25 julho 2024

8 curiosidades interessantes sobre o filme e o livro “Cujo” de Stephen King

Não só li o livro de Stephen King como também assisti ao filme dirigido por Lewis Teague. Gostei dos dois; aliás, com exceção do final, a roteirista Lauren Currier seguiu ao pé da letra o enredo escrito por King, optando por fazer poucas mudanças na história que ‘rolou’ nos cinemas. 

O livro (ver resenhas aqui e aqui) foi adaptado para as telonas em 1983 e não decepcionou os fãs, apesar de alguns críticos terem torcido o nariz para a produção. Aliás, não sei o porquê dessa decepção, já que o filme mantém o mesmo clima do livro e com atuações que não chegam a comprometer a obra cinematográfica.

Mas vamos ao que interessa nesta postagem, ou seja, revelar curiosidades interessantes sobre o livro e o filme Cujo. Vamos nessa.

01 - King enfrenta “Cujo”

Em sua juventude, quando escreveu Cujo, Stephen King encontrou sua inspiração para o enredo ao ficar cara a cara com um enorme cachorro não muito amigável da raça São Bernardo.

Tudo começou quando a sua moto Harley-Davidson teve alguns problemas e o escritor a levou numa oficina que era muito afastada da cidade para o concerto. Ao chegar na tal oficina que funcionava num isolado galpão em uma também isolada propriedade rural, eis que sai do local um enorme são-Bernardo que começa a rosnar com a cara de poucos amigos para o escritor. Segundo o dono, o animal que se chamava Browser e não Cujo, nunca tinha ousado atacar ninguém, apenas King.

Com isso, sua mente mirabolante começou a questionar como seria se um  cachorro daquele porte começasse a atacar todos com extrema ferocidade ou ainda se ele ou sua mulher Tabitha estivesse num carro – ao invés da moto – e esse carro parasse de funcionar naquela oficina isolada com o enorme cachorro e sem a presença do mecânico.

Também foi preponderante para a formação do enredo na cabeça do autor, uma notícia publicada no jornal local de Portland. O artigo contava a história de um São Bernardo que atacou uma criança pequena. Os cachorros da raça são conhecidos por serem calmos e obedientes. E o contraste entre o temperamento normalmente dócil e a agressividade causada pela raiva é com certeza um dos maiores terrores do livro.

02 – Cachorros treinados, fantoche e ator fantasiado

Para as filmagens de “Cujo” foram necessários cinco cachorros treinados, um fantoche mecânico e um ator fantasiado de São Bernardo.

Karl Miller – adestrador de cães – que trabalhou no filme, sempre foi contra a ideia de utilizar São Bernardos. Para ele, trata-se de uma raça impossível de adestrar e isso não daria certo para o filme. No final, ele foi voto vencido, mas os seus esforços valeram a pena, já que os quatro cães São Bernardo que se revezaram no filme se saíram muito bem em suas atuações.

A produção usou ainda um ator chamado Gary Morgan, vestido numa roupa de cachorro — que rendeu fotos incríveis nos bastidores, além de uma cabeça mecânica simulando a cabeça verdadeira de um São Bernardo.

03 – Ataques verdadeiros ao carro

Uma curiosidade interessante que alguns cinéfilos desconhecem é que as cenas de ataques no momento em que as personagens Donna e Tad estão dentro do carro foram cenas de ataques reais — mas muito menos sanguinolentas do que podemos imaginar.

Para garantir que os cães se chocassem contra o veículo, Karl Miller e sua equipe de adestradores deixaram os brinquedos preferidos dos cães São Bernardo dentro do carro. Dessa forma, eles ficariam desesperados para apanhar os seus brinquedinhos.

ATENÇÃO! A SEGUIR, SPOILER !!

04 – King concordou com o final diferente do filme

Galera, antes de continuar quero alertar sobre um spoiler violento, tanto do livro quanto do filme, que irei revelar. Portanto leiam por sua conta e risco. Como escrevi no início dessa postagem o final do filme é completamente diferente do livro. Falando abertamente... Antes, novamente, fica aqui, o último aviso de spoiler. Pensem bem se irão querer ler as próximas linhas. 

Lá vai: no livro, Tad, o filho de Donna acaba morrendo de desidratação por causa do forte calor, já que eles estão presos dentro do carro por causa do cão raivoso. Já no filme, o personagem consegue sobreviver. King concordou com o final mais ameno da produção cinematográfica para não chocar tanto os cinéfilos.

MAIS UM SPOILER, MAS SE VOCÊ JÁ LEU O ANTERIOR, FIQUE TRANQUILO; ESSE NÃO IRÁ FAZER DIFERENÇA.

05 – Cartas de ódio

O autor revelou que recebeu muitas cartas de ódio de seus leitores por ter decidido matar Tad no final do livro. Cartas que afinal, ele recebe até hoje, mesmo tendo escrito o romance há quase quatro décadas e meia.

Na minha opinião trata-se de um dos finais mais tensos e pesados no que se refere a carga emocional. Mexe muito com a sensibilidade dos leitores.

06 – Cujo arranca o nariz da dublê

Durante uma das cenas mais perigosas de ataque de Cujo contra Donna, a atriz foi substituída pela dublê Jean Coulter. Um dos cachorros chamado Cubby, foi treinado para atacar Coulter logo que ela avançasse em sua direção, e o cão conseguiu acertar a tomada de primeira. Mas, assim que ouviu o “corta!” vindo da equipe, a dublê comemorou dando um pulo para frente. Cubby então a atacou, mordendo seu nariz e arrancando um pedaço. A dublê foi levada para o hospital, onde recolocaram a parte arrancada.

07 – Chapadão quando escreveu Cão Raivoso

King já declarou publicamente não se lembrar de ter escrito Cujo por tê-lo feito no auge de seu vício em cocaína. Atualmente sóbrio há décadas, o autor já sofreu muito na trajetória devido ao abuso de substâncias, principalmente o álcool e a cocaína. E foi durante essa fase crítica que nasceu “Cujo”.

São conhecidas as histórias de como o primeiro filme dirigido por ele, Maximum Overdrive(1986) e o livro Os Estranhos (1987), considerados algumas das piores obras de King, foram feitas enquanto ele estava consumindo muita cocaína. Acontece que ele também fez Cujo um dos melhores livros da carreira nessa época, mas o autor estava tão chapado que nem se lembra de ter escrito o romance. O livro publicado originalmente em 1981 se tornou um dos best-seller de King mais aclamados pela crítica e favorito de muitos fãs.

08 – Frio amenizado por aquecedores

O filme foi gravado na California durante o inverno quando fazia um frio absurdo, mas acontece que o clima escolhido para o filme era o calor. Resultado: a produção teve que se virar para conseguir um grande número de aquecedores para serem usados em várias cenas, incluindo o interior do carro onde os personagens vividos por Dee Wallace e Danny Pintauro  estavam sofrendo pelas temperaturas elevadas.

Imagine só o choque térmico que esses dois atores sofreram: um frio absurdo regado com um calor também absurdo. Trocas de temperatura que aconteciam num curto espaço de tempo e de maneira constante. Dee Wallace revelou que sofreu muito durante essas tomadas.

Taí galera, por hoje é só!

 

21 julho 2024

Cujo (Uma nova resenha com novas perspectivas)

Nos meus muitos anos de devorador de livros aprendi uma máxima que sigo até hoje em minhas leituras e também nas resenhas que faço, aqui, no Livros e Opinião: “cada releitura de um livro mostra para o leitor ângulos diferentes de uma história. Por isso, cada releitura vale uma resenha, independentemente do número de vezes que lermos essa obra”. O que estou querendo “dizer” é que aos “mergulharmos” no enredo de um livro, geralmente o nosso cérebro foca em determinado plot da narrativa que julga ser mais interessante, deixando os plots secundários num processo de hibernação. Então, numa releitura dessa obra, como já temos noção do que foi o plot principal, o nosso cérebro começa a focar nas subtramas que completam esse enredo. A partir daí, percebemos que muitas dessas subtramas são tão interessantes quanto o plot principal. Foi, exatamente, isso que aconteceu comigo ao reler Cujo de Stephen King.

Quando encarei a história pela primeira vez, tão logo foi relançada em 2016 na coletânea Biblioteca Stephen King da editora Suma de Letras, direcionei o foco da minha atenção para o plot principal que é o ataque de um enorme cachorro à vários moradores de uma pequena cidade. Um cachorro antes muito amoroso, mas que ao ser mordido por morcegos com raiva acaba adquirindo a doença, transformando-se numa máquina de matar”. Este plot ainda tem - muito bem escondido em suas entranhas - uma armadilha FDP que neutraliza com muita eficiência as subtramas do enredo, por melhores que sejam. Eu conto qual é: entre as vítimas do enorme cão enraivecido da raça São Bernardo está uma mãe e o seu filho de 4 ou 5 anos – não me lembro a idade exata – que ficam presos dentro de um carro que quebra justamente no interior de uma propriedade onde está escondido o furioso cachorro.

Pimba! Se o enredo principal já prendia a atenção dos leitores, imagine agora com o reforço de uma mãe tentando salvar o seu filhar e também se proteger dos ataques da fera. Adeus subtramas! Foi isso que aconteceu comigo há tempos atrás ao ler Cujo (veja resenha aqui).

Há alguns dias, resolvi reler a obra de Stephen King porque havia comprado Mais Sombrio, novo livro de contos do autor, do qual faz parte Cascavéis que é a sequência de Cujo.

Como gostei muito de Cujo resolvi reler essa história para não perder nenhum detalhe de Cascavéis – já deu pra perceber que comprei Mais Sombrio somente por causa desse conto, né? Tomara que as outras histórias da coletânea também sejam boas (rs).

“Entonce” galera, ao reler Cujo como já estava familiarizado com a trama central pude captar todas as nuances de suas subtramas que, por sinal, são excelentes. Esta releitura me mostrou que King não escreveu apenas a história de um cachorro assustador, contaminado com o vírus da raiva, que sai por aí atacando as pessoas, mas também escreveu histórias paralelas tão boas quanto a trama do tal cachorro.

Kin trabalha em Cujo com os dramas de dois núcleos familiares que, por sua vez, nos remetem a outros dois núcleos intimamente ligados. Vamos ver se consigo explicar melhor...

O primeiro núcleo familiar na subtrama desenvolvida por King é formado  por Vic, Donna e Tad. Vic é um publicitário casado com uma mulher de beleza estonteante chamada Donna e que tem um filho de quatro ou cinco anos, Tad; uma criança muito amorosa. Vic e Donna passam a enfrentar uma crise em seu relacionamento depois que... bem, leiam o livro, não quero dar spoilers.

O segundo núcleo familiar do enredo é composto por Joe Camber, Charity e Brett. Joe é um mecânico rude que tem o hábito de agredir a sua mulher Charity porque não aceita ser contrariado. Eles tem um filho adolescente, Brett. Eles também são os proprietários do cão São Bernardo. Os três enfrentam sérias dificuldades financeiras. Cara, nessa releitura, torci muito para que Clarity desse logo o seu grito de liberdade como acredito que vocês também torcerão. Este grito de liberdade acontece (aqui vai um pequeno e inofensivo spoiler) quando ela resolve viajar com Brett e visitar a sua irmã rica e bem sucedida que mora numa outra cidade e que está casada com um empresário que Joe Camber detesta.

Estes dois núcleos familiares nos remetem a outros dois núcleos paralelos que estão intimamente relacionados: os pais de Donna e os pais de Clarity. Eles fazem com que os leitores entendam melhor algumas atitudes e a personalidade de Donna, Clarity e também de sua irmã.

O ponto alto da trama de King acontece nos capítulos finais quando o carro onde estão Donna e Tad quebra na propriedade dos Camber. E adivinhem quem está escondido e à espreita por lá? Isto mesmo, o cão raivoso. Posso reputar como um dos capítulos mais tensos de todos os livros que já li. É muita adrenalina, sustos, tensão e ação.

Mas como já tinha vivido tudo isso na primeira vez que li a obra;  nesta releitura, decidi saborear o “gosto” das subtramas. Agora, você que pretende ler Cujo pela primeira vez, quer um conselho? Procure ler a obra num todo, focando a sua atenção não só para a adrenalina, sustos e ação do plot principal, mas também para os dramas e emoções das subtramas.

A história de um fiel e pacato cachorro da raça São Bernardo que se transformou num verdadeiro “cão do inferno” foi publicada originalmente em 1981, mas o livro só chegou ao Brasil em 1984 através da editora Record com o título de Cão Raivoso. Com o tempo, se transformou numa das obras mais raras de Stephen King sendo vendida a peso de ouro nos sebos até 2016 quando a Suma Letras resolveu colocar em prática o projeto “Biblioteca Stephen” que reunia obras consideradas raras do autor. Cão Raivoso foi escolhido para inaugurar essa coletânea que já se encontra em seu oitavo volume. Em seu novo projeto gráfico, a Suma optou trocar o título da obra: saiu “Cão Raivoso” e entrou, simplesmente, “Cujo”, o nome do São Bernardo.

Taí galera, boa leitura ou releitura e não se esqueçam de aproveitar aquele gostinho especial das subtramas da história.

17 julho 2024

Batman: O Cavaleiro das Trevas – Edição Definitiva

Gente, eu era louco, completamente louco por histórias em quadrinhos na minha infância e pré-adolescência. O meu herói preferido era o Cruzado Encapuzado ou simplesmente Batman. Passava grande parte do meu tempo na saudosa banca de revistas do ‘seo’ Luiz ‘viajando’ com as capas maravilhosas da editora Ebal; capas que me enchiam de coragem para pedir aos meus pais que comprassem não um, mas dois ou três gibis; mas tinham que ser do Batman. E eles compravam; minha mãe mais maleável, mas o meu pai também não se opunha, desde que “aquelas revistinhas com capas esquisitas” não atrapalhassem os meus estudos. E assim, lá ia eu para casa, todo feliz da vida, com os meus gibis pronto para mergulhar na leitura.

Esta fase dos quadrinhos passou até que rapidamente. Depois de pouco tempo fui perdendo o interesse e mergulhando de cabeça nos livros; hábito que cultivo até hoje. Mas, recentemente, tive uma recaída e bateu uma crise de abstinência danada; abstinência de ler uma HQ e adivinhem de quem? Claro, do Batman. Resolvi acabar com essa crise comprando Batman, O Cavaleiro das Trevas – Edição Definitiva. Escolhi esse título porque todos os fãs do Homem-Morcego, além da critica especializada, retratam essa história como a melhor de todos os tempos sobre o personagem; mais do que isso, um verdadeiro cânone no mundo das HQs.

Escrita e desenhada por Frank Miller, Batman: O Cavaleiro das Trevas foi lançado no início de 1986, originalmente como uma minissérie em quatro edições. Em pouco tempo passou a ser considerada uma das pedras angulares dos quadrinhos modernos.

Esta HQ fez tanto sucesso, mas tanto sucesso que 15 anos depois, em 2001, Frank Miller resolveu atender aos insistentes pedidos da galera que havia devorado as páginas de O Cavaleiro das Trevas e escrever uma sequência em uma nova minissérie que se chamaria simplesmente O Cavaleiro das Trevas 2.

Em dezembro de 2006, a editora Panini decidiu reunir as duas histórias de Miller numa edição única que foi batizada de Batman, O Cavaleiro das Trevas – Edição Definitiva. Não preciso dizer que o lançamento da Panini bombou em vendas, alcançando o topo das listas de obras mais vendidas no Brasil.

Com tantas referências positivas, cheguei à conclusão de que a obra que reunia as duas histórias antológicas de Miller seria o remédio ideal para matar a minha crise de abstinência de quadrinhos.

Sinceridade na minha análise? Adorei a primeira parte, mas... detestei a segunda. Em O Cavaleiro das Trevas – Parte I vemos um Batman de 50 anos que volta a ativa depois de sua aposentadoria. Foi muito interessante ver um herói antológico que conheci em minha infância - no auge de sua forma física - socando vilões e driblando armadilhas com uma enorme destreza e agilidade, agora, muito mais velho – quase vovô. O Batman de Miller havia perdido a força, a agilidade e a destreza da juventude. Ele não conseguia mais saltar de telhados em segurança, socar os inimigos com tanta força, porém esse herói envelhecido estava muito mais brutal, sanguinário e experiente.  

É esse Batman muito diferente daquele que nós havíamos conhecido no passado que retorna a Gotham City quando a cidade enfrenta uma onda incontrolável de criminalidade.

Em seu primeiro combate, Batman é literalmente arrebentado por um perigoso vilão, uma verdadeira montanha de músculos. Mas depois de “lamber as suas feridas”, o Cavaleiro das Trevas” retorna mais violento do que nunca e se redime da surra que levou, numa verdadeira redenção que me fez dar vários socos no ar, só faltando gritar Ipi Hurra!.

Paralelamente a isso, ao saber do retorno de Batman, o Coringa, considerado o seu pior inimigo, sai de seu estado catatônico e é convidado a dar uma entrevista para um canal de televisão em Gotham City. Durante o programa, o vilão acaba criando um verdadeiro caos colocando em risco a vida de todos os habitantes de Gotham. Pronto; lá vai o cruzado encapuzado novamente à caça de seu arqui-inimigo.

Durante o enredo, outros vilões conhecidos aparecem aprontando da suas e a cada página virada, vemos um Batman cada vez mais brutal e violento. Dessa forma, o governo americano passa a ver o Homem Morcego mais como um inimigo do que como um amigo. Temendo que o herói perca totalmente o controle, ele decide chamar o Superman para conter o Morcego que voltou de sua aposentadoria querendo “chutar o barraco”. A partir daí passamos a ter um combate épico envolvendo o maior detetive do mundo contra o homem mais forte do mundo.

Cara, um enredo fenomenal. Fiquei ligado na história do começo ao fim, mas então chegou a segunda parte e... broxei.

Não gostei: enredo estranho, desenhos também estranhos, para não ‘dizer’ ruins. Achei a história desconexa e como já citei acima: estranha. Três anos depois da suposta morte do Batman, em O Cavaleiro das Trevas, os Estados Unidos são governados pelo presidente Rickard, que não passa de um fantoche digital de Lex Luthor. Por isso, o país vive num regime praticamente fascista. Os antigos super-heróis estão afastados e assistem a tudo impassíveis até que “a ficha cai” e eles decidem se reunir

Após essa reunião, surgem velhas rixas entre esses super-heróis que precisam ser solucionadas com a ajuda do Homem-Morcego. Ehehehe! Já deu pra perceber que ele não morreu, né?

No mais temos um Coringa novo, chato pra caramba; além de um novo, ou melhor, uma nova Robin que não agradam. Ah! Não posso me esquecer ainda do Braianic, um vilão que também ficou chato pra dedéu.

Resumindo: uma primeira parte primorosa, mas uma segunda parte decepcionante.

Inté galera!

13 julho 2024

Chegaram novos “bebês”: Mais Sombrio e Desenhos Ocultos. A sequência de Cujo e o plot twist de Jason Rekulak prometem

Quando soube que o romance Cujo de Stephen King havia ganhado uma sequência, não esperei duas vezes e fui correndo comprar Mais Sombrio, livro de contos do mestre do terror do qual faz parte “Cascavéis”, história que dá continuidade ao enredo chapado de um cão São Bernardo chamado Cujo que ficou “endemoniado” após ter sido picado no focinho por um morcego com raiva.

Galera, mesmo com o meu cartão de crédito no limite, precisava muito comprar esse livro porque estou relendo Cujo e adorando. Não se trata apenas de um thriller de suspense e terror, mas de um enredo com várias vertentes que nascem do plot principal: “um cachorro enorme que contraiu o vírus da raiva e se transformou numa verdadeira máquina de matar”.

Costumo dizer que várias outras histórias paralelas flutuam ao redor desse plot principal. Todas elas com o poder de prender, e muito, a atenção dos leitores. Temos a mulher que trai o marido e depois se arrepende, temos o homem bruto e ignorante que trata a sua mulher como um simples objeto, temos a dupla de amigos que luta para que a sua agência de publicidade não decrete falência após uma campanha mal sucedida, temos um garoto de 4 anos que acredita que no fundo de seu guarda-roupas mora um monstro; e por fim, temos a história de um serial killer que aterrorizou toda Castle Rock e mesmo depois de morto pode ter algo a ver com o contexto atual envolvendo o cão São Bernardo.

Cara, Cujo tem muitas nuances que merecem ser exploradas numa nova resenha; mas isso é assunto para um outro post. Neste texto, basta dizer apenas que adorei a história e quero saber o que aconteceu anos depois com um dos personagens principais; não posso dizer mais do que isso para não estragar o enredo de “Cujo” com spoillers.

Além de Cascavéis, nesta nova coletânea, King brinda os seus leitores com mais onze contos que certamente farão a cabeça da galera. Não conheço nenhuma das histórias que fazem parte do livro, mas pelas opiniões de leitores do portal Skoob, dá pra ver que a maioria delas são marcantes, mas confesso que o que me estimulou a comprar Mais Sombrio foi, de fato, o conto Cascavéis para saber o que aconteceu com alguns personagens, em especial com um determinado personagem, de Cujo.

Pois é, eu iria parar nessa compra, mas ‘entonce’ me lembrei de um outro livro que já tinha visto há ‘uns’ dois meses atrás e despertado o meu interesse. Esse ‘danadinho’ se encontrava justamente na mesma página em que estava Mais Sombrio. – Putz, Amazon... faz isso comigo não! – exclamei. Assim, já viu o que aconteceu né? Acabei comprando esse danadinho chamado Desenhos Ocultos de Jason Rekulak.

O que me seduziu nesse livro forçando a compra, apesar do meu cartão estar no osso, foi o seu plot twist que todo mundo está comentando. Dizem que a reviravolta final é daquelas de arrasar quarteirões, deixando os leitores boquiabertos. E você que já acompanha o blog há algum tempo, deve saber que eu amo obras com plot twists, daí... não pude resistir.

E assim, lá se foram aproximadamente R$ 130,00, mas o importante é que os dois “bebês” - que já chegaram - me deixaram muito felizes e ansioso para começar a leitura.

Inté galera!

09 julho 2024

Seis detetives e espiões marcantes da literatura policial

Eles são responsáveis pela solução de mistérios ou de tramas intrincáveis incapazes de serem solucionadas na vida real. Crimes tão bem arquitetados que poderiam ser arquivados por falta de soluções plausíveis se acontecessem dentro de um contexto concreto que não explorasse o imaginário. Mas sabemos que nesse mundo imaginário dos romances policiais tudo é possível e graças a habilidade de escritores famosos, esses detetives fizeram tanto sucesso que conseguiram extrapolar as páginas dos livros, indo parar, também nas telas dos cinemas e nas plataformas de streaming.

Um pouco divergente dos detetives, temos a categoria dos espiões que também são responsáveis pela solução de tramas complicadas, mas com uma diferença, a maioria deles, quase sempre se envolvem em combates corpo a corpo, fugas mirabolantes, explosões, trocas de tiros com armas pesadas e o escambau a quatro.

Mas, independentemente de suas diferenças, eles conseguiram conquistar todos os leitores que apreciam os romances policiais. Alguns desses personagens, como já citei acima, se tornaram antológicos por terem feito um enorme sucesso tanto nas páginas dos livros quanto nas telonas dos cinemas.

Na postagem de hoje, selecionei oito personagens literários que fizeram tanto sucesso, mas tanto sucesso que acabaram ganhando também uma adaptação cinematográfica. Vamos a eles.

01 – Sherlock Holmes (Arthur Conan Doyle)

Vamos abrir a nossa lista com um detetive que prefere usar os seus neurônios no enfrentamento ao crime ao invés de seus músculos, mesmo porque ele está longe do investigador do tipo marombado que adora trocar socos ou tiros com os seus inimigos.

O personagem criado por Arthur Conan Doyle tem uma inteligência e um QI acima da média em comparação aos outros detetives e espiões, o que lhe dá um poder de dedução infalível.

A inspiração para criar o famoso detetive surgiu na Universidade de Edimburgo, na Escócia. Foi lá que, em 1876, o então estudante de Medicina Arthur Conan Doyle fez amizade com o professor Joseph Bell, capaz dos mais surpreendentes diagnósticos. Só de observar o paciente, já conseguia dizer, em poucos minutos, o que ele sentia, como vivia etc. Pronto! Surgiria assim, a inspiração para criar um dos personagens mais icônicos da literatura mundial.

Vale lembrar que Holmes entrou para o Guinness Book como o personagem literário mais retratado no cinema: ao longo de 211 filmes, foi interpretado por 75 atores, como Christopher Lee, Roger Moore e Robert Downey Jr.

02 – Hercule Poirot (Agatha Christie)

O segundo da nossa lista também dispensa a força física na solução de crimes. À exemplo de Sherlock Holmes, o famoso detetive belga criado por Agatha Christie da preferência para a sua inteligência e perspicácia, tanto é que eu nunca vi Hercule Poirot trocando socos ou tiros com algum outro personagem.  

Em O Misterioso Caso de Styles, Poirot é apresentado como sendo um homem de 1,62m de altura, com cabeça em formato de ovo ligeiramente inclinada para um lado, olhos verdes, um espesso bigode típico dos oficiais do Exército, sempre posando com grande dignidade e em posse de uma bengala. Uma descrição que fica longe dos detetives acostumados a trocar socos e pontapés com os seus inimigos.

O detetive não é nada modesto e afirma que é capaz de resolver os mistérios apenas sentado em sua cadeira, diferentemente dos detetives da Scotland Yard, comparados por ele a “cães de caça humanos” que vão atrás das pistas para solucionar os crimes. Poirot se autointitula “a maior mente da Europa” e se gaba de sua capacidade para ligar os fatos como se fossem peças de um quebra-cabeça, utilizando sempre ordem, método e suas “células cinzentas” — modo como ele se refere ao seu cérebro.

Fez tanto sucesso nos livros escritos pela Rainha da Crime que acabou indo parar nos cinemas em oito filmes, sendo o mais famoso deles “Assassinato no Expresso Oriente” que teve duas adaptações, uma em 1988 com Peter Ustinov como Poirot, e outra em 2017 com o diretor e ator Kenneth Branagh vivendo o famoso detetive belga. Ele voltaria na pele do personagem em mais dois filmes: “Morte no Nilo” (2022) e “A Noite das Bruxas” (2023).

03 – Clarice Starling (Thomas Harris)

Antes de partirmos para os investigadores que adoram sair na porrada, vamos para a nossa última personagem discreta. Ela também sempre opta pela mente ao invés do corpo a corpo. Clarice Starling de O Silêncio dos Inocentes e Hannibal do escritor Thomas Harris, demonstrou ser uma das personagens mais corajosas dos romances policiais ao “encarar” numa pancada só dois dos mais perigosos serial killers da literatura: Buffalo Bill e Hannibal Lecter.

Para localizar e prender Buffalo Bill, um psicopata que assassina e retira a pele de mulheres para fazer seu próprio corpo feminino, Starling tem que fazer uma aliança improvável e muito perigosa com outro serial killer, Dr. Hannibal Lecter, um psiquiatra, que está preso, graças ao estranho hábito de devorar os seus pacientes que não progrediam no tratamento.

Pois é, já imaginou entrar na mente de um serial killer para aprender como pensam esses criminosos? ‘Entonce’, essa foi a missão de Starling tanto no livro quanto no clássico filme “O Silêncio dos Inocentes”, de 1991. A personagem interpretada por Jodie Foster é uma estagiária do FBI e começa a ter contato com o famoso assassino em série, Hannibal Lecter, com o objetivo de descobrir detalhes que possam leva-la a Buffalo Bill. No filme, Lecter é interpretado por Anthony Hopkins.

Starling ainda voltaria em mais um livro e também em sua adaptação para os cinemas: Hannibal lançados nas telonas em 2001. Neste segundo filme da série, a agente Clarice Starling foi vivida pela atriz Julianne Moore.

04 – James Bond (Ian Fleming)

Pronto. Chegamos na categoria dos brigões; daqueles que gostam de uma troca de tiros, de um corpo a corpo e, ‘para animar o ambiente’, uma explosãozinha de vez em quando. Vamos começar com o mais discreto dentro dessa categoria: James Bond, conhecido pelo codinome de 007 e criado pelo jornalista e escritor britânico Ian Fleming.

Menos briguento e confuseiro do que Jason Bourne e Jack Reacher mas nem por isso deixar de gostar de uma “troca de afagos” com perigosos vilões.

James Bond, considerado o mais famoso agente do cinema, surgiu primeiramente nas páginas dos livros e somente tempos depois se tornou uma das mais rentáveis franquias das telonas. Ele é o tipo do agente secreto que gosta de andar sempre elegante com ternos caros, belos carros e sempre cercado de mulheres bonitas, sejam suas aliadas ou vilãs.

Para quem não sabe, o agente secreto criado por Ian Fleming tem mais de 30 livros, mas somente 16 foram escritos por ele, e somente os escritos pelo criador viraram filme. O autor criou o personagem em 1953, no livro Cassino Royale. A mistura de sexo e violência o transformou em um sucesso imediato e que conquistou também as telonas dos cinemas.

O escritor deu a Bond algumas de suas próprias características. Se não físicas, comportamentais.  Tanto criador quanto criatura bebiam em doses industriais (apesar disso nunca ter afetado o desempenho de 007 em suas missões) e fumava cerca de sessenta cigarros por dia. Além disso, nos livros, Bond fez uso de drogas algumas vezes, tanto por funções de trabalho como recreativas.

Tudo isso faz que o Bond de Fleming seja mais humano e também... falho. Bem diferente das suas versões cinematográficas, onde ele é retratado quase como um super-homem.

05 – Jason Bourne (Robert Ludlum)

O livro Identidade Bourne lançado em 1980 revelou um espião tão carismático que logo acabou conquistando a simpatia dos leitores que amam o gênero policial/espionagem. O livro de Robert Ludlum se transformou num estouro de vendas. O mesmo destino teria A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne lançados respectivamente em 1986 e 1990 (ver resenha da trilogia completa aqui).

Em 1986, A Identidade Bourne ganharia a sua primeira adaptação cinematográfica com Richard Chamberlain no papel do espião Jason Bourne.

A recepção morna do filme pela crítica e público não foi suficiente para esfriar o ânimo dos produtores de Hollywood que continuaram sonhando com um filme a altura do já famoso espião que havia conquistado a simpatia de milhares de leitores; faltando agora, conquistar a mesma simpatia dos cinéfilos. Isto só viria acontecer mais de 15 depois quando Matt Damon vestiu a pele do personagem numa nova adaptação de Identidade Bourne. O filme dirigido por Doug Liman recebeu uma crítica positiva e boa reação do público o que acabou originando mais quatro  filmes – “A supremacia Bourne” (2004), “O Ultimato Bourne” (2007),  “O Legado Bourne”, com Jeremy Renner (2012) e “Jason Bourne” (2016) -  os dois primeiros também adaptados dos dois últimos livros da saga escrita por Ludlum.

Após o sucesso dos filmes começaram a surgir as eventuais comparações entre Jason Bourne e James Bond. Quem é o melhor? Quem é o pior? E por aí afora. Com certeza, essas comparações surgiram depois da excelente receptividade do personagem nos livros e nas telas.

Após Ludlum, outros escritores tentaram dar sequência na história do espião amnésico mas as suas obras não obtiveram o mesmo sucesso dos três livros da saga original.

Na minha opinião, Bourne se aproxima da perfeição. É inteligente, perspicaz, tem o raciocínio rápido, é perito em vários tipos de armamentos, além de dominar com perfeição várias modalidades de artes marciais.

06 – Jack Reacher (Lee Child)

Encerro a lista com esse sujeito ‘trucão pesado’ metido a investigador que é o personagem principal de uma série que inclui 28 livros e uma coleção de contos escrita por Jim Grant, um autor britânico que utiliza o pseudônimo de Lee Child. 

A série de livros narra as aventuras de Jack Reacher , um ex-major do Corpo de Polícia Militar do Exército dos Estados Unidos, agora um vagabundo, vagando pelos Estados Unidos fazendo biscates e investigando situações suspeitas e frequentemente perigosas, algumas das quais são de caráter pessoal.

O personagem foi retratado por Tom Cruise em um filme de 2012 e uma sequência de 2016, bem como por Alan Ritchson em uma série de televisão por streaming que estreou no Amazon Prime Video em 2022.

Na série de livros, Jack Reacher é um homem imenso, que não consegue entrar em uma sala sem ser intimidador, sendo isso parte importante de sua caracterização. Se ele socar alguém, eles atravessam uma parede. Por isso, a estatura física de Tom Cruise incomodou alguns fãs da série quando ele foi anunciado no filme. Tanto é verdade que os produtores pensaram no brutamontes Dwayne Johnson que chegou a fazer um teste para interpretar Jack Reacher. No entanto, o astro musculoso acabou não conseguindo o papel, provavelmente por seu jeito meio canastrão não combinar com a seriedade necessária para Jack Reacher. Johnson começou então a estrelar como Hobbs na franquia Velozes e Furiosos em 2011.

Taí galera, seis detetives e espiões capazes de satisfazer o gosto de todos  leitores e cinéfilos que adoram o gênero. Desde aqueles que apreciam dedução, aqueles que apreciam porradas.

Inté!

 

04 julho 2024

Madame Bovary

Madame Bovary de Gustave Flaubert chegou até as minhas mãos num pacotão de obras literárias – mais ou menos ‘uns’ 12 ou 15 livros – que ganhei há ‘uns’... deixe-me ver... quarenta anos. E vejam que só agora, depois de aproximadamente quatro décadas, resolvi ler essa história que marcou o realismo da literatura francesa e por essa razão pode ser considerada um clássico, mas... acontece que não sou muito chegado em clássicos, por isso leio muuuuito pouco Machado de Assis; até agora encarei O Alienista e Dom Casmurro, mas me enrosquei em outras histórias e parei antes da metade. Depois disso, não arrisquei tentar um novo “diálogo’ com o nosso Machadão. Quanto a William Shakespeare, Karl Marx, Victor Hugo, Thomas Mann e por aí afora, passo longe.

Talvez, alguns de vocês que estejam lendo essa postagem, podem me chamar de um leitor simplório que só lê histórias água com açúcar.

Não vejo dessa maneira, acho apenas que é uma questão de gosto. Simplesmente não sou fã de clássicos, leio muito pouco.

Mesmo não tendo queda por esse gênero literário, no mês retrasado decidi ler Madame Bovary que já estava, como “disse”, há quarenta anos em minha estante. Li como se diz... no “pipoco”, meio que aos trancos e barrancos.

Achei a história muito chata. Os protagonistas não me agradaram nem um pouco. Emma Bovary é uma mulher egoísta e fútil; enquanto Charles é um personagem amorfo; parece que ele gosta de sofrer. Nunca detestei tanto dois personagens, principalmente a Srª Bovary. E quando você não tem empatia com os personagens de um livro fica difícil gostar a história. Somando-se a isso, também achei a leitura muito detalhista e arrastada. E consequentemente, cansativa.

Confesso que não tive uma boa experiência com a obra de Flaubert. Só conclui a leitura com muita força de vontade. Ah! O final da trama também não me agradou

Queria escrever bem mais nessa resenha, encontrar detalhes do livro que me agradaram, mas não consigo. Só encontrei uma personagem irritante e um outro personagem que gosta de sofrer, além de uma narrativa detalhista e cansativa.

Madame Bovary narra a história de Emma Bovary, uma mulher insaciável, inteligente e bela, mas é obrigada a casar com um apático e passivo médico Charles Bovary, um homem fracassado e medíocre de uma pequena cidade do interior da França. Charles desperta nela todos os sentimentos contrários aquilo a que ela sempre sonhou. Será que é preciso eu revelar o que ela resolve fazer para encontrar a felicidade?

Se quiserem saber, leiam o livro, mas somente se vocês gostarem muito de clássicos e clássicos com uma narrativa bem descritiva e por isso, cansativa.

30 junho 2024

Como eram as escolas de antigamente. Saudades dos livros didáticos, materiais escolares, professores e do sinal de recreio

Hoje, acordei com muitas saudades da minha época de estudante primário e também do antigo ginasial. Não me perguntem o motivo porque, simplesmente, não conseguiria responder. Sabem aqueles insights que surgem de repente? Acho que foi isso. Talvez possa ter havido um gatilho, aliás, acredito que sempre exista um gatilho para as nossas lembranças mais distantes, aquelas que se encontram guardadas nos compartimentos mais profundos da nossa memória. É como se esse gatilho fosse uma chave capaz de abrir esse compartimento. E o meu gatilho, a minha chave, foi um bate papo durante o café da manhã que estava tendo com Lulu sobre uma professora do primário, mãe de um amigo nosso, que já havia falecido há algum tempo. Ela tinha lecionado numa escola onde futuramente pretendo fazer uma reportagem para o meio de comunicação onde trabalho. Dona Cecília e a tal escola tinham muito em comum comigo: ela foi minha professora no primário nessa mesma escola que será o tema da minha matéria. Pronto; bimba! Dois gatilhos, duas chaves numa pancada só. 

Estas duas chaves abriram as portas de lembranças deliciosas que estavam guardadas nessa caixa secreta escondida em minhas memórias. Lembrei-me de alguns livros, entre eles o famoso Desenho Cop, considerado o “bam-bam” daquela época, Caminho Suave, Atlas do Brasil e tantos outros. Lembrei do meu saboroso misto-quente com pão, presunto e queijo e também da limonada preparados com todo o carinho pela minha mãe e acondicionados na minha lancheira que levava pendurada no ombro. Depois, mais para frente, no Ginasial, lembrei-me do compasso, da velha carteira escolar de madeira, da caixa de lápis coloridos, da tabuada e etc, mais etc.

Este insight gostosíssimo que tive foi o ponto de partida para a criação desse post onde gostaria de recordar alguns desses materiais, livros e cartilhas escolares.

Se você foi uma criança dos anos 70, certamente vai se lembrar que leva o seu material para a escola em pastas ou então naquelas malinhas de couro marrom. As mochilas de rodinhas ou até mesmo aquelas de alças cruzadas que, hoje, os estudantes levam atreladas às suas costas, ainda eram um sonho muito distante.

Quanto a lista do material escolar, basicamente era composta de lápis, preferencialmente, da marca Fritz Johansen; borracha; caneta tinteiro; régua de madeira; estojo de lata ou madeira; caderno tipo brochura, daqueles que você não podia nem pensar em retirar uma folha senão o caderno se desmontava inteiro; cadernos de caligrafia, de desenho e de linguagem; folhas de papel ao maço pautadas; vidrinho com cola Goma Arábica e mata borrão.

O lápis era um item fundamental para escrever e desenhar, e as borrachas eram geralmente de borracha branca e simples. Quanto as canetas esferográficas, embora já existissem na década de 60, elas começaram a se popularizar na década de 70 como uma alternativa mais durável às canetas-tinteiro.

E por acaso, vocês se lembram das aulas de geometria? Se vocês se lembram, naturalmente também irão se recordar de dois materiais que eram considerados indispensáveis para essas aulas: o transferidor e o compasso. Ah! Não podemos esquecer, também, de dois parentes próximos do transferidor e do compasso: a régua e o esquadro, outros itens essenciais para desenho técnico e medição.

Antes de “falarmos” sobre livros didáticos (tema mais chegado a proposta desse blog) vamos recordar como era a estrutura organizacional das escolas de décadas passadas, para ser mais exato, dos anos 60 e 70. O primeiro detalhe que gostaria de ressaltar é que naquela época havia um respeito mútuo entre professores, colegas e alunos. Esqueça os casos de agressões verbais ou físicas de estudantes em professores, hoje tão comum nas escolas. Não; naquela época, essa atitude seria algo impensável, até mesmo surreal.

Toda classe tinha um líder que geralmente ficava com a chave da porta da sala de aula durante o recreio, além do bedel (fiscal) que ficava no corredor para ajudar em alguma necessidade por parte dos alunos. Havia disciplina e hierarquia.

As matérias escolares também eram muito diferentes das disciplinas de hoje. Vamos ver se me recordo de algumas, vamos lá: no antigo Científico – hoje, Ensino Médio – tínhamos OSPB (Organização Social Política Brasileira), onde os alunos aprendiam tudo sobre política (não partidária), cultura e curiosidades sobre as regiões brasileiras. Tínhamos ainda nessa época aulas de Educação, Moral e Cívica, quase que semelhantes a OSPB; Desenho; Matemática que era chamada pelos alunos de Aritmética; Religião; Linguagem e mais uma que certamente a galera não conseguirá se lembrar. Ok, lá vai: Canto Orfeônico, E aí? Se lembrou (rs). Pois é, acredite; pode ser que você tenha estudado essa disciplina e nem se lembre.

De acordo com o site Mônica Alma de Viajante (www.monicaalmadeviajante.com) que encontrei durante as minhas zapeadas; no final dos anos 1960, os professores de escola pública tinham salários equiparados aos dos professores universitários. Os professores do ginásio (hoje ensino fundamental) trabalhavam também em outras instituições como Banco do Nordeste, Tribunal de Justiça (um desembargador que era o presidente do Tribunal), UECE (Universidade Estadual do Ceará), Colégio Militar etc.

No início dos anos 1970, ainda havia banca examinadora para a cátedra do “professor Tal” ou para a cadeira de latim, língua portuguesa, dentre outras. Em relação ao aluno, podia ser aprovado ou reprovado. Existia a “segunda época” (prova escrita), realizada quinze dias antes de começar o ano letivo do ano seguinte, de modo a dar chance ao discente de ainda passar de ano. Se não se dedicasse aos estudos, não passaria.

Mas vamos nos ater agora, aos livros didáticos utilizados pelos estudantes naqueles saudosos tempos. Aliás, já escrevi um post, anteriormente, sobre esse tema (ver aqui e mais aqui) mas mesmo assim, vou rememorar mais alguns livros e cartilhas que deixaram saudades.

Um desses livros didáticos considerados obrigatórios nos anos 60 e 70 se chamava Admissão no Ginásio. A obra teve sua primeira edição publicada em 1943, pela Editora do Brasil e em 1970 já havia ultrapassado mais de 550 edições. Sua publicação e circulação se deram no contexto dos exames de admissão ao ginásio. Nos anos 60 e 70 para que um aluno chegasse a frequentar um Ginásio do Ensino Público (os 4 anos após o primário, hoje as 5a, 6a, 7a  e 8as séries) era necessário que passasse pelo Exame de Admissão ao Ginásio, um vestibular seletivo, devido ao número insuficiente de escolas. Por isso o livro Admissão ao Ginásio era muito famoso naqueles idos tempos.

Mas, cá entre nós, se há um livro didático ou cartilha escolar que pode receber o título de antológica, essa obra se chama Caminho Suave. Esta publicação fez a cabeça de uma geração de professores e alunos dos anos 60 e comecinho da década de 70.

Aprovado pela Comissão do Livro Didático do Departamento de Educação do Estado de São Paulo. A cartilha de Leitura era usada, geralmente, a partir do segundo ano primário. Aprovado pela Comissão Nacional do Livro didático. Caminho Suave foi um fenômeno de vendas no Brasil: calcula-se que todas edições, até a década de 1990, venderam 40 milhões de exemplares.

Outra cartilha que imperou no final dos anos 60 e início da década de 70 foi o Desenhocop que era utilizado nas saudosas aulas de Desenho. O Desenhocop tinha um conjunto de folhas finas de papel vegetal com desenhos que abrangiam grande variedade de temas escolares e também do nosso dia a dia. Bastava o aluno passar o lápis no contorno do desenho para que ele fosse reproduzido no caderno ou no papel almaço. Depois, a cópia do desenho estava pronta para encarar a fase de pintura.

Os livros de História e de Português também deixaram uma baita saudade em todos os estudantes que viveram aquela geração. Os livros de História do Brasil geralmente traziam a imagem de Pedro Alvarez Cabral ou então de alguns índios na época do descobrimento ou Bandeirantes como destaque na capa; já nos de Português era comum vermos imagens de Camões.

Não podemos esquecer, também, do famoso Atlas Geográfico. Aproveitando esse assunto, por qual motivo esse livro didático se chamava Atlas? ‘Entonce”, acredita-se que o nome Atlas tenha origem na lenda grega em que a figura mitológica Atlas foi castigada pelos deuses, que o obrigaram a segurar a Terra e os céus em seus ombros. O Atlas geográfico não chega a “segurar” céus e a Terra, mas, muitas vezes, contém a representação da Terra em diversos formatos e temas. Interessante essa explicação, não acham?

E agora que estou chegando perto do fim dessa postagem, seria uma grande injustiça se me esquecesse de duas “cositas” que marcaram a vida de nós, estudantes do ginasial dos anos 60 e 70. A primeira delas foi a saudosa máquina de mimeógrafo ou será que você nunca sentiu aquele cheirinho de álcool ao receber a prova do bimestre? O mimeógrafo era uma espécie de “impressora manual” que funciona à base de tinta e álcool.

A outra ‘cosita’ era o “Google” dos estudantes daquela geração - a qual tive a alegria de fazer parte. O nosso “Google” se chamava “Barsa”. Pesquisar antigamente não era uma tarefa fácil. Qualquer trabalho escolar exigia uma visita a uma biblioteca, horas e horas de pesquisa e depois, tudo escrito a mão, geralmente numa folha de papel almaço. Para facilitar a vida dos estudantes, existiam as enciclopédias: coleções de livros enormes, geralmente abrangendo uma grande gama de conhecimentos gerais.

Lançada em 1964, a Barsa foi a primeira enciclopédia feita especialmente para o Brasil. Seus dezesseis volumes se tornaram uma referência em conhecimentos gerais para todos nós, alunos, que vivemos aquele saudoso período.

Encerro esse post recordando do barulho do sinal. Parece que estou ouvindo ‘ele’ tocar. Como era gostoso aquele barulhinho do sinal do recreio. Quando tocava, saíamos correndo das salas, direto para o pátio comer um lanche, comprado na cantina ou preparado pelas nossas mães e que vinha guardadinho em nossa lancheira embrulhado em papel alumínio, acompanhado de uma garrafa de limonada ou QSuco. E no final, quando chegava a hora de ir pra casa, novamente o bedel batia o sinal e então, saíamos correndo para os braços de nossas mães que estavam esperando por nós na porta da escola. Ainda me lembro que o sinal da minha escola era um sino de mão. Antes de o bedel - que se chamava Servilho - chacoalhar o “bichão” já sabíamos que viria aquele “bleim-bleim-bleim-bleim”... era o sinal aguardado por todos nós.

Putz! Que saudades daquela época.

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