22 abril 2012

O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia

O livro de Patrick Rothfuss é descritivo ao extremo dos extremos! Uma cena que poderia ser resumida em uma página, o autor faz questão de utilizar duas páginas e meia ou mais! Quer alguns exemplos? Ok, vamos lá. O momento em que Kvothe e Denna encontram o terrível e temível Dracus. Até o momento em que a fera resolve invadir um povoado e promover um verdadeiro estrago, obrigando o nosso protagonista a enfrentá-la, demora... demora... demora... e demora. Nesse meio tempo ficamos conhecendo um pouco mais o esquisito animal, além de torcermos pelo tão aguardado beijo caliente entre Kvothe e Denna ou então aquele famoso “Eu te Amo” - por parte de Denna, é claro - já que o nosso herói é um apaixonado inveterado e enrustido pela moça. Há ainda os famosos interlúdios, quando Kvothe dá um tempo na narrativa de suas aventuras (isso mesmo, o romance é narrado em 1ª pessoa, ou seja, pelo próprio herói) para voltar ao presente, na aconchegante Pousada Marco do Percurso. Esses interlúdios na Pousada se resumem, quase sempre, a três pessoas: Kvothe, seu ‘aluno’ Bast e o Cronista que está escrevendo a história narrada pelo Arcano. Ou os três estão discutindo, ou trocando confidências, ou Kvothe sai da pousada para tomar um ar e meditar, ou.... ou, ou e ou novamente.
Mas pêra aí! Pode Parar!! Este blogueiro “João Ninguém” está tendo a petulância de falar mal de “ O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia”, romance que agradou a gregos e troianos, incluindo os mais ferrenhos críticos?!
Primeiro: não sou petulante. Segundo: não estou falando mal; estou sendo sincero. E terceiro, vou repetir: “O Nome do Vento” é um romance descritivo ao extremo dos extremos e ponto final!! Mas quer saber de uma coisa?? Eu “A-D-O-R-E-I”!! E com todas as letras maiúsculas. Adorei quando Rothfuss criou aquele clima de “Romeu e Julieta” entre Kvothe e Denna, sentados no alto de um monolito, tendo como pano de fundo um Dracus enorme e completamente drogado ou maconhado – qualquer coisa serve - cuspindo fogo azul pelas ventas. Cheguei, até mesmo, a dar algumas gargalhadas só em imaginar um mostrengo daqueles, enorme, ‘mais pra lá do que prá cá’, inteiramente alegrão rolando por cima de fogueiras e bancando o dragão ao ‘vomitar’ fogo azul. E olha que essa enrolação engoliu ‘umas’ três páginas com letras miudinhas; mas não há como negar: “cara! Foi uma enrolação gostosa pra dedéu!.
A descrição dos encontros entre Kvothe e a pequena Auri – uma jovem que vive no subterrâneo da Universidade é repleta de uma magia encantadora que, muitas vezes, chega a emocionar o leitor. “Eu lhe trouxe uma pluma com o vento da primavera” ou “o que existe no sal?” “No sal você vai encontrar o sonho dos peixes e a cantiga dos marinheiros”. Aliás, não há como viajar e se emocionar ao ler as passagens dos encontros entre Kvothe e Auri que ocorrem sempre no telhado da Universidade onde o nosso futuro Arcano vai estudar.
Estes são apenas alguns exemplos dos momentos ‘ultra-descritivos’ de “O Nome do Vento”. Momentos que apesar de longos e demorados, de fato, valem a leitura. Mas aqui vai um conselho para aqueles leitores ávidos por aventuras da primeira a última página: esqueça a obra de Rothfuss. É claro que a aventura e a ação fazem parte do livro, mas não de maneira desenfreada, como uma montanha russa. Acredito que o autor abriu mão desse recurso para centrar poder de fogo na construção dos personagens e também em seus relacionamentos. Basta prestar atenção na crescente amizade que surge no início da história entre o velho Arcano Ben e o Kvothe criança, com os seus 10 ou 11 anos. O autor tinha a opção de resumir esse relacionamento em poucas páginas em detrimento da nossa velha e viciante “ação”; mas não; Rothfuss preferiu explorar essa união até o bagaço da fruta. É Ben quem dá as primeiras lições para o protagonista do romance. É com ele que Kvothe aprende a controlar o seu temperamento impulsivo, e o mais importante: é com o velho Ben que ele começa a desenvolver os seus conhecimentos em magia, ou melhor, onde lê-se magia, entenda como “simpatia”. É Ben quem abre as portas da Universidade para Kvothe ao dar-lhe de presente um surrado, mas importante livro que sempre trazia consigo. O velho Arcano aparece apenas no início do romance, mas apesar disso, a sua presença é de vital importância para o crescimento intelectual e a formação da personalidade de Kvothe; acho até, que bem mais importante do que os próprios pais do menino.
Rothfuss deixa evidente a relevância dessa linha narrativa que prioriza a descrição minuciosa dos personagens e das situações vividas por eles quando evita dar detalhes de como foi o assassinato dos pais de Kvothe por parte dos Chandrianos. Ele prefere descrever como ficou o ambiente após o ataque. E posso garantir que o clima se tornou bem mais tenso e denso do que se ele tivesse optado por narrar detalhes do ataque dos Chandrianos a trupe de artistas itinerantes da qual os pais de Kvothe faziam parte. “Quando retornei ao acampamento, retalhos dispersos de fumaça se elevavam no ar do crepúsculo. Fazia silêncio, como se todos da trupe estivessem à escuta de algo. Como se todos prendessem a respiração... Vi o corpo de Teren caído junto a sua carroça, espada quebrada na mão. O verde e cinza que ele normalmente usava estava molhado e vermelho de sangue... Uma partezinha racional de mim se deu conta de que eu estava em choque profundo...”
E olha que isso é apenas o começo, já que Rothfuss é detalhista ao extremo em sua descrição do acampamento destruído. Ao ler esse trecho é como se você estivesse ali, junto com o pequeno Kvothe, presenciando aquele ambiente pós-apocalíptico e sentindo a mesma dor do futuro Arcano.
Autor Patrick Rothfuss
Considero, também, “O Nome do Vento” um romance desmistificador, onde Rothfuss procura dar explicações lógicas para todas as histórias fantásticas que foram construídas em torno de Kvothe e que o transformaram num ser lendário. Nem mesmo a poderosa magia aprendida por ele na Universidade escapa ilesa. Aliás, o autor evita utilizar o termo magia, preferindo a palavra “simpatia”. E o realismo que descreve como são feitas as conexões para a criação de uma simpatia é tão grande que passamos a acreditar que essa prática é possível.
Quanto a “Kvothe, O Sem Sangue”, mais uma denominação lendária recebida através dos tempos, à exemplo de outras como “O Matador do Rei”, “Seis Cordas”, “Umbroso”, etc, também é desmistificada pelo autor. Na realidade, “O Sem Sangue” não tem nada de sobrenatural e muito menos envolve magia. Kvothe tem a mesma quantidade litros de sangue no corpo como eu ou você. Ele ganhou esse apelido graças a um engodo promovido por ele próprio, provando toda a sua astúcia nos tempos da Universidade.
Em “O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia”, Kvothe é convencido, por um cronista famoso, a contar as suas aventuras. O historiógrafo, que pára na Pousada Marco do Percurso para descansar, quer escrever a história sobre o Arcano no mesmo dia para depois seguir a sua jornada, já que tem um outro compromisso agendado; mas Kvothe só concorda em abrir a sua alma desde que a história seja escrita durante três dias. O cronista que deseja mais do que nunca publicar as aventuras de uma verdadeira lenda de seu tempo, concorda com a exigência e assim tem início ao primeiro dia da crônica que corresponde ao primeiro livro escrito por Rothfuss.
Poderia ficar aqui escrevendo páginas e mais páginas sobre “O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia”, citando as belíssimas histórias sobre ‘Grande Taborlin’ que sabia o nome de vários elementos da terra, exercendo assim, o comando sobre eles; a queda de braço entre Kvothe e Ambrose, inimigos mortais na Universidade; os contos mágicos narrados por Skarpi – um contador de histórias que cruza o caminho de Kvothe, ainda criança, após a morte de seus pais - e por aí afora.
Sem dúvida, um livro muito descritivo, mas fantástico! Vale à pena.




16 abril 2012

Médicos em perigo

Há livros pelos quais não damos a mínima atenção. Geralmente são aqueles que ganhamos de presente de aniversário, mas que apesar da boa vontade daquela pessoa que nos presenteou, não faz parte do nosso gosto literário. Pode ser uma obra jornalística para determinado leitor que seja fissurado em romances; um livro de poesias para quem foge de rimas e versos ou ainda a obra muito elogiada de um escritor “bã-bã-bã” o qual odiamos. Sendo assim, não existe outra alternativa se não agradecermos o presente e depois colocarmos em nossa estante e o deixarmos lá, em estado de hibernação... bem quietinho.
Sempre digo que presentear alguém com livros e complicado. É uma tarefa que exige pesquisa; temos que bisbilhotar o gosto daquele alguém que pretendemos presentear para não brindá-lo com um “presente de grego”.
Passei por isso, recentemente, quando ganhei um livro de um autor que não fazia parte do rol dos meus preferidos. Um amigo cismou que eu tinha predileção por obras que abordassem assuntos relacionados à área médica. Não me perguntem o porque dele ter pensado isso; simplesmente não saberei responder. Mas um dia, quando acabei de chegar na empresa onde trabalho; esse meu amigo entrou em minha sala  com um sorriso no rosto, colocou um embrulho “substancioso” na mesa e disse: “- Toma é teu, acabei de comprar, espero que goste”. E ficou parado, esperando que eu abrisse o pacote. Na hora saquei que eram livros, uns três ou cinco, pelo tamanho do presente. Na hora começou a passar um desfile de autores prediletos em minha cabeça., mas quando abri o pacote... Quatro livros do Frank G. Slaughter!! Detalhe: não curto nem um pouquinho ou poucão esse autor. E pra variar, três dos quatro livros do pacotão eu já tinha tentado ler. Vejam bem, disse “tentado” porque não consegui e olha que não tenho o hábito de abandonar a leitura de um livro.
Resumindo: eles ficaram guardadinhos em minha estante. Um dia, uma prima ao visitar a minha casa, bateu o olho num dos quatro livros e soltou a exclamação: “José! Esse livro é fantástico, acabei de ler!” Ela estava se referindo a “Médicos em Perigo”, o único dos quatro romances do Slaughter que ganhei e que ainda não tinha lido.
Bem, em respeito a opinião de minha prima que tem um gosto refinado quando o assunto é literatura, resolvi encarar a obra. Ao concluir a leitura das quase 300 páginas com letras miudinhas, só posso dizer que amei a história. Pera ai! Ainda não acredito que disse isso sobre um livro de Frank G. Slaughter. Mas tudo bem...  disse e ponto final (rs).
O livro é focado no personagem Mark Harrison, um jovem médico com um futuro promissor pela frente. Ele é especialista no campo da micro-cirurgia. Vale lembrar que na época em que o livro foi escrito, 1984, essa área da medicina ainda era considerada um verdadeiro tabu, mas Slaughter, após minuciosa pesquisa conseguiu juntar informações convincentes sobre o assunto; tão convincentes que ele ganhou o status de um escritor visionário, pois tudo o que ele colocou no enredo sobre o assunto, acabaria se tornando realidade anos depois.
Mas voltando a escrever sobre a história de “Médicos em Perigo”, Mark acaba jogando toda a sua carreira pelo ralo quando se torna um viciado em drogas médicas, e diga-se, drogas bem pesadas. A partir daí, a sua vida transforma-se num verdadeiro pesadelo, pois para poder desempenhar as suas atividades profissionais, ele precisa da tal “mardita” e a cada perfuração nas veias do braço para injetar o “veneno”, ele vai perdendo um pouco do seu verdadeiro eu.
Frank G. Slaughter não usa meias palavras para abordar esse outro lado da vida de muitos médicos que se tornam viciados em anfetaminas e outras drogas mais pesadas. Mas por que será que cirurgiões que tem todas as possibilidades de se tornarem milionários e famosos em suas áreas acabam se sucumbindo ao mundo das drogas? O autor procura esclarecer essa dúvida através do personagem principal de seu romance e de outros que trabalham na mesma clínica de Mark.
“Médicos em Perigo” dá uma visão ampla do mundo podre da medicina, ou seja, do jogo de interesses envolvendo médicos, donos de clínicas e grandes hospitais que visam apenas o lucro em suas ações; da concorrência entre colegas de trabalho que pode chegar aos extremos; da exploração pela qual os médicos recém formados acabam se tornando vítimas, sendo obrigados a cumprir uma carga horária desumana. É esse o “o ambiente predador” onde Mark é jogado.
Ao aprofundarmos na leitura da obra passamos a entender os motivos que levam um médico jovem e talentoso, com um futuro maravilhoso pela frente a se “prostituir” em seu meio.
O final do romance é de tirar o fôlego. Quando acompanhamos Mark Harrison entrando na sala de cirurgia, onde por força das contingências do destino, é obrigado a realizar uma delicada operação em um paciente, a vontade que temos é de chegar logo nas últimas páginas para saber se ele se recupera ou se enterra de vez.  Com as mãos trêmulas, o outrora promissor médico mal consegue segurar um bisturi e muito menos amarrar as alças de sua máscara cirúrgica.
Posso garantir que Slaughter brinda os seus leitores com uma surpresa nada convencional no final da trama envolvendo o protagonista da trama. Juro que o meu queixo caiu e que jamais imaginava um final daquele tipo para o personagem.
Enfim, valeu a leitura e muito! Aliás, não acredito no que vou dizer agora... “Curti aos extremos o livro de Frank G. Salughter”... logo o Slaughter que eu abominava, chegando ao ponto de  abandonar a leitura de suas obras que eu achava horrorosas.... São coisas da vida.
Valeu prima pela indicação!

11 abril 2012

Os 10 serial-killers mais temidos da literatura policial

A literatura policial já brindou os seus aficionados com serial-killers de tirar o fôlego; alguns deles antológicos. Quem não se lembra do refinado Hannibal Lecter, de “O Silêncio dos Inocentes” ou então do enigmático Jean-Baptiste Grenouille, de “O Perfume”? Alguém teve a idéia de criar, até mesmo, um serial- killer do bem, o tal do Dexter! Pode um negócio desses?! Estes e outros assassinos em série – graças a genialidade de seus idealizadores - transformaram vários enredos de romances policiais, suspense ou terror numa verdadeira montanha russa de emoções. Alguns, se sairam melhor do que o chamado “mocinho” da história, aquele policial ou detetive que aparenta, ao longo do enredo, ter um QI e uma coragem fora do normal, mas que no final acaba sendo engrupido pelo vilão.
Hoje, o nosso blog decidiu prestar a sua homenagem a essa casta de personagens. Enumerei os 10 serial-killers, que na minha humilde opinião, mais se destacaram na literatura policial e de suspense; mas com certeza haverá outros vilões do gênero em outros livros que ainda não tive a oportunidade de ler. Fiquem a vontade para citá-los por aqui... Então vamos lá!
01 – Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes)
Apara abrir a nossa galeria de serial-killers apresento-lhes o temível Dr. Lecter, mais conhecido nos meios policiais como “O Canibal”, já que tinha o hábito de comer as suas vítimas, arrancando língua, olhos e bochecha a dentadas. Quando estava mais inspirado chegava a preparar pratos  especiais com os pedaços retirados, os quais saboreava acompanhado de um delicioso vinho.
Devido a sua auto-confiança, onipotência, frieza e inteligência extrema, considero Dr. Lecter o mais letal dos serial killers psicóticos. O sujeito conhece tudo, tem resposta para todos os questionamentos, zomba da polícia e não teme ninguém. A sua crueldade não tem limites, sendo capaz de comer o cérebro de uma vítima ainda viva, como fez no livro Hannibal, com um agente do FBI que o sondava. Lecter capturou o pobre coitado, amarrou-o numa cadeira e enquanto abria o seu crânio ia explicando para o infeliz todo o procedimento cirúrgico.
A sua inteligência é algo fora do comum. Acredito que Dr. Lecter seja o vilão mais inteligente do meio literário. Ele perdeu os pais ainda criança durante a 2ª Guerra Mundial, de onde ficou traumatizado.  É possível que esse trauma tenha dado origem a sua psicopatia.
Estudou medicina, por isso tem uma noção perfeita da anatomia do corpo humano, mas no final acabou se formando em psiquiatria. Após a sua prisão, foi requisitado pelo FBI para ajudar nas investigações envolvendo serial-killers psicóticos. Ele traçava o perfil psicológico desses homicidas para a polícia.
Suas vítimas preferidas eram os seus pacientes; geralmente aqueles, os quais ele julgava que não estavam evoluindo no tratamento.
Foi personagem dos seguintes livros do escritor Thomas Harris: “O Silencio dos Inocentes” (1991), Hannibal (2001), “Dragão Vermelho” (2002) e Hannibal, A Origem do Mal” (2007).
02 – Búffalo Bill (O Silêncio dos Inocentes)
Este perigoso serial-killer, a exemplo de Hannibal Lecter, também é personagem do livro “O Silêncio dos Inocentes”, de Thomas Harris. Búffalo Bill é um homossexual insatisfeito com o seu corpo, por isso, ele resolve construir uma segunda pele feminina, servindo-se das peles que arranca de suas vítimas. Após serem capturadas, elas são trancafiadas num poço para emagrecerem. O psicopata acredita que a pele ao ficar “grudada” nos ossos se torna mais fácil de ser extraída.
Búffalo Bill tem uma queda pelas gordinhas, consideradas suas vítimas em potencial.
No livro “O Silencio dos Inocentes”, Clarice Sterling, uma estagiária do departamento de Estudos de Comportamento do FBI é chamada para traçar um perfil psicológico de Buffalo Bill com o objetivo de localizá-lo e prendê-lo. Para isso, conta com a ajuda de outro perigoso serial-killer, o nosso Dr. Lecter. O psiquiatra canibal concorda em ajudá-la, desde que a agente do FBI se torne uma espécie de paciente particular, deixando que Lecter explore a sua mente.
Apesar de aparecer muito pouco em “O Silêncio dos Inocentes”, Búffalo Bill deixa a sua marca devido a crueldade sem limites.
03 – Fada dos Dentes (Dragão Vermelho)
 Taí o terceiro serial killer de peso criado por Thomas Harris. Aliás, Harris provou ter um talento nato para idealizar assassinos em série. Prova disso é que Hannibal Lecter, Buffalo Bill e Fada dos Dentes se tornaram referencias do gênero para um grande número de leitores.
Francis Dolarhyde, vulgo “Fada dos Dentes” é o ‘serial’ de “Dragão Vermelho”, terceiro livro da ‘Saga Lecter’. O assassino chamava-se a si próprio de “Dragão Vermelho” por causa da ilustração do pintor e visionário inglês, William Blake: ‘O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida de Sol’. O apelido “Fada dos Dentes” foi dado por um jornal sensacionalista por causa da maneira como Dolarhyde matava as suas vítimas: a dentadas... usando uma dentadura horrorosa da sua avó!
Fada dos Dentes é um verdadeiro predador: primeiro seleciona a sua vítima, depois a mutila e em seguida mata. Os eleitos que se enquadram no perfil do serial killer, geralmente são famílias bem estruturadas e bonitas. Ele invade a casa, aterroriza, mutila e depois  elimina à todos sem piedade.
O assassino tem uma fissura no palato o que o obriga a usar uma dentadura especial para amenizar o problema, mas na hora de atacar  as vítimas, ele coloca a tal dentadura medonha de sua avó. Ele deu um trabalho danado para o detetive Will Graham e quase conseguiu matá-lo no final do ramnce, mas... bem, é melhor lerem o livro.
04 – Jean-Baptiste Grenouille (O Perfume)
O personagem principal do livro “O Perfume – A História de Um Assassino”, do grande escritor e mestre alemão, Patrick Suskind, é um dos serial-killers mais enigmáticos da literatura policial.
Jean-Baptiste, à exemplo da maioria dos homicidas teve uma infância catastrófica e prá começar foi abandonado, logo de cara, pela mãe que não o queria de maneira alguma. Ele nasceu no meio do fedor de um mercado de peixe, onde sua mãe trabalhava como vendedora.  Ao dar a luz, ela pegou o bebê e o jogou no meio das vísceras de peixes que os limpadores extraiam e amontoavam num canto do mercado que servia de lixão... um lixão de vísceras de peixe. Mas o choro de Jean-Baptiste fez com que fosse descoberto pelos presentes na feira. Sua mãe acabou presa e condenada a morte. O nosso futuro serial killer foi entregue aos cuidados de uma madame que tinha o péssimo hábito de explorar crianças órfãs. Cara! Quer infância pior do que esta! Uma verdadeira escola para homicidas.
Jean-Baptiste cresce e logo descobre que possui um dom incomum: ele é capaz de diferenciar os mais diversos odores à sua volta. Um detalhe: ele mesmo não tem odor nenhum: nem ruim, nem bom, simplesmente nasceu sem cheiro. Ao descobrir o seu raro dom, Jean-Baptiste logo demonstra vontade de conhecer todos os odores existentes, conseguindo diferenciá-los mesmo que estejam longe do local em que está. A partir daí, ele passa a tentar capturar o odor dos próprios seres humanos, nem que seja por meio de assassinatos em série. Sua intenção é criar um perfume que faça dele uma pessoa atraente, capaz de ser notada  e amada por toda a sociedade.
Suas vítimas preferidas são donzelas, independente de classe social, bastam ter um odor que agrade o assassino.
Após matar as mulheres, ele espalha uma massa de banha em seus corpos para impregná-la com os seus odores. Depois, utilizando o seu dom de perfumista, transforma essa massa impregnada de ‘cheiros’ em perfumes.
A história de Suskind se passa na França do século XVIII e o seu livro se transformou num fenômeno de vendas, despertando o interesse de inúmeros cineastas em adaptá-lo para a tela grande, o que acabou acontecendo somente em 2006, pelas mãos do cineasta alemão Tom Tykwer, responsável pelo sucesso “Cora, Lola, Corra”. Vale lembrar que o livro de Suskind foi escrito em 1985.
05 – Jean Claude Romand (O Adversário)
Imagine um homem que durante anos fingiu uma vida num mundo irreal, e então para ocultar a verdade decidiu matar todos os seus familiares e parentes. Pois é, esse homem se chamava Jean Claude Romand e eliminou sua mulher, seus dois filhos, os pais e o sogro. Todos, assassinatos em série e premeditados.
Jean Claude é o assassino mais famoso de toda a França e a sua vida rendeu um livro de grande sucesso chamado “O Adversário”, escrito por Emmanuel Carrère. A obra se tornou um bestseller mundial e acabou ganhando uma adaptação para o cinema.
A história real desse serial killer é muito densa e sinistra e, de fato, impressiona o leitor. A mente doentia de Jean Claude Romand chegou ao ponto de inventar uma mentira que acabaria por se constituir em sua vida real. Num “belo” dia, sem saber explicar o motivo de sua decisão, ele resolveu ficar toda a manhã na cama, o que fez com que perdesse as provas finais da escola de medicina, jogando no lixo a oportunidade de se formar. Depois disso, a sua primeira atitude foi esconder de seus colegas que faltara aos exames e que já não fazia mais parte do curso. Mesmo assim, continuou a freqüentar as aulas, formou-se de mentirinha e alardeou ter arrumado emprego na Organização Mundial de Saúde (OMS) como pesquisador graduado. Logo depois, casou-se com uma farmacêutica com quem teve dois filhos (um casal). Romand formou um círculo de amigos em sua pequena cidade. Todas as manhãs, beijava a família e saía para trabalhar. Desse momento até retornar para casa, Romand mergulhava no seu mundo irreal. Às vezes, entrava como visitante, na OMS, onde assistia a palestras, noutros dias, parava num acostamento qualquer e ali ficava, hora após hora, lendo publicações médicas, comendo sanduíches ou cochilando. O dinheiro de Romand vinha de seus pais, sogros e outros parentes. Ele dizia que, como funcionário da OMS, tinha direito a investimentos especiais em bancos suíços. Pegava as economias deles e, com elas, sustentava um estilo de vida compatível com o de um cientista que tem na agenda encontros com ministros.
Após 15 anos fomentando essa mentira, alguns de seus familiares começaram a perceber que algo estava errado. Temendo que o seu mundo irreal ruísse, Jean Claude Romand matou primeiramente o seu sogro num acidente de carro; após determinado período, foi a vez de sua mulher deixar o mundo dos vivos. Enquanto as duas crianças dormiam em seus quartos, Romand aproveitou para esmagar o crânio da esposa a bordoadas. Na manhã seguinte, deixou a mulher morta na cama e disse aos filhos que a mãe estava indisposta e por isso não havia descido para o café da manhã. Esperou que os filhos dormissem e após o lanche da tarde, deu um tiro em cada um com uma pistola que havia comprado no mesmo dia. Depois do almoço, ele pegou o carro e foi até a casa dos pais. Almoçou alegremente com eles, como se nada tivesse acontecido e após a confraternização atirou nos dois. Depois voltou para a sua casa onde se encontravam os cadáveres de seus dois filhos e da esposa, ateou fogo no imóvel e tomou um vidro de barbitúricos e se deitou para morrer, mas.... não morreu. Em 1993, ele seria preso pela chacina de sua família.
06 – Zodíaco (Zodíaco)
Zodíaco, realmente existiu. Ele foi um serial killer que aterrorizou a cidade de San Francisco no final da década de 60. Após matar as suas vítimas, Zodíaco enviava cartas cheias de escárnio aos jornais, com pistas que escondiam a sua identidade. Ele usava astuciosas mensagens criptografadas que desafiavam as maiores mentes decifradoras de código da CIA, do FBI e da NSA. Nessa época, o autor do livro, Robert Graysmith, era o cartunista de política do maior jornal do norte da Califórnia, o San Francisco Chronicle, de forma que estava lá quando cada uma das cartas criptografadas, cada mensagem codificada, cada farrapo de roupa ensanguentada das vítimas chegava à redação. O seu livro é cheio de detalhes, contendo informações importantes para os leitores que passarão a conhecer como era o “modus operandi” desse misterioso assassino em série.
O próprio Zodíaco assumiu – em carta – para a polícia que cometeu mais de 30 assassinatos. Até hoje, não se sabe a identidade do serial killer que apavorou toda a região de São Francisco com suas cartas repletas de charadas, códigos e ameaças, nem se está vivo ou morto.
Zodíaco se tornou praticamente um mito, repleto de mistérios. Após mais de 40 anos, a polícia americana ainda continua trabalhando nas investigações de alguns dos assassinatos ligados a ele, na esperança de solucionar, pelos menos, um dos homicídios.
O livro de Robert Graysmith também deu origem a um filme que passou nos cinemas em 2007, tendo nos papéis principais: Robert Downey Jr., o Homem de Ferro, e Mark Ruffalo, o Hulk dos Vingadores.
07 – Pennywise (A Coisa)
Como sou um dos muitos fãs de Stephen King, não poderia deixar de acrescentar nessa galeria, um personagem criado pelo mestre da literatura de terror. E quem melhor do que aquele palhaço medonho que tirou o sono de muitos adolescentes no filme “It – A Obra Prima do Mal”, que por sua vez foi baseado no livro “A Coisa”? Portanto, está aí o temível e horripilante Pennywise.
Podemos classificar o palhaço Pennywise ou Parcimonioso como um serial killer sobrenatural, com capacidade para mudar de forma, podendo se transformar num monstro, num animal ou é claro, num palhaço. Ele se alimenta do medo das pessoas, especialmente das crianças, entrando em suas mentes e tomando a forma do maior de seus pesadelos.
No livro “A Coisa”, de Stephen King, a criatura provoca a morte de várias crianças na pequena cidade de Derry. Após 30 anos, a Coisa retorna para fazer mais vítimas, pois precisa matar a sua sede de sangue. É nesta hora que um grupo de amigos que no passado, enquanto crianças, enfrentaram o monstro, conseguindo escapar com vida, decidem se reúnem para o combate final. Uma história por demais horripilante.
08 – Dexter Morgan (Dexter - A Mão Esquerda de Deus)
Pêra aí? Serial Killer do bem??!! Serial killer que trabalha na polícia caçando outros seriais killers??!! Meu amigo, pode acreditar, é verdade!!. E cá entre nós, que sacada inteligente do escritor norte-americano, Jeff Lindsay. O cara foi muito esperto criando um personagem com essas características em seu livro "Dexter – A Mão Esquerda de Deus”  que deu origem a famosa série de televisão que está transbordando de sucesso em vários países, inclusive no Brasil.
No livro, Dexter fica órfão aos três anos e então passa a ser adotado por Harry Morgan, um oficial de polícia e sua esposa. Certo dia, Harry descobre que Dexter esteve matando alguns animais de estimação na vizinhança. Ao chegar a conclusão que o filho adotado é um psicopata, Harry passa a lhe ensinar um código de conduta, o qual ele chama apenas de “O Código”. Durante o treinamento, Harry ensina o filho a canalizar seus instintos violentos apenas contra as pessoas que merecem. Neste código, as vítimas de Dexter Morgan devem ser apenas assassinos violentos que mataram pessoas inocentes com a propensão de repetir esses crimes, ou seja, autênticos serial-killers. Mas não é apenas isso, ou seja, descobrir que o sujeito é um suposto serial e matá-lo; Dexter deve reunir provas de que o criminoso é, de fato, culpado. Para isso, ele começa a trabalhar na polícia como analista forense, onde se torna um dos profissionais mais renomados em sua área. O detalhe mais importante é que Dexter nunca seja descoberto pela polícia e apanhado. Para evitar esse problema, o seu pai lhe ensina como parecer uma pessoa normal e também a encobrir o rastro de seus crimes. Seguindo “ O Código”  a risca, Dexter consegue controlar a sua compulsão em matar. Super sacada de Jeff Lindsay, concordam?
Já foram lançados no Brasil, cinco livros da série com o personagem: “Dexter – A Mão Esquerda de Deus” (2008), “ Querido e Devotado Dexter” (2009), “ Dexter no Escuro” (2010), “Dexter: Design de Um Assassino” (2010) e “Dexter é Delicioso” (2011).
09 – Patrick Bateman (Psicopata Americano)
Esse cara é o que podemos chamar de frio, sanguinário, desalmado e cruel. Um serial killer psicopata e invejoso que mata aquelas pessoas que julga serem melhores do que ele ou então aquelas que vão contra os seus desejos. O prazer de matar e o sadismo moram no centro do seu coração. Ele é capaz de entrar em êxtase com o sofrimento de suas vítimas. Patrick Bateman, personagem do livro “Psicopata Americano”, de Bret Easton Ellis é a própria essência do mal, um verdadeiro monstro.
O autor criou um serial killer com estampa refinada. Bateman é um yuppie bonito, atraente e bem educado que faz fortuna como corretor em Wall Street. Ninguém desconfia que por debaixo dessa fachada se esconde um assassino sanguinário.
Uma das primeiras vítimas de Bateman é o seu colega de trabalho Paul Allen que mostra, casualmente, um cartão de visitas muito mais bonito do que o seu, confeccionado num papel de melhor qualidade. Pronto! Isso já é o suficiente para o yuppie perder o controle e matar Allen a machadadas.
Uma prostituta de rua que recusa um estranho pedido do psicopata também experimenta a sua fúria ao ser morta com uma serra elétrica.
O livro de Bateman é chocante ao extremo e confesso que algumas vezes senti tanta repulsa dos atos infames do personagem que pensei em abandonar a leitura. Bateman tem esse poder de deixar o leitor “P... da Vida” com os seus modos asquerosos e doentios.
Suas torturas envolvem serras, choques elétricos, espancamentos, escalpos e o escambau a quatro. A passagem do romance em que o yuppie psicopata coloca uma ratazana dentro da vagina de uma mulher é ao mesmo tempo estarrecedora e grotesca e deixa evidente toda a maldade e insanidade do personagem.
Enfim, o tal do Patrick Bateman é capaz de tirar o mais tranqüilo e pacato leitor do sério. Uma verdadeira encarnação do mal merecendo fazer parte dessa galeria.

10 – Caronte (As Esganadas)
Não posso deixar de fechar esse post sem a presença de um serial killer brasileiro. E um assassino em série que certamente cairá muiot bem cairia bem nessa galeria seria Caronte, o dono de uma chique funerária. Ele faz parte do novo romance de Jô Soares chamado “As Esganadas”.
Jô fala, em seu livro, de um homem obcecado pela figura materna, que ele matou e segue matando em todas as gordas que encontra pela frente. Caronte, dono da funerária Estige, sempre foi sufocado por uma mãe tirana que maltratava o filho aos extremos, além de ser doentiamente super-protetora. Após assassinar a mãe que é uma mulher mais do que obesa, Caronte passa a vida a vingar-se dela, descontando a sua ira nas mulheres gordas que passam a ser as suas vítimas preferidas.
O personagem criado por Jô, se sente excitado ao matar jovens gordas com receitas portuguesas herdadas da “genitora lusitana”. Geralmente, as vítimas de Caronte morrem sufocadas de tanto comer.
Não cheguei a ler “O Xangô de Baker Street”e prá dizer a verdade, não me sintia nem um pouco empolgado para encarar um livro do Jô, mas como “As Esganadas” foi um presente de aniversário, decidi arriscar a leitura das mais de 260 páginas e não me arrependi. Tanto é que Caronte foi incluído nessa galeria de seriais killers.
Inté!





06 abril 2012

O Outro Lado de Mim - Memórias

Uma boa e outra má notícia sobre o livro “O Outro lado de Mim – Memórias”. A boa: o livro foi escrito pelo próprio Sidney Sheldon e não por qualquer escritor ou escritora “pé rapado” escolhido por meio de concursos. Agora, a má notícia: o livro só tem 376 páginas, ou seja, muito pouco para o seu delicioso conteúdo.
Há mais de sete anos, quando soube que seria lançada uma biografia sobre a vida de Sidney Sheldon, juro que fiquei temeroso porque tinha quase a certeza de que seria preparada por outro autor. Pensava que Sheldon contribuiria apenas com informações sobre a sua vida profissional e particular, mas a missão de redigir a obra caberia a um outro nome do ‘mundo literário’. E como naquela época já estava na moda esse lance de familiares de autores famosos já falecidos ou então muito idosos, selecionarem jovens escritores para prosseguir o legado das “feras”, pensei que a mesma tática seria utilizada pela “Família Sheldon”. Mas nunca fiquei tão feliz por estar enganado. Quando soube que o próprio Sidney Sheldon, apesar da idade avançada, seria o autor de “O Outro Lado de Mim – Memórias” passei a contar nos dedos os dias que faltavam para o seu lançamento. Para ser sincero, preferia o velho mestre, com quase um século de vida, criando o enredo de uma história do que, por exemplo, Tilly Bagshawe  tentando imitar o seu estilo.
Mas vamos ao que interessa: o livro “O Outro Lado de Mim – Memórias”. A obra que Sheldon escreveu pouco tempo antes de morrer é um retrato fiel dos bastidores de Hollywood e também do show bizz. Mas você deve estar se perguntando: “Showbiz??! Onde Sidney Sheldon entra nesse contexto?” Ok, você que tem essa dúvida, saiba que Sheldon antes de se tornar um escritor famoso, trabalhou na “Meca do Cinema” ou seja, em Hollywood, onde foi desde leitor de roteiro até produtor e roteirista de séries que se tornaram antológicas na TV.
Uma das coisas que gostei em “O Outro Lado de Mim” foi a coragem do autor de não esconder absolutamente nada de sua vida, revelando tudo: “tim-tim por tim-tim”. Sheldon foi “hombre” o bastante para não refutar ou mascarar passagens frustrantes de sua vida profissional, incluindo os seus fracassos iniciais em Hollywood, antes de ser escritor. Por exemplo, você sabia que ele foi duramente criticado pelo roteiro e direção de alguns filmes envolvendo grandes  atores o que acabou provocando a sua demissão de estúdio muito famoso na época? Pois é, mas nem por isso, ele desistiu; pelo contrário, continuou escrevendo argumentos e roteiros e enviando-os para diversos estúdios, até que  um deles aceitou produzir “Jeannie é um Gênio” que abriria as portas da fama para Sheldon. Antes, ele também havia escrito o roteiro de “The Patty Duke Show”, outro estrondoso sucesso de sua carreira como roteirista de séries televisivas. O êxito de público e crítica dessas duas séries de TV provaram que o fracasso inicial de Sheldon havia sido apenas um mero acidente.
Com relação a “Jeannie é um Gênio”, Sheldon capricha nos detalhes de bastidores, revelando como era o comportamento de Barbara Eden, que interpretava Jeannie e também de Larry Hagman, o conhecido Major Nelson. Ele conta como as diferenças de personalidade dos dois protagonistas acabaram contribuindo para o fim da cultuada série que surgiu em 1965 e durou cinco anos no ar.
Sheldon ‘passeia’, também, em comentários maravilhosos sobre o seu relacionamento com lendas sagradas de Hollywood como Judy Garland, Kirk Douglas, Groucho Marx entre outros.
Conta passagens tristes e alegres envolvendo diretores, produtores e donos de estúdios que puxaram o seu tapete nos bastidores e daqueles que fizeram de tudo para que ele se tornasse conhecido em Hollywood.
O livro revela ainda certos segredinhos guardados a sete chaves pelos estúdios, como aquele envolvendo Clark Gable, o ator principal de “E O Vento Levou”. Um poderosíssimo magnata da indústria cinematográfica teria dito batido as portas na cara do ator – antes da fama, é claro – dizendo que jamais lhe daria um papel por causa das suas orelhas grandes e pontudas. “Você se parece um macaco! Jamais vou contratá-lo!”, teria dito o executivo. Pouco tempo depois, ele atingiria o estrelato em “E O Vento Levou”, arrancando suspiros apaixonados das mulheres de todo o mundo como o aventureiro Rhett Buttler. Outro drama semelhante teria sido enfrentado por outra lenda do cinema americano: Gary Grant. Ele teria sido rejeitado por vários estúdios por causa do seu pescoço que, segundo os executivos e produtores seria grosso demais!! Há ainda uma revelação surpreendente sobre o filme “Guerra nas Estrelas” envolvendo o cultuado Mestre Yoda que acabou se tornando um ícone da cultura pop dos anos 70. Juro que o meu queixo caiu quando sobre do segredinho sobre esse personagem.
Estas são apenas algumas passagens ‘apetitosas’ de “O Outro Lado de Mim” contadas com maestria por Sheldon. Costumo dizer para os meus amigos que essa parte do livro é apenas um aperitivo – e muito bem preparado - para o prato principal que abrange a fase de escritor de Sheldon. Os capítulos desse contexto, apesar de poucos e curtos, também tem o poder de prender os leitores – principalmente os fãs do escritor – como mosquitos numa teia de aranha. Ele conta como surgiu a oportunidade de publicar o seu primeiro livro, “A Outra Face”, e como descobriu a sua “veia” de escritor de romances. Escreve ainda sobre as reações que os seus livros causaram em muitos leitores, influenciando diretamente na vida dessas pessoas.
Sheldon é uma represa aberta, não escondendo nenhum segredo de sua vida, nem mesmo os mais ocultos, como a revelação de que era portador de psicose maníaco depressiva, o que o levou a tentar o suicídio. Narra também em clima de aventura os seus momentos de piloto de avião durante a Segunda Guerra Mundial; a infância pobre e sofrida e os desentendimentos constantes com os pais.
Enfim, um livro aberto, sem segredos e ultra-revelador, o que convenhamos, está ficando cada vez mais difícil nas biografias e auto-biografias atuais, onde os autores procuram mascarar o lado podre ou negativo de suas vidas e priorizar o lado ‘azul’.
Podem ter certeza, em “O Outro Lado de Mim – Memórias”, isso não acontece. Parabéns a Sheldon pela sua coragem.

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