Ressaca literária e das bravas! É isto que estou
sentindo após a leitura de “Guerra do Velho” de John Scalzi. Ainda estou sob o
efeito das últimas páginas do livro mostrando toda a evolução de John Perry
como um soldado das Forças Coloniais de Defesa (FCD). Cara, o sujeito é
fodástico. E esse fodástico não está relacionado apenas ao “módulo ação”, onde
o personagem literalmente arrebenta (a descrição das batalhas interestelares de
Scalzi equivalem em qualidade com a descrição das batalhas medievais de Bernard
Cornwell), mas principalmente ao “módulo originalidade”.
Perry te conquista logo nas primeiras páginas do
livro. Se ele é arrogante, também tem os seus momentos de humildade; se é
inseguro em alguns assuntos, também transforma-se no cara mais auto-suficiente
quando o perigo cutuca as suas costas; se é sacana em poucos momentos, é
honesto em outros. Enfim, John Perry é uma cópia perfeita de todos nós, com os
nossos defeitos e com as nossas virtudes. Certamente, é por isso que os
leitores de “Guerra do Velho” se identificam tanto com esse soldado das FCD.
O romance de ficção científica ainda tem outros
personagens cativantes, alguns tão interessantes quanto Perry. É o caso de Jane
Sagan, por exemplo, que aparece na página 273, ou seja, bem perto do final da
história, mas nem por isso deixa de ser importante para o enredo, tanto é que
em “As Brigadas Fantasma” – sequência de “Guerra do Velho” – ela ganhará o status de protagonista. Alan, Jesse, Thomas, Sargento
Ruiz, entre outros, alguns com breves passagens e o restante permanecendo um
pouco mais na história, também tem carisma suficiente para ganhar a simpatia
dos leitores.
Acredito que a grande sacada de “Guerra do Velho”
foi a de não direcionar todos os holofotes para a trama central da história,
esquecendo-se do desenvolvimento dos personagens. Tanto é que até perto da
metade do livro, o autor se preocupa apenas em mostrar as angustias e
expectativas de homens e mulheres idosos com relação a decisão de se alistar
nas Forças Coloniais de Defesa. As batalhas, esquemas táticos, derrotas,
vitórias, motivos dessas guerras, divergências entre soldados e seus superiores,
apresentação de mocinhos e bandidos e etc e mais etc, só começam a aparecer do
meio da obra em diante. Antes de chegar nesse âmago da história, temos os
conflitos, dúvidas e certezas dos personagens. E posso garantir que você não
consegue largar as páginas um minuto sequer. A escrita de Scalzi te prende como
uma verdadeira teia de aranha, tantos nos momentos de ação quanto nos momentos
de interação entre os personagens.
Em “Guerra do Velho”, finalmente a humanidade chegou
à era das viagens interestelares. A má notícia é que há poucos planetas
habitáveis disponíveis – e muitos alienígenas lutando por eles. Para proteger a
Terra e também conquistar novos territórios, os humanos precisarão de
tecnologias inovadoras e também de um exercito disposto a arriscar tudo. Esse
exército, conhecido como Forças Coloniais de Defesa (FCD), não apenas mantém a
guerra longe dos terráqueos e colonos, como também evita que eles saibam demais
sobre a situação do universo. Mas, para se alistar, é necessário ter mais de 75
anos. John Perry acaba aceitando esse desafio, após a morte de sua esposa,
mesmo tendo apenas uma vaga idéia do que pode esperar.
Scalzi trata
de temas comuns, mas ao mesmo tempo polêmicos que fazem parte do nosso dia a
dia, como militarismo, ética, envelhecimento e amor.
“Guerra do Velho”, lançado originalmente em 2005,
faz parte de uma saga de seis livros, dos quais apenas dois foram lançados no
Brasil, até agora, pela Apeph – “Guerra do Velho” e “As Brigadas Fantasma”. A
boa notícia é que a editora anunciou que pretende colocar no mercado tupiniquim
todos eles. A má notícia é que ainda não há um cronograma de datas confirmado.
Portanto, só resta os leitores aproveitarem ao
máximo, por enquanto, os dois primeiros volumes.
Ah! Antes que me esqueça. Vocês devem estar curiosos
para saber como homens e mulheres com mais 75 anos podem se transformar em
soldados e diga-se, muito bem capacitados. Cá entre nós, seria muita sacanagem do
blog queimar o mote principal do enredo. Por isso, recomendo que leiam o livro e descubram.
Vale muito a pena!
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