27 setembro 2012

As famosas ‘revistinhas’ de terror que provocaram calafrios no passado



Há momentos que marcam a nossa vida de uma tal maneira que não conseguimos nos livrar dele de jeito nenhum. A lembrança desse algo a mais que um dia rolou em nossa infância, adolescência ou pré adolescência passa a nos perseguir como um fantasma. Está bem, vou ser menos tétrico: passa a nos perseguir como um perfume poderoso. Do tipo... deixe-me ver... Toque de Amor da Avon ou um óleozinho marrom escuro que no momento em que abríamos o vidro, tudo em nossa volta virava um verdadeiro pandemônio, com todo mundo correndo atrás de abrigo; se não me engano, o nome da fragância era Patchouli. Ah! Tem ainda o Sherazade da Chrystian Grey, um verdadeiro “ rasga mortalha”. Ihh, “pode pará”! Acho que acabei me empolgando com essas fragâncias ‘deliciosas’ (rs).
Mas vamos retomar o assunto. Pois bem, uma lembrança que grudou em mim como se fosse um desses perfumes terribiles, foi a capa de uma das revistas da série Kripta publicada na década de 70. A capa trazia um Papai Noel com cara de louco segurando um machado todo ensangüentado, enquanto saía da chaminé da lareira de uma casa. Em segundo plano, víamos o corpo de uma mulher, aparentemente, morta estirado no chão da sala. Cara, pode acreditar! Foi a partir dessa foto que fiquei com ojeriza de Papais Noel. Inclusive, lembro de um vexame danado que causei, quando ainda era um pré-adolescente e dei um uivo de medo – quando digo uivo é uivo, de fato, e não grito – no momento em que um Papai Noel baixo e meio ‘cacunda’ de uma loja de brinquedo, acho que a Tilibra, bateu em minhas costas e perguntou se eu queria um pirulito. Quando me virei e deparei com aquela figura dantesca – para não falar grotesca - de dentes amarelados, olhar estranho, nariz adunco, orelhas pequenas e ainda por cima cacunda, só me restou escancarar a minha boca cheia de dentes e soltar a garganta:  UUUUUUUUUUiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!! Paguei um hiper mico quando meu amigos presenciaram a cena e caíram na gargalhada. Fazer o que né? Só fui perder o trauma de Papai-Noel algum tempo depois.
Tudo bem, que alguns de vocês que estejam lendo esse post considerem a minha amada e saudosa mãe um pouco relapsa em termos de, digamos, ‘controle literário’ nos meus 10, 12 ou 15 anos. Respeito a opinião daqueles que pensam dessa maneira, mas não concordo. Sou grato por ela não ter estabelecido um controle do tipo censura: - “olha, você está proibido de ler isso ou aquilo se não vai apanhar”. Ela nunca agiu dessa forma, com exceção é claro daquelas revistinhas de sacanagens das brabas. Se ela me visse com uma dessas, o caldo engrossava. E toma palmadas e mais palmadas. No mais, independência total! Iahuuu! Cara, o que eu via pela frente ia devorando e devorando. Era um verdadeiro ‘comedor de livros’. Graças a essa liberdade literária, não encontrei dificuldades no exercício de minha profissão que, hoje é o meu ganha pão. Quanto aos pequenos traumas de Papais-Noel... eles passam (rsss).
Foi numa dessas comilanças literárias que me deparei com aquelas famosas revistinhas de terror com capas de arrepiar – no sentido literal da palavra – e com textos simples ou até mesmo simplórios, mas que me prendiam como uma teia de aranha. Acredito que foi por causa de Kripta, Calafrio, Histórias Fantásticas e Sexta-feira 13 que passei a ganhar gosto por esse tipo de gênero literário. 
Ah, também não posso esquecer de três “monstruosidades” publicadas pela Editora La Selva: O Terror Negro, Sobrenatural e Contos de Terror. Putz! Que medo cara! Taí três revistinhas sinistras; tanto na capa quanto nas histórias curtas e impressionantes. Me recordo que “roubava” essas revistas publicadas pela La Selva do armário do meu irmão mais velho; o mesmo que colecionava os livros de bolso da Brigitte Montfort. Tinha um esquema infalível: esperava que ele saísse para as noitadas, ia até o seu armário, pegava as revistinhas lia e depois devolvia, colocando-as no mesmo lugar. Gozado, depois de tantos anos, acho que o meu irmão sempre soube que eu fazia isso, mas nunca me falou nada. Talvez, por achar cômico eu bancar um “metralhinha” de araque.
Nessas “furtadas noturnicas”, uma história que impressionou muito trazia na capa um cara mortinho, caído no chão, enquanto a sua alma abandonava o corpo. A fisionomia da alma penada era medonha e ao mesmo tempo sofredora Brrrrr.
Se fosse eleger as três capas mais arrepiantes das revistas de terror que marcaram a minha infância/adolescência, a lista seria essa: 1º lugar: o Papai Noel assassino saindo da chaminé com um machado ensangüentado nas mãos (Kripta), O sujeito estendido no chão com a sua alma abandonando o corpo com uma expressão sinistra no rosto (O Terror Negro) e um duende demoníaco meio acinzentado arrancando os olhos de uma mulher com a intenção de... de... Ok, sei que vai soar meio trash, mas lá vai: ‘com a intenção de devorá-los’ (Sobrenatural). Ecaaaaa....
Ainda faço questão de guardar essas revistas, à exemplo de algumas outras da Brigitte Montfort, afinal de contas, elas fizeram parte de um momento marcante de minha ‘vida literária’. OK, para os curiosos que estão afim de saber os nomes dessas três histórias, anotem aí: “Feliz Natal”, “Tramas do Mal” e “O Comedor de Olhos”.
Pois é pessoal, hoje, depois de tantos anos, bateu uma saudade incrível da época em que lia e me borrava todo com os Calafrios da vida; saudade que aumentou no exato momento em que abri o velho armário de meu irmão, que hoje encontra-se em minha casa, e dei de cara com algumas das tais publicações. Então resolvi escrever esse post como uma forma de desabafo, mas um desabafo.... hummmm, como poderia dizer.... Sei lá, talvez um desabafo bom  ou um desabafo positivo. Queria colocar prá fora esse sentimento gostoso, essa saudades especial que estou sentindo de décadas atrás.
Mas como não quero fazer desse post apenas um canal de desabafo; vou falar escrever também algumas curiosidades sobre as tais revistinhas e suas editoras para que os quarentões ou cinqüentões como eu, possam reviver esses áureos tempos das saudosas publicações de terror que tiraram o sono de tanta gente.
A editora “La Selva”, empresa de imigrantes italianos, pode ser considerada a pioneira do gênero – pelo menos no Brasil. Ela foi responsável pela publicação das revistas “O Terror Negro”, “Frankenstein”, “Contos de Terror”, “Sobrenatural”, “Histórias de Terror”, “Almanaque de Terror” e “Pavor e Terror” que se tornaram uma verdadeira coqueluche em nosso país. Fundada em 1940, funcionava no início como distribuidora de revista; depois de alguns anos se transformaria em editora. Em 1950, ou seja, 10 anos após a sua fundação, surgiria o seu maior sucesso: “O Terror Negro”, revista considerada a desbravadora do gênero terror no Brasil. Ela entraria para a história batendo o recorde de 200 números publicados, além de 18 anos de circulação ininterrupta. “O Terror Negro” seria o passaporte de entrada para outros títulos, também famosos, da La Selva como “Frankenstein” e “Sobrenatural”. A editora pararia com as suas publicações em 1968, mas deixaria o caminho preparado para outras editoras que passaram a acreditar e investir no gênero terror.
Prova disso foi a Editora Bloch que em meados dos anos 70 esvaziou boa parte de seus cofres para comprar os direitos de publicação das histórias de terror da Marvel Comics. Assim, Adolfo Bloch se tornaria o dono das histórias de “O Motoqueiro Fantasma”, “A Tumba de Drácula”, “Lobisomem”, “A Múmia Viva”, entre outras. A editora brasileira criaria um logotipo para especificar a sua linha de revistas de terror. Surgiria assim o “Capitão Mistério”. As revistinhas tinham em média 68 páginas, capas muito bem trabalhadas e textos bem simples, mas amedrontadores. Vale lembrar que a Bloch utilizava muito material das publicações da E.C Comics, mas também lançava histórias de autores brasileiros que com o passar do tempo assumiram a linha de frente de revistas como “Lobisomem” e “A Múmia Viva”.
Cara! Pelo que sei, as tais revistinhas de terror – de um modo geral - foram consideradas uma verdadeira febre no Brasil na década de 70 e comecinho dos anos 80. Bem, pensando melhor, vamos esquecer os anos 80 porque nesse período, as publicações do gênero já estavam perdendo o fôlego; mas quanto aos anos 70, a ‘coisa’ bombou. Prá ser sincero, essa febre – que começou no Brasil com a editora La Selva – teve o seu apogeu durante três décadas (50, 60 e 70) quando vendeu milhares e milhares de exemplares.
Durante esse período, além da La Selva e da Bloch, outras editoras colaboraram para o sucesso desse tipo de literatura em nosso país. A editora Vecchi com o seu “Spektro”; a RGE com a emblemática “Kripta” que chegou a ter 60 edições; a Taika com “Histórias Satânicas e Drácula”; a D-Arte com “Calafrio”, lançada já no início dos anos 80; a Noblet e a sua “Vampirella”; a Gráfica e Editora Novo Mundo com as tenebrosas revistas “Noites de Terror” e por aí afora.
Saudades, saudades e saudades desse tempo; esteja o papai-Noel com machado ensangüentado nas mãos ou não...
Inté!

21 setembro 2012

Dois diários arrepiantes de “Drácula de Bram Stoker”



Desculpem-me, mas vou iniciar o post com um assunto particular, um problema “meuzinho de pedra” e que certamente não tem nada a ver com a tchurma que acompanha esse espaço. Mas saiba que essa dificuldade que está me tirando do sério, além de prejudicar minhas atividades profissionais, não foi suficiente para me impedir de escrever sobre dois diários que me influenciaram prá caramba. E olha que não sou um sujeito assim, tão influenciável... efeitos da profissão que já me fez ver coisas nada agradáveis.
Mas vamos ao meu problema. Lá vai na lata: estou surdo!!! Help!!!!!!!!!!!! Socorro!!!!!!!!!! Mãeeeeeeeeeeeee!!
É verdade! Neste momento em que estou escrevendo não estou ouvindo ‘nadinha de nada’. Cara, meu ouvido direito ta anulado, apagado, morto; quanto ao esquerdo... bem,  tá meia boca. Acontece que quando se trata de ouvidos eu sou destro. O danado já vinha dando um estalos esquisitos e, então, ontem... Sprashhh! acordei ouvindo, inicialmente, por dentro da cabeça, depois pifou. Pode pará!!!! Cara, experimenta tampar os dois ouvidos e depois conversar com alguém... Aii, ai!! Viu só? É tenso demais! É dessa maneira que estou. Maldita otite, cerite, surdite e o escambau a quatro. Alguns de vocês podem estar se perguntando: - “Pô meo!, para de ficar se fazendo de vítima e vai ao médico!”. Pois é... já fui. O infeliz pupilo de Hipócrates ‘inventou’ de fazer uma lavagem no ouvido. Lá vai, resultado: a surdez piorou! Então, o “FDP” – melhor dizendo, o infeliz do médico – me disse no ouvido esquerdo: “- Espera um pouco filho, essa surdez parcial é normal, logo-logo seca e você  vai voltar a ouvir normalmente”. Estou esperando há um dia e nada... Na segunda-feira vou procurar um otorrino de verdade para ver esse probleminha, quer dizer, um problemão para mim.
Mas o que a minha surdez tem à ver com esse post? Bem... é que os diários escritos por Jonathan Harker e pelo capitão do navio Demeter me tiraram o sono quando acabei de ler Drácula de Bram Stoker. Isto há poucos meses atrás. As duas epístolas me influenciaram tanto que na semana passada decidi relê-las, não o livro inteiro, mas somente os dois diários. O documento escrito pelo capitão tem aproximadamente três páginas e o de Harker supera em muito isso; mas aqui, vale uma ressalva: li apenas o diário inicial de Harker, quando ele ficou prisioneiro do conde Drácula em seu castelo.
Taí pessoal! Entenderam? Será que se vocês estivessem surdinhos e dependessem da audição para o seu ganha pão, ainda teriam ânimo para escrever um post,  após uma ‘cagad...’ de um médico *&*%$#@&*?? Acredito que somente se fosse um assunto muito importante, não é mesmo? Pois é, apesar do revés que enfrento, não consegui resistir e resolvi dividir com a galera as minhas impressões sobre esses dois tenebrosos diários. Mesmo estando surdo...

Começando pelo diário de Jonathan Harker, referente ao período em que ele fica hospedado no castelo do conde Drácula, a ‘coisa’ é braba meu amigo. Brabíssima!! Quem curte o gênero terror vai adorar. Esta epístola que abre a obra de Stoker é narrada num clima de mistério, medo, ansiedade e sofreguidão.
Harker inicia o seu diário falando da viagem que faz de Munique – onde se encontra a negócios - até a Transilvânia com o objetivo de prestar orientação jurídica para um conde recluso que vive num castelo e que deseja se mudar para Londres.  O clima de mistério da epístola escrita pelo personagem já começa no momento em que ele chega a uma pousada na cidade de Bistritz, na Transilvânia. Ao anunciar que pretende ir ao castelo de Drácula, a dona da pousada tem uma crise nervosa e tenta de todas as maneiras impedir que o rapaz – o qual já se afeiçoara – parta ao encontro do conde. Ao perceber que não irá conseguir persuadi-lo da idéia, a mulher coloca, então, um pequeno rosário com um crucifixo em seu pescoço. Olha... a partir desse momento, já deduzi que Jonathan Harker iria passar por maus momentos.
O clima de mistério e tensão de seu diário vai crescendo conforme a narrativa magistral de Bram Stoker avança. Rapaz! E o momento em que o jovem advogado embarca na carruagem que o leva ao tenebroso castelo do vampiro?! Juro que me veio à memória uma cena iconográfica do filme “Drácula”, da Hammer, dirigido pelo Terence Fisher em 1958 e que tinha os ‘monstros sagrados’ Christopher Lee e Peter Cushing nos papéis principais: Drácula e Van Helsing, respectivamente. Estou me referindo a cena da travessia do desfiladeiro onde se encontra o castelo do conde. Desde a chegada da carruagem com o cocheiro do vampiro até o momento da travessia do desfiladeiro, propriamente dita, é uma tensão só. No filme, se não me falhe a memória, há um cocheiro mais parecido com Caronte, aquele barqueiro da mitologia grega, encarregado de realizar a travessia dos mortos no Rio Estige. Da mesma forma que não dava pra ver o rosto de Caronte que ficava envolvido numa capa que mais se parecia com uma mortalha, também não era possível ver o rosto do cocheiro do vampiro que era oculto por um chapéu, além da tal capa que ele deve ter emprestado do Caronte (rs). Êta ceninha da ‘muléstia’ que me meteu um medo danada nos anos 60!!
Creia que no livro de Bram Stoker, no trecho relacionado ao diário inicial de Harker, essa cena é mais amedrontadora ainda. Palavra que é! No livro, o terror já começa quando o advogado segue numa carruagem que faz uma espécie de baldeação por aquela região. Tipo um táxi de quatro ou mais patas. Nessa viagem, Harker é novamente alertado pelo cocheiro e também por outros viajantes para que evite visitar o castelo, mas o rapaz não dá a mínima para os avisos. A chegada da caleça do conde com quatro cavalos magníficos e um cocheiro sinistro - que na realidade é o próprio conde Drácula disfarçado - é de arrepiar os cabelinhos do corpo do leitor. Quanto à viagem noturna até o castelo é outro momento de pânico para Harker que vê coisas estranhas acontecerem durante o trajeto, o que lhe fazem pensar se não teria sido melhor ter dado ouvidos aos apelos para não fazer essa travessia.
O Diário de Jonathan vai crescendo em tensão e mistério a cada página, culminando com a sua chegada ao castelo onde é feito prisioneiro pelo conde.
Há momentos impactantes nesse trecho da epístola, como por exemplo, o instante em que Harker ao fazer a barba corta acidentalmente o rosto. Na hora em que o conde entra no quarto de seu hóspede (prisioneiro) e vê o sangue escorrendo do ferimento, o negócio engrossa. Outro trecho sinistro e arrepiante é aquele em que Jonathan é atacado por três vampiras que moram no castelo. Quer mais?? Ok, lá vai. O momento que Harker olha pela janela e vê o conde Drácula rastejando pelas paredes do castelo como se fosse uma cobra ou um enorme verme. O ataque dos lobos em uma mãe que teve o seu filho raptado para servir de alimento para as vampiras que habitam no castelo também é outra cena chocante do diário. Estas são apenas algumas passagens; há muitas outras recheadas de tensão, incluindo o momento em que Harker, já no fim de suas forças, consegue fugir do castelo.
Quanto ao Diário de Bordo do Capitão do Demeter também não fica para trás. Aliás, o que falar de um relato que mal alcança três páginas? Leiam e depois me contem. Combinado?
Para chegar até Londres, Drácula viajou no navio Demeter escondido em um dos inúmeros caixões que foram transportados para a embarcação. Aos poucos o vampiro vai eliminando todos os tripulantes, só restando o capitão que antes de morrer conta em seu diário os momentos de terror vividos no Demeter.
Ah! Sr quiserem prolongar esses momentos de terror leiam também o capítulo referente a epístola de uma notícia publicada pelo jornal Dailygraph que Mina – esposa de Jonathan Harker – fez questão de colar em seu diário. Este capítulo antecede a narrativa do capitão do Demeter e está diretamente ligada a chacina ocorrida na embarcação.
Arrrrrrrepiante....
É isso aí!

14 setembro 2012

007 Contra o Satânico Dr. No



Ian Fleming fez o caminho inverso de Arthur Conan Doyle quando decidiu matar James Bond em Moscou contra 007. Enquanto Doyle eliminou Sherlock Holmes por causa da fama de seu personagem; Fleming assassinou Bond por causa do fracasso do espião.
O sucesso de Holmes foi tanto que acabou se tornando um verdadeiro incômodo para o seu autor que temendo ficar conhecido pela criação de apenas um personagem decidiu mandar o detetive do cachimbo para os “quiabos”. Com essa atitude, Doyle acreditou que poderia desenvolver outros assuntos de seu interesse e que o apreciavam bem mais do que o “inoportuno” detetive. Foi então que começou a desenvolver temas, segundo ele próprio definia: “bem mais sérios”, como por exemplo, livros sobre espiritismo, religião da qual era adepto. Mas após um verdadeiro levante dos leitores que já haviam se acostumado com as histórias de Holmes e que literalmente ‘obrigaram’ Sir Conan Doyle voltar a escrever as histórias do famoso detetive e seu auxiliar Watson, ele acabou ressuscitando o seu personagem.
Com Fleming não foi bem assim... O autor já tinha escrito “Cassino Royale”, “Viva ou Deixe Morrer”, “O Foguete da Morte” e “Os Diamantes São Eternos”, sem que o personagem criado por ele emplacasse. Então, Fleming decidiu escrever o livro derradeiro sobre o agente secreto, aquele que encerraria, definitivamente, a sua carreira. Acredito que o ‘pai de 007’  tenha pensado algo do tipo: - “Tudo bem... vamos esquecer esse ‘cara’ e pensar em algo melhor”. Depois disso meteu a canetada final e Bummmm!! Implodiu a sua criação. Acontece que ele não contava com o tremendo sucesso de público e crítica de “Moscou contra 007” e muito menos que o badalado presidente norte-americano, John Kennedy elegesse o livro como o seu preferido. O que será que Fleming pensou depois disso, heinn?? Sei lá, acho que foi algo do tipo: - “Caraca!!! PQP!! @$#&%$#!!”
Mêo! O sujeito deve ter xingado a quinta geração da sua família. E também não foi para menos, afinal ele havia acabado de perder a sua mina de ouro! Como seqüenciar outros livros com o personagem principal ‘mortinho da Silva’? Foi aí que Fleming deve ter parado de xingar, de se morder, se bater   e de se auto-flagelar. Tudo porque surgiu uma idéia miraculosa: “r-e-v-i-v-e-r” o agora famoso James Bond. Pronto! |Taí a brecha que eu precisava para falar escrever sobre o livro “Dr. No”.
Capa original do livro de Fleming
Por tudo isso que você acabou de ler até aqui, é que considero “Dr No” um livro tampão. Vejam bem, não estou me referindo à obra de uma forma pejorativa, pelo contrário, mesmo porque o livro é muito bom, aliás, só perde para “Moscou contra 007”, considerado o melhor dos 14 livros da ‘geração Fleming’ sobre o agente secreto. Digo “livro-tampão” porque ele preencheu um espaço impossível no enredo da história, possibilitando o retorno de James Bond e consequentemente o reavivamento de toda a série.
“Dr. No” também é um marco nas histórias do agente a serviço de Sua Majestade, já que o trouxe de volta à vida. E nem por “ressuscitar” o charmoso espião, o livro deixa de ser coerente. Ian Fleming provou toda a sua versatilidade e inteligência ao criar um enredo inteiramente plausível para o retorno de Bond do mundo dos mortos. O leitor, de fato, se convence de que o acidente do qual o espião foi vítima no final de “Moscou contra 007”, quando enfrenta uma situação de perigo, não foi tão grave para retirar a sua vida. Enfim, os argumentos apresentados por Fleming são coerentes e convincentes.
Cena antológica do filme baseado no livro: Ursula Andrews (Honey) saindo do mar
O início do livro explica, com riqueza de detalhes, como foi o período de recuperação de Bond que após ter sido atingido por um golpe – literalmente  baixo - aplicado por Rosa Klebb, a diabólica vilã da Smnersh, acaba fazendo uma verdadeira via crucis por vários hospitais. Ao ver que o seu pupilo recuperou a forma antiga, “M” quer que ele volte imediatamente ao trabalho. O médico psiquiatra da sessão 00 não concorda e acha que por Bond ter enfrentado inúmeras situações de perigo somadas a última missão que quase lhe tirou a vida, o ideal seria que ele tirasse uma férias para se recompor, só voltando ao trabalho depois de um certo tempo.
É evidente que “M” não concorda e diz que quer 007 de volta o quanto antes. Com muito custo, ele acaba sendo convencido pelo médico para que, pelo menos, dê uma missão tranqüila para Bond e que não lhe ofereça riscos. Dessa maneira, “M” envia Bond para a Jamaica com a missão de investigar o desaparecimento de um agente do MI6 enquanto este fazia diligencias sobre um recluso cientista, Dr. Julius No.
Bond vai à fundo em suas investigações e acaba descobrindo um plano maquiavélico do Dr. No que pode levar a destruição de muitas cidades britânicas. Assim o que poderia ter sido considerada uma missão tranqüila, “verdadeiras férias nas Jamaica”, como alega ‘M’ em um trecho da história, acaba se transformando numa das aventuras mais arriscadas de 007.
O vilão Dr. Julius No
O livro tem passagens eletrizantes como a luta do agente secreto contra uma lula gigante que é o bichinho de estimação do vilão Dr. No e com o péssimo hábito de devorar seres humanos. O combate entre a besta do mar e um Bond esgotado psíquica e fisicamente, após escapar de varias armadilhas mortais preparadas pelo Dr. No é de tirar o fôlego do leitor.
Esta cena foi cortada do roteiro do filme “007 Contra o Satânico Dr. No”, em 1962, por causa dos custos elevados. Somado a isso, produtores e roteiristas ficaram um pouco temerosos de que a lula gigante que seria criada não convencesse tantos os cinéfilos e provocasse risos ao invés de medo e suspense. E olha que eles tinham razão, já que no início dos anos 60, os efeitos especiais na sétima arte ainda estavam engatinhando. Portanto, adeus ‘lula-monstro” no filme.
Outro destaque da obra é o confronto psicológico entre Bond e Dr. No. Após ser capturado, 007 é convidado pelo vilão para participar de um jantar. É nessa hora que os dois travam um duelo de palavras para saber quem é o mais macho.
A bond-girl Honey, que no cinema foi vivida pela – na época – estonteante Ursula Andrews, é um outro ponto positivo do livro. Ela foge dos padrões “donzela em perigo que grita por socorro”. No romance de Fleming ela também vai a luta e não teme cara feia e ameaças. O autor aproveita algumas páginas para explicar a infância sofrida de Honey que acabou lhe valendo um nariz fraturado. No livro nem mesmo o nariz torto da moça consegue roubar a sua beleza e sensualidade descritas com maestria por Fleming.
Tudo bem que o final de “Dr. No” não fuja dos padrões caricatos das histórias de James Bond, com o herói mesmo capengando, ainda tendo forças para eliminar o seu oponente. Na verdade o que interessa é que o livro é muito bom... bom, de fato!
Ah! Em tempo; esse livro foi, inicialmente, lançado no Brasil com o título de “Terror no Caribe”. Logo depois foi publicado como “Dr. No”. E agora, recentemente, a Editora Record - num projeto frustrado que visava ‘republicar’ em edições de luxo as 12 histórias do agente inglês escritas por Fleming – o relançou como “007 Contra o Satânico Dr No”, aproveitando o título do filme de 62 com o mesmo nome.
Boa leitura!

10 setembro 2012

Moscou contra 007



Tenho o hábito de dizer que os ‘livros de 007’ não tem nada a ver com os ‘filmes de 007’. Que fique bem claro que estou me referindo aos livros de Ian Fleming e não aquelas verdadeiras aberrações escritas por outros ‘autores-herdeiros’ que tentaram substituir o pai e criador do mais famoso agente secreto de todos os tempos. Aqui, vale frisar que por enquanto, eximo Jeffery Deaver do rol dos escritores carniceiros que estropiaram Bond, mesmo porque ainda não li Carte Blanche.
Mas como estava falando escrevendo, livro e filme são muito diferentes. A história escrita supera em muito as adaptações que são levadas para as telas. Por melhor que seja o diretor, é muito difícil transpor para a sétima arte a magia do enredo que saiu da cabeça de Fleming.
Li todos os livros sobre 007 escritos pelo autor e confesso que após assistir aos filmes baseados nesses livros bateu uma pontinha de decepção, pois muitas coisas foram modificadas ou então “podadas” da história. Até mesmo, as características originais de James Bond foram alteradas. O agente dos livros não é aquele super-herói imbatível que vemos nas telas, acostumado a arrebentar todo mundo na porrada. Nada disso, em algumas histórias, ele soa a camisa para derrotar os vilões e seus capangas. O personagem “Q”, responsável pela fabricação das engenhocas ultra-sofisticadas usadas por Bond nos filmes, só aparece, ‘malemá’, em um dos 14 livros escritos por Fleming sobre o agente secreto. As cantadas freqüentes de Bond em MoneyPenny foi outra invenção dos produtores, roteiristas e diretores. Se somarmos os 14 livros, a recatada secretária de “M” deve aparecer apenas em quatro ou cinco páginas. Ah! Esqueça também o Bond galinha do cinema que leva para a cama todas as mulheres que encontra pela frente. Um verdadeiro comedor. O Bond de Fleming tem sentimentos e se apaixona sim!
Por isso quando alguém lhe perguntar se não vai ler um dos  livros de James Bond escrito por Fleming jamais responda: - “Vou não, já assisti ao filme”. Cara, você estará cometendo uma blasfêmia que lhe dará um passaporte direto para o mármore do inferno, sem direito a purgatório!
Feitos os devidos esclarecimentos sobre o personagens, vou agora, voltar ao tema desse post que é o livro “Moscou contra 007” que li há uns dois anos. Lembro que na época, demorei quase três meses para concluí-lo; não que a leitura estava maçante, nada disso; é que estava desenvolvendo alguns projetos profissionais, dormindo de madrugada e somado à isso, fazendo outras leituras simultâneas de livros técnicos relacionados a minha profissão. Mesmo assim, tive pique para ‘curtir’ a história. Depois engatei a leitura da coleção completa sobre Bond, menos é claro, as monstruosidades dos escritores carniceiros. Preferi ler os 14 livros respeitando uma cronologia, ou seja, seguindo os anos em que foram lançados.
A coronel assassina da Smersh, Rosa Klebb. Ô coisa feia!!
Se você pretende ler “Moscou contra 007”, saiba que ela é totalmente dependente de “Dr. No”. Explicando melhor: “Dr. No” é a sequencia direta e indispensável de “Moscou contra 007”. Se você quiser saber o que aconteceu com James Bond no final de seu duelo com a agente da SMERSH, Rosa Klebb que acontece nas páginas finais de “Moscou contra 007”, obrigatoriamente, você terá que ler “Dr. No”.
Fleming realmente se superou nessa obra. O livro é fantástico. Na minha opinião, o melhor dos 14 sobre o agente inglês. A SMERSH, departamento soviético de contra-espionagem que tem por objetivo principal eliminar agentes ocidentais, decide colocar em prática um plano para desestabilizar o serviço secreto britânico. Para isso, os estrategistas russos pretendem não só matar, mas também desmoralizar o principal agente do mundo ocidental que está à serviço de Sua Majestade. Advinha quem? Para isso, a SMERSH lança uma isca do tipo que o espião inglês jamais recusaria: uma mulher bonita e sensual e aparentemente em apuros. Mesmo sabendo que tudo pode ser uma armadilha, Bond vai para Istambul e entra de cabeça em um perigoso jogo em que as regras nunca são claras. E as traições podem mudar o resultado da partida a qualquer instante.
Logo nas primeiras páginas do livro, o autor já faz uma apresentação do super-vilão que será enviado com a missão de eliminar Bond: o assassino ultra-treinado da SMERSH, Red Grant.
Klebb e seus sapatos letais
O leitor vai tomando conhecimento da letalidade de Grant pelos olhos de uma massagista que é contratada para cuidar da forma do vilão. “A moça trabalhou o braço, subindo até os bíceps salientes. Como esse homem tinha desenvolvido músculos tão fantásticos? Seria um boxeador? O que ele fazia com esse corpo formidável? ... “Era um trabalho árduo. O homem era imensamente forte e os músculos na base do pesco mal cediam sob os polegares da massagista”...
Fleming utiliza aproximadamente cinco páginas para descrever os atributos físicos de Grant e quase toda a metade do livro para apresentar a origem do assassino russo, os detalhes do plano da SMERSH, além de outros três personagens importantes que fazem parte da hierarquia do departamento de contra-espionagem russo e que terão participações decisivas no decorrer da história. São eles: a coronel Rosa Klebb, o estrategista Kronsteen e a isca Tatiana Romanova. James Bond só vai aparecer pela primeira, perto da metade do romance que tem mais de 300 páginas na edição de luxo publicada pela Record em 2003.
Mas nem por isso, o enredo desenvolvido por Fleming perde o interesse; pelo contrário, faz com que o leitor fique ainda mais preso e compenetrado na trama.
A cada página, nós vamos tendo uma noção da pedreira que Bond vai enfrentar. Os vilões Grant e Klebb são tão letais, o plano engendrado pelo camarada Kronsteen é tão perfeito e a isca Romanova é tão convincente que nos leva a acreditar que o agente inglês, apesar de toda a sua capacidade, dificilmente conseguirá se safar dessa teia.
O que mais me prendeu na história foi a descrição dos vilões feita por Fleming. Conhecemos, por exemplo, toda a origem de Red Grant, desde a sua adolescência complicada o que contribuiu para que se tornasse um perigoso psicopata. Rosa Klebb, por sua vez, é apresentada como uma mulher medonha, mais feia do que a morte! Além de ardilosa, maldosa, perversa e homicida. No livro ela tem pouco mais de um metro e meio, além de ser atarracada com braços grossos, pescoço curto e batatas da perna salientes. É descrita como ‘cara de sapo’. O que ela tem de feiúra, tem de maldade.
Red Grant no filme Moscou contra 007
No decorrer da história, Bond vai se enroscando cada vez mais no ardiloso plano desenvolvido pela SMERSH, deixando o leitor com o coração nas mãos.
O parceiro de Bond nessa aventura, o agente de Istambul,  Kerim Bey também é outro personagem que prende o leitor. Por tudo isso, ouso afirmar que “Moscou contra 007” é o livro de Fleming que conta com os personagens mais marcantes de toda a saga. Tão marcantes que faz com que nem sintamos tanta falta de James Bond que como já disse, só vai aparecer depois muitas páginas lidas.
Spoiler: O que algumas pessoas desconhecem é que os quatro livros sobre James Bond escritos por Fleming anteriormente à “Moscou contra 007” (Cassino Royale, Viva ou Deixe Morrer, O Foguete da Morte e Os Diamantes São Eternos) vinham tendo pouca repercussão, deixando o autor muito abatido. Por isso, ele teve a louca idéia de simplesmente matar o espião no final de “Moscou contra 007”!! Isso mesmo! Fleming pretendia encerrar a carreira do agente inglês, mas o romance fez tanto sucesso após o seu lançamento que chegou a conquistar a simpatia de uma pessoa muito famosa. Ninguém mais do que o presidente Kennedy que elegeu a obra como  o seu livro de cabeceira. A declaração de Kennedy somada ao enredo perfeito de “Moscou contra 007” foram suficientes para alavancar as vendas das histórias anteriores do agente britânico. Pronto! Essa reviravolta acabou obrigando Fleming a “ressuscitar” James Bond, o que aconteceria no livro seguinte: “Dr. No” que por isso passou a ser encarado como uma sequência direta de “Moscou contra 007”.   
Inté!

09 setembro 2012

Martin Claret e L&PM Editores resgatando os clássicos perdidos no tempo



Me responda uma coisa. Você já sonhou com um livro dia e noite; tomou banho, almoçou, jantou, namorou e trabalhou pensando nele? Pera aí que ainda não conclui a minha pergunta. Tem mais... Por acaso, você já tentou de todas as formas comprar esse livro, sem sucesso, simplesmente porque ele deixou de ser publicado e está esgotado nos sebos reais e virtuais? Agora me responda: o que você sentiu nesse momento? Pensando bem, nem precisa me responder; aliás nem havia a necessidade de ter feito essa pergunta, porque eu já senti tal decepção na pele.
Não existe coisa pior para um leitor inveterado do que ficar privado da leitura do livro dos seus sonhos. Essa decepção chega perto da loucura quando você descobre que o livro que tanto acalenta se tornou a raridade das raridades, sendo muito difícil a sua localização. E se num golpe de sorte ou de azar, o já “arrebentado” leitor encontrar o seu objeto de consumo nos ‘mercados livres’ da vida por um preço irreal e astronômico, a loucura se transforma em insanidade porque ele sabe que o produto existe, está ali perto das suas mãos, mas não pode comprá-lo por causa do preço.
Por isso, hoje, após uma busca novamente fracassada à procura de “Os Livros de Bachman”, de Stephen King, cheguei a conclusão que temos de erguer as mãos para o céu e agradecer por algumas poucas editoras continuarem investindo na publicação de histórias que foram lançadas há um punhado de décadas atrás. E se não fossem essas editoras, jamais teríamos condições de sentir em nossas mãos o toque suave de páginas com enredos tão raros. E o que é melhor, por preços mais do que módicos.
Podem me chamar de atrasado, arcaico, ultrapassado e isso mais aquilo, mas detesto ficar lendo “livros” em telas de computadores ou então em telas ainda menores de alguns ‘aparelhinhos’ específicos para isso. Livro, para mim, tem que ter papel, capa, lombada  e ‘caber’ numa estante.
Acredito que se hoje podemos ler verdadeiros clássicos da literatura nacional e internacional como “Escrava Isaura”, “O Corcunda de Notre Drame”, “Os Irmãos Karamazóvi”, “A Relíquia”, “O Signo dos Quatro”, “Assassinatos na Rua Morgue”, “Moby Dick”, entre outros, devemos, principalmente, há duas editoras: Martin Claret e L&PM Editores.
Um dos grandes trunfos da Martin Claret é a sua “Coleção Obra-Prima de Cada Autor”, onde os leitores tem acesso aos grandes clássicos com texto integral. Com certeza, se a Martin Claret não tivesse tal iniciativa, nós ficaríamos completamente dependentes dos sebos para encontrar esses títulos.
A L&PM Editores é outra “santa” editora que surgiu para o deleite dessa categoria de leitores que preferem os clássicos, a maioria deles com edições esgotadas e sem interesse por parte das grandes editoras em relançá-los. “As Minas do rei Salomão”, “Viagem ao Centro da Terra”, “Coleção Agatha Christie”, “O Fantasma da Ópera” e etc e mais etc podem ser encontrados com toda a facilidade nas livrarias desse Brazilsão afora graças a iniciativa dessas duas editoras.
 Por isso, neste final de semana, decidi fazer uma homenagem para a Martin Claret e a L&PM Pocket pela iniciativa.
Valeu!

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