30 abril 2013
"Inferno" de Dan Brown tem 1º capitulo vazado na Net.
Bom dia galera!! Tenho novidades prá
vocês... quer dizer, para os fãs de Dan Brown que estão ansiosamente aguardando
o lançamento do livro "Inferno". Vazou na Net, o primeiro capítulo do
livro.
Não me perguntem como isso aconteceu porque não saberei responder. Só digo que ao dar aquela vasculhada básica na Net na manhã de hoje, vi que alguns sites - pouquíssimos pra ser sincero - haviam publicado o primeiro capítulo de Inferno, inclusive uma livraria virtual!!!!!!
Mas, como tenho eu certeza de que vcs não estão afim de lê-lo resolvi apenas
avisá-los sobre a novidade. Ehehehehe... é claro que é brincadeirinha né
pessoal (rs). Segue abaixo tal do capítulo:
'As lembranças se materializaram lentamente, como bolhas vindo à tona da escuridão de um poço sem fundo.
Uma mulher com o rosto coberto por um véu.
Robert Langdon olhava para ela do outro lado de um rio cujas águas agitadas corriam vermelhas, tingidas de sangue. De frente para ele, na margem oposta, a mulher o encarava, imóvel, solene. Trazia na mão uma faixa azul, uma tainia, que ergueu em homenagem ao mar de cadáveres aos seus pés. O cheiro da morte pairava por toda parte.
Busca, sussurrou a mulher. E encontrarás.
Langdon ouviu as palavras como se ela as tivesse pronunciado dentro de sua cabeça. "Quem é você?", perguntou ele, sem que sua voz produzisse som algum.
O tempo urge, sussurrou ela. Busca e encontrarás.
Langdon deu um passo à frente, em direção ao rio, mas então viu que as águas, além de ensanguentadas, eram profundas demais para que ele as atravessasse. Quando tornou a erguer os olhos para a mulher de véu, os corpos aos seus pés tinham se multiplicado. Eram agora centenas, milhares talvez, alguns ainda vivos, contorcendo-se de agonia, padecendo mortes inimagináveis... consumidos pelo fogo, enterrados em fezes, devorando uns aos outros. Podia ouvir os lamentos humanos ecoarem acima da água.
A mulher se moveu em sua direção com as mãos esguias estendidas, como quem pede ajuda.
"Quem é você?!", gritou Langdon outra vez.
Em resposta, a mulher levou a mão ao rosto e ergueu lentamente o véu. Sua beleza era arrebatadora, porém ela era mais velha do que Langdon imaginara: 60 e poucos anos talvez, altiva e forte, como uma estátua atemporal. Tinha um maxilar anguloso, de aspecto severo, olhos penetrantes e intensos e longos cabelos grisalhos, cujos cachos lhe caíam em cascata sobre os ombros. Um amuleto de lápis-lazúli pendia de seu pescoço --uma serpente solitária enroscada em um bastão.
Langdon teve a sensação de que a conhecia, de que confiava nela. Mas como? Por quê?
Ela então apontou para duas pernas que brotavam da terra, se contorcendo. Aparentemente eram de alguma pobre alma enterrada até a cintura, de cabeça para baixo. Uma letra solitária escrita com lama se destacava na coxa pálida do homem: R.
R?, pensou Langdon, intrigado. R de... Robert? Será que esse... sou eu?
O rosto da mulher nada revelava. Busca e encontrarás, repetiu ela.
Subitamente, ela começou a irradiar uma luz branca... cada vez mais forte. Todo o seu corpo começou a vibrar com intensidade e, então, com um estrondo repentino, ela explodiu em mil faíscas.
Langdon acordou sobressaltado, aos gritos.
Estava sozinho no quarto iluminado. O cheiro pungente de álcool hospitalar pairava no ar. Ali perto bipes de máquina soavam em discreta sintonia com o ritmo de seu coração. Tentou mover o braço direito, mas uma dor lancinante o impediu. Olhou para baixo e viu que um cateter intravenoso repuxava a pele de seu antebraço.
Sua pulsação se acelerou e as máquinas acompanharam o ritmo, passando a emitir bipes mais rápidos.
Onde estou? O que aconteceu?
A nuca de Langdon latejava, uma dor torturante. Com cautela, ele ergueu o braço livre e tocou o couro cabeludo, tentando localizar a origem da dor de cabeça. Sob os cabelos emaranhados, encontrou as extremidades duras de uns dez pontos incrustados de sangue seco.
Fechou os olhos e tentou se lembrar de algum acidente.
Nada. Branco total.
Pense.
Apenas escuridão.
Um homem com roupa cirúrgica entrou apressado, aparentemente alertado pela aceleração dos bipes do monitor cardíaco de Langdon. Tinha barba desgrenhada, bigode cerrado e olhos bondosos que irradiavam uma calma atenciosa por baixo das sobrancelhas revoltas.
-- O que... o que houve? -- Langdon conseguiu perguntar. -- Eu sofri algum acidente?
O barbudo levou um dedo aos lábios e tornou a sair às pressas para chamar alguém no corredor.
Langdon virou a cabeça, mas o movimento fez uma pontada de dor atravessar seu crânio. Respirou fundo várias vezes e esperou a dor passar. Então, com cuidado e de forma metódica, examinou o ambiente estéril ao seu redor.
O quarto de hospital continha uma cama só. Não havia flores. Não havia cartões. Viu as próprias roupas em cima de um balcão próximo ao leito, dobradas dentro de um saco plástico transparente. Estavam cobertas de sangue.
Meu Deus. Deve ter sido grave.
Langdon girou a cabeça bem devagar em direção à janela ao lado da cama. Estava escuro lá fora. Era noite. A única coisa que ele conseguia ver no vidro era o próprio reflexo: um desconhecido abatido, pálido e exausto, ligado a tubos e fios e cercado por equipamentos hospitalares.
Ouviu vozes se aproximando pelo corredor e tornou a olhar para o quarto. O médico voltou, dessa vez acompanhado por uma mulher.
Ela parecia ter 30 e poucos anos. Usava roupa cirúrgica azul e tinha os cabelos louros presos em um rabo de cavalo grosso que balançava ao ritmo de seus passos.
-- Sou a doutora Sienna Brooks -- apresentou-se, abrindo um sorriso para Langdon ao entrar. -- Vou trabalhar com o dr. Marconi hoje à noite.
Langdon assentiu com um débil meneio de cabeça.
Alta e graciosa, a dra. Brooks se movia com a desenvoltura assertiva de uma atleta. Mesmo com aquela roupa folgada, conservava uma elegância esguia. Por mais que Langdon não percebesse nenhum traço de maquiagem, sua pele tinha uma suavidade incomum, a única mácula era uma pinta minúscula logo acima dos lábios. Os olhos, de um tom castanho suave, pareciam estranhamente penetrantes, como se houvessem testemunhado experiências de rara profundidade para alguém tão jovem.
-- O dr. Marconi não fala inglês muito bem, então me pediu que preenchesse sua ficha de admissão -- disse ela, sentando-se ao seu lado. Voltou a sorrir.
-- Obrigado.
-- Certo -- começou ela, assumindo um tom de voz sério. -- Qual é o seu nome?
Ele precisou de alguns instantes.
-- Robert... Langdon.
Ela apontou uma lanterninha para seus olhos.
-- Profissão?
Ele respondeu ainda mais devagar:
-- Professor universitário. História da Arte... e Simbologia. Em Harvard.
A dra. Brooks baixou a lanterna, mostrando-se surpresa. O médico de sobrancelhas revoltas pareceu igualmente espantado.
-- O senhor é americano?
Langdon a encarou com um olhar intrigado.
-- É só que... -- Ela hesitou. -- O senhor não tinha documento nenhum quando chegou. Como estava de paletó de tweed da Harris e sapatos sociais, imaginamos que fosse britânico.
-- Eu sou americano -- assegurou-lhe Langdon, exausto demais para explicar sua preferência por alfaiataria de qualidade.
-- Está sentindo alguma dor?
-- Na cabeça -- respondeu Langdon, o latejar em seu crânio agravado pelo brilho forte da lanterna. Felizmente, a médica a guardou no bolso e pegou seu pulso, para medir os batimentos. -- O senhor acordou gritando -- falou. -- Consegue se lembrar por quê?
Langdon voltou a ter um lampejo da estranha visão da mulher de véu, cercada de corpos em agonia. Busca e encontrarás.
-- Tive um pesadelo.
-- Sobre o quê?
Langdon lhe contou.
A dra. Brooks manteve uma expressão neutra enquanto fazia anotações numa prancheta.
-- Alguma ideia do que possa ter provocado uma visão tão apavorante?
Langdon vasculhou a memória e então balançou a cabeça, que latejou em protesto.
-- Muito bem, Sr. Langdon -- disse ela, sem parar de escrever --, agora vou fazer alguma perguntas de rotina. Que dia da semana é hoje?
Langdon pensou por alguns instantes.
-- Sábado. Eu me lembro de estar andando pelo campus hoje mais cedo... de participar de um simpósio à tarde e depois... acho que essa é a última coisa de que me lembro. Eu levei um tombo?
-- Já vamos falar sobre isso. O senhor sabe onde está?
Langdon deu seu melhor palpite:
-- No Hospital Geral de Massachusetts?
A dra. Brooks fez outra anotação.
-- Existe alguém para quem devamos telefonar avisando? Mulher? Filhos?
-- Ninguém -- respondeu Langdon sem precisar pensar.
Sempre gostara da solidão e da independência que sua vida de solteiro lhe oferecia, embora precisasse admitir que, nas condições em que se encontrava, preferiria ter um rosto conhecido ao seu lado.
-- Eu poderia telefonar para alguns colegas, mas não vejo necessidade.
Quando a dra. Brooks terminou de medir o pulso de Langdon, o médico mais velho se aproximou. Alisando as sobrancelhas revoltas, sacou um pequeno gravador do bolso e o mostrou à colega. Ela assentiu, indicando que entendera, e voltou a encarar o paciente.
-- Sr. Langdon, quando chegou hoje mais cedo, o senhor estava murmurando repetidamente uma coisa.
Ela lançou um olhar ao dr. Marconi, que ergueu o gravador digital e apertou um botão.
Uma gravação começou a tocar e Langdon ouviu a própria voz grogue balbuciar repetidas vezes a mesma frase: "Ve... sorry. Ve... sorry."
-- Me parece -- continuou a doutora -- que o senhor estava dizendo "Very sorry. Very sorry".
Langdon concordou, embora não se lembrasse de nada daquilo.
A dra. Brooks o fitou com um olhar tão intenso que chegava a ser perturbador.
-- Tem alguma ideia de por que diria isso? O que o senhor lamenta tanto?
Enquanto se esforçava para tentar lembrar, Langdon tornou a ver a mulher de rosto velado parada à margem de um rio vermelho-sangue, cercada de corpos. Sentiu outra vez o fedor da morte.
Foi invadido pela sensação repentina, instintiva, de que estava correndo perigo... não só ele como todos os demais. Os bipes do monitor cardíaco aceleraram na mesma hora. Seus músculos se retesaram e ele tentou se sentar.
A dra. Brooks se apressou em pousar a mão com firmeza sobre seu peito, forçando-o a se deitar novamente. Então lançou um olhar rápido para o médico barbudo, que foi até um dos cantos do quarto e começou a preparar alguma coisa.
Em pé ao lado de Langdon, a doutora voltou a falar com um sussurro:
-- Sr. Langdon, ansiedade é uma reação comum a traumatismos cranianos, mas o senhor precisa manter sua pulsação baixa. Não deve se mexer nem se agitar, apenas fique deitado e descanse. Vai ficar tudo bem. Aos poucos, vai recuperar a memória.
O outro médico voltou com uma seringa, que entregou à dra. Brooks. Ela injetou o conteúdo no acesso intravenoso de Langdon.
-- É só um sedativo leve para acalmá-lo -- explicou -- e para aliviar a dor. -- Ela se levantou para ir embora. -- Vai ficar tudo bem, Sr. Langdon. Agora durma. Se precisar de alguma coisa, aperte o botão ao lado da cama.
Ela apagou a luz e se retirou junto com o médico barbudo.
No escuro, Langdon sentiu o efeito quase imediato da medicação em seu organismo, arrastando-o de volta para as profundezas do poço do qual havia emergido. Combateu a sensação, forçando os olhos a permanecerem abertos na escuridão do quarto. Tentou se sentar, mas seu corpo parecia feito de concreto.
Ao mudar de posição na cama, Langdon se viu outra vez de frente para a janela. As luzes estavam apagadas e, no vidro escuro, seu próprio reflexo havia desaparecido, substituído por um horizonte distante e iluminado.
Em meio às silhuetas de torres e domos, uma fachada em especial se destacava em seu campo de visão. A construção era uma imponente fortaleza de pedra, com ameias no parapeito e uma torre de mais de 90 metros, que ficava mais larga perto do topo projetado para fora, também com ameias munidas de balestreiros.
Langdon se sentou na cama com as costas eretas, fazendo a dor na cabeça explodir. Lutou contra o latejar violento e fixou o olhar na torre.
Conhecia bem aquela estrutura medieval.
Era única no mundo.
Infelizmente, porém, ficava a quase 6.500 quilômetros de Massachusetts.
Do lado de fora, escondida nas sombras da Via Torregalli, uma mulher robusta desmontou sem o menor esforço de uma moto BMW e avançou com o andar decidido de uma pantera que persegue sua presa. Tinha um olhar feroz. Os cabelos curtos e espetados se destacavam contra a gola levantada de uma jaqueta de couro preta. Ela verificou a arma equipada com silenciador que trazia nas mãos e ergueu os olhos para a janela do quarto de Robert Langdon, onde a luz acabara de se apagar.
Mais cedo naquela mesma noite, sua missão original dera terrivelmente errado.
O arrulho de uma simples pomba havia mudado tudo.
Agora ela estava lá para consertar o estrago.'
'As lembranças se materializaram lentamente, como bolhas vindo à tona da escuridão de um poço sem fundo.
Uma mulher com o rosto coberto por um véu.
Robert Langdon olhava para ela do outro lado de um rio cujas águas agitadas corriam vermelhas, tingidas de sangue. De frente para ele, na margem oposta, a mulher o encarava, imóvel, solene. Trazia na mão uma faixa azul, uma tainia, que ergueu em homenagem ao mar de cadáveres aos seus pés. O cheiro da morte pairava por toda parte.
Busca, sussurrou a mulher. E encontrarás.
Langdon ouviu as palavras como se ela as tivesse pronunciado dentro de sua cabeça. "Quem é você?", perguntou ele, sem que sua voz produzisse som algum.
O tempo urge, sussurrou ela. Busca e encontrarás.
Langdon deu um passo à frente, em direção ao rio, mas então viu que as águas, além de ensanguentadas, eram profundas demais para que ele as atravessasse. Quando tornou a erguer os olhos para a mulher de véu, os corpos aos seus pés tinham se multiplicado. Eram agora centenas, milhares talvez, alguns ainda vivos, contorcendo-se de agonia, padecendo mortes inimagináveis... consumidos pelo fogo, enterrados em fezes, devorando uns aos outros. Podia ouvir os lamentos humanos ecoarem acima da água.
A mulher se moveu em sua direção com as mãos esguias estendidas, como quem pede ajuda.
"Quem é você?!", gritou Langdon outra vez.
Em resposta, a mulher levou a mão ao rosto e ergueu lentamente o véu. Sua beleza era arrebatadora, porém ela era mais velha do que Langdon imaginara: 60 e poucos anos talvez, altiva e forte, como uma estátua atemporal. Tinha um maxilar anguloso, de aspecto severo, olhos penetrantes e intensos e longos cabelos grisalhos, cujos cachos lhe caíam em cascata sobre os ombros. Um amuleto de lápis-lazúli pendia de seu pescoço --uma serpente solitária enroscada em um bastão.
Langdon teve a sensação de que a conhecia, de que confiava nela. Mas como? Por quê?
Ela então apontou para duas pernas que brotavam da terra, se contorcendo. Aparentemente eram de alguma pobre alma enterrada até a cintura, de cabeça para baixo. Uma letra solitária escrita com lama se destacava na coxa pálida do homem: R.
R?, pensou Langdon, intrigado. R de... Robert? Será que esse... sou eu?
O rosto da mulher nada revelava. Busca e encontrarás, repetiu ela.
Subitamente, ela começou a irradiar uma luz branca... cada vez mais forte. Todo o seu corpo começou a vibrar com intensidade e, então, com um estrondo repentino, ela explodiu em mil faíscas.
Langdon acordou sobressaltado, aos gritos.
Estava sozinho no quarto iluminado. O cheiro pungente de álcool hospitalar pairava no ar. Ali perto bipes de máquina soavam em discreta sintonia com o ritmo de seu coração. Tentou mover o braço direito, mas uma dor lancinante o impediu. Olhou para baixo e viu que um cateter intravenoso repuxava a pele de seu antebraço.
Sua pulsação se acelerou e as máquinas acompanharam o ritmo, passando a emitir bipes mais rápidos.
Onde estou? O que aconteceu?
A nuca de Langdon latejava, uma dor torturante. Com cautela, ele ergueu o braço livre e tocou o couro cabeludo, tentando localizar a origem da dor de cabeça. Sob os cabelos emaranhados, encontrou as extremidades duras de uns dez pontos incrustados de sangue seco.
Fechou os olhos e tentou se lembrar de algum acidente.
Nada. Branco total.
Pense.
Apenas escuridão.
Um homem com roupa cirúrgica entrou apressado, aparentemente alertado pela aceleração dos bipes do monitor cardíaco de Langdon. Tinha barba desgrenhada, bigode cerrado e olhos bondosos que irradiavam uma calma atenciosa por baixo das sobrancelhas revoltas.
-- O que... o que houve? -- Langdon conseguiu perguntar. -- Eu sofri algum acidente?
O barbudo levou um dedo aos lábios e tornou a sair às pressas para chamar alguém no corredor.
Langdon virou a cabeça, mas o movimento fez uma pontada de dor atravessar seu crânio. Respirou fundo várias vezes e esperou a dor passar. Então, com cuidado e de forma metódica, examinou o ambiente estéril ao seu redor.
O quarto de hospital continha uma cama só. Não havia flores. Não havia cartões. Viu as próprias roupas em cima de um balcão próximo ao leito, dobradas dentro de um saco plástico transparente. Estavam cobertas de sangue.
Meu Deus. Deve ter sido grave.
Langdon girou a cabeça bem devagar em direção à janela ao lado da cama. Estava escuro lá fora. Era noite. A única coisa que ele conseguia ver no vidro era o próprio reflexo: um desconhecido abatido, pálido e exausto, ligado a tubos e fios e cercado por equipamentos hospitalares.
Ouviu vozes se aproximando pelo corredor e tornou a olhar para o quarto. O médico voltou, dessa vez acompanhado por uma mulher.
Ela parecia ter 30 e poucos anos. Usava roupa cirúrgica azul e tinha os cabelos louros presos em um rabo de cavalo grosso que balançava ao ritmo de seus passos.
-- Sou a doutora Sienna Brooks -- apresentou-se, abrindo um sorriso para Langdon ao entrar. -- Vou trabalhar com o dr. Marconi hoje à noite.
Langdon assentiu com um débil meneio de cabeça.
Alta e graciosa, a dra. Brooks se movia com a desenvoltura assertiva de uma atleta. Mesmo com aquela roupa folgada, conservava uma elegância esguia. Por mais que Langdon não percebesse nenhum traço de maquiagem, sua pele tinha uma suavidade incomum, a única mácula era uma pinta minúscula logo acima dos lábios. Os olhos, de um tom castanho suave, pareciam estranhamente penetrantes, como se houvessem testemunhado experiências de rara profundidade para alguém tão jovem.
-- O dr. Marconi não fala inglês muito bem, então me pediu que preenchesse sua ficha de admissão -- disse ela, sentando-se ao seu lado. Voltou a sorrir.
-- Obrigado.
-- Certo -- começou ela, assumindo um tom de voz sério. -- Qual é o seu nome?
Ele precisou de alguns instantes.
-- Robert... Langdon.
Ela apontou uma lanterninha para seus olhos.
-- Profissão?
Ele respondeu ainda mais devagar:
-- Professor universitário. História da Arte... e Simbologia. Em Harvard.
A dra. Brooks baixou a lanterna, mostrando-se surpresa. O médico de sobrancelhas revoltas pareceu igualmente espantado.
-- O senhor é americano?
Langdon a encarou com um olhar intrigado.
-- É só que... -- Ela hesitou. -- O senhor não tinha documento nenhum quando chegou. Como estava de paletó de tweed da Harris e sapatos sociais, imaginamos que fosse britânico.
-- Eu sou americano -- assegurou-lhe Langdon, exausto demais para explicar sua preferência por alfaiataria de qualidade.
-- Está sentindo alguma dor?
-- Na cabeça -- respondeu Langdon, o latejar em seu crânio agravado pelo brilho forte da lanterna. Felizmente, a médica a guardou no bolso e pegou seu pulso, para medir os batimentos. -- O senhor acordou gritando -- falou. -- Consegue se lembrar por quê?
Langdon voltou a ter um lampejo da estranha visão da mulher de véu, cercada de corpos em agonia. Busca e encontrarás.
-- Tive um pesadelo.
-- Sobre o quê?
Langdon lhe contou.
A dra. Brooks manteve uma expressão neutra enquanto fazia anotações numa prancheta.
-- Alguma ideia do que possa ter provocado uma visão tão apavorante?
Langdon vasculhou a memória e então balançou a cabeça, que latejou em protesto.
-- Muito bem, Sr. Langdon -- disse ela, sem parar de escrever --, agora vou fazer alguma perguntas de rotina. Que dia da semana é hoje?
Langdon pensou por alguns instantes.
-- Sábado. Eu me lembro de estar andando pelo campus hoje mais cedo... de participar de um simpósio à tarde e depois... acho que essa é a última coisa de que me lembro. Eu levei um tombo?
-- Já vamos falar sobre isso. O senhor sabe onde está?
Langdon deu seu melhor palpite:
-- No Hospital Geral de Massachusetts?
A dra. Brooks fez outra anotação.
-- Existe alguém para quem devamos telefonar avisando? Mulher? Filhos?
-- Ninguém -- respondeu Langdon sem precisar pensar.
Sempre gostara da solidão e da independência que sua vida de solteiro lhe oferecia, embora precisasse admitir que, nas condições em que se encontrava, preferiria ter um rosto conhecido ao seu lado.
-- Eu poderia telefonar para alguns colegas, mas não vejo necessidade.
Quando a dra. Brooks terminou de medir o pulso de Langdon, o médico mais velho se aproximou. Alisando as sobrancelhas revoltas, sacou um pequeno gravador do bolso e o mostrou à colega. Ela assentiu, indicando que entendera, e voltou a encarar o paciente.
-- Sr. Langdon, quando chegou hoje mais cedo, o senhor estava murmurando repetidamente uma coisa.
Ela lançou um olhar ao dr. Marconi, que ergueu o gravador digital e apertou um botão.
Uma gravação começou a tocar e Langdon ouviu a própria voz grogue balbuciar repetidas vezes a mesma frase: "Ve... sorry. Ve... sorry."
-- Me parece -- continuou a doutora -- que o senhor estava dizendo "Very sorry. Very sorry".
Langdon concordou, embora não se lembrasse de nada daquilo.
A dra. Brooks o fitou com um olhar tão intenso que chegava a ser perturbador.
-- Tem alguma ideia de por que diria isso? O que o senhor lamenta tanto?
Enquanto se esforçava para tentar lembrar, Langdon tornou a ver a mulher de rosto velado parada à margem de um rio vermelho-sangue, cercada de corpos. Sentiu outra vez o fedor da morte.
Foi invadido pela sensação repentina, instintiva, de que estava correndo perigo... não só ele como todos os demais. Os bipes do monitor cardíaco aceleraram na mesma hora. Seus músculos se retesaram e ele tentou se sentar.
A dra. Brooks se apressou em pousar a mão com firmeza sobre seu peito, forçando-o a se deitar novamente. Então lançou um olhar rápido para o médico barbudo, que foi até um dos cantos do quarto e começou a preparar alguma coisa.
Em pé ao lado de Langdon, a doutora voltou a falar com um sussurro:
-- Sr. Langdon, ansiedade é uma reação comum a traumatismos cranianos, mas o senhor precisa manter sua pulsação baixa. Não deve se mexer nem se agitar, apenas fique deitado e descanse. Vai ficar tudo bem. Aos poucos, vai recuperar a memória.
O outro médico voltou com uma seringa, que entregou à dra. Brooks. Ela injetou o conteúdo no acesso intravenoso de Langdon.
-- É só um sedativo leve para acalmá-lo -- explicou -- e para aliviar a dor. -- Ela se levantou para ir embora. -- Vai ficar tudo bem, Sr. Langdon. Agora durma. Se precisar de alguma coisa, aperte o botão ao lado da cama.
Ela apagou a luz e se retirou junto com o médico barbudo.
No escuro, Langdon sentiu o efeito quase imediato da medicação em seu organismo, arrastando-o de volta para as profundezas do poço do qual havia emergido. Combateu a sensação, forçando os olhos a permanecerem abertos na escuridão do quarto. Tentou se sentar, mas seu corpo parecia feito de concreto.
Ao mudar de posição na cama, Langdon se viu outra vez de frente para a janela. As luzes estavam apagadas e, no vidro escuro, seu próprio reflexo havia desaparecido, substituído por um horizonte distante e iluminado.
Em meio às silhuetas de torres e domos, uma fachada em especial se destacava em seu campo de visão. A construção era uma imponente fortaleza de pedra, com ameias no parapeito e uma torre de mais de 90 metros, que ficava mais larga perto do topo projetado para fora, também com ameias munidas de balestreiros.
Langdon se sentou na cama com as costas eretas, fazendo a dor na cabeça explodir. Lutou contra o latejar violento e fixou o olhar na torre.
Conhecia bem aquela estrutura medieval.
Era única no mundo.
Infelizmente, porém, ficava a quase 6.500 quilômetros de Massachusetts.
Do lado de fora, escondida nas sombras da Via Torregalli, uma mulher robusta desmontou sem o menor esforço de uma moto BMW e avançou com o andar decidido de uma pantera que persegue sua presa. Tinha um olhar feroz. Os cabelos curtos e espetados se destacavam contra a gola levantada de uma jaqueta de couro preta. Ela verificou a arma equipada com silenciador que trazia nas mãos e ergueu os olhos para a janela do quarto de Robert Langdon, onde a luz acabara de se apagar.
Mais cedo naquela mesma noite, sua missão original dera terrivelmente errado.
O arrulho de uma simples pomba havia mudado tudo.
Agora ela estava lá para consertar o estrago.'
28 abril 2013
Depois de O Massacre da Serra Elétrica, a coleção ‘Dissecando – Filmes Clássicos de Terror’ ataca de “A Morte do Demônio”
“A Morte do Demônio (Evil Dead)” foi um dos filmes
de terror que marcou a minha geração. Lembro que, nessa época, tinha apenas 22 anos de idade e todos os finais de semana
saía da locadora de minha cidade com duas sacolas cheias de VHS para assistir
em casa. Quantos finais de semana com os amigos, namorada, bebidas e curtição
foram deixados de lado em troca de multi-sessões de filmes regadas à muito VHS
na tranqüilidade de meu quarto.
Posso garantir que de todos os clássicos de terror
que assisti nesse período especial de minha vida, excetuando “O Exorcista” (é
evidente), “A Morte do Demônio” foi aquele que mais mexeu comigo e com a minha ‘tchurma’.
Presença constante em minhas manjadas sacolinhas de VHS; o filme de Sam Raimi
era o tema preferido em nossas rodinhas de amigos. Um dos comentários mais
constantes era o de que o filme possuía cenas tão impressionantes que não era
aconselhável assistir sozinho e muito menos à noite. Enquanto vou redigindo
esse post, as lembranças do passado vão sendo reativadas em minha memória e me
lembro, agora, de que eu e minha turma decidimos assistir “A Morte do Demônio” numa
madrugada, na casa dos meus pais, após chegarmos do que vocês chamam hoje de
balada . Uhauauaua!! E que balada foi aquela! Já era bem tarde da noite e
colocamos a fitona no saudoso videocassete que tinha no quarto e pimba!
Começamos assistir. Caraca, quase mijei de medo. O Silva, um colega nosso,
metido a valentão, na cena em que o demônio caminha pela floresta – que tem um
impacto muito grande no filme – soltou um miado de pavor. Hahahahaha...Hahahahahaha...
Hahahahahahaha... Pera um pouquinho aí pessoal, ainda estou me esborrachando de
ir... Hahahahahahahahahaha!!! É só lembrar daquilo que eu não consigo segurar a
gargalhada. Logo o Silva! O mais valente e destemido dos colegas do passado.
Logo o Silva! O escoteiro que tinha o hábito de acampar em matas virgens, fosse
de noite ou de dia, ao lado de cobras, aranhas e escorpiões. Logo ele!!
Mesmo após quase 30 anos, o miado de medo do Silva
ficou gravado em minha mente. Sabem aquele miado sofrido sem a vogal “a”. Coisa
do tipo: Mi__uuuuuuuuuu!!!!! Com o “u” sumindo aos poucos no final? É assim que
me lembro do Silva que hoje ocupa um cargo importante na Polícia Militar da
capital.
Depois que o Silva soltou o miado de medo, tivemos
de suspender temporariamente a “sessão videocinematográfica” para que
soltássemos toda a risada do peito. Então depois, mais relaxados, recomeçamos a
ver o filme de Raimi e garanto que eu e meus amigos (estávamos em cinco, se não
me engano) não miamos como o Silva, mas abafamos muitos gritos e exclamações de
medo.
Acredito que até hoje, “A Morte do Demônio” ainda
provoque calafrios. O filme nunca perderá a sua atualidade, pois já entrou para
o rol das produções antológicas, mesmo sem nunca ter sido lançado nos cinemas
brasileiros. O filme estreou em 1981 nos Estados Unidos, mas só chegou em
terras tupiniquins dois anos depois e direto em vídeo.
Nós da geração VHS não éramos presenteados com cenas
extras, entrevistas e muito menos making of no final do filme, como acontece
nos dias de hoje. A brontossáurica fitinha não dispunha de recursos que possibilitassem
essa tecnologia. Por isso, tão logo terminava o filme ficávamos chupando o
dedo, morrendo de vontade em saber como teria sido gravada aquela cena que nos
deixou vidrados na tela ou então, a opinião de diretores e atores sobre o
roteiro. Podem acreditar, há quase três décadas já tínhamos essa curiosidade ‘pós
filme’ ou você achava que esse interesse só surgiu com a geração DVD? (rs)
Cena do filme de Raimi lançado diretamente em video no Brasil em 1983 |
Eu e meus amigos, incluindo o amedrontado Silva
ficamos morrendo de vontade de ouvir a opinião do Raimi e principalmente do
ator Bruce Campbell que interpretou o impagável Ash. Então, quando soube que “A
Morte do Demônio” havia sido lançado em
DVD, não pensei duas vezes, comprei logo o meu, mas quando verifiquei as
informações na capa... Cadê os extras??? Só havia uma breve biografia e a sinopse
do filme!!!! Cara, fiquei derrubadaço! O golpe foi certeiro e atingiu o queixo
me levando à nocaute.
Só fui me recuperar do golpe há pouco tempo, quando
soube que a editora carioca DarkSide já havia definido qual seria o filme a ser
abordado no segundo volume da coleção “Dissecando – Filmes Clássicos de Terror”.
E adivinhem qual foi a produção selecionada? Fácil né? O próprio: “A Morte do
Demônio!” Ihauuuuuuu!! Cara, vibrei muito, pois agora tinha a certeza de que
iria ‘ ficar por dentro’ de tudo, absolutamente tudo o que rolou nos bastidores
das filmagens. Sem contar as entrevistas e fotos inéditas. Caraca! Demaisss!
Fiquei eufórico e confiante porque já conhecia a
qualidade do primeiro volume da série que dissecou outra produção fantástica do
cinema de terror: “O Massacre da Serra Elétrica”. Pensei comigo: “- Lógicamente
o pessoal da DarkSide vai querer manter a qualidade inicial”. Não marquei
bobeira e já reservei a obra que está em pré-venda nas principais livrarias
virtuais.
O livro “ A Morte do Demônio” foi escrito por Bill
Warren que é um conceituado crítico de cinema. De acordo com a DarkSide, Warren
que teve acesso total ao arquivo de Raimi e também das três produções -‘A Morte
do Demônio’ (Evil Dead 1), ‘Uma Noite Alucinante (Evil Dead 2) e ‘Uma Noite
Alucinante 2 (Evil Dead 3) – revela detalhadamente em sua obra o making of dos
filmes, incluindo entrevistas exclusivas com o elenco e equipe de produção. O
livro ainda promete trazer uma miscelânea de fotos raras e inéditas da
filmagem; o storyboard; esboços dos concepts e figurinos dos demônios;
histórias dos bastidores das filmagens e mais isso e aquilo. Enfim, um oceano
de informações sobre a obra-prima de Raimi.
A previsão é de que o segundo volume da coleção “Dissecando
– Filmes Clássicos de Terror: A Morte do Demônio” chegue às livarias no dia 30
desse mês. Por isso, paciência galera que já está chegando a hora.
PS: Não fiz citações ao remake do filme no post,
porque ainda não assisti. E para ser sincero... nem sei se assistirei.
26 abril 2013
Hospital
Com certeza muitos internautas e blogueiros que passam por
aqui com frequencia, ao lerem esse post, irão exclamar: -“ Putz, lá vem ele,
novamente, com o Touro!!”. Para essa galera eu peço desculpas, mas não posso
ficar calado com o que acabei de presenciar há alguns minutos atrás, antes de
começar a redigir esse texto. A cena que vi foi antológica e merece entrar para
os anais da comédia da vida real. O que escutei do Touro, então, é digno de
registro; digno de risos.... risos não; gargalhadas. Isto mesmo; gargalhadas e
daquelas bem esculachadas.
Galera, ao chegar em casa, me respondam o que é que eu vejo
na sala de estar que fica anexa ao meu quarto?? O Tourão dormindo e roncando ao
lado de uma outra mulher... que, por sua vez, também estava dormindo e
roncando!!! Acontece que eu percebi que o ronco do Kid Tourão era meio
estranho; sei lá, meio artificial. O da mulher não; esse sim, parecia um ronco
original... genuíno.
Quando o Tourão ouviu a minha voz exclamando: “Meu Deus! O
que está acontecendo!!??”; ele imediatamente abriu os olhos, fez um sinal de
psiuuu com o dedo indicador colocado nos lábios e falou com a voz meio
agoniada: “Ajuda euuu!”. Depois fez um sinal para que eu dispensasse a mulher
que roncava o ronco dos anjos. Depois disso, voltou a fingir que estava
dormindo. Bem, entendi a mensagem e após, educadamente, acordar a senhora
dorminhoca e roncadora e agradecê-la pela visita, fui esclarecer o fato com o
vovô arteiro. Queria saber o que ele havia aprontado. Ah! Antes que me esqueça.
A mulher que dormia sentada na cadeira ao lado do sofá onde estava o Tourão é a
dona Dirce, um antiga amiga de solteira de minha saudosa mãe, a Toura (verdade,
esse era o apelido de mamãe... Putz que saudades me bateu agora...), e muito
conhecida da família. Dona Dirce chegou se sentou na cadeira e começou a
conversar com o Tourão, relembrando os histórias engraçadas do passado. O
problema é que a dona Dirce fala pelos cotovelos e após mais de uma hora e meia
só escutando e pouco falando, o velhinho que ainda não está andando - por isso
deixa o seu ‘papagaio’, o qual ele chama de ‘purunguinha’ sempre por perto, ao
lado de um lavatório móvel – sentiu uma vontade insuportável de fazer xixi, por
causa dos diuréticos que vem tomando no pós-operatório. “- Meu filho, eu queria
fazer xixi, mas ela não parava mais de falar. Eu estava desesperado prá tirar
prá fora o ‘pingolin” (é assim mesmo que ele chama o dito cujo) mas a Dirce só
matraqueava e matraqueava... Jesus amado! Como ela falava! Então não me restou outra coisa se não fingir
que estava dormindo para ela se tocar e ir embora”, disse ele.
Então galera o que é que acontece?? Ok, eu respondo. O plano
do Tourão foi completamente implodido pela dona Dirce, porque ao ver a sua
“vitima” cair no sono, ela deve ter pensado: - “Bem vou puxar um ‘rango’ também
e depois continuo com o assunto!!!” Kkkkkkk!!! Resultado: um dormiu de
mentirinha e a outra... de verdade!! O Tourão me disse depois que jamais iria
se aliviar ao lado de uma visita, mesmo que ela estivesse dormindo. “Santa
madre de Deus!! Isso é falta de respeito!!”, bradou ele. Depois mais
descontraído disse: “Meu pingolin é educado”.
Cara! Estou aqui redigindo essa ‘comédia’ e chorando de rir.... Pronto. Me desculpem a
enrolação e a fugida do tema desse post, mas não deu prá segurar. Prometo que
nos próximos posts serei mais cometido. Pelo menos, vou tentar.
Mas agora,vamos ao que interessa: escrever sobre esta beleza
de obra literária que se chama “Hospital”, de Arthur Hailey, o mesmo criador de
outra obra-prima chamada “Aeroporto”.
Sabem de uma coisa galera; às vezes os leitores da nova
geração, cometem as maiores injustiças com aquelas obras velhinhas das décadas
de 50, 60 ou 70. E observem que eu deixei de ir fundo, pois caso contrário
poderia ainda citar aquelas das décadas de 20 ou 30! Quase sempre, preferimos menosprezar
as tais obras, deixando que elas fiquem esquecidas no fundo das nossas
prateleiras. Acredito que alguns de vocês já “bateram” os olhos na capa super
brega e mal feita da edição brasileira de 1966 de “O Hospital” lançada pela
Nova Fronteira e desistiram, na mesma hora, de lê-la. Mais do que isso,
chegaram a sentir ojeriza de encostar as mãos naquele “produto”. Então, após
algumas horas, você se depara em, outra livraria, com a capa ultra-trabalhada
de um “Fallen”, “Sussurro”, “Despertar” ou então, outros livrinhos descartáveis
escritos por escritores e escritoras novatas e desconhecidas e que... me
perdoem... escrevem muito mal.
Lanço aqui um desafio para você que fugiu ao ver o livro de
Hailey. Que tal voltar aquele sebo e comprar a obra?. Vamos lá! Pode fazer isso
sem medo. Leia e depois me conte se gostou ou não. Combinado?
Gente, não tem como falar mal de um livro em que o autor
demorou aproximadamente quatro anos para escrever, sendo dois anos só de
pesquisas. E foi isso que aconteceu com “Hospital”, lançado nos Estados Unidos
em 1959.
Hailey chegou ao ponto de cometer uma loucura para buscar
subsídios que deixassem a sua obra ainda mais completa. Sabem o que ele fez?
Pasmem: o autor se disfarçou de médico e se infiltrou numa grande clínica nos
Estados Unidos, com o objetivo de conhecer melhor o drama dos profissionais que
por lá trabalhavam. Não me perguntem como Hailey conseguiu fazer isso. Com
certeza deve ter contado com a ajuda de um “padrinho” poderoso, mas a verdade é
que ele conseguiu e pronto. Dessa forma, pôde entender como funciona um “novo
mundo”, bem diferente daquele mundo em que nós vivemos. Hailey se tornou um
expert no mundo onde homens e mulheres vivem por apenas um ideal: salvar outras
vidas. E como será que é a vida desses médicos e enfermeiras na intimidade?
Como é um hospital na sua intimidade, longe dos olhos dos pacientes? Todos
estes questionamentos são discutidos de maneira profunda e sem meias verdades
no romance de Hailey.
Cara! Parece coisa de cinema, mas pelo que pesquisei, o
autor se passou despercebido nessa clínica ultra conceituada, sem que ninguém
descobrisse que ele fosse um escritor. Não deu outra: o espertalhão acabou se
passando por um cara da turma de branco, conseguindo ouvir revelações e
confidências importantes.
“Hospital” pode ser considerado um romance referencia na
área médica. Por isso, médicos, enfermeiros, provedores e diretores de
hospitais de todo o mundo tem o dever e a obrigação de lerem a obra. Quanto aos
leigos no assunto, também devem ler, pois duvido que nunca tenham sido
obrigados a fazer uma visitinha para alguém num hospital.
O livro aponta abertamente e sem meias palavras os problemas
enfrentados por médicos, diretores e pacientes num grande hospital, tendo como
pano de fundo o romance cheio de reviravoltas envolvendo um jovem médico e uma
enfermeira.
O enredo desenvolvido por Hailey é tão detalhista que mostra
ao leitor os riscos de uma contaminação alimentar num hospital. Isso mesmo!
Contaminação alimentar!! Eu já ouvi falar de pessoas que sofreram o diabo em
hospitais ou clínicas após terem contraído infecções urinárias e – Deus me
livre!!! – septicemia; mas infecção alimentar??!! Pois é, já na década de 50, Hailey mostrava
aos seus leitores que isso era possível. Mas como isso acontece? Jura que quer
mesmo saber?? Tudo bem; então você que conseguiu chegar até aqui e agora está
se preparando para almoçar, jantar ou lanchar, eu aconselharia que... bem... primeiramente
comesse e depois do tradicional “kilo” recomeçasse a leitura.
Você já imaginou como um grande hospital consegue lavar
centenas de pratos onde são servidas refeições aos seus pacientes? É evidente
que essa limpeza não é feita manualmente, devido a grande quantidade de pratos
e talheres, mas por meio de lavadores de louças e talheres. Mas... e se esses
equipamentos não estiverem funcionando adequadamente, deixando de eliminar
grande parte dos resíduos? Quantas pessoas com doenças graves e contagiosas utilizam
esses pratos que passam de boca e boca numa grande rotatividade? E se houverem
resquícios alimentares nos pratos ou talheres mal lavados? Acho melhor parar
por aqui. Hailey aborda com detalhes esse assunto. E pensar que naquela época,
os hospitais americanos e ingleses já se preocupavam com esses detalhes
ignorados pela maioria dos grandes centros médicos.
Há ainda muitos outros segredos que acontecem entre quatro
paredes de um hospital e que são desvendados por Hailey ao longo do enredo.
O leitor terá a oportunidade de conhecer um pouco mais o
drama dos patologistas que trabalham nos laboratórios dos hospitais, camuflados
de microscópios, tubos de ensaio e outros equipamentos. “O médico que o paciente nunca vê” – é assim
que muitas pessoas se referem ao patologista que tem a missão de realizar sombrias autópsias e freqüentemente é
consultado para o diagnóstico final que pode salvar uma vida. Em “Hospital”, O
Dr. Joseph Pearson, é um áspero patologista de meia-idade, dirigente
autocrático em seu pequeno império no Hospital Três Condados, transformando-se
no desespero de seu novo cirurgião-chefe, Kent O´Donnel que já vinha percebendo
que os padrões do hospital estavam caíndo muito, ameaçando a vida de seus
pacientes. Dr. Pearson se recusa a
adotar métodos modernos e dirige sua equipe de maneira autocrática, surgindo
assim, um verdadeiro embate entre os dois profissionais de saúde. O legal nesse
conflito é que ambos, apesar de suas diferenças, reconhecem a capacidade um do
outro. Essa queda de braço envolvendo Pearson e O’Donnel atinge o clímax quando
um diagnóstico errado, um julgamento clinico incompleto pode ameaça modificar a vida de um paciente...
para pior.
Enfim, “Hospital” mostra para o leitor um mundo que os
pacientes desconhecem. Vale a pena
procurar o livro num sebo e devorá-lo, apesar da capa (rsss).
19 abril 2013
Deixa Ela Entrar
Olha... mesmo que eu quisesse açoitar o livro de John
Ajvide Lindqvist; mesmo que eu tivesse achado a história uma porcaria, pura
perda de tempo; mesmo que eu desejasse pegar uma tesoura e picar a obra desse
escritor para que outros leitores não perdessem o seu precioso tempo; jamais,
em hipótese alguma, eu poderia fazer tudo isso. Sabem por que? Porque “Deixa
Ela Entrar” foi o meu confidente,
companheiro e amigo solidário nas madrugadas solitárias que passei com o Tourão
no hospital, em sua luta pela vida. Acredito que sem um livro – por pior que
seja – seria difícil suportar tantas cenas ‘down’ que presenciei. Todas essas
cenas restritas à perdas, perdas e mais perdas. Mães perdendo os filhos;
esposas perdendo os esposos; filhos perdendo os pais. Caraca! Parece que o anjo
da morte resolveu visitar todas as almas, cujos nomes estavam escritos no
‘livro do destino’, naquela fatídica noite em que eu estava por lá. Rapaz; como
dói ver tudo isso! Não que eu seja um molenga, pelo contrário, já vi coisas de
arrepiar em minha profissão, mas experimenta ouvir e ‘ver’ o choro agoniado de uma mãe que perde o seu
filho único. Cara, é fod...!
E eram nessas horas que eu ‘grudava’ no livro de
Lindqvist e mergulhava de corpo e alma na história... como se eu fosse um
observador na pequena cidade sueca de Blackeberg, onde se desenrola a trama de
Oskar e Eli.
Mas podem ficar tranqüilos porque eu não vou
criticar a obra, afinal de contas ela é muito boa; boa não... brilhante.
Talvez, depois do antológico “Drácula”
de Bram Stoker; o melhor romance sobre vampiros.
Ao contrário de Vlad Tepes, ou seja, do nosso lendário Conde
Drácula; o personagem criado por Lindqvist: a vampira Eli, é completamente
ambígua, despertando a cada página, a curiosidade do leitor. Eu ficava ansioso
para saber quais seriam as suas atitudes ao longo história. Tipo se ela iria
fazer algo bom ou maquiavélico, já que ao mesmo tempo em que Eli amava, minutos
depois, ela matava ou então depois de um abraço inocente de criança carente,
vinha a catracada na veia jugular da vítima. Já o conde Vlad idealizado por
Stoker é a caricatura do próprio mal. Por isso, desde a sua primeira aparição
nas páginas de ‘Drácula’, o leitor já percebe que o sanguessuga vai aprontar poucas
e boas, pois vive no mal, respira o mal e ama o mal. Entendemos isso, desde o
momento em que Drácula prende Jonathan Hark em seu castelo com a desculpa de o
tê-lo como um hóspede especial. Com o virar das páginas, essa maldade vai
crescendo, crescendo até atingir o auge.
Já com Eli, de “Deixa Ela Entrar”, o espírito do mal
caricato cede lugar para a ambigüidade. A vampira criada por Lindqvist, mostra
inúmeras facetas: de criança inocente e abandonada à mercê de um pedófilo, à de
vampira maléfica, pronta para devorar as suas vítimas. Mas se engana aqueles
que pensam que Eli faz dessa ambigüidade um jogo de cinismo. Nada disso. O
personagem não é cínico, pelo contrário; Eli é simplesmente o que é. Um ser
humano dócil e amigo até em baixo d’ água – Oskar que o diga – mas quando ele precisa
de sangue para continuar viva: que se dane o mundo; “quem estiver na minha
frente eu traço”. Então Eli se
transforma no vampiro letal como fica evidente em vários trechos do livro,
alguns com toques de humor negro, apesar da violência, como é o caso de uma
inocente velhinha que por causa de sua grave doença é obrigada a tomar doses
altíssimas de morfina. Ela acolhe Eli com todo o carinho em sua casa, ma a
vampirona não quer saber de amor e atenção; ela quer sangue, pois está faminta.
Então ataca a bondosa anciã e se enfastia, sem saber que o “produto” está infestado de morfina. O resultado desse
ataque vampírico inusitado chega a ser cômico, isto é, se deixarmos de lado a
violência com que o autor descreve o ataque.
O autor sueco John Ajvide Lindqvist |
Eli também é mesquinha ao extremo com Hakan, o homem
que vive com ela e que mantém um relacionamento misterioso com o vampiro. A
sanguessuga obriga o sujeito a sair em busca de vítimas que lhe possam fornecer
sangue fresco para a sua sobrevivência. Chantagens e ameaças “comem solto” e
Hakan sempre acaba cedendo. Em sua lista de vítimas cabe de tudo; desde
crianças, mulheres e adultos.
Mas todo esse mau caráter recheado com muita
violência desaparece da personalidade de Eli quando ela está ao lado de Oskar.
Nesses momentos, a vampira mostra o outro lado de sua personalidade: o lado
bom. Acredito que isso faz do personagem de Lindqvist, um dos mais ambíguos da
literatura mundial. E foram essas nuances que me atrairam em Eli, deixando a leitura
cada vez mais interessante. Quando começava a ficar com raiva do personagem, lá
vinha a menina sanguessuga com um gesto legal que a fazia subir em meu
conceito.
Outro ponto positivo do livro é o enredo
multilateral, onde outros personagens passam
a ter a mesma importância dos protagonistas, tornando a história bem mais
interessante e menos cansativa. O autor sueco optou por não transformar Eli e
Oskar nos personagens centrais de sua história. Há outros, também importantes, cuja
participação vai crescendo ao longo da narrativa. Isso ocorre, por exemplo, com
a turma do boteco, como aprendi a chamá-los. O drama de Lacke, Virginia,
Morgan, Larry, Karlsson e Gosta é tão essencial para o sucesso do roteiro como
o drama vivido por Eli e Oscar. A transformação de um deles em vamnpiro é uma
verdadeira obra prima da literatura. Lindqvist descreve em detalhes como o
organismo de um ser humano normal se comporta ao ir se transformando aos poucos
em um sistema vampírico. Sei que embolei o “meio de campo”, mas não encontro
palavras melhores para descrever a incerteza, dúvida e espanto de um dos
integrantes da turma do boteco, ao ver o seu corpo sofrer progressivamente estranhas
mudanças, as quais acredita ser sintomas de uma doença comum. Então quando
descobre que, na verdade, ele (a) está
se transformando num vampiro. Buuummm! A coisa pega! O coitado (a) chega perto
da piração.
Há o drama de Gosta que é viciado em gatos,
inclusive ele e os seus felinos são responsáveis por um trecho antológico do
romance, quando o ‘bando’ de animais resolve atacar um vampiro. Cara! Palavra
que fiquei com dó do sanguessuga! Lindqvist também descreve minuciosamente esse
momento. “Ele tentou bater nos bichos, ouviu ossos se quebrando, mas, quando um
caía, vinha outro, pois os gatos trepavam uns nos outros com sofreguidão
cravando as garras em sua carne”. Na minha opinião um dos melhores momentos do
romance.
O leitor ainda irá conhecer o revoltado Tommy, único
amigo de Oskar, cuja mãe se apaixona por um policial que se transforma no
pesadelo do enteado. Em sua revolta, Tommy procura encontrar meios de criar
situações constrangedoras para o futuro padrasto. Prestem atenção no que ele
apronta durante um culto numa igreja evangélica. Outra cena marcante.
Que sono........Zzzzzzzzzzz... Isso que dá escrever posts de madrugada |
Sei que muitos de vocês que lêem esse post, agora,
estão curiosos para saber se livro e filme são semelhantes. Eu respondo na
lata: Não. A obra escrita e a obra cinematográfica são como água e óleo:
diferentes ao extremo. Muitas cenas chocantes, incluindo algumas de pedofilia
foram cortadas do roteiro dos dois filmes: sueco, de 2008 e o remake americano,
de 2010. Alguns trechos do livro envolvendo o pedófilo Hakan são asquerosos. E
é evidente que essas passagens da obra escrita foram completamente mutiladas da
versão nas telonas. O Hakan dos cinemas chega a ser a madre Tereza de Calcutá
se comparado com o seu sósia dos livros.
Na obra de Lindqvist algumas pessoas que foram
atacadas por Eli chegam a se transformar em vampiros dando um trabalho danado
para a polícia; o que já não acontece no filme.
Enquanto os dois filmes mantém o foco somente em Eli
e Oskar, o livro explora – à exaustão – o drama de outros personagens.
O problema do bullying sofrido por Oskar na escola é
bem mais aprofundado no livro. No início chegamos a ficar com raiva do
personagem pela sua passividade perante os seus agressores. Ele não é
humilhado... ele é – me perdoem os termos chulos – cagado pelos seus ‘algozes’.
Só faltam dizer: “- Vai ô pirralho! Abre a boca para que nós possamos cagar
nela!” E o pior é que o pobre infeliz obedece. Quando, a tropa de inimigos de
Oskar pede para que ele imite um porco e o garoto faz o que eles determinam...
mêo... dá vontade de entrar na história e dar uns tabefes em Oskar pela sua
covardia.
E quanto a
Eli... Bem... perceberam a minha indecisão, toda vez que tinha de escrever
sobre esse personagem? Dêem uma espiadinha ao longo do post. Algumas vezes me
referia à Eli no feminino e em outras, no masculino. Assim, quando percebi, já
tinha feito um verdadeiro samba do crioulo doido no texto. Fico imaginando o
ataque de nervos de professores de língua portuguesa ou então de leitores mais
detalhistas ao verem essa confusão de palavras. Mas mesmo assim, optei por
deixar o texto sem nenhuma correção nessa parte, porque Eli é... deixa prá lá;
melhor você ler o livro. O que posso dizer sem o risco de bancar o chato que
publica spoilers é que na obra literária, temos a revelação do significado do
nome Eli. E de quebra um relato completo da origem do personagem, inclusive
como ‘ele’ se transformou em vampira. Êta, olha a confusão novamente aí. Já o
filme, oculta essa parte.
Poderia passar muito mais tempo revelando outras
diferenças entre livro e filme, mas paro por aqui, melhor você descobrir por si
mesmo. Aconselho ler o livro primeiramente, depois veja o filme.
E quer saber de uma coisa? Cara, estou morrrreeendo
de sono. Zzzzzzzzzz.
PS: Acordando do cochilo em frente ao teclado do
computer, somente para lembrar de um detalhe importante: o livro foi lançado no
Brasil após oito anos!! Deus abençoe a Globo Livros! Voltando aos braços de
Morfeu... Zzzzzzzz...
12 abril 2013
Cinco livros para ler num hospital
Cá estou eu, novamente, defronte à uma cama de hospital.
Ehehehe... Que maneira mais tétrica de começar um post. Fazer o que né galera?
Mas podem acreditar, essa é a mais cristalina das cristalinas verdades. E estou
ao lado de quem? Vai; responde aí. Dou de brinde três noitadas
como acompanhante de um Maradona completamente falido e esclerosado, internado
no quarto individual de um hospital do SUS e com a equipe de enfermagem em greve. Bem... com
isso, sobrará para você trocar os fraldões do cara, dar comidinha em sua boca e
por aí afora. E nos momentos de folga, escutar de sua própria boca, várias
provocações gringas contra nós, brasileiros. E então? Topas brincar de advinha
quem? Como eu acho que ninguém quer arriscar; vou responder logo de cara: estou
com o Kid Tourão. Cara, aliás, não sei pra que toda essa enrolação, já que
tenho certeza que a maioria do pessoal já sabia, desde o início do texto, quem é
a figura que está comigo.
Mas enganam-se aqueles que acreditam que estou triste. To
não. Afinal de contas, estou ao lado do velhinho mais animado e alto astral do
planeta. Nada ranzinza ou pessimista, apesar dos seus quase 90 anos, e
consciente da operação arriscada que passará amanhã.
O problema é o tal do clima hospitalar. Como estou perto da
ala cirúrgica, a coisa por aqui é meio baixo astral. Macas que passam por aqui
e por ali transportando pacientes entubados e desacordados; enfermeiras
correndo de um lado para o outro; cirurgiões debruçados nos postos de
enfermagem confabulando sobre procedimentos cirúrgicos; mas olha... nada mais
triste do que ver aqueles médicos saindo de uma portona anexa ao centro
cirurgico com aquela expressão triste no rosto, dando a notícia que familiar de
nenhum paciente em todo o mundo gostaria de escutar. Mêo... confesso que é uma
facada na alma ouvir o choro agoniado de uma mãe que jamais voltará a ver o
filho ou de uma esposa que jamais voltará a ver o seu esposo. Fico imaginando
ieuuuzinho amanhã sentado naquele baita salão, aguardando com os dedos cruzados
e o terço na mão a mensagem do médico que estará operando o velho Tourão.
Espero que ele diga: “Cacete!! O velho é foda!! Ta pronto pra outra irmão!!” Já
pensou que engraçado seria um médico assim! (rs). Pense nele saindo do centro
cirúrgico com um MP4 acoplado nos ouvidos e curtindo aquele heavy metal pesado
que foi tema do primeiro “Homem de Ferro”.
Tudo bem, galera, me desculpem as “viajadas”, a “tetricidade”
e principalmente as “fugidas” de assunto, mas afinal de contas se eu não puder
falar o que sinto com vocês que seguem esse espaço, vou falar com quem ?! Então
guenta aí um pouquinho....
Ah! Esqueci ainda do que um dos médicos falou para o Touro
durante o teste de anestesia realizado ontem. “Ô loko Tourão!! Vão colocar um
carro dentro do senhor!!” Se referindo a qualidade da prótese endovenosa que
estarão implantando no peito do velho. De imediato, Kid Tourão respondeu: O
que? Um carrinho? Eu preferia um Fenemê sêo doutor...”. Caraca! Um Fenemê!!
Afinal de contas o que significa isso? Só fui descobrir depois de pesquisar na
Internert – antes de vir para o hospital, já que aqui estou sem sinal. Um
Fenemê seria a marca ultra antiga de um caminhão,considerado top de linha há
mil anos atrás, ou seja, na época doTourão (rsss).
Mas tudo bem, tudo bom, tudo legal... vamos ao que interessa:
ao objetivo desse post que até há poucos instantes estava sem nenhum objetivo.
Pensava apenas em ficar jogando palavras ao vento para desabafar um pouquinho,
contando as minhas aventuras e do Kid Tourão neste hospital localizado num
lugar tranqüilo, mas por outro lado, lá onde o avô do Judas perdeu a meia
furada junto com o botinão. Mas, de repente, surgiu uma idéia meio maluca, do
tipo, escrever sobre alguns livros que li durante as minhas andanças nos
“hospitais da vida” e olha que foram muitas nessas mais de cinco décadas de
vida.
Espero contribuir com algum de vocês que terão de passar por
esse local, digamos não muito confortável, mas necessário em alguns momentos de
nossas vidas. Enfim, obras literárias que me ajudaram e muito a enfrentar as
noites traiçoeiras de uma ala hospitalar. Vamos à elas.
01 – Feliz Ano Velho
(Marcelo Rubens Paiva)
A primeira vez que li “Feliz Ano Velho” do Marcelo Rubens Paiva
– sim, a primeira vez, já que reli o livro ‘umas’ quatro vezes – foi numa
horrível noite quando os espectros de uma cólica renal me atacou.
Cara! A coisa foi fatal. Gemia, chorava, urrava, mijava,
babava e rolava de dor. A cólica renal que tive naquela noite pós formatura foi
braba. Braba não; foi medonha!
Só sei que mesmo após ser medicado, a dor em forma de
pontadas intermitentes nas costas, insistia em continuar que açoitando.
Resultado: no dia seguinte, o médico plantonista que já havia me atendido na
noite anterior, ficou tão compadecido do meu estado físico e psicológico
(parecia o Zagalo após aquela vergonhosa e maxi-humilhante derrota do Brasil
para a Holanda de Johan Cruyff nas semifinais da Copa de 74) que ele decidiu me
deixar internado por mais um dia.
Pedi, então, para que meu irmão levasse o livro do Marcelo
para que eu pudesse ler no leito de dor e sofrimento. Havia ganho o livro de uma
colega de universidade, mas ele acabou ficando meio esquecido na estante. Mas
de tanto ouvir os amigos contarem alguns detalhes sobre o livro me interessei
pela história e resolvi lê-lo – digamos numa situação inusitada – numa cama de
hospital.
Acabei me envolvendo tanto com a história do filho do
deputado Rubens Paiva – um dos desaparecidos da ditadura militar – que no
início da tarde, ao entrar em meu quarto para realizar um novo exame, o mesmo
médico que havia dobrado o plantão exclamou: “- Rapaz! Me empresta esse livro
que eu preciso dar uma reanimada”.
Gente, de fato! “Feliz Ano Velho” é um livro para levantar
qualquer irmão que esteja à beira do abismo do desespero. Uma lição de vida
para aqueles sujeitos que acreditam que os fatos negativos e não tão bons da
vida só acontecem com eles e por isso passam a maior parte de suas vidas se
lamentando.
Além de ser um livro do tipo “levanta defunto”, a história do
Marcelo é engraçada, fazendo com que o leitor chore de rir em muitas passagens.
Costumo dizer que o autor soube dosar com maestria drama, humor e até mesmo
auto-ajuda na medida certa. Resultado um livro fantástico!
Na época, o Marcelo era um jovem que curtia a vida ao máximo,
sugando cada momento de prazer e felicidade que o Sr. Destino nos oferece.
Namorava, fumava, bebia, viajava, curtia as festas nos vitrolões com os amigos
e principalmente amava o seu pai do fundo do coração. Mas, de repente, num tão
não belo dia assim, ele resolve sair para nadar com os amigos num lago próximo
à rodovia dos Bandeirantes e após um mergulho mal feito e calculado, acaba
ficando tetraplégico.
Durante esse período brabo de adaptação à uma cama de
hospital, completamente adverso ao estilo de vida que levava, o autor mostra a
dificuldade que muitas pessoas sofrem com essa situação e a força de vontade
que um homem tem de ter para se inserir novamente na sociedade, enfrentando
seus problemas e medos.
Nesta fase de recuperação, Marcelo conta com carisma e sinceridade
detalhes de sua infância e de sua juventude. Revela seus casos amorosos,
retrata sua carreira musical, enfim, faz uma verdadeira viagem no tempo em seus
22 anos de idade.
Enquanto lia “Feliz Ano Velho” pensava comigo: -“PQP! O cara
sofreu tudo isso e ainda teve força para tocar a vida com bom humor. Agora,
porque eu, com uma dorzinha nos rins – quer dizer... não tão dorzinha assim
- não posso fazer o mesmo?
Tchannn!!! Lavei a cara com óleo de peroba e fui pra luta.
- “Seo doutor!!!! Quero sair daqui para curtir a minha vida
linda e maravilhosa!!
02 – Pulmão de Aço
(Eliana Zagui)
Sabem de uma coisa... Nós vivemos, a maior parte de nossas
vidas, na vertical e ainda assim reclamamos que somos uns azarados, infelizes e
desafortunados. Caraca! Sabem o que é viver toda a sua vida na horizontal?! Vai
experimenta! E vê se assim para de reclamar um pouco da vida que leva! Para
fazer esse teste, basta ficar um mês inteiro deitado em sua cama, sem se
levantar e sem se mexer uma única vez. Pêra aí. Vou dar uma colher de chá. Pode
mexer sim, mas só a cabeça. E aí? Topas?
No livro “Pulmão de Aço”, Eliana Zagui - que em 1976, antes
de completar dois anos de idade, foi vítima de poliomelite - conta o seu drama
ao chegar
no Hospital das Clinicas paralisada do pescoço para baixo e dependente de um respiradouro
artificial. Eliana reúne memórias de 36 anos vivendo em uma cama de hospital e
conta como é a vida na "horizontal", como ela mesmo se refere.
Ela teria todos os motivos para
ser uma pessoa frustrada, mas preferiu aproveitar as maçãs boas que a vida nos
oferece, mesmo nas situações adversas. Prova disso é o seu bom humor ao afirmar
que quem vive numa cama não tem a mesma perspectiva das outras pessoas. A
autora diz que depois de tanto tempo deitada, não consegue mais ver o mundo na
vertical. “No meu caso, principalmente, a perspectiva é toda horizontal. Há
anos, por problemas respiratórios, não posso mais usar nem travesseiro. Vejo o
mundo de baixo para cima ou de lado. Não sei o que é olhar para baixo", conta no livro.
O título do livro faz referência à máquina chamada
"pulmão de aço", usada para exercer pressão negativa sobre o tórax e
facilitar a respiração. No caso de Eliana, o tratamento não foi adequado,
obrigando-a a usar o respirador artificial.
Ela revela em sua obra que não se
recorda de quase nada de seus primeiros dias no hospital, mas tem vagas lembranças
de sua infância vivendo dentro de verdadeiras geringonças que não entendia
serem tão essenciais para a sua sobrevivência. Se lembra ainda de espelhos
colocados sobre sua cabeça, presos aos pulmões de aço ou mesmo à cabeceira de sua
cama.
Li esse livro numa tarde de sábado
quando fui visitar um colega de trabalho que estava internado no hospital de
sua cidade – pertinho da minha - com pneumonia. Enquanto aguardava o momento da
liberação do horário de visitas, percebi que uma senhora de meia idade estava
lendo esse livro. Me interessei pelo título e também pela capa. Logo ao chegar
em casa, fui pesquisar na Net e entendi o motivo daquela mulher estar lendo uma
obra desse tipo num lugar que muitas vezes nos traz uma mescla de sofrimento,
dor e desesperança.
Rapaz! O livro é uma verdadeira
lição de vida! Principalmente para os pacientes de hospitais que acreditam que
a sua doença é a mais grave de todas. É ler e se levantar correndo da cama e
gritando: “Eu sou o cara mais feliz do mundo!”. E na seqüência dar um chute em
seu tenebroso estado de espírito.
03 – Hospital (Arthur Hailey)
Quáaaaaaaaaaaaaaaaaaa…. Quaaaaá!!!
Estou gargalhando de peito aberto agora. Quem diria; eu aqui nesse hospital
enorme e cheio de dramas, indicando um livro sobre um hospital também cheio de
dramas! Ok, ok... podem me chamar de demodê, ‘ingnorante’ (como um colega meu
costuma dizer. Pasmem, ele é jornalista!!!!), orelhudo, ‘descriativo’ (Iahuuu!!
Essa foi boa!! – rs) e o escambau à quatro, por indicar um livro dramático
sobre hospital para se ler num... hospital!! Mas confesso que não estou sendo
nada sádico. É que o livro é bom mesmo! É bem antigo. Se não me engano foi
publicado em 1959, mas é da hora.
Como se trata de uma lista pessoal,
quero revelar que sempre tive curiosidade em conhecer o funcionamento interno
de um hospital. Como é a vida e o trabalho de médicos, diretores, enfermeiros e
etc que formam uma sistema responsável em salvar vidas humanas. Enfim, conhecer
os bastidores desse conglomerado. E nada melhor do que fazer isso , digamos...
‘dentro do clima’, ou seja, num hospital. Agora não me diga que é a mesma coisa
você ler, por exemplo, “O Destino do Poseidon” na cadeira de seu quarto, ao
invés de uma cadeira localizada na proa de um navio?? Pronto; acho que já deu
prá entender porque resolvi ler o livro de Hailey há quase três anos num
hospital.
Acho que tive uma infecção
intestinal e acabei ficando de molho durante dois dias no Pronto Atendimento de
minha cidade me entupindo de antibióticos. Pedi para um primo que me trouxesse
“Hospital” para matar o tempo. Me
envolvi tanto na história que li as mais de 300 páginas da obra nesses dois
dias.
Hailey revela com maestria os segredos de um grande hospital, suas
intrigas, seus triunfos, seus fracassos, o idealismo e a fé de homens e
mulheres devotados em salvar vidas. O mundo que todo paciente desconhece.... E
pra variar, eu fiquei conhecendo (rs).
Obra contagiante, ainda mais lendo num... hospital.
04 – Visões da Noite – Histórias de terror sarcástico (Ambrose Bierce)
Bem, como já disse escrevi
acima, por se tratar de uma lista pessoal, posso escolher os livros que quiser,
certo?? Ok, então, também incluo em minha listinha particular a obra prima de
Bierce.
Li alguns contos do livro numa
noite onde tudo deu errado num hospital, em que estava como acompanhante de uma
tia, eu acho. Era meu dia de substituir um ‘primo bom samaritano’ que estava
como acompanhante de ‘mia tia’, quando justamente no meu dia de turno, o que
aconteceu?? Simplesmente ‘tia mia’ foi parar na UTI devido há uma falta de ar
repentina. E segundo a regra do ‘maledeto’
hospital, um paciente não pode em hipótese alguma ter direito à dois
leitos. Resultado: como titia foi conhecer um pouquinho os ares da UTI, perdeu
a sua cama no quarto. Me explicaram que no momento em que ela saísse da Unidade
de Terapia Intensiva seria deslocada para um outro quarto. E fazendo jus aquele
velho ditado: “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco’ – digo isso, porque
não era eu o protagonista daquela história, mas sim, tia mia. O menino aqui,
não passava de um simples acompanhante (perceberam que até fonética da palavra
acompanhante rima com figurante?) – a minha ‘humirdi’ cordinha arrebentou; e arrebentou bonito!
Após minha tia ser deslocada para
a UTI, a assistente social do hospital – o qual me nego escrever o nome – disse
com aquele ar de ‘profissional fria’: “- O senhor terá de retirar os seus
pertences e os de sua tia daqui”. Em minha vã ignorância pensei que seria
encaminhado para um novo quarto, onde aguardaria titia. De fato fui
transferido, mas não para um quarto, mas para o saguão do maledeto hospital,
como um desalojado. Explico melhor: como – lógicamente – não poderia ficar como
acompanhante numa UTI, teria de ir embora e só retornar quando a ‘paciente tia’
já estivesse num quarto. Vai me pergunta agora, porque não fui embora e voltei
depois? Vai pergunta logo, já que você deve estar me achando o cara mais tapado
do mundo. Ocorre galera, que o hospital onde o menino aqui estava com a sua
querida tia ficava isolado no meio do mato! Distante ‘quilômetros luz’ da
cidade. Circular, só um por dia e pela manhã!! Lembrando que o meu
desalojamento ocorreu às 18 horas. E pra variar, estava com pouco Money no
bolso, cartão estourado e numa cidade estranha sem amigos e parentes. Quanto ao
‘priminho acompanhante’ já tinha pego o
seu carrinho e se mandato para a sua city.
Bem, peguei a minha ‘tralha’ –
edredom, travesseiro, sacolas de roupas, chinelos, etc,etc e mais etc, os quais
quero esquecer e... me mandei para o saguão do ‘hospita’. Perguntei para o
vigia se podia me deitar na cadeira tripla de espera. Ele disse: - “Olha irmão,
sinto muito, mas não dá”. Irmão a PQP!! Quero ser irmão de uma onça, mas não
daquele ... daquele... verme! O cara negou o ‘conforto’ de três cadeiras duras
como pau para que o desalojado aqui pudesse passar a noite e ainda tem a cara
de pau de me chamar de irmão... e com aquele sorriso sínico de quem diz: -“ Que
otário...”
Resumindo. Fiquei sabendo que
minha tia sairia da UTI na tarde seguinte – se tudo corresse bem – portanto,
teria apenas de enfrentar uma madrugada braba e solitária num saguão brabo e
solitário... bem, não solitário por inteiro, já que contei com a companhia de
uma recepcionista e do vigia infeliz. Pensei comigo: -“Caramba, não trouxe
nenhum livro para matar as horas”. Então me lembrei que ‘tia mia’ também era uma ávida leitora. Abri uma
sacolinha, sua, e descobri um livro de Ambrose Bierce. Sabia que esse autor era
um dos bam-bans do gênero terror e que havia desaperecido misteriosamente. Fora
isso, não tinha lido nada sobre ele. Como não tinha outra opção, para enfrentar
a noite agarrei o livro e comecei a ler. Rapaz!! Que coisa!! Fantastic!! Olha,
não se deixe enganar pelo subtítulo “Histórias de terror sarcástico”. Nada a
ver. Pelo contrário, os contos de Bierce não tem nada de sarcástico. Pelo
contrário, eles são arrepiantes. Brrrrrrr.. Me tornei fã do sujeito... e já no
segundo conto! Na minha opinião “Cruzando o Umbral” e “O Ambiente
Adequado” são os melhores. No primeiro,
Bierce narra em estilo jornalístico o desaparecimento de pessoas que
literalmente sumiram no ar, ‘sem mais-nem menos’. O conto tem um clima angustiante
e por ser escrito num clima jornalístico, dá a impressão ao leitor que aquele
fato fictício realmente aconteceu. Já em “O Ambiente Adequado”, Bierce narra o
drama de um homem que para entrar no clima decide escrever uma história de
terror num lugar assustador, que provoca calafrios na espinha. O final do conto
também deixa o leitor com calafrios.
Resultado, quando terminei o livro
já estava quase amanhecendo. Comecei a ler por volta da 1 da madruga. Confesso
que não senti medo, mas prazer. Um livro muito bom... principalmente para se
ler no saguão solitário de um hospital (rs).
05- Deixa Ela Entrar (John Advide Lindqvist)
Deixei para finalizar esse post
com o livro de Lindqvist, por um motivo muito simples: foi a obra que escolhi –
aleatoriamente, é verdade – para ser a minha companheira nesse momento em que o
Kid Tourão está se preparando para enfrentar mais uma luta pela sua vida.. Sei
lá pessoal; não me pergunte o por que de ter escolhido esse livro. Simplesmente
escolhi, sem um motivo aparente. Havia acabado de ler “Micro”, de Michael
Crichton e Richard Preston, quando vi em minha lista de leitura que o livro do
autor sueco era o próximo. Passei a mão na obra, coloquei na bagagem e pronto.
Estou lendo o livro nos intervalos desse
post. Garanto que a história de Oskar e Eli está contribuindo muito para que eu
enfrente esse momento meio ‘baixo
astral’.
Tão logo conclua a leitura de
“Deixa Ela Entrar” , estarei fazendo um post sobre a história de Lindqvist.
Enquanto isso, se quiser saber algo mais sobre a obra entre aqui.
Gente... e por falar
escrever em “Deixa Ela Entrar”, agora que conclui esse post, preciso voltar à leitura dessa obra, enquanto
o Tourão puxa uma sonada por aqui com direito há um ronco que mais se parece
uma orquestra regida por um pedreiro.... Que me desculpem os pedreiros.
Ah! Antes de encerrar o post; como
já expliquei no facebook do Livros e Opinião fiquei todo esse tempo sem postar
por causa dos problemas de saúde do Senior Tourão. Espero que agora, retome a
regularidade.
Inté pessoal!!
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