27 janeiro 2012

“O Circo da Noite” torna-se uma verdadeira febre, mesmo antes de seu lançamento no Brasil

Capa americana de " O Circo da Noite"
Guarde bem esse nome: “O Circo da Noite”. O livro da jovem escritora americana Erin Morgenstern, antes mesmo de ser lançado no Brasil, já se tornou uma verdadeira febre nacional. Os leitores mais ávidos e que dominam com perfeição o idioma da terra do “Tio Sam”, estão chegando ao ponto de encomendar o livro em inglês para devorá-lo antes de todos. Até mesmo aqueles que apenas arranham o inglês, optaram por adquirir o livro! Como irão fazer para lê-lo nem me pergunte.
Bem, por aí já deu para ter uma noção do impacto que a obra de Morgenstern está causando por aqui. Eu  mesmo, estou começando a ficar impaciente porque não vejo a hora de ler o livro. Só espero que não venha me decepcionar. Sabe, fico sempre com um pé atrás quando uma obra recebe muitos elogios. Já tive várias decepções. Você acaba indo com muita sede ao pote, por causa dos calorosos elogios da crítica, e depois... bem, você descobre que o pote está seco. Mas vamos aguardar para ver e sentir o “pote” de Erin Morgenstern.
Talvez o que tenha despertado a minha curiosidade em ler “O Circo da Noite” é que a obra mescla temas que fizeram parte do enredo de dois dos melhores livros que li em minha vida. Livros que me fizeram viajar: “Água para Elefantes” e a saga “Harry Potter”. O primeiro explora com maestria o mundo encantado do circo, a rotina de vida da trupe e os bastidores da lona. Tudo isso se transforma em pano de fundo para uma emocionante e trágica história de amor; já o segundo embarca no mundo da magia com os jovens magos aprendizes de Hogwarts.
Pelo que pude ler até agora sobre o assunto, “O Circo da Noite” é uma mistura desses dois temas, mas com o estilo próprio de Morgenstern. Ela conta a história de Célia e Marco, filhos de dois grandes mágicos rivais,  que acabam prosseguindo a batalha de seus pais no palco de um circo. Eles são os artistas principais do Circo da Noite, um circo diferente de todos os outros. Nele não há animais, domadores e palhaços e as suas únicas cores são o preto, branco e cinza. O seu horário de funcionamento também único: do nascer ao por do sol. Todos que conhecem a magia, mistério e ilusão escondidos atrás das lonas saem extasiados de emoção e por isso, ansiosos para retornar.
Escritora Erin Morgenstern ao lado de seu livro
É neste mundo de magia que os dois jovens ilusionistas dão prosseguimento a rivalidade de seus pais numa competição ferrenha. O que eles desconhecem é que desde crianças foram treinados por seus instrutores para levar adiante esse plano de vingança, nascendo dessa maneira, uma antipatia mútua entre os dois.
Sem saberem, eles começam a participar de um perigoso jogo do qual apenas um poderá sobreviver; uma batalha de vida ou morte que extrapola os limites do espetáculo de ilusionismo que os dois apresentam no picadeiro do circo.
Mas então, surge o amor... Isso mesmo, Célia e Marco acabam se apaixonando. O amor do jovem casal é tão profundo que eles não conseguem viver um minuto sequer longe do outro. Célia e Marco não sabem que o destino que os seus pais reservaram para eles seja tão sombrio... sombrio ao ponto de que apenas um deles poderá sair vivo da disputa que já dura gerações.
Não sei porque, isso também me lembra um pouco da história de amor mais do que trágica de Romeu e Julieta; uma das mais famosas de todos os tempos.
Já adianto que os direitos do livro foram adquiridos pela produtora Summit, a mesma que levou para os cinemas a saga Crepúsculo. O filme deve ser lançado na telona em 2013.
Ah! Antes que me esqueça a história de Célia e Marco se passa no período vitoriano.
Agora, só resta aguardar março chegar, já que o lançamento da obra no Brasil pela Editora Intrínseca deverá acontecer na segunda quinzena daquele mês.

23 janeiro 2012

O Espírito do Mal

Existem livros que podem ser considerados verdadeiras lendas. Seus escritores foram tão felizes na hora de desenvolver o enredo que fizeram tudo na medida certa: início, meio e fim; tudo bem dosado, não se esquecendo é claro da linha narrativa capaz de prender a atenção do leitor da primeira a última página. Os livros que se enquadram nessa categoria são intocáveis e não merecem uma continuação porque, com certeza, a sua sequencia jamais irá chegar “aos pés” da história original. Como não bastasse, esta suposta segunda parte corre o risco de manchar a obra original e o seu autor.
Quantas obras soberbas tiveram continuações ridículas, algumas risíveis. Que o digam “Scarlett”, de Alexandra Ripley e “O Clã de Rhett Butler, de Donald McCaig que tentaram seguir a trilha do imbatível e único “E O Vento Levou”, de Margareth Mitchell. Estes dois livros se tornaram grandes fiascos porque os seus autores insistiram em sequenciar uma obra intocável, escrita na medida por Mitchell. Se vasculharmos a história da literatura contemporânea romanceada encontraremos uma infinidade de outros exemplos de obras que jamais deveriam ter tido uma continuação, mas... infelizmente tiveram.
“O Espírito do Mal”, proclamado como suposta sequencia do clássico de terror “O Exorcista”, de William Peter Blatty se enquadra perfeitamente nessa categoria. Você percebeu que escrevi “suposta sequencia”, porque o livro não lembra em nada a história original. A impressão que tive foi a de estar lendo uma história policial com toques de sobrenatural. Tanto é, que em certo momento cheguei a exclamar: “Pêra aí! Acho que peguei o livro errado!!”.
Cara! O confuso enredo de Blatty está mais para um romance policial relé do que para uma continuação da história... da história... da história... Caramba! Não dá para ter uma nova história de “O Exorcista” depois da morte do padre Damien Karras. O sacerdote, simplesmente, deixou de existir naquele capítulo antológico em que conseguiu expulsar “a socos” o demônio Pazuzu do corpo da pequena Reagan. Os dois  personagens principais - os padres Merrin e Karras - morreram; quanto a Reagan, ficou liberta e Pazuzu, dançou; sobrou quem para uma sequencia??? Ninguém! Pera aí... ninguém não! Sobrou o chato do Kinderman, aquele inspetor amorfo que no livro “O Exorcista” foi o responsável pela investigação dos casos de violações e mortes provocados pela pequena Reagan possuída. E confesso prá vocês que agüentar as divagações filosóficas do tenente que ocorrem durante todo o romance é um saco. Não existe um capítulo liberto dessas divagações, do tipo: se os computadores pensassem o que poderia acontecer com as pessoas? O mal existe, de fato? O ser humano age por instinto ou pelo coração? Sem contar as citações teológicas e psicanalíticas, principalmente sobre Jung.
Tudo bem que eu considere o Exorcista uma obra única e por isso com o direito de não ser deturpada com uma sequencia, mas quando tomei conhecimento que William Peter Blatty havia escrito uma continuação para o grande clássico da literatura de terror, confesso que fiquei hiper curioso para ler e... tudo bem, confesso novamente, que nutria um pinguinho, mas só um pinguinho de esperança de que o livro seria pelo menos razoável. Bem... aqueles que leram o post até aqui já sabem o que aconteceu depois: uma decepção enorme do blogueiro aqui.
Além das divagações do tenente Kinderman, o autor teve a infeliz idéia de transformar o Pe. Karras numa espécie de zumbi. De acordo com o enredo de “O Espírito do Mal”, após a morte do padre, um espírito se apossa do seu corpo e faz com que ele se transforme numa espécie de morto vivo. Vou parar por aqui para não “estragar”, se é que vou estragar, a expectativa daqueles que pretendem ler a obra.
Como já disse logo no início, “O Espírito do Mal” não lembra em nada uma continuação de “O Exorcista”, mais se parece com uma história policial e daquelas bem confusas. No enredo preparado por Blatty; o tenente Kinderman passa a investigar os brutais assassinatos cometidos por um suposto serial killer que elimina suas vítimas com requintes de crueldade. Fazem parte das suas estatísticas:  um menino negro que é terrivelmente mutilado e pregado numa cruz; dois padres mortos, um decapitado e o outro com todo o sangue do corpo retirado; além de uma enfermeira que Arghhhh... melhor esquecer, deixo essa parte para quem for ler o livro. Kinderman associa os atuais assassinatos com uma série de outros bem semelhantes que aconteceram há 10 anos atrás cometidos, naquela época, por um psicopata conhecido apenas por “Gêmeos”. Suas vítimas começavam todas com a letra K e ele tinha o hábito de cortar o dedo indicador da mão esquerda do morto, além de riscar na mesma mão esquerda o signo zodiacal de Gêmeos.
Durante a maior parte do livro, Kinderman passa caçando o criminoso, acreditando ser um psicopata que esteja seguindo o modus operandi do serial killer ou ainda o próprio Gêmeos que teria voltado a atacar, já que há 10 anos, sua morte ficou que, digamos, no “ar”.
William Peter Blatty, no decorrer da história dá a ficha completa de Gêmeos, explicando os fatores que levaram um rapaz educado e de boa índole a se tornar um dos mais perigosos psicopatas que a polícia americana já conheceu. O leitor conhece também em riqueza de detalhes toda a família de Kinderman – sua mulher, filha e sogra – incluindo uma carpa que é criada, pela sogra do policial, na banheira onde ele costuma tomar banho. Conhecemos também um médico esquisito chamado Dr. Amfortas que tem o habito de se comunicar com os mortos; e assim, vai se arrastando o romance de Blatty; uma verdadeira salada russa que mistura assassinatos; serial killer; conflitos familiares com direito a envolvimento de sogra; assassinatos violentos, entre os quais decapitações, amputações e crucificações; e divagações filosóficas entre o bem e o mal. Elementos referentes ao enredo de “ O Exorcista”? Olha, sinceramente, são muitos poucos, em conta-gotas. Temos o Pe. Karras, transformado em zumbi e com uma presença insignificante no enredo da história; o Pe. Dyer, amigo de Karras, mas que teve uma presença ínfima em “O Exorcista” e Kinderman acompanhado de seu fiel escudeiro Atkins. Esqueça a ex-possuída Reagan, sua mãe, o demônio Pazuzu e até mesmo alguns flashbacks sobre a vida do carismático Pe. Merrin. O enredo de “ O Espírito do Mal” tem muito pouco, bem perto do nada que lembre uma sequência da obra prima “ O Exorcista”.

14 janeiro 2012

O Reverso da Medalha

Com certeza aqueles que excomungam Sidney Sheldon, por considerar suas obras meros dramalhões, sem nenhum atrativo, passarão a me odiar após a revelação que estou prestes a fazer. Talvez nem terminem de ler esse post; mas vá lá, vou assumir as conseqüências, mesmo porque considero Sidney Sheldon um autor de grande talento. “Não entendo como ‘A Casa dos Espíritos’, de Isabel Allende se tornou um grande sucesso nos cinemas, enquanto ‘O Reverso da Medalha’, de Sheldon se transformou numa mini-série “R-I-D-Í-C-U-L-A”, exibida sem nenhum alarde em 1984; tão ridícula que ninguém mais se lembra dela. Considero o livro “O Reverso da Medalha” tão bom quanto “A Casa dos Espíritos”, e vou além, achei a leitura da obra de Sheldon bem mais atrativa.
Pronto, está feita a revelação: erética para alguns, mas para outros, algo normal. Aceita continuar lendo o post (rs)? Então vamos lá. Disse que não entendo como esses dois livros seguiram caminhos tão opostos na “Meca do cinema”, que todos sabem fica em Hollywood. Ambos tem muitas coisas em comuns: abordam sagas de famílias poderosas (os Trueba e os Blackwell); tem personagens femininas de personalidade forte como protagonistas (Clara, Blanca e Kate), abordam várias gerações de uma família; e finalmente venderam milhares de cópias consagrando definitivamente os seus autores.
Mas apesar de todas essas semelhanças, os dois livros tiveram trajetórias bem distintas quando foram adaptados para as telas, aliás, “O Reverso da Medalha” nem chegou a sair da telinha, já que virou uma escabrosa mini-série de TV com roteiro horrível e atores mais horríveis ainda. Fica uma indagação no ar: “Qual o motivo dos produtores e donos de estúdios de Hollywood não terem enxergado o potencial da obra de Sheldon?
Caramba! Percebi que já estou divagando; afinal de contas, o objetivo desse post é dar informações aos leitores sobre “O Reverso da Medalha” e não compará-lo com uma outra obra, no caso, “A Casa dos Espíritos” ou então tentar descobrir os motivos de seu fracasso em Hollywood. Por isso, mãos à obra, ou melhor, mãos aos teclados.
 “O Reverso da Medalha” pode ser considerado o melhor livro de toda a brilhante carreira de Sidney Sheldon. Considero-o uma ‘obra épica’, já que aborda os dramas, alegrias, conquistas e derrotas de quatro gerações da poderosa família Blackwell.
Tudo começa em 1883, quando o patriarca dos Blackwell, Jamie McGrecor, ainda adolescente, decide deixar a sua família na Escócia e seguir  para um distante povoado na África do Sul em busca de diamantes. O seu sonho é ficar rico, aproveitando o período da ‘febre dos diamantes’ que invade as terras africanas. Jamie come o pão que o diabo amassou e paga um preço altíssimo para conseguir o seu objetivo: ficar multimilionário. O capítulo em que Jamie e o seu fiel escudeiro Panda roubam os diamantes de uma mina super-protegida e até aquele momento inexpugnável é de tirar o fôlego.
Sheldon vai mostrando aos poucos a mudança na personalidade do outrora inocente, bondoso e romântico Jamie que após ser traído e espezinhado pelo seu futuro sogro Van der Merwe - um homem mau e ganancioso que se enriquece a custa do sofrimento dos seus garimpeiros – se transforma num ser humano vingativo e sem sentimentos, tão mau quanto Van der Merwe, que por sinal, é o dono da mina que Jamie e Panda roubam. Para Jamie só interessa uma coisa: se vingar da maneira mais cruel possível daquele que um dia lhe traiu e humilhou. E quem paga o preço dessa vingança é a filha única de Van der Merwe, a bela e inocente Margaret – a menina dos olhos de seu pai - que acaba se casando com o rapaz para viver um relacionamento frio e sem amor, pelo menos da parte de Jamie. É desse relacionamento que nasce Kate , a heroína do romance.
A partir daí, Sheldon explora de uma maneira simples, mas eficiente – que prende a atenção do leitor – todas as fases da vida de Kate: desde a sua infância até a fase adulta, quando se casa com um dos empregados de seu pai, David Blackwell, bem mais velho do que ela, mas a quem amou desde criança. Nem por isso, ela deixa de transformar David num joguete visando apenas a expansão de seu império.
Desde o momento que aparece pela primeira vez na história, Kate Blackwell domina as páginas do romance de Sheldon, graças a sua personalidade forte. Ela não é muito diferente de Jamie McGregor, já que é capaz de fazer coisas terríveis para o bem da Kruger-Brent, conglomerado de empresas que herdou de seu pai. Para ela, a Krueger-Brent está acima do marido, dos filhos e dos netos. Durante as páginas de “O Reverso da Medalha” aprendemos a amar e também odiar Kate Blackwell.
A parte mais tensa e pesada do romance de Sheldon envolve a terceira geração dos Blackwell, envolvendo o filho de Kate: Tony que no decorrer da história descobrimos se tratar de um esquizofrênico-homicida, chegando ao ponto de sofrer uma lobotomia para controlar o seu instinto assassino. A grande sacada de Sheldon é deixar “no ar” se a esquizofrenia de Tony é algo hereditário ou se foi causada pelas atitudes desumanas de Kate que acabou destruindo o sonho do filho de ser um famoso pintor. Para a matriarca dos Blackwell o que importava era apenas que Tony assumisse a direção do império da Krueger-Brent. O resto seria continuaria sendo resto.
É nesta parte do livro que Kate expõe o seu lado mau, egoísta e mesquinho, chegando ao ápice, quando tenta destruir os sonhos do filho por causa do seu império empresarial.
Mas Sheldon faz com que os leitores também admirem a sua heroína, como no capítulo em que ela salva Panda - o amigo do peito de seu pai, Jamie McGregor - de cair nas garras da polícia, já que ele se tornou um conhecido ativista político que luta pelo fim do racismo que dominava a África. O livro termina com a quarta geração da família Blackwel, onde Sheldon apresenta as filhas de Tony e também netas de Kate. São elas: a perversa e inteligente Eve e a angelical, mas tão inocente Alexandra. Eve é o demônio em pessoa capaz de tentar matar a própria irmã para se transformar em herdeira única dos bens da família Blackwell. Ela usa a sua beleza estonteante para conquistar os homens que interessam em seu jogo. Tudo para conseguir fama e dinheiro, mas o seu fim acaba sendo um dos piores possíveis.
Enfim, “O Reverso da Medalha” é um livrão para ser devorado em poucas horas. Um enredo que prende o leitor da primeira a última página, bem diferente do desastroso “A Senhora do Jogo”, de Tilly Bagshawe, considerado a sequência oficial da obra prima e épica de Sheldon.
Ah! Antes que me esqueça; atente para o prólogo de “O Reverso da Medalha”, talvez, um dos melhores se não o melhor de todos os livros de Sheldon. A cena em que Kate já bem velhinha reúne todos os familiares em sua mansão para revelar um grande segredo é fantástica.
Até o próximo post!

11 janeiro 2012

O Parque dos Dinossauros

Há livros que damos a vida para consegui-los. Então, quando atingimos o nosso objetivo, pegando em nossas mãos a “jóia preciosa”, nos transformamos numa verdadeira criança; daquelas que acabam de ganhar o presente dos seus sonhos, ficando com aquele sorriso bobo e ao mesmo tempo inocente no rosto. “O Parque dos Dinossauros”, de Michael Crichton, é um livro que tem essa aura. Pelo menos teve comigo. Lutei muito para consegui-lo, mesmo porque naquela época – 2001 - não tínhamos ainda o advento dos sebos on line. Se não encontrássemos o livro que queríamnos numa livraria on line tradicional, tínhamos de procura-lo em um sebo numa cidade próxima ou distante de onde morávamos.
Consegui localizar “O Parque dos Dinossauros”de uma maneira nada convencional: através de uma sala de bate-papo na Net. Isso mesmo, numa sala de bate-papo!! Joguei o meu desejo de consumo na “Rede”  e qual não foi a minha surpresa quando uma professora da época de universidade viu o meu recado e resolveu enviar o livro pelo correio.
Se você me perguntar se valeu a pena toda essa loucura e sacrifício para conseguir o livro de Crichton, vou gritar com todas as forças: VALEU E MUITO!
“O Parque dos Dinossauros” mereceu ser um dos meus principais desejos de consumo. O livro é fantástico, e para não fugir da rotina, muito superior ao filme.
Diferentemente da produção cinematográfica de Steven Spielberg, filmada dois anos após o lançamento da obra escrita, em 1993, o livro é muito mais completo. Crichton recheia o seu texto com detalhes técnicos que foram inteiramente banidos do filme. Desde o processo de criação dos dinossauros por meio de manipulação genética até informações sobre as características dos animais pré-históricos. O autor lembra do perigo de se tentar adaptar ao eco-sistema atual, animais que viveram há milênios,  num habitat completamente adverso do nosso. Ele faz um alerta para os perigos da manipulação genética desenvolvida de maneira irresponsável, pensando apenas em lucros fáceis.
Você deve pensar que um livro com tantos detalhes técnicos e científicos acabe se tornando uma leitura enfadonha e sem atrativos. Mero engano. “O Parque dos Dinossauros” tem muita ação e suspense, e em doses cavalares. Aliás, Crichton é mestre nesse tipo de enredo, ou seja, ele é capaz de “lotar” seus textos de informações científicas sem torná-lo cansativo.
À exemplo do que Spielberg fez no filme de 1993, apresentando logo na primeira cena, um dos personagens principais da película: o temível velociraptor; Crichton também faz o mesmo em seu livro, mas de uma maneira muito mais impactante e detalhista. Enquanto Spielberg opta em não dar detalhes sobre o ataque do monstro pré-histórico que está preso numa jaula de metal fortemente lacrada - de onde pode se observar apenas o seu horripilante olhar de predator - e que mesmo imobilizado, consegue devorar um incauto trabalhador do parque; Crichton, no prólogo de seu livro, já narra com riqueza de informações o tipo de ferimento que o velociraptor causou num funcionário do Jurassic Park. Cara! É de arrepiar os pelinhos do corpo....
No início do livro, um helicóptero traz a vítima para ser atendida em um pequeno hospital localizado numa humilde vila de pescadores no litoral da Costa Rica. Um dos administradores do parque tenta manter segredo sobre o fato, dizendo para a médica que o funcionário sofreu um acidente com uma retro escavadeira. A médica retruca dizendo: “Parece que foi atacado por uma fera!”. Este é o ponto de partida para o autor prender a atenção do leitor. Ele descreve em detalhes o que a médica presencia, fazendo com que o leitor se sinta ali, ao lado dela, como se fosse um enfermeiro vendo a pobre vítima dilacerada na maca. “... a pele do rapaz havia sido rasgada, lacerada do ombro até a coxa...”A médica sentiu um arrepio ao olhar para as mãos do rapaz, havia...”. Vou parar por aqui para não quebrar o clima de suspense daqueles que ainda não leram o livro. Mas o prólogo da obra, que recebeu o nome sugestivo de “A Mordida do Raptor” já é um exemplo do que o leitor irá encontrar nas próximas páginas. E tudo, como já escrevi acima, recheado de informações científicas.
A história do livro é praticamente a mesma do filme: Um milionário excêntrico, John Hammond resolve construir um parque tendo como habitantes dinossauros que foram extintos a sessenta e cinco milhões de anos. Hammond monta uma equipe de renomados cientistas, liderados pelo jovem e ambicioso Henry Wu para clonar esses animais. O processo de clonagem se tornou possível, após ter sido encontrado um inseto fossilizado, que tinha sugado sangue destes dinossauros, de onde pôde-se isolar o DNA, o código químico da vida, e, a partir deste ponto, recriá-los em laboratório. O parque, então é montado com várias espécies de dinossauros, mas antes de ser aberto ao público, Hammond convida
o paleontólogo Alan Grant e a paleobotânica Ellie Sattler, para ver se os dinossauros recriados geneticamente são idênticos aos animais extintos. À exemplo da dupla de pesquisadores, também embarcam para a ilha onde está localizado o parque, o matemático Ian Malcolm, advogado Donald Gennaro e os netos de Hammond, Tim e Alexis. Chegando por lá, eles resolvem fazer um passeio pelo parque para conhecer de perto os animais. Depois disso, a maioria das pessoas já conhece a história. Tem o cientista traidor que tenta roubar vários embriões de espécies de dinossauros para revender à uma outra firma concorrente, mas acaba dando de cara com um bichinho pré histórico que gospe veneno; tem  os ataques do tiranossauro e dos velociraptores aos nossos heróis; e por aí afora.
Mas o livro de Crichton mostra muito mais, diferenciando “anos-luz”do filme. Só para que o leitor tenha uma noção da importância da obra escrita, basta dizer que ela serviu de base para o roteiro de três filmes da franquia idealizada por Spilberg.
A cena do aviário quando Alan Grant, Tim e Lex, ao tentarem chegar na casa de comando do parque, – eles estavam fugindo do tiranossauro rex – acabam entrando num domo onde eram recriados os ceradáctilos (répteis voadores muito maiores do que os pterodáctilos), passando a ser atacados pelos animais só foi aproveitada no terceiro filme. Outra cena presente no livro de Crichton e que também não fez parte do primeiro filme é aquela em que uma criança acaba sendo cercada por um grupo de pequenos dinossauros venenosos chamados procompsognatos. Os produtores da franquia preferiram aproveitar essa parte do enredo somente no segundo filme que recebeu o nome de “ O Mundo Perdido”; produção cinematográfica, aliás baseada em um segundo livro de Crichton.
As diferenças livro e filme são gritantes. Por exemplo: no filme só temos um tiranossauro rex; já no livro são dois; os velociraptores são mortos com tiros de bazuca; já no filme nem se cogita uma hipótese dessas.
Enquanto na produção de Spielberg, o tiranossauro só aparece em pouco mais de três cenas; no livro, um dos bichões – o outro, é filhote – domina vários capítulos e dá um trabalho danado  para Grant. O dinossauro persegue o paleontólogo e os dois netos de John Hammond de maneira implacável, fazendo com que o leitor agarre as páginas sem querer largá-las um minuto se quer; nem... para ir ao banheiro. A cena em que o “rei dos predadores pré-históricos” encurrala as duas crianças numa caverna e tenta devorá-las, não sem antes senti-las com a língua é narrada em detalhes por Crichton. “A língua moveu-se lentamente para a esquerda, depois para a direita”... “Tim percebeu que aquilo se movimentava graças aos músculos como uma tromba de elefante”.  “A língua pesquisou o canto direito, passando pela perna de Alexis e depois parou; curvando-se, começou a subir, como uma cobra, pelo corpo da menina”. Agora me responda: dá pra largar as páginas do livro com esse clima de tensão? Pois é, foi o que eu fiz: fiquei grudado nelas como uma perereca.
Enfim, “O Parque dos Dinossauros” é recomendado para aqueles que assistiram ou não o primeiro filme da série; tanto faz, já que a obra de Crichton tem detalhes e mais detalhes que foram omitidos na produção cinematográfica, além de diferenças bem acentuadas.
Prá começar um dos personagens principais acaba morrendo durante a aventura.... mas, de maneira inexplicável, volta à vida, depois, no segundo livro da série, “O Mundo Perdido”, também escrito por Crichton..
Bem, acho melhor parar por aqui, antes que me empolgue e acabe revelando spoilers da história.
Inté!

03 janeiro 2012

Tróia – O romance de uma guerra

Longe de mim criticar uma obra-prima como Ilíada, de Homero. Agir dessa maneira, seria pura insanidade de minha parte, mas que o poema do autor grego esconde uma enorme quantidade de fatos sobre a antológica Guerra de Tróia não é nenhum segredo para aqueles que conhecem essa obra épica  profundamente.
Li “Ilíada” e “Odisséia” do poeta grego e amei os dois livros, mas não posso dizer que ambos sejam obras completas e relevantes sobre esse evento – que alguns historiadores acreditam ter, de fato, acontecido; enquanto outros juram não ter passado de uma lenda – já que omitem uma quantidade enorme de passagens que aconteceram antes e durante o combate que teria durado 10 anos.
Quem leu “Ilíada” deve saber que o poema de Homero cobre apenas alguns dias do último ano da Guerra de Tróia, omitindo detalhes importantes ocorridos anteriormente, como por exemplo a execução de Ifigênia, filha de Agamenon, chefe supremo da armada grega, que foi dada em sacrifício a Artêmis, com o aval do próprio pai, para que a deusa grega tivesse a sua cólera amenizada e passasse a enviar ventos favoráveis possibilitando que a frota de navios gregos navegasse para Tróia; as bodas de Peleu e Tétis, os pais de Aquiles, considerado o maior guerreiro de toda a Grécia; o plano adotado por Palamedes para desmascarar Ulisses que se fingia de louco para não participar da guerra; o abandono do arqueiro grego Filocteto, que foi deixado sozinho numa ilha deserta, pelos seus próprios companheiros, após ser picado por uma serpente; enfim, esses são apenas alguns exemplos sobre a Guerra de Tróia que não são encontrados em Ilíada.
A obra de Homero se restringe aos momentos em que Aquiles decide abandonar o campo de batalha em retaliação ao chefe supremo Agamenon que num acesso de egoísmo resolveu tomar posse de Briseida, cativa do guerreiro, filho de Tétis e Peleu; à morte de Pátrocolo; ao arrependimento de Agamenon que decide devolver Briseida à Aquiles, juntamente com muitas outras riquezas para ter o seu melhor guerreiro de volta; o retorno de Aquiles com a sua armadura invulnerável forjada por Hefesto no Olimpo e finalmente à luta entre Aquiles e Heitor, seguida do funeral do guerreiro troiano.
E como sempre fui um apaixonado por mitologia grega, principalmente sobre os eventos relacionados à Guerra de Tróia; há muito tempo, queria encontrar um livro que abordasse de maneira profunda esse momento de extrema importância para a história helênica... mas com um detalhe importante: o texto teria de ser em prosa. O motivo? Simples: eu nunca fui fã da literatura em verso. Aliás, me dá sono. Ok, desculpe a sinceridade, mas é isso aí, não consigo digerir textos em verso, sei lá... não vai, não desce. Mas aí, você me questiona: o cara afirma que detesta textos em verso, mas ao mesmo tempo afirma que leu “Ilíada” e ainda por cima amou a obra!! É muita incoerência! Tudo bem... isso é para que você entenda como sou fã incondicional desse período da mitologia grega. Tão fã, mas tão fã que cheguei ao ponto de ler um estilo literário que detesto e ainda por cima, ter amado o que li!
Então, retornando o “fio da meada”: queria um autor que explorasse a Guerra de Tróia em sua totalidade, ou seja, todos os momentos que marcaram os seus 10 anos, e... tudo em prosa, “ romanção” mesmo. Advinha onde fui encontrar tudo isso? Num autor brasileiro! Um gaúcho! Com todo o respeito aos nossos autores; mas não faz parte da cultura dos grandes nomes da literatura brasileira escrever temas relacionados à mitologia grega. Pois é, Cláudio Moreno, autor de “Tróia – O romance de uma guerra” quebrou esse paradigma; juntamente com outro, de que autores gaúchos tem afinidade apenas com temas regionalistas.
Moreno que é formado em Letras, com ênfase para o Português e em Língua e Literatura Grega pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conseguiu escrever uma obra “impar”sobre a Guerra de Tróia. O livro aborda de maneira detalhada todos os principais eventos que marcaram essa batalha que já entrou para o imaginário de todas as pessoas. A linguagem simples, mas ao mesmo tempo detalhista do autor prende os leitores da primeira a última página. As cenas de batalha entre gregos e troianos é narrada de maneira minuciosa fazendo com que o leitor se sinta no meio dos campos de batalha. Fantástico!
Após ler as mais de 300 páginas da obra em apenas dois dias, tomei conhecimento de fatos relacionados a Guerra de Tróia que desconhecia completamente. O livro de Cláudio Moreno vai muito mais além do que outras obras semelhantes traduzidas para o português. Não pense que o enredo de “Tróia – O romance de uma guerra” fique restrito apenas a passagens comuns e do conhecimento de qualquer iniciante em mitologia grega, como “O Pomo da Discórdia” ou a “Morte de Aquiles”; “A fuga de Helena e Páris” ou a “Morte de Heitor”. O livro de Moreno vai muito, mas muito mais além de desses temas básicos.
Lendo “Tróia...” você tomará conhecimento de detalhes importantes sobre o nascimento de Helena – que ficou conhecida através dos tempos como “Helena de Tróia; uma mulher que conseguiu com a sua beleza provocar a queda de um dos reinos mais poderosos do mundo antigo. O autor explora o romance que Helena teve em sua adolescência com o herói Teseu. A filha de Zeus e da mortal Leda, já provava ser uma mulher fatal desde a infância, quando em sua tenra idade conseguiu virar a cabeça de um dos heróis mais importantes da mitologia grega: Teseu, o matador do Minotauro. Moreno conta em profusão de detalhes como foi esse relacionamento tão atípico e de que maneira Cástor e Pólux, irmãos de Helena, nada satisfeitos com essa união - por Teseu ser bem mais velho do que a garota - conseguiram libertá-la do compromisso e trazê-la de volta para casa.
O amadurecimento de Páris como guerreiro também é mostrado de maneira gradativa pelo autor. No início, vemos apenas um Páris sedutor e covarde que sempre opta por fugir do combate, preferindo ficar nos braços de Helena, a sua grande conquista. Essa atitude fica evidente quando, o ex- pastor de ovelhas, filho de Príamo, se acovarda na frente de todos os guerreiros troianos no instante em que Menelau o desafia para uma luta de vida ou morte, cujo premio seria Helena. Páris ao invés de enfrentar o grande guerreiro grego prefere se esconder no meio dos seus soldados. Mas, com o desenrolar dos anos, Páris vai crescendo como guerreiro, principalmente após a lição de moral dada por seu irmão, Heitor. O ex-pastor se torna assim, um exímio arqueiro, fazendo questão de estar sempre à frente do exército de Tróia, ao lado de Heitor.
A infância e adolescência de Aquiles também é abordada com riqueza de detalhes por Cláudio Moreno. Como foi o seu treinamento, ministrado pelo centauro Quiron, que o transformou num herói grego lendário; o seu relacionamento com a mãe, a nereida Tétis, que fez de tudo para evitar que o filho seguisse para guerra; o confronto de Aquiles com Tenes, filho e sacerdote de Apolo que selaria o destino do guerreiro na Guerra de Tróia. Enfim,  as várias fases da vida de Aquiles são exploradas em detalhes no romance do autor gaúcho.
Mas o que me agradou, de fato, no livro foi a feliz opção do escritor em fazer com que os deuses do Olimpo também participassem da guerra. Zeus, Hera, Atena, Ares, Apolo, Poseidon e muitos outros decidem ajudar troianos ou gregos e assim, acabam descendo para o campo de batalha, passando a se degladiar entre eles. Esta opção do autor acabou deixando as cenas de batalha muito mais envolventes, verdadeiras montanhas –russas.
No final de “Tróia – o romance de uma guerra”, Moreno brinda os seus leitores com um glossário onde estão incluídos os nomes de todos os personagens que fazem parte de seu romance. E diga-se, de passagem, não só o nome, mas também um breve e interessante currículo.
“Tróia – O romance de uma guerra”consegue dar aos leitores a verdadeira dimensão do que foi a famosa guerra entre gregos e troianos pelo amor de uma mulher.
Vale à pena conferir. As pessoas interessadas, com certeza irão encontrar esse livro facilmente. Compre já e inicie uma verdadeira aventura no mundo mágico de Aquiles, Heitor, Agamenon, Ulisses, Páris, Menelau e tantos outros heróis que participaram de uma guerra que ficou na história da mitologia grega: a “Guerra de Tróia”...

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