16 agosto 2025
Seis antologias de ficção científica para combater a sua Depressão Pós Leitura
Se alguém me perguntasse se existe um antídoto para
ressaca literária, eu responderia: leia uma antologia de contos. Acredito que
por serem mais curtos, eles tornam a leitura fluida, porque cá entre nós: “após
levarmos uma bordoada nos neurônios por causa de um enredo que amamos ou
odiamos, a nossa cabeça não tem forças para encarar, logo depois, um enredo de
300 páginas ou mais. Temos que dar um refresco. É aí que entram os contos.
Além do mais, podemos ter sorte de encontrarmos
histórias tão boas quanto aquela que acabamos de ler ou então melhores do que a
bomba que nos levou a uma DPL (Depressão Pós Leitura).
Nesta postagem selecionei seis antologias de contos de
ficção científica muito elogiadas tanto por leitores quanto por críticos. Se
você aprecia o gênero, certamente, eles irão lhe proporcionar viagens
incríveis. E se você, também, estiver enfrentando uma DPL, garanto que essas
antologias farão com vocês melhore muito, ficando apto para encarar novos
romances.
E vamos para as nossas oito antologias de histórias
curtas de Sci-fi. Livraços hein galera; garanto.
01
– Sonhos Elétricos (Philip K. Dick)
Sonhos
Elétricos reúne 10 contos de Philip K. Dick que inspiraram a
série “Electric Dreams”, da Amazon Prime e que conquistou o público e a crítica.
Philip K. Dick é um dos nomes mais importantes da
ficção científica e um dos autores com mais textos adaptados para o cinema.
Suas obras inspiraram filmes como “Blade Runner”, “Minority Report”, “O
Vingador do Futuro”, “Agentes do Destino”, “O Pagamento”, entre outros.
Dick publicou seus primeiros contos no início dos anos
1950, e neles já se notava a natureza inquietante de toda a sua obra. Ao
questionar incessantemente o que está por trás das aparências e o que nos
define como seres humanos, o autor sobrepôs realidades, subverteu o tempo,
vislumbrou autômatos e mundos extraterrestres enquanto mergulhava a fundo na
mente humana.
Dessa perturbadora mistura nasceram textos incríveis e
cheios complexidade, que há décadas vêm inspirando o universo do cinema e da
tevê. Os textos publicados em Sonhos
Elétricos abordam realidades paralelas e distópicas, a relação entre homens
e máquinas, além de outras temáticas ao gosto desse mestre da ficção
científica. Um reflexo da maneira muito pessoal e desconfiada que Dick tinha de
ver o mundo.
02
– Mundos Apocalípticos (Vários autores)
A antologia selecionada por John Joseph Adams e que
reúne grandes “feras” da ficção científica reúne 22 histórias
pós-apocalípticas. São narrativas sobre o fim dos tempos, explorando o
científico, o psicológico e o filosófico do que é permanecer humano diante do
Armagedom.
A obra reúne autores consagrados do gênero tais como: Octavia
E. Butler (Kindred), Stephen King (O iluminado, It: a coisa), George R.R. Martin (As crônicas de gelo e fogo) e outros.
Fome, Morte, Guerra e Peste: os Quatro Cavaleiros do
Apocalipse, o presságio do Fim dos Dias. Esses são os pilares das histórias
contidas nesta coletânea. Desde “Blade Runner” a “Mad Max”, passando por Um Cântico para Leibowitz e “Black
Mirror”, escritores e roteiristas de todos os cantos se dedicaram a especular a
respeito do fim do mundo. Ao longo de muitos anos, imaginaram cenários
catastróficos, onde imperam o caos, o desespero e a calamidade. “Mundos
Apocalípticos” explora com perfeição esse gênero.
Sem dúvidas, Joseph Adams selecionou uma grande
seleção de histórias que remontam a 1973, mas também outras que foram
publicadas nos últimos cinco anos. Ele também oferece um índice super útil de
histórias e livros pós-apocalípticos para leitura adicional, caso os leitores comecem
a querer mais. Os destaques ficam para O
povo da areia e da escória de
Paolo Bacigalupi, Quando os Sysadmins dominaram
a terra de Cory Doctorow, Depois do
juizo final de Jerry Oltion, Inercia
de Nancy Kress, Sons da fala de
Octavia E. Butler e O Fim do Mundo como nós
o Conhecemos de Dale Bailey.
03
– Eu, Robô (Isaac Asimov)
Pensem num clássico da literatura de ficção
científica; mas pensem num dos maiores clássicos daqueles com capacidade para
abalar todas as estruturas do gênero. Ok, se você pensou no livro Eu, Robô de Isaac Asimov, pensou certo.
A obra foi publicada originalmente em 1950. O livro
serviu como base para o roteiro do filme homônimo de 2004, no qual Will Smith
interpretou o protagonista, um detetive chamado Del Spooner. Porém, a obra é
bastante diferente da história apresentada nas telonas.
Eu,
Robô
é um conjunto de nove contos que relatam a evolução dos autômatos através do
tempo. É neste livro que são apresentadas as célebres Três Leis da Robótica: os
princípios que regem o comportamento dos robôs e que mudaram definitivamente a
percepção que se tem sobre eles na própria ciência. A história inicia-se com
uma entrevista com a Dra. Susan Calvin, uma psicóloga roboticista da U.S Robots
& Mechanical. Ela é o fio condutor da obra, responsável por contar os
relatos de seu trabalho e também da evolução dos autômatos. Algumas histórias
são mais leves e emocionantes como Robbie,
o robô baba, outras, como Razão,
levam o leitor a refletir sobre religião e até sobre sua condição humana.
Eu,
Robô
é composto de 10 contos e traz um posfácio escrito pelo próprio autor sobre sua
história de amor com os robôs, tão comuns em sua obra.
04
- Os Melhores Contos de Ficção Científica Brasileira (Vários autores)
E quem disse que brasileiro não sabe escrever ficção
científica? Saibam que temos escritores incríveis de Sci-fi, não só
contemporâneos, mas também de décadas passadas. Aliás, a ficção científica faz
parte do cardápio dos escritores tupiniquins desde a época de Machado de Assis.
Verdade! O próprio Joaquim Maria Machado de Assis escreveu alguns contos
excelentes do gênero. Podemos conferir isso no livro Os Melhores Contos de Ficção Científica Brasileira lançado pela
editora Devir em 2008. Lembrando que a exemplo de Mundos Apocalípticos, essa coletânea de historietas com autores,
aqui da terrinha, foi lançada em dois volumes.
O volume 1 que muitos leitores acreditam ser o melhor
estão onze histórias, de Machado de Assis, o maior nome da literatura nacional,
até o desconhecido Ricardo Teixeira. São contos variados em tom e atmosfera,
que dão conta da diversidade temática e de estilos da ficção científica, e do
seu potencial para combinar-se com outras formas literárias. Apesar da
diversidade que marca a antologia, o medo da guerra atômica e do pós-holocausto
formam um certo núcleo temático, definindo um dos aspectos centrais da ficção
científica brasileira da década de 1960, no auge da Guerra Fria.
A ficção científica espacial também está presente,
assim como histórias de contatos com alienígenas, mostrando que nossos autores
não se furtaram a escrever uma Sci-fi mais característica. A postura pacifista,
a crítica ao consumismo, o comentário sobre o próprio ato da escrita e a sátira
dos clichês, a fusão com outras tradições brasileiras, estão presentes nos onze
contos da antologia.
05
– As Crônicas Marcianas (Ray Bradbury)
Taí outro clássico dos clássicos da ficção científica
mundial. A obra de Ray Bradbury foi publicada originalmente em 1950. A partir
daí vem ganhando sucessivas reedições deixando evidente o seu enorme sucesso
através dos tempos.
O tem central de As
Crônicas Marcianas é a colonização de Marte por humanos com problemas e
eventualmente vindos de uma Terra sob a iminência de ser devastada pela Guerra
Atômica. Há também conflitos entre aborígenes marcianos com os novos
colonizadores.
O estilo do livro varia de contos a novela episódica,
com histórias de Bradbury originariamente publicadas nos anos de 1940 em
revistas de ficção científica. A obra é similar em sua estrutura a outro livro
de contos de Bradbury, chamado O Homem Ilustrado que também usa uma história para ligar várias outras
entrelaçadas.
Os leitores vão encontrar de tudo um pouco. Por
exemplo, há algumas crônicas se passam em Marte e outras na Terra, em algumas o
sonho de partir, em outras o desejo de voltar e a espera e a capacidade do ser
humano de se superar e surpreender tanto pelo lado bom como pelo mal. Temos
alguns personagens que aparecem em mais de um conto, mas o protagonista da
história é o próprio planeta Marte.
06
– Realidades Adaptadas (Philip K. Dick)
Abrimos e também fechamos a nossa lista de Sci-fi com
o gênio Philip K. Dick. Realidades Adaptadas é uma edição inédita que apresenta ao grande público os contos
originais de Philip K. Dick que serviram de base a filmes como “O Vingador do
Futuro”, “Minority Report” e “O Pagamento”. Com certeza, poucos leram os contos
e novelas que deram origem a esses filmes, campeões de bilheteria.
Realidades
Adaptadas contém sete contos que, como escrevi acima, foram
adaptados para as telonas, abordando questões interessantes e instigantes, como
a ideia do tempo e da realidade, o livre-arbítrio, o bem e o mal.
Dick nunca chegou a ver nenhum dos filmes baseados em
sua obra. Ele faleceu três meses antes da estreia de “Blade Runner – O Caçador
de Androides”, que foi o primeiro de vários filmes inspirados em suas
histórias.
Entre os destaques da obra estão Lembramos para você a preço de atacado escrito em 1966 e que deu origem
ao filme “O Vingador do Futuro” (1990), O Relatório Minoritário de 1956 que
originou a produção cinematográfica com Tom Cruise chamada “Minority Report – A
Nova Lei” (2002) e O Homem Dourado
(1954) que foi parar nos cinemas em 2007 com o título: “O Vidente” tendo
Nicolas Cage e Jéssica Biel nos papéis principais.
Taí galera, escolham a sua antologia para combater
aquela horrível DLP.
14 setembro 2024
Uma saga e mais dois livros de ficção científica com o poder de fazer com que os leitores atravessem madrugadas lendo
Considero ficção científica um gênero literário sui
generis porque grande parte dos autores, sejam eles novos ou já consagrados,
optam por uma linguagem mais descritiva ou introspectiva deixando a aventura ou
o suspense para um segundo plano. Taí 2001,
Uma Odisseia no Espaço e Fahrenheit
451 de Arthur C. Clarke e Ray Bradbury, respectivamente, que não me deixam
mentir. Essas duas obras são verdadeiros clássicos do gênero, mas o estilo
narrativo lento adotado pelos seus autores vai agradar somente aqueles que são
verdadeiros amantes da ficção científica. Já os leitores que estão iniciando
agora no gênero ou então aqueles mais ecléticos – que apreciam vários gêneros
literários – poderão achar a narrativa um pouco cansativa e menos fluida.
De fato, são narrativas mais lentas e que exploram
temas como o impacto da tecnologia nas relações humanas, o controle da
informação e como seria o nosso mundo após um contato de terceiro grau, ou
seja, com seres alienígenas. São assuntos interessantes, mas na maioria das
vezes um pouco cansativos. Claro que há exceções. Há livros de ficção
científica que são verdadeiras montanhas russas onde a ação se funde com o
suspense e até mesmo o thriller psicológico.
Apesar dessas particularidades, eu amo o gênero e os
livros que eu li proporcionaram viagens inesquecíveis.
Hoje, enquanto observava a minha estante já planejando
a mudança de posição de alguns livros, parei no gênero dedicado à ficção
científica e fiquei observando uma saga formada por três livros, além de outras
duas obras de um mesmo autor. A trilogia que me refiro foi escrita por John
Scalzi, enquanto os dois outros livros são de Michael Crichton. Posso afirmar,
sem medo de errar, que a trilogia A
Guerra do Velho de Scalzi, além de Presa
e Micro foram os melhores livros de
ficção científica que já li. Me perdoem aqueles que amaram verdadeiros
clássicos do gênero que entraram para o cânone da ficção científica, obras bem
mais famosas do que as minhas preferidas escritas por Scalzi e Crichton, mas no
meu caso, esses cinco livros foram os melhores.
Considere a postagem de hoje como um lobby, mas um
lobby merecido porque A Guerra do Velho,
Presa e Micro são muito bons e merecem serem lidos e relidos.
Saga
“A Guerra do Velho”
No primeiro volume que leva o nome da saga acompanhamos
a vida de John Perry, um homem viúvo que, aos 75 anos, decide se alistar para
um programa de defesa espacial da Terra. As Forças Coloniais de Defesa (FCD)
são responsáveis por manter a segurança do planeta livre de ataques
alienígenas, além de procurar outros planetas habitáveis.
O interessante é que esse programa militar só permite
o recrutamento de idosos. John Perry, com sete décadas e meia “nas costas”,
acaba aceitando esse desafio, após a morte de sua esposa, mesmo tendo apenas
uma vaga ideia do que pode esperar.
Scalzi trata de
temas comuns, mas ao mesmo tempo polêmicos que fazem parte do nosso dia a dia,
como militarismo, ética, envelhecimento e amor.
Guerra
do Velho foi lançado originalmente em 2005 e faz parte de uma
saga de seis livros, dos quais li apenas a primeira trilogia (A Guerra do Velho, As Brigadas Fantasma e A Última Colônia). Ainda não tive a oportunidade de ler a segunda trilogia (O Conto de Zoe, A Humanidade Dividida e O Fim
de Todas as Coisas). As duas trilogias foram publicadas pela editora Aleph
no Brasil entre 2016 e 2023.
O segundo livro da saga – As Brigadas Fantasmas - não é uma sequência direta de A Guerra do Velho. Para que o leitor
tenha uma ideia, o nome de John Perry, personagem principal do primeiro livro, é citado apenas duas ou três vezes no enredo,
com ênfase maior no final da história; no mais, Scalzi preferiu ignorar o personagem
marcante de A Guerra do Velho, apesar
isso, trata-se de livraço, uma baita sequência.
Se você se interessou pelas tropas de elite das Forças
Coloniais de Defesa – as famosas Brigadas Fantasma - que arrasaram em A Guerra do Velho, pode se preparar
porque esse segundo volume da saga é dedicado com honras e glórias a essa
“tropa de elite”.
Sai John Perry e seus companheiros de pelotão das
Forças Coloniais de Defesa e entram Jared Dirac e a galera explosiva das Brigadas
Fantasma.
Planejados para serem mais fortes, espertos e
inteligentes, os soldados que integram as Brigadas Fantasma são convocados para
tentar evitar um extermínio em massa da humanidade por seres alienígenas
sanguinários.
Já A Última
Colônia é uma sequência direta dos outros dois livros da série, por isso se
a galera resolver ler a obra sem dominar o universo da ‘União Colonial (UC)’ e
das ‘Forças Coloniais de Defesa’ (FCD) criado pelo autor, sinto muito, mas
vocês ficarão desorientados. Os três livros são interligados e precisam ser
‘devorados’ na sequência para que se tenha uma leitura da saga mais prazerosa.
Se você seguir esse conselho, certamente gostará muito
de A Última Colônia que fecha com
chave de ouro e de uma maneira emocionante a “Saga do Velho” como ficou
conhecida por alguns leitores.
Presa e Micro (Michael Crichton)
Vamos agora aos livros: outras duas joias lapidadas em minha estante. Aqueles que acompanham o blog há bastante tempo sabem o quanto sou fã de Michael Crichton. Sabem também que considero Presa e Micro dois de seus melhores livros.
Presa
é imbatível, insuperável. Cara, que livro! Você não consegue larga-lo um minuto
sequer. Costumo dizer para os meus amigos leitores que a medida que vamos nos
aprofundando na trama entramos no modo “leitura frenética”. Neste livro, Crichton
mistura ficção científica hard com suspense, presenteando os seus leitores com
um excelente techno-thriller. O enredo envolve nanotecnologia: um
microorganismo artificial capaz de se mover em nuvens, como um enxame de
abelhas, e ainda de evoluir sozinho como um ser vivo. Logo essa nuvem de
nanopartículas se torna uma ameaça, desenvolvendo inteligência e aprendendo até
mesmo a mimetizar seres humanos. Cabe a um programador chamado Jack marido de
Julia, uma das cientistas do projeto, buscar uma solução para o problema.
Uma das poucas obras literárias me fez atravessar
madrugadas.
Quanto a Micro
é um livro póstumo de Michael Crichton. Há rumores de que Crichton teria
escrito apenas 73% da obra antes de morrer. O restante da história foi completado por Richard
Preston.
Bem resumidamente, o enredo estilo montanha-russa de Micro descreve a aventura de sete
promissores estudantes, cada um deles, graduado em determinado campo da ciência
(aracnologia, entomologia, bioquímica, envenenamento, etc) que são
miniaturizados a proporções microscópicas e enviados ao chamado ‘micro-mundo’
habitado por insetos, bactérias e outros
“animaizinhos” peçonhentos e perigosos para recolher amostras que podem ser
utilizadas na fabricação de medicamentos. Outro livraço com o poder de fazer
com que você atravesse madrugadas lendo.
Espero ter colaborados com algumas sugestões de leituras
para os amantes de ficção científica.
28 março 2023
Relendo “Presa” de Michael Crichton, novamente. Um techno-thriller que merece ser devorado várias vezes
Vai entender o nosso cérebro, né galera? Lemos algo, portanto
já sabemos o que aconteceu, passamos a conhecer as manias e trejeitos dos
personagens de cabo a rabo, mas... queremos passar por tudo isso novamente e
novamente e... ufa! Novamente! Não adianta dizer que fazemos isso porque
esquecemos do enredo e queremos revive-lo. Não esquecemos não; pelo menos em parte.
Basta iniciarmos a releitura de um livro para começar a pipocar em nossa mente
momentos marcantes da história ou então aquele personagem que deixou tanta
saudade no passado.
Por isso, reler um livro é algo especial; e esse
privilégio também só cabe a obras especiais, ou seja, livros que marcaram a
nossa vida de uma tal maneira chegando ao ponto de fazer com que queiramos
sentir tudo aquilo que já sentimos uma, duas, três ou mais vezes no passado. Presa de Michael Crichton é um desses
livros. É difícil mensurar, mas talvez chegue a superar até mesmo Mentirosos de E. Lockhat que me rendeu
uma ressaca literária dos infernos, a qual ainda não consegui superar. A
ressaca causada por Presa foi maior.
Dessa vez, Crichton mistura ficção científica hard com
suspense brindando os seus leitores com um excelente techno-thriller. O enredo
envolve nanotecnologia: um microorganismo artificial capaz de se mover em
nuvens, como um enxame de abelhas, e capaz de evoluir sozinho como um ser vivo.
Logo a tecnologia se torna uma ameaça, desenvolvendo inteligência e aprendendo
até mesmo a mimetizar seres humanos, e cabe a um programador chamado Jack
marido de Julia, uma das cientistas do projeto, buscar uma solução para o
problema.
A primeira parte da história é marcada pela tensão no
relacionamento do casal que se amam mas devido a chegada de alguns fatores
externos, essa união acaba dando uma balançada. O drama familiar enfrentado por
Jack e Julia prende muito o leitor, mas é na segunda parte do romance que o
bicho pega.
Quando Jack é convidado pelo seu ex-patrão para dar
assessoria na empresa onde sua mulher ocupa um cargo de destaque, ele descobre
que a companhia está trabalhando num projeto ultrassecreto de nanotecnologia
criando micro-robôs invisíveis à olho nu, com objetivos militares e comerciais.
Quando essa nuvem de nanopartículas sai do controle de seus criadores, ela
deixa um rastro de morte e destruição, além de sitiar o laboratório da empresa
que está localizado no meio do deserto. É a partir daí que começa a luta de um
grupo de cientistas orientados por Jack para tentar conter os micro-robôs
assassinos, que passam a reproduzir e pensar por conta própria.
Presa é
eletrizante e merece ser lido e relido muitas e muitas vezes.
18 outubro 2022
Realidades adaptadas
Não tenho como negar que no começo foi muito difícil
me conectar com o estilo narrativo de Philip K. Dick. Só fui... como posso
dizer... acho que o termo correto é “plugar”. Isso mesmo, só pluguei a partir
do início do segundo conto. Juro que estava para desistir da leitura logo de
cara, ao ler a história que serviu de base para a adaptação cinematográfica de
“O Vingador do Futuro” que se transformou num dos maiores sucessos de toda
carreira do brucutu Arnold Schwarzenegger. Depois, a leitura saiu do “modo
espera” e foi engrenando aos poucos; como aqueles carros que que fazem os seus
donos suarem sangue para pegar no tranco, mas depois que pegam, andam sem
nenhum problema, na ‘maciota’.
Por isso, já alerto os leitores dessa postagem que não
estão acostumados com o estilo de K. Dick para que se preparem, pois poderão
sentir a mesma sensação que eu tive. O conselho é para que não desistam, pois
os contos apesar seguirem a chamada linha “Dickniana” são muito bons.
E como posso definir essa linha que apelidei por conta
própria de “Dickniana”. Cara... olha é complicado, mas vou tentar expor o que
eu senti ao ler as histórias de Dick; vamos lá. O início das narrativas é uma
“bagunça só”. Jesus, o que é aquilo! São personagens mal aproveitados, pontas
soltas no enredo, argumentos confusos, plots bobos e etc, mais etc. Tanto é
verdade que ao começar a ler Realidades
Adaptadas tive a impressão de que o autor estava chapado enquanto escrevia
aqueles contos. E não é que eu estava certo! Depois que li o livro fiquei
sabendo que as loucura das páginas de Dick eram, de fato, um reflexo da mente conturbada
do escritor. Diagnosticado com doenças mentais e transtornos diversos como
agorafobia e paranoia, Dick não procurava acalmar a mente. Ao contrário. Escreveu
a maioria de suas obras sob o efeito de metanfetamina, uma droga potente e
viciante que conduz ao aparecimento de comportamentos psicóticos, além de
outros transtornos mentais como depressão. Além das drogas, o autor teve cinco
casamentos difíceis o que o fez se afundar ainda mais na dependência das
metanfetaminas. Resultado: internação em clinicas de reabilitação e algumas
tentativas de suicídio.
Acredito que o futuro sempre sombrio existente em suas
histórias foi o fruto desse período em que Dick estava loucaço. Suas narrativas
tem uma aura bem deprê que serve de pano de fundo para enredos que misturam
ficção científica e thriller policial sempre colocando em dúvida o que é e o
que não é real.
Mas toda essa coisa louca e sem sentido que, quase
sempre, rolam nos contos de Dick vão se esclarecendo aos poucos, ou seja, as
pontas soltas iniciais vão se amarrando com o desenrolar da narrativa até à
conclusão genial capaz de deixar os leitores, à princípio, decepcionados com a
história, com aquele Ohhhhhhh!!! de surpresa na boca. Resultado: se no início,
eles excomungavam a história, no final, eles passam a amá-la. Bem, acho que é
isso. Não sei se consegui explicar a essência das histórias escritas pelo
autor. Realidades Adaptadas deixa
muito evidente esse ponto de vista.
O livro com pouco mais de 300 páginas traz sete contos
conhecidos do autor que foram adaptados para o cinema, tornando-se filmes
conhecidos, alguns deles grandes sucessos de bilheteria como “O Vingador do
Futuro” e “Minority Report – A Nova Lei”.
Se você, infelizmente, é aquele tipo de leitor que traz
pronta na boca a frase infame: “Como já assisti ao filme não vou perder tempo
lendo o livro”, pode mudar esse conceito, pelo menos com Realidades Adaptadas, lançada pela editora Aleph. Os contos são
infinitamente diferentes dos filmes, mas diferentes ao extremo. Na minha
opinião, o único que se aproximou um pouco mais da produção cinematográfica foi
“O Pagamento” que pintou nas telas em 2003 numa superprodução de John Woo com
Ben Affleck e Uma Thurman nos papéis principais.
Confiram um pequeno resumo dos contos:
01
– Lembrando para você a preço de atacado
Adaptação
para cinema: O Vingador do Futuro
Muito, mas absurdamente diferente do filme “O Vingador
do Futuro” de 1990 com Arnold Schwarzenegger e mais diferente ainda do que o
remake de 2012 com Colin Farrell.
Neste conto escrito em 1966, Douglas Quail é um
escriturário que sonha em viajar para Marte, algo um tanto fora de suas
condições financeiras. A solução é a Recordar S.A., empresa que presta serviços
de implantes de memória, criando lembranças vívidas de eventos que não
aconteceram de fato. Ao procurar esse atendimento, Quail tem a surpresa de que
já existem memórias reprimidas em sua mente sobre uma estadia em Marte, o que
gera uma série de problemas e questionamentos sobre o que é realmente fato ou
invenção.
02
– Segunda Variedade
Adaptação
para cinema: Screamers – Assassinos Cibernéticos
O filme “Screamers – Assassinos Cibernéticos” foi
lançado em 1995 e dirigido pelo canadense Christian Duguay que cinco anos
depois faria o excelente “A Cilada” com Wesley Snipes, que muitos reputam como
o melhor filme tanto do diretor como do ator. Quanto a “Screamers – Assassinos
Cibernéticos”, apesar de ter recebido elogios da crítica, fracassou nos cinemas.
Uma pena, porque o filme é bom, apesar de ser muito diferente do conto no qual
foi inspirado.
Mas vamos ao resumo da história escrita por Dick.
Gostei muito dessa narrativa, apesar de ter descoberto o seu plot twist final ainda
no meio o conto.
Em Segunda
Variedade, esqueça os robôs bonzinhos de Isaac Asimov que seguem fielmente
as leis da robótica. Aqui, quem domina o enredo são máquinas cruéis e
sanguinárias. O homem utiliza estas máquinas para exterminar outros homens de
forma eficiente. E a estratégia que estas máquinas adotam durante a história é
covarde e cruel.
A história se passa em uma realidade distópica, em que
dois blocos, um liderado pelos Estados unidos e outro pela Rússia, estão em uma
guerra de consequências mundiais. A Rússia, por ter tomado a iniciativa, começa
em vantagem, obrigando inclusive o governo e os civis americanos a
refugiarem-se na lua. Quando tudo parece perdido para os Estados unidos, o país
cria uma nova arma que muda o rumo do confronto: os tais robôs assassinos.
03
– Impostor
Adaptação
para cinema: Impostor
Vou me abster de opinar sobre o filme lançado em 2001
já que não tive a oportunidade de assisti-lo, mas quanto ao conto, achei “da
hora”, bom mesmo. Dick põe em cheque a chamada crise ou mesmo perda de
identidade do personagem frente ao fato de ter certeza de suas próprias
memórias, mas carregando a dúvida: “serei eu um robô?”.
Este conto foi escrito em 1953 e narra a saga do
personagem Spence Olham, um cientista especialista em armas trabalhando para o
governo terrestre que tenta deter uma invasão dos alienígenas de Alfa Centauro.
Sua vida sofre uma reviravolta quando é acusado pela polícia secreta, liderada
pelo Major Hathaway, de ser um impostor - um clone cibernético perfeito do
verdadeiro Spencer Olham com uma bomba interna a ser usada para matar uma alta
autoridade do governo. Spencer não acredita ser um clone e consegue fugir das
instalações. Agora, ele tem que provar que não é um robô. Final surpresa.
04
– O Relatório Minoritário
Adaptação
para cinema: Minority Report – A Nova Lei
O conto de Dick escrito em 1956 deu origem a um dos
filmes mais elogiados do astro Tom Cruise. “Minority Report – A Nova Lei”
passou nos cinemas em 2002 e fez muito sucesso. O roteirista Scott Frank, o
mesmo de “O Nome do Jogo” e “Marley e Eu” usou poucos elementos do conto para o
filme dirigido por Steven Spielberg.
Na história escrita por Dick, Anderton (interpretado por
Tom Cruise nas telonas) é um policial fundador da Pré-Crime, agência do governo
que consegue, por meio de previsões de três precogs, antecipar futuros crimes e
prender os “infratores”. No dia em que seu novo e ambicioso assistente chega ao
departamento, porém, um relatório majoritário é expedido com o nome de
Anderton, prevendo um assassinato. Em dúvida se a acusação foi forjada ou um
erro do sistema, Anderton tem apenas uma certeza: sua salvação está no
relatório minoritário.
Este foi o conto que menos gostei do livro.
Sinceramente, não me empolgou. Etchaaa!! Bem complicadinho e além de tudo
parado. Não empolgou mesmo. Nunca pensei que um dia faria essa afirmação, mas
nesse caso vá lá: “prefiro o filme ao conto”. Putz, fiquei com peso de
consciência pela afirmação (rs).
05
– O Pagamento
Adaptação
para cinema: O Pagamento
Conto e filmaço ‘dez’. Bom mesmo. O filme só sairia
depois de um hiato de 50 anos. Isso mesmo, Dick escreveu O Pagamento em 1953 e a sua história só iria parar nas telonas em
2003.
No conto, o personagem Jennings acaba de acordar. Dois
anos atrás, ele fora contratado pela Construtora Rethrick como técnico e teve
sua memória apagada para não revelar detalhes da operação. Tudo em troca de um
bom pagamento, é claro. Ao chegar a Nova York, porém, é recompensado apenas com
sete bugigangas, entre elas uma chave e uma metade de ficha de pôquer.
Sentindo-se traído, Jennings só pensa em se vingar descobrindo a causa secreta
pela qual trabalhou, enquanto a polícia o persegue pelo mesmo segredo. Como já
escrevi no início desse post, o filme homônimo de 2003, dirigido por John Woo,
teve Ben Affleck e Uma Thurman como protagonistas. Achei a química dos dois
atores perfeita, contribuiu muito para o sucesso da produção.
06
– O Homem Dourado
Adaptação
para cinema: O Vidente
Talvez, alguns cinéfilos não concordem comigo, mas “O
Vidente” com Nicolas Cage, Julianne Moore e Jessica Biel pode ser considerado
um dos melhores filmes de suspense e ação dos últimos tempos. Com certeza, devo
estar sendo massacrado, nesse momento, por alguns críticos de cinema que leem
essa postagem já que a grande maioria considerara a produção de Cage uma bomba.
Só posso dizer: não penso assim. No meu caso, adorei “O Vidente”. Tanto é que
já assisti várias vezes.
O detalhe - para não fugir da regra, né? (rs) é que o
filme é completamente distinto do conto de Dick. Vou ser mais exato: o diretor
neozelandês Lee Tamahori (“007 – Um Novo Dia Para Morrer”) só aproveitou o nome
do personagem – Chirs Johnson, que no filme é conhecido por John Cadilac – e a
sua capacidade de prever o futuro. Quanto ao resto, esqueça: conto e filme são
muuuuito, mas muuuuito diferentes.
Na narrativa publicada em 1954, num futuro próximo, a
humanidade teme a gênese de uma raça superior. Com mutantes surgindo em todos
os cantos do planeta, as nações criam um organismo internacional, a ACD,
dedicada a eliminar qualquer indivíduo que apresente mudanças potencialmente
perigosas. Todos são varridos da face da Terra… ou quase. No interior dos EUA,
um garoto de cor dourada e poderes psíquicos é mantido escondido pela família
por 18 anos.
Já no filme, Chris Johnson (Nicolas Cage) ganha a vida
com um medíocre número de mágica em Las Vegas, mas sua habilidade de prever
alguns minutos do futuro é autêntica. Callie Ferris (Julianne Moore), uma
agente do governo, sabe disso e o convoca para ajudá-la a impedir que um grupo
terrorista detone uma bomba nuclear em pleno coração de Los Angeles.
07
– Equipe de Ajuste
Adaptação
para cinema: Os Agentes do Destino
À exemplo do que aconteceu com “Impostor” também não
assisti ao filme “Os Agentes do Destino” com Matt Damon e Emily Blunt exibido
nos cinemas em 2011. Por isso, também vou evitar comenta-lo, mas pelo o que eu
já li e ouvi sobre o assunto: ambos são infinitamente diferentes.
Na história publicada em 1954, tudo parecia um dia
como qualquer outro para Ed Spencer: acordar, beber o café que a esposa fez,
tomar um banho e sair. Por trás da monotonia da rotina, porém, uma equipe
trabalha em sintonia perfeita para garantir que o futuro saia exatamente
conforme o planejado. Uma única falha pode modificar a vida de Ed.
Não gostei do conto: estranho e tão surreal que
desanima.
Taí galera. No balanço final, gostei de Realidades Adaptadas. Os dois únicos
contos que não me agradaramu foram: O
Relatório Minoritário e Equipe de
Ajuste.
Recomendo a leitura, mas antes, friso o recado que dei
ao começar essa postagem: se você não conhece o estilo narrativo de Phillip K.
Dick, não desista logo no início da leitura; espere um pouco porque a narrativa
irá te ganhando aos poucos.
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