27 novembro 2023

10 livros conhecidos que viraram filmes marcantes nos anos 70


 

Recordando aquele velho ditado popular: “Promessa é dívida”, cá estou para cumprir o que havia prometido no final dessa postagem (ver aqui) quando ‘disse’ que voltaria para fazer um post sobre os livros que renderam filmes de grande sucesso nos anos 70. 

Enquanto selecionava o material necessário para elaborar essa lista percebi o quanto os anos 70 foram importantes para o cinema, produzindo filmes que se tornaram verdadeiras obras primas em seus gêneros; e o melhor: grande parte desses filmes baseados em livros. Resumindo: Os anos 70 foram profícuos em filmes e livros antológicos; tão antológicos que após quase meio século ainda são lembrados por cinéfilos e leitores, obrigando os canais de streamings e livrarias a programarem e comprarem, respectivamente, esses filmes e livros.

Com todo o respeito aos anos 80 e 90, mas na minha opinião, a década de 70 foi a mais produtiva em filmes de sucesso adaptados de livros; obras  que são cultuadas até nos dias de hoje.

E então? Preparados para começarmos a recordar os livraços e os filmaços dos anos de 1970? Páginas e telas caminhando de mãos dadas? Então vamos nessa!

01 – O chefão (Mário Puzo)

Filme: O poderoso chefão (1972)

Mário Puzo lançou The Godfather no final de 1969 e imediatamente a obra se tornou um grande sucesso de vendas o que acabou seduzindo Hollywood a transformá-lo num filme em 1972. No Brasil, o livro ganhou o nome de Chefão e depois devido ao mega sucesso nos cinemas foi republicado trazendo na capa a imagem com os protagonistas do filme de Francis Ford Coppola.

Todos sabem que o filme com Marlon Brando, Al Pacino, James Caan e Robert Duvall foi um estrondoso sucesso comercial e de crítica, pavimentando o caminho para mais duas sequências. O filme foi indicado a 11 categorias do Óscar, das quais venceu 3 categorias, incluindo o prêmio de Melhor Ator para Marlon Brando.

Livro e filme exploram o enredo sobre uma família de mafiosos de origem siciliana que imigra para os Estados Unidos visando ampliar os seus negócios. Lembrando que o livro de Puzo foi o primeiro romance a introduzir a realidade da máfia, tornando usuais termos como omertà, consigliere, e outros, típicos da Cosa Nostra.

A interpretação de Marlon Brando com Don Corleone, o chefe da família de mafiosos, ficou imortalizada e até hoje é considerada uma das melhores atuações de todos os tempos.

02 – Tragédia no mar (O Destino do Poseidon) (Paul Gallico)

Filme: O destino do Poseidon (1972)

Um fato curioso quando se trata de adaptações cinematográficas envolve os livros e os filmes O Poderoso Chefão e O Destino do Poseidon. Os dois livros e os dois filmes foram lançados praticamente no mesmo ano. O Chefão, de Mário Puzo foi publicado originalmente em 1969; O Destino do Poseidon, de Paul Gallico, também. As duas adaptações cinematográficas, seguiram o mesmo caminho: ambas foram lançadas em 1972. Uma outra coincidência é que os filmes foram premiados com o Óscar; em diferentes categorias, mas foram. E para fechar o rol de acasos, filmes e livros foram muito bem recebidos por público e crítica.

O livro de Gallico foi lançado no Brasil, em 1969, pela editora Expressão Cultural com o título de Tragédia no Mar: O Destino do Poseidon. Neste mesmo ano, a Edibolso publicaria uma edição de bolso da obra de Gallico.

Três anos após o lançamento da obra literária viria a produção cinematográfica “arrasa quarteirões” que faturou alto nas bilheterias dos cinemas mundiais. O filme com Gene Hackman, Ernest Borgnine, Roddy McDowall e Shelley Winters, entre outros, é considerado ao mesmo tempo precursor e obra-prima da tendência chamada de 'disaster movie' que passou a dominar Hollywood na década de 70.

Filme e livro narram o drama de um grupo de passageiros de um transatlântico de luxo, o S.S. Poseidon que após ser atingido, na véspera de Ano Novo, por uma onda gigantesca, vira de cabeça para baixo. Um grupo de sobreviventes que está em um salão de baile de um convés superior (mas que depois de virar, fica abaixo da linha d'água) tenta escapar da embarcação visando chegar à casa de máquinas que se localiza no casco do navio.

03 – Tubarão (Peter Benchley)

Filme: Tubarão (1975)

O filme “Tubarão” de Steven Spielberg baseado no livro homônimo de Peter Benchley provocou uma verdadeira histeria na época de seu lançamento chegando ao ponto de afastar muitas pessoas das praias, pois elas temiam ser atacadas por um tubarão branco como aquele dos cinemas.

“Tubarão” foi lançado nos Estados Unidos em 20 de junho de 1975, acompanhado de grande campanha publicitária da Universal Pictures, tornando-se um grande sucesso de crítica e comercial, conseguindo o que foi à época o maior faturamento da história do cinema com um pouco mais de 470 milhões de dólares e a maior bilheteria de todos os tempos, só sendo superada por Guerra na Estrelas (Star Wars) em 1977.

O livro de Peter Benchley (ver aqui e aqui) publicado em 1974 também não negou fogo e foi considerado um grande sucesso, com a versão em capa dura ficando na lista dos mais vendidos por cerca de 44 semanas e a brochura vendendo milhões de cópias no ano seguinte.

Os sucessos de livro e filme também puderam ser percebidos nas grandes filas nas portas dos cinemas e das livrarias na época dos seus lançamentos.

04 – Expresso da meia-noite (Billy Hayes e William Hoffer)

Filme: O expresso da meia-noite (1978)

Em 1977, Billy Hayes escreveu em parceria com o biógrafo Wiliam Hoffer o livro de não ficção Expresso da Meia-Noite onde narra suas experiências e fuga de uma prisão turca após ser condenado no país por tráfico de haxixe.

No início da década de 1970, os Estados Unidos declararam “guerra às drogas” e com isso, Hayes tornou-se um exemplo por tentar contrabandear haxixe para fora da Turquia . Quando sua pena foi estendida para 30 anos, ele decidiu fugir.

O livro foi adaptado por Oliver Stone e dirigido por Alan Parker em um longa-metragem de mesmo nome em 1978. Embora baseado numa história real, o filme omitiu a homossexualidade do protagonista e sofreu acusações de preconceito contra os turcos, cujas prisões virariam exemplo de "lugar execrável".

Apesar dessas polêmicas, o filme que teve uma estreia apenas morna nos cinemas em 1978, acabou ganhando, ao longo dos anos, o status de produção cult.

05 – Desejo de matar

Filme: Desejo de matar (1974)

“Desejo de Matar” que estreou nos cinemas em 1974 foi um marco do subgênero de “filme de vigilante” que marcou os anos 70 juntamente com outra pérola do gênero: “Perseguidor Implacável”. Marcou tanto a década de 1970 que acabou dando origem a uma série de cinco filmes, todos eles com Charles Bronson, além de um remake com Bruce Willis. E por falar no saudoso “cara de pedra” Charles Bronson é importante frisar que “Desejo de Matar” transformou o ator – morto em 2002 aos 81 anos - num ícone dos filmes de ação dos anos 70 e 80.

Baseado em livro homônimo de Brian Garfield publicado em 1972 (ver resenha do livro aqui), foca no personagem Paul Kersey - um pacato arquiteto da cidade de Nova Iorque - que tem sua mulher morta e sua filha estuprada por três bandidos e passa a agir como um "vigilante", perseguindo os criminosos nas ruas à noite.

Com relação ao livro de Garfield vale a pena contar uma curiosidade sobre como surgiu a ideia do autor de escrevê-lo. Vamos lá; Garfield foi inspirado a usar o tema do “vigilante solitário que sai pelas ruas fazendo justiça com as próprias mãos” após alguns incidentes em sua vida pessoal. Em um deles, a bolsa de sua esposa foi roubada; em outro, seu carro foi vandalizado. Seu pensamento inicial era que ele poderia matar o "FDP" responsável. Mais tarde, ele considerou que eram pensamentos primitivos, contemplados em um momento desprotegido. Ele então pensou em escrever um romance sobre um homem que entrou nessa maneira de pensar em um momento de raiva e nunca mais saiu dela. O romance original recebeu críticas favoráveis, mas não foi considerado um best-seller. Dois anos depois de sua publicação, ou seja, logo após o lançamento do filme, em 1974, passou a ser muito procurado, conseguindo assim, mesmo que tardiamente, o sucesso merecido.

06 – Um estranho no ninho (Ken Kesey)

Filme: Um estranho no ninho (1975)

Quando os anos 60 estavam começando ou, sendo mais exato, quando o ano de 1960 começava, um escritor, até aquele momento desconhecido, teve a ideia de se inscrever para ser monitor de um hospício em San Francisco. Ele queria ter uma noção de como os internos daquela instituição se sentiam ficando ali isolados do mundo. Foi nesse momento que esse autor desconhecido começou a imaginar como seria a vida de uma pessoa excêntrica e normal, mas considerada louca por causa de sua excentricidade, fosse parar num hospício. Como ela se sentiria? Como seria o seu relacionamento com os outros internos? Entonce, ele resolveu colocar essa ideia no papel. Pronto! Nascia assim, o livro Um estranho no ninho e ao mesmo tempo começava a surgir um escritor famoso chamado Ken Kesey.

O livro publicado originalmente em 1962 bombou em vendas e 13 anos depois iria parar nas telonas dos cinemas. O filme consagrou Jack Nickolson, firmando o seu nome como um dos atores mais icônicos de Hollywood.

“Um estranho no ninho” foi o segundo filme de maior bilheteria lançado em 1975 nos Estados Unidos e Canadá sendo superado apenas pelo fenômeno “Tubarão” de Stevem Spielberg.

O filme baseado na obra de Kesey ganhou os cinco principais prêmios do Óscar durante a 48.ª cerimônia da premiação em 1976. As estatuetas incluem as de Melhor Ator para Jack Nicholson, Melhor Atriz para Louise Fletcher, Melhor Direção para Miloš Forman, melhor roteiro adaptado para Lawrence Hauben e Bo Goldman e de Melhor Filme.

Livro e filme exploram a saga do personagem R. P. McMurphy (Jack Nicholson), um preso que escapa da condenação fingindo-se de louco. McMurphy é então internado em um hospício, sob a tutela de uma enfermeira sádica que comanda os internos com suas rigorosas sessões de terapia e eletrochoque. Aos poucos McMurphy percebe que o hospício pode ser muito pior que a prisão, nesse novo universo cercado de pacientes inseguros, ansiosos e constantemente dopados.

07 – O exorcista (William Peter Blatty)

Filme: O exorcista (1973)

Falar ou escrever o quê do livro e do filme O exorcista? Cara, é o mesmo que chover no molhado! Todos já sabem que se tratam de verdadeiras obras primas da literatura e do cinema. No meu caso, costumo mensurar a importância dessas duas obras, lembrando que a produção cinematográfica foi a primeira e única do gênero terror, até hoje, a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. Quanto ao livro, na época de seu lançamento no Brasil, em 1972, pela editora Nova Fronteira, vendeu tanto, mas vendeu tanto que fez com que os lucros obtidos pudessem patrocinar o lançamento da primeira edição do Dicionário Aurélio.

“O Exorcista” pode ser considerado o filme que alavancou o gênero terror, abrindo as portas da sétima arte para as produções do gênero que depois passaram a ser produzidas a exaustão, mas sem nunca terem superado o êxito de seu antecessor que continua sendo considerado o melhor filme de terror de todos os tempos.

Com um diretor de prestígio – William Friedkin havia lançado, dois anos antes, “Operação França”, ganhador do Oscar de Melhor Filme e Direção – e um elenco de primeira linha, encabeçado pelo sueco Max von Sydow, parceiro de Ingmar Bergman em vários clássicos, e a atriz Ellen Burstyn, indicada à estatueta dourada no ano anterior por “A Última Sessão de Cinema”, não tinha como a produção cinematográfica naufragar nas telas. Resultado: um filme de terror antológico.

Quanto ao livro O Exorcista, mesmo após mais de meio século de lançamento ainda continua sendo procurado aos montes pelos leitores nos sebos e livrarias, sim, livrarias, porque várias editoras não se cansam de relançar a história de Blatty em novos formatos, seja em capa dura ou edições de bolsos.

08 – Kramer versus Kramer (Avetry Corman)

Filme: Kramer versus Kramer (1979)

Na minha opinião “Kramer versus Kramer” é um dos melhores filmes de toda a premiada carreira do ator Dustin Hoffman. A produção cinematográfica recebeu nove indicações para o Òscar das quais ‘papou’ cinco: melhor filme, direção (Robert Benton), ator (Dustin Hoffman), atriz (Meryl Streep) e roteiro adaptado (Robert Benton).

Deu para perceber que o filme fez um baita sucesso no finalzinho da década de 70; concordam? Quanto ao livro - apesar da versão cinematográfica ter sido muito mais difundida, o que fez com que muitas pessoas pensassem que não se tratava de um roteiro adaptado – foi muito elogiado pela crítica.

Livro e filme exploram o drama do casal Kramer: Ted e Joanna . Ted Kramer (Dustin Hoffman) é um profissional para quem o trabalho vem antes da família. Joanna (Meryl Streep), sua mulher, não pode mais suportar esta situação e sai de casa, deixando Billy (Justin Henry), o filho do casal. Quando Ted consegue finalmente ajustar seu trabalho às novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a guarda da criança. Ted não aceita e os dois vão para o tribunal lutar pela custódia do garoto.

09 – Laranja mecânica (Anthony Burgess)

Filme: Laranja mecânica (1971)

Taí mais um caso de escritor que detestou a adaptação de seu livro para o cinema. Anthony Burgess não gostou nem um pouco das mudanças feitas por Stanley Kubrick em seu enredo e cuspiu marimbondos na cara do diretor. Caráculas!! E não é que Kubrick, esse gênio do cinema, conseguiu irritar dois escritores: Anthony Burgess e Stephen King? No caso de King, a decepção foi com o filme “O Iluminado”, o qual o mestre do terror detestou. Mas voltando as atenções para a Laranja Mecânica, Burgess ficou insatisfeito pelo diretor ter glorificado a violência no filme. Para o escritor, a interpretação incorreta de sua obra por parte do cineasta levou uma geração de leitores a repetir o erro.

Anos após o lançamento de “Laranja Mecânica” nos cinemas, Burgess chegou a dizer que jamais deveria ter escrito o livro, pois a própria obra dava margem a interpretações incorretas.

Mas o mais importante nisso tudo foi a aceitação de livro e filme por leitores e cinéfilos que adoraram as duas obras, não dando atenção para esse desentendimento entre Burgess e Kubrick.

A história de “Laranja Mecânica” que se passa em um futuro distópico aborda temas como a criminalidade da juventude, psiquiatria, livre arbítrio e a corrupção moral. No filme, Alexander Delarge (Malcolm McDowel)         é líder de uma gangue de jovens marginais que, por meio de atos violentos, espalham o caos pela cidade. A transformação de Alex de um punk sem moral até um cidadão exemplar doutrinado e sua volta ao estado rebelde, compõe a chocante visão do futuro que Kubrick elaborou a partir do livro de Burgess.

10 – Carrie, A Estranha (Stephen King)

Filme: Carrie, A Estranha (1976)

Fecho a nossa lista com esse livraço e esse filmaço. Claro, né... só poderia mesmo ser do tio King. Aliás, se hoje, Carrie, A Estranha é tão comentado, tão elogiado e tão cultuado, os louros dessa vitória se deve em grande parte a Tabitha Jane Spruce ou simplesmente, Tabitha King; esposa do mestre do terror.

O próprio King revelou em uma entrevista que não tinha muita certeza sobre seguir em frente com Carrie porque ele não estava gostando do que havia escrito, para ser mais enfático, tinha achado o enredo horrível e, então, jogou no lixo, pois acreditava que não condizia com a realidade. Ao ver a atitude do marido, Tabitha foi até o cesto de lixo e não parou de fuçar até ter encontrado o manuscrito todo amassado. Pegou as folhas de papel judiadas e esfregou no nariz de King. Fico imaginando a bronca que o autor levou: “Seu infeliz!! Tá louco?! Você chegou a ler direito o que escreveu?! Então, pode dar um jeito de publicar essa história porque ela é fantástica!” Pronto, nascia assim, um dos livros mais cultuados do autor.

Quanto aos filmes, Várias adaptações de Carrie foram lançadas, mas nenhuma delas supera a produção de 1976 com Sissy Spacek, Pìper Laurie, Nancy Allen e John Travolta; um clássico do gênero terror. O filme teve uma influência significativa na cultura popular. Dirigido por Brian De Palma, “Carrie, A Estranha” recebeu duas indicações ao Oscar, Melhor Atriz para Sissy Spacek e Melhor Atriz Coadjuvante para Piper Laurie, que também foi indicada na mesma categoria pelo prêmio Globo de Ouro. O filme foi marcante e mesmo tendo sido lançado quase trinta anos atrás diversas cenas permanecem na memória de diversas pessoas, como a do banho de sangue, a perseguição das garotas com Carrie no banheiro e as cenas do fanatismo desmedidas de sua mãe.

Um filmaço!

22 novembro 2023

6 cartilhas escolares dos anos 70 e 80 que deixaram uma baita saudade

Hoje, o “Livros e Opinião” vai se transformar numa máquina do tempo que levará os seus leitores para a época das saudosas cartilhas escolares que fizeram parte do aprendizado de milhares de estudantes que tiveram o privilégio de viver as gerações dos antológicos anos 70 e 80. Duas décadas mágicas, responsáveis por mudanças sociais, culturais e claro, educacionais em nossas vidas. Sim, “nossas vidas”, porque também vivi os meus melhores momentos nessas duas décadas, principalmente nos anos de 1970.

Por muito tempo perdurou que estar alfabetizado era saber as letras, juntar sílabas e formar palavras, nessa época se aprendia através da repetição de sons e era comum o uso das cartilhas nas escolas, eram o que se chama atualmente de método sintético, principalmente utilizando a fonação e a soletração.

As cartilhas que por muito tempo, sobretudo nas décadas de 70 e 80 fizeram parte do processo de alfabetização eram livros com leituras restritas que partiam de palavras-chave, principalmente substantivos e que priorizavam os métodos que citei acima.

Apesar das cartilhas escolares fazerem parte de um contexto onde as regras comportamentais eram extremamente rígidas e o estímulo ao pensamento crítico dos alunos praticamente inexistia, elas deixaram muitas saudades. Só mesmo aqueles que viveram naquela época para entender tal magia que provoca uma emoção enorme aos vermos uma ilustração ou imagem desses materiais escolares antigos.

A nossa máquina do tempo já está chegando nos anos 70 e 80; período em que era praxe todos os estudantes das escolas primárias e secundárias formarem filas duplas no pátio para cantarem, na hora da entrada, o hino nacional e o hino da bandeira. Depois, essas turmas subiam, em formação, para suas respectivas salas de aula para realizarem os seus deveres escolares tendo como fiéis companheiras as suas cartilhas; as mesmas cartilhas que iremos reviver a partir de agora nessa postagem.

Vamos a elas!

01 – Caminho Suave

Quem tem mais de 40 ou 45 anos de idade com certeza irá se lembrar da cartilha Caminho Suave. Tratada como relíquia e lembrada como uma forma mais tradicional e conservadora de aprendizagem da leitura que as atuais, a cartilha Caminho Suave marcou época. 

Para entender a sua importância, basta lembrar que entre a década de 50 e os anos 1990, passando, claro, pelos imbatíveis anos 70 e 80, estima-se que mais de 48 milhões de brasileiros tenham aprendido a ler seguindo as frases simples da cartilha Caminho Suave, que usava a técnica denominada "alfabetização por imagem", e que ainda desperta memórias afetivas de muitos adultos como a lembrança de um método eficiente para ensinar a ler.

A ideia adotada era bem simples: associar imagens e letras com o objetivo de facilitar o aprendizado. Por exemplo, a letra A era escrita no corpo de uma abelha, a B na barriga de um bebê, a V compunha os chifres de uma vaca. Em razão dessa estratégia, criada pela professora Branca Alves de Lima em 1948, a publicação tornou-se conhecida como um método de "alfabetização pela imagem".

O livro foi um sucesso por décadas, até cair em desuso e perder o prestígio em meados dos anos 1990, quando novas pesquisas da psicolinguística e sociolinguística passaram a tratar a alfabetização como um processo que deveria ensinar mais do que apenas a decifrar letras e sílabas.

02 – Cartilha da Infância

A Cartilha da Infância criada por Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo, professor formado pela Escola Normal de São Paulo também pode ser considerada antológica nas décadas de 70 e 80. Ela se baseava no método da silabação e foi publicada no início da década de 1880; em 1890, foi modificada e ampliada por Romão Puiggari, tendo atingido sua 233ª edição, em 1992.

Essa cartilha se caracterizava como uma concretização do método da silabação ou silábico, considerado por Galhardo como “moderno” e “solução intermediária” mais adequada ao ensino da leitura e escrita às crianças, naquele momento histórico. Trata-se de método sintético, de acordo com o qual se inicia o ensino da leitura com a apresentação das

famílias silábicas – aprende-se a sílaba, depois a formação de palavras e, por fim, a estruturação da frase.

03 – Nova Cartilha Analítico Sintética

Para conciliar os dois métodos de alfabetização, o moderno e o antigo, o educador piracicabano Mariano de Oliveira criou em 1916 a Nova Cartilha Analítico Sintética que só viria a ser publicada um ano depois. Ela durou até 1976, tendo o seu auge em 1941. Da sua criação até o início dos anos de 1940, esse material didático conseguiu vender mais de um milhão de exemplares, mantendo a média de tiragem, por ano, acima dos 100 mil exemplares até 1969.

Apesar de no início de 1970 a sua produção ter caído drasticamente para 40 mil exemplares e chegando em 1976 a apenas 1.000 exemplares, essa apostilha continuou sendo usada como principal apostilha de educação infantil em muitas escolas da década de 70 até sair de circulação no final de 1976.

04 – Cartilha Sodré

A Cartilha Sodré que ficou conhecida pelos professores como “Método Sodré de Educação” foi criada pela professora  Benedicta Stahl Sodré. Ela concluiu o curso de professora pelo Instituto de Educação Sud Minucci de Piracicaba, ingressou no Magistério e depois foi removida para a cidade de São Carlos. Lecionou durante 32 anos e concomitantemente, dedicou-se à pesquisa no campo da alfabetização, que resultou na organização de um processo de alfabetização, culminando com seu primeiro livro: “Cartilha Sodré”, que teve uma tiragem espetacular e que auxiliou na alfabetização de milhares de brasileiros.

A sua primeira edição foi lançada em 1940. A partir da 46ª edição, de 1948, a Cartilha Sodré passou a ser publicada pela Companhia Editora Nacional. Conforme dados da editora, de 1948 até 1989, data da última edição, foram produzidos 6.060.351 exemplares. Em 1977, ela foi remodelada pela educadora Isis Sodré Verganini. Além da alteração no formato da cartilha, foram acrescentadas mais 30 páginas.

A Cartilha Sodré tinha um método próprio, o ‘Método Sodré’, ou ‘Alfabetização rápida’ onde todas as lições eram organizadas de acordo com o processo “rápido”. O processo era considerado rápido, porque os alunos eram inseridos imediatamente na aprendizagem das sentenças, palavras e sílabas, sem que houvesse um período preparatório.

Acredito que muitos leitores e seguidores do “Livros e Opinião” quando crianças seguiram esse método de alfabetização em suas escolas.

05 – Tabuada: ensino prático para aprender aritmética

Cara, essa cartilha me provocava terrores e pesadelos dos mais “pesados”. Simples: sempre fui um péssimo aluno quando o assunto se relacionava com números e equações. Caráculas! Tabuada, então... nem pensar. 

Mas independentemente do meu medo com a tão temida matemática, não posso negar que essa cartilha deixou saudades em muitos alunos, principalmente aqueles que estudaram nas escolas dos anos 70.

Tabuada: ensino prático para aprender aritmética vai além das tabelas, trazendo "dicas" das operações matemáticas. Esse material foi bastante utilizado por milhares de alunos do ensino primário na década de 70 em todo o Brasil.

06 – Desenhocop

Este caderninho espiral de capa grossa surgiu no final dos anos 60 e imperou também no início de 1970. O tal do Desenhocop causou uma verdadeira revolução no ensino daquele período, provocando frisson em alunos e professores de educação Artística (nos anos 70, eles eram chamados de professores de Desenho). Como eu não tinha nenhuma aptidão para desenhar, confesso que devo à esse santo caderninho mágico, as minhas notas, pelo menos, razoáveis na matéria.

O Desenhocop tinha um conjunto de folhas finas de papel vegetal com desenhos que abrangiam grande variedade de temas escolares e também do nosso dia a dia. Cada série escolar tinha o seu Desenhocop específico, por isso, o conjunto de temas tinha uma grande variedade, entre os quais vultos da nossa história, religião, ciências, etc.

Como ele funcionava? Simples. Bastava o aluno passar o lápis no contorno do desenho para que ele fosse reproduzido no caderno ou no papel almaço. Depois era só reforçar as linhas copiadas e pronto! A cópia do desenho estava pronta para encarar a fase de pintura. O Desenhocop fazia todos nós, estudantes dos anos 60 e 70, nos sentirmos grandes “artistas”.

E quanto a você? Será que algumas dessas cartilhas colaboraram com a sua alfabetização no passado?

18 novembro 2023

Aquecimento global e mudanças climáticas. O fim do mundo está próximo? Confira 8 livros sobre o tema

Estou escrevendo esse texto quando os números do relógio do meu notebook marcam exatos 04H15 da madrugada. É uma sensação estranha, galera, porque desde a estreia do blog – e isso, há mais de onze anos – nunca escrevi um post “tão madrugada assim”. 1H30, 02H00 ainda vá lá, mas... 04H15, juro que é a primeira vez. Como revelei acima, é uma sensação estranha, mas admito que muito gostosa.

E como Morfeu me abandonou, resolvi escrever, aliás, já estava passando da hora né? Praticamente, uma semana sem nenhuma postagem no blog! Mas não foi desleixo da minha parte. Na verdade, a pressão por cumprimentos de prazo em meu serviço estava trash durante a semana fazendo com que eu chegasse ao ponto de trazer alguns projetos para a minha casa pra serem concluídos. Mesmo Lulu ficando P. da Vida e com razão, tive de quebrar a famosa regra: “quando sair pela porta do seu trabalho, também esqueça o seu trabalho”. Fazer o que, né?

Mas vamos “falar” de livros; e “falar” de livros durante a madrugada. Uhauuuu! Tô gostando disso (rs). Tudo tranquilo, sem nenhum ruído, enfim, aquela sensação gostosa de madruga. Será que vai virar hábito? (rs).

Galera, hoje, quero de indicar alguns livros sobre os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global em nosso planeta e consequentemente em nossas vidas. Perceberam como os últimos acontecimentos, tais como ondas de calor escaldantes, tempestades, enchentes, secas que chegam a esvaziar rios e matar botos se parecem com enredos de filmes apocalípticos ou pós apocalípticos do tipo “2012”, “O Dia Depois de Amanhã”, entre outros? Verdade! Não digo um enredo completo, é evidente, mas pelo menos o início, ou seja, logo na introdução desses filmes quando, geralmente, um grupo de cientistas alertam para algumas mudanças ou fenômenos climáticos que estão ocorrendo no planeta, por culpa do próprio homem, mas a população não dá nenhuma atenção.

‘Entonce’, tive a ideia, nessa madruga em que o sono fugiu, de publicar uma lista com 8 obras – seja de ficção ou não – sobre mudanças climáticas ou aquecimento global que podem levar a nossa extinção. Vamos conferir.

01 – A terra inabitável – Uma história do futuro (David Wallace-Wells)

O que despertou o meu interesse nesse livro foram as avaliações positivas recebidas dos leitores da Amazon: praticamente uma unanimidade. 

David Wallace-Wells que é jornalista de ciência da revista New York e do jornal The Guardian especializado em aquecimento global, alerta que se não houver uma mudança completa, por parte da população, na maneira de tratar o nosso planeta, estaremos a um passo de uma verdadeira hecatombe. Mortes por calor, fome, enchentes, queimadas, queda da qualidade do ar, desertificação, colapso econômico... Essa é só uma amostra do que estaria por vir.

De acordo com o autor, se não revolucionarmos por completo o modo como vivem bilhões de seres humanos, partes extensas do planeta se tornarão inabitáveis, e outras serão inóspitas, ao fim deste século que vivemos.

Nesta projeção do nosso futuro próximo, Wells faz um alerta sobre os problemas climáticos que nos aguardam: falta de alimentos, emergências em campos de refugiados, enchentes, destruição de florestas e desertificação do solo.

02 – Como evitar um desastre climático: as soluções que temos e as inovações necessárias (Bill Gates)

Outro livro também muito elogiado pelos leitores da Amazon. Como evitar um desastre climático: as soluções que temos e as inovações necessárias do gênio fundador do Microsoft, Bill Gates, engloba a maior parte dos aspectos que devem ser considerados por governos, empresas e pessoas para o alcance da redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera em 2050 evitando uma catástrofe climática.

De acordo com informações na contracapa da obra lançada pela Companhia das Letras, Bill Gates passou uma década investigando as causas e os efeitos da mudança climática. Com a ajuda de especialistas nas áreas de física, química, biologia, engenharia, ciência política e finanças, ele se concentrou no que deve ser feito para impedir uma catástrofe ambiental.

No livro, segundo a editora, o fundador da Microsoft não explica apenas por que precisamos zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa, mas também detalha como podemos atingir esse objetivo e superar os desafios que temos pela frente.

Gates também apresenta um plano prático para zerar as emissões, que inclui desde as políticas públicas até as atitudes que nós, cidadãos, podemos tomar a fim de monitorar o trabalho do governo, de nossos empregadores e de nós mesmos.

03 – 2084: Uma ficção baseada em fatos reais sobre o aquecimento global e o futuro da Terra (James Powell)

Título e subtítulo da obra já entregaram tudo sobre o que o livro do escritor e geólogo James Powell explora. No enredo, apesar do alerta de cientistas, estudiosos e pesquisadores do clima, a população e principalmente os governos e os grandes conglomerados industriais não cuidaram do planeta e agora, em 2084, “ele” se rebela e a Terra passa a sofrer as consequências. 

O autor começa entrevistando pessoas de diversos países e cidades, mostrando tudo do que aconteceu. Amazônia em chamas, racionamento de água na maioria dos países, lugares inundados, calor extremo, além de outras mudanças climáticas caóticas.

Nada disso aconteceu. Ainda. Mas pode acontecer, como alerta Powell nesta obra de ficção que se ampara no conhecimento científico de hoje para prever um amanhã terrível – se nada for feito.

Ao simular entrevistas com políticos, cientistas e cidadãos de vários países que perderam tudo em eventos climáticos extremos e seus desdobramentos, Powell lança um alerta importante para que moradores, políticos e grandes empresários passem a dedicar uma atenção maior ao nosso planeta.

04 - Caiu do Céu: o Promissor Negócio do Aquecimento Global (Mckenzie Funk).

Apesar de não conhecer o enredo do livro de Mckenzie Funk, mesmo porque ainda não o li, achei o seu plot muito interessante. O autor busca fazer uma análise do lucro obtido por várias pessoas e empresas graças ao avanço do aquecimento global e das mudanças climáticas. Confesso que esse plot me surpreendeu ao ponto de pensar seriamente em adquirir o livro, apesar da minha lista estuporada de leituras atrasadas.

De acordo com informações da editora Três Estrelas que publicou o livro em 2016, a mudança climática não é, apenas, sinônimo de catástrofe para todo mundo. Para alguns significa um novo e promissor horizonte de negócios.

Em seu release, a editora explica que Caiu do Céu: o Promissor Negócio do Aquecimento Global é fruto de uma investigação de seis anos e conduz o leitor a várias partes do planeta - da Groenlândia ao Sudão do Sul, da Índia à Áustria - a fim de fazê-lo descobrir como o aquecimento global também está esquentando vários setores da economia, como as seguradoras, o mercado financeiro, a exploração de petróleo e a aquisição de terras.

Dessa maneira, apesar dos danos causados à Terra pela mudança do clima se avolumarem a cada dia com algumas regiões sendo consumidas pela seca, outras devastadas por inundações, ilhas e regiões litorâneas sentindo os efeitos da elevação do nível do mar, além da escassez de água e alimentos ameaçando a economia de vários países e a vida de numerosas populações; muitas pessoas insistem em pensar apenas nos lucros gerados por essas catástrofes.

05 – A espiral da morte: Como a humanidade alterou a máquina do clima (Cláudio Angelo)

Taí, outro livro sobre o tema dessa postagem pelo qual me interessei. A obra de Claudio Angelo foi vencedora do Prêmio Jabuti de 2017 na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática. Acredito que apenas isso, já credencia A espiral da morte como uma das obras mais importantes da literatura nacional.

Numa mistura de reportagem, diário de viagem e relato científico, o autor mostra, através de uma viagem realizada aos extremos da terra para documentar os impactos da mudança climática, como o Ártico e a Antártida estão derretendo por causa das ações humanas e como isso impactando desde animais icônicos como os pinguins e os ursos-polares até os moradores de metrópoles brasileiras como Rio e Recife.

A editora Companhia das Letras informou em seu release promocional que através de uma linguagem fluida e divertida, A espiral da morte passeia entre agricultores esquimós, ursos esfomeados, ambientalistas presos, marinheiros heróis, os interesses da poderosa indústria do petróleo e também sobre a  coragem de cientistas que arriscam suas vidas nos locais mais inóspitos do mundo para desvendar o quebra-cabeças do aquecimento global.

06 – Nossa casa está em chamas (Greta Thunberg, Svante Thunberg, Beata Ernman e Malena Ernman)

Apesar de ter sido lançado há quatro anos, Nossa casa está em chamas não perdeu a atualidade e continua despertando o interesse dos leitores que estão a procura de livros sobre o tema. 

A obra é o relato e a história da jovem ativista socioambiental Greta Thunberg, uma das personalidades mais influentes da nova geração. O livro destaca como a luta de uma adolescente sueca contra a crise climática ganhou repercussão mundial após ela perceber que a mídia e os políticos não falavam ou não faziam algo a respeito. Além de relatos da família, o livro reúne discursos poderosos que Greta fez ao redor do mundo. Uma leitura inspiradora, que incentiva muitas pessoas a se conscientizarem e agirem em prol do meio ambiente.

Convencer seus pais a mudar o estilo de toda a família foi o primeiro sinal da obstinação da jovem e de seu poder de persuasão. Em seguida, ela decidiu convencer o mundo a fazer a mudança agora, antes que seja tarde demais. Greta passou a fazer um protesto toda sexta-feira em frente ao Parlamento sueco contra a crise climática. Em pouco tempo, estudantes de todo o mundo passaram a fazer o mesmo em seus países.

Frisando que Greta Thumberg foi considerada pela revista Time uma das líderes da próxima geração e uma das adolescentes mais influentes do mundo.

07 - Ideias para Adiar o Fim do Mundo e outros (Ailton Krenak)

Ailton Krenak é um líder indígena que nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. 

Neste livro, ele critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”. Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo.

Krenak têm o mérito de introduzir o leitor a uma série de questões fundamentais para a vida na Terra. O autor acredita que a humanidade deve se educar “para desacelerar nosso uso de recursos naturais, diminuir o gasto excessivo de tudo”, mas que “não é inventando o mito da sustentabilidade que vamos avançar”.

O livro aborda uma ideia bastante interessante de que os indígenas atribuem personalidade para a natureza, consideram-na como alguém da família, e isso a torna importante para eles. Mas, em geral, a população, principalmente os governantes, querem apenas explorar a natureza, destruindo-a aos poucos.

Ideias para Adiar o Fim do Mundo e outros ocupa o primeiro lugar no ranking das obras nacionais mais vendidas na Amazon.

08 – Nova York 2140 (Kim Stanley Robinson)

Encerro essa toplist com uma obra de ficção. Em Nova York 2140, o americano Kim Stanley Robinson entrelaça os assuntos economia e ecologia onde o derretimento das calotas polares provoca um aumento de 15 metros nos mares. Com isso, cidades costeiras ficaram parcialmente submersas. 

Nesta ficção, os desastres ambientais são tratados como desdobramentos inevitáveis de práticas financeiras predatórias. Um dos protagonistas, Franklin Garr, é operador da bolsa de valores, e ganhou muito dinheiro ao encarar o aquecimento global como uma espécie de destruição criativa — da mesma maneira como o mundo financeiro tratou o colapso econômico em 2008.

Acho que vou ficando por aqui, mesmo porque o sono que havia me abandonado já começou a tentar me seduzir, e cá entre nós, acho que ‘ele’ está conseguindo. Estou quase zzzzzzz.... apagando.

Sem chances; vou deixar para revisar e publicar essa postagem amanhã - o que hoje já deve ter acontecido. Agora, quero dizer nesta madrugada... não dá

Inté pessoal!

12 novembro 2023

Meu Nome é Ninguém – O Juramento

Tão bom quanto “Circe” de Madeline Miller. Esta é a melhor definição para o livro do escritor, jornalista e arqueólogo italiano Valério Massimo Manfredi. Aliás, deixe-me fazer uma pequena mudança nessa definição: sai o “bom” e entra o “ótimo”. Portanto, Meu Nome é Ninguém – O Juramento é tão ótimo quanto Circe.

Adorei o livro logo de cara porque gosto de narrativas em primeira pessoa, ou seja, quando o protagonista da história assume o controle total do enredo como se dissesse para o escritor: “Se manda que agora eu assumo daqui para frente”. Somado a isso, eu também adoro mitologia grega. Quer mais? Amo esses dois personagens da mitologia: Circe, a Feiticeira e Ulisses. Sendo assim, para gostar do livro só faltava ele ser bem escrito; e diga-se, Meu Nome é Ninguém - O Juramento é tão bem escrito quanto a obra magnífica de Miller. Resultado: amei, amei e amei a história de Massimo.

Cara, imagine só, Ulisses, um dos personagens mais famosos da mitologia grega – tão famoso que ganhou de Homero um poema só seu no evento mais célebre de toda a mitologia: a Guerra de Tróia – contando de viva voz toda a sua história; desde o seu nascimento até a sua participação na guerra causada pela mulher mais bonita do planeta.

Como arqueólogo que é, além de escritor, Massimo cavucou à fundo as origens do personagem, desenterrando informações inéditas que nunca haviam sido reveladas em nenhum livro sobre o tema. Como foi o nascimento de Ulisses ou Odisseu, porque ele ganhou esse nome e quem lhe deu esse nome, como foi o início de seu treinamento e como ele aprendeu a desenvolver as suas habilidades de persuasão, a importância e a influência do avô de Ulisses em seu crescimento, além de muitos outros detalhes até outrora, desconhecidos sobre a infância e adolescência do herói.

Passando pela sua fase adulta, os leitores descobrirão como o herói conheceu Penélope, como eles se apaixonaram e como foi o seu casamento; como Odisseu conheceu Aquiles, outro herói famoso da Guerra de Tróia, e como foi o desenvolvimento dessa amizade – vale lembrar que Ulisses foi, de fato, o único herói que Aquiles, verdadeiramente respeitou.

Meu Nome é Ninguém – O Juramento, explica minuciosamente a origem da Guerra de Tróia, um evento que começou após a quebra de um juramento idealizado por Ulisses. As vitórias, derrotas, conflitos, alegrias, tristezas; enfim, como era o dia a dia dos heróis gregos em seu acampamento ao redor das muralhas de Tróia. Tudo isso narrado por Ulisses.

Massimo ainda encontrou espaço em sua obra para contar outras passagens importantes da mitologia grega envolvendo Hércules e o famoso argonauta Jasão que tiveram um envolvimento, mesmo que indireto com Ulisses.

O autor também explora em seu livro, a lenda grega de Admeto e Alceste. Na tragédia, Admeto é condenado a morte e sua esposa Alceste aceita dar sua vida em troca da dele. Ele então, vai até o Hades e consegue trazê-la de volta à vida. A questão é que quando ela retorna... – acredite, essa lenda também tem relação com Ulisses, mesmo que de maneira indireta.

Outra curiosidade revelada pelo escritor em Meu Nome é Ninguém - O Juramento que eu não sabia e também, com certeza, a maioria de vocês desconheciam era o envolvimento entre Helena de Tróia e Ulisses. Não conto mais detalhes para não revelar spoillers, mas adianto que por muito pouco, Ulisses quase foi o escolhido de Helena. Fico imaginando como seria vê-lo no lugar de Menelau.

Enfim galera, um livro que pode ser chamado de “livraço”. Agora, pretendo ler a segunda e última parte da duologia de Mássimo (Meu Nome é Ninguém - O Regresso) que narra a viagem tumultuada e cheia de perigos que Ulisses/Odisseu realizou em seu retorno à Ítaca após os 10 anos de guerra contra os troianos. Agora, some esses 10 anos com outros 17 – que foi o tempo que durou a viagem de Ulisses. Viu só o resultado? Pois é, temos 27 anos! Este foi o período de tempo que o famoso herói grego ficou longe de sua amada Penélope e de seu filho Telêmaco, na época recém-nascido.

Inté!

07 novembro 2023

Estou sofrendo de D.D.R (Depressão De Releituras)

Ouço e vejo muitos comentários sobre Depressão Pós Livro, a famosa “DPL”, mas acho que acabei de descobrir um novo tipo de depressão exclusiva de todos nós leitores, a desconhecida: “DDR” que significa: “Depressão De Releituras”. Pois é, acho que estou passando por ela porque tenho todos os sintomas suspeitos. O primeiro sinal de alerta surge quando você, de repente, sente uma vontade incontrolável de reler determinado livro. O segundo sinal aparece quando você mal começou a releitura de um livro e já está com vontade de reler um outro. E por fim, o sintoma que comprova que você, de fato, sofre de DDR é aquele em que nem começamos a reler uma obra e, então, surge a vontade de encarar uma saga completa. De repente, são três, quatro, cinco ou mais livros que ingressam na fila. 

O leitor começa, assim, a ficar deprimido porque além dos livros novos que tem em sua lista de leituras, a fila começa a engrossar por causa das releituras e com isso, a DDR se instala.  Há dois tipos de tratamento: o tratamento de choque e, por fim, o tratamento mais demorado. O primeiro é bem radical, do tipo: esqueça as releituras e leia apenas os novos de sua lista e espere essa vontade louca de reler ir se dissipando aos poucos. Já no segundo tratamento: o leitor deve frear o seu impulso de comprar novos livros e logo na sequência, criar o hábito de ler dois livros; por exemplo: num período do dia “ataco” uma obra inédita e no outro período, ataco uma releitura. Neste tipo de tratamento pode ser aplicada uma pequena variação: releia antes todos aqueles livros os quais você está morrendo de vontade - porque nada melhor do que aproveitar o momento em que estamos “morrendo de sede” de beber um enredo literário que nos atrai; isto é o que definimos de magia da leitura – e só depois passe a encarar as novas aquisições literárias.

No meu caso, eu prefiro essa segunda opção de tratamento para a DDR. Mas vocês perceberam como é difícil cuidar desse tipo de depressão? Mas agora, deixando a linguagem conotativa de lado, quero revelar para vocês que estou passando por uma fase de releituras. Assim, do nada, surgiu uma vontade incontrolável de reler ASombra do Vento de Carlos Ruiz Zafon. Este impulso veio no momento em que estava lendo Circe: Feiticeira. Bruxa.Entre o castigo dos deuses e o amor dos homens de Madeline Miller. Pensei comigo: “Assim que terminar Circe já começo o livro de Zafon”. Mas ao concluir a leitura de Circe, optei por iniciar O Meu Nome é Ninguém – O Juramento de Valerio Massimo Manfredi que conta a saga de Ulisses, um dos maiores heróis da mitologia grega. Pensei novamente comigo: “enquanto vou acalentando a doce sensação de uma releitura de Zafon, bebo na “fonte inédita” de Meu Nome é Ninguém outro livro que estava morrendo de vontade de ler. Aí, sim, depois, releio A Sombra do Vento.

Me ferr... porque mal tinha alcançado a metade do livro de Manfredi, a DDR atacou novamente e de maneira brutal. Novamente, do nada, veio aquela vontade traiçoeira de reler toda a quadrilogia O Cemitério dos Livros Esquecidos do qual A Sombra do Vento faz parte. A saga é composta ainda por O Jogo do Anjo, O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos.

Como eu “disse” essa impiedosa DDR veio rasgando porque além da quadrilogia de Zafon, ontem surgiu, repentinamente, o desejo de reler a história do apóstolo São Lucas contada de maneira romanceada no clássico Médico de Homem e de Almas de Taylor Caldwell que vendeu milhares de livros em todo mundo. E pra complicar um pouco mais, vale lembrar que com a exceção de O Prisioneiro do Céu todos os demais livros que desejo reler tem um número bem considerável de páginas.

Taí galera, apresento-lhes um novo distúrbio comum para todos nós devoradores de livros, a DDR.

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