28 janeiro 2018

Guerra do Velho




Ressaca literária e das bravas! É isto que estou sentindo após a leitura de “Guerra do Velho” de John Scalzi. Ainda estou sob o efeito das últimas páginas do livro mostrando toda a evolução de John Perry como um soldado das Forças Coloniais de Defesa (FCD). Cara, o sujeito é fodástico. E esse fodástico não está relacionado apenas ao “módulo ação”, onde o personagem literalmente arrebenta (a descrição das batalhas interestelares de Scalzi equivalem em qualidade com a descrição das batalhas medievais de Bernard Cornwell), mas principalmente ao “módulo originalidade”.
Perry te conquista logo nas primeiras páginas do livro. Se ele é arrogante, também tem os seus momentos de humildade; se é inseguro em alguns assuntos, também transforma-se no cara mais auto-suficiente quando o perigo cutuca as suas costas; se é sacana em poucos momentos, é honesto em outros. Enfim, John Perry é uma cópia perfeita de todos nós, com os nossos defeitos e com as nossas virtudes. Certamente, é por isso que os leitores de “Guerra do Velho” se identificam tanto com esse soldado das FCD.
O romance de ficção científica ainda tem outros personagens cativantes, alguns tão interessantes quanto Perry. É o caso de Jane Sagan, por exemplo, que aparece na página 273, ou seja, bem perto do final da história, mas nem por isso deixa de ser importante para o enredo, tanto é que em “As Brigadas Fantasma” – sequência de “Guerra do Velho” – ela ganhará o status de protagonista. Alan, Jesse, Thomas, Sargento Ruiz, entre outros, alguns com breves passagens e o restante permanecendo um pouco mais na história, também tem carisma suficiente para ganhar a simpatia dos leitores.
Acredito que a grande sacada de “Guerra do Velho” foi a de não direcionar todos os holofotes para a trama central da história, esquecendo-se do desenvolvimento dos personagens. Tanto é que até perto da metade do livro, o autor se preocupa apenas em mostrar as angustias e expectativas de homens e mulheres idosos com relação a decisão de se alistar nas Forças Coloniais de Defesa. As batalhas, esquemas táticos, derrotas, vitórias, motivos dessas guerras, divergências entre soldados e seus superiores, apresentação de mocinhos e bandidos e etc e mais etc, só começam a aparecer do meio da obra em diante. Antes de chegar nesse âmago da história, temos os conflitos, dúvidas e certezas dos personagens. E posso garantir que você não consegue largar as páginas um minuto sequer. A escrita de Scalzi te prende como uma verdadeira teia de aranha, tantos nos momentos de ação quanto nos momentos de interação entre os personagens.
Em “Guerra do Velho”, finalmente a humanidade chegou à era das viagens interestelares. A má notícia é que há poucos planetas habitáveis disponíveis – e muitos alienígenas lutando por eles. Para proteger a Terra e também conquistar novos territórios, os humanos precisarão de tecnologias inovadoras e também de um exercito disposto a arriscar tudo. Esse exército, conhecido como Forças Coloniais de Defesa (FCD), não apenas mantém a guerra longe dos terráqueos e colonos, como também evita que eles saibam demais sobre a situação do universo. Mas, para se alistar, é necessário ter mais de 75 anos. John Perry acaba aceitando esse desafio, após a morte de sua esposa, mesmo tendo apenas uma vaga idéia do que pode esperar.
Scalzi  trata de temas comuns, mas ao mesmo tempo polêmicos que fazem parte do nosso dia a dia, como militarismo, ética, envelhecimento e amor.
“Guerra do Velho”, lançado originalmente em 2005, faz parte de uma saga de seis livros, dos quais apenas dois foram lançados no Brasil, até agora, pela Apeph – “Guerra do Velho” e “As Brigadas Fantasma”. A boa notícia é que a editora anunciou que pretende colocar no mercado tupiniquim todos eles. A má notícia é que ainda não há um cronograma de datas confirmado.
Portanto, só resta os leitores aproveitarem ao máximo, por enquanto, os dois primeiros volumes.
Ah! Antes que me esqueça. Vocês devem estar curiosos para saber como homens e mulheres com mais 75 anos podem se transformar em soldados e diga-se, muito bem capacitados. Cá entre nós, seria muita sacanagem do blog queimar o mote principal do enredo. Por isso, recomendo que leiam o  livro e descubram.
Vale muito a pena!

24 janeiro 2018

A madrugada que eu quase perdi mais da metade dos meus livros



O susto foi tão grande que somente agora – após mais de um mês – consegui me recompor para escrever sobre o assunto. Imagine você, um leitor inveterado,  vendo ir para o saco um trabalho que ama e que demorou anos para edificá-lo. No meu caso, ‘esse trabalho’ se chama livros, muitos livros, mais de 300, o que para mim já é o suficiente para mensurar como ‘muitos’.
Tudo neve início em uma das madrugadas desse verão chuvoso que estamos vivendo. Percebi um barulho estranho no cômodo onde estão as minhas duas prateleiras de livros. Quando fui verificar... c-a-r-a-c-a!! Não estava caindo goteiras pelo teto; na realidade o teto tinha se transformado nas cataratas do Niágara! Cara, a água caia pelos quatro cantos do forro de alvenaria, além de escorrer por uma das paredes, justamente aquela que está próxima de uma das estantes de livros. Quanto a outra estante: pinga ni mim! Estava sendo bombardeada por um exército de goteiras.
Estantes esvaziadas às pressas
Naquele momento fiquei impotente. Começou a passar pela minha cabeça um filme dos anos que havia demorado para construir aquele pequeno acervo. Ali, na minha frente  – enfrentando a ira das água de um temporal recheado de raios e relâmpagos – não estavam simples livros que ao serem molhados e perdidos, poderiam simplesmente ser trocados por outros mais novos. Ali estava toda a minha história de leitor, desde os primórdios da infância até a fase adulta.
Bacias, plásticos e baldes tentando proteger o novo piso

Faziam parte daquelas estantes os primeiros livros que eu havia ganhado de minha mãe e que me instigaram o prazer pela leitura; ali estavam as pedras fundamentais da minha pequena biblioteca com mais de três centenas de livros, ou seja, os dois primeiros romances que deram início ao sonho de ter um acervo de obras literárias em minha casa; ali estavam os livros que ganhei de  Lulu e também de  amigos queridos, cada um deles com uma história diferente; ali estava o livro que recebi de uma grande editora antes do primeiro ano de blog, sem ter nenhum tipo de parceria – foi algo espontâneo dessa editora – enfim, naquelas estantes havia toda uma história que se sucumbia perante o forte temporal.
Única solução: isolar toda a sala de leitura até a troca de parte do telhado
Após superar o sentimento de impotência, cai na real e comecei a salvar o que era possível. Como caixas de papelão não combinam com água, apelei para as bacias de alumínio e literalmente derramei sobre elas todos os livros que podia. Cai 3, cai 5, cai 10, cai 15 e por aí foi.
Após todo esse trabalho durante parte da madrugada parecido com uma missão de resgate, não consegui voltar para cama e dormir. Como?!
Na mesma hora comecei a fazer uma análise do que havia perdido e do que poderia ser recuperado. À primeira vista, o panorama não era tão desalentador o que me deixou mais tranqüilo. Realoquei todos os livros nas mesas da sala, cozinha e nas camas dos quartos.
Hoje, sei o quanto Deus é bom; apesar do susto não tive prejuízos. Os livros que foram atingidos pela chuva – um deles de muita importância sentimental, além de raro – não estragaram e puderam ser restaurados, já que tinham as capas duras e plastificadas.
Em cada canto da casa, um montinho de livros
Costumo dizer que ‘eles’ eram os soldados da tropa de choque, do pelotão da frente, os infantes que encararam a violência da água com seus escudos (capas duras) protegendo as páginas de um estrago maior. Essas obras sofreram apenas algumas pequenas manchas nas páginas das lombadas superiores, nada grave. Um bibliotecário, amigo meu, já está cuidando de restaurá-los, assim como os outros livros que sofreram pequenas avarias, nada de mais grave.
Enquanto redijo essas linhas, fico pensando que essas pequenas ‘marcas de guerra’ que ficaram em algumas obras literárias entrarão para a minha história vida, pois toda vez que eu olhá-las me lembrarei daquela fática madrugada quando quase  perdi metade dos meus livros.
Depois do pânico, vale até uma brincadeira: “hoje deixei de encarar esses livros como livros, mas como verdadeiros soldados que resistiram bravamente ao ataque do inimigo (rs)”
Ah! Antes que me esqueça: O motivo da invasão das águas foram telhas que se deslocaram com a forte ventania.
Fazer o quê? Só resta providenciar a troca de parte do telhado velho por um novo.
Inté!

19 janeiro 2018

Rios Vermelhos

Um livro fantástico. Não há a necessidade de ficar derramando uma infinidade de elogios, apenas essas três palavras já bastam. “Rios Vermelhos” do  escritor francês Jean-Christophe Grange tem todos os elementos necessários que um livro policial precisa para se tornar um grande sucesso, um verdadeiro bestseller.
Além de um serial killer inteligente, violento e ao mesmo tempo enigmático, o enredo da história é cheio de reviravoltas que provocam inúmeras surpresas no leitor. Antes de escrever essa resenha, disse à um amigo para o qual havia recomendado a obra que Grange ‘brinca’, no bom sentido, com o leitor, ou seja, no momento que você pensa que a narrativa flui para algo natural, pimba! A reviravolta na trama chega de maneira inesperada.
Como tempero extra para um enredo cheio de mistérios, reviravoltas e surpresas, temos uma dupla de detetives impagável: um francês e outro árabe. Pierre Niémans e  Karim Abdouf são tão carismáticos, tão peculiares que até ganharam um post exclusivo no blog (ver aqui). Eles  adotam duas linhas de investigações diferentes mas que no final acabam convergindo para o mesmo crime. No início, os dois policiais não sabem da existência um do outro, mas no meio do romance quando ambos se encontram... sai de baixo.
De um lado, temos Niémans, um detetive  muito bem conceituado dentro da polícia francesa, mas acontece que o cara tem o pavio curto. Resumindo: ele é inteligente ao extremo e com habilidades de dedução que não ficam devendo nada a Sherlock Holmes, mas... o sujeito é sangue quente, gosta de quebrar os outros na porrada.
Do outro, temos o policial árabe Abdouf que é tão sangue quente quanto Niémans, além de ter um QI acima da média e com o mesmo poder de dedução do tira francês.
Por causa dessas peculiaridades nunca torci tanto pelo encontro de dois tiras como em “Rios Vermelhos”.
O livro de Grange pode ser considerado um dos melhores romances policiais de todos os tempos. Na trama, um serial killer mata um homem e deixa o seu corpo nu e todo mutilado encravado na pedra de uma montanha numa cidadezinha universitária francesa. Os indícios são os de que o assassino mutila as suas vitimas ainda vivas, extraindo os seus olhos e cortando os seus membros para só depois matá-las. Apenas crimes com requintes de crueldade ou obra de uma seita satânica?
Durante a investigação Niemans e Abdouf acabam descobrindo que os assassinatos estão relacionados diretamente à um plano sórdido envolvendo alguns moradores da pequena cidade. Meu! É surpresa atrás de surpresa! Haja coração.
A caçada alucinante ao assassino termina com a revelação de sua identidade no final do livro. E para variar, o autor reserva outra surpresa para os leitores.
A obra literária de Grangé também rendeu um filme no ano 2000 com Jean Reno e Vincent Cassel que apesar de muito bom, não chega aos pés do livro.

Leiam “Rios Vermelhos”. Vocês não irão se arrepender. 

15 janeiro 2018

A Profecia

Existem novelizações e cópias de roteiros. Com relação às primeiras, com muuuiito sacrifício e uma tremenda força de vontade ainda conseguimos lê-las, mas quanto as segundas... My God! São o terror de qualquer leitor, incluindo os mais contumazes.
“A Profecia” de David Seltzer se enquadra na primeira categoria, quantos aos outros dois livros posteriores (“Damien - A Profecia II” e “A Profecia – Conflito Final”) se encaixam com honras e méritos na categoria de cópias de roteiros cinematográficos. Portanto, se você assistiu aos filmes, esqueça esses dois livros, pois com certeza não conseguirá lê-los. O motivo é simples: tudo o que você viu na tela foi copiado para as páginas, desde falas às situações vividas por personagens. Basta imaginar-se assitindo, novamente, o filme no livro.
Quanto “A Profecia”, o tempero muda um pouco, para melhor. Seltzer que também escreveu o roteiro do filme tomou alguma liberdade com relação ao livro. Com isso, os leitores ganharam cenas adicionais – que não estão no filme – enredo mais descritivo e personagens um pouco mais profundos. O escritor e roteirista, por exemplo, explorou melhor o passado dos personagens principais, além de modificar as suas características físicas e também algumas atitudes com relação aos atores do filme. Estas peculiaridades ficam evidentes na personagem Srª Baylock, a babá do pequeno Damien, que na realidade pertence a uma seita satânica responsável pela vinda do anticristo. A Baylock do livro é uma mulher enorme, gorda, alta, já idosa e feia, enquanto a personagem do filme – interpretada pela atriz britânica Billie Whitelaw com 44 anos na época e ainda no auge de sua beleza – é totalmente a antítese da babá do cinema, pelo menos no que se refere aos atributos físicos.  
A cena da briga entre o pai de Damien e a babá que culmina com uma tragédia é mais violenta e melhor detalhada no livro do que no cinema.
O fotógrafo Jennings também é explorado em detalhes na obra escrita, enquanto no filme ficamos sabendo pouca coisa sobre a sua personalidade.
Mas apesar de Seltzer ter dado a devida atenção no momento de ‘enquadrar’ o roteiro do filme nas páginas de seu livro, a obra não deixa de ser uma novelização e com muitas semelhanças com o filme dirigido por Richard Donner em 1976 e que tinha Gregory Peck e Lee Remick nos papéis principais.
Por isso, se você viu o filme há apouco tempo e ainda se recorda da maioria das cenas, acredito que será uma baita perda de tempo ler a obra de Seltzer porque a  maioria do que você viu na tela do cinema também estará impresso nas páginas numa cópia; perfeita, mas que nem por isso, deixa de ser uma cópia.

Inté!

12 janeiro 2018

“A Forma da água”, novo livro de Guillermo del Toro, chega ao Brasil em fevereiro





Guilhermo del Toro fez fama no cinema e mais recentemente na literatura em cima de monstros e seres míticos. Taí Hellboy, O Labirinto do Fauno, Mutação, O Circulo de Fogo e na literatura a saga Trilogia da Escuridão que não me deixam mentir. E para na fugir da rotina, eis que o cineasta e escritor mexicano acabou de lançar  uma cartada dupla onde o protagonista é... adivinhem quem? Um ser mítico. Para ser exato: um homem-anfíbio.
O tal homem-anfíbio chegará em dose dupla, ou seja, nas páginas e também no cinema. Eu explico melhor: Certo dia, del Toro teve a idéia de desenvolver um roteiro sobre uma mulher que se apaixona por um ser marinho, capturado pelo governo para experiências militares. Nascia assim o plot para uma história  que segundo o conhecido cineasta teria tudo para fazer sucesso.
A sua idéia inicial seria transformar o enredo num romance. Para isso, ele procurou o amigo Daniel Kraus com o qual já havia trabalhado previamente em “Caçadores de Trolls”. Enquanto trabalhavam juntos no desenvolvimento da história, os dois tiveram uma idéia estranha, mas ao mesmo tempo original: eles trabalhariam a história de maneira independente para o cinema e a literatura.
Então você me pergunta: “PQP! Vem aí mais uma novelização??!”.
Não. Podem ficar tranqüilos porque, segundo del Toro e Kraus, o projeto vai passar muito longe disso. Pelas notícias publicadas nas redes sociais, dá-se a entender que del Toro ficou mais envolvido com a parte cinematográfica, enquanto à Kraus coube cuidar da vertente literária. Ambos com ampla liberdade para criar em cima da essência do enredo.
Bem galera, nascia assim “A forma da água”: livro e filme. O romance será publicado no Brasil pela Intrínseca em 27 de fevereiro. O longa, que já ganhou o cobiçado Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Veneza e abriu o Festival de Cinema do Rio, será lançado pela Fox Searchlight Pictures no dia 1º de fevereiro de 2018 nos cinemas brasileiros.
O elenco do filme conta com Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Michael Stuhlbarg, Octavia Spencer e Doug Jones como o homem-peixe.
A história se passa durante a época da Guerra Fria, em Baltimore, em um centro de pesquisa aeroespacial que acaba de receber um bem precioso: um homem anfíbio capturado na Amazônia. O que se desenrola é uma angustiante história de amor entre o anfíbio e uma das zeladoras do laboratório, uma mulher muda que usa a linguagem de sinais para se comunicar com a criatura.
Vamos aguardar a chegada dessas duas datas para compararmos as duas obras; só então poderemos responder se “A Forma da água” é um romance que merece todos os elogios ou se não passa de mais uma malfadada novelização.
Esperemos.


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