26 junho 2011

Novo livro de 007 será lançado no final do ano no Brasil

Jeffery Deaver e seu livro "Carta Branca"
Vem aí um James Bond que deixou de fumar, que não procura aventuras amorosas efêmeras e que pensa duas vezes antes de puxar o gatilho. Será que esse novo perfil do famoso agente secreto com licença para matar,  criado por Ian Fleming vai agradar? Para responder essa pergunta, nós brasileiros, teremos de esperar até dezembro desde ano, quando será lançado no país pela editora Record, a nova aventura de 007. Quanto aos ingleses, já podem opinar se gostaram ou não da mudança. O livro “Carta Branca” (Carte Blanche), de Jeffery Deaver foi lançado em maio na Inglaterra com grande pompa. Pelo que pesquisei na net, o lançamento esteve muito mais para avant-première de um grande blockbuster de Hollywood, estrelado por uma constelação de artistas, do que para a apresentação de uma obra literária. Aliás, está virando moda esse tipo de evento quando se trata de 007. Só para “refrescar” a memória dos mais esquecidos, algo semelhante aconteceu em maio de 2008, durante as comemorações do centenário de Fleming, quando Sebastian Faulks lançou o livro “Essência do Mal”.
Mas voltando a escrever sobre o novo romance de James Bond que “aterrisa” na terrinha verde e amarela no finalzinho de 2011, tenho quase certeza de que apesar dessas mudanças na personalidade do Sr. Bond, continuaremos tendo um agente secreto implacável e que brindará os leitores com uma história de primeira. Êpa! Pêra aí! Você dever estar se perguntando porque estou fazendo essa previsão tão otimista e com tanta convicção se nem mesmo li o livro? Pois é... acontece que eu conheço a competência de Jeffery Deaver porque já li várias obras escritas por ele. Por exemplo, você sabia que o premiadíssimo romance policial “O Colecionador de Ossos”, é de sua autoria? O livro fez tanto sucesso que os estúdios da Universal e Columbia Pictures decidiram comprar os direitos da história para adaptá-la ao cinema. Resultado: filmaço elogiado pela crítica e sucesso de público com Denzel Washington e Angelina Jolie. É de Jeffery também o excelente “Cadeira Vazia”, com a mesma dupla de detetives de “O Colecionador de Ossos”. Além disso, Deaver Deaver teve quatro indicações para o Edgar Allan Poe Award que premia os melhores escritores da literatura policial. Além dos seus contos serem duas vezes eleitos os melhores do ano pelos fãs da revista Ellery Queen Magazine. Acredito que todas essas credenciais fazem de Jeffery Deaver o sujeito certo para escrever a próxima história de 007. Ele não é nenhum Ian Fleming, mesmo porque o criador de 007 é insubstituível, mas com certeza, coloca no bolso todos aqueles que tentaram prosseguir com a saga do agente secreto inglês depois da morte de Fleming.
Em “Carta Branca” veremos um James Bond completamente atualizado, vivendo os problemas e conflitos da nossa era, bem diferente do agente britânico que viveu no período da segunda guerra mundial, enfrentando vilões que tinham a missão de “esquentar” a Guerra Fria.
Pelo o que vi até agora, o Bond de Jeffery Deaver estará mais para ter enfrentado guerrilheiros do Afeganistão do que soldados inimigos durante a segunda guerra.
Confesso que estou curioso para ver essa readaptação de 007 à nossa época, enfrentando os conflitos e problemas comuns do nosso milênio.
Detalhes com relação ao novo livro que será lançado no Brasil pela Record, infelizmente, muito pouco foi revelado até agora. O que vazou na internet é que ele estará visitando vários lugares exóticos e que o centro da aventura será vivida em Dubai. Ah! E para os nostálgicos, o antológico Bentley, o carro preferido de 007, também não irá faltar.
Agora, o melhor que há a fazer é esperar e esperar... Afinal de contas, o final do ano não está tão longe assim...

25 junho 2011

Clássicos da literatura ganham sequências pelas mãos de escritores desconhecidos – Parte II

Vamos prosseguir com a segunda parte do post sobre os herdeiros de escritores de sucesso que encontraram um meio de ganhar dinheiro fácil, nos últimos anos, contratando autores desconhecidos para continuar a obra do morto.
Robert Ludlum
Considero Robert Ludlum um dos mestres dos romances de espionagem. Prova disso é a trilogia Bourne composta pelos livros: “A Identidade Bourne”, “A Supremacia Bourne” e “O Ultimato Bourne”. Esta série de livros foi tão fenomenal que a indústria cinematográfica decidiu comprar os seus direitos para a adaptação de três filmes com o Matt Damon.
E para não fugir da velha rotina, lá estão os herdeiros, novamente, procurando alguém para continuar a obra do falecido pai, esposo, tio ou avô.
Dessa vez, os herdeiros de Ludlum foram mais felizes na seleção de um escritor para prosseguir saga do agente secreto Jason Bourne.
Eric Van Lustbader, sucessor de
Robert Ludlum
Penso que eles foram inteligentes na escolha porque o eleito Eric Van Lustbader, pelo menos conseguiu publicar uma obra de sucesso e que foi bem recebida pela crítica e também pelos leitores. Ele é o autor do romance “O Testamento” que mescla questões políticas e religiosas com pitadas de suspense. O livro chegou a ser comparado ao Código da Vinci, de Dan Brawn.
Outro exemplo que credencia Van Lustbader como o herdeiro ideal das histórias de Jason Bourne é que o livro “O Legado Bourne”, escrito por ele, já despertou o interesse da Universal que rapidamente adquiriu os direitos da obra para transformá-la no quarto filme da franquia Bourne.
4º livro do agente Jason Bourne;
este escrito por Lustbader
Estes dois motivos descritos acima me levaram a correr o risco de comprar “O Legado Bourne”, mesmo sem ter lido “O Testamento”. A obra está na minha pilha de livros á ser lida, por isso, ainda não tenho condições de opinar, mas pelo que os críticos e a maioria dos leitores disseram até agora, a história é muito boa. Tão logo termine a sua leitura farei a postagem do comentário neste blog.
Harold Robbins
A vontade de ganhar alguns dólares nas costas do falecido chegou ao cúmulo no caso do saudoso escritor Harold Robbins, famoso por seus romances que misturam sexo, traição e violência.
Robbins tinha o hábito de fazer várias anotações antes de escrever um livro. Era natural pegar uma folha de papel e rabiscar detalhes de alguns personagens, frações de enredos e assim por diante. Quando morreu, ele deixou várias dessas anotações que pretendia transformar em novos livros, futuramente.
A última mulher de Robbins acabou descobrindo essas anotações e após um “click” deve ter pensado: “porque não encontrar algum escritor e mostrar todas essas anotações para que ele as transforme em vários livros?” E foi assim que outro ilustre desconhecido chamado Junius Podrug entrou na história.
A viúva de Robbins fechou um acordo com o autor desconhecido, um velho amigo seu, que consistia no seguinte: Produg transformaria aqueles esboços em histórias completas mas, obrigatoriamente, o nome em destaque que apareceria no livro seria o de Harold Robbins. Quanto a Podrug teria um destaque ínfimo, em letras bem pequenas e logo abaixo do nome de Harold Robbins. E acreditem, Junius Podrug concordou!! A humilhação deve ter sido “engolida”, graças aos dólares que teria direito pela publicação da obra. Quanto a viúva herdeira de Robbins, ganharia a sua parte (a maior, diga-se de passagem) por não fazer simplesmente nada de nada. Afinal de contas, ela merece, pois foi esperta o suficiente para encontrar os esboços do marido, além de ter tido a idéia que pode ser considerada um verdadeiro golpe de mestre.
Livro escrito por Podrug, à partir das anotações
encontradas pela viúva de Harold Robbins
Os livros “Os Traidores” e “Sangue Azul” escritos por Podrudug, baseados nas anotações de Robbins, até que tiveram uma boa aceitação entre os fãs do veterano escritor que morreu em 1997.
J. D. Salinger
Sem comentários. Quando soube o que o autor sueco Fredrik Colting simplesmente “afanou”, “passou a mão”, “se aproveitou” – sei lá, entendam como quiserem – da obra “O Apanhador no campo de Centeio”, de J.D. Salinger, fiquei  P... da vida. Não é justo alguém utilizar personagens de uma determinada história sem autorização do seu criador. E foi isso que Colting fez. Tanto que quando soube do lançamento do livro, Salinger exigiu que ele fosse retirados das prateleiras. Começaria assim, uma longa briga judicial.
Mas falando da obra em si, posso dizer que agora estou respirando mais aliviado, pois por pouco não adquiri o livro numa biblioteca virtual. Estava ansioso para saber como aquele menino desbocado e ao mesmo tempo autentico de “O Apanhador No Campo de Centeio” tinha ficado na velhice. Mas antes de fechar a compra, resolvi acessar algumas críticas e me assustei com a rejeição do romance, tanto pelos críticos como pelos leitores.
O autor sueco, Fredrik Colting que escreveu a polêmica
continuação de O Apanhador no Cam,po de Centeio
O que li é que Colting simplesmente “matou” Holden Caulfield, agora na velhice, transformando-o num personagem chato, sem nenhum atrativo. E para piorar a situação, ele ainda transformou o autor de “O Apanhador no Campo de Centeio” em personagem de seu livro. Por essa, J.D. Salinger não esperava... ele deve ter ficado uma fera!
Capa do polêmico livro de Fredrik Colting
Ah.... escrevi, escrevi e acabei não revelando o nome do livro de Frederik Colting. Deu pra sentir como estou interessado nele. Anotem aí: “60 Anos Depois – Do Outro Lado do Campo de Centeio”. Como éí? Arrisca comprar?
Margaret Mitchell
A famosa autora de “E O Vento Levou” deve estar se remexendo na cova, rogando pragas em seus herdeiros que concordaram, após tantas décadas, em publicar a sequência do romance histórico que arrebatou multidões, provocando um verdadeiro frenesi nos leitores de todo o mundo.
Durante toda a sua vida, Mitchell resistiu ferozmente a qualquer idéia de continuação para seu livro. No entanto, em 1991, a escritora norte-americana, Alexandra Ripley publicou uma continuação autorizada pelos herdeiros de Mitchell para “E O Vento Levou”, um romance intitulado “Scarlett” que foi massacrado pela crítica. Maldição de Mitchel? Quem sabe? Quem mandou desrespeitar o último desejo da falecida...
Scarlett, a sequência de "E O Vento Levou" foi
massacrada pela crítica
“E O Vento Levou” teria ainda outra sequência autorizada pelos herdeiros do espólio de Mitchell, mas sem nenhuma relação com os personagens, enredo e cronologia da obra de Alexandra Ripley. “O Clã de Rhett Butler”, lançado em 2007 e escrito por Donald McCaig, narra a história a partir da perspectiva de Rhett Butler, desconsiderando totalmente Scarlett do enredo. Nem preciso dizer que a obra também foi um verdadeiro fiasco.
"O Clã de Rhett Butler", mais um livro
baseado na obra de Mitchell que se tornou
um grande fiasco
Pensou que parou por aí? Pois é, tem mais. Antes do lançamento de “O Clã de Rhett Butler”, em 2001, a escritora Alice Randall lançaria uma paródia não autorizada da obra, onde uma mulata, filha de um fazendeiro seria meia-irmã de Scarlett. A história é contada a partir do diário da mulata que faz revelações surpreendentes e apimentadas.
Depois do lançamento desses três livros só tenho uma coisa a dizer: “Coitada da Margaret Mitchell”...
J. M. Barrie
Nem mesmo o conhecido personagem infantil Peter Pan conseguiu escapar de uma nova sequencia. Criado pelo escritor escocês, James Matthew Barrie, o personagem ganhou várias adaptações e sequências, autorizadas ou não. Em 2006, a escritora inglesa Geraldine McCaughrean lançou "Peter Pan Escarlate", após vencer um concurso para escrever uma continuação oficial. O concurso, à exemplo da vencedora tiveram o apoio dos herdeiros do espólio de J.M. Barrie
Vou me eximir de fazer qualquer comentário sobre a obra, pois ainda não tive oportunidade de lê-la, e talvez nem venha a fazer isso, já que não faz parte da minha relação de obras preferidas. 
Capa do livro considerado a sequência
oficial de Peter Pan
Mas pelo que pesquisei, a história se passa 100 anos depois do enredo original criado por J.M. Barrie, onde Peter Pan, Wendy e os Meninos Perdidos na Terra do Nunca estão em busca do tesouro do Capitão Gancho, escondido no Monte do Nunca. Como na história original, eles usam a imaginação para inventar os inimigos e enfrentá-los, fazer aparecer comida e mudar tudo de acordo com sua vontade. Mas a estranha influência de um adulto chamado Sr.Novello deixa a história sombria e cheia de perigos quase impossíveis de superar.
O livro de 344 páginas foi lançado no Brasil pela editora Salamandra e teve uma vendagem satisfatória.
Por hoje é só!


Clássicos da literatura ganham sequências pelas mãos de escritores desconhecidos – Parte I

Sempre fui da opinião que as coisas boas não devem ser melhoradas. Por quê melhorar algo que já é grandioso? E para quê? Seria o mesmo que querer tocar as estrelas do céu. Você nunca vai conseguir. Mas infelizmente no meio editorial nem todos pensam assim e tentam inutilmente atingir o inatingível. Tudo culpa do dinheiro, avareza, mesquinhez e sovinice de filhos, filhas, viúvas, netos e editores de escritores famosos que já partiram dessa para melhor.
A ânsia de faturar nas custas do morto é tão grande que eles chegam ao ponto de contratar escritores inexpressivos e que, muitas vezes, mal sabem compor um enredo adequado, para dar sequencia nas histórias de personagens míticos, sagrados e que já cumpriram o seu papel na literatura desfrutando agora de uma merecida aposentadoria.
Como explicar a atitude dos herdeiros de Ian Fleming, criador do mais famoso agente secreto do mundo, em concordar que autores sem nenhuma expressão escrevam novas histórias de James Bond? Como explicar a atitude da viúva de Sidney Sheldon em aceitar que uma jovem escritora, autora de apenas um livro – sem nenhuma expressão – levasse adiante a marca “Sheldon”, respeitada em todo o mundo?
E quanto aos parentes do grande Arthur Conan Doyle, que após 96 anos decidiram ressuscitar Sherlock Holmes, entregando a alma do lendário personagem para o autor do livro infanto-juvenil  “As Aventuras de Alex Rider”?
Tenho a convicção de que todas essas obras estariam melhores se continuassem inalteradas, do jeito que os seus criadores a deixaram. A impressão que fica, pelo menos para mim, é a de um intruso que resolveu se apossar de uma jóia de valor inestimável que não lhe pertence. Mas como no mundo capitalista em que vivemos, quem dita as regras – infelizmente – é o dinheiro, muitos herdeiros de escritores famosos acharam melhor faturar alguns dólares a mais, nem que para isso tivessem de banalizar as obras primas criadas por seus familiares.
Após ver o retorno às páginas de personagens carismáticos – alguns deles verdadeiras lendas – resolvi abrir esse post sobre o assunto. Juro que no início fiquei eufórico ao saber que esses heróis do passado haviam resolvido deixar a sua aposentadoria e voltar a dar as caras em romances escritos por novos autores. Mas depois que “li alguns poucos  retornos”, a decepção colocou um ponto final em todas as minhas expectativas. Fiquei com pena desses heróis e até mesmo dos vilões que, em décadas passadas, foram responsáveis por momentos mágicos em minha vida. Momentos que só a leitura de um livro escrito por um verdadeiro gênio seria capaz de proporcionar. Sinceramente deu muita pena desses retornos, sequencias, remakes ou o escambau à quatro. Tudo culpa de herdeiros e editores sedentos em ganhar cada vez mais dinheiro.
Desculpe o desabafo, mas é duro ver o assassinato de uma obra de arte literária por conta de uma sequencia mal feita.
Enumerei alguns retornos de personagens conhecidos e sequencias de histórias famosas escritas por outras mãos diferentes das originais. Li algumas e me decepcionei... e muito; por isso, sinceramente, estou com um baita medo de encarar as outras que ainda não li. Sei lá, a decepção pode ser muito grande. Então, vamos às obras...
Sindey Sheldon
“A Senhora do Jogo” é a sequência de “O Reverso da Medalha” do escritor Sidney Sheldon que chegou a considerar essa obra um dos maiores tesouros de sua autoria, se não o maior. É estranho, aliás muito estranho, que a viúva de Sheldon e uma de suas filhas, mesmo sabendo da importância dessa obra na vida do autor concordassem em entregar a responsabilidade de um novo capítulo da saga da família Blakwell para uma ilustre desconhecida.
Tilly Bagshawe foi escolhida para dar sequência ao legado de Sheldon, após enviar ao escritor, em 2005, um exemplar de seu primeiro romance “Adorada”. Sheldon respondeu com uma carta elogiosa e só. Dois anos depois, ele morreria aos 89 anos. Consta que nesse espaço de tempo, ou seja, de 2005 a 2007 não houve mais nenhum contato entre o veterano escritor e Bagshawe. Então, após a sua morte, Alexandra, a viúva do escritor teria decidido contratar a jovem para tocar o legado do marido. 
Tilly Bagshawe, a sucessora de Sheldon
Não sou escritor ou autor de romances, mas acho uma temeridade dar a uma jovem que escreveu apenas um livro, a responsabilidade de elaborar a continuação de um dos maiores sucessos literários de toda a carreira de Sidney Sheldon.
Li "A Senhora do Jogo" e não gostei.  “Muito sexo e pouco enredo” é assim que defino a continuidade de “O Reverso da Medalha”, um romance que encantou gerações. Uma pena...
Ian Fleming
O agente secreto à serviço de Sua Majestade que ficou imortalizado por Ian Fleming, foi mais forte do que os quatro açougueiros que o recriaram em novos romances. Eles tentaram de todas as formas arrebentá-lo em suas histórias mal escritas e enfadonhas, mas 007 apesar de alguns arranhões conseguiu sair com vida. E o responsável por essa sobrevivência foi Ian Fleming que conseguiu imortalizá-lo em seus 14 livros escritos durante toda a sua vida.
Para ser sincero, não escapou nem mesmo Sebastian Faulks, que não chega ser um açougueiro como os demais, mas também não acrescentou nada de extraordinário nas histórias de James Bond.  E olha que Faulks tinha a obrigação de “fazer bonito”, já que foi convidado para escrever a história que marcou os 100 anos do nascimento de Fleming. Apesar do escritor não trucidar 007, o livro “A Essência do Mal” não chega aos pés de nenhuma das 14 obras sobre o agente secreto escritas por Ian Fleming.
Sebastian Faulks e o livro "A Essencia do Mal"

Os herdeiros de  Fleming foram muito egoístas e só pensaram em faturar cada vez mais em cima do filão 007. Eles não pensaram duas vezes em entregar o destino do renomado agente secreto nas mãos de escritores nada competentes. O que importava era money e mais money. E como já disse, 007 só não caiu no esquecimento, em termos literários, porque o personagem original já havia se transformado num mito, graças à pena e ao tinteiro de seu pai Ian Fleming. Mas mesmo assim, saiu com alguns arranhões.
Kingsley Amis, Christopher Wood, John Gardner e Raymond Benson foram os quatro açougueiros autorizados pelos herdeiros a darem sequência ao reino de Bond, excetuando Sebastian Faulks que surgiria somente em 2008.
Vale lembrar que antes de a Fundação Ian Fleming ter contratado Faulks, há quase três anos, para escrever “A Essência do Mal”,o escritor ao serviço de James Bond era Raymond Benson, que, nomeadamente, assinou “Morre Noutro Dia”, uma edição das Publicações Europa-América. Ainda de Benson temos outros desastres: “O Mundo Não Chega”, “O Amanhã Nunca Morre”, “Os Factos da Morte” e “Nome de Código: Filhos do Apocalipse”. Quanto ao título “O Amanhã Nunca Morre” é uma novelização do filme do mesmo nome que passou nos cinemas em 1997 com Pierce Brosnan no papel do agente secreto.
Novelização do filme 007 Contra Goldeneye,
escrita por John Gardner
John Gardner é outro dos autores que arriscou dar continuidade nas aventuras de James Bond, também pela editora Europa-América. O pecado cometido por Gardner foi muito pior porque ele simplesmente optou por “pegar” a história que passava nos cinemas e chupá-la para as páginas de um livro, com algumas pequenas alterações. Nesta triste categoria posso citar: “Goldeneye”.
Tudo indica que o filão 007 continua rendendo muito dinheiro para os herdeiros de Ian Fleming, porque eles concordaram que um novo escritor entrasse também para a “família”. Trata-se de Jeffery Deaver que em breve estará lançando o seu livro “Carta Branca” que mostra um 007 inteiramente renovado, mais consciente e que pensa duas vezes antes de puxar o gatilho. A maior novidade, entretanto, é que Deaver decidiu retirar Bond dos anos 50 e inseri-lo em nossa realidade, enfrentando as dúvidas e os problemas desse milênio. Só peço à Deus, que Jeffery Deaver tenha mais competência do que os seus antecessores.
Arthur Conan Doyle
Por acaso, você que lê este post já teve algum contato com o personagem Alex Rider? Não, não. Não estou me referindo ao Alex Rider que passou discretamente nos cinemas, estou mencionando aquele dos livros. É importante fazer essa distinção porque o Alex do cinema que foi  baseado no Alex do livro se tornou um grande desastre. Já o personagem da obra literária sobreviveu e conseguiu até mesmo aglutinar uma grande legião de “fãs leitores”.
Eu tive oportunidade de ler “Alex Rider Contra Stombreaker” e confesso que não fiquei muito animado para continuar lendo os outros dois livros que foram lançados no Brasil: “Alex Rider Desvenda Point Blanc” e “Alex Rider Mergulha na Ilha do Esqueleto”. Por isso, torno a confessar, que tenho minhas dúvidas se Anthony Horowitz, o criador do super-espião juvenil, seria o escritor ideal para suceder Conan Doyle, uma verdadeira lenda da literatura mundial.

Detetive imortalizado por Conan Doyle

Mas pelo “andar da carruagem” os herdeiros de Conan Doyle devem ter adorado as aventuras de Alex Rider, já que escolheram Horowitz para escrever um romance longo sobre Sherlock Holmes que será publicado pela editora Orion no mês de setembro. Ainda não foram revelados detalhes do livro, nem sequer o título.
Um dado interessante é que Holmes e seu assistente, Dr. Watson, apesar de terem sido vistos em inúmeros filmes e peças de teatro, esta é a primeira vez que os herdeiros de Conan Doyle aprovam oficialmente uma nova história sobre o famoso detetive de Baker Street desde que o último romance foi publicado, em 1915. Tomara que  Anthony Horowitz não faça feio.
Antoine de Saint-Exupéry
“O Pequeno Príncipe” é reconhecido em todo o mundo como uma obra antológica porque marcou várias gerações. Vejam bem; eu escrevi “várias gerações” e não “uma geração”. Isto significa que mães, filhos, avós, netos, bisnetos e por aí afora leram o livro e se emocionaram, passando a indicá-los para outras pessoas através dos anos.
A história de um aviador que após uma pane em seu avião, é obrigado a aterrissar num deserto, encontrando por lá um garotinho de uma outra galáxia que resolveu conhecer o universo para tirar as suas conclusões sobre a humanidade, marcou época. O garotinho passa, então, a contar suas aventuras. O principezinho é de um planeta pequenino, aliás um asteróide. Por meio das estórias ele vai mostrando os diversos tipos de pessoas que conheceu em suas viagens e como se relacionou com esses “novos” amigos. Neste seu deslocamento pelo universo, o pequeno príncipe  conhece um ser que vive na solidão e acaba se apaixonando por ele; um outro que julga ser o mais perfeito dos seres do universo; além de outros, outros e outros, todos eles interessantes.

Capa do livro O Pequeno Príncipe

O escritor Antoine de Saint-Exupéry criou, com certeza, um dos livros mais influentes de todos os tempos. Muitos considerarem “O Pequeno Príncipe” uma obra simplória feita para pessoas de inteligência curta; mas na realidade, a cada página que lemos aprendemos uma lição de vida. Vou mais além, vejo como filosófica a obra de Antoine de Saint-Exupéry.
Agora, podem sentar porque a revelação que farei será muito dolorosa. Os herdeiros de Saint-Exupéry deram o aval para que um escritor argentino ultra-desconhecido, chamado Alejandro Guillermo Roemmers escrevesse a sequencia de “O Pequeno Príncipe”. O livro vai se chamar “O Retorno do Jovem Príncipe”. Caraca! Espera um pouquinho?! Sem querer menosprezar, você conhece ou já ouviu falar alguma vez de Alejandro Guillermo Roemmers? Eu tentei pesquisar em vários sites de busca e não encontrei nenhuma referência sobre o escritor, pelo menos, nas páginas em português.
A minha maior curiosidade é saber como os herdeiros de Antoine de Saint-Exupéry conheceram esse escritor. E mais. O que os levou a Guillermo Roemmers.
Os direitos de publicação de “O Retorno do Jovem Príncipe”  no Brasil foram comprados no início do ano pelo selo Fontanar, da Objetiva. A editora, contudo, vem guardando à sete chaves os detalhes sobre o livro que ainda não tem data definida de lançamento.
Mário Puzo
O escritor Mário Puzo, autor de “O Poderoso Chefão” teve uma idéia feliz e outra infeliz. A feliz: não aceitar em hipótese alguma escrever uma continuação de sua obra-prima. A infeliz: abrir mão de sua obra, tão logo morresse, dando permissão para que os seus familiares, se assim o desejassem, contratar alguém para escrever uma continuação. Cara! Até hoje estou tentando entender o que levou Puzo a dar um fora desses! “O Poderoso Chefão” é uma obra completa e que não merecia ser mexida nem mesmo por Mário Puzo, quanto menos por um estranho. Então, num triste dia, após a morte do escritor norte-americano, o seu editor Jonathan Karp, que vinha tentando convencê-lo há anos por uma continuação de “O Poderoso Chefão”, juntamente com Tony Puzo, filho mais velho do autor entraram em contato com alguns escritores, solicitando propostas.

Mark Minegardner

Tiveram a “brilhante” idéia de promover um tipo de concurso público para escritores novos e desconhecidos, visando escolher o melhor deles para dar sequência ao legado de Mário Puzo. E assim surgiu Mark Winegardner, que venceu o processo seletivo.
Meu amigo! Pode acreditar! O herdeiro Tony Puzo juntamente com o editor Jonathan Karp deram a continuação da obra prima “O Poderoso Chefão” nas mãos de um desconhecido que venceu um concurso do qual participaram outros escritores menos conhecidos ainda.
O resultado dessa lambança foi a publicação de “A Volta do Poderoso Chefão”, livro lançado em 2004. Winegardner lançaria ainda, dois anos depois, “A Vingança do Poderoso Chefão”.
No próximo post voltarei com a sequencia desse assunto. Você não imagina quantos outros clássicos famosos foram escritos por autores completamente desconhecidos. Culpa dos herdeiros do espólio do morto. Até já!

19 junho 2011

A Volta do Poderoso Chefão

“O Poderoso Chefão”, de Mário Puzo, foi um livro que marcou a minha geração, por isso ocupa um lugar de destaque em minha humilde biblioteca. Perdi as vezes que li e reli esta obra monumental do autor americano que também ajudou a escrever o roteiro dos três filmes que foram adaptados de sua obra para o cinema. Por isso, quando soube que a saga da família Corleone teria uma continuação, passei a aguardar com muita expectativa o lançamento do livro.
A primeira coisa que fazia ao conectar o meu computador na internet era vasculhar no nosso bom e velho amigo “Google” detalhes sobre esse lançamento. Fiquei sabendo, por exemplo, que o editor de Mário Puzo após o estrondoso sucesso de “O Poderoso Chefão”, vinha tentando convencer o autor a escrever uma continuação da história, amarrando alguns fios que haviam ficados soltos no que se relaciona há determinados personagens. Puzo se manteve firme e incorruptível. Digo incorruptível porque – reza a lenda – que o dinheiro oferecido à ele para que escrevesse a sequência dos Corleone foi algo exageradamente exagerado já naquela época. Para mim, Puzo foi muito inteligente, pois tomou a decisão correta. O livro “O Poderoso Chefão” já havia se transformado numa obra antológica, sem precedentes, dando origem a três filmes extraordinários. Tanto no cinema como nas páginas, a criação de Puzo conquistou uma montanha de prêmios. Por isso, ele deve ter pensado, porque mexer em algo que é bom... que já provou o seu valor? E assim, decidiu escrever outras histórias, a maioria ligada a “Cosa Nostra”, mas nenhuma delas relacionada a sua obra prima.
Acredito que o único erro do escritor americano foi dar carta branca para a sua família e o seu editor prosseguirem com a saga dos Corleone após a sua morte. Puzo nunca deveria ter feito isso, pois abriu um precedente para que banalizassem o seu trabalho. E que me desculpe o professor e mestre em criação literária, Mark Winegardner, pois sou obrigado a dizer que ele quase conseguir cometer esse sacrilégio.
Winegardner foi o escolhido - após vencer um concurso do qual participaram vários outros escritores - para escrever um novo capítulo da famosa saga. O concurso foi realizado pelo editor de Puzo e também pelo herdeiro e filho mais velho do escritor.
Confesso que a minha decepção foi enorme, do tipo quando você toma o doce de uma criança que já está com os olhos fechados e a boca aberta, preparada para degustar a guloseima. Eu me senti essa criança.
O erro mais grave do livro de Winegardner foi querer preencher as lacunas deixadas entre o 2º e o 3º filmes. Essa decisão do autor quebrou toda a originalidade da história. Sei lá, mas acredito que o livro ficaria menos decepcionante se ele tivesse criado um enredo novo para os personagens da obra de Puzo. Eu me vi ora lendo o livro, ora assistindo o filme. Ficou muito estranho; esquisito mesmo, porque as vezes tinha a impressão de estar lendo um livro baseado no filme.
“A Volta do Poderoso Chefão” também tritura o carisma dos personagens Fredo e Michael Corleone. Em sua obra, Puzo, havia criado um Fredo frágil e covarde, que usava o seu poder de sedução para conquistar mulheres e mais mulheres, tendo assim um verdadeiro festival de casos. Em “O Poderoso Chefão”, o autor deixava no ar que, talvez, o personagem tivesse esse comportamento promíscuo como uma váluvula de escape, já que tinha a fama de ser o mais fraco do clã dos Corleone. Agora, chega Mark Winegardner e transforma Fredo num homossexual completamente pervertido, capaz de matar as suas vítimas. Quanto a Michael, esqueça toda aquela força e carisma de “O Poderoso Chefão” que o fez ser o escolhido para comandar a família após a morte de Don Corleone. Achei o seu personagem simplório demais.
Francesca Corleone, filha de Sonny, é um outro personagem que também poderia ser melhor explorado, assim como o consigliere irlandês do clã, Tom Hagen que também ficou perdido nesta sequência.
O excesso do número de personagens é um outro fator negativo do livro que deixa o leitor numa confusão de dar dó. Na época que li o livro, lembro-me que tinha de ficar voltando com freqüência ao sumário com os nomes dos personagens que compunham os clãs amigos e inimigos dos Corleone. Logo nas primeiras páginas, Winegardner despeja um turbilhão de figuras nas páginas – algumas importantes, outras nem tanto – tornando praticamente impossível a memorização dos nomes.
Quando um autor faz essa opção, quase sempre ele é forçado a criar um enredo – mínimo que seja – para cada um desses personagens. Agora imagine um romance com quatro famílias mafiosas tendo cada uma delas, em média, 13 integrantes? É muita coisa, não acham?
O excessivo número de personagens contribui para que a história se torne maçante. Chegar na metade do romance foi complicado, pois o enredo só vai ficar interessante perto do final. 
Quanto ao visual da obra, sem comentários. A editora Record caprichou no layout. Mas como não lemos visual, paciência.
Há pouco tempo fiquei sabendo que Mark Winegardner lançou mais um livro sobre a família Corleone, o que quer dizer, uma nova sequência para Michael Corleone e companhia. A obra se chama a “Vingança do Poderoso Chefão” e, sinceramente, não estou nem um pouco animado para comprá-la.

A Senhora do Jogo

Foi duro terminar de ler o livro “A Senhora do Jogo”. Nunca pensei que um dia poderia escrever ou dizer algo assim de uma obra de Sidney Sheldon. O que me deixa um pouco mais aliviado é saber que este livro não foi escrito por Sheldon, mas sim por uma escritora – Pelo menos, ainda desconhecida – que com o apoio da viúva do autor e de uma de suas filhas recebeu sinal verde para criar a sequência do livro que para muitos é considerado a grande obra prima de Sheldon: “O Reverso da Medalha”.
Tilly Bagshawe. Esse é nome da felizarda que foi convidada pelas herdeiras de Sheldon a dar continuidade ao legado do grande escritor, um dos mais lidos em todo o mundo. E na minha opinião, a sua estréia nessa importante missão não foi feliz. Me perdoem aqueles que gostaram do livro, que o acharam genial; penso bem diferente. Sinto dizer, mas a continuação de “O Reverso da Medalha” foi um grande desastre.
“A Senhora do Jogo” conta a história dos herdeiros jovens de Kate Blackwell: os primos Max Webster e Lexi Templeton. O primeiro, filho da diabólica Eve Blackwell e a segunda, filha da meiga, doce e também ingênua Alexandra Blackwell, ambas netas da poderosa Kate, heroína de “O Reverso da Medalha”, criadora do império multinacional Krueger-Brent. Em resumo, a obra escrita por Bagshawe, conta o embate de Max e Lexi em assumir o controle da Krueger-Brent nem que para isso tenham de chegar as últimas conseqüências, até mesmo matar. O leitor vai encontrar ainda outros personagens coadjuvantes, como Robbie, o irmão de Lex, um pianista talentoso e revoltado que faz de sua vida uma verdadeira roleta russa; a maldosa Eve, a mãe dominadora de Max; o atormentado Dr. Peter Templeton, pai de Lexi, que ama a filha, atendendo todos os seus caprichos, mas menospreza o filho Robbie, praticamente ignorando-o; o enigmático Gabriel McGregor, descendente do avô de Kate, além de outros.
Você que ainda não leu o livro deve estar pensando neste momento: “poxa vida, com esses personagens e com o fio narrativo de “O Reverso da Medalha”, Tilly Bagshawe escreveu uma verdadeira saga dos descendentes de Kate Blackwell. Errado... Infelizmente, ela não acertou a mão.           
Vamos aos pontos negativos da obra. O excesso de sexo – e daqueles bem grosseiros - seria o primeiro deles. Vejam bem, não sou nenhum santo ou defensor da “liga dos celibatários da justiça”, mas confesso que fiquei incomodado com tanto sexo nas páginas de “A Senhora do Jogo”. Toda vez que um personagem era apresentado, pronto! Lá vinha o fulano ou ciclana indo para a cama com beltrano. Na hora de descrever detalhes sobre a personalidade de determinados personagens, novamente o “Sr. Sexo” entrava em ação. Algumas vezes tive a impressão de estar lendo aquelas revistinhas de sacanagem bem ralés.  Isso fica evidente no momento que a autora apresenta um Robbie em total conflito com a sua sexualidade. Tudo bem, que Tilly optou por transformar o irmão de Lexi em homossexual; acho que essa decisão deixou o personagem até mais interessante para o leitor, além de ganhar novos elementos para explorar a relação conflituosa e destrutiva entre Robbie e o seu pai ultra-conservador, Peter Templeton; mas não havia necessidade de abusar de algumas expressões vulgares.
Quando Lexi é humilhada por Max durante uma reunião de acionistas na sede da Krueger Brent, onde ele exibe um vídeo com cenas nada discretas da prima, novamente a autora descreve em detalhes as peripécias sexuais da personagem.  E que peripécias!
Para finalizar o assunto “exploração sexual em A Senhora do Jogo” vou contar quantas transas aconteceram ao longo da trama, cujos mínimos detalhes foram expostos minuciosamente pela autora. A primeira, onde Tilly Bagshawe  capricha é o encontro entre Robbie e Maureen uma moça que todos os rapazes cobiçam. Temos ainda o momento em que um casal descobre que Robbie – ainda na infância - está praticando alguns jogos sexuais pervertidos com o seu “filhinho” e por isso resolvem procurar o pai do garoto. Neste trecho do livro, os tais joguinhos nada salutares são expostos sem cerimônia. E por aí vai... Como já disse, cada vez que um personagem é apresentado, ele acaba tendo uma relação sexual com alguém. É assim também com Gabriel McGregor, Max e Lexi.
Outro ponto negativo da obra é a falta de carisma dos personagens centrais. Eu, pelo menos, achei que Lexi e Maxi ficaram devendo muito aos leitores. Sempre admirei Sidney Sheldon por ser especialista em criar personagens femininas determinadas e ao mesmo tempo sensuais. Ocorre que ele era mestre em saber explorar essa sexualidade em seus personagens sem ser  grosseiro. Mais um detalhe exclusivo dos personagens de Sheldon era a sua ambigüidade: ora bons, ora ruins; ora anjos, ora demônios. O escritor sabia fazer isso com maestria sem deixar que as suas heroínas ficassem rotuladas por uma dessas características, tornando-se assim, muito santinhas ou então, muito pervertidas. Um exemplo que cabe como uma luva nesse caso é a heroína de “O Reverso da Medalha”, Kate Blackwell. A ambigüidade de Kate faz com que o leitor, em algumas páginas, a ame de paixão, e em outras, a odeie com todas as forças. Imagino que é isso que faz com que determinado personagem se torne carismático.
Sinto dizer que Bagshawe não conseguiu imprimir essa “marca” em Lexi Templetom, a heroína de “A Senhora do Jogo”. Ela é tudo: egoísta, vingativa, interesseira, tem olhos somente para o poder e quando está apaixonada só pensa em ter o objeto de sua paixão, sem pensar na outra parte, diga-se, a mulher do outro. Nem mesmo a ingenuidade da personagem e o seu suposto altruísmo servem para amenizar tantos defeitos. Juro que em alguns momentos da história, cheguei a torcer por Max.
Spoiler! A forma como Eve descobre a fraude aplicada por Lexi para voltar ao comando da Krueger Brent também é muito inverossímil. Eve estava doente, esclerosada, completamente nas últimas e com a sua sanidade mental no limite. Portanto, não teria condições de descobrir o golpe de mestre aplicado por Lexi.
O final do romance também não me agradou. Achei sem tempero nenhum. A impressão que tive é que a autora apelou para o típico “final sem fim” que deixa brecha para uma possível continuação.
Tenho certeza que aqueles que estavam torcendo por Lexi, simplesmente detestaram o final da história.
E para não falarem que eu só encontrei defeitos no livro; achei que Tilly Bagshawe foi feliz na composição de Robbie. Ao invés de transformar o talentoso pianista numa figura comum, ela optou por torná-lo complexo ao máximo. Foi o personagem que mais gostei. Bem mais do que do que Eve, até, que também ficou devendo nesta continuação da saga dos Blackwell.
Que saudades de Sidney Sheldon...

16 junho 2011

O Concorrente

Se eu fosse um sargento e o tal Steve E. Souza, um recruta, faria o desgraçado fazer mil reflexões com apenas uma mão sob sol escaldante. Ta bem, ta bem, me desculpe o desabafo, mas acho que o sujeito merece esse castigo, afinal de contas ele destruiu a melhor das cinco histórias escritas por de Richard Bachman – leia-se Stephen King - quando fez a adaptação para o cinema.
Pois é, coube ao notório desconhecido Steve E. Souza adaptar o roteiro do livro “O Concorrente” para as telas. E deu no que deu, um verdadeiro desastre chamado “O Sobrevivente”, tendo no papel principal o brucutu Arnaold Schwarzenegger, antes de ter decidido se aventurar na carreira política.
E o que dói no meu coração é saber que a história de Bachman tinha tudo para se transformar num filme de ficção cientifica primoroso.
“O Concorrente” é fantástico e não é a toa que o próprio Stephen King o considera o melhor dos cinco livros escritos pelo seu alter ego Richard Bachman.
Utilizando-se de uma narrativa extremamente vigorosa e realista, Bachman, transporta o leitor para um mundo futurista, em 2025, dominado pelos meios de comunicação onde a televisão é a grande vedete. Ela invade os lares americanos saciando o desejo de sangue dos telespectadores através de uma rede de TV especialista em promover jogos onde o vencedor ganha como prêmio a vida e o perdedor, a morte. A impressão que temos, ao ler o livro, é que estamos retrocedendo à Roma dos gladiadores, mas à uma Roma do futuro.
A Co-Op City, empresa que domina os canais de televisão em 2025 leva ao ar vários reality shows, cada um mais bizarro do que o outro, entre os quais, um que se chama “Esteira para a Grana”, onde os concorrentes devem correr sob uma esteira – semelhante aquelas encontradas em  academias – enquanto respondem à perguntas de um apresentador. Detalhe obrigatório: os participantes devem ter obrigatoriamente graves problemas cardíacos ou respiratórios. É declarado vencedor aquele que não morrer durante a prova. Outros jogos extravagantes são “Cave a sua sepultura”, “Quanto calor você agüenta”, “Nade nos crocodilos”, “Corra para as suas armas” e o “Foragido”.
Ainda neste mundo bizarro criado por Bachman, os entorpecentes são vendidos em máquinas automáticas e o ar puro é privilégio de poucos já que é comercializado por valores altíssimos.
É neste contexto estranho repleto de bizarrice dominado por uma empresa de  TV mais bizarra ainda, onde a sua arena mortal é o combustível para aumentar a audiência, que o personagem Bem Richards luta para salvar a vida de sua filha.
Richards é um sujeito desempregado e por isso, não tem condições de pagar o tratamento médico que pode salvar a vida de sua filha que tem um grave problema de saúde. Para não ver a sua mulher se prostituindo na esperança de ganhar algum dinheiro para salvar a criança, ele resolve se inscrever no reality show mais perigoso e letal da Co-Op City chamado “O Foragido”.
Após entrar no jogo, Richards passa a ser perseguido por um grupo de policiais corruptos – altamente treinados e equipados – que trabalham para a companhia de TV. Esses policiais conhecidos por “caçadores” são comandados por Evan McCone, descendente direto de J. Edgard Hoover, dos quais, durante os seis anos de programa, nenhum competidor conseguiu escapar com vida.
De acordo com as regras do jogo, cada hora que Richards conseguir permanecer vivo, ele ganha 100 dólares e se não morrer no final de 30 dias, leva 1 bilhão de dólares.
Quando a caçada tem início, Richards se transforma num animal acuado, tendo de usar todas as suas habilidades para fugir dos caçadores que contam com o auxílio da população que também quer a morte do fugitivo, já que a Co-Op City transformou a imagem de Richards num perigoso assassino.
Em resumo, esse é o enredo de “O Concorrente”. Um livro dinâmico e marcante. Uma estréia com chave de ouro de Stephen King na ficção científica, muito o diferente do gênero do qual está acostumado, ou seja, o terror.
Se o livro vale a pena ser lido e relido, o filme do roteirista “maledeto” e do diretor Paul Michael Glaser merece ser esquecido, aliás, merece nem ser visto.
Para início de assunto, transformaram a adaptação de “O Concorrente” para as telas num medíocre filme de ação, mais parecido com um Rambo meia boca, deixando a ficção científica num terceiro ou quarto plano. Todo aquele clima bizarro e doentio explorado por King/Bachmnan no livro foi esquecido.
O Ben Richards criado por King é um personagem complexo, movido pelo ódio que brota de sua alma por não ter dinheiro suficiente para salvar a filha. Esse ódio cresce ainda mais  quando ele é obrigado a se humilhar na frente de milhares de pessoas que passam a caçá-lo como um animal, querendo o seu sangue em troca da vida sua filha. Essa personalidade conflituosa do personagem das páginas de King/Bachman não existe no brutamonte interpretado por Schwarzenegger que só pensa em fugir, lutar e bater.
Quanto aos caçadores, no livro, são homens normais, corruptos, mas normais. Usam armas convencionais e se valem apenas de seu treinamento, perspicácia e inteligência para localizar e conter o foragido. Já no filme de Paul Michael Glaser... Ai Ui-ui! Os caras são verdadeiras aberrações, parecendo ter saído de um manicômio ou então de um circo de horrores. Tem um japonês balofo e mudo caracterizado como jogador de hóquei que ao invés de usar o taco para movimentar o disco, o utiliza como arma para matar os participantes do jogo.  Existe um homem da raça negra, de meia idade, que sai voando graças a um equipamento esquisito amarrado em suas costas e que utiliza um lança-chamas para transformar os foragidos em churrasquinhos. Sem contar, um branquicelo obeso que usa uma roupa energizada, cheia de luzes e neon, dirigindo um carro esquisito. O sujeito consegue disparar uns raios pelas mãos. Pois é, pode acreditar, esses são os caçadores do filme “O Sobrevivente”.
Cruzes! Um verdadeiro festival de esquisitices e sandices. Tenho a impressão que o roteirista estava tendo alguns surtos psicodélicos quando criou esses “caçadores”.
Nem com muita reza dá para encarar o filme. Definitivamente horroroso. Quanto ao livro “O Concorrente”, uma verdadeira obra prima de Bachman. Uma obra para ler, reler e guardar.
Ah! Em tempo! A edição lançada pela Suma traz ainda um capítulo à parte, onde Stephen King explica os motivos que o levou a adotar o pseudônimo de Richard Bachman para escrever alguns livros.
Inté!

14 junho 2011

A Princesinha

Sempre fui adepto da teoria: “Leia o que quiser, como quiser e da maneira que quiser”. Não devemos ter vergonha do que lemos temendo ser taxados pelos outros de simplórios ou então pouco inteligentes. O que interessa, meu amigo, é que a viagem que você está prestes a iniciar, juntamente, com o seu velho companheiro o “livro” lhe faça bem, que lhe deixe com uma satisfação plena. O resto e os outros que se danem.
Pena que nem todos tem coragem suficiente para assumir essa responsabilidade. Principalmente quando se trata da leitura de alguns romances. Conheço várias pessoas que tem vergonha de ler em público certos livros considerados – erroneamente – muito ingênuos para o seu intelecto. Mas, no íntimo, essas mesmas pessoas amam esses livros e seus autores. Então o que elas fazem? Simples. Optam por lê-los escondidas dos outros. Em público, nem pensar!
Me desculpem fazer esse preâmbulo que mais se parece um desabafo antes de entrar no assunto do post que é o comentário de “A Princesinha”. É que há cerca de duas semanas, após aguardar a chegada do meu ônibus no terminal rodoviário de uma certa cidade, vi um o homem de terno, gravata, sapato último modelo e pasta tipo 007 lendo, muito desconfiado, um livrinho (usei o diminutivo não pelo conteúdo da obra, mas pelo seu tamanho). O sujeito estava por demais incomodado e percebi que ele tentava cobrir o título da obra com parte da mãos. Cheguei a conclusão que o tal homem engravatado, que se parecia com um advogado ou executivo, sei lá, estava se deliciando com a leitura, mas morrendo de vergonha do livro “A Princesinha”, da Frances Hodgson Burnett.
Juro que fiquei com uma vontade enorme de dizer ao homem envergonhado que eu havia acabado de reler a obra de Frances Burnett na semana passada e tinha adorado. Quer dizer, adorado novamente, porque já havia lido o livro na minha infância/adolescência.
Há livros infanto-juvenis com essa mística, ou seja, com o poder de encantar não só os pequenos leitores, mas também os grandes. E “A Princesinha” se inclui, tranquilamente, nessa categoria.
E não venham os leitores machistas dizerem que se trata de um livro para mulheres... nada disso. É uma leitura para o crescimento ou mudança do “ser humano”, extrapolando o conceito “sexo”. Fico imaginando quantas crianças ou adolescentes aprenderam a serem fortes ou então mudaram a sua visão de vida se espelhando na personagem Sara Crewe, brilhantemente criada por Frances H. Burnett.
Em “A Princesinha”, a autora fala de uma menina muito rica, chamada Sara, que vive na Índia com todas as regalias e acostumada a ver  os outros sempre prontos a atender os seus desejos, tratando-a como uma verdadeira princesa. Ao completar 10 anos de idade, o seu pai, capitão Crewe, decide matriculá-la num colégio interno, em Londres, para que possa iniciar os seus estudos. Ao chegar lá, o pai de Sara exige da direção do colégio que a filha tenha do bom e do melhor, até o dia em que ele retorne da India - onde tem negócios importantes - para buscá-la. Mas num triste dia, chega a notícia de que o capitão morreu e acabou perdendo todo o seu dinheiro. De repente, Sara se transforma de menina rica em pobre e passa a ser menosprezada pela maioria de suas colegas, além de “comer o pão que o diabo amassou” nas mãos da perversa diretora do colégio que só se interessava por ela tinha dinheiro. Como não tem nenhum familiar para ficar, a princesinha – como era chamada por seu pai – passa a morar de favor no colégio e é obrigada a trabalhar como empregada sendo espezinhada pelas alunas e também pela diretora, menos por Beck, a sofrida ajudante de cozinha do colégio. O sofrimento de ambas, faz surgir uma forte amizade entre elas. Mas é claro, que o final do romance reserva uma inesperada reviravolta que deixará os leitores boquiabertos. Enfim, esse é um pequeno resumo da história.
O livro de Frances H. Burnett me ensinou várias lições de vida na minha infância/adolescência. Não tenho vergonha em afirmar que ele teve uma importância fundamental para solidificar alguns dos meus conceitos de vida e também mudar outros menos nobres.
Algo que me marcou profundamente foi o “lance” da humildade de Sara Crewe, que apesar de ter o mundo aos seus pés, nunca deu importância maior para o material. Para ela, num patamar muito acima da riqueza estavam os seus amigos e a alegria de fazer algo que lhe dava prazer. No seu caso, ser uma contadora de histórias... de criar enredos, personagens e situações interessantes. Ver as outras pessoas compenetradas, muitas vezes sem piscar os olhos, presas em algo que ela criava, era a sua maior alegria. Além disso, as histórias contadas por Sara funcionavam como uma teia de aranha, pois todos queriam ser suas amigas para poderem desfrutar desses momentos mágicos. E cada amiga que ela fazia era uma alegria a mais em sua vida.
Portanto, quando Sara ficou na miséria, ela não sofreu, porque mais importante do que os seus dotes financeiros era o seu dom. Esse desapego com o poderl ajudou ainda mais no seu amadurecimento. Para ela, pior do que perder todo o seu dinheiro foi perder o seu pai.  
A força dessa menininha feita de arueira foi algo que jamais me esqueço e me ajudou demais naquela época da minha vida.
Outro ponto importante na história criada por Burnett é a relação de respeito existente entre Sara e o seu pai. O capitão Crewe dá toda a liberdade para que a filha “curta” a sua infância, mas também passa à ela muitas responsabilidades que irão ser úteis quando crescer ou então enfrentar situações mais difíceis em sua vida.
Quanto ao relacionamento de Sara e Beck, a ajudante de cozinha, também nos ensina o valor da verdadeira amizade que não leva em conta raça, coondição social ou credo. Enfim, antes de ser um livro meramente infantil, “A Princesinha” é uma obra com o poder de mudar conceitos em nossa infância/adolescência.
O livro de Frances H. Burnett fez tanto sucesso que foi adaptado várias vezes para o cinema, sendo as mais conhecidas filmadas em 1939 e 1995. O primeiro se chamou “A Pequena Princesa” e teve no papel principal a atriz prodígio daquela época, Shirley Temple. Já o segundo foi lançado no Brasil em 1995 com o título de “A Princesinha” e recebeu duas indicações para os Oscar de 1995: Direção de Arte e Melhor Fotografia.

12 junho 2011

Livros desconhecidos que se transformaram em filmes famosos

Pretendia escrever esse artigo já há algum tempo, mas cada vez que pensava em iniciar o texto, pronto! Ficava sabendo de um novo livro desconhecido da grande massa de leitores, que mesmo assim, havia originado um filme famoso. E então, fui pesquisando, pesquisando, até a tarde deste domingo, quando disse: chega! Já tenho material suficiente para  fazer a postagem.
Você não imagina como é grande a quantidade de livros ignorados pelos leitores, que acabaram gerando verdadeiros blockbusters para a indústria cinematográfica. 
Mas atenção; não estou querendo afirmar que essas obras literárias são “lixos meramente descartáveis”. Nada disso. São ótimas, algumas delas verdadeiras obras primas, mas que por algum motivo acabaram caindo no esquecimento do leitor brasileiro. E quais seriam esses motivos? Podem ser tantos. Por exemplo, aquele livro que só foi lançado no mercado europeu e por isso não teve nenhuma edição traduzida para o português; a obra de uma editora pequena que acabou tendo uma tiragem reduzida; um livro que apesar de ser “o fino da bossa” foi massacrado, injustamente, por alguns críticos irresponsáveis que estavam num dia de fúria; ou então simplesmente, um livro que apesar de ser “top-line” não emplacou, ficando emperrado nas prateleiras. Culpa de quem ou de que? Dos editores que não fizeram um bom trabalho de marketing; do título que não atraiu o leitor, da má divulgação, do crítico que não foi com a cara do escritor, sei lá, motivos para uma obra de qualidade não emplacar são muitos.
Por isso, hoje, resolvi homenagear esses livros injustiçados. Os chamados “primos pobres” que mesmo desconhecidos ou esnobados pelos leitores da nova geração originaram verdadeiros “primos ricos”  nos cinemas. Antes que me esqueça, quero agradecer os roteiristas que acreditaram nos humildes, mas capazes, “primos pobres”. Vamos a nossa relação!
01 – Who Goes There? (1938)
Cen do filme "O Enigma do Outro Mundo" (1982)

Qual o título do livro em português? Esqueça, porque ele não foi lançado no Brasil; somente no mercado europeu. Acredito que este tenha sido o motivo principal da obra de John W. Campbell Jr. passar completamente despercebida pelos leitores tupiniquins. Se alguma editora brasileira, na década de 30, tivesse investido na tradução do livro de Campbell, ele se tornaria um verdadeiro Best-seller em terra verde e amarela, mas o Sr. Destino não quis assim. Dessa maneira, paciência, temos de nos contentar apenas com os dois filmes que “Who Goes There?” originou: “O Monstro do Ártico” (1951) e “O Enigma do Outro Mundo” (1982).
Campbell Jr. escreve sobre um monstro alienígena, cuja nave, cai próxima a uma base de pesquisadores americanos no Pólo Norte. Ao ser resgatado e levado para o interior da base, a criatura acaba provocando uma verdadeira matança. A refilmagem de 1982 conseguiu uma proeza sem precedentes: superar o original que foi exibido nos cinemas em 1951. Os dois filmes se tornaram clássicos da ficção científica e levaram multidões ao escurinho do cinema. Enquanto o livro, simplesmente nem existiu... no Brasil.
02 - Adeus ao Mestre (1940)
Livro de contos compilados por Isaac Asimov,
entre os quais "Adeus ao Mestre"

Este conto de Harry Bates foi publicado, inicialmente, em uma revista americana em 1940, não sendo notado pela maioria dos leitores, excetuando os produtores do estúdio da Twentieth Century-Fox que amaram o texto. Após uma rápida negociação, eles conseguiram adquirir os direitos de filmagem da obra, mesmo assim, o filme “O Dia em Que a Terra Parou”, baseado no conto de Bates só seria lançado dez anos depois, em 1951. Dirigido por Robert Wise, em pouco tempo, a produção cinematográfica se transformou num grande sucesso de bilheteria. A história do alienígena Klaatu que vem à terra em uma missão de paz, mas é recebido à bala, originando um grave conflito pode ser considerada referencia no gênero ficção científica, mas no cinema e não nas páginas. O conto de Bates, mesmo sendo primoroso e com diferenças marcantes da adaptação cinematográfica não emplacou, mesmo assim, vale a pena ser lido. A boa notícia é que você pode encontrar a história de Bates facilmente na maioria dos sebos. O conto faz parte de uma antologia compilada por Isaac Asimov no livro “Máquinas que Pensam”, lançada em 1983 pela editora LPM. O livro de 430 páginas traz ainda outras histórias de verdadeiros gênios da ficção científica, entre os quais: Philip K. Dick, Arthur C. Clarke, Gordon Dickson e o próprio Asimov. O conto de Harry Bates está na página 75. Ah! Em tempo! “O Dia em Que a Terra Parou teve ainda um remake, em 2008, com Keanu Reeves no papel de Klaatu. A refilmagem do clássico de 1951 foi bem fraquinha, já que o diretor Scott Derrickson privilegiou muito mais os efeitos especiais e o poder de fogo do robô gnut – guarda costas de Klaatu – do que a história em si.
03 – Desejo de Matar (1974)
“Filme lembrado, livro esquecido”. Está máxima serve perfeitamente para “Desejo de Matar” que se tornou uma produção cinematográfica antológica, dando início á uma franquia de muito sucesso, além de catapultar a carreira de Charles Bronson. Enquanto isso, o livro de Brian Garfield, no qual foi baseado o filme, caiu no esquecimento. É triste constatar que após 37 anos de seu lançamento, uma parcela pequena de pessoas sabe até mesmo que o livro existe.
Este fenômeno não tem uma explicação lógica porque considero o livro de Garfield muito superior ao filme, bem mais detalhista. Apesar de não ser nenhuma obra de arte, “Desejo de Matar” consegue prender a atenção do leitor e é melhor do que muitas obras horríveis que hoje são decantadas em prosa e verso, tanto pela crítica especializada quanto pelos leitores. Taí “Fallen”, “Susurro”, “Wake” e outras bombas que não me deixam mentir.
Mesmo na época de seu lançamento, em 1974, o livro de Garfield não foi um “estouro” de vendas, à exemplo de uma outra obra sua chamada “Death Sentence” que deu origem a um outro filme chamado “Sentença de Morte”. Apesar da falta de atenção dos críticos e dos leitores, a história acabou despertando o interesse de roteiristas da Paramount e também do mega-produtor da época, Dino de Laurentis, que compraram os direitos da obra com a intenção de adaptá-la para as telonas. Nascia assim o fenômeno “Desejo de Matar” com Charles Bronson. Enquanto isso, o livro, apesar das suas qualidades, ficaria no esquecimento.
04 – Duro de Matar (1979)
Capa do livro de Thorp antes do
lançamento do filme

Comprei o livro por causa do filme. O motivo? Como achei “Duro de Matar”, com Bruce Willis, um filme frenético, uma verdadeira montanha russa, tinha curiosidade em saber se os roteiristas haviam feito uma adaptação fiel das páginas para o cinema, ou se quase nada do livro de Roderick Thorp havia sido aproveitado. Li o livro há uns dois anos e antes de escrever esse artigo optei também por fazer uma “releitura dinâmica” da obra, e posso garantir que a adaptação feita para as telonas é muito fiel ao livro. Pouca coisa mudou. Entre elas, o nome do personagem principal que no livro se chama Joe Leland e o fato dele ser bem mais velho e sisudo do que o detetive John McClane interpretado por Buce Willis no filme. O clima do livro também é muito pesado, com Leland e os terroristas assumindo um duelo psicológico perturbador nos intervalos dos tiroteios e explosões. Já no filme, McClane é bem mais jovem e humorado. Outra mudança é com relação a mulher de McClane. No livro, ela não é esposa, mas sim a sua filha. 
Capa do livro de Thorp depois do
lançamento do filme

Excetuando essas diferenças, o filme é muito fiel ao livro de Thorp, inclusive, o leitor tem a impressão de que várias cenas de ação contidas nas páginas da história foram adaptadas integralmente para a telona do cinema.
A curiosidade é que o livro de Thorp não se chamava “Duro de Matar”, mas sim “Nada é Para Sempre” (Nothing Last Forever) e na época de seu lançamento passou completamente despercebido nas livrarias. Quer dizer... até surgirem os produtores Lawrence Gordon e Joel Silver e se interessarem pela história. Após o lançamento de “Duro de Matar” nos cinemas e o seu estrondoso sucesso, as novas de edições de “Nada é Para Sempre” passaram a ser “batizadas” com o mesmo nome do filme. Mesmo assim, o livro não vingou, entrando para o rol das obras que ficaram desconhecidas através dos tempos.
05 - Forrest Gump (1986)
 
capa da edição lançada no Brasil

Você já leu ou assistiu Forrest Gump? Creio que a maioria das pessoas que ler esse post responderá que já assistiu ao filme. E vou mais além, alguns até desconhecerão que um dia existiu um livro com esse nome. Apesar do livro de Winston Groom ter sido escrito em 1986, ele só foi lançado no Brasil oito anos depois, praticamente, junto com o filme. Tudo leva a crer que a jogada de marketing tinha por objetivo fazer com que um alavancasse o sucesso do outro, tipo uma relação simbiótica, onde livro e filme dependessem um do outro para crescer. Prova disso foi a capa da edição brasileira do livro que copiava a imagem do cartaz promocional do filme com o ator Tom Hanks sentado num banco com uma malinha de viagem, ao lado, colocada no chão.
 
Capa da edição original, lançada nos EUA, oito anos
antes do filme

 E para não fugir da rotina, novamente entrou em cena a “maldição dos livros desconhecidos”. Enquanto o filme atingiu as estrelas, o livro no qual foi baseado, não decolou e ficou no chão.
À exemplo de outras obras abordadas nesse post, o livro de Winston Groom é excelente; tão bom quanto o filme, mas despertou o interesse de poucos leitores. Em resumo “Forrest Gump” é a história de um homem de QI muito baixo que vive aventuras incríveis em sua vida, algumas delas hilárias e outras emocionantes. Forrest Gump é o nome do personagem e as aventuras vividas por ele representam um retrato da história norte americana, como a Guerra do Vietnã, Caso Watergate e outros. Enfim, livro e filme excelentes! A trilha sonora, então, Jesus!! Que primor!
06 – A História sem Fim (1979)
É quase certo que de cada dez “adolescentes de ontem”, nove irão dizer que A História sem Fim foi o ‘filme’ e não o ‘livro’ que marcou a sua adolescência, mesmo porque a maioria não chegou a ler a obra de Michael Ende, e muito menos sabe que ela existe. Para essa geração o que vale é o filme que estreou nos cinemas em 1984, cinco anos após o lançamento do livro.
Infelizmente ainda não li a obra de Michael Ende, mas pretendo adquiri-la o mais breve possível. Também não vou ser hipócrita escrevendo neste espaço que eu já sabia que existia um livro antes do filme. Nada disso; eu não sabia.; por isso me incluo nas estatísticas daqueles que só tinham conhecimento da existência do filme. Sendo assim, tive de procurar um velho amigo que já leu o livro para ouvir a sua opinião. “Esqueça o filme e leia o livro!” Essa foi a resposta direta e reta que ele me deu. Então pensei com os meus botões: “Para esquecer o filme História sem Fim é porque o livro é muito bom; muito bom não... deve ser fantástico”. Daí, vou adquiri-lo, provavelmente, na próxima semana, incluindo-o na minha lista prioritária de leituras.
07 – Ao Mestre com Carinho (1967)
Capa do DVD do filme com Sidney Poitier

Ao Mestre com Carinho é um caso semelhante ao livro “Who Goes There?” no qual foi baseado os filmes “O Monstro do Ártico” e “O Enigma do Outro Mundo”. O livro de E.R. Braithwaite, simplesmente, não foi lançado no Brasil. Aqueles que tinham o desejo de conhecer a história real de um professor que consegue transformar uma classe de “moleques rebeldes” em adultos com um alto senso de responsabilidade, vivido nos cinemas por Sidney Poitier eram obrigados a comprar a edição americana da obra. Isto significava que os leitores que não tinham o domínio da língua inglesa dançavam.
E. R. Braithwaite – é o professor que inspirou o papel de Mark Thackeray, interpretado por Poitier, na produção cinematográfica “Ao Mestre com Carinho” (To Sir With Love), de 1967. Portanto trata-se de um livro autobiográfico que “maioria da maioria” dos brasileiros nunca ouviu falar. Mas quanto ao filme ou a música do filme chamada To Sir With Love, interpretada pela Lulu, quase todos cinqüentões ou sessentões viram ou ouviram. Para aqueles que não se recordam direito do filme, “Ao Mestre com Carinho” conta a história de Mark Thackeray (Sidney Poitier), um engenheiro desempregado que resolve dar aulas em Londres, no bairro operário de East End. A classe indisciplinada, liderada por três alunos rebeldes (um rapaz e duas moças)  estão determinados a destruir Thackeray como fizeram com seu predecessor, ao quebrar-lhe o espírito. Mas Thackeray acostumado à hostilidade enfrenta o desafio tratando os alunos como jovens adultos que breve estarão se sustentando por conta própria. Quando recebe um convite para voltar a engenharia, o jovem professor deve decidir se pretende continuar ou não com a sua classe de alunos.
08 – Shrek (1990)
Em 2001, um ogro verde e feio que vivia num pântano, em meio à floresta, em uma terra chamada Duloc acabaria conquistando crianças e adultos. O filme produzido pela DreamWorks, estúdio do gênio Steven Spielberg, arrecadaria 100 milhões de dólares nos cinemas, transformando-se numa verdadeira coqueluche mundial. A produção cinematográfica teria ainda mais duas sequências de sucesso. Mas o que pouca gente sabe é que o ogro verde não é produto de um roteiro original, mas sim de um livro. Pois é, o Shrek nasceu em 1990 e não em 2001. Na realidade, antes de aparecer nas telas de um cinema, ele já dava as caras nas páginas de um livro. O monstrinho que conquistou todo o mundo é uma criação do escritor William Steig, mas muitos adultos e crianças aqui da nossa terrinha não sabiam da existência dessa obra e pensavam que o tal do Shrek era uma criação dos estúdios de Spielberg.
09 – Lula O Filho do Brasil (2009)
Livro que contém a história
romanceada de Lula
No ano passado fui até uma livraria, distante algumas quadras de casa, decidido a comprar o livro do Lula escrito pela Denise Paraná, mas ao chegar no local me enbasbaquei todo. Dei dê cara com dois livros sobre o nosso ex-presidente, com títulos praticamente idênticos e escritos pela mesma Denise Paraná!!. Um deles se chamava “A História de Lula O Filho do Brasil” , enquanto o outro tinha o título de “Lula O Filho do Brasil”. O primeiro tinha a capa semelhante ao cartaz oficial do filme com a Glória Pires ao lado de Felipe Falanga e Ricardo Dias. Já o outro trazia apenas uma foto do Lula. Na dúvida, optei pelo livro que tinha o cartaz do filme. Resultado: Dancei bonito! 
Livro que serviu de inspiração para o filme

Como já disse, os dois livros foram escritos pela mesma autora,  mas a obra que inspirou o diretor de cinema Fábio Barreto é aquela que não traz o cartaz do filme em sua capa. Barreto se baseou no livro de mais de 500 páginas que traz apenas a foto de um Lula bem sorridente.
Após uma pesquisa na Net fiquei sabendo que muitas pessoas cometeram o mesmo erro, ou seja, compraram o livro errado. Tudo por culpa da tal capa.
Inclusive, no site oficial do filme, a obra com a Glória Pires na capa é a que aparece, fazendo com que o leitor compre gato por lebre. Essa confusão fez com que o livro que Fábio Barreto usou no roteiro de seu filme ficasse no ostracismo.
10 – "Tribal Rites of the New Saturday Night" (1975)
Juro que por essa eu não esperava! O filme “Os Embalos de Sábado à Noite” que causou um verdadeiro frenesi em 1977 e revolucionou toda uma geração, inclusive a minha, foi baseado num artigo publicado na revista New York Magazine! Cara! Eu quero ler esse artigo para compará-lo com o filme! Mas é claro que o artigo escrito por Nick Conh se tornou uma verdadeira raridade e que daqui há pouco tempo só será encontrado em um museu norte americano. Por isso, é melhor conter as minhas esperanças...
Artigo de Nick Conh publicado no New York
Magazine e que inspirou "Os Embalos..." 

O artigo de Conh se referia a um rapaz complicado, racista, boca suja e que só pensava em sexo, sexo e mais sexo. Para colocar para fora toda essa energia, nos finais de semana ele procurava uma discoteca em sua cidade para dançar. Quando pisava na pista, ele se transformava num semideus e era adorado por todos que freqüentavam o local e que só viam no sujeito o “dançarino perfeito”, se esquecendo completamente de toda a sua rebeldia.
Reza a lenda que ao pegar – por acaso - um exemplar da revista New York Magazine e ler o artigo de Cohn, o agente do ator John Travolta viu no rapaz rebelde e sexista do artigo, o personagem ideal para o seu agenciado. Ao mostrar o jornal para Travolta, ele também teria adorado o artigo. Começava assim, a nascer o filme “Os Embalos de Sábado à Noite”.
Agora deixe-me fazer uma perguntinha básica prá você que lê esse post. Por acaso, o querido amigo “leitor-internauta e blogueiro” já teve oportunidade de ler o artigo de Nick Conh no qual foi baseado o filme “Os Embalos de Sábado á Noite”?
Tai galera; algumas obras desconhecidas que deram a sua contribuição para gerar filmes inesquecíveis.
Espero que tenham gostado.

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