30 junho 2024

Como eram as escolas de antigamente. Saudades dos livros didáticos, materiais escolares, professores e do sinal de recreio

Hoje, acordei com muitas saudades da minha época de estudante primário e também do antigo ginasial. Não me perguntem o motivo porque, simplesmente, não conseguiria responder. Sabem aqueles insights que surgem de repente? Acho que foi isso. Talvez possa ter havido um gatilho, aliás, acredito que sempre exista um gatilho para as nossas lembranças mais distantes, aquelas que se encontram guardadas nos compartimentos mais profundos da nossa memória. É como se esse gatilho fosse uma chave capaz de abrir esse compartimento. E o meu gatilho, a minha chave, foi um bate papo durante o café da manhã que estava tendo com Lulu sobre uma professora do primário, mãe de um amigo nosso, que já havia falecido há algum tempo. Ela tinha lecionado numa escola onde futuramente pretendo fazer uma reportagem para o meio de comunicação onde trabalho. Dona Cecília e a tal escola tinham muito em comum comigo: ela foi minha professora no primário nessa mesma escola que será o tema da minha matéria. Pronto; bimba! Dois gatilhos, duas chaves numa pancada só. 

Estas duas chaves abriram as portas de lembranças deliciosas que estavam guardadas nessa caixa secreta escondida em minhas memórias. Lembrei-me de alguns livros, entre eles o famoso Desenho Cop, considerado o “bam-bam” daquela época, Caminho Suave, Atlas do Brasil e tantos outros. Lembrei do meu saboroso misto-quente com pão, presunto e queijo e também da limonada preparados com todo o carinho pela minha mãe e acondicionados na minha lancheira que levava pendurada no ombro. Depois, mais para frente, no Ginasial, lembrei-me do compasso, da velha carteira escolar de madeira, da caixa de lápis coloridos, da tabuada e etc, mais etc.

Este insight gostosíssimo que tive foi o ponto de partida para a criação desse post onde gostaria de recordar alguns desses materiais, livros e cartilhas escolares.

Se você foi uma criança dos anos 70, certamente vai se lembrar que leva o seu material para a escola em pastas ou então naquelas malinhas de couro marrom. As mochilas de rodinhas ou até mesmo aquelas de alças cruzadas que, hoje, os estudantes levam atreladas às suas costas, ainda eram um sonho muito distante.

Quanto a lista do material escolar, basicamente era composta de lápis, preferencialmente, da marca Fritz Johansen; borracha; caneta tinteiro; régua de madeira; estojo de lata ou madeira; caderno tipo brochura, daqueles que você não podia nem pensar em retirar uma folha senão o caderno se desmontava inteiro; cadernos de caligrafia, de desenho e de linguagem; folhas de papel ao maço pautadas; vidrinho com cola Goma Arábica e mata borrão.

O lápis era um item fundamental para escrever e desenhar, e as borrachas eram geralmente de borracha branca e simples. Quanto as canetas esferográficas, embora já existissem na década de 60, elas começaram a se popularizar na década de 70 como uma alternativa mais durável às canetas-tinteiro.

E por acaso, vocês se lembram das aulas de geometria? Se vocês se lembram, naturalmente também irão se recordar de dois materiais que eram considerados indispensáveis para essas aulas: o transferidor e o compasso. Ah! Não podemos esquecer, também, de dois parentes próximos do transferidor e do compasso: a régua e o esquadro, outros itens essenciais para desenho técnico e medição.

Antes de “falarmos” sobre livros didáticos (tema mais chegado a proposta desse blog) vamos recordar como era a estrutura organizacional das escolas de décadas passadas, para ser mais exato, dos anos 60 e 70. O primeiro detalhe que gostaria de ressaltar é que naquela época havia um respeito mútuo entre professores, colegas e alunos. Esqueça os casos de agressões verbais ou físicas de estudantes em professores, hoje tão comum nas escolas. Não; naquela época, essa atitude seria algo impensável, até mesmo surreal.

Toda classe tinha um líder que geralmente ficava com a chave da porta da sala de aula durante o recreio, além do bedel (fiscal) que ficava no corredor para ajudar em alguma necessidade por parte dos alunos. Havia disciplina e hierarquia.

As matérias escolares também eram muito diferentes das disciplinas de hoje. Vamos ver se me recordo de algumas, vamos lá: no antigo Científico – hoje, Ensino Médio – tínhamos OSPB (Organização Social Política Brasileira), onde os alunos aprendiam tudo sobre política (não partidária), cultura e curiosidades sobre as regiões brasileiras. Tínhamos ainda nessa época aulas de Educação, Moral e Cívica, quase que semelhantes a OSPB; Desenho; Matemática que era chamada pelos alunos de Aritmética; Religião; Linguagem e mais uma que certamente a galera não conseguirá se lembrar. Ok, lá vai: Canto Orfeônico, E aí? Se lembrou (rs). Pois é, acredite; pode ser que você tenha estudado essa disciplina e nem se lembre.

De acordo com o site Mônica Alma de Viajante (www.monicaalmadeviajante.com) que encontrei durante as minhas zapeadas; no final dos anos 1960, os professores de escola pública tinham salários equiparados aos dos professores universitários. Os professores do ginásio (hoje ensino fundamental) trabalhavam também em outras instituições como Banco do Nordeste, Tribunal de Justiça (um desembargador que era o presidente do Tribunal), UECE (Universidade Estadual do Ceará), Colégio Militar etc.

No início dos anos 1970, ainda havia banca examinadora para a cátedra do “professor Tal” ou para a cadeira de latim, língua portuguesa, dentre outras. Em relação ao aluno, podia ser aprovado ou reprovado. Existia a “segunda época” (prova escrita), realizada quinze dias antes de começar o ano letivo do ano seguinte, de modo a dar chance ao discente de ainda passar de ano. Se não se dedicasse aos estudos, não passaria.

Mas vamos nos ater agora, aos livros didáticos utilizados pelos estudantes naqueles saudosos tempos. Aliás, já escrevi um post, anteriormente, sobre esse tema (ver aqui e mais aqui) mas mesmo assim, vou rememorar mais alguns livros e cartilhas que deixaram saudades.

Um desses livros didáticos considerados obrigatórios nos anos 60 e 70 se chamava Admissão no Ginásio. A obra teve sua primeira edição publicada em 1943, pela Editora do Brasil e em 1970 já havia ultrapassado mais de 550 edições. Sua publicação e circulação se deram no contexto dos exames de admissão ao ginásio. Nos anos 60 e 70 para que um aluno chegasse a frequentar um Ginásio do Ensino Público (os 4 anos após o primário, hoje as 5a, 6a, 7a  e 8as séries) era necessário que passasse pelo Exame de Admissão ao Ginásio, um vestibular seletivo, devido ao número insuficiente de escolas. Por isso o livro Admissão ao Ginásio era muito famoso naqueles idos tempos.

Mas, cá entre nós, se há um livro didático ou cartilha escolar que pode receber o título de antológica, essa obra se chama Caminho Suave. Esta publicação fez a cabeça de uma geração de professores e alunos dos anos 60 e comecinho da década de 70.

Aprovado pela Comissão do Livro Didático do Departamento de Educação do Estado de São Paulo. A cartilha de Leitura era usada, geralmente, a partir do segundo ano primário. Aprovado pela Comissão Nacional do Livro didático. Caminho Suave foi um fenômeno de vendas no Brasil: calcula-se que todas edições, até a década de 1990, venderam 40 milhões de exemplares.

Outra cartilha que imperou no final dos anos 60 e início da década de 70 foi o Desenhocop que era utilizado nas saudosas aulas de Desenho. O Desenhocop tinha um conjunto de folhas finas de papel vegetal com desenhos que abrangiam grande variedade de temas escolares e também do nosso dia a dia. Bastava o aluno passar o lápis no contorno do desenho para que ele fosse reproduzido no caderno ou no papel almaço. Depois, a cópia do desenho estava pronta para encarar a fase de pintura.

Os livros de História e de Português também deixaram uma baita saudade em todos os estudantes que viveram aquela geração. Os livros de História do Brasil geralmente traziam a imagem de Pedro Alvarez Cabral ou então de alguns índios na época do descobrimento ou Bandeirantes como destaque na capa; já nos de Português era comum vermos imagens de Camões.

Não podemos esquecer, também, do famoso Atlas Geográfico. Aproveitando esse assunto, por qual motivo esse livro didático se chamava Atlas? ‘Entonce”, acredita-se que o nome Atlas tenha origem na lenda grega em que a figura mitológica Atlas foi castigada pelos deuses, que o obrigaram a segurar a Terra e os céus em seus ombros. O Atlas geográfico não chega a “segurar” céus e a Terra, mas, muitas vezes, contém a representação da Terra em diversos formatos e temas. Interessante essa explicação, não acham?

E agora que estou chegando perto do fim dessa postagem, seria uma grande injustiça se me esquecesse de duas “cositas” que marcaram a vida de nós, estudantes do ginasial dos anos 60 e 70. A primeira delas foi a saudosa máquina de mimeógrafo ou será que você nunca sentiu aquele cheirinho de álcool ao receber a prova do bimestre? O mimeógrafo era uma espécie de “impressora manual” que funciona à base de tinta e álcool.

A outra ‘cosita’ era o “Google” dos estudantes daquela geração - a qual tive a alegria de fazer parte. O nosso “Google” se chamava “Barsa”. Pesquisar antigamente não era uma tarefa fácil. Qualquer trabalho escolar exigia uma visita a uma biblioteca, horas e horas de pesquisa e depois, tudo escrito a mão, geralmente numa folha de papel almaço. Para facilitar a vida dos estudantes, existiam as enciclopédias: coleções de livros enormes, geralmente abrangendo uma grande gama de conhecimentos gerais.

Lançada em 1964, a Barsa foi a primeira enciclopédia feita especialmente para o Brasil. Seus dezesseis volumes se tornaram uma referência em conhecimentos gerais para todos nós, alunos, que vivemos aquele saudoso período.

Encerro esse post recordando do barulho do sinal. Parece que estou ouvindo ‘ele’ tocar. Como era gostoso aquele barulhinho do sinal do recreio. Quando tocava, saíamos correndo das salas, direto para o pátio comer um lanche, comprado na cantina ou preparado pelas nossas mães e que vinha guardadinho em nossa lancheira embrulhado em papel alumínio, acompanhado de uma garrafa de limonada ou QSuco. E no final, quando chegava a hora de ir pra casa, novamente o bedel batia o sinal e então, saíamos correndo para os braços de nossas mães que estavam esperando por nós na porta da escola. Ainda me lembro que o sinal da minha escola era um sino de mão. Antes de o bedel - que se chamava Servilho - chacoalhar o “bichão” já sabíamos que viria aquele “bleim-bleim-bleim-bleim”... era o sinal aguardado por todos nós.

Putz! Que saudades daquela época.

25 junho 2024

Meu Nome é Ninguém – O Regresso (Volume II)

Grande parte dos comentários que li sobre “O Regresso” – segundo e último volume da duologia “Meu Nome é Ninguém” – diziam que o autor Valerio Massimo Manfredi aumentou a história desnecessariamente quebrando toda a magia que envolve a saga de Ulisses ou Odisseu. Concordo em gênero, número e grau. Vou mais além e afirmo que o autor escreveu mais do que devia e se enrolou todo no final. Quando acabei de ler o livro disse para Lulu que Manfredi foi guloso; comeu mais do que devia, se empanturrou e depois, passou mal.

A maioria daqueles que leram as versões romanceadas de a “Odisseia” de Homero ou então, assistiram aos filmes baseados na obra sabem que a saga de Ulisses termina tão logo após o seu retorno a Ítaca quando ele, juntamente com o seu filho Telêmaco e alguns aliados, exterminam todos os guerreiros que haviam invadido o seu palácio com a intenção de desposar a sua esposa Penélope, acreditando que o herói havia morrido.

O que Manfredi fez? Ele quis ir mais a fundo e narrar o que aconteceu depois disso; e foi aí que ele se embananou todo. Antes desse acréscimo na saga, por parte do autor, a narrativa estava fluida e agradável capaz de prender a atenção do leitor. Como escrevi na resenha de “O Juramento” (primeiro volume da duologia Meu Nome é Ninguém) ler todos os acontecimentos envolvendo a Guerra de Tróia e o retorno de Ulisses a sua Terra Natal narrados em primeira pessoa pelo próprio herói torna a história muito mais palatável e saborosa fazendo com os leitores devorem as páginas.

Acredito que ao autor ao escrever essa duologia, tinha como proposta narrar fatos desconhecidos sobre a vida do herói da mitologia grega, ou seja, fatos além daqueles que conhecemos lendo o poema de Homero ou então, as suas versões romanceadas. Dessa maneira, no primeiro volume conhecemos curiosidades interessantes sobre a infância de Odisseu; como ele conheceu o seu avô; a origem de seu nome; como ele se tornou um guerreiro e, também; como ele conheceu Penélope e como por pouco, Helena de Tróia não o desposou; além de muitos outros detalhes, posso ‘dizer’... “indédito” da conhecida saga.

Esta proposta de Manfredi caiu como uma luva em toda a narrativa de “O Juramento”, mas por outro lado, apenas em parte de “O Regresso”. Na minha opinião, se o autor tivesse encerrado a narrativa logo após a sua vingança contra os pretendentes de Penélope, a duologia seria encerrada , com chave de ouro, mas o problema foi que ele quis mais e com isso, acabou estragando o encerramento da história.

Comentei com algumas pessoas que também leram a duologia que tudo o que deveria ser acresentado a mais na saga de Odisseu foi feito em “O juramento”, restando muito pouco ou quase nada a ser acrescentado em “O Regresso”. Esse pouco foi acrescentado nos trechos envolvendo as interações de Ulisses com Calipso, Circe e a princesa Nausicaam, filha do rei Alcino que o ajudou o herói a regressar a Ítaca. Bastavam esses acrescimentos no enredo para deixa-lo agradável porque já tínhamos a deliciosa narrativa de Ulisses em primeira pessoa.

Mas o autor não entendeu dessa maneira e optou por incluir uma nova viagem para Odisseu após o seu retorno a Ítaca. Nesta nova peripécia, ele deveria ir até uma terra muito distante onde cumpriria uma promessa para acalmar Poseidon, deus dos mares e pai do ciclope Polifemo, morto çpelo herói. E foi aí que o caldou engrossou demais ou ficou ralo de mais, como queiram. Achei essa segunda aventura de Ulisses muito chata, insípida e muito metafórica. Resumindo: chata e confusa.

Se quiserem um conselho, leiam “O Regresso” até o capítulo em que Odisseu mata os usurpadores de seu palácio que pretendiam desposar Penélope e esqueçam a última viagem, sem sentido, do herói. Já aqueles que quiserem encará-la, desejo boa sorte.

22 junho 2024

Uma analogia: Ulisses e os aposentados por invalidez com menos de 55 anos

Ontem, quando li uma reportagem nas redes sociais – o assunto foi publicado em diversos portais – fiquei descrente, desgostoso e porque não, um pouco revoltado com o nosso governo. Antes que me rotulem de lulista ou bolsonarista quero esclarecer que sou apartidário e quando uso o termo “governo” me refiro ao conjunto de parlamentares que cuida de nosso País, ou seja, dos nossos três presidentes: da República, do Senado e da Câmara. Uma lei antes de ser implantada tem que passar pela chancela das três “figuras” que ocupam essas cadeiras. Sendo assim, um não vive sem o outro. Vou mais além, quando ‘digo’ decepcionado com o governo, me reporto a um sentido mais amplo da palavra ‘governo’ que atinge aproximadamente 12 anos ou três sucessões. Esta decepção se restringe a duas palavrinhas ou melhor, três: “Reforma da Previdência”. Três palavrinhas que ferraram de cabo a rabo a vida dos aposentados, principalmente dos aposentados por invalidez e mais principalmente ainda, dos aposentados por invalidez com menos de 55 anos.

Cara, o sujeito já está aposentado; o médico perito, seja ele administrativo ou judicial, constatou que o segurado não tem mais condições de voltar ao trabalho. Não dá, isso é definitivo. Se voltar, ele morre ou coloca a sua segurança e a de outras pessoas em risco. Não se trata de um auxilio doença, mas de aposentadoria. Então, chega o Sr. Michel Temer com a sua “famosa” reforma e cria um termo chamado aposentadoria por incapacidade permanente que obriga esse aposentado a passar por perícias médicas periódicas e também enfrentar temíveis pentes finos do INSS. Na sequência, chega o Sr. Bolsonaro e sacramenta a proposta de Temer. E, por último, quando a maioria acreditava que após a chegada de Lula ao Poder, os aposentados com menos de 55 anos poderiam, enfim, respirar; ele joga a pá de cal em cima da categoria convocando para o mês de julho, um novo pente fino com o objetivo de economizar cerca de R$ 30 bilhões no orçamento público como se esse grupo de aposentados tivesse culpa do déficit. E, assim, lá vai os aposentados por invalidez novamente para a forca. Portanto a culpa não é só de um governo, mas de todos eles, como se eles estivessem agindo em conjunto. Eu, pelo menos, entendo dessa maneira.

E como esse espaço se trata de um blog literário gostaria de fazer uma analogia dos aposentados por invalidez que tenham menos de 55 anos com o famoso herói da mitologia grega Ulisses, conhecido também por Odisseu. Ele é o herói que domina o poema “Odisséia” de Homero, com sua figura corajosa e ao mesmo tempo sofredora. 

Os deuses do Olimpo, especificamente, Poseidon – conhecido na mitologia grega como o deus dos mares - fez com que Ulisses sofresse horrores em seu retorno a Ítaca, sua Terra Natal. O herói enfrentou todos os tipos de dissabores: sereias mortais, monstros marinhos, selvagens carnívoros, feiticeiras dissimuladas, um ciclope antropófago e finalmente um grupo de guerreiros glutões que queriam roubar a sua esposa, a bela Penélope.

Na minha analogia, Ulisses representa os aposentados por invalidez; Poseidon é o governo; e finalmente, os adversários do herói - sereias, ciclopes, monstros e o escambau a quatro - são os parlamentares que apoiaram no passado e continuam apoiando, hoje, a tal reforma previdenciária. Incluo também nesse rol, alguns médicos peritos que se consideram donos da verdade e deixam de analisar os exames e demais provas apresentadas pelo periciado, simplesmente, indeferindo o seu pedido de maneira aleatória e irresponsável.

Em sua Odisseia, somente dois personagens ajudaram Ulisses em seu sofrimento: a deusa Atena e também Alcino, rei dos Feácios e pai da princesa Nausicaa. A primeira sempre encontrava meios de socorrer o herói grego dos ataques de Poseidon e de seus inimigos. O segundo, ajudou Ulisses a regressar a Ítaca.

Na semana passada, eu até pensava que o senador petista Rogério Carvalho representasse uma fusão desses dois personagens considerados aliados de Ulisses mas há poucos dias, mudei a minha opinião quando o parlamentar que é o relator do Projeto de Lei 5332 – que acaba com as perícias revisionais e pentes finos de todos os segurados que já são aposentados por invalidez – simplesmente faltou na sessão do Senado onde deveria ler e defender o seu relatório em prol dessa categoria.

Agora, enquanto escrevo esse post, fico pensando com os meus botões se nos próximos dias, semanas ou meses surgirá alguma deusa Atena ou rei Alcino na vida dos aposentados por invalidez, principalmente daqueles com menos de 55 anos.

A pá de cal foi jogada em cima desses aposentados – muitos deles, certamente, votaram no atual governo acreditando em suas promessas – vamos torcer, agora, para que algum aliado venha salvar Ulisses, novamente.

Ah! E por “falar” em Ulisses, acabei de ler O Regresso, segundo e último volume da duologia Meu Nome é Ninguém que retrata as peripécias de Odisseu. No próximo post, prometo que publico a resenha da obra

Até lá.

17 junho 2024

Carro possuído e motorista assassino: King e Spielberg arrebentaram em “Christine” e “Encurralado”

Tudo bem, entendo perfeitamente que tenho um blog literário e por isso tenho o dever de escrever assuntos relacionados à livros e não à filmes, mas a galera há de concordar comigo que todas as vezes que abordei temas ligados a produções cinematográficas, eles estiveram diretamente ligados a obras literárias; assim, acho, que estou cumprindo o meu juramento (rs). Como, por exemplo, nesta postagem em que estarei “falando” de dois filmes que marcaram a minha infância e também a minha adolescência. Estes dois filmes estão associados diretamente a um dos meus escritores favoritos: Stephen King. Por isso, creio que não estarei fugindo tanto do tema livros/escritores.

Os nomes dessas duas pérolas cinematográficas, pelo menos para mim, são: “Encurralado” e “Christine, O Carro Assassino”. Não sei porque, hoje pela manhã, acordei com esses dois filmes na cabeça e graças a eles consegui fazer uma gostosa viagem ao tempo da minha infância/adolescência, dois períodos mágicos de minha vida. Estas duas pérolas fizeram com que eu me recordasse dos meus amigos de juventude – muitos dos quais já não estão mais aqui – das nossas farras, peraltices, papos e também do saudoso Cine São Salvador, hoje fechado e abandonado, onde assisti a esses dois filmes.

Depois fiquei sabendo que tanto “Encurralado” quanto “Christine, O Carro Assassino”, estão intimamente ligados ao mestre do terror Stephen King. Tio King classificou o primeiro como um dos melhores filmes que já assistiu em toda a sua vida; e olha que ele tem várias adaptações de seus livros para o cinema que se tornaram verdadeiros clássicos. Quanto ao segundo, nem é preciso dizer que foi uma adaptação de uma obra sua lançada no mesmo ano do filme, em 1983.

Assisti “Encurralado” quando tinha 11 ou 12 anos de idade no Cine São Salvador. Meu irmão mais velho era um cinéfilo de primeira mão e geralmente sempre me levava para assistir alguns filmes dos quais gostava. “Encurralado” foi um deles. Apesar do enredo um tanto pesado para a minha idade, eu conseguia “driblar” o porteiro com a ajuda do mano. Cara, adorei o filme! Tenso, tenso e tenso. Filmaço. Fiquei sabendo que “Encurralado” foi feito originalmente para a televisão e além do mais o filme foi surpreendentemente produzido em somente 13 dias! O mesmo número de dias que algumas produções cinematográficas de hoje levam para gravar apenas uma cena.

Apesar disso, o filme dirigido por Steven Spielberg – um cineasta ainda desconhecido, na época - foi considerado um baita sucesso, obtendo nota máxima concedida pela maioria dos críticos. Entre o público geral, o Rotten Tomatoes o classificou com quatro estrelas e meia de um total de cinco estrelas. Já o IMDB o classificou como quatro de cinco estrelas, com a votação de quase 60 mil membros. Fez tanto sucesso que menos de um ano depois foi lançado também nos cinemas. O filme é considerado o primeiro longa-metragem dirigido por Spielberg.

“Encurralado” conta a história de um simples motorista vivido por Dennis Weaver que está dirigindo seu carro pelas estradas da Califórnia, quando começa a ser perseguido por um caminhão gigantesco, dirigido por um homem não identificado, que parece querer brincar com ele perigosamente na estrada. No decorrer do trajeto, o personagem de Weaver começa a perceber que a perseguição não trata-se, apenas, de uma mera brincadeira. A medida em que as provocações do misterioso caminhoneiro atingem níveis mortais, o pacato motorista procura desesperadamente despistar o seu torturador, que parece não ter nenhum compromisso naquele dia a não ser matá-lo. Caráculas com o torci por esse pobre motorista interpretado por Dennis Weaver!

Até hoje não sai da minha cabeça que esse filme daria um excelente livro escrito por Stephen King, quem sabe, talvez, se não foi por isso, que ele gostou tanto dessa produção.

Ah! Lembrando que “Encurralado” se passa totalmente numa estrada sem outras tomadas.

Doze anos depois, já nos meus 21 ou 22 anos, fui premiado com “Christine: O Carro Assassino”, outro filme ligado a King e que foi adaptado de um livro seu lançado também 1983, mesmo ano do filme. Assisti a produção também no saudoso “Cine São Salvador”, da Empresa Teatral Pedutti, de Botucatu, hoje transformado num depósito abandonado. Na época, pensei como uma história tão simplória e ao mesmo tempo tão inverossímil de um adolescente tímido que consegue comprar o seu primeiro carro e descobre que ele age como um ser humano, diga-se, um ser “ser-humano mulher” e do mal, poderia se transformar num filme tão comentado e assistido. Hoje entendo o motivo: quando dois gênios se juntam, o resultado só pode ser ‘sucesso’ em qualquer setor; e “Christine: O Carro Assassino” conseguiu juntar dois gênios, já naquela época, um da escrita e outro do cinema: Stephen King e John Carpenter. Dessa união de gênios nasceu o filme Christine. Um enredo esquisito que nãos mãos de outras pessoas poderia transformar a história desse jovem e sua estranha aquisição em algo risível ou xôxo, mas graças a união dessas duas feras, acabou resultando num filme claustrofóbico e assustador.

Agora pare e pense de que maneira um livro ou um filme sobre um personagem, tímido e sem muitos atrativos que “se apaixona” à primeira vista por um Plymouth Fury 1958 vermelho que está à venda, esquecido no jardim de uma casa, poderia “virar” alguma coisa aproveitável? Acrescentando o mote absurdo de que esse carro também poderia se apaixonar pela tal rapaz tímido e sem atrativos? Pois é, King e Carpenter conseguiram fazer com que esse enredo absurdo se tornasse um livro e um filme de terror antológicos.

Se você leu esse post até o final, acredito que tenha se interessado por esse livro de King e pelos filmes de Spielberg e Carpenter. Assim... mãos a obra!

13 junho 2024

Mulheres de médicos

Gostei tanto de Médicos em Perigo de Frank G. Slaughter que resolvi ler Mulheres de Médicos do mesmo autor. O livro chegou até mim junto com muitos outros num lote de obras literárias que ganhei de um colega dos tempos de universidade. Lembrando que este lote chegou até as minhas mãos também nos tempos de universidade. 

O Marcos César gostava muito de livros de ficção científica do Ray Bradbury e certo dia, há ‘muuuuitos’ anos, me deu uma caixa com várias obras de ficção, a maioria de Bradbury, mas entre elas haviam alguns livros de Slaughter, entre os quais Mulheres de Médicos, ou seja, um estranho no ninho.

Li alguns do Bradbury, entre os quais F de Foguete e E de Espaço (aliás, estou em dívida com essas duas resenhas) e há algumas semanas, enquanto (adivinhem... limpava as minhas estantes) vi num cantinho onde coloco alguns livros, cujos enredos não me despertam muito o interesse, Mulheres de Médicos. Percebi que o autor era o mesmo que havia escrito Médicos em Perigo e assim, decidi dar uma chance para a história, mas após concluir a leitura cheguei a conclusão que o seu conteúdo não supera e... nem empata com Médicos em Perigo. Não estou querendo dizer que o livro é ruim, nada disso; mas apenas que se trata de uma história razoável, mediana. Daquelas que você engata uma primeira marcha na leitura e segue; podendo até mesmo “puxar” uma segunda, mas nem pensar numa terceira, quarta e muito menos numa quinta marcha. E já que estou fazendo uma analogia com marchas de veículo, posso afirmar que a leitura de Mulheres de Médicos também se encontra numa distância considerável do ponto morto, onde o carro fica parado, apenas com o motor funcionando.

A história não tem plot twists interessantes nem uma história que prende por completo a atenção dos leitores como Médicos em Perigo, mas o seu enredo é fluido e algumas situações conseguem fazer com que os leitores não desviem o foco do enredo.

Comecei a ler o livro pensando se tratar de um suspense, mas depois, enquanto avançava na leitura fui descobrindo que se tratava de um drama com pitadas consideráveis de romance e bem caliente. No enredo, a esposa de um médico muito conceituado que trabalha num tranquilo, mas conceituado hospital, trai o seu marido com outros médicos casados que também trabalham nesse hospital. Para não estragar a história com spoilers, vou dizer apenas que o médico traído descobre a infidelidade de sua mulher e esse escândalo acaba transformando a melancólica e monótona comunidade médica e universitária num verdadeiro caldeirão de inquietações.

Já alerto que a história tem muitas explicações técnicas envolvendo a rotina de um hospital como cirurgias, exames e o dia a dia de médicos e enfermeiros que são descritos em detalhes. Para aqueles leitores que gostam, sem dúvida, será um prato cheio. Por outro lado, o enredo com um grande número de personagens pode deixar a leitura confusa em algumas partes, mas nada que atrapalhe. Talvez, incomode; mas atrapalhar, não.

Para quem não sabe, Frank G. Slaughter é o pseudônimo de C.V. Terry que além de romancista também foi um médico americano. Nem preciso explicar o porquê de seus livros que venderam mais que 60 milhões de cópias, abordem apenas temas ligados à área médica.

Mulheres de Médicos foi publicado originalmente em 1967, mas de lá pra cá ganhou várias reedições através da Record, Nova Cultural e a mais recente lançada pela BestSellers em 1985.

Aqueles que quiserem arriscar a leitura encontrarão o livro por preços módicos nos sebos.

09 junho 2024

Chegando o momento de limpar as estantes e organizar os livros. Olha... no meu caso, é barra... pesada.

Amo ler, mas amo de paixão; prova disso é manter um blog dedicado a literatura por mais de 13 anos, mas quando o assunto é limpar e reorganizar estantes... o foco de interesse muda. Melhor, esse foco desvanece. Sei que muitos de vocês que estão lendo esse texto podem estar achando que sou incoerente porque quem gosta de ler também gosta de limpar o “berço” de seus “bebês” e reorganizá-los “confortavelmente” em suas “caminhas”. Mas eu não. Galera, me desculpem se cometi alguma ojeriza, mas estou sendo sincero com vocês, limpar estantes de livros, pelo menos a minha é barra pesada.

Costumo dizer que a estante da minha sala de leitura é uma estante de leitor guloso daqueles que apesar de terem uma “montanha” de obras ainda não lidas, vivem programando as compras de novos livros. E foi dessa maneira que os “berçários” dos meus “bebês” foram concebidos.

Quando contratei um marceneiro, amigo meu, para fazer o serviço, mesmo sabendo que os meus quinhentos e poucos livros caberiam tranquilamente num único conjunto de prateleiras, acabei pedindo que ele fizesse mais um conjunto. Pensei comigo: “tenho que ter espaço para acomodar os novos “bebês” que ainda irei adquirir. Resultado: para não deixar um conjunto de prateleiras vazias tive que redistribuir os livros nos dois espaços. Se por um lado foi bom já que essa redistribuição fez com que eu pudesse classifica-los por gêneros, por outro lado, as estantes ficaram com alguns “buracos” devido a minha ganância típica dos devoradores de livros. E assim, vem um novo resultado: muito mais espaços para limpar.

Estas duas estantes feitas em madeira branca MDF e fixadas em duas paredes (central e lateral) são altas, por isso necessito de uma escadinha para poder limpá-las no topo.

O processo é mais ou menos assim, primeiro: subo na escada e retiro todos os livros respeitando a sua classificação por gêneros; segundo: limpo toda a estante, primeiro com um pano seco, depois com um pano úmido e por fim com um lustra-móveis; terceiro: passo o espanador nos quinhentos e poucos “bebês”; e ufaaa, o quarto: recoloco todos os livros bem ajeitadinhos nas estantes.

Galera, no dia dedicado a essa limpeza dispenso a caminhada e a bicicleta ergométrica porque as subidas e descidas na “carrasca” da tal escadinha foram tantas que as pernas começam a miar.

Pois é, poderia até pedir para que a dona Ivone fizesse esse serviço para mim, mas acontece que ela já tem uma certa idade e por isso pensar em enfrentar a “carrasca de degraus” já seria um risco. Ainda me lembro da primeira vez que a dona Ivone chegou em casa – quando eu e Lulu a contratamos – olhou para as estantes e depois olhou para a escadinha e torceu a boca como que dizendo: “Filho, sinto muito, mas não dá”. ‘Entonce’, acredito que naquele momento, se a “carrasca” da escadinha fosse gente, o seu ego teria insuflado.

Ah! Antes que me esqueça; dona Ivone é a nossa faxineira. Ah! Antes, também, que me esqueça; Lulu me ajuda sim; revezamos na limpeza, apesar dos nossos afazeres profissionais. Afinal, pelo menos por enquanto, somos os únicos com coragem para enfrentar a dona “carrasca”.

Ok. Vou responder uma outra pergunta que vocês devem estar fazendo: “Por que não chamo uma outra pessoa para fazer esse trabalho?”.  Irmãos? Esqueça. Sobrinhos? Esqueça. Primos? Esqueça. Amigos? Também, esqueça. Todos eles tem as suas vidas, os seus aferes que são muitos. – “Beleza; então, pague uma outra pessoa ou um amigo ou colega para bater de frente com a “carrasca” – Já fiz isso, mas prefiro não arriscar novamente. Por que? Simples: No dia seguinte, tive que reorganizar os livros já que grande parte estava fora do lugar, sem contar alguns “bebês” que levaram um tombo “básico” do berço e se machucaram.

E pensar que brevemente teremos de reformar essa sala. Decidimos colocar gesso nas paredes e também no teto, além de mudar a iluminação. Lulu me disse tentando manter o ânimo: “Tem certeza disso?”. Depois, sem esperar a minha resposta, tacou: “Você tem razão; os nossos “bebês” merecem”. Mal sabe ela, o sufoco que já estou sentindo, bem antes da reforma.

E agora, vamos nós com a limpeza da nossa estante (rs). 

E assim, vamos nós com a limpeza da nossa estante (rs).

 

05 junho 2024

Um livro + um filme com plot twists que me impactaram (Parte II)

Estou aqui, novamente, galera. Na postagem anterior publiquei a primeira parte da lista de 10 livros e filmes com plot twists surpreendentes, daqueles que, de fato, impactam. Espero que os dois listões ajudem tanto os leitores quanto os cinéfilos na escolha de um livro ou filme.

Convido também os seguidores e demais visitantes do blog a deixar em seus comentários, sugestões de outros livros ou produções de cinema com plot twists impactantes. Sem mais delongas vamos para a conclusão da nossa lista com a publicação de mais cinco obras literárias e cinematográficas. Vou seguir a sequência do post anterior (ver a parte I aqui)

06 – Por trás de seus olhos e Corra!

Livro: Por trás de seus olhos (Sarah Pinborough)

Na minha opinião, a melhor definição para o plot twist de Por trás de seus olhos é “fora da casinha”. Que plot louco. Aliás, muito, mas muito louco; além da conta; surreal, na verdade. Sei lá como poderia definir aquilo.

O enredo criado por Sarah Pinborough é excelente e consegue prender o leitor. A sua narrativa cria em nós expectativas dúbias com relação aos personagens. Você não sabe quem está mentindo, quem está falando a verdade, enfim, quem é o gato ou o rato.

Então, quando os segredos desses personagens começam a ser desvendados, principalmente os segredos sinistros do estranho casal David e Adele, o leitor fica piradão porque a sua curiosidade cresce de tal maneira, ao ponto de você ir ‘engolindo’ as páginas para descobrir o que fulana ou sicrano estão tramando.

Mas aí, no ápice do enredo vem aquele final louco da porr... O que foi aquilo cara?!! Acho que a autora estava ‘mutcho loka’ naquele momento. Apesar de ter ficado completamente estonteado com aquele plot twist, gostei bastante do livro.

Informações técnicas

Editora: Intrínseca

Edição: 2017

Capa: Brochura

Páginas: 352

Dimensões: ‎ 23.2 x 15 x 2.2 cm

Filme: Corra! (Jordan Peele)

Vamos lá; vou tentar encontrar uma definição para a reviravolta que acontece perto do final no filme dirigido por Jordan Peele. Com certeza, o termo que mais se encaixaria seria: sombrio. Isto mesmo, achei aquele plot twist hiper-sombrio. Gostei bastante; apesar de vários cinéfilos não terem gostado.

Os melhores pontos do filme estão na construção do seu protagonista e em como a narrativa consegue envolver o público em uma atmosfera sufocante de perigo. São esses dois pontos – além do plot twist - que fizeram o público sair extasiado dos cinemas na época do lançamento do filme.

A atmosfera de perigo e tensão deixa quem assiste incomodado, nervoso e então, quando o personagem principal descobre o “balaio de gato” que se meteu, viche! Essa atmosfera enervante do filme explode.

Na trama, o personagem Chris (interpretado pelo ator britânico Daniel Kaluuya) é um jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose (Allison Williams). A princípio, ele acredita que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz negro, mas, com o tempo, Chris percebe que a família esconde algo muito mais perturbador. E quando descobre qual é essa aura perturbadora que a família de sua namorada consegue esconder muito bem... sai de baixo!

Informações técnicas

Ano de lançamento: 2017

Gênero: Terror/Suspense

Duração: 104 minutos

Elenco: Daniel Kaluuya, Alisson Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford e Caleb Landry Jones

07 – Não conte a ninguém e Um sonho de liberdade

Livro: Não conte a ninguém (Harlan Coben)

Toda vez que vou comentar algo sobre o livro de Harlan Coben tenho o hábito de fazer uma analogia com um bolo de várias camadas; em cada uma delas, um recheio diferente. Por isso mesmo, cada uma dessas camadas apresenta uma surpresa para o nosso paladar. “Entonce”, esta é a melhor definição que encontro para Não Conte a Ninguém, considerado, até agora o melhor livro de toda a sua carreira literária de Coben.

Não Conte a Ninguém não é aquele livro que você vai lendo, vai lendo e  pensando apenas na chegada do plot twist final. Pelo contrário, a obra de Coben tem várias reviravoltas ao longo da trama que vão preparando o leitor para o grand finale. E quando esse grand finale chega... Coben em menos de meia página, arremata a história de uma maneira que deixa qualquer leitor de queixo caído. Este plot twist “miserável” (no bom sentido) muda grande parte do que você já tinha lido, além de alterar algumas reviravoltas anteriores. Não esperava de maneira alguma por aquela reviravolta no final da trama.

Não conte a ninguém foi um marco na carreira do escritor e até hoje é o seu livro mais popular.

No enredo, bem resumidamente, quando a mulher do conhecido médico Dr. David Beck é brutalmente assassinada, ele se torna o principal suspeito. Entretanto, por falta de provas, o caso acaba sendo fechado. Oito anos se passam e a polícia faz uma nova descoberta no local em que o corpo da mulher foi encontrado: dois cadáveres, que são motivo suficiente para reabrir o caso - e para lançar novas suspeitas sobre David Beck.

Como já expliquei acima, imagine, o enredo desse romance como um delicioso bolo com várias camadas de sabores diferentes, cada um desses sabores... um plot twist saboroso.

Informações técnicas

Editora: Arqueiro

Edição: 2009

Capa: Brochura

Páginas: 256

Dimensões: 22.8 x 15.6 x 1.8 cm

Filme: Um sonho de liberdade (Frank Darabont)

O plot twist no final do filme “Um sonho de liberdade” baseado em um conto escrito por Stephen King é estupidamente delicioso. Você gosta de uma cervejinha? Já tomou uma estupidamente gelada? Então, imagine a reviravolta final do filme de Frank Darabont (“O Nevoeiro”, também do Tio King) como sendo essa cervejinha que você toma com muito prazer. Uma reviravolta inteligente, emocionante e mais do que redentora.

“Um sonho de liberdade” se passa em 1947, quando o banqueiro Andy Dufresne (Tim Robbins) é condenado pelo assassinato de sua esposa e do amante dela, sendo sentenciado a duas prisões perpétuas a serem cumpridas na Penitenciária Estadual de Shawshank. Lá, ele fica amigo do contrabandista Ellis Boyd "Red" Redding (Morgan Freeman), outro detento que também está servindo em prisão perpétua. "Red" adquire um pequeno martelo de geólogo e depois um pôster de Rita Hayworth a pedido de Andy. Quando você descobre o porquê desse pedido, vem a deliciosa surpresa, o delicioso plot twist a ser saboreado com “ares” de uma cervejinha estupidamente gelada.

Informações técnicas

Ano de lançamento: 1994

Gênero: Drama

Duração: 142 minutos

Elenco: Morgan Freeman e Tim Robbins

08 – Pequenas grandes mentiras e O sexto sentido

Livro: Pequenas grandes mentiras (Liane Moriarty)

A leitura de Pequenas grandes mentiras é bem fluida e a trama reserva algumas reviravoltas incluindo o plot twist final bem ao estilo “Hercule Poirot”. Não tem como não fazer uma analogia com os livros do famoso detetive belga escritos por Agatha Christrie. Não estou querendo dizer que Moriarty “implantou” em seu enredo um detetive para solucionar um crime que acontece logo no início da história, mas só é esclarecido no final. Nada disso; esqueça o detetive inteligente e com uma alta capacidade de dedução. O que estou querendo explicar é que nas últimas páginas de Pequenas grandes mentiras a autora reúne todos os principais personagens num local – uma varanda, para ser mais específico – e então, pimba! O culpado pela morte de fulano é revelado. Mais do que isso, o nome da vítima também é revelado. 

Taí! Méritos para Moriarty que conseguiu criar dois plot twists finais numa tacada só: a revelação do nome do criminoso (a) e também do nome da vítima. Bem diferente dos livros policiais onde a vítima é conhecida logo no início, deixando os holofotes para o seu algoz que é revelado apenas no “The End” da trama.

Achei esse estilo de criação de um plot twist muito interessante. Prende bem mais a nossa atenção.

Informações técnicas

Editora: Intrínseca

Edição: 2015

Capa: Brochura

Páginas: 400

Dimensões: 22.8 x 16 x 2.2 cm

Filme: O sexto sentido (M. Night Shyamalan)  

 

 “O sexto sentido” imortalizou a frase: “Eu vejo gente morta” pronunciada pelo, na época, garoto Joel Osment que viveu nas telas uma criança que via o espírito de pessoas mortas à sua volta.

Juro que pensei duas, três, quatro e até mesmo cinco vezes se colocaria ou não nessa lista o filme de M. Night Shyamalan. Não que o filme seja ruim, muito longe disso; o motivo foi apenas a possível falta de interesse que os cinéfilos passaram a ter pela produção. Este fenômeno curioso aconteceu por culpa do seu estrondoso sucesso que invadiu as redes sociais e as mídias de um modo geral, fazendo com que ao longo desses 25 anos, o seu final tão impactante deixasse de ser tão impactante por causa dos inúmeros spoilers que rolaram no boca a boca e também nas redes. Aliás, memes sobre “O Sexto Sentido” é o que não faltam nos Faces, Insta e X “da vida”. Mas para aqueles que ainda não conhecem o final da trama de Shyamalan, podem se preparar para o impacto. Mas tudo bem, decidi por incluir o filme na lista e aí está ele.

“O sexto sentido” traz Bruce Willis no papel de um conceituado psicólogo infantil, Dr. Malcolm Crowe, que vive atormentado pela terrível lembrança de um jovem paciente que ele não foi capaz de ajudar no passado. Quando o psicólogo encontra Cole Sear (Haley Joel Osment), um garoto de 8 anos assustado e confuso, com um problema similar, Dr. Crowe procura redimir seu erro do passado, fazendo tudo que pode pelo menino. A surpresa final para os poucos cinéfilos que ainda a desconhecem é um soco no estômago. Pontos para M. Night Shyamalan.

Informações técnicas

Ano de lançamento: 1999

Gênero: Drama/Suspense

Duração: 107 minutos

Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment e Toni Collette)

09 – As sobreviventes e Clube da luta

Livro: As sobreviventes (Riley Sager)

As sobreviventes é mais um exemplo de livro com várias reviravoltas e não apenas com um plot twist final. Apesar de ter descoberto o último plot algumas páginas antes do “the end” não posso negar que a trama criada por  Riley Sager prendeu bastante a minha atenção. Mesmo tendo “matado” o plot twist principal do romance, ele é fantástico e por isso, torço para aqueles que forem ler o livro que não o descubram antes.

As sobreviventes tem outras reviravoltas menores no decorrer da trama que também provocam surpresas na galera, além disso, a escrita de Riley Sager também é muito fluida.

O enredo explora o drama de três mulheres estranhas – Quincy, Lisa e Samantha – ligadas por traumas semelhantes. A história é narrada, em grande parte, em primeira pessoa pela personagem Quincy Carpenter.

Há 10 anos, quando ainda era uma estudante universitária, ela viajou durante as férias com os seus melhores amigos para um chalé isolado, localizado próximo a uma floresta, o Chalé Pine. Quincy retornou sozinha. Ela foi a única vítima que restou de um crime pavoroso. Um bloqueio na memória de Quincy não a deixa se lembrar dos acontecimentos daquela noite horripilante, e agora a jovem tenta seguir em frente, criando um mundo totalmente separado daquilo que viveu. Ou sobreviveu ...

Mas quando algo terrível acontece com uma das outras duas sobreviventes, uma delas procura Quincy trazendo à luz os segredos obscuros de cada uma dessas sobreviventes.

Informações técnicas

Editora: Gutemberg

Edição: 2017

Capa: Brochura

Páginas: 336

Dimensões: 22.8 x 16 x 2 cm

Filme: Clube da Luta (David Fincher)

Em “O Clube da Luta”, Edward Norton é um sujeito insatisfeito com sua vida e carreira. Ele sofre de insônia e constantemente frequenta grupos de apoio para se sentir mais vivo. Durante uma viagem de negócios, ele conhece Tyler Durden, um carismático vendedor de sabonetes e anarquista. Juntos, eles formam o Clube da Luta, um espaço secreto onde homens lutam para extravasar suas frustrações. Tudo vai bem até que uma mulher sensual e excêntrica (Helena Bonham Carter) entra na jogada e desencadeia uma situação fora de controle, rumo ao caos.

Quando o personagem de Norton que também é o narrador da trama resolve dar um basta nesta história, Tyler desaparece. É na sua busca frenética pelo seu sócio que o narrador descobre algo que explode sua cabeça (assim como a nossa).

Informações técnicas

Ano de lançamento: 1999

Gênero: Drama

Duração: 139 minutos

Elenco: Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter

10 – Deixei você ir e Psicose

Livro: Deixei você ir (Clare Mackintosh)

O plot de Deixei você ir é incrível e, com certeza, vai surpreender os leitores. Logo no final da primeira parte do enredo somos apresentados a uma das reviravoltas mais fantásticas que eu já vi nos meus muitos anos de leitor. Levei um verdadeiro tapa na cara, e depois desse tapa não via a hora de chegar ao fim da narrativa para saber o seu desfecho. Perto do final vem outro tapa e bem dado.

Em Deixei Você Ir, uma criança de cinco anos morre atropelada em uma rua de Bristol, Inglaterra, depois de ter soltado a mão da mãe

em um dia chuvoso. O motorista do carro que o atinge acelera e foge. Desvendar sua morte vira um caso para o detetive Ray e seus colegas, Kate e Stumpy. Determinado a encontrar o assassino, Ray se vê consumido a ponto de colocar tanto a vida profissional quanto a pessoal em jogo.

Jenna, assombrada pela morte do menino, abandona tudo e se muda para uma pequena cidade costeira do País de Gales. Ela passa os dias em seu chalé tentando esquecer as lembranças do terrível acidente e aos poucos começa a ter algo parecido com uma vida normal e vislumbrar a felicidade em seu futuro. Mas o passado vai alcançá-la, e as consequências serão devastadoras.

Informações técnicas

Editora: Intrinseca

Edição: 2017

Capa: Brochura

Páginas: 384

Dimensões: 22.86 x 16 x 2.03 cm

Filme: Psicose (Alfred Hitchcock)

Cá entre nós, não há como falar de reviravoltas sem citar o clássico atemporal “Psicose”. Considerado até hoje um dos melhores filmes de Hitchcock, “Psicose” nos apresenta ao icônico personagem Norman Bates. A trama acompanha a secretária Marion Crane, que acaba indo parar num motel decadente gerenciado por Norman, o Motel Bates.

Norman é o típico exemplo do sujeito simpático e tímido, mas também estranho. Com o desenrolar da trama, descobrimos que ele tem uma mãe controladora e doentia. Mais tarde, Marion acaba sendo assassinada a facadas pela mãe de Norman. Agora a irmã da jovem, Lila, tenta descobrir a verdade sobre o desaparecimento de Marion. O plot twist deste filme é provavelmente um dos melhores do cinema; um baita clássico.

Informações técnicas

Ano de lançamento: 1960

Gênero: Terror/Suspense

Duração: 109 minutos

Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles e John Gavin

Taí galera, espero que vocês tenham apreciado a nossa lista. Fiquem a vontade para indicar em seus comentários outros livros e filmes com plot twists capazes de dar um nó em nossas cabeças.

Inté!

 

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