30 dezembro 2011

“O Temor do Sábio”, finalmente chegou!

Finalmente chegou! Depois de tanto tempo de espera, ilusões e expectativas, já “desembarcou” nas principais livrarias de todo o País, o segundo volume do livro “A Crônica do Matador do Rei”.
Por isso, estou aqui, bancando o arauto, apenas para avisá-los dessa grande novidade. Não quero dar nenhum detalhe sobre a obra para não soltar a língua nos dentes e acabar revelando segredos do enredo, naqueles spoilers inconvenientes.
E atenção, estou me referindo à venda e não pré-venda. O livro de Patrick Rothfuss que após a sua tradução para o português recebeu o título de “A Crônica do Matador do Rei: O Temor do Sábio” já está à venda na maioria – para não falar em todas – as livrarias virtuais. E se você reside num grande centro urbano, com certeza encontrará a obra em alguma livraria de sua cidade.
É só escolher: compra virtual ou real. O livro de 960 páginas custa em média R$ 60,00, mas aqueles que vasculharem pela Net, com certeza encontrarão promoções especiais. Mas fica o conselho para que os interessados se apressem, porque os preços do livro estão oscilando mais do que a Bolsa de Valores. Por exemplo, até ontem a noite na Submarino, o “O temor do Sábio” estava saindo por R$ 35,00. Hoje pela manhã, o livro já estava R$ 5,00 mais caro.
Encontrei o valor mais em conta na Fnac, R$ 35,90, à vista. Já nas outras lojas virtuais: Siciliano, Saraiva, Ponto Frio, Extra e etc, o valor varia de R$ 56,90 a R$ 43,00.
Portanto pessoal, mãos à obra, ou melhor... mãos ao livro de Rothfuss, e boa leitura!

29 dezembro 2011

Livros, enciclopédias, revistas e álbuns de figurinhas que marcaram a nossa infância

Não sei onde, há algum tempo, vi ou ouvi um ditado mais ou menos assim: “Para recordar os bons momentos da infância vale a pena quebrar qualquer regra”. Achei esse “provérbio” estranho, naquele tempo, mas hoje, ao escrever esse post passo à entendê-lo melhor, pois estou acabando de quebrar uma das regras fundamentais desse blog que é a de abordar apenas assuntos relacionados à livros. Mas, para recordar os momentos marcantes de minha infância e pré-adolescencia me vejo, neste momento, escrevendo sobre enciclopédias, gibis e pasmem, até mesmo álbuns de figurinhas!! Tudo isso, num blog criado com a proposta de opinar sobre “L – I – V – R – O – S”. Pois é, só agora fui entender o verdadeiro significado daquele ditado de idos tempos.
Tudo começou numa madrugada da semana passada, quando cheguei em casa após a conclusão de uma reportagem e comecei a fuçar algumas caixas na esperança de encontrar rascunhos antigos que poderiam me ajudar na elaboração da minha matéria. Foi então que encontrei, ali abandonado e com a capa um pouco corroída pelas traças, um volume de capa azul da enciclopédia Trópico. Pronto! Foi o suficiente para desencadear uma “reação em cadeia” em minha mente que me levou a voltar ao tempo várias décadas, na época de minha infância e pré-adolescência.
Tudo bem, vou abrir o confessionário: não tenho vergonha de admitir que na minha puberdade fui um “meio- nerd”. Nos anos 70, essa palavrinha ainda não era conhecida, mas muitos jovens já se enquadravam na categoria do chamado “nerd à moda antiga”, ou seja, aquele adolescente que preferia ficar “afundado” nos livros – nesta época ainda nem sonhávamos com a tal da Internet - lendo, relendo e pesquisando, ao invés de sair, passear, namorar, enfim, ter uma adolescência normal. Portanto, as enciclopédias e os livros substituíam as páginas virtuais.
E a minha puberdade, pré-adolescência e que se dane, vá lá: até mesmo a minha adolescência; foi marcada dessa maneira. Saía às vezes, tinha os meus amigos e os namoricos adolescentes, mas confesso que preferia ficar em casa lendo, lendo e relendo... viajando com as histórias das páginas de inúmeras obras. E uma das obras que posso culpar pelo meu lado  “nerd anos 70” foi a enciclopédia Trópico, da editora Martins Fontes. Por isso, irei começar esse post por ela. Na sequência estarei relembrando outras nove obras, entre livros, enciclopédias e até álbuns de figurinhas – que marcaram a minha infância e pré-adolescencia e, tenho certeza, também de muitos quarentões ou cinqüentões de hoje.
01 – Trópico (Enciclopédia)
Essa enciclopédia, literalmente, marcou a minha vida. Com certeza, foi a grande responsável por despertar em mim o gosto pela leitura. Lembro que nos anos 70, após “passar de ano” – naquela época ainda não usávamos a palavra ‘aprovado’ – minha mãe me presenteou com a coleção completa do “Trópico” com os seus 10 volumes com capas multi-coloridas. Acho que tinha uns 12 anos e quando vi o presentão de mamãe entrei em estado de graça, nem mesmo um autorama gigante que ocupava todo o meu quarto, presente do meu tio, me trouxe tanta alegria como aqueles 10 livrões de capas azul, laranja, preta e por aí afora.
Recordo dos momentos que ficava sentado na poltrona do papai na sala – e dos quais nem via as horas passarem – viajando com os conhecimentos da famosa e saudosa enciclopédia. E que viagem gostosa. “História da Humanidade”, “História das Religões”, “Mitologia Grega”, “Mitologia Nórdica”, “Castro Alves”, “José Bonifácio”,  “biografias de personagens famosos da nossa história”, “História dos presidentes do Brasil”, etc e mais etc. Esta é apenas uma pequena prévia dos inúmeros dos assuntos que ocupavam as páginas do Trópico.
As histórias sobre o anel dos nibelungos e a queda de Tróia, respectivamente mitologia nórdica e grega foram as que mais marcaram a minha infância na época saudosa do Trópico. A história de Orlando Furioso, poema épico, escrito pelo italiano Ludovico Ariosto em 1516 foi outro tema marcante para mim. A enciclopédia transformou o poema de Ludovico em prosa, tornando assim, a leitura muito mais atrativa.
A Enciclopédia Trópico foi publicada no Brasil em 1957 pela Editora Martins S.A, tendo como diretor José Giuseppe Maltese e reunia 10 volumes abordando assuntos gerais. Após o seu lançamento, nos anos 50, “O Trópico” continuou dominando as estantes das residências e escolas  durante vários anos. Era considerada a grande “pop star” dos vendedores ambulantes de enciclopédias que visitavam nossas casas naqueles tempos.
Pena que num momento de “pura insanidade” resolvi doar os meus 10 volumes ao invés de restaurá-los. Agora é tarde demais para chorar pelo leite derramado. Que pena...
02 – Conhecer (Enciclopédia)
Depois do Trópico, outra enciclopédia que deixou marcas profundas – no bom sentido, é claro – em minha vida foi “Conhecer”. Ela era a menina dos olhos do meu irmão mais velho que toda semana ia até a única banca de revista da cidade para reservar o seu fascículo. Apesar de ter um ciúme danado das suas aquisições, ele deixava que eu me deliciasse com os assuntos que faziam parte do contexto de “Conhecer”. Ele sabia do meu vício pela leitura e então, permitia que eu também lesse os fascículos, não sem antes fazer uma “montanha” de recomendações: “Não deixa as páginas com orelhas”, “não dobre”, “não amasse”, “está com as mãos limpas??”, além de tantas outras.
O que mais me chamava a atenção em “Conhecer” eram as suas capas muito bem produzidas para uma enciclopédia da década de 60. Nossa! E como eu viajava com os temas desenhados naquelas capas. Sentia como se estivesse dentro daquele cenário, participando ou observando a ação ilustrada. As duas capas, que apesar de mais de 4 décadas ainda não esqueci, traziam as ilustrações de um submarino navegando numa noite estrelada; se não me engano o resumo do assunto em pauta na tarja amarela que ficava no lado esquerdo da capa estava relacionado com átomos ou energia nuclear. A outra capa tinha a ilustração de uma estação espacial e abordava o tema astronomia.
A cada certa quantidade de fascículos adquiridos, o colecionador comprava na banca uma capa dura para o volume ser encadernado.
Posso dizer que “Conhecer” foi uma das mais famosas, se não, a mais famosa, enciclopédia em fascículos lançada pela Editora Abril Cultural. Ela viria se tornar referência para os trabalhos escolares dos alunos que cursavam o ginasial. Foi um sucesso estrondoso na época, chegando a vender mais de 100 milhões de exemplares, além de ter 13 edições em 30 anos. Um verdadeiro fenômeno cultural.
A minha maior tristeza foi o meu irmão ter desistido de colecionar essa enciclopédia após “perder” alguns fascículos. Ao final, os poucos que sobraram, ele acabou doando. E naquela época, eu era muito pequeno para contestar tal atitude. E afinal de contas, era ele quem comprava os fascículos...
03 - Reader’s Digest (Seleções)
O que falar de uma “revistinha” publicada em 35 línguas e distribuída para 120 países? Dá para criticar um meio impresso com esses números? Mesmo assim, pode acreditar, mas as “Seleções do Reader’s Digest chegou a receber várias críticas na época; do tipo: cultura condensada, cultura americanizada e até mesmo assuntos simplórios. Mas, não dava ouvidos a nenhuma dessas críticas, já que o mais importante era atacar e devorar a coleção do Reader’s Digest do meu irmão.
Lembro que “Seleções” trazia em suas páginas diversos assuntos, entre os quais, saúde, humor, diversão, meio ambiente, entre outros. A tal revistinha era tão poderosa que nos anos 70 chegou a fazer concorrência com a ultra-famosa revista “O Cruzeiro”. A sua tiragem atingia nessa época, cerca de 500 mil exemplares mensais.
As sessões da revista que mais me atraiam eram “Piadas da Caserna” que tinha um humor bem ácido e o “Livro do Mês” que trazia de maneira resumida um livro de grande sucesso naquele período.
Podem pensar o que quiserem, mas “Seleções do Reader’s Digest” fez parte da minha infância...
04 – Manual do Professor Pardal
Quando o “Manual do Professor Pardal” foi lançado pela editora Abril, em 1972, eu tinha 11 anos de idade. O manual foi um amor sem limites em minha vida, tanto é, que até hoje o trago guardado comigo, todo remendadinho com fita crepe. O “Manual do Professor Pardal” foi um dos primeiros livros que tive. A obra trazia um monte de invenções criadas pelo conhecido professor, considerado o personagem mais inteligente desenvolvido por Walt Disney. Ele era capaz de inventar tudo o que lhe pediam e assim, surgiam as mais loucas engenhocas. Cara! Como eu era fã do Professor Pardal. Devo ter ficado muito feliz quando ganhei o seu manual, exemplo disso, é que o trago comigo apesar de decorridos muitos anos.
Não pensem que o livro só trazia invenções mirabolantes e impossíveis. Nada disso. Havia, também espaço para os projetos sérios, entre os quais: como construir um periscópio. Cheguei a fazer muitas invenções publicadas no manual e juro que me senti o próprio Professor Pardal.
05 – “Perdidos no Espaço” (Álbum de figurinhas)
Que delícia recordar, no exato momento em que escrevo esse post, dos meus tempos de menino; quando aos domingos chegava em casa correndo, depois de brincar com os meus primos, completamente sem fôlego, somente para não perder o seriado Perdidos no Espaço. Eram os famosos anos 60 e eu estava – se não me falhe a memória – no finalizinho do primário, pronto para pular de fase na escola. Êta seriado bom! E por ser tão fã da famosa série do Dr. Smith, quando foi anunciado o lançamento do seu álbum de figurinhas, fiquei eufórico. Grande parte da minha mesada gastava na compra de figurinhas para completar o álbum. Quantos “bafos” joguei com os meus amigos de infância na esperança de faturar os cromos que faltavam para completar o álbum! Colocávamos quatro ou cinco figurinhas viradas para baixo e batíamos nelas com a mão em forma de concha. Aqueles que conseguissem virá-las  passavam a ser os seus proprietários. Rapaz! E a emoção ao abrir um maço de figurinhas que havia acabado de comprar na banca! Ficava torcendo para ser contemplado com "uma difícil”.
Caso contrário, se viesse uma repetida, a decepção era grande. Lembro que naquela época tínhamos o hábito de batizar as figurinhas com apelidos. Chamávamos de “lepra”, aquelas figurinhas repetidas que saíam em quase todos os maços; quanto as raras que dificilmente vinham repetidas, eram conhecidas por “difíceis”. Ah! E esqueçam as auto-adesivas, naquela época nem sonhávamos com esse recurso; tudo era na base da goma-arábica (se lembram dessa cola?) ou então da cola preparada com trigo. Quanto as colas de tubinho (do tipo Tenaz) ainda eram consideradas grandes novidades, talvez nem existissem ainda.
E é nesse clima gostoso de saudosismo que um dia desses recordei de “Perdidos no Espaço”, o meu primeiro álbum de figurinhas, que me ajudou muito no trato com as palavras, pois sempre estava lendo as aventuras da família Robson, enquanto colecionava os seus cromos.
O álbum “Perdidos no Espaço” foi lançado no Brasil em 1968, como já disse, devido ao estrondoso sucesso da série de TV homônima dirigida por Irwin Allen.  A responsável pelo lançamento foi a Editora Verão que já havia colocado no mercado outros álbuns como “Bonanza” e “Pra Frente Brasil”, esse, em homenagem a conquista do tri-campeonato da nossa seleção no México em 1970.
Além das figurinhas do seriado de TV; o álbum nos brindava com outras sessões – que também podiam ficar recheadas de figurinhas - cujos nomes estavam relacionados com o espaço sideral, temática principal de “Perdidos no Espaço”. Coisas do tipo: “O Homem e o Universo”, com cromos sobre a conquista do universo pelo homem; “Galáxia da TV”, com os artistas famosos da televisão daquela época; “Satélites do Riso”, com figurinhas dos principais comediantes daqueles tempos; “Estrelinhas do Espaço”e por aí afora..
“Perdidos no Espaço”, em minha humilde opinião foi um dos melhores álbuns de figurinhas daqueles tempos. Quem não se lembra do Dr. Smith, Will, Major West, Judy e é claro o famoso Robô com a sua frase antológica: “Perigo”, “Perigo”, Perigo”!!
06 – El Cid (Álbum de figurinhas)
Taí mais um álbum de figurinhas que marcou. Sei que pode soar estranho, afirmar que um dos maiores ídolos de infância foi “El Cid”. Com certeza, algum leitor nesse momento deve estar exclamando: “Caraca! Esse sujeito não teve infância1” ou então: “Que cara anormal!”. Fazer o que... eu admirava o personagem interpretado nos cinemas pelo ator Charlton Heston. E fiquei fã depois de ter assistido ao filme. Rodrigo Diaz de Bivar, mais conhecido por El Cid, foi um herói espanhol do século XI que uniu os católicos e os mouros do seu país para lutar contra um inimigo comum: o emir Ben Yussuf (Herbert Lom). Após vários anos de cruzada pela libertação do país, o herói morreu antes da batalha final, alvejado no peito por uma flecha moura. Mas aqui cabe uma observação importante. Após receber a flechada fatal, El Cid em seu leito de morte, vendo o desânimo de seu exército com a situação, exigiu aos seus generais que tão logo, ele viesse a morrer, o seu corpo fosse amarrado firmemente na sela de seu cavalo para que os seus comandados pensassem que ele estivesse vivo. E foi assim, que durante a batalha final, os mouros ao verem o exército espanhol sendo liderado pelo seu grande comandante El Cid – que julgavam estar vivo - se colocaram em fuga.


Agora me responda... como não gostar de um sujeito desses?! Amei o filme e depois quando soube que seria lançado um álbum de figurinhas sobre o lendário El Cid, é claro que corri na banca para adquiri-lo. O álbum foi lançado pouco tempo depois do filme, no final dos anos 60.
É importante lembrar que tanto o álbum “El Cid” quanto “Perdidos no Espaço se transformaram em verdadeiras raridades. Já vi na Internet ofertas que ultrapassam os R$ 3 mil!! Por cada um deles...
07 – Mandrake (Gibi)
Nem Super-Homem e tão pouco Homem Aranha. X-Men? Nem sei se existia naqueles tempos; o gibi que fazia a minha cabeça era o de um mágico porreta: o Mandrake. Antes de “mergulhar” no meu hobby por livros; os quadrinhos – que mais se parecia com uma revista - desse mágico elegantérrimo que só usava ternos finos, luvas, cartola e uma capa de seda com forro vermelho era a minha leitura favorita.
Mandrake com o seu bigode do tipo ‘escovinha’ era duro na queda e as suas histórias prendiam a minha atenção de noite ou de dia. Hoje, em minha casa, não sobrou uma revista sequer. Culpa da mudança mal planejada de residência que correu em minha infância/adolescência. Depois de alguns anos na nova moradia, fui procurar os gibis e cadê?? Tinham desaparecido!!
Antes de escrever sobre o meu ídolo dos gibis fui pesquisar um pouco sobre ele na Internet e descobri que o Mandrake foi criado em 1934 por Le Falk, o mesmo criador do “Fantasma”.
Além do enredo cheio de ação e mistério o que mais me atraia nas aventuras do Mandrake eram as capas dos “gibis-revistas” fantasticamente elaboradas. Só as ilustrações já vendiam o produto. O mágico tinha uma namorada, a princesa Narda, do reino Cockeine e o seu fiel escudeiro Lohtar. Quando o negócio apertava e os truques do mago falhavam quem salvava o “almoço” era o vigoroso Lohtar que saía na pancada com os criminosos.
Mandrake era um ilusionista que tinha o dom de hipnotizar a pessoa instantaneamente. A hipnose acontecia pelos olhos (quando olhava firme para o inimigo) ou então através de gestos das mãos. O poder de ilusão do herói era tão grande que quando aplicada, a arma do vilão se transformava num buque de flores.
Muitas saudades desse cara...
08 – Vinte mil léguas submarinas (Livro)
E finalmente, chegamos ao propósito desse blog: os livros! E é claro, muitos deles foram meus companheiros inseparáveis de infância e adolescencia. Um deles é muito especial: “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Júlio Verne. Ao escrever sobre esse livro novamente tenho que fazer referência ao meu irmão mais velho – viram só como ele foi importante nesse processo de leitura? – já que sorrateiramente “afanava emprestado” as suas relíquias literárias que ficavam guardadas em seu armário fechado à chave. Como eu sabia, onde ele escondia as chaves, esperava que o mano saísse para o trabalho, então ia lá e escolhia um livro para iniciar a minha viagem pelo enredo de suas páginas. Toda essa epopéia aos meus 13 anos de idade! Um dia ele me pegou no flagra, mas ao invés de ficar bravo, simplesmente disse: “Que bom que gosta de ler...” A partir desse dia, passou a deixar o famoso armário destrancado...
“Vinte Mil Léguas Submarinas”era um dos livros que ficava nesse armário. O que me encantou logo de cara foi a ilustração de sua capa: uma lula gigante “abraçando”, com seus tentáculos enormes, um grande submarino que já estava emborcando. Era um livro de capa dura amarela e a ilustração ocupava todo o centro da capa. Algo fantástico!
Todos os dias, depois que chegava da escola, me desligava do mundo real para embarcar no famoso submarino Nautilus comandado pelo não menos famoso capitão Nemo. Que saudades!
O enredo realmente prendia a atenção de todo o adolescente da minha época que apreciasse uma boa leitura. O Nautilus, criado e desenvolvido pelo capitão Nemo era movido somente a electricidade. Nemo e a sua tripulação optaram por cortar todas as relações com os continentes e com a humanidade e passaram a viver somente do que o mar lhes dava. Para se ter uma idéia, a comida e a matéria prima que necessitam para a produção de electricidade, vinham tudo do mar. O capitão criou um segredo em torno de sua criação, escondendo-a do mundo, por isso, quando o submarino começa a aparecer aos olhos humanos e provocar, acidentalmente, estragos em outros barcos, a maioria dos marinheiros passam a vê-lo como um terrível monstro marinho e assim, inicam uma caçada sem fim ao terrível “ser”.
Com certeza, qualquer dia desses, estarei dedicando um post exclusivo à esse livro fantástico de minha infância...
09 – Éramos Seis (Livro)
A história de dona Lola e seu marido “seo” Júlio que criaram com muito sacrifício os seus quatro filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Maria Isabel foi outro livro que fez parte da minha pré-adolescencia. A escritora Maria José Dupré narra a vida de dona Lola desde a infância das crianças quando ela e Júlio suaram muito para conseguir recursos para educar os seus filhos. Dupré passa a narrar depois, a fase adulta dos quatro filhos. Conforme os anos passam as coisas vão mudando na vida de dona Lola. A morte do marido, o sumiço de Alfredo pelo mundo e a união de Maria Isabel com um homem desquitado, o que era um escândalo nos anos 40.
Não há como se emocionar com as perdas que dona Lola vai sofrendo ao longo do romance. Como me apaixonei por essa bondosa mulher que apesar da onda de sofrimentos ao longo de sua vida, jamais desanimou. Ela sempre procurava manter o seu bom humor que se refletia na esperança de dias melhores. Ela foi uma das minhas heroínas da pré-puberdade.
10 – Obras completas de Monteiro Lobato (Coleção de livros)

  
Há lembranças que sempre marcam a nossa infância. Podem passar décadas e décadas, mas por serem tão especiais, elas ficam lá guardadinhas em nosso sub-consciente, à nossa disposição para aflorarem a qualquer instante com muita emoção e saudades. Uma dessas recordações que jamais iriei esquecer é a de minha mãe me buscando na escola. Antes de me levar para casa, ela fazia questão de – toda a semana – dar uma passadinha comigo até até a Biblioteca Pública Municipal. Quando minha saudosa mãe não podia fazer isso, por ter algum compromisso importante, eu sempre cobrava dizendo: “Mamãe, hoje nós não vamos na ‘casa dos livros’. Antes de falecer, ela sempre relembrava dessa passagem com aquele sorriso especial que até hoje trago comigo.
No primeiro dia que cheguei na biblioteca fiquei encatando com uma coleção de 34 volumes, todos em capa verde. Já conhecia os personagens de Monteiro Lobato, mas ao ver aqueles livros fiquei “louquinho”, pois neles, o escritor dava uma nova roupagem para as aventuras dos moradores do Sítio do Pica Pau Amarelo. Foi inesquecível viajar nas páginas do volume “Os 12 Trabalhos de Hércules” e curtir a interação de Narizinho, Pedrinho e Emília com o mitológico herói grego, filho de Zeus. Me lembro ainda de como o famoso trio do Sitio do Pica-Pau Amarela conseguiu ajudar Hércules a derrotar o temível leão de Medéia.“Os 12 Trabalhos de Hércules” foi um dos primeiros livros que li, aquele que ajudou a despertar em mim o interesse pela leitura. Por isso, a coleção “Obras Completas de Monteiro” foi fundamental em minha vida, como acredito tenha sido na vida da maioria dos leitores brasileiros. Acredito que de cada 10 brasileiros que apreciam literatura, 10 leram Monteiro Lobato em sua infância. Faço essa citação para que vocês entendam o poder da obra desse escrtitor, nascido em Taubaté, na vida de todos os brasileiros. E para não quebrar essa regra, o “menino” aqui também foi um grande fã e admirador dos personagens criados por Lobato.
Deixar uma obra de Monteiro Lobato de fora de um post como este seria um verdadeiro sacrilégio.
Espero que tenham gostado das escolhas de minha infância.
Inté!

21 dezembro 2011

Isabel Allende exorciza os seus fantasmas em “O Caderno de Maya”

Imagine o drama de uma mulher que se dedica de corpo e alma para os seus três enteados, vivendo num lar harmonioso juntamente com o seu marido. Então, ela presencia a prisão de seu enteado mais velho por porte de drogas, logo depois, o mais novo também ingressa no mundo dos tóxicos e para largar o vício, inicia uma verdadeira peregrinação em várias clinicas de reabilitação, sempre acompanhado pela madrasta e o pai. Como não bastassem esses dois golpes, a enteada do meio, de 28 anos, acaba morrendo de overdose após ter usado praticamente todos os tipos de drogas que existe na fase da terra.
Com a morte dos três rapazes, o casal mergulha no fundo do poço, já que o pai amava os seus filhos de paixão; quanto a mulher, mesmo sendo madrasta, tinha um carinho enorme pelos “meninos”. Para sair do fundo do  poço é difícil, quase impossível; mas o casal se agarra em todas as esperanças e consegue reiniciar a sua vida.
Quer saber quem é essa mulher? Ela se chama Isabel Allende. E esse relato é um pequeno resumo do que aconteceu durante duas décadas em sua vida.
A escritora chilena, naturalizada americana, criadora do mega romance “A Casa dos Espíritos”, considerado um dos maiores sucessos da literatura mundial, após sentir na pele durante 20 anos o problema das drogas em família resolveu escrever um romance sobre o assunto numa forma de exorcizar os seus fantasmas através da personagem Maya, uma jovem americana de 19 anos que se muda para o Chile, depois de se envolver com as drogas, prostituição e outros problemas mais.
Ao se mudar definitivamente para os Estados Unidos, já com a intenção de se naturalizar, Allende conheceu William Gordon, que viria se tornar um eminente promotor. Ao se casarem, ele já tinha três filhos – dois homens e uma mulher – que aos poucos foram se enveredando pelo mundo das drogas. Durante mais de 20 anos, Allende pode ver de perto a devastação de seu lar provocada pelas drogas. Ela conta que o enteado mais velho foi preso, passou por clinicas de reabilitação e só agora, recentemente, aos 47 anos conseguiu se livrar do problema. O mais novo, tem atualmente 25 anos, usou heroína por 10 anos e, também, só agora conseguiu se livrar dela. Já a filha do meio que se chamava Jennifer não teve tanta sorte. Ela morreu aos 28 anos após ter consumido todos os tipos de drogas ao longo de sua vida.
Estava lendo uma entrevista da escritora onde ela dizia que após esse vendaval em sua vida, acabou adquirindo o hábito de anotar em um caderno, durante 20 anos, todo o sofrimento dos filhos de seu marido. Allende não explica o motivo dessa atitude, mas acredito que ela tenha feito isso como uma forma de desabafo, caso contrário acabaria ficando louca enfrentando uma situação desse tipo.
A escritora faz questão de frisar que a personagem de “O Caderno de Maya” não foi baseada em Jennifer. Allende explica que a sua enteada sofreu com as drogas praticamente a vida toda, enquanto, Maya é uma jovem saudável, além de atleta, mas tem o azar de ver a sua família se desestruturar numa fase complicada de sua vida, ou seja, não tão decantada adolescência. No caso de Maya, esta teria sido a porta para a entrada no mundo das drogas e da prostituição.
Escritora Isabel Allende
Allende explica que Maya foi inspirada em duas de suas netas: uma intelectual que é escritora, já começando a seguir os passos da avó famosa, e a outra, com espírito aventureiro que faz com que a família acabe ficando ligada em seus atos o tempo todo. Ela acrescentou que escreveu o livro como uma forma de alertar não só as suas netas, mas também os jovens, de um modo geral, quanto ao poder avassalador das drogas na vida de uma família. E ela, mais do que ninguém, sabe disso.
Mesmo que não tenha admitido, creio que “O Caderno de Maya”, também foi escrito como uma maneira de Allende exorcizar os seus fantasmas do passado, colocando pra fora eventos tristes e trágicos que vitimaram pessoas queridas ligadas à ela, ou seja, os três filhos de seu marido.
“O Caderno de Maya” foi lançado pela Editora Bertrand Brasil na semana passada e já está à disposição dos leitores brasileiros.
Mas cuidado; não compre o livro pensando se tratar de uma leitura leve direcionada ao público adolescente. Como a própria escritora alerta, “O Caderno de Maya” tem passagens bem pesadas e nada recomendáveis para essa classe de leitores. É uma obra, essencialmente, para o público adulto. Com certeza, já entrou na lista das obras que estarei lendo futuramente.

20 dezembro 2011

Cassino Royale

Sou um fã nato de 007, mas deixe-me frisar: fã do 007 dos livros de Ian Fleming e não fã dos filmes – alguns medonhos – e daquela caricatura sofrível criada por Sebastian Faulks em “A Essencia do Mal”. Faço questão de salientar esse detalhe porque o James Bond de Fleming é inimitável e insuperável. E por ser tão fã do maior agente secreto de todos os tempos, é que batalhei... e batalhei ao longo dos últimos cinco anos para encontrar meios de adquirir todos os livros escritos pelo pai e criador de Bond. A luta valeu à pena, porque consegui reunir os 12 livros escritos por Fleming.
Após ler a obra em sua totalidade cheguei a conclusão que “Cassino Royale” é o melhor dos 12 livros e por inúmeros motivos. O mais importante de todos é que Cassino Royale dá início a toda a série e por isso, pode ser considerado a “pedra fundamental”. É nela que Fleming nos apresenta James Bond que viria se tornar um ícone da espionagem internacional.
Fleming foge dos padrões convencionais de outros autores que preferem apresentar os seus personagens detalhadamente logo no início da trama – dando por menores físicos e emocionais – antes de inseri-los no contexto da história. Em “Cassino Royale”, o agente secreto de Sua Majestade já é “embutido” no enredo logo de cara sem maiores preâmbulos e firulas. Depois no decorrer do romance, o autor vai soltando “homeopaticamente” outros detalhes de seu personagem. O leitor menos avisado pode ter a falsa impressão de que essa técnica adotada por Fleming pode contribuir para deixar o personagem vazio. Ledo engano porque, se isso ocorresse, os livros seguintes de 007 seriam os maiores fiascos; mas não foram, pelo contrário, entraram para a história da literatura romanceada.
A explicação é simples: Ian Fleming era um gênio. Ele conseguiu criar um personagem tão carismático e um enredo tão atraente que dispensou a necessidade de maiores apresentações de seu principal protagonista.
No decorrer das obras subseqüentes, os leitores tem a oportunidade de irem conhecendo um pouquinho mais sobre o agente secreto. A sua famosa cicatriz, o olhar cruel, flashbacks de missões antigas e por aí afora. Fleming poderia ter feito uma apresentação caprichada de 007 logo de cara, no livro de estréia, mas, optou por essa metodologia muito arriscada para a maioria dos escritores; mas como já disse, estamos falando de Ian Fleming, um autor inteiramente diferenciado.
Em Cassino Royale vivemos o clima tenso das partidas de bacará que valem milhões, onde um jogador pode sair em glória ou humilhado. E é nesse cenário que Bond enfrenta Le Chiffre, o falido tesoureiro de um sindicato controlado pela Smersh. O objetivo da missão é derrotar Le Chiffre, deixando-o mais falido do que já está, pois assim, o serviço de espionagem britânico poderia capturá-lo para obter informações importantes, quebrando um braço importante da Smersh (Agencia de contra espionagem russa). O vilão por sua vez, joga a sua vida no bacará, já que precisa ganhar o suficiente para repor todo o dinheiro que desviou da Smersh, caso contrário será um homem jurado de morte.
Com o disfarce de um rico jamaicano, Bond inicia o seu duelo com o tesoureiro do sindicato da agencia de contra espionagem russa e é então que o “negócio pega fogo”. Os dois são excelentes jogadores, bem acima da média. Fleming consegue transferir para o leitor toda a tensão do jogo. É evidente que não vou contar aqui os detalhes dessa parte do enredo para não estragar a surpresa daqueles que ainda não leram o livro que foi escrito em 1954, mas tanto Bond quanto Le Chiffre passam momentos apertados e até mesmo desesperadores durante o jogo.
O chefe de Bond, M, designa a agente Vesper Lynd para apoiá-lo nessa missão. Cabe à ela passar todas as informações necessárias, relacionadas à Le Chiffre, para James Bond. Nesse livro também é apresentado pela primeira vez aos leitores aquele que viria se tornar o melhor amigo de 007 no mundo da espionagem: Félix Leiter. Ao contrário, de Bond; o autor capricha na descrição de Leiter, dando uma noção bem ampla das características do personagem.
“Cassino Royale”, juntamente com “À Serviço de Sua Majestade” podem entrar para a história como os únicos livros da série 007, escritos por Fleming, que apresentaram uma “Bond-girl” capaz de mexer com o coração machista do herói. Em “À Serviço Secreto de Sua Majestade” temos Tracy di Vicenzo” que chegou a se casar com Bond; e em “Cassino Royale” temos Vésper Lynd que quase conseguiu fazer com que o agente inglês anunciasse a sua demissão do Serviço Secreto Britânico. Isto só não aconteceu por que Bond.... bem, reconheço que a maioria já leu o livro e também assistiu ao filme com Daniel Graig, mas não vou estragar o prazer daqueles que ainda não leram e tão pouco assistiram. Mas posso adiantar que se Vésper não tivesse literalmente arrebentado o coração e a alma do nosso Bond, hoje ele seria um agente aposentado em nome do amor.
Fleming descreve em detalhes o relacionamento de 007 e Vesper, ao contrário dos outros livros da série – à exceção, como já disse, de “À Serviço Secreto de Sua Majestade” – onde o agente secreto mantém apenas relacionamentos superficiais com as suas Bond-grils, pensando somente em sexo, deixando os assuntos do coração totalmente de lado.
Como uma bola de neve, o relacionamento “Bond-Vésper” vai ganhando corpo ao longo da história até culminar com uma revelação surpreendente e que acaba mudando todo o rumo dessa união.
Apesar das descrições detalhadas dos jogos de bacará e do relacionamento do casal de protagonistas, a ação também faz parte de “Cassino Royale”. Entre esses momentos, posso citar o sequestro de Vésper que desencadeia uma perseguição desenfreada de Bond aos raptores da moça e aquele instante o qual acredito foi o pior vivido em toda a longa carreira de agente secreto de James Bond. O único momento no qual Bond só não morreu por causa da intervenção de um inimigo mortal.
Fiquei chocado em ler esse trecho do livro, onde 007 foi obrigado a retirar as calças, ficar peladão e se sentar numa cadeira sem fundo deixando a sua genitália exposta para ser cruelmente espancada pelo vilão falido e com a cabeça colocada a premio pela Smersh.
Cara! Cada pancada na genitália do Bond que Le Chiffre dava com aquele batedor de tapetes feito de bambu me doía a alma. O pior de tudo é que Fleming não poupou nenhum detalhes da tortura, fazendo questão em descrever tim tim por tim tim.
Reputo Cassino Royale como uma leitura obrigatória para aqueles que querem se iniciar no universo bondiano.
Até!

15 dezembro 2011

A Marca do Zorro

Há histórias simples que apesar de toda a sua falta de sofisticação e profundidade tem o dom de prender os leitores da primeira a última página. Uma dessas obras chama-se “A Marca do Zorro”, de Johnston McCulley, lançada em 1924. O livro é desprovido de todo aquele glamour existente em “Zorro: Começa a Lenda”, da escritora chilena Isabel Allende, mas tem algo muito importante que o transforma numa obra “deliciosamente deliciosa”. Este algo mais se chama: “Magia”; a essência que falta em muitos livros deixando-os, assim, com um enredo insosso e sem nenhum atrativo.  Não estou querendo dizer que a história de Don Diego e seu alter ego Zorro que foi inteiramente recriada por Allende careça desse algo mais. Longe disso; o que estou tentando explicar é que se trata de duas obras excelentes, mas com muitas diferenças entre si, como a água e o vinho, ou melhor, a água e o óleo que não se misturam.
Em “Zorro: Começa a Lenda”, Allende vai fundo nas origens do personagem. Ela faz uma opção perigosa, mas o resultado final da obra prova que ela acaba acertando em sua escolha. Allende pretere as cenas de luta, duelos de esgrima e disputas amorosas pela descoberta da identidade de Don Diego. Para a autora, muito mais importante do que a aventura é reconstruir a infância e a adolescência do fidalgo espanhol. Dessa forma, o leitor tem a oportunidade de saber quais foram os motivos que levaram Don Diego a se esconder atrás de uma máscara e de uma roupa negra para se transformar no famoso justiceiro. Mais do que isso: o leitor tem contato com a infância do pequeno “Dieguito”, como ele nasceu, quem era a sua mãe, suas peraltices de criança; e mais para frente, detalhes sobre o seu treinamento que o transformou num esgrimista beirando a perfeição. Mas para fazer essa viagem em busca da identidade do Zorro, Allende foi obrigada a deixar de lado a aventura. Acredito que esse projeto deu certo porque desde a criação do personagem há mais de 90 anos, ninguém havia se interessado em saber como eram a infância e os períodos pré e pós puberdade do Zorro. Isto é... até surgir Allende. Eu mesmo, quando optei pela leitura do livro, estava curiosíssimo em captar esses elementos. Por isso, talvez, tenha me esquecido da aventura.
Agora, com relação a obra de McCulley, o que vale, de fato, é a “AVENTURA” e com todas as letras maiúsculas. O enredo é uma verdadeira montanha russa permeado de duelos de espada, traições, paixões desenfreadas, vinganças e personagens caricatos, mas que convencem.
No livro de McCulley, o jovem fidalgo Don Diego Vega assume a identidade secreta de “El Zorro” (“a raposa”) para defender o povo explorado pelos soldados espanhóis que dominam a região de San Juan Capistrano, no México. O cavaleiro mascarado enfrenta os homens do Sargento Gonzales e cruza sua espada com o capitão Ramón na disputa pelo coração da bela Lolita Pulido.
Cartaz promocional do filme de Douglas
Fairbanks lançado em 1920
Quem lê esse enredo mais do que simples pensa, a primeira vista, que se trata de uma história infantil e sem atrativos. Mero engano. Para começar nunca vi descrição de duelos de esgrima tão bem narrados quanto os do livro de McCulley. O autor provou que é expert no assunto. Confira esses trechos e veja se não estou com a razão: “Zorro notou que seu adversário estava lutando muito melhor do que da outra vez na fazenda, na casa de Don Carlos Pulido. Viu-se forçado a lutar de um canto perigoso, e a pistola que segurava em sua mão esquerda para intimidar o governador e seu anfitrião o incomodava...” . “A espada de Zorro parecia valer por vinte. Investia de um lado para o outro, tentando encontrar uma brecha no corpo do capitão, pois estava ansioso para acabar com aquilo e ir embora...” “O ruído das espadas se chocando, da dança dos pés no chão, da respiração pesada dos combatentes naquele esforço de vida ou morte eram os únicos sons que se ouviam na sala...” Para que você tenha uma idéia do ritmo do livro, basta dizer que sobram cenas desse tipo em “A Marca do Zorro”.
Mas nem só de duelos vive o romance de McCulley. O triangulo amoroso formado por Don Diego, Lolita e o Capitão Ramón também é outro trunfo para prender a atenção do leitor. Don Diego pede a mão da moça ao seu pai, Don Carlos, mas o capitão Ramón também tem a mesma intenção e então, tem início a disputa dos dois pretendentes. Pobre Lolita que despreza e detesta a ambos: um eles é covarde e tem jeito de efeminado (Don Diego), enquanto o outro é um brucutu metido à machão. Na realidade, a moça só tem olhos para “El Zorro”, o justiceiro galanteador e mascarado que povoa os seus sonhos mais secretos, sem saber que o seu herói é na realidade o seu pretendente covarde.
Guy Williams, considerado o melhor Zorro
de todos os tempos (do seriado de TV) ao
lado de Johnston McCulley, criador
do personagem
Após a apresentação desse triângulo amoroso, não há como deixar de torcer pela união do casal Diego (Zorro) e Lolita. Quando li o livro, juro que parecia uma criança assistindo uma matinê, não vendo a hora do efeminado Don Diego se revelar de uma vez por todas para a sua Lolita. Ficava imaginando qual seria a reação de Lolita ao descobrir a identidade secreta do jovem fidalgo. Pode acreditar, o romance de McCulley tem esse poder. Cara, é duro você ver o Zorro na pele de Don Diego ser humilhado, espezinhado e ainda por cima ganhar fama de um “efeminado covarde”. E toda essa representação para que os vilões não descubram o seu disfarce. Então, quando ele se transforma no Zorro e faz de gato e sapato aqueles que o humilham enquanto Don Diego, deixando o “Z” cravado na testa ou no peito de seu oponente, Ihauuuu!!! A sala de leitura se transforma numa sala de cinema em dia de matinê. É bom demais. Se isso não for magia, não sei mais o que é. E acredite, a estória de Johnston McCulley tem esse poder.
Só por curiosidade, gostaria de lembrar que o personagem Zorro não nasceu em 1924 com o romance “A Marca do Zorro”. Ele é bem mais velho do que isso.
A Primeira Guerra Mundial deixou muitos estragos gerando uma onda de desânimo na maioria da população mundial. A ordem geral era apagar todos os rastros de destruição e recomeçar a vida. Diversão, diziam, era o que o povo mais precisava naquele momento. Então, os diretores da “Al Story Weekly que já haviam lançado – em papel barato – “As Aventuras de Tarzan”, de Edgard Rice Burrough, trouxe no dia 9 de agosto de 1919, o primeiro capítulo de “A Maldição de Capistrano”. A ação se passa na missão de San Juan Capistrano, onde Don Diego/Zorro lutam para libertar o povo explorado pelos militares espanhóis. Apesar de ser concebida para ser uma obra simples e de consumo rápido no período pós guerra, “A Maldição de Capistrano” tiraria do anonimato o escritor Johnston McCulley.
Capa original de "A Maldição de
Capistrano" lançada em 1919
Um dia, o ator Douglas Fairbanks levou “A Maldição de Capistrano” para ler na viagem de lua de mel de seu segundo casamento. Resultado: se encantou pelo personagem criado por McCulley e resolveu levá-lo para as telas. O filme ganhou o nome de “A Marca do Zorro” e foi lançado nos cinemas em novembro de 1920. Durante a filmagem de uma cena de duelo, Fairbanks teve a idéia que iria se tornar a marca registrada do herói: Zorro (Fairbanks) fez um “Z” no pescoço do capitão Ramón, comandante de uma tropa espanhola. O escritor McCulley gostou da idéia de Douglas Fairbanks e decidiu incorporar a novidade na aventura seguinte de seu personagem.
O filme de Fairbanks baseado em “A Maldição de Capistrano” fez tanto sucesso nos cinemas, que Johnston McCulley resolveu relançar a novela de 1919 – com algumas alterações, incluindo a marca do “Z” – cinco anos depois. Nascia assim o antológico romance: “A Marca do Zorro” que serviria ainda de inspiração para a famosa série de televisão chamada “Zorro”, produzida pelos estúdios da Disney na década de 50 e tendo no papel principal Guy Williams. O ator viria revelar que o livro era tão apaixonante e inspirador que acabou se transformando em seu companheiro inseparável. Nos intervalos das tomadas de gravação, Williams não largava da obra, apreciando sempre a sua leitura, mesmo já o tendo relido inúmeras vezes.
Agora me responda: será que um livro que chegou ao ponto de fazer Douglas Fairbanks financiar um filme e convencer a gigante (na época) United Artist a distribuí-lo em vários países não vale uma leitura?
Até!

07 dezembro 2011

O Coyote: O herói emblemático das pulp fiction que fez história na Editora Monterrey


Após escrever um post sobre a estonteante Brigitte Montford, a famosa agente da CIA que atende pelo codinome de “Baby”, é evidente que não poderia esquecer de um outro personagem emblemático da outrora famosa e hoje saudosa Editora Monterrey. Estou me referindo ao “Coyote”, o justiceiro mascarado criado pelo escritor espanhol José Mallorqui.
Posso assegurar que tanto Brigitte Montford quanto o Coyote foram os grandes responsáveis pelo sucesso editorial da Monterrey, dando aos seus criadores, respectivamente, Lou Carrigan e José Mallorqui o status de grandes estrelas, responsáveis pelo sucesso de vendas da editora. Tudo bem que a Monterrey também publicava outros gêneros de livros de bolso; lembro-me da série FBI e de outros livros de faroeste onde choviam balas prá todo lado, mas essas publicações exerciam apenas o papel de coadjuvantes, já que os grandes astros, sem dúvida alguma, eram o Sr. Coyote e a espiã, filha de Gisele.
Mas como o assunto do post é o nosso bandoleiro hispânico, vamos esquecer Brigitte Montfor – que já teve um post todinho seu – e se concentrar nesse personagem de bigode, roupa negra ao estilo mexicano, com um sombrero, duas pistolas e uma máscara que lhe cobria a metade superior do rosto.
O Coyote pode ser considerado o pai dos livros de bolso no país, já que tudo começou com ele em meados dos anos 50. Em 1956, logo após a sua fundação, a Monterrey lançaria o formato no Brasil tendo como protagonista o justiceiro mascarado. Brigitte Montford só apareceria anos depois. Por isso, o Coyote foi o grande desbravador do gênero livro de bolso aqui na terrinha.
Tudo começou quando os donos da editora Monterrey descobriram que o novo formato estava fazendo o maior sucesso na Espanha, e assim, resolveram fazer uma experiência e introduzi-lo também no Brasil. De quebra, os espertalhões (no bom sentido, é claro) da Monterrey também ficaram sabendo que um herói parecido com o
 Zorro estava alavancando milhares e milhares de vendas de uma editora espanhola chamada “Edições Cliper”, situada em Barcelona. O herói mascarado era um fenômeno de vendas por lá. A Monterrey não dormiu no ponto e comprou os direitos de publicação no Brasil, relançando em terras tupiniquins o emblemático herói mascarado. Com isso, a editora, recentemente inaugurada, teria dois trunfos na mão: seria a pioneira no lançamento dos livros de bolso por aqui e teria um personagem que poderia virar uma febre nacional. Não demoraram nem um minuto sequer e “soltaram” as novidades no país. O sucesso foi imediato e acabou estimulando outras editoras concorrentes, como a Bruguera e Tecnoprint, a lançarem, também, o novo formato de livros. Enquanto isso, “O Coyote” repetia no Brasil o mesmo sucesso que havia conseguido na Espanha.
Apesar das histórias do Coyote terem sido lançadas no Brasil entre o final da década de 50 e início dos anos 60, a sua origem ainda é mais remota. Vem lá da década de 40! Mallorqui escreveu a primeira história do justiceiro mascarado em 1944 (“A Chegada do Coyote”), o personagem fez tanto sucesso entre os leitores, que Mallorqui resolveu transformar a sua história – que a princípio deveria caber em apenas um lívro, e Zefini – em uma série. Resultado: o autor espanhol acabou escrevendo 192 títulos até 1953. Dessa forma, ele conviveu com o personagem durante nove anos. E neste período, por quase uma década,  o Coyote nunca cansou os leitores com as suas aventuras, provando que já havia se transformado num verdadeiro ícone da pulp fiction.
Escritor José Mallorqui em sua biblioteca
Confesso que na minha adolescencia fui um dos grande fãs do Coyote e me arrependo de ter perdido através dos tempos a minha coleção de livros com as histórias do personagem. Lembro que enquanto o meu irmão mais velho tinha o hábito de trocar as histórias que já havia lido; eu fazia questão de guardar numa caixa todos os meus livros de bolso. Por falar nisso, tinha duas caixas em meu quarto: uma para os livrinhos da Brigitte Montford e outra para o Coyote. Para mim não importava a baixa qualidade do material interno, ou seja, as páginas de papel jornal, o que valia para mim eram as histórias emocionantes e principalmente... bem... Ok, vou confessar: as capas... A arte das capas eram de primeira, verdeiras obras primas e estimulavam a leitura. Acredito que se aqueles livrinhos feitos com um papel vagabundo, de péssima qualidade tivessem capas simplórias e sem nenhum atrativo, ninguém iria se interessar pelas suas histórias e então, com certeza seria a falência certa da Monterrey e também da Clíper.
Para você que era um leitor ávido das histórias do Senhor Coyote, mas não se recorda muito bem da origem do personagem e do enredo central da trama, vamos lá. Dom César de Echagüe, filho homónimo de um rico fazendeiro californiano, regressa a suas terras em 1851, recentemente incorporada aos Estados Unidos. A novela retrata uma Califórnia habitada por uma próspera sociedade hispana  mas recém conquistada pelos invasores yanquis, que tratam de se apoderar por todos os meios das minas de ouro que os californianos lhes ocultam. César de Echagüe é desprezado por todos na Califórnia que acreditam ser ele covarde e afeminado. O rapaz é depreciado até mesmo pela sua noiva Leonor de Acevedo e pelo próprio pai, Dom César. Eles não sabem que o jovem César – tido como covarde e afeminado – na realidade, leva uma dupla vida como O Coyote, um justiceiro mascarado que luta pelos direitos dos hispanos.
O principal inimigo do herói mascarado é o general Clarke, o tirano conquistador da Califórnia que procura tirar as propriedades dos californianos à força, utilizando, inclusive, táticas mafiosas. Como as terras do pai e dos familiares da noiva de Cesar são as maiores e as mais ricas do país, o general Clarke torna-se obcecado em tomá-las dos seus donos. Para isso, ele é capaz de tudo, desde contratar perigosos pistoleiros até preparar armadilhas ardilosas com o objetivo de destruir Dom César e Leonor.
Este enredo central foi responsável pelas 192 histórias do Coyote que ao longo de quase uma década trocou chumbo com vários capangas de Clarke e também com o próprio general. Emoção, traição, amor, enfim, uma miscelania de sentimentos recheou as histórias dos 192 livros escritos por Mallorqui, mas com certeza, o momento mais marcante foi quando Leonor descobriu a identidade secreta de César. Quando soube que o supostamente covarde e afeminado rapaz era na realidade o temido Coyote, a sua paixão se transformou num rio de lava incandescente resultando em casamento. Futuramente, Leonor viria a falecer no momento em que daria a luz ao primogênito de César, que por sua vez, afogaria a tristeza nos braços de um novo amor: Guadalupe Martinez.
Outro momento marcante na saga do “bandolero” foi o dia em que após ter desmascarado o general Clarke, teve de exilar-se do país para escapar com vida. Me lembro vagamente dessa história, foi uma das minhas favoritas. O Coyote, espertamente, se passou por morto e depois voltou para se vingar. Acho que foi depois disso que Leonor descobriu o seu alter-ego, vindo a se casar com ele.
E então? Deu pra matar um pouco de saudades do enredo do personagem? Espero que sim.
José Mallorqui criou o Coyote inspirado em um outro mito: o Zorro, de Johnson Mc Culley. O próprio Mallorqui afirmou que bebeu na fonte de  Mc Culley para criar o seu personagem hispânico. Se por um lado, o Zorro tem o costume de castigar os seus oponentes, fazendo um “Z”com a espada no peito ou no rosto da vítima; o Coyote também tem a sua mania, e diga-se, bem peculiar. Ele dispara um tiro na orelha do inimigo. Dessa forma, aqueles que tiverem um ferimento a bala no ouvido ficam marcados como os infelizes que cruzaram o caminho do justiceiro e se deram mal.
Além de ser um pistoleiro muito rápido e com excelente pontaria, o Coyote é um cavaleiro experiente; mas sua principal arma é a inteligência com que manipula os seus oponentes, chegando ao ponto de fazer com que eles se matem por si próprios.
Acredito que aqueles que estiverem lendo esse post e que em sua adolescencia foram fãs incondicionais do Sr. Coyote tinham – ou ainda tem – uma curiosidade imensa em conhecer um pouco mais a fundo a vida do criador do personagem: José Mallorqui ou simplesmente J.Mallorqui. Pois é, encontrar material suficiente na Rede para conhecer à fundo a vida desse escritor espanhol é coisa para garimpeiro. Após fuçar em vários sites, quase nenhum deles em nossa língua pátria, descobri que a vida de Mallorqui não foi fácil, com o surgimento freqüente de um grande número de tragédias.
Antes de vir ao mundo, ainda no ventre de sua mãe, Mallorqui já experimentava a sua primeira decepção. O seu pai  abandonaria  a sua mãe, Eulalia Mallorquí Figueroa, momentos antes da criança nascer. O pequeno Mallorqui foi, então, criado por sua avó Ramona que algum tempo depois o matriculou num internado dos Salesianos.  Com professores excelentes que estimulavam, principalmente, a leitura em seus alunos internos, o futuro criador do “Coyote” adquiriu nesse ambiente o gosto pela escrita, passando a criar várias histórias que faziam a alegria de seus colegas de internato.
Ainda criança, perto de atingir a adolescência, o escritor receberia um novo golpe em sua vida; como ele mesmo escreveu anos mais tarde, em 1967: "Num dia foram procurar-me à saída do colégio e disseram-me que Ramona, minha avó, tinha morrido. Senti-me infinitamente só. E assim estive até que conheci à que hoje é minha mulher".
Além da língua nativa, Mallorqui falava fluentemente francês e inglês e trabalhou durante um bom tempo como tradutor em uma biblioteca espanhola. O trabalho de tradutor o animou a arriscar escrever os seus primeiros livros, nascendo assim, várias histórias de western para uma coleção da Editora Cliper, em Barcelona,  chamada “Novelas do Oeste”. Esse seria o início para o surgimento de sua maior criação: “O Coyote”.  Fã incondicional do Zorro, Mallorqui teve a idéia de criar um personagem baseado naquele herói, e assim surgiria o nosso “bandolero”. Como já disse, a série atingiu 192 títulos até 1953 e tornou o seu criador famoso em toda Espanha. Com o fim do legado do Coyote,  Mallorqui ainda tentou se aventurar em outros gêneros como ficção científica e terror, mas não deu certo, já que as obras lançadas se tornaram grandes fiascos.
A tragédia continuaria a rondar a vida do escritor espanhol quando na década de 60 acabou perdendo grande parte da audição. Alguns anos depois, para ser exato em 1967, sua mulher viria descobrir que estava com leucemia, morrendo poucos meses depois num leito de hospital.
No início de 1972, por causa de um grave problema nas costas, Mallorqui ficaria impossibilitado de continuar escrevendo, sendo obrigado a contratar uma secretária para escrever as suas histórias, enquanto as ditava.
Muito depridmido por não ter mais a sua mulher, se suicidou na madrugada de 7 de novembro de 1972. O bilhete que deixou representava toda a sua angustia e solidão:: "Não posso mais. Mato-me. Na gaveta de minha mesa há cheques assinados", e assinou "Papai". E embaixo: "Perdão".
 Cara! Quantas tragédias! Mas voltando a falar do Coyote, um detalhe que muitos fãs desconhecem é que o personagem também invadiu as telas dos cinemas. Isso mesmo! A obra de Mallorqui serviu de inspiração para cinco filmes entre cinema e TV. Os mais conhecidos foram dois. O primeiro deles, “O Coyote”, lançado  em 1955, sob a direção do espanhol Joaquim Luis Romero Marchent. O mesmo diretor produziria no ano seguinte “A Justiça do Coyote”. Os dois filmes tiveram um sucesso apenas razoável, curiosamente, não repetindo o grande sucesso dos livros de bolso.
Bem pessoal, depois dessa viagem no tempo, juro que bateu uma “saudade doída” dos meus livrinhos de bolso da Editora Monterrey com aquelas capas “chique nu úrtimo”. Esse pistoleiro mascarado realmente marcou grande parte da minha geração. Mas tudo passa... tudo passa... Sendo assim, só posso dizer: que pena.


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