25 agosto 2024
Mais Sombrio
Acabei de ler os 12 contos de Mais Sombrio, novo livro de Stephen King. Terminei há alguns dias,
mas estou fazendo a resenha apenas agora por causa dos dias tribulados que
enfrentei no trabalho. Achei a coletânea tão boa que cheguei a conclusão que
ela não merecia uma resenha feita na correria, no atropelo. E naquele momento, eu
estava ‘atropelado’ de trabalho e com os pensamentos disparando em várias
direções à procura de soluções em meu serviço e, por isso, jamais conseguiria
analisar individualmente os 12 contos. Achei melhor acalmar a situação para
escrever com calma e dedicando todos os meus neurônios ou então, grande parte
deles, na elaboração de uma resenha, pelo menos, razoável. Como já ‘disse’
acima, o livro do Tio King merece isso.
Adorei a maioria dos contos de Mais Sombrio. Escrevo “a maioria” porque sabemos que todas as
coletâneas de contos por melhores que sejam sempre trazem algumas histórias
menos interessante. Costumo dizer que são aquelas que destoam das demais, os
chamados ovos miúdos da granja que escapam na hora da seleção e acabam indo
parar no meio dos ovos graúdos. E Mais
Sombrio, por melhor seja, não é uma exceção; a coletânea também tem os seus
ovos miúdos, mas ele são muito poucos; para ser exato, apenas dois: Finn e O homem das respostas. Quanto as outras dez histórias são
excelentes. Perceba que eu ‘disse’ “excelentes” e não ótimas ou boas. Dois
desses contos excelentes são verdadeiras joias raras e lapidadas. São eles: Cascavéis e O sonho ruim de Danny Coughlin com o poder de fazer com que o
leitor não desgrude os olhos das páginas um minuto sequer.
A partir da leitura de Tudo é eventual, lançado aqui no Brasil em 2013, ampliei o meu
leque de respeito por Stephen King porque compreendi que ele ia muito mais além
do que um escritor de terror, ou seja, de um autor que domine apenas um gênero
literário. Entendi que ele é capaz de gerir vários outros gêneros de escrita
que vão do terror ao suspense, passando pelo drama, romance, policial, ficção
científica e humor negro. A coletânea Tudo
é eventual me mostrou isso; e depois, Novembro
de 63 (resenhas aqui e aqui) acabou por confirmar.
Portanto, não fiquei surpreso com os contos de Mais Sombrio já que vários deles fogem
do gênero terror para explorar temas distintos como O sonho ruim de Danny Coughlin, um baita drama temperado com ação
que deixa o leitor ligado na tomada 220 wolts até o final; ou então, Laurie, uma doce história envolvendo o
relacionamento de um idoso de 65 anos com uma cadela da qual não gostava, mas
depois passa a ter afinidade.
Posso afirmar que King é um gênio da escrita capaz de
‘casar’ com qualquer gênero literário. Digam o que quiserem: que ele é
descritivo demais chegando ao ponto de se tornar cansativo ou então que ele não
sabe escrever um final digno para os seus enredos. Se eu acho ele muito
descritivo? Sim. Acho. Mas o que importa, pelo menos para mim, é que a sua
escrita, por mais descritiva que seja, não me cansa, pelo contrário, faz com
que eu estabeleça um vínculo cada vez maior com os seus personagens. Quanto aos
seus ‘finais terribiles’, me respondam o nome de um escritor que acertou em
todos os seus finais de seus livros?
Acho que já deu para ter uma noção da coletânea Mais Sombrio. Vamos agora para um rápido
resumo de seus 12 contos.
01
– Dois fio da mãe talentosos
O conto que abre o livro narra a história de dois
amigos inseparáveis: Laird Carmody e Dave “Butch” LaVerdiere – que são os dois
fio da mãe do título. O primeiro é um escritor famoso, conhecido em todo o
mundo; o segundo, um pintor não menos famoso, também respeitado em todas as
esferas culturais por causa de suas pinturas incomparáveis.
A história é narrada, em terceira pessoa, pelo filho de Laird e a essência do enredo gira
em torno de um mistério: como Laird e Dave conseguiram se tornar tão talentosos
dentro de suas áreas – literatura e pintura, da noite para o dia. Como duas
pessoas que tinham uma firma de limpeza pública conseguiram se transformar em
duas celebridades tão rapidamente?
Durante a leitura fui criando várias teorias, todas
erradas, até chegar ao final inesperado. Os editores acertaram em abrir Mais Sombrio com um conto excelente
capaz de acender a curiosidade dos leitores para as outras 11 histórias.
02
– O quinto passo
Neste segundo conto do livro conhecemos um Tio King bem
sinistro mas sem apelar para o sobrenatural o que, na minha opinião, deixou a
história ainda mais tenebrosa e com um final que apanha o leitor de surpresa.
Um aposentado sentado no banco de um parque é abordado
por um estranho que pede ajuda para completar mais uma etapa do programa dos
Alcóolicos Anônimos. Este estranho precisa dar o seu quinto passo.
Para aqueles que não sabem, o quinto passo do AAA é “admitimos
perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata
de nossas falhas”.
O final, como já citei acima, me impactou.
03
– Willie Esquisitão
Achei o conto deliciosamente assustador. Na minha
opinião, tem uma leve semelhança com um outro conto famoso de King chamado Vovó (Gramma).
Willie Fiedler é um garoto de 10 anos que é
considerado "estranho" por seus pais, sua irmã e seus colegas devido
a seus hábitos incomuns, como coletar insetos mortos, olhar para nuvens e
prender vaga-lumes em uma jarra para vê-los morrer.
Ele passa grande parte de seu tempo conversando com o
seu avô James que tem o hábito de contar para o seu neto histórias mórbidas e
aparentemente improváveis. Willie é fascinado por essas narrativas.
King, nesse conto, também reserva uma surpresa no
final. Uma história que gira em torno da eternidade. Paro por aqui senão vou
acabar liberando spoiller. Basta escrever que apesar de curtinho – apenas 12
páginas – o conto tem uma narrativa riquíssima.
04
- O sonho ruim de Danny Coughlin
Caráculas! Só não vou afirmar que é o melhor conto de Mais Sombrio porque estaria sendo
injusto com Cascavéis. Os dois contos
são excelentes, os melhores de toda coletânea.
Nesta história inédita de “Mais Sombio”, com 160
páginas, conhecemos Danny Coughlin, o zelador de uma escola que tem um sonho
recorrente, onde ele contra o corpo de uma pessoa em um posto de gasolina
abandonado. Danny resolve investigar, para descobrir até onde seu sonho é um
pesadelo, mas acaba tornando-se o principal suspeito de um bárbaro homicídio.
Caberá a ele provar a sua inocência, mas será que alguém vai acreditar em sua
história absurda.
Cara, se prepare para as páginas finais: pura
adrenalina!
05
– Finn
A primeira, das duas histórias que não gostei do
livro. O início até desperta o interesse, mas depois a narrativa se torna algo
comum. Além disso o final aberto ficou um pouco confuso. Me desculpe “Tio King”
mas aquele “The End” deixou muito a desejar e, com certeza, vai entrar para lista
dos finais mais criticados de sua autoria.
Finn Murrie é um jovem irlandês com um azar danado.
Tudo o que ele faz ou até o que não faz dá errado.
Quando criança, ele caiu de cabeça, perdeu um dedo do
pé e quase foi morto por um raio. Sua avó prometeu a ele que um dia toda a sua
má sorte seria recompensada com boa, mas quando ele é sequestrado por engano,
Finn se pergunta se esse dia chegará.
06
– Na estrada da Pousada Slide
Etcha vovô da peste!! Leiam o conto e principalmente o
seu final e entenderão o motivo da minha exclamação. Uma história com uma
tensão crescente. É o “Tio King” provando mais uma vez que é capaz de escrever
um conto de terror incrível sem precisar recorrer aos artifícios de monstros,
sobrenatural ou corpos estraçalhados. Em Na
estrada da Pousada Slide o que predomina na narrativa é apenas a tensão
vivida por uma família que enfrenta uma situação difícil e sonha mais do que
nunca sair desse enrosco.
King narra a saga da família Brown – marido e mulher,
Frank e Corinne; seus filhos Billy e Mary; e o pai de Frank, Donald, um
veterano do Vietnã. Eles estão dirigindo para visitar um parente que está
morrendo de câncer. Então, eles resolvem pegar um atalho, o carro atola e com
isso, toda a família acaba indo parar numa pousada abandonada chamada “Pousada Slide”.
A partir daí, começa o drama. Prestem atenção no vovô Donald.
07
– Tela vermelha
Uma historieta de apenas 17 páginas. Não posso contar
nem o mínimo porque acabaria revelando a história toda. Portanto, vamos ao ‘mínimo
do mínimo’: Tela Vermelha é um conto
inquietante onde um investigador de polícia interroga um encanador perturbado
que acabou de assassinar sua esposa. Ele não acredita na história do encanador,
então...
King inspirou o seu conto em uma obra antológica de um
gênio. Não posso revelar o nome dessa obra, nem de seu escritor porque acabaria
revelando um spoiller do tamanho do Titanic.
Tela
Vermelha foi publicado originalmente como um e-book de edição
limitada em 2021. Achei a narrativa rápida e inteligente bem no estilo de “Além
da Imaginação”, aquele seriado antológico da TV dos anos 60 e que teve diversos
remakes.
08
– O especialista em turbulência
O conto foi publicado pela primeira vez no Brasil na
coletânea Terror a Bordo que reuniu
histórias de terror de vários autores famosos, entre eles, de SK. Vale lembrar
que esse livro - lançado por aqui em 2020 - foi editado pelo próprio King
juntamente com Bev Vincent.
Apesar de já ter lido algumas críticas negativas sobre
o conto, no meu caso, gostei muito da história de Craig Dixon, um atormentado
personagem que tem uma profissão bem sui generis: especialista em turbulência.
Li em uma entrevista de Bev Vincent que coeditou Terror a Bordo que O especialista em turbulência sugere que a ideia central da
narrativa reflete o medo de voar de Stephen King. O mestre do terror deixou
esse medo evidente em uma de suas entrevistas quando revelou "o voo que você tem que ter medo é aquele
em que não há ninguém com medo de voar [...] esses são os voos que caem" e
que se "você tem três ou quatro pessoas que estão morrendo de medo... nós
seguramos isso." O autor aplica essa regra ao pé da letra na narrativa de O especialista em turbulência.
09
– Laurie
Uma fofura de conto. O enredo mostra a relação de um aposentado
viúvo com 65 anos e a sua cadela de estimação chamada Laurie. Eles vivem na
pacata e fictícia comunidade da ilha de Caymen Key, na Flórida. No início, o
animal – presente de sua irmã – não foi bem recebido, mas gradualmente, o homem
vai criando laços com Laurie enquanto cuida dela, e no final acaba adorando o
animalzinho.
Este conto, a exemplo de À espera de um milagre mostra o lado sensível de King. Mas não se
engane porque o terror chega com tudo no final, deixando os leitores com o
coração na mão.
10
– Cascavéis.
E chegamos à Cascavéis.
Um “contaço”, à exemplo de O sonho ruim
de Danny Coughlin. Eu, particularmente, estava ansioso para ler esse conto
pois já havia relido Cujo e adorado.
Lembrando que Cascavéis é a sequência
direta de Cujo (aqui e aqui).
O conto de 93 páginas mostra como está a vida de Vic
Trenton, marido de Donna e pai de Tad, protagonistas do livro original. Vic
está agora com 72 anos de idade e morando numa comunidade bem tranquila. Ele
ainda tenta esquecer o drama enfrentado no passado.
Cascavéis
é uma verdadeira história de terror e terror daqueles bem sobrenaturais que
provocam calafrios. Não estou querendo ‘dizer’ que Cujo, o raivoso cão São
Bernardo, volta do mundo dos mortos ou então, que o pequeno Tad reapareça. Não.
King não seria tão simplório assim. Trata-se de um terror que incomoda.
O conto é tão bom que resolvi escrever uma resenha só
dele e que você pode conferir aqui.
11
– Os sonhadores
King teve a ideia de escrever esse conto após ter lido
O Passageiro, penúltimo trabalho do
autor Cormac McCarthy de quem é um grande fã.
Em Os sonhadores,
um cientista decide investigar as profundezas do sonho de pacientes. Para o
auxiliar em seu experimento, ele contrata um veterano do Vietnã chamado William
Davis – que atende ao pedido após ter lido a oferta de emprego num jornal.
Davis descobrirá que existem alguns cantos do universo que é melhor deixar
inexplorados.
12
– O homem das respostas
A exemplo de Finn,
também não gostei de O homem das
respostas que fecha a coletânea Mais
Sombrio. Achei uma história morna. Nela, um advogado, durante sua viagem,
encontra no acostamento da estrada, sentado debaixo de uma barraca, um homem
capaz de responder todas as perguntas ligadas ao futuro das pessoas. E adivinhe
se o tal advogado ao encontrar esse misterioso personagem não ficará curioso em
conhecer detalhes sobre o seu futuro.
O Homem das Respostas, aborda o dom da clarividência e
questiona se uma vida marcada pela tragédia tem significado.
Aqui, vale uma curiosidade: King demorou 45 anos para
escrever esse conto. Explico melhor aqui.
Inté galera.
21 agosto 2024
Ler alguns livros pode prejudicar a sua saúde. Ah! E não se esqueça: cuide bem de seus "bebês".
“Ler alguns livros pode fazer mal para a sua saúde;
por isso, muito cuidado!” Está frase pode assustar muitos leitores e leva-los a
pensar que o conteúdo de algumas obras pode afetar diretamente o seu bem estar
físico, levando-os a ficar doentes. Não é por aí galera. Confesso que quis
apenas dar algum ‘ar’ de impacto no início desse texto. Na realidade, podem
esquecer o conteúdo e focar as suas atenções nas capas e páginas dessas obras;
capas e páginas em seu sentido físico, literalmente.
Há alguns dias, fiquei surpreso ao ler uma reportagem
publicada em 2013 no jornal Gazeta de Povo, de Curitiba, cujo título dizia: “Fungo
obriga biblioteca a incinerar 20 mil livros”.
A matéria de 11 anos atrás dizia que uma equipe de
especialistas havia descoberto dois tipos de fungos prejudiciais à saúde no
acervo de uma biblioteca municipal em Curitiba. Fungos, inclusive, com um alto
grau de transmissibilidade capaz de provocar algumas doenças como endocardite
(infecção que atinge parte da membrana que encobre as válvulas cardíacas e que
pode atingir várias partes do coração), meningite, ventriculite e infecções na
corrente sanguínea. A reportagem dizia que aqueles que tivessem contato com esses
fungos poderiam também sofrer com infecções como viroses e lesões cutâneas.
Pelo o que eu entendi, esses fungos estavam na parede
da biblioteca e acabou atingindo todo o acervo que teve que ser retirado por
pessoas especializadas usando luvas e roupas especiais para não serem
contaminados. E como diz o próprio título da matéria, cerca de 200 mil livros
tiveram de ser incinerados.
Juro que fiquei atônito e por isso, fui pesquisar um
pouco mais sobre o assunto e, então, descobri outra informação - não digo
semelhante mas com algumas particularidades com esse fato que aconteceu há mais
de uma década na capital paranaense. Este fato diz respeito, unicamente, as
capas de algumas obras. Vou explicar melhor. Durante o século 19, à medida que os livros
começaram a ser produzidos em massa, os encadernadores fizeram a transição de
capas de couro caras para itens de tecido mais acessíveis. Para atrair
leitores, essas capas de tecido eram frequentemente tingidas em cores
brilhantes e chamativas.
De acordo com matéria publicada, recentemente, na
Revista Galileu, um desses pigmentos mais populares populares foi o verde de
Scheele, nomeado em homenagem a Carl Wilhelm Scheele, um químico germano-sueco
que em 1775 descobriu que um pigmento verde vívido poderia ser produzido a
partir de cobre e arsênico. Este corante não era apenas barato de fazer, também
era mais vibrante do que os verdes de carbonato de cobre que haviam sido usados
por mais de um século.
O verde de Scheele eventualmente caiu em desuso porque
tinha tendência a desbotar para preto quando reagia com poluentes à base de
enxofre liberados do carvão. Mas novos corantes baseados na descoberta de
Scheele, como o verde esmeralda e o verde Paris, mostraram-se muito mais
duráveis. Eles foram rapidamente adotados para uso em vários itens, incluindo
capas de livros, roupas, velas e papel de parede.
Tudo poderia transcorrer dentro da normalidade, sem
nenhum alarde, se os corantes verde esmeralda e o verde Paris não tivessem uma
desvantagem significativa: eles degradavam facilmente, liberando arsênico
venenoso e carcinogênico!
Os frequentes relatos de crianças envenenadas por
velas verdes em festas de Natal, trabalhadores de fábricas encarregados de
aplicar tinta em enfeites convulsionando e vomitando água verde, e avisos de
vestidos de baile venenosos levantaram sérias preocupações sobre a segurança
desses corantes verdes.
Mas isso é assunto para uma outra postagem, citei esse
fato que aconteceu no século 19 na França apenas para ilustrar como o estado
físico de alguns livros mais antigos merecem a nossa atenção; e por tabela, a
importância de nos conscientizarmos dos cuidados na conservação dos nossos
queridos ‘bebês’. Se não cuidarmos deles, com certeza, eles também não irão
cuidar de nós.
Galera, a leitura, no caso os livros mais antigos, tem
que nos dar prazer e não... alergia.
Saiba que muitos livros antigos encontrados em sebos
podem não apresentar boas condições de conservação, com páginas amareladas e um
característico mau cheiro. Nesses casos, o comprador deve tomar cuidado, já que
esses fatores podem ser prejudiciais à sua saúde, ocasionando reações alérgicas
e problemas respiratórios.
Mas isso pode acontecer também dentro de sua casa, na
sua estante ou prateleira de livros onde você guarda sem nenhum cuidado os seus
amados “livrinhos”. Umidade, poeira, recinto nada arejado, enfim, um ambiente
profícuo para a propagação de fungos; não semelhante, mas pelo menos, com
algumas características daquele ambiente da biblioteca de Curitiba que citei no
início dessa postagem.
Cara, sem querer ser chato e começar a dar palpites em
sua vida, mas ser leitor não é apenas sair por aí comprando, lendo e depois
jogando os seus “bebes” em qualquer canto ou deixando-os anos a fio abandonados
numa estante sem nenhum cuidado. É aquilo que eu já escrevi acima: “se você não
cuidar deles, eles também não irão cuidar de você.
Segundo entrevista da Chefe do Centro de Conservação e
Encadernação (CCE) da Biblioteca Nacional, Silvana Bojanoski ao Jornal do
Brasil, vários são os fatores que podem ocasionar
mau cheiro em livros. Os cuidados e providências que devem ser tomados para
amenizar o odor variam de acordo com sua causa.
Para livros que permaneceram muito tempo em um lugar
fechado, úmido e sem ventilação, a especialista recomenda, além de areja-los,
fazer uma limpeza com uma trincha (espécie de pincel) macia nas capas e em
todas as suas folhas.
Já nos livros que apresentam cheiro característico
decorrente da acidez do papel muito frequente no processo de envelhecimento de
suas folhas, que se tornam amareladas e quebradiças Silvana afirma que o maior
problema é a fragilidade das folhas, não existindo qualquer risco para a saúde.
Livros guardados em lugares úmidos, segundo a
especialista, também podem conter fungos, apresentando manchas de cores
variadas e um cheiro característico de umidade. Nesses casos, alguns fungos
podem ser prejudiciais à saúde.
Galera, evitar esse “balde de problemas” é mais
simples do que possa parecer, basta manter os “berços” de seus “bebês” sempre
limpos e arejados. Dessa forma, os fungos e outros microrganismos não darão os
“ares de sua graça”. A ventilação eficaz também é fundamental, pois reduz os
níveis de esporos de mofo no ar, mantendo o ambiente seco e fresco.
Conhecem aquela música do Legião Urbana, “Quando o sol
bater na janela do teu quarto”? Então, que tal trocar “do teu quarto” por “da
tua biblioteca”?
Façam isso.
17 agosto 2024
Stephen King em uma de suas melhores entrevistas; talvez, a melhor
Depois de uma nova resenha de Cujo (aqui e mais aqui) e de outras duas postagens relacionadas a Stephen King (aqui e
aqui). Cá estou eu, novamente, para escrever sobre o mestre do terror. ‘Coisas’
de fã, né? Mas garanto que este post – apesar de vir na sequência de outros
dois sobre o mesmo cara, ou seja, o nosso tio King – valerá muito a pena,
afinal trata-se da entrevista mais importante concedida pelo escritor e que
supera todas as outras que foram dadas antes e depois, incluindo aquelas que
figuraram nas páginas de famosos jornais e revistas como por exemplo, a Rolling
Stone.
Por que penso assim? Nesta entrevista dada aos jornalistas Christopher Lehmann e Nathaniel Rich para
o The Paris Review, a famoso autor faz uma restrospectiva dos seus
principais livros, revelando curiosidades e detalhes que acredito estavam
guardados a sete chaves, mas algum motivo, o autor decidiu revela-los.
Ao ler essa preciosidade, a galera descobrirá o que
levou King a escrever Celular, Carrie, A Estranha, Cujo, Dança da Morte, O Iluminado, Salem, Misery: Louca Obsessão,
O Cemitério e... pensa que para por
aí? Não. Ele revela os segredos de várias outras obras.
Eu, pelo menos, não vi nenhuma outra entrevista de
King – e olha que já li várias – onde ele tenha falado abertamente e com toda a
sinceridade sobre os seus livros, citando, inclusive, daqueles que ele não
gostou. Ele revela até mesmo qual foi o pior livro que escreveu.
King comenta ainda como é o seu ritual de escrita.
Achei essa parte muito interessante. Depois fala de algumas situações vividas
por ele, as quais serviram para inspirar
SK começou esta entrevista no verão de 2001, dois anos
depois de ter sido atingido por um furgão quando caminhava perto de sua casa em
Center Lovell, no Maine (EUA). Ele teve sorte de sobreviver ao acidente, em que
sofreu lacerações no couro cabeludo, fraturas na perna e no quadril direitos, e
teve o pulmão direito perfurado. Uma segunda sessão foi conduzida no início de
2006, em sua residência de inverno na Flórida.
Confira algumas perguntas e algumas respostas.
PERGUNTA
- Que idade o sr. tinha quando começou a escrever?
STEPHEN
KING
- Acredite se quiser, eu tinha 6 ou 7 anos. Copiava imagens de HQs, compondo
minhas próprias histórias. Me lembro de faltar à escola porque estava com
amidalite e ficar em casa, na cama, escrevendo. O cinema também foi uma grande
influência. Me recordo de minha mãe me levar ao Radio City Music Hall para ver
"Bambi". O tamanho daquele lugar, o incêndio na floresta no filme
-aquilo me deixou uma impressão profunda. Quando comecei, tendia a escrever em
imagens, porque isso era tudo o que eu conhecia na época.
PERGUNTA
- Quando o sr. começou a ler ficção adulta?
KING
- Eu devia ter 12 anos e estudava numa escola de uma sala só, na rua de casa.
Não havia biblioteca na cidade, mas toda semana o Estado mandava uma grande
perua verde, conhecida como "livromóvel". Até então, tudo o que eu
tinha lido eram as histórias sobre Nancy Drew, os livros sobre os Hardy Boys
[ambas coleções juvenis de mistério] e coisas do gênero. Os primeiros livros
foram os de Ed McBain sobre o 87º Distrito Policial. No primeiro, os policiais
vão interrogar uma mulher num cortiço, e ela está parada ali, de combinação. Os
tiras a mandam vestir alguma roupa, e ela segura o seio através da combinação,
aperta na direção deles e fala: "Na sua cara, "tira'!". Eu
pensei: "Uau!". Alguma coisa fez um clique na minha cabeça. Pensei:
"Isso é real, poderia acontecer de verdade". Foi o fim de toda a
ficção juvenil para mim.
PERGUNTA
- Em "On Writing" [Sobre a Escrita], o sr. menciona que a idéia de
seu primeiro romance, "Carrie", surgiu quando fez a conexão entre
dois temas não interligados: crueldade adolescente e telecinesia. Como conexões
improváveis servem de ponto de partida?
KING
- Isso já aconteceu muitas vezes. Quando escrevi "Cujo" -sobre um cão
raivoso-, estava com problemas em minha moto e ouvi falar de um lugar aonde
poderia levá-la. O mecânico tinha uma casa de fazenda e uma oficina do outro
lado da estrada. Levei minha moto lá, e, quando cheguei ao quintal em frente à
oficina, ela morreu. E o maior São Bernardo que já vi na vida saiu da oficina e
veio em minha direção.
Esse tipo de cachorro tem a aparência horrível. Tem
aquela papada e os olhos remelentos. A impressão que dão é de não estarem bem
de saúde. O cão começou a rosnar para mim, lá do fundo da garganta:
"Aaarrrgh". Eu pesava uns 54 quilos, então devia ter no máximo uns
quatro ou cinco quilos mais que o cachorro. O mecânico saiu da garagem e me
disse "oh, esse é o Bowser", ou outro nome qualquer. Não era Cujo.
Ele disse: "Não se preocupe com ele. Ele faz isso
com todo mundo". Então adiantei minha mão para fazer um carinho no
cachorro, e o cachorro tentou me morder. O sujeito estava com uma daquelas
chaves de soquete na mão e bateu forte sobre o traseiro do cão. Era uma
ferramenta de aço. O som foi de um batedor de tapetes batendo num tapete. O
cachorro apenas latiu uma vez e se sentou. E o mecânico me disse algo como:
"Bowser não costuma fazer isso. Ele não deve ter gostado de sua
cara".
Me recordo de como senti medo, não havia onde me
esconder. Estava de moto, mas a moto tinha morrido, e eu não conseguiria correr
mais rápido que o cachorro. Se o homem não estivesse lá com a ferramenta, se o
cão decidisse me atacar... Mas aquilo não era uma história, era um pedaço...
Duas semanas depois, estava pensando no Ford Pinto que minha mulher e eu
tínhamos.
Havia alguma coisa errada nele: o carburador afogava,
e não dava para dar a partida. Eu me preocupava com a idéia de que minha mulher
pudesse ficar presa em algum lugar com aquele carro e pensei: "E se ela o
levasse à oficina e não conseguisse dar partida -e se, em lugar de o cachorro
ser apenas um cão de gênio ruim, ele fosse realmente louco?". Esse é um
dos lugares em que a vida real interferiu na história. É sempre esse o caminho.
Você vê alguma coisa, essa coisa faz um clique com outra, e isso rende uma
história. Mas você nunca sabe o que vai acontecer.
PERGUNTA
- "Cujo" é incomum pelo fato de o livro inteiro ser escrito num único
capítulo. O sr. o planejou assim desde o começo?
KING
- Não, "Cujo" era um romance-padrão, em capítulos. Mas queria que
fosse sentido como um tijolo que é atirado em você, atravessando sua janela.
Sempre pensei que o tipo de livro que faço -e tenho ego suficiente para pensar
que todo romancista deveria fazer o mesmo- deve ser uma espécie de agressão
pessoal. Ele deve ser alguém avançando contra você do outro lado da mesa,
agarrando-o, sacudindo-o. Ele deve incomodar. Deve perturbar. E não apenas
porque você se enoja. Mas se eu recebo uma carta dizendo "não consegui
jantar (depois de ler seu livro)", minha reação é: "Ótimo!".
PERGUNTA
- "O Iluminado" também partiu da experiência pessoal? O sr. se
hospedou naquele hotel?
KING
- Sim, o Stanley Hotel, em Estes Park, Colorado. Minha mulher e eu fomos lá em
outubro. Era o último fim de semana da temporada, então o hotel estava quase
totalmente vazio. Eu passei por aquela placa que dizia "as estradas podem
ser fechadas a partir de 1º de novembro" e pensei: "Uau, há uma
história a ser contada aqui".
Esta é apenas uma pequena amostra da entrevista que
SK concedeu aos jornalistas Christopher Lehmann e Nathaniel Rich do The Paris Review; uma das melhores,
senão a melhor, já concedida por ele. Infelizmente não há como reproduzi-la na
integra, aqui no blog, porque ocuparia muitas e muitas páginas, mas se você
quiser lê-la em sua totalidade saiba que ela se encontra no final do romance Cujo
publicado pela editora Suma na coleção Biblioteca Stephen King. Apesar do livro
ter sido lançado em 2016, ainda pode ser encontrado facilmente em qualquer
livraria virtual.
Se você estiver interessado, aproveite o embalo e já leia Cujo. Garanto que valerá muito a pena.
11 agosto 2024
Cinco livros sobre grandes tragédias aéreas que marcaram a história
Estava num evento na noite de ontem, com Lulu, quando
recebemos a notícia da queda de um avião com 62 pessoas, no interior do estado
de São Paulo, que não deixou sobreviventes. Tanto eu quanto ela somos assim,
‘meio’ esponjas, o que já adianto não é bom pra alguns profissionais como:
jornalistas – é o meu caso; médicos, bombeiros e fiscais de rodovias, entre os
que eu me lembre. São profissões que convivem diariamente com a morte – de outras
pessoas, o que considero ainda pior – e por isso, com o sofrimento, a dor e o
desespero daqueles que muitas vezes estão sob a sua responsabilidade.
Vejam o caso de um médico que cuida de determinado
paciente, há muito tempo, e acaba criando laços afetivos, então, chega o
momento em que não consegue salvá-lo da morte. Ou o bombeiro que vê uma pessoa
clamando por socorro num incêndio, mas se vê impossibilitado de ajuda-la. Ou
ainda, um jornalista que todos os dias é obrigado a fazer coberturas de fatos trágicos
envolvendo perdas humanas. E para fechar o rol de exemplos, posso citar o
fiscal ou socorrista de rodovias que é primeiro a chegar no local de um
acidente e presenciar a agonia de uma vida se extinguindo no meio das ferragens
de um veículo.
Imagine, se esses profissionais só fossem absorvendo
esses sentimentos; com certeza a sua saúde mental e consequentemente a sua
saúde física seria curta.
Lembro de um professor meu que costumava dizer que nessas
situações devemos aprender a ser peneira e não esponja. Ser peneira, como ele
argumentava naquela época, não queria dizer sermos indiferentes nesses momentos,
devemos sim, sermos solidários e viver aquela emoção durante alguns dias ou
semanas, sei lá; o que não podemos é somatizar essas emoções e carregarmos essa
carga durante um longo tempo.
Pois é, tanto eu quanto Lulu, estamos tentando ser
peneiras, mas confesso que ainda estamos dando os primeiros passos nessa
empreitada.
Por esse motivo, ao me inteirar sobre esse acidente
com a aeronave da “Voepass”, antiga Passaredo”, dei uma balançada e o meu lado
esponja veio a tona quando soube que um pai e sua filha de apenas 3 anos, além
de dois casais que deixaram órfãos filhos menores, estavam entre as vítimas.
Assim que o meu lado esponja se amenizou, surgiu o meu
lado profissional, investigativo. A primeira pergunta lógica: o que causou esse
grave acidente? Depois, comecei a comparar essa tragédia aérea com outros
acidentes do gênero que ocorreram no Brasil e também em outros países; e assim,
acabei tendo a ideia dessa postagem que vocês estão lendo agora.
E como já havia publicado dois posts sobre acidentes
marítimos (ver aqui e mais aqui), achei que a postagem de hoje completaria esse
ciclo. Selecionei cinco livros que exploram em detalhes os piores acidentes
aéreos que ocorreram no mundo e quais os motivos que levaram essas aeronaves,
consideradas tão seguras conduzidas por uma tripulação experiente, a
“despencarem” lá do alto. Vamos a eles.
01
- Voo Air France AF 447 - Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro
(Silvio Monteiro Junior)
Faz 15 anos que no Brasil viveu o seu pior acidente
aéreo. No início da madrugada de 2009, o voo Air France 447, inesperadamente,
chocou-se contra o Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo, sendo 58
brasileiros. Todos morreram. Este também pode ser considerado um dos maiores
acidentes da aviação comercial. O Airbus A330 que cobria a rota Rio de
Janeiro-Paris havia decolado do Aeroporto Internacional do Galeão.
A queda do avião francês no Oceano Atlântico inaugurou
um capítulo na história da aviação. Depois do acidente, o setor aéreo adotou
novas normas de treinamento da tripulação e procedimentos de segurança. O
evento também foi o 1º da história em que uma companhia aérea e a Airbus
–fabricante do avião– tiveram que responder na Justiça sob a acusação de por
homicídio involuntário corporativo.
No livro Voo Air
France AF 447 - Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro, Silvio
Monteiro Jr – especialista em Busca e Salvamento e na época, chefe da divisão
da Força Aérea Brasileira (FAB) – relata como foi viver de perto a tragédia do
voo Air France 447, que havia desaparecido dos radares e, a partir daí,
começaria uma operação que mudou a história da aviação no Brasil e em todo o
mundo.
É esse processo que ele relata em sua obra que foi
escrita com base em documentos, fotos, vídeos e na própria experiência do autor
à frente da operação, cuja investigação, até a conclusão final, demorou mais de
dois anos.
02
– Ninguém ficou para trás (Maria Tereza Kersul)
Há aproximadamente 18 anos, o voo 1907 que partia de
Manaus com destino ao Rio de Janeiro seria atingido por outro avião modelo
Legacy, da Embraer, que por sua vez conseguiria, milagrosamente, pousar minutos
depois em uma base da Força Aérea Brasileira (FAB) na Serra do Cachimbo. Já o
Boeing 737 da Gol como 148 passageiros e seis tripulantes não teve a mesma
sorte e... caiu; na selva amazônicas. Todos que estavam a bordo – 154 pessoas -
morreram. O acidente aconteceu no dia 29 de setembro de 2006. Os pilotos
americanos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foram condenados pela
Justiça Brasileira a três anos de prisão.
Ninguém
ficou para trás da jornalista Maria Tereza Kersul,
explora em detalhes todo o processo de recuperação dos restos mortais dos
passageiros e tripulantes, bem como o de peças importantes para a investigação,
como a caixa-preta e o gravador de voz da cabine.
Na época, tão logo o desaparecimento do Boeing foi
divulgado, um centro de operações foi montado em uma fazenda próxima ao local
do acidente, distante 741 quilômetros de Cuiabá. De lá, saíram os helicópteros
para a busca dos destroços.
O livro de Maria Tereza esmiúça todo esse trabalho e a
batalha árdua e emocionante das equipes envolvidas.
03
- O Rastro da Bruxa. História da Aviação Comercial Brasileira no Século Através
de Seus Acidentes. 1928-1996 (Carlos Ari César Germano da Silva)
Este livro aborda em ordem cronológica, 74 acidentes
aéreos ocorridos entre os anos de 1927 e 1996, período em que a aviação
comercial brasileira nasceu, se desenvolveu e consolidou. Esse número, no
entanto, não traduz a totalidade de acidentes com aviões de carreira
brasileiros ocorridos nesses últimos 97 anos, já que foram selecionados apenas,
os principais dentre os que envolveram voos regulares de passageiros.
Em O Rastro da
Bruxa, o comandante Carlos Ari César Germano da Silva conta em detalhes
desde o primeiro acidente da aviação comercial e a sua primeira vítima fatal
que, aliás, foi um militar norte-americano, num acidente com um Flyer dos
Irmãos Wright.
O livro descreve102 acidentes aéreos. Mais do que
fazer uma perícia dessas tragédias, porém, o autor descortina através delas a
realidade da aviação brasileira por 80 anos, acabando enfim por tecer um
curioso panorama de nosso próprio país ao longo do século 20 e 21. A qualidade
de impressão das fotos, é bastante boa.
04
– Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros (Ivan Sant’Anna)
Em Caixa-preta, Ivan Sant'Anna reconstitui a trágica
história desses três vôos. ONZE DE JULHO DE 1973. O Boeing 707 decola do
aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para um vôo de 14 horas rumo a Orly, na
França. Entre os passageiros, a socialite Regina Lecléry, o senador Filinto
Müller e o cantor Agostinho dos Santos. Esse voo, no entanto, jamais pousaria
em Orly: a menos de um minuto do pouso, mergulha numa plantação de repolhos,
tomado pelas chamas.
VINTE E NOVE DE SETEMBRO DE 1988. Mais uma ponte aérea
Brasília-Belo Horizonte-Rio na vida do experiente piloto Murilo de Lima e
Silva, que naquele dia comandava o VP-375. Para quem pilotara caças militares,
o trecho tranqüilo permitia até mesmo que ele e o co-piloto recebessem um amigo
no cockpit para um papo. O céu era de brigadeiro até que um dos passageiros,
armado, ordena que o avião seja espatifado no Palácio do Planalto. O desejo do
seqüestrador era claro: atingir o Presidente da República, José Sarney. Todos a
bordo morreriam juntos.
TRÊS DE SETEMBRO DE 1989. Maracanã lotado para
assistir ao Brasil X Chile, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 90. Longe
dali, em algum ponto a princípio entre Marabá e Belém, Cezar Augusto Garcez
comanda um vôo cego. Perdido em pleno ar, tenta se posicionar. No dia seguinte,
a imprensa publicaria: "Avião desaparece na Amazônia".
Partindo de um amplo trabalho de pesquisa e uma série
de entrevistas, faxes, e-mails, telefonemas, cartas, documentos e laudos, o
autor reuniu informações inéditas sobre os episódios e traçou os instantes que
antecederam os vôos, acompanhando os principais personagens, retratando os
momentos de pânico em que cada um viu a própria vida em risco.
05
– Detetives da aviação (Christine Negroni)
Não li o livro, mas a autora tem credenciais
suficientes para que eu possa afirmar que a obra tem tudo o que os aficionados
pelo tema procuram. Christine Negroni é uma jornalista investigativa, muito
competente, especialista em acidentes aéreos. Ela escreve, entre outros meios,
para o New York Times, a ABC News e a Air & Space, e para seu blog, o
Flying Lessons.
Em Detetives da
Aviação, a autora leva os leitores para dentro das investigações de
acidentes desde os primeiros dias da aviação até o presente. Ela explora o que
se sabe sobre o voo 370 desaparecido da Malaysia Airlines e propõe um cenário
provável para o que aconteceu a bordo do Boeing 777.
Negroni mostra como a segurança evoluiu ao longo dos
anos por causa do trabalho dos detetives de acidentes e como praticamente todos
os aspectos da aviação hoje foram moldados pelas lições aprendidas com
desastres.
investiga esses acidentes e tenta descobrir o que
realmente aconteceu por meio de um extenso trabalho de pesquisa.
Cada capítulo do livro é dedicado a um acidente aéreo
diferente, fornecendo uma visão detalhada dos eventos que levaram ao acidente e
das investigações subsequentes. A autora combina sua própria pesquisa com
entrevistas com especialistas e testemunhas para criar um retrato convincente
de cada acidente.
Por hoje é só galera. Inté!
07 agosto 2024
“Zorro – Começa a Lenda”, um livro fantástico de Isabel Allende para dissecar as origens do personagem
Antes de começar a postagem, propriamente dita,
deixe-me avisar que o objetivo principal desse texto é convidar todos os
leitores que são fãs do personagem Zorro a visitarem esse post aqui.
Principalmente aqueles leitores que tem curiosidade em saber como foi a
infância, a adolescência e o inicio da fase adulta da “Raposa” – um dos
apelidos do justiceiro mascarado.
Escrevi a postagem sobre o livro lançado em 2006, ainda
nos primórdios do blog, há mais de 12 anos. Nela, faço uma resenha de Zorro – Começa a Lenda de Isabel Allende
e como o próprio título já diz, o livro revela detalhes empolgantes da vida da
criança e do jovem Don Diego de La Veja e o que o levou a se transformar num
dos heróis mais cultuados de todos os tempos; como adquiriu as suas
habilidades, principalmente a arte da esgrima; seus amores na juventude;
curiosidades sobre os seus pais e por aí afora.
Ontem, ao ver o livro da Allende na estante me lembrei
do dia, há muitos anos, quando mergulhei de cabeça na leitura de suas páginas;
e que leitura prazerosa! Só mesmo quem é fã do personagem para entender a
importância desse prazer. Cresci assistindo ao seriado de TV com Guy Williams
(aquele mesmo ator de um outro seriado famoso dos anos 60: “Perdidos no
Espaço”) no papel de ‘El Zorro’; vi e amei o clássico de 1940 com Tyrone Power;
assisti mais de uma vez a produção de 1975 com um dos maiores astros daquela
época, Alain Delon; e claro vibrei com o Zorro de Antônio Banderas. E como um
fã das “Raposa” que se preze, devorei o clássico A Marca do Zorro de Johnston
McCulley. Pois é, todo esse interesse pelo personagem fez com que eu
comemorasse muito e com direito a uma bateria de fogos (rs) quando soube que
Isabel Allende iria lançar um livro contando as origens do Zorro.
Galera, leiam porque a obra é fantástica. Allende
acertou em cheio na narrativa de seu livro explorando uma fase da vida do herói
mascarado que não havia sido explorada nem mesmo pelo seu autor original. Ao
invés de contar novas aventuras do Zorro, algo que a literatura, o cinema, a
televisão, os quadrinhos, o teatro e as rádios já fizeram à exaustão, Allende
optou por narrar as primeiras aventuras do filho único de Don Alejandro de la
Vega. Assim, a escritora chilena seguiu sua tradição de construir romances de
formação e de mergulhar em tramas históricas como fez no baita clássico A Casa dos Espíritos (ver resenha aqui).
Por mais que tenha mantido a maioria dos elementos
principais da lenda do Zorro, Allende não se furtou de fazer mexidas sensíveis
ao enredo sempre que achou necessário promovê-las. Esta atitude da autora
estragou o enredo? Nada disso, pelo contrário; deixou a história muito mais
dinâmica e divertida.
Se você que acompanha esse post esta afim de ler um
livro de aventuras sobre o Zorro onde prevalecem duelos e mais duelos de
espadas, lutas e desafios fuja da obra de Allende, mas se o que o leitor
procura, de fato, é se aprofundar no passado de Don Diego de la Vega e também
do seu Zorro, não pense duas vezes, compre logo o livro.
Amei!!
03 agosto 2024
“O Homem das Respostas”: um conto que Stephen King demorou 45 anos para escrever. A história faz parte da coletânea “Mais Sombrio”
Não tenho o hábito de resenhar contos, separadamente,
de uma coletânea; faço isso apenas em situações especiais, ou seja, muito
raramente. Prefiro ler a coletânea inteira para somente depois resenha-la. Acho
que nesses 12 anos de blog, apenas três contos ganharam seus posts próprios -
todos eles de Stephen King.
O primeiro que valeu um post só dele foi O Sobrevivente; o segundo, O vírus da estrada vai para o norte e
agora, mais recentemente, Cascavéis.
Foram histórias fantásticas, definitivamente, amei. Por isso, conclui que cada
uma merecia um post. E agora, King bate na porta novamente com um novo conto
que na minha opinião tem elementos suficientes para ganhar uma postagem
exclusiva. Trata-se de O homem das
respostas que faz parte da coletânea Mais
Sombrio lançada pelo mestre do terror, recentemente, reunindo 12 contos,
cinco deles inéditos.
Na minha opinião não é a melhor história do livro;
para ser sincero, achei o enredo apenas mediano, mas um fato que ‘rolou’ nos
bastidores de O homem das respostas
merece ser contado. Foi um fato sui generis e que vale um post exclusivo. Quer
saber qual? Ok; eu conto. O autor demorou 45 anos para escrever essa história.
Isso mesmo! King começou escrever o conto quando tinha
30 anos e terminou aos 75 anos. Caramba! Mas o que, de fato, aconteceu?!! Ele explicou
tudo numa entrevista sobre o lançamento de Mais
Sombrio para a apresentadora do All Things Considered, Mary Louise Kelly.
Segundo King, ele só decidiu terminar de escrever esse conto, após 45 anos, por
causa do seu sobrinho John Leonard.
King disse na entrevista que perdeu o controle. Ele
explicou que tem o hábito de escrever histórias, mas nem sempre elas são
concluídas. O destino dessas histórias são as gavetas, ficando esquecidas por
não agradarem autor.
E há cerca de cinco anos, Leonard encontrou O homem das respostas que foi escrita
num hotel durante os anos 70. Leonard,
então disse: “Sabe, isso é muito bom. Você realmente deveria terminar isso.” Assim,
King decidiu reler o que havia escrito e gostou. “Sabe, acho que sei como
terminar agora.” – respondeu. E assim, o conto foi concluído.
O mestre do terror expôs para a entrevistadora que
passou a gostar do conceito do conto e assim decidiu conclui-lo. “Este jovem
está dirigindo e está tentando descobrir se deve ou não ingressar no escritório
de advocacia de sapatos brancos de seus pais em Boston, ou se deve trabalhar
por conta própria. E ele encontra na estrada um homem que se autodenomina o
Homem das Respostas. E ele diz: ‘Responderei três de suas perguntas por US$ 25
e você terá 5 minutos para fazer essas perguntas.’ Então pensei comigo mesmo:
vou escrever essa história em três atos. Um enquanto o questionador é jovem,
outro quando ele está na meia-idade e outro quando ele é velho. A pergunta que
me faço é: Você quer saber o que acontece no futuro ou não?”
Pronto, nascia assim, ou melhor: renascia, assim, após
45 anos, O homem das respostas.