5 clássicos antigos da literatura infanto-juvenil capazes de despertar o interesse da leitura na ‘Geração Alfa’

18 setembro 2024

Acreditem. Nesta época de dancinhas do Tik Tok, videogames e endeusamento de influenciadores digitais, ainda existem clássicos literários do passado com o poder de conquistar a Geração Alfa. Mas o que é Geração Alfa ou Alpha – como alguns preferem escrever? Esta geração é composta pelos nascidos entre 2010 e 2025. Eles são, em sua grande maioria, filhos da geração Millennial (nascidos entre 1981 e 1994) e sucedem a geração Z (nascidos entre 1995 e 2009), sendo a geração mais atual no mundo.

Os Alfas nasceram e estão crescendo em um mundo altamente tecnológico e conectado. Mesmo antes de andar, já estão conectados e interagindo com aparelhos digitais. Os joguinhos, videogames, redes sociais começam a fazer parte do dia a dia dessas crianças muito, mas muito cedo, ocupando toda a sua rotina não deixando espaço para as brincadeiras ao ar livre, relacionamentos sociais com outros amiguinhos e principalmente não deixando espaço para a leitura de bons livros.

Por toda essa influência do meio digital na vida da ‘Geração Alfa”, a responsabilidade dos pais aumenta. Cabe a eles encontrar meios de despertar o prazer da leitura nos pequenos e, acreditem, obras escritas há décadas ou até mesmo há mais de um século podem ajudar nessa missão.

É importante frisar que não tenho nada contra os clássicos contemporâneos para essa faixa etária. Portanto que venham sagas como A Rainha Vermelha, A Seleção e Harry Potter (aqui, aqui, aqui, esse aqui, mais aqui, novamente aqui e finalmente aqui) mas não posso negar que os clássicos infanto-juvenis dos anos 60 e 70 ou pasmem até de anos anteriores tem ‘um Q à mais’ que falta para essas obras contemporâneas. E é esse “quezinho a mais” que tem o poder de despertar o interesse nos jovens leitores de hoje, afastando-os um pouco mais da fantasia distópica ou então do poderio tecnológico de hoje dominado  pelo Tik Tok e por influencers digitais. Ao mesmo tempo esses clássicos antigos ainda tem força suficiente para despertar a magia do prazer da leitura em nossas crianças alfas.

Não posso negar que autoras como Victoria Aveyard, Kiera Cass e J.K. Rowling - através de uma linguagem fluida e enredos criativos -conseguiram ganhar a confiança e simpatia de milhares de jovens leitores, mas não há como compararmos as suas obras com as obras de verdadeiros cânones da literatura infanto-juvenil de décadas atrás. Entres esses cânones cito: Júlio Verne, Alexandre Dumas; e aqui da nossa terrinha posso citar dois: Monteiro Lobato e José Mauro de Vasconcelos.

São autores que também acredito, tem o poder de afastar a ‘Geração Alfa’ das famigeradas dancinhas do Tik Tok e da interferência dos nossos influenciadores digitais. Autores de livros que os pais de hoje deveriam indicar aos seus filhos. E basta indica-los porque se esses jovens, de fato, tiverem a verve da leitura escondinha no fundo da alma, essa verve, com toda a certeza, irá se aflorar.

Escolhi cinco clássicos antigos que irão fisgar facilmente a atenção dos jovens leitores de hoje. Vamos a eles.

01 – Vinte mil léguas submarinas (Júlio Verne)

Para aqueles que acham que Júlio Verne perdeu o poder de encantar os jovens leitores de hoje, apresento-lhes: Vinte mil léguas submarinas, um de seus mais famosos romances. A obra continuas ganhando novas edições em novos formatos ao longo de séculos – percebam que eu disse séculos e não décadas. Vinte mil léguas submarinas se tornou um verdadeiro clássico da literatura mundial com a capacidade de romper a linha do tempo e continuar conquistando jovens leitores ao longo dos anos.

A narrativa de um dos criadores da ficção científica é fluida e cativante, sem enrolações. A bordo do submarino Nautilus, comandado pelo enigmático Capitão Nemo, o professor Aronnax, seu fiel criado Conseil e o arpoeiro Ned Land embarcam em uma jornada extraordinária.

À medida que exploram os segredos do fundo do mar, descobrem incríveis criaturas marinhas, cidades submersas e os mais profundos mistérios do oceano. Este clássico da literatura de aventura combina ciência, suspense e a imensidão do mar, desafiando os limites da imaginação e do conhecimento humano. Você ainda acha que esse enredo vai passar despercebido pelos jovens leitores de hoje?

02 – Meu pé de laranja lima (José Mauro de Vasconcelos)

A história do pequeno Zezé, que aprendeu a usar sua imaginação e habilidade de contar histórias para sobreviver em um ambiente violento, já ganhou o mundo.

E para aqueles que acham o enredo de O meu pé laranja lima piegas e sem capacidade para prender a atenção dos jovens da ‘Geração Alfa’ lá vai algumas peculiaridades da obra de José Mauro de Vasconcelos.  Anote aí: em quase 54 anos de seu lançamento, o livro, exclusivo da Melhoramentos, vendeu mais de 2 milhões de exemplares só no Brasil onde teve 150 edições nos mais variados formatos. Tem mais: fora do país, a história foi traduzida em 15 idiomas (entre eles turco, coreano, catalão e mandarim) e publicada em 23 países. Outra ‘cosita’: no Japão e na Coreia ganhou uma versão em forma de mangá (história em quadrinhos).

A história de um menino chamado Zezé e que encantou o mundo é bem simples, mas... emocionante. Zezé vive em uma família muito pobre, na zona norte do Rio de Janeiro. Arteiro, o moleque de quase 6 anos de idade tem o diabo no corpo e apanha de todo o mundo: pai, irmãos, vizinhos etc. O seu único consolo é um pé de laranja lima, que lhe serve de confidente. Até que surge Manuel Valadares, o Portuga. De “inimigo”, o imigrante português se torna o melhor amigo de Zezé.

03 – O jardim secreto (Frances Rodgson Burnett)

O Jardim Secreto é uma obra que venceu o tempo, capaz de encantar crianças e adolescentes independentemente da época em que eles nasceram.

É impossível não se apaixonar pelos personagens criados pela escritora inglesa Frances Rodgson Burnett. Eles fazem parte de um enredo simples, mas ao mesmo tempo carregado de uma carga emocional enorme. Uma narrativa da qual podemos tirar muitas lições de vida.

Lendo O Jardim Secreto, cheguei a conclusão de que as histórias infanto-juvenis contemporâneas são por demais simplórias se comparadas com a obra de Frances Burnett e outras similares. Tenho certeza de que a ‘Geração Alfa’ irá amar.

O livro conta a história de Mary Lennox, uma menina solitária que perde os pais em um surto de cólera na Índia e, como consequência, é enviada para uma mansão em Yorkshire para morar com seu tio misterioso. Cheia de incertezas diante da nova realidade cinzenta da Inglaterra, ela encontra consolo na natureza ao seu redor. E, quando descobre a existência de um jardim secreto nos terrenos da mansão e encontra a chave perdida, um mundo mágico se descortina diante de seus olhos. A menina e a natureza desabrocham juntas, em um percurso repleto de companheiros improváveis e amigos para vida inteira.

04 - As caçadas de Pedrinho (Monteiro Lobato)

Jamais poderia esquecer de incluir um livro de Monteiro Lobato nessa lista. As obras do autor de Taubaté continuam embalando gerações. Seus livros são atemporais, ou seja, encantaram a geração jovem de ontem, continuam encantando hoje e, certamente, continuarão despertando o prazer da leitura nas crianças e adolescentes que ainda estão por vir. 

Na história, escrita em 1933, Pedrinho, ao lado de Narizinho, Emília, Rabicó e Visconde de Sabugosa, vai à caça de uma onça-pintada escondida na mata fechada do capoeirão de taquaraçus, próxima ao Sítio do Picapau Amarelo. E aí, o que acontece? Se vocês torcem pela onça, Lobato nos mostra que há sempre uma forma de se defender coletivamente, sem depender das ações do governo, que no livro só atrapalha.

A criançada e também os adolescentes irão vibrar com a assembleia dos bichos, que se reúnem para decidir no voto, depois de ouvidas todas as opiniões, até mesmo as mais disparatadas, a melhor forma de se livrarem dos ataques dos humanos.

Um rinoceronte fugido de um circo também passeia pelas páginas de Caçadas de Pedrinho em uma divertida e absurda crítica à burocracia já tão presente no país naquela época. Monteiro Lobato conta uma história que é parte da memória afetiva de sucessivas gerações, narrando de maneira criativa as artimanhas das crianças, zombando das complicações do mundo adulto e inventando a infância brasileira.

05 – Os três mosqueteiros (Alexandre Dumas)

OsTrês Mosqueteiros é considerado um divisor de águas no gênero, com o poder de “enfeitiçar e seduzir” leitores há mais de 160 anos. Realmente, não dá para comparar Os Três Mosqueteiros com os best-sellers contemporâneos lançados há pouco tempo e que já caíram no esquecimento total. Livros que brilharam somente por alguns meses ou poucos mais.

Além disso, Dumas conseguiu uma verdadeira proeza na época: popularizar um romance histórico, transformando-o em capa e espada, mesclando personagens reais e imaginários.

A história é conhecida por adultos, crianças, adolescentes e idosos, ou será que você não se recorda daquele jovem gascão, de 18 anos, destemido e aventureiro que um dia resolve deixar o seu velho pai para tentar realizar o sonho de se tornar membro do corpo de elite dos guardas do rei da França, os famosos mosqueteiros. Chegando a Paris, após algumas aventuras e confusões, esse jovem chamado D’Artagnan conhece três mosqueteiros apelidados de "os inseparáveis”: Athos, Porthos e Aramis. Juntos, os quatro enfrentam grandes aventuras a serviço do rei da França, Luís XIII e principalmente, da rainha, Ana d’Áustria.

Os três mosqueteiros ainda tem força suficiente para encantar os jovens leitores nascidos a partir de 2010, mesmo tendo sido escrito há mais de 180 anos.

Postar um comentário

Instagram