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12 julho 2025

Os tempos mudaram! Está “chovendo” lançamentos e relançamentos de Stephen King. Destaque para “O Concorrente” que retorna acompanhado de um filme

Ainda hoje me lembro como era tenso ficar na expectativa do lançamento de um livro de Stephen King. Cara, era trash; alias muito trash, para todos nós, fás de carteirinha do mestre do terror. Primeiro vinham os boatos, depois as notícias desencontradas, na sequência as dúvidas, até que finalmente vinha a confirmação, mas a confirmação da publicação do livro nos ‘States”; quanto a sua tão aguardada chegada nas livrarias brasileiras, bem... nós, fãs do Tio King ainda tínhamos uma outra via crucis para enfrentar: a data da chegada da obra, aqui na ‘Terrinha’ já traduzida para o nosso idioma. Pois é, era um novo ciclo de agonia enfrentado pelos leitores.

Estou me referindo aos “áureos” e “sofridos” tempos de A Coisa (ainda na época da editora Objetiva e com aquela capa medonha e mal feita), Tripulação de Esqueletos, A Dança da Morte, A Espera de Um Milagre, e outras obras primas dos anos 80, 90 e algumas dos anos 2000, entre as quais posso citar Novembro de 63. E por falar nesse tal novembro do Tio King; cara... como esse livro gerou expectativas no Brasil com relação ao seu lançamento! Tanto é verdade que no dia de sua “aterrissagem” nas livrarias brasileiras, formaram-se filas enormes de leitores impacientes em adquirir o novo calhamaço do autor.

Mas recuperando a minha linha de raciocínio; estou contando tudo isso que expus no início da postagem porque estranhei a mudança radical no contexto envolvendo lançamentos de King. Cara, numa ‘lapada’ só teremos no mês de agosto um lançamento e um relançamento do autor. Considero O Garoto do Colorado um lançamento, pelo menos para nós leitores  brasileiros, porque apesar da obra ter sido publicada nos Estados Unidos e parte da Europa em 2005; só agora, no mês de agosto, ela chegará às livrarias tupiniquins. Quanto ao relançamento – O Concorrente – a história já havia sido publicada por aqui, pela Suma, em 1982.

Nova capa do relançamento de "O Concorrente"

Ah! Pensou que chegou ao fim a avalanche de lançamentos do Tio King para os leitores brasileiros?  Se pensou, errou; porquê em maio os fãs do autor ganharam um outro presentaço: o inédito Não Pisque que partiu para o abraço nos leitores brasileiros em 27 de maio de 2025. Galera, é muita emoção para todos nós que amamos os enredos criados pelo nosso tiozão.

Aproveitando esse assunto, quero escrever algo sobre o relançamento de O Concorrente que acontecerá no mesmo mês do lançamento do filme homônimo que na realidade é um remake da ´produção de 1987 com Arnold Schwarzenegger.

O motivo de escrever pela segunda vez um post sobre O Concorrente não tem nada a ver com a chegada de um filme baseado na obra e muito menos o “lançamento, praticamente, casado” de livro e filme. O motivo é outro: simplesmente, eu amei a obra literária e quero escrever novamente sobre ‘ela’. ‘Entonce’ como surgiu essa oportunidade, vamos à luta.

No post que publiquei ainda no primeiro ano da criação do blog, isso lá nos idos de 2011, enalteci o livro e critiquei o filme (veja aqui). Hoje, após quase 15 anos não mudo a minha opinião. Trata-se de um livraço; quanto ao filme, não posso fazer a mesma afirmação.

O livro O Concorrente é fantástico e não é a toa que o próprio Stephen King o considera o melhor dos cinco livros escritos pelo seu alter ego Richard Bachman.

Utilizando-se de uma narrativa extremamente vigorosa e realista, Bachman/King, transporta o leitor para um mundo futurista, em 2025  (frisando que o autor escreveu a história em 1982), dominado pelos meios de comunicação onde a televisão é a grande vedete. Ela invade os lares americanos saciando o desejo de sangue dos telespectadores através de uma rede de TV especialista em promover jogos onde o vencedor ganha como prêmio a vida e o perdedor, a morte. A impressão que temos, ao ler o livro, é que estamos retrocedendo à Roma dos gladiadores, mas à uma Roma do futuro.

Capa do livro publicado no Brasil em 1982

Nesse futuro distópico, os Estados Unidos afundaram em miséria, poluição e repressão. A única coisa que ainda funciona - e muito bem - é a televisão. Controlada por uma megacorporação implacável, a programação oferece ao povo o que ele mais deseja: violência, drama e sangue ao vivo. É nesse contexto sufocante que Ben Richards, um homem desesperado, sem emprego e com uma filha doente, aceita participar de O Foragido, o reality show mais mortal da grade: trinta dias de fuga ininterrupta, enquanto é caçado por assassinos profissionais. Cada passo seu é filmado. Se ele conseguir escapar com vida desse jogo, ele recebe uma grande quantia em dinheiro que poderá mudar a sua vida e mais do que isso, salvar a vida de sua filha.

O Ben Richards criado por King é um personagem complexo, movido pelo ódio que brota de sua alma por não ter dinheiro suficiente para salvar a filha. Esse ódio cresce ainda mais, quando ele é obrigado a se humilhar na frente de milhares de pessoas que passam a caçá-lo como um animal, querendo o seu sangue em troca da vida de sua filha. Essa personalidade conflituosa do personagem das páginas de King/Bachman não existe no brutamontes interpretado por Schwarzenegger que só pensa em fugir, lutar e bater.

O relançamento de O Concorrente, com uma nova tradução, faz parte de um projeto da editora Suma, já em andamento, para trazer de volta obras de King escritas sob o pseudônimo de Richard Bachman, explorando gêneros além do horror, como o de ficção científica presente neste livro.

Em "O Concorrente", remake do filme "O Sobrevivente", Glen Powell assume o papel que foi de Arnold Schwarzenegger na produção de 1987

Galera, vocês prestaram atenção nas linhas que eu escrevi nesse penúltimo parágrafo? Cara, tenha certeza de que eu quase surtei quando soube dessa informação. E não é para menos: a Suma decidiu relançar todas as histórias escritas pelo Tio King na época em que ele adotou o pseudônimo Richard Bachman. Isto quer dizer que ainda seremos presenteados com os relançamentos de A Auto-Estrada (1981), A Maldição do Cigano (1984) e Os Justiceiros (1996), os três com um novo layout e uma nova tradução, seguindo o mesmo projeto gráfico de A Longa Marcha lançado em 2023 e de O Concorrente que chega no mês de agosto.

Vamos também torcer para que dentro do pacote do projeto “Os Livros de Bachman” da Suma esteja Blaze, romance inédito de King, escrito antes de Carrie. Vale lembrar que King reescreveu, editou e atualizou a novela inteira.

Quanto a Rage (1977) publicado no Brasil com o título de Fúria é bom não alimentarmos nenhuma esperança já que após o tiroteio na escola Heath High, King anunciou a proibição do livro temendo que isso pudesse inspirar tragédias semelhantes. Fúria por um tempo continuou a estar disponível no Brasil em Os Livros Bachman. Por isso aqueles que tiverem um exemplar dessa obra publicada em 1977 pela editora Francisco Alves, guarde num cofre cercado de seguranças porque você tem em mãos um verdadeiro tesouro. Destaco ainda que em uma nota de rodapé no prefácio de Blaze, de 30 de Janeiro de 2007, King escreveu sobre Rage:. “Agora fora de catálogo, e é uma coisa boa.”

Pera aí, deixe-me escrever algumas linhas sobre o remake do filme medonho com Arnold Schwarzenegger. Vamos lá: o novo filme que vai se chamar “O Concorrente” – mesmo título do livro de Richard Bachman) - estreia em 06 de novembro de 2025 e será estrelado por Glen Powell, que assume o papel de Arnold Schwarzenegger, e conta com a direção de Edgar Wright. 4. Powell, para quem não sabe, interpretou o piloto Jake ‘Hangman’ Seresin em “Top Gun: Maverick”, um jovem e arrogante piloto da Marinha dos EUA. Ele também esteve presente no filme Twisters lnaçdo em 2024.

Tomara que o filme “O Concorrente” seja melhor do que o seu antecessor.

Valeu galera!

 

01 julho 2025

Chega ao Brasil em agosto o novo livro de Stephen King: "O Garoto do Colorado"

Pois é galera, e aproveitando o post anterior sobre Não Pisque, aquele livro de Stephen King que me fez comer uma bronha danada (leiam aqui e entenderão melhor) já emendo uma outra postagem sobre um outro lançamento do mestre do terror que deve aterrissar nas livrarias brasileiras no mês de agosto; para ser exato no dia 5 de agosto. Já ouviram ‘falar’ de The Colorado Kid ou O rapaz do Colorado (na tradução literal)? Entonce... a editora Suma – que publica os livros do autor no Brasil - já vinha prometendo em suas redes sociais o lançamento dessas duas histórias de King para 2025: Não Pisque para o primeiro semestre e Colorado Kid para o segundo. O primeiro chegou em maio e The Colorado Kid está prometido para esse segundo semestre do ano, mas sem uma data exata. Detalhe: a tradutora das duas obras é a excelente Regiane Winarski.

The Colorado Kid é um romance do gênero policial, publicado originalmente pela editora Hard Case Crime em 2005. O livro foi lançado inicialmente em uma edição de bolso pela editora especializada em crimes e mistério. Oito anos depois, em 2013, King lançaria também pela Hard Case, Joyland. Devido a boa aceitação, na época, a editora decidiu relançar The Colorado Kid em uma edição de bolso ilustrada em maio de 2019.

A história se passa em uma pequena ilha no Maine e é narrada por dois jornalistas veteranos, Vince Teague e Dave Bowie, que compartilham com a jovem estagiária Stephanie McCann o intrigante caso do “Colorado Kid”. O mistério gira em torno de um homem desconhecido encontrado morto em uma praia em 1980, cuja identidade e circunstâncias da morte só foram parcialmente descobertas depois de anos de investigação. Apesar dos avanços no caso, várias perguntas essenciais permanecem sem resposta, e é essa ausência de conclusão que forma o cerne da narrativa.

De acordo com o portal stephenking.com.br, o livro também levanta questões sobre a natureza do jornalismo e da busca pela verdade. Vince e Dave, com sua longa experiência na profissão, entendem que nem todos os mistérios podem ser resolvidos, e seu relato serve como um lembrete de que a busca pela verdade é muitas vezes mais importante do que as respostas que encontramos. Stephanie, representando uma nova geração, é inicialmente frustrada pela falta de um desfecho, mas sua interação com os veteranos sugere uma passagem de sabedoria, uma aceitação gradual de que a vida é composta de mistérios sem solução.

Por fim, trata-se de um livro bem curto e que foge aos padrões do autor que adora escrever verdadeiros calhamaços (rs). The Colorado Kid tem apenas 179 páginas. E deixei o melhor dessa postagem para o final: o livro já está em pré-venda em algumas livrarias virtuais. Eu vi lá na Amazon. E aí? gostaram?


28 junho 2025

Apesar do atraso, jamais poderia esquecer de um lançamento do tio King. “Não Pisque” já está nas livrarias

Galera, ser jornalista mesmo que em cidades médias ou pequenas não é fácil, ainda mais quando você tem um blog literário e... também...quando resolve se engajar numa causa que você julga justa e que irá beneficiar milhares de pessoas que, de fato, precisam dessa ajuda. Taí o meu caso: tenho os meus afazeres profissionais diários, que não são poucos; tenho o meu blog literário e por isso tenho de encontrar tempo para ler e escrever resenhas ou montar listas; e por fim, decidi me unir a milhares de pessoas e lutar pela derrubada de um veto do governo federal que achei injusto prá caralh... Aliás ainda continuo lutando ao lado dessas pessoas porque apesar do Veto 38 ao PL 5332 (ver aqui, aqui, mais aqui e novamente aqui) ter sido derrubado, o nosso digníssimo presidente do Senado, Davi Alcolumbre resolveu virar as costas para milhares de aposentados por invalidez permanente - incluindo muitos do BPC Loas - e “travar” a assinatura da minuta da lei que encontra-se em cima de sua mesa. Basta ele pegar uma caneta, assinar e com isso beneficiar uma infinidade de pessoas necessitadas, das quais muitas, inclusive, votaram nele. Portanto, temos um veto derrubado mas não assinado; é mole? E assim, a luta  continua.

Com tantas preocupações acabei me esquecendo de algo que, certamente, eu não me esqueceria em condições normais: o lançamento de um livro do meu autor preferido: Stephen King. Acreditem galera, eu cometi essa “ojeriza literária”. O livro do mestre do terror chegou as livrarias no dia 27 de maio e eu fiquei sabendo da novidade no início dessa semana.

E, assim, na esperança de que exista alguém tão desinformado como eu nesse assunto (rs) resolvi escrever algumas linhas sobre Não Pisque; esse é o título do novo livro do tio King.

A obra traz de volta uma personagem clássica e porque não, também, antológica do chamado “Universo Kingniano”. Estou me referindo a detetive Holly Gibney, personagem já conhecida por leitores fiéis do autor, tendo aparecido em outros seis livros como Mr. Mercedes e O Instituto.

Na trama, Izzy Jaynes é uma investigadora experiente de Buckeye City que, ainda lidando com traumas de ocorrências pregressas. Ela acaba se deparando com uma carta contendo uma grave ameaça: em breve, o texto alerta que pessoas inocentes serão assassinadas. Buscando desvendar o caso e descobrir quem está por trás disso, ela recorre à detetive e amiga Holly Gibney. Em pouco tempo, no entanto, a ameaça se torna real: uma mulher é morta de forma aleatória num parque de subúrbio, e elas têm de correr para que o assassino não execute outras pessoas.

Enquanto isso, uma controversa defensora dos direitos das mulheres está em turnê pelos Estados Unidos para promover seu trabalho, mas há alguém em seu encalço que não concorda com suas ideias. Quando a perseguição começa a ficar mais perigosa, Holly Gibney é convocada para cuidar de sua segurança, mas o trabalho logo se torna um risco que ela não calculava, e a detetive se vê no centro de uma caçada assustadora.

Tai galera, antes tarde do que nunca. Mesmo com a cabeça a mil, jamais poderia me esquecer de um lançamento literário do tio King; mesmo com um pouco de atraso.

24 outubro 2024

Livro “O Concorrente” de Stephen King volta as telas: remake do filme “O Sobrevivente” já tem data definida

Arnold Schwarzenegger - Glen Powell

Se existe um período do qual sinto saudades são os anos de ouro das fitas VHS. Cara, bota saudades nisso! Ainda trago na memória as “jovens” tardes de sábado e domingo quando saia da locadora da minha cidade com uma sacola cheia de fitas VHS com os filmes recém lançados acompanhados de alguns clássicos do passado.

Quando retorno para essa época, um dos filmes que me vem a memória é “O Sobrevivente” com o ícone do cinema de ação dos anos 80, Arnold Schwarzenegger. Ainda me lembro que assisti a essa produção no saudoso Cine São Salvador e depois quando saiu em VHS fui um dos primeiros a locar a fita. Achei o filme tão bizarro, mas tão bizarro que no início odiei, achei horroroso (como vocês podem conferir nessa resenha), mas anos depois após revê-lo acabei gostando. Aliás, aproveito para fazer um ‘mea culpa’ com relação a resenha que escrevi em 2011. O filme é bizarro, mas de tão bizarro que é, depois acabei gostando.             

Então, os anos foram passando, a geração VHS também passou e as locadoras do gênero, por sua vez, fecharam as portas ou então se adaptaram para uma nova realidade: a dos DVD’s e Blu-rays. E foi também nessa época que eu conheci um livro chamado O Concorrente (Suma de Letras) de Richard Bachman ou Stephen King, para os mais íntimos. Após pesquisar na Internet, fiquei sabendo que o filme que havia assistido há 37 anos atrás havia sido baseado nesse livro do tio King. Resultado: sem demora, comprei O Concorrente. Achei o livro fantástico. Definitivamente amei!

King/Bachman escreveu The Running man (título original em inglês) em 1982 e projetou em seu enredo como seria o nosso mundo em 2025. No mundo futurístico criado pelo autor, a TV domina os lares americanos, entorpecentes são vendidos em máquinas automáticas e ar puro é privilégio de poucos. Um mundo onde um jogo chamado matabol é brincadeira de criança e a desgraça alheia é a maior diversão. A TV leva ao ar um programa onde modernos gladiadores se enfrentam para o deleite de milhões de telespectadores sedentos de sangue levando os índices de audiência às alturas. É nessa arena futurista que desembarca Ben Richards, um desempregado disposto a qualquer sacrifício para salvar a vida da filha. Sua última tentativa é participar do programa O Foragido, disputa da qual ninguém conseguiu sair vivo ainda.

O Ben Richards criado por King é um personagem complexo, movido pelo ódio que brota de sua alma por não ter dinheiro suficiente para salvar a filha. Esse ódio cresce ainda mais quando ele é obrigado a participar desse jogo mortal e então, passa a ser caçado como um animal. Essa personalidade conflituosa do personagem do livro não existe no brutamonte interpretado por Schwarzenegger que só pensa em fugir, lutar e bater.

Quanto aos caçadores, na obra literária, são homens normais, corruptos, mas normais. Usam armas convencionais e se valem apenas de seu treinamento, perspicácia e inteligência para localizar e conter o foragido. Já no filme de 1987, os caras são verdadeiras aberrações, parecendo ter saído de um manicômio ou então de um circo de horrores. Tem um japonês balofo e mudo caracterizado como jogador de hóquei que ao invés de usar o taco para movimentar o disco, o utiliza como arma para matar os participantes do jogo.  Existe um homem da raça negra, de meia idade, que sai voando graças a um equipamento esquisito amarrado em suas costas e que utiliza um lança-chamas para transformar os foragidos em churrasquinhos. Sem contar, um homem muito branco e absurdamente obeso que usa uma roupa energizada, cheia de luzes e neon, dirigindo um carro esquisito. O sujeito consegue disparar uns raios pelas mãos. Pois é, pode acreditar, esses são os caçadores do filme “O Sobrevivente”.

Cena do filme "O Sobrevivente" (1987)

Agora fica a expectativa quanto ao remake do filme dos anos 80. É verdade, após 37 anos teremos um novo “Sobrevivente” nos cinemas; e desta vez, sem Schwarzenegger. A Paramount Pictures, inclusive, já anunciou a data de estreia: 21 de novembro de 2025.

Edgar Wright (“Em Ritmo de Fuga”) irá dirigir e co-escrever a versão final do roteiro, colaborando com Michael Bacall (“Scott Pilgrim Contra o Mundo”).

Comentários de bastidores e também de sites de fofocas em Hollywood, apostam que o remake de “O Sobrevivente” dessa vez, irá ser bem mais fiel ao livro e por isso, um pouco mais realista do que a pirotecnia do filme de 1987.

A trama, novamente, será focada em Ben Richards (Powell), um homem desesperado que participa do violento reality show conhecido como "O Foragido", onde precisa ganhar dinheiro suficiente para salvar sua filha gravemente doente. Nele, Richards precisa sobreviver contra vários caçadores que são enviados para matá-lo. E ninguém nunca saiu vivo da disputa.

Glen Powell (“Todos menos Você” e “Twisters”) foi o ator escolhido para substituir Arnold Schwarzenegger na pele de Ben Richard. Na direção sai Paul Michael Glaser e entra Edgar Wright (“Em Ritmo de Fuga”). O início das gravações foi confirmado para novembro deste ano, segundo o portal The Wrap.

25 agosto 2024

Mais Sombrio

Acabei de ler os 12 contos de Mais Sombrio, novo livro de Stephen King. Terminei há alguns dias, mas estou fazendo a resenha apenas agora por causa dos dias tribulados que enfrentei no trabalho. Achei a coletânea tão boa que cheguei a conclusão que ela não merecia uma resenha feita na correria, no atropelo. E naquele momento, eu estava ‘atropelado’ de trabalho e com os pensamentos disparando em várias direções à procura de soluções em meu serviço e, por isso, jamais conseguiria analisar individualmente os 12 contos. Achei melhor acalmar a situação para escrever com calma e dedicando todos os meus neurônios ou então, grande parte deles, na elaboração de uma resenha, pelo menos, razoável. Como já ‘disse’ acima, o livro do Tio King merece isso.

Adorei a maioria dos contos de Mais Sombrio. Escrevo “a maioria” porque sabemos que todas as coletâneas de contos por melhores que sejam sempre trazem algumas histórias menos interessante. Costumo dizer que são aquelas que destoam das demais, os chamados ovos miúdos da granja que escapam na hora da seleção e acabam indo parar no meio dos ovos graúdos. E Mais Sombrio, por melhor seja, não é uma exceção; a coletânea também tem os seus ovos miúdos, mas ele são muito poucos; para ser exato, apenas dois: Finn e O homem das respostas. Quanto as outras dez histórias são excelentes. Perceba que eu ‘disse’ “excelentes” e não ótimas ou boas. Dois desses contos excelentes são verdadeiras joias raras e lapidadas. São eles: Cascavéis e O sonho ruim de Danny Coughlin com o poder de fazer com que o leitor não desgrude os olhos das páginas um minuto sequer.

A partir da leitura de Tudo é eventual, lançado aqui no Brasil em 2013, ampliei o meu leque de respeito por Stephen King porque compreendi que ele ia muito mais além do que um escritor de terror, ou seja, de um autor que domine apenas um gênero literário. Entendi que ele é capaz de gerir vários outros gêneros de escrita que vão do terror ao suspense, passando pelo drama, romance, policial, ficção científica e humor negro. A coletânea Tudo é eventual me mostrou isso; e depois, Novembro de 63 (resenhas aqui e aqui) acabou por confirmar.

Portanto, não fiquei surpreso com os contos de Mais Sombrio já que vários deles fogem do gênero terror para explorar temas distintos como O sonho ruim de Danny Coughlin, um baita drama temperado com ação que deixa o leitor ligado na tomada 220 wolts até o final; ou então, Laurie, uma doce história envolvendo o relacionamento de um idoso de 65 anos com uma cadela da qual não gostava, mas depois passa a ter afinidade.

Posso afirmar que King é um gênio da escrita capaz de ‘casar’ com qualquer gênero literário. Digam o que quiserem: que ele é descritivo demais chegando ao ponto de se tornar cansativo ou então que ele não sabe escrever um final digno para os seus enredos. Se eu acho ele muito descritivo? Sim. Acho. Mas o que importa, pelo menos para mim, é que a sua escrita, por mais descritiva que seja, não me cansa, pelo contrário, faz com que eu estabeleça um vínculo cada vez maior com os seus personagens. Quanto aos seus ‘finais terribiles’, me respondam o nome de um escritor que acertou em todos os seus finais de seus livros?

Acho que já deu para ter uma noção da coletânea Mais Sombrio. Vamos agora para um rápido resumo de seus 12 contos.

01 – Dois fio da mãe talentosos

O conto que abre o livro narra a história de dois amigos inseparáveis: Laird Carmody e Dave “Butch” LaVerdiere – que são os dois fio da mãe do título. O primeiro é um escritor famoso, conhecido em todo o mundo; o segundo, um pintor não menos famoso, também respeitado em todas as esferas culturais por causa de suas pinturas incomparáveis.

A história é narrada, em terceira pessoa,  pelo filho de Laird e a essência do enredo gira em torno de um mistério: como Laird e Dave conseguiram se tornar tão talentosos dentro de suas áreas – literatura e pintura, da noite para o dia. Como duas pessoas que tinham uma firma de limpeza pública conseguiram se transformar em duas celebridades tão rapidamente?

Durante a leitura fui criando várias teorias, todas erradas, até chegar ao final inesperado. Os editores acertaram em abrir Mais Sombrio com um conto excelente capaz de acender a curiosidade dos leitores para as outras 11 histórias.

02 – O quinto passo

Neste segundo conto do livro conhecemos um Tio King bem sinistro mas sem apelar para o sobrenatural o que, na minha opinião, deixou a história ainda mais tenebrosa e com um final que apanha o leitor de surpresa. 

Um aposentado sentado no banco de um parque é abordado por um estranho que pede ajuda para completar mais uma etapa do programa dos Alcóolicos Anônimos. Este estranho precisa dar o seu quinto passo.

Para aqueles que não sabem, o quinto passo do AAA é “admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas”.

O final, como já citei acima, me impactou.

03 – Willie Esquisitão

Achei o conto deliciosamente assustador. Na minha opinião, tem uma leve semelhança com um outro conto famoso de King chamado Vovó (Gramma).

Willie Fiedler é um garoto de 10 anos que é considerado "estranho" por seus pais, sua irmã e seus colegas devido a seus hábitos incomuns, como coletar insetos mortos, olhar para nuvens e prender vaga-lumes em uma jarra para vê-los morrer.

Ele passa grande parte de seu tempo conversando com o seu avô James que tem o hábito de contar para o seu neto histórias mórbidas e aparentemente improváveis. Willie é fascinado por essas narrativas.

King, nesse conto, também reserva uma surpresa no final. Uma história que gira em torno da eternidade. Paro por aqui senão vou acabar liberando spoiller. Basta escrever que apesar de curtinho – apenas 12 páginas – o conto tem uma narrativa riquíssima.

04 - O sonho ruim de Danny Coughlin

Caráculas! Só não vou afirmar que é o melhor conto de Mais Sombrio porque estaria sendo injusto com Cascavéis. Os dois contos são excelentes, os melhores de toda coletânea.

Nesta história inédita de “Mais Sombio”, com 160 páginas, conhecemos Danny Coughlin, o zelador de uma escola que tem um sonho recorrente, onde ele contra o corpo de uma pessoa em um posto de gasolina abandonado. Danny resolve investigar, para descobrir até onde seu sonho é um pesadelo, mas acaba tornando-se o principal suspeito de um bárbaro homicídio. Caberá a ele provar a sua inocência, mas será que alguém vai acreditar em sua história absurda.

Cara, se prepare para as páginas finais: pura adrenalina!

05 – Finn

A primeira, das duas histórias que não gostei do livro. O início até desperta o interesse, mas depois a narrativa se torna algo comum. Além disso o final aberto ficou um pouco confuso. Me desculpe “Tio King” mas aquele “The End” deixou muito a desejar e, com certeza, vai entrar para lista dos finais mais criticados de sua autoria.

Finn Murrie é um jovem irlandês com um azar danado. Tudo o que ele faz ou até o que não faz dá errado.

Quando criança, ele caiu de cabeça, perdeu um dedo do pé e quase foi morto por um raio. Sua avó prometeu a ele que um dia toda a sua má sorte seria recompensada com boa, mas quando ele é sequestrado por engano, Finn se pergunta se esse dia chegará.

06 – Na estrada da Pousada Slide

Etcha vovô da peste!! Leiam o conto e principalmente o seu final e entenderão o motivo da minha exclamação. Uma história com uma tensão crescente. É o “Tio King” provando mais uma vez que é capaz de escrever um conto de terror incrível sem precisar recorrer aos artifícios de monstros, sobrenatural ou corpos estraçalhados. Em Na estrada da Pousada Slide o que predomina na narrativa é apenas a tensão vivida por uma família que enfrenta uma situação difícil e sonha mais do que nunca sair desse enrosco.

King narra a saga da família Brown – marido e mulher, Frank e Corinne; seus filhos Billy e Mary; e o pai de Frank, Donald, um veterano do Vietnã. Eles estão dirigindo para visitar um parente que está morrendo de câncer. Então, eles resolvem pegar um atalho, o carro atola e com isso, toda a família acaba indo parar numa pousada abandonada chamada “Pousada Slide”. A partir daí, começa o drama. Prestem atenção no vovô Donald.

07 – Tela vermelha

Uma historieta de apenas 17 páginas. Não posso contar nem o mínimo porque acabaria revelando a história toda. Portanto, vamos ao ‘mínimo do mínimo’: Tela Vermelha é um conto inquietante onde um investigador de polícia interroga um encanador perturbado que acabou de assassinar sua esposa. Ele não acredita na história do encanador, então...

King inspirou o seu conto em uma obra antológica de um gênio. Não posso revelar o nome dessa obra, nem de seu escritor porque acabaria revelando um spoiller do tamanho do Titanic.

Tela Vermelha foi publicado originalmente como um e-book de edição limitada em 2021. Achei a narrativa rápida e inteligente bem no estilo de “Além da Imaginação”, aquele seriado antológico da TV dos anos 60 e que teve diversos remakes.

08 – O especialista em turbulência

O conto foi publicado pela primeira vez no Brasil na coletânea Terror a Bordo que reuniu histórias de terror de vários autores famosos, entre eles, de SK. Vale lembrar que esse livro - lançado por aqui em 2020 - foi editado pelo próprio King juntamente com Bev Vincent.

Apesar de já ter lido algumas críticas negativas sobre o conto, no meu caso, gostei muito da história de Craig Dixon, um atormentado personagem que tem uma profissão bem sui generis: especialista em turbulência.

Li em uma entrevista de Bev Vincent que coeditou Terror a Bordo que O especialista em turbulência sugere que a ideia central da narrativa reflete o medo de voar de Stephen King. O mestre do terror deixou esse medo evidente em uma de suas entrevistas quando revelou  "o voo que você tem que ter medo é aquele em que não há ninguém com medo de voar [...] esses são os voos que caem" e que se "você tem três ou quatro pessoas que estão morrendo de medo... nós seguramos isso." O autor aplica essa regra ao pé da letra na narrativa de O especialista em turbulência.

09 – Laurie

Uma fofura de conto. O enredo mostra a relação de um aposentado viúvo com 65 anos e a sua cadela de estimação chamada Laurie. Eles vivem na pacata e fictícia comunidade da ilha de Caymen Key, na Flórida. No início, o animal – presente de sua irmã – não foi bem recebido, mas gradualmente, o homem vai criando laços com Laurie enquanto cuida dela, e no final acaba adorando o animalzinho.

Este conto, a exemplo de À espera de um milagre mostra o lado sensível de King. Mas não se engane porque o terror chega com tudo no final, deixando os leitores com o coração na mão.

10 – Cascavéis.

E chegamos à Cascavéis. Um “contaço”, à exemplo de O sonho ruim de Danny Coughlin. Eu, particularmente, estava ansioso para ler esse conto pois já havia relido Cujo e adorado. Lembrando que Cascavéis é a sequência direta de Cujo (aqui e aqui).

O conto de 93 páginas mostra como está a vida de Vic Trenton, marido de Donna e pai de Tad, protagonistas do livro original. Vic está agora com 72 anos de idade e morando numa comunidade bem tranquila. Ele ainda tenta esquecer o drama enfrentado no passado.

Cascavéis é uma verdadeira história de terror e terror daqueles bem sobrenaturais que provocam calafrios. Não estou querendo ‘dizer’ que Cujo, o raivoso cão São Bernardo, volta do mundo dos mortos ou então, que o pequeno Tad reapareça. Não. King não seria tão simplório assim. Trata-se de um terror que incomoda.

O conto é tão bom que resolvi escrever uma resenha só dele e que você pode conferir aqui.

11 – Os sonhadores

King teve a ideia de escrever esse conto após ter lido O Passageiro, penúltimo trabalho do autor Cormac McCarthy de quem é um grande fã.

Em Os sonhadores, um cientista decide investigar as profundezas do sonho de pacientes. Para o auxiliar em seu experimento, ele contrata um veterano do Vietnã chamado William Davis – que atende ao pedido após ter lido a oferta de emprego num jornal. Davis descobrirá que existem alguns cantos do universo que é melhor deixar inexplorados.

12 – O homem das respostas

A exemplo de Finn, também não gostei de O homem das respostas que fecha a coletânea Mais Sombrio. Achei uma história morna. Nela, um advogado, durante sua viagem, encontra no acostamento da estrada, sentado debaixo de uma barraca, um homem capaz de responder todas as perguntas ligadas ao futuro das pessoas. E adivinhe se o tal advogado ao encontrar esse misterioso personagem não ficará curioso em conhecer detalhes sobre o seu futuro.

O Homem das Respostas, aborda o dom da clarividência e questiona se uma vida marcada pela tragédia tem significado.

Aqui, vale uma curiosidade: King demorou 45 anos para escrever esse conto. Explico melhor aqui.

Inté galera.


17 agosto 2024

Stephen King em uma de suas melhores entrevistas; talvez, a melhor

Depois de uma nova resenha de Cujo (aqui e mais aqui) e de outras duas postagens relacionadas a Stephen King (aqui e aqui). Cá estou eu, novamente, para escrever sobre o mestre do terror. ‘Coisas’ de fã, né? Mas garanto que este post – apesar de vir na sequência de outros dois sobre o mesmo cara, ou seja, o nosso tio King – valerá muito a pena, afinal trata-se da entrevista mais importante concedida pelo escritor e que supera todas as outras que foram dadas antes e depois, incluindo aquelas que figuraram nas páginas de famosos jornais e revistas como por exemplo, a Rolling Stone.

Por que penso assim? Nesta entrevista dada aos jornalistas Christopher Lehmann e Nathaniel Rich para o The Paris Review, a famoso autor faz uma restrospectiva dos seus principais livros, revelando curiosidades e detalhes que acredito estavam guardados a sete chaves, mas algum motivo, o autor decidiu revela-los.

Ao ler essa preciosidade, a galera descobrirá o que levou King a escrever Celular, Carrie, A Estranha, Cujo, Dança da Morte, O Iluminado, Salem, Misery: Louca Obsessão, O Cemitério e... pensa que para por aí? Não. Ele revela os segredos de várias outras obras.

Eu, pelo menos, não vi nenhuma outra entrevista de King – e olha que já li várias – onde ele tenha falado abertamente e com toda a sinceridade sobre os seus livros, citando, inclusive, daqueles que ele não gostou. Ele revela até mesmo qual foi o pior livro que escreveu.

King comenta ainda como é o seu ritual de escrita. Achei essa parte muito interessante. Depois fala de algumas situações vividas por ele, as quais serviram para inspirar

SK começou esta entrevista no verão de 2001, dois anos depois de ter sido atingido por um furgão quando caminhava perto de sua casa em Center Lovell, no Maine (EUA). Ele teve sorte de sobreviver ao acidente, em que sofreu lacerações no couro cabeludo, fraturas na perna e no quadril direitos, e teve o pulmão direito perfurado. Uma segunda sessão foi conduzida no início de 2006, em sua residência de inverno na Flórida.

Confira algumas perguntas e algumas respostas.

PERGUNTA - Que idade o sr. tinha quando começou a escrever?

STEPHEN KING - Acredite se quiser, eu tinha 6 ou 7 anos. Copiava imagens de HQs, compondo minhas próprias histórias. Me lembro de faltar à escola porque estava com amidalite e ficar em casa, na cama, escrevendo. O cinema também foi uma grande influência. Me recordo de minha mãe me levar ao Radio City Music Hall para ver "Bambi". O tamanho daquele lugar, o incêndio na floresta no filme -aquilo me deixou uma impressão profunda. Quando comecei, tendia a escrever em imagens, porque isso era tudo o que eu conhecia na época.

PERGUNTA - Quando o sr. começou a ler ficção adulta?

KING - Eu devia ter 12 anos e estudava numa escola de uma sala só, na rua de casa. Não havia biblioteca na cidade, mas toda semana o Estado mandava uma grande perua verde, conhecida como "livromóvel". Até então, tudo o que eu tinha lido eram as histórias sobre Nancy Drew, os livros sobre os Hardy Boys [ambas coleções juvenis de mistério] e coisas do gênero. Os primeiros livros foram os de Ed McBain sobre o 87º Distrito Policial. No primeiro, os policiais vão interrogar uma mulher num cortiço, e ela está parada ali, de combinação. Os tiras a mandam vestir alguma roupa, e ela segura o seio através da combinação, aperta na direção deles e fala: "Na sua cara, "tira'!". Eu pensei: "Uau!". Alguma coisa fez um clique na minha cabeça. Pensei: "Isso é real, poderia acontecer de verdade". Foi o fim de toda a ficção juvenil para mim.

PERGUNTA - Em "On Writing" [Sobre a Escrita], o sr. menciona que a idéia de seu primeiro romance, "Carrie", surgiu quando fez a conexão entre dois temas não interligados: crueldade adolescente e telecinesia. Como conexões improváveis servem de ponto de partida?

KING - Isso já aconteceu muitas vezes. Quando escrevi "Cujo" -sobre um cão raivoso-, estava com problemas em minha moto e ouvi falar de um lugar aonde poderia levá-la. O mecânico tinha uma casa de fazenda e uma oficina do outro lado da estrada. Levei minha moto lá, e, quando cheguei ao quintal em frente à oficina, ela morreu. E o maior São Bernardo que já vi na vida saiu da oficina e veio em minha direção.

Esse tipo de cachorro tem a aparência horrível. Tem aquela papada e os olhos remelentos. A impressão que dão é de não estarem bem de saúde. O cão começou a rosnar para mim, lá do fundo da garganta: "Aaarrrgh". Eu pesava uns 54 quilos, então devia ter no máximo uns quatro ou cinco quilos mais que o cachorro. O mecânico saiu da garagem e me disse "oh, esse é o Bowser", ou outro nome qualquer. Não era Cujo.

Ele disse: "Não se preocupe com ele. Ele faz isso com todo mundo". Então adiantei minha mão para fazer um carinho no cachorro, e o cachorro tentou me morder. O sujeito estava com uma daquelas chaves de soquete na mão e bateu forte sobre o traseiro do cão. Era uma ferramenta de aço. O som foi de um batedor de tapetes batendo num tapete. O cachorro apenas latiu uma vez e se sentou. E o mecânico me disse algo como: "Bowser não costuma fazer isso. Ele não deve ter gostado de sua cara".

Me recordo de como senti medo, não havia onde me esconder. Estava de moto, mas a moto tinha morrido, e eu não conseguiria correr mais rápido que o cachorro. Se o homem não estivesse lá com a ferramenta, se o cão decidisse me atacar... Mas aquilo não era uma história, era um pedaço... Duas semanas depois, estava pensando no Ford Pinto que minha mulher e eu tínhamos.

Havia alguma coisa errada nele: o carburador afogava, e não dava para dar a partida. Eu me preocupava com a idéia de que minha mulher pudesse ficar presa em algum lugar com aquele carro e pensei: "E se ela o levasse à oficina e não conseguisse dar partida -e se, em lugar de o cachorro ser apenas um cão de gênio ruim, ele fosse realmente louco?". Esse é um dos lugares em que a vida real interferiu na história. É sempre esse o caminho. Você vê alguma coisa, essa coisa faz um clique com outra, e isso rende uma história. Mas você nunca sabe o que vai acontecer.

PERGUNTA - "Cujo" é incomum pelo fato de o livro inteiro ser escrito num único capítulo. O sr. o planejou assim desde o começo?

KING - Não, "Cujo" era um romance-padrão, em capítulos. Mas queria que fosse sentido como um tijolo que é atirado em você, atravessando sua janela. Sempre pensei que o tipo de livro que faço -e tenho ego suficiente para pensar que todo romancista deveria fazer o mesmo- deve ser uma espécie de agressão pessoal. Ele deve ser alguém avançando contra você do outro lado da mesa, agarrando-o, sacudindo-o. Ele deve incomodar. Deve perturbar. E não apenas porque você se enoja. Mas se eu recebo uma carta dizendo "não consegui jantar (depois de ler seu livro)", minha reação é: "Ótimo!".

PERGUNTA - "O Iluminado" também partiu da experiência pessoal? O sr. se hospedou naquele hotel?

KING - Sim, o Stanley Hotel, em Estes Park, Colorado. Minha mulher e eu fomos lá em outubro. Era o último fim de semana da temporada, então o hotel estava quase totalmente vazio. Eu passei por aquela placa que dizia "as estradas podem ser fechadas a partir de 1º de novembro" e pensei: "Uau, há uma história a ser contada aqui".

Esta é apenas uma pequena amostra da entrevista que SK concedeu aos jornalistas  Christopher Lehmann e Nathaniel Rich do The Paris Review; uma das melhores, senão a melhor, já concedida por ele. Infelizmente não há como reproduzi-la na integra, aqui no blog, porque ocuparia muitas e muitas páginas, mas se você quiser lê-la em sua totalidade saiba que ela se encontra no final do romance Cujo publicado pela editora Suma na coleção Biblioteca Stephen King. Apesar do livro ter sido lançado em 2016, ainda pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria virtual.

Se você estiver interessado, aproveite o embalo e já leia Cujo. Garanto que valerá muito a pena.

03 agosto 2024

“O Homem das Respostas”: um conto que Stephen King demorou 45 anos para escrever. A história faz parte da coletânea “Mais Sombrio”

Não tenho o hábito de resenhar contos, separadamente, de uma coletânea; faço isso apenas em situações especiais, ou seja, muito raramente. Prefiro ler a coletânea inteira para somente depois resenha-la. Acho que nesses 12 anos de blog, apenas três contos ganharam seus posts próprios - todos eles de Stephen King.

O primeiro que valeu um post só dele foi O Sobrevivente; o segundo, O vírus da estrada vai para o norte e agora, mais recentemente, Cascavéis. Foram histórias fantásticas, definitivamente, amei. Por isso, conclui que cada uma merecia um post. E agora, King bate na porta novamente com um novo conto que na minha opinião tem elementos suficientes para ganhar uma postagem exclusiva. Trata-se de O homem das respostas que faz parte da coletânea Mais Sombrio lançada pelo mestre do terror, recentemente, reunindo 12 contos, cinco deles inéditos.

Na minha opinião não é a melhor história do livro; para ser sincero, achei o enredo apenas mediano, mas um fato que ‘rolou’ nos bastidores de O homem das respostas merece ser contado. Foi um fato sui generis e que vale um post exclusivo. Quer saber qual? Ok; eu conto. O autor demorou 45 anos para escrever essa história.

Isso mesmo! King começou escrever o conto quando tinha 30 anos e terminou aos 75 anos. Caramba! Mas o que, de fato, aconteceu?!! Ele explicou tudo numa entrevista sobre o lançamento de Mais Sombrio para a apresentadora do All Things Considered, Mary Louise Kelly. Segundo King, ele só decidiu terminar de escrever esse conto, após 45 anos, por causa do seu sobrinho John Leonard.

King disse na entrevista que perdeu o controle. Ele explicou que tem o hábito de escrever histórias, mas nem sempre elas são concluídas. O destino dessas histórias são as gavetas, ficando esquecidas por não agradarem autor.

E há cerca de cinco anos, Leonard encontrou O homem das respostas que foi escrita num hotel durante os anos 70.  Leonard, então disse: “Sabe, isso é muito bom. Você realmente deveria terminar isso.” Assim, King decidiu reler o que havia escrito e gostou. “Sabe, acho que sei como terminar agora.” – respondeu. E assim, o conto foi concluído.

O mestre do terror expôs para a entrevistadora que passou a gostar do conceito do conto e assim decidiu conclui-lo. “Este jovem está dirigindo e está tentando descobrir se deve ou não ingressar no escritório de advocacia de sapatos brancos de seus pais em Boston, ou se deve trabalhar por conta própria. E ele encontra na estrada um homem que se autodenomina o Homem das Respostas. E ele diz: ‘Responderei três de suas perguntas por US$ 25 e você terá 5 minutos para fazer essas perguntas.’ Então pensei comigo mesmo: vou escrever essa história em três atos. Um enquanto o questionador é jovem, outro quando ele está na meia-idade e outro quando ele é velho. A pergunta que me faço é: Você quer saber o que acontece no futuro ou não?”

Pronto, nascia assim, ou melhor: renascia, assim, após 45 anos, O homem das respostas.

 

28 julho 2024

Cascavéis (Stephen King)

Contão, contaço, super-conto; entenda como quiser, o importante nisso tudo é que fique bem claro que Setphen King ‘matou a pau’ em Cascavéis, um dos contos do seu mais recente lançamento Mais Sombrio. Tio King dessa vez se superou, a história é excelente.

Digo que King se superou porque o enredo vai muito além do simples terror – e no caso de Cascavéis, esse terror causa calafrios – explorando também uma outra vertente: o drama familiar. Com isso, SK prova que é um autor completo, diferenciado; capaz de explorar vários gêneros literários e não só o terror que, de fato, é a sua praia. Ele já provou que é expert em jornalismo ao publicar Sobre a Escrita; em drama, ao escrever À Espera de um Milagre; em ficção científica, com O Concorrente e O Apanhador de Sonhos; policial, ao publicar Mr. Mercedes e até mesmo – pasmem – romance! Isso mesmo, romance com o delicioso e inesquecível Novembro de 63.

Por isso, não foi nenhuma surpresa para mim ao deparar com o enredo eclético de Cascavéis onde o autor capricha no drama com uma carga emocional muito grande, mas um drama de qualidade envolvendo o protagonista. Como já havia lido Cujo me emocionei pra caráculas com várias passagens do conto ao ponto de ficar, digamos... sensível. Não cheguei a ficar com os olhos úmidos como no final emocionante de Novembro de63, mas confesso que cheguei perto.

Putz, King é mesmo fodástico, primeiro ele mexe com os seus sentimentos e depois arranha os seus nervos lhe deixando com aquele medo que incomoda e muito. Pois é, esse conto de Mais Sombrio é assim.

O medo que senti ao ler a história se compara ao mesmo medo que senti, logo no início da minha adolescência, ao ter assistido o filme “O Anticristo” lançado em 1974, um ano após “O Exorcista”, com o objetivo único de pegar carona no sucesso da megaprodução baseada no livro de William Peter Blatty.

“O Anticristo” foi uma produção italiana bem mequetrefe mas com cenas que causaram muito medo, uma delas – me lembro até hoje – foi o momento em que um padre travou com um pedaço de pau a cadeira de rodas onde se encontrava uma jovem possuída, toda desfigurada e com as mãos amarradas. O problema era que essa cadeira rodas continuava se locomovendo e aparecendo em todos os lugares da casa apesar de estar com as suas rodas travadas. O cinéfilo percebia que a cadeira de rodas amaldiçoada iria aparecer ao ouvir o rangido de suas rodas. Não me esqueço dessas cenas até hoje.

Por que estou contando disso? Simples. Algo parecido (parecido; não semelhante) acontece com frequência no enredo de Cascavéis com o poder de provocar aquele calafrio incômodo nos leitores.

Cascavéis é a sequência do romance Cujo (ver resenhas aqui e mais aqui) publicado pela primeira vez no Brasil em 1984 pela editora Record com o título de Cão Raivoso.  Após 32 anos, uma outra editora, a Suma de Letras, decidiu republicar a obra em capa dura como parte da luxuosa coleção Biblioteca Stephen King que reúne obras raras do autor.

Para sentir todas as emoções que o conto oferece e mais do que isso, para entender perfeitamente o seu enredo, aconselho aos leitores que leiam antes Cujo já que as duas histórias estão intimamente ligadas. Por outro lado, desaconselho totalmente fazer o sentido inverso, ou seja, ler antes Cascavéis e só depois, encarar Cujo. Se fizer isso, você vai acabar matando o enredo desse segundo porque Cascavéis traz um caminhão de spoilers. Portanto para aproveitar todas as nuances do conto: antes, leia Cujo.

Escrevendo bem resumidamente do que se trata Cascavéis para não liberar spoillers, basta dizer que é a história de um dos personagens de Cujo que após muitos anos – trintas anos ou mais - dos acontecimentos trágicos que marcaram a sua vida, decide passar uma temporada de férias no apartamento de um amigo localizado numa cidade litorânea que no passado foi infestada por cobras cascavéis. Elas foram responsáveis por uma tragédia que marcou a vida de uma tradicional família daquela cidade; tragédia que por sua vez também atingirá esse personagem de Cujo que terá de lidar com a situação.

Se revelar mais do que isso, certamente, estarei liberando spoillers e estragando o prazer de leitura daqueles que forem encarar e devorar Cujo e na sequência Cascavéis.

Leiam as duas obras, vocês não irão se arrepender.

Ah! Gostei tanto do conto que resolvi escrever um post só dele. Depois, quando concluir a leitura, resenho “Mais Sombrio” ‘num todo’.

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