “modo espera” e foi engrenando aos poucos; como aqueles carros que que fazem os seus donos suarem sangue para pegar no tranco, mas depois que pegam, andam sem nenhum problema, na ‘maciota’.

Por isso, já alerto os leitores dessa postagem que não estão acostumados com o estilo de K. Dick para que se preparem, pois poderão sentir a mesma sensação que eu tive. O conselho é para que não desistam, pois os contos apesar seguirem a chamada linha “Dickniana” são muito bons.

E como posso definir essa linha que apelidei por conta própria de “Dickniana”. Cara... olha é complicado, mas vou tentar expor o que eu senti ao ler as histórias de Dick; vamos lá. O início das narrativas é uma “bagunça só”. Jesus, o que é aquilo! São personagens mal aproveitados, pontas soltas no enredo, argumentos confusos, plots bobos e etc, mais etc. Tanto é verdade que ao começar a ler Realidades Adaptadas tive a impressão de que o autor estava chapado enquanto escrevia aqueles contos. E não é que eu estava certo! Depois que li o livro fiquei sabendo que as loucura das páginas de Dick eram, de fato, um reflexo da mente conturbada do escritor. Diagnosticado com doenças mentais e transtornos diversos como agorafobia e paranoia, Dick não procurava acalmar a mente. Ao contrário. Escreveu a maioria de suas obras sob o efeito de metanfetamina, uma droga potente e viciante que conduz ao aparecimento de comportamentos psicóticos, além de outros transtornos mentais como depressão. Além das drogas, o autor teve cinco casamentos difíceis o que o fez se afundar ainda mais na dependência das metanfetaminas. Resultado: internação em clinicas de reabilitação e algumas tentativas de suicídio.

Acredito que o futuro sempre sombrio existente em suas histórias foi o fruto desse período em que Dick estava loucaço. Suas narrativas tem uma aura bem deprê que serve de pano de fundo para enredos que misturam ficção científica e thriller policial sempre colocando em dúvida o que é e o que não é real.

Mas toda essa coisa louca e sem sentido que, quase sempre, rolam nos contos de Dick vão se esclarecendo aos poucos, ou seja, as pontas soltas iniciais vão se amarrando com o desenrolar da narrativa até à conclusão genial capaz de deixar os leitores, à princípio, decepcionados com a história, com aquele Ohhhhhhh!!! de surpresa na boca. Resultado: se no início, eles excomungavam a história, no final, eles passam a amá-la. Bem, acho que é isso. Não sei se consegui explicar a essência das histórias escritas pelo autor. Realidades Adaptadas deixa muito evidente esse ponto de vista.

O livro com pouco mais de 300 páginas traz sete contos conhecidos do autor que foram adaptados para o cinema, tornando-se filmes conhecidos, alguns deles grandes sucessos de bilheteria como “O Vingador do Futuro” e “Minority Report – A Nova Lei”.

Se você, infelizmente, é aquele tipo de leitor que traz pronta na boca a frase infame: “Como já assisti ao filme não vou perder tempo lendo o livro”, pode mudar esse conceito, pelo menos com Realidades Adaptadas, lançada pela editora Aleph. Os contos são infinitamente diferentes dos filmes, mas diferentes ao extremo. Na minha opinião, o único que se aproximou um pouco mais da produção cinematográfica foi “O Pagamento” que pintou nas telas em 2003 numa superprodução de John Woo com Ben Affleck e Uma Thurman nos papéis principais.

Confiram um pequeno resumo dos contos:

01 – Lembrando para você a preço de atacado

Adaptação para cinema: O Vingador do Futuro

Muito, mas absurdamente diferente do filme “O Vingador do Futuro” de 1990 com Arnold Schwarzenegger e mais diferente ainda do que o remake de 2012 com Colin Farrell.

Neste conto escrito em 1966, Douglas Quail é um escriturário que sonha em viajar para Marte, algo um tanto fora de suas condições financeiras. A solução é a Recordar S.A., empresa que presta serviços de implantes de memória, criando lembranças vívidas de eventos que não aconteceram de fato. Ao procurar esse atendimento, Quail tem a surpresa de que já existem memórias reprimidas em sua mente sobre uma estadia em Marte, o que gera uma série de problemas e questionamentos sobre o que é realmente fato ou invenção.

02 – Segunda Variedade

Adaptação para cinema: Screamers – Assassinos Cibernéticos

O filme “Screamers – Assassinos Cibernéticos” foi lançado em 1995 e dirigido pelo canadense Christian Duguay que cinco anos depois faria o excelente “A Cilada” com Wesley Snipes, que muitos reputam como o melhor filme tanto do diretor como do ator. Quanto a “Screamers – Assassinos Cibernéticos”, apesar de ter recebido elogios da crítica, fracassou nos cinemas. Uma pena, porque o filme é bom, apesar de ser muito diferente do conto no qual foi inspirado.

Mas vamos ao resumo da história escrita por Dick. Gostei muito dessa narrativa, apesar de ter descoberto o seu plot twist final ainda no meio o conto.

Em Segunda Variedade, esqueça os robôs bonzinhos de Isaac Asimov que seguem fielmente as leis da robótica. Aqui, quem domina o enredo são máquinas cruéis e sanguinárias. O homem utiliza estas máquinas para exterminar outros homens de forma eficiente. E a estratégia que estas máquinas adotam durante a história é covarde e cruel.

A história se passa em uma realidade distópica, em que dois blocos, um liderado pelos Estados unidos e outro pela Rússia, estão em uma guerra de consequências mundiais. A Rússia, por ter tomado a iniciativa, começa em vantagem, obrigando inclusive o governo e os civis americanos a refugiarem-se na lua. Quando tudo parece perdido para os Estados unidos, o país cria uma nova arma que muda o rumo do confronto: os tais robôs assassinos.

03 – Impostor

Adaptação para cinema: Impostor

Vou me abster de opinar sobre o filme lançado em 2001 já que não tive a oportunidade de assisti-lo, mas quanto ao conto, achei “da hora”, bom mesmo. Dick põe em cheque a chamada crise ou mesmo perda de identidade do personagem frente ao fato de ter certeza de suas próprias memórias, mas carregando a dúvida: “serei eu um robô?”.

Este conto foi escrito em 1953 e narra a saga do personagem Spence Olham, um cientista especialista em armas trabalhando para o governo terrestre que tenta deter uma invasão dos alienígenas de Alfa Centauro. Sua vida sofre uma reviravolta quando é acusado pela polícia secreta, liderada pelo Major Hathaway, de ser um impostor - um clone cibernético perfeito do verdadeiro Spencer Olham com uma bomba interna a ser usada para matar uma alta autoridade do governo. Spencer não acredita ser um clone e consegue fugir das instalações. Agora, ele tem que provar que não é um robô. Final surpresa.

04 – O Relatório Minoritário

Adaptação para cinema: Minority Report – A Nova Lei

O conto de Dick escrito em 1956 deu origem a um dos filmes mais elogiados do astro Tom Cruise. “Minority Report – A Nova Lei” passou nos cinemas em 2002 e fez muito sucesso. O roteirista Scott Frank, o mesmo de “O Nome do Jogo” e “Marley e Eu” usou poucos elementos do conto para o filme dirigido por Steven Spielberg. 

Na história escrita por Dick, Anderton (interpretado por Tom Cruise nas telonas) é um policial fundador da Pré-Crime, agência do governo que consegue, por meio de previsões de três precogs, antecipar futuros crimes e prender os “infratores”. No dia em que seu novo e ambicioso assistente chega ao departamento, porém, um relatório majoritário é expedido com o nome de Anderton, prevendo um assassinato. Em dúvida se a acusação foi forjada ou um erro do sistema, Anderton tem apenas uma certeza: sua salvação está no relatório minoritário.

Este foi o conto que menos gostei do livro. Sinceramente, não me empolgou. Etchaaa!! Bem complicadinho e além de tudo parado. Não empolgou mesmo. Nunca pensei que um dia faria essa afirmação, mas nesse caso vá lá: “prefiro o filme ao conto”. Putz, fiquei com peso de consciência pela afirmação (rs).

05 – O Pagamento

Adaptação para cinema: O Pagamento

Conto e filmaço ‘dez’. Bom mesmo. O filme só sairia depois de um hiato de 50 anos. Isso mesmo, Dick escreveu O Pagamento em 1953 e a sua história só iria parar nas telonas em 2003.

No conto, o personagem Jennings acaba de acordar. Dois anos atrás, ele fora contratado pela Construtora Rethrick como técnico e teve sua memória apagada para não revelar detalhes da operação. Tudo em troca de um bom pagamento, é claro. Ao chegar a Nova York, porém, é recompensado apenas com sete bugigangas, entre elas uma chave e uma metade de ficha de pôquer. Sentindo-se traído, Jennings só pensa em se vingar descobrindo a causa secreta pela qual trabalhou, enquanto a polícia o persegue pelo mesmo segredo. Como já escrevi no início desse post, o filme homônimo de 2003, dirigido por John Woo, teve Ben Affleck e Uma Thurman como protagonistas. Achei a química dos dois atores perfeita, contribuiu muito para o sucesso da produção.

06 – O Homem Dourado

Adaptação para cinema: O Vidente

Talvez, alguns cinéfilos não concordem comigo, mas “O Vidente” com Nicolas Cage, Julianne Moore e Jessica Biel pode ser considerado um dos melhores filmes de suspense e ação dos últimos tempos. Com certeza, devo estar sendo massacrado, nesse momento, por alguns críticos de cinema que leem essa postagem já que a grande maioria considerara a produção de Cage uma bomba. Só posso dizer: não penso assim. No meu caso, adorei “O Vidente”. Tanto é que já assisti várias vezes.

O detalhe - para não fugir da regra, né? (rs) é que o filme é completamente distinto do conto de Dick. Vou ser mais exato: o diretor neozelandês Lee Tamahori (“007 – Um Novo Dia Para Morrer”) só aproveitou o nome do personagem – Chirs Johnson, que no filme é conhecido por John Cadilac – e a sua capacidade de prever o futuro. Quanto ao resto, esqueça: conto e filme são muuuuito, mas muuuuito diferentes.

Na narrativa publicada em 1954, num futuro próximo, a humanidade teme a gênese de uma raça superior. Com mutantes surgindo em todos os cantos do planeta, as nações criam um organismo internacional, a ACD, dedicada a eliminar qualquer indivíduo que apresente mudanças potencialmente perigosas. Todos são varridos da face da Terra… ou quase. No interior dos EUA, um garoto de cor dourada e poderes psíquicos é mantido escondido pela família por 18 anos.

Já no filme, Chris Johnson (Nicolas Cage) ganha a vida com um medíocre número de mágica em Las Vegas, mas sua habilidade de prever alguns minutos do futuro é autêntica. Callie Ferris (Julianne Moore), uma agente do governo, sabe disso e o convoca para ajudá-la a impedir que um grupo terrorista detone uma bomba nuclear em pleno coração de Los Angeles.

07 – Equipe de Ajuste

Adaptação para cinema: Os Agentes do Destino

À exemplo do que aconteceu com “Impostor” também não assisti ao filme “Os Agentes do Destino” com Matt Damon e Emily Blunt exibido nos cinemas em 2011. Por isso, também vou evitar comenta-lo, mas pelo o que eu já li e ouvi sobre o assunto: ambos são infinitamente diferentes.

Na história publicada em 1954, tudo parecia um dia como qualquer outro para Ed Spencer: acordar, beber o café que a esposa fez, tomar um banho e sair. Por trás da monotonia da rotina, porém, uma equipe trabalha em sintonia perfeita para garantir que o futuro saia exatamente conforme o planejado. Uma única falha pode modificar a vida de Ed.

Não gostei do conto: estranho e tão surreal que desanima.

Taí galera. No balanço final, gostei de Realidades Adaptadas. Os dois únicos contos que não me agradaramu foram: O Relatório Minoritário e Equipe de Ajuste.

Recomendo a leitura, mas antes, friso o recado que dei ao começar essa postagem: se você não conhece o estilo narrativo de Phillip K. Dick, não desista logo no início da leitura; espere um pouco porque a narrativa irá te ganhando aos poucos.

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