Acreditem. Nesta época de dancinhas do Tik Tok,
videogames e endeusamento de influenciadores digitais, ainda existem clássicos
literários do passado com o poder de conquistar a Geração Alfa. Mas o que é Geração
Alfa ou Alpha – como alguns preferem escrever? Esta geração é composta pelos
nascidos entre 2010 e 2025. Eles são, em sua grande maioria, filhos da geração
Millennial (nascidos entre 1981 e 1994) e sucedem a geração Z (nascidos entre
1995 e 2009), sendo a geração mais atual no mundo.
Os Alfas nasceram e estão crescendo em um mundo
altamente tecnológico e conectado. Mesmo antes de andar, já estão conectados e
interagindo com aparelhos digitais. Os joguinhos, videogames, redes sociais
começam a fazer parte do dia a dia dessas crianças muito, mas muito cedo,
ocupando toda a sua rotina não deixando espaço para as brincadeiras ao ar
livre, relacionamentos sociais com outros amiguinhos e principalmente não
deixando espaço para a leitura de bons livros.
Por toda essa influência do meio digital na vida da ‘Geração
Alfa”, a responsabilidade dos pais aumenta. Cabe a eles encontrar meios de despertar
o prazer da leitura nos pequenos e, acreditem, obras escritas há décadas ou até
mesmo há mais de um século podem ajudar nessa missão.
É importante frisar que não tenho nada contra os
clássicos contemporâneos para essa faixa etária. Portanto que venham sagas como
A Rainha Vermelha, A Seleção e Harry Potter (aqui, aqui, aqui, esse aqui, mais aqui, novamente aqui e
finalmente aqui) mas não posso negar que os clássicos infanto-juvenis dos anos
60 e 70 ou pasmem até de anos anteriores tem ‘um Q à mais’ que falta para essas
obras contemporâneas. E é esse “quezinho a mais” que tem o poder de despertar o
interesse nos jovens leitores de hoje, afastando-os um pouco mais da fantasia
distópica ou então do poderio tecnológico de hoje dominado pelo Tik Tok e por influencers digitais. Ao
mesmo tempo esses clássicos antigos ainda tem força suficiente para despertar a
magia do prazer da leitura em nossas crianças alfas.
Não posso negar que autoras como Victoria Aveyard, Kiera
Cass e J.K. Rowling - através de uma linguagem fluida e enredos criativos -conseguiram
ganhar a confiança e simpatia de milhares de jovens leitores, mas não há como
compararmos as suas obras com as obras de verdadeiros cânones da literatura
infanto-juvenil de décadas atrás. Entres esses cânones cito: Júlio Verne,
Alexandre Dumas; e aqui da nossa terrinha posso citar dois: Monteiro Lobato e
José Mauro de Vasconcelos.
São autores que também acredito, tem o poder de
afastar a ‘Geração Alfa’ das famigeradas dancinhas do Tik Tok e da interferência
dos nossos influenciadores digitais. Autores de livros que os pais de hoje
deveriam indicar aos seus filhos. E basta indica-los porque se esses jovens, de
fato, tiverem a verve da leitura escondinha no fundo da alma, essa verve, com
toda a certeza, irá se aflorar.
Escolhi cinco clássicos antigos que irão fisgar
facilmente a atenção dos jovens leitores de hoje. Vamos a eles.
01
– Vinte mil léguas submarinas (Júlio Verne)
Para aqueles que acham que Júlio Verne perdeu o poder
de encantar os jovens leitores de hoje, apresento-lhes: Vinte mil léguas submarinas, um de seus mais famosos romances. A
obra continuas ganhando novas edições em novos formatos ao longo de séculos –
percebam que eu disse séculos e não décadas. Vinte mil léguas submarinas se tornou um verdadeiro clássico da
literatura mundial com a capacidade de romper a linha do tempo e continuar
conquistando jovens leitores ao longo dos anos.
A narrativa de um dos criadores da ficção científica é
fluida e cativante, sem enrolações. A bordo do submarino Nautilus, comandado
pelo enigmático Capitão Nemo, o professor Aronnax, seu fiel criado Conseil e o
arpoeiro Ned Land embarcam em uma jornada extraordinária.
À medida que exploram os segredos do fundo do mar,
descobrem incríveis criaturas marinhas, cidades submersas e os mais profundos
mistérios do oceano. Este clássico da literatura de aventura combina ciência,
suspense e a imensidão do mar, desafiando os limites da imaginação e do conhecimento
humano. Você ainda acha que esse enredo vai passar despercebido pelos jovens
leitores de hoje?
02
– Meu pé de laranja lima (José Mauro de Vasconcelos)
A história do pequeno Zezé, que aprendeu a usar sua
imaginação e habilidade de contar histórias para sobreviver em um ambiente
violento, já ganhou o mundo.
E para aqueles que acham o enredo de O meu pé laranja lima piegas e sem
capacidade para prender a atenção dos jovens da ‘Geração Alfa’ lá vai algumas
peculiaridades da obra de José Mauro de Vasconcelos. Anote aí: em quase 54 anos de seu lançamento,
o livro, exclusivo da Melhoramentos, vendeu mais de 2 milhões de exemplares só
no Brasil onde teve 150 edições nos mais variados formatos. Tem mais: fora do
país, a história foi traduzida em 15 idiomas (entre eles turco, coreano,
catalão e mandarim) e publicada em 23 países. Outra ‘cosita’: no Japão e na
Coreia ganhou uma versão em forma de mangá (história em quadrinhos).
A história de um menino chamado Zezé e que encantou o
mundo é bem simples, mas... emocionante. Zezé vive em uma família muito pobre,
na zona norte do Rio de Janeiro. Arteiro, o moleque de quase 6 anos de idade
tem o diabo no corpo e apanha de todo o mundo: pai, irmãos, vizinhos etc. O seu
único consolo é um pé de laranja lima, que lhe serve de confidente. Até que
surge Manuel Valadares, o Portuga. De “inimigo”, o imigrante português se torna
o melhor amigo de Zezé.
03
– O jardim secreto (Frances Rodgson Burnett)
O Jardim Secreto é uma obra que venceu o tempo, capaz de
encantar crianças e adolescentes independentemente da época em que eles
nasceram.
É impossível não se apaixonar pelos personagens
criados pela escritora inglesa Frances Rodgson Burnett. Eles fazem parte de um
enredo simples, mas ao mesmo tempo carregado de uma carga emocional enorme. Uma
narrativa da qual podemos tirar muitas lições de vida.
Lendo O Jardim
Secreto, cheguei a conclusão de que as histórias infanto-juvenis
contemporâneas são por demais simplórias se comparadas com a obra de Frances
Burnett e outras similares. Tenho certeza de que a ‘Geração Alfa’ irá amar.
O
livro conta a história de Mary Lennox, uma
menina solitária que perde os pais em um surto de cólera na Índia e, como
consequência, é enviada para uma mansão em Yorkshire para morar com seu tio
misterioso. Cheia de incertezas diante da nova realidade cinzenta da
Inglaterra, ela encontra consolo na natureza ao seu redor. E, quando descobre a
existência de um jardim secreto nos terrenos da mansão e encontra a chave
perdida, um mundo mágico se descortina diante de seus olhos. A menina e a
natureza desabrocham juntas, em um percurso repleto de companheiros improváveis
e amigos para vida inteira.
04
- As caçadas de Pedrinho (Monteiro Lobato)
Jamais poderia esquecer de incluir um livro de
Monteiro Lobato nessa lista. As obras do autor de Taubaté continuam embalando
gerações. Seus livros são atemporais, ou seja, encantaram a geração jovem de
ontem, continuam encantando hoje e, certamente, continuarão despertando o
prazer da leitura nas crianças e adolescentes que ainda estão por vir.
Na história, escrita em 1933, Pedrinho, ao lado de
Narizinho, Emília, Rabicó e Visconde de Sabugosa, vai à caça de uma
onça-pintada escondida na mata fechada do capoeirão de taquaraçus, próxima ao
Sítio do Picapau Amarelo. E aí, o que acontece? Se vocês torcem pela onça,
Lobato nos mostra que há sempre uma forma de se defender coletivamente, sem
depender das ações do governo, que no livro só atrapalha.
A criançada e também os adolescentes irão vibrar com a
assembleia dos bichos, que se reúnem para decidir no voto, depois de ouvidas
todas as opiniões, até mesmo as mais disparatadas, a melhor forma de se
livrarem dos ataques dos humanos.
Um rinoceronte fugido de um circo também passeia pelas
páginas de Caçadas de Pedrinho em uma divertida e absurda crítica à burocracia
já tão presente no país naquela época. Monteiro Lobato conta uma história que é
parte da memória afetiva de sucessivas gerações, narrando de maneira criativa
as artimanhas das crianças, zombando das complicações do mundo adulto e
inventando a infância brasileira.
05
– Os três mosqueteiros (Alexandre Dumas)
OsTrês Mosqueteiros é considerado um divisor de águas no
gênero, com o poder de “enfeitiçar e seduzir” leitores há mais de 160 anos.
Realmente, não dá para comparar Os Três
Mosqueteiros com os best-sellers contemporâneos lançados há pouco tempo e
que já caíram no esquecimento total. Livros que brilharam somente por alguns
meses ou poucos mais.
Além disso, Dumas conseguiu uma verdadeira proeza na
época: popularizar um romance histórico, transformando-o em capa e espada,
mesclando personagens reais e imaginários.
A história é conhecida por adultos, crianças,
adolescentes e idosos, ou será que você não se recorda daquele jovem gascão, de
18 anos, destemido e aventureiro que um dia resolve deixar o seu velho pai para
tentar realizar o sonho de se tornar membro do corpo de elite dos guardas do
rei da França, os famosos mosqueteiros. Chegando a Paris, após algumas
aventuras e confusões, esse jovem chamado D’Artagnan conhece três mosqueteiros
apelidados de "os inseparáveis”: Athos, Porthos e Aramis. Juntos, os
quatro enfrentam grandes aventuras a serviço do rei da França, Luís XIII e
principalmente, da rainha, Ana d’Áustria.
Os
três mosqueteiros ainda tem força suficiente para encantar
os jovens leitores nascidos a partir de 2010, mesmo tendo sido escrito há mais
de 180 anos.
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