06 dezembro 2013

“O Caminho de Jedi” e “O Livro dos Sith” chegam para a alegria da geração Star Wars


Há momentos mágicos em nossa infância ou adolescência que jamais esquecemos. São lembranças tão especiais que chegam a criar raízes em nossa alma, fazendo daquele cantinho tão íntimo a sua morada. Posso dizer que as lutas estupendamente coreografadas com os sabres de luz envolvendo os guerreiros Jedi e os integrantes do lado negro da Força fazem parte das lembranças que marcaram a minha pré-adolescência. Cara! Como eu ficava fascinado com aquelas cenas. E o confronto final entre Luke Skywalker e Darth Vader?! Definitivamente fantastic!
Com certeza, a trilogia de George Lucas revolucionou toda a uma geração, a minha geração. Por isso, quando soube que a editora Bertrand Brasil iria lançar dois livros sobre a saga mais lucrativa dos cinemas, disparei rojões para todos os lados. E quando descobri detalhes sobre o contexto desses livros... meu amigo... simplesmente troquei os rojões por morteiros e recomecei o tiroteio.
“O Caminho de Jedi” e “Os livros dos Sith”prometem uma verdadeira revolução, fugindo totalmente do convencional. Esqueça aquelas obras “feijão com arroz” que mostram os bastidores de uma produção cinematográfica ou então aquelas entrevistas chatas com atores, diretores e produtores ou ainda os ‘mexericos da Candinha’ que  irritam o mais pacato dos leitores. Os dois livros da Bertrand vão bem mais além. Numa jogada mercadológica e editorial hiper-inteligente, o contexto dos dois livros mostra, sim, os bastidores, mas os bastidores dos cavaleiros Jedi e dos integrantes do lado negro da Força. Algo para deixar o mais abelhudo dos leitores mais abelhudo ainda ou será que você nunca teve a curiosidade de conhecer os segredinhos dos treinamentos dos cavaleiros Jedi? E quanto a roupa utilizada pelos personagens, principalmente por Darth Vader? Quais eram os costumes dos clãs Jedi? E por aí afora. Enfim, um verdadeiro dossiê sobre esse personagens lendários.
“O Caminho Jedi”, do escritor Daniel Wallace, trata-se de um manual de treinamento da Ordem com histórias dos clãs, vestuário e lutas. O livro que foi lançado em 29 de novembro e custa em média R$ 50,00, tem capa dura e 160 páginas. Uma autêntica obra de colecionador com todos ensinamentos necessários para quem deseja trilhar os caminhos da Força.
O livro funciona como um almanaque dos guadiões da paz nas galáxias. Nele são apresentados os maiores mestres, a história dos clãs, os armamentos, o vestuário, os golpes de lutas, entre outros. Em O Caminho Jedi, o leitor vai desvendar os segredos e partilhar do conhecimento passado de geração para geração – aprendendo, inclusive, as nuances do combate de sabre de luz e a hierarquia Jedi. Além disso, conhecerá novos personagens, novas criaturas e novas naves. Passado de mão em mão de Mestre para Padawan, de Yoda e Obi-Wan Kenobi para Anakin e Luke Skywalker, este exemplar recebeu as anotações de cada Jedi que tocou e estudou suas páginas — adicionando suas experiências pessoais e as lições aprendidas. Ah! Ah! Ah! Legal né galera?! Bem diferente.
Quanto ao “Livro dos Sith”, também de Wallace,  o contexto é praticamente o mesmo, mas mostrando o lado dos inimigos, os clãs, o treinamento e os demais segredos dos Sith.
Os menos iniciados no universo Star Wars podem estar se perguntando: “Afinal de conta quem são os Sith?”. Vamos lá. Os Sith foram uma seita de usuários do lado negro da Força determinados a dominar a galáxia e destruir os Jedi. Eles eram caracterizados pela sua busca pelo poder, ambição, e métodos brutos que estavam dispostos a usar para conseguir o que quisessem. Pelo que sei é mais ou menos isso, ou então, basta dizer que os Sith são a troupe de Darth Vader e companhia limitada.
A Bertrand avisa que “O Livro dos Sith” deverá ser lançado em fevereiro de 2014.
Taí galera, amantes de Star Wars, preparem os bolsos, façam uma economia e depois divirtam-se!!


02 dezembro 2013

Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil


O meu espírito ficou tão alquebrado que não tive condições de escrever esse post tão logo terminei a leitura de “Holocausto Brasileiro – genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, livro da jornalista Daniela Arbex. Cara, sei lá... Fiquei com raiva, revoltado, puto da vida, mas principalmente com uma sensação de impotência diante de toda a barbárie e desumanidade que ocorreram durante décadas atrás dos muros do maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, localizado na cidade mineira de Barbacena.
Com raiva dos políticos e coronéis das décadas de 30 a 80, aqueles covardes infelizes que apesar de enxergarem um campo de extermínio à sua frente, nada fizeram para mudar a situação, preferindo colocar um tapume sob os olhos. Raiva de alguns diretores e psiquiatras do Colônia que se omitiram diante de uma verdadeira matança que acontecia à sua frente, optando por cruzar os braços e virar as costas. Sabem por quê? Porque a chamada “indústria da loucura” era muito lucrativa para essas pessoas, portanto, fomentá-la ao invés de aboli-la, obviamente, era bem mais interessante. Revoltado com a sociedade que não se mobilizou para reverter esse quadro, tão logo tomou conhecimento do campo de concentração do Colônia através de reportagens publicadas nas revistas e jornais da época. Revoltado com os meios de comunicação das décadas de 60 e 70 que não insistiram no assunto, preferindo publicar apenas uma ou no máximo duas reportagens sobre a horrível barbárie. E finalmente, estou ‘P... da Vida” comigo mesmo, por não ter uma máquina do tempo para voltar naquela época e quem sabe... quem sabe... e quem sabe... Putz, José Antônio! Larga a mão de ser babaca e garganteador! Cai na real meu! O que você poderia fazer? Com certeza nada. Os tempos eram outros, os costumes e hábitos da sociedade também e isso e mais aquilo... e blá, blá, blá. E... Arghhhhhhhhhhh!!! Melhor ficar aqui no meu cantinho curtindo o meu misto de raiva e decepção.
Cara, ta vendo só o que a revolta provoca na gente? Ódio, inconformismo e finalmente impotência. Foi assim que me senti após ler o livro de Arbex. Pois é galera, como são as coisas, né? Nós, brasileiros – quer dizer, os nossos antepassados – ficaram horrorizados com o holocausto nazista, mas não percebiam que um holocausto similar ocorria em nosso país, bem debaixo de seus narizes. Se na Alemanha, os judeus eram as vítimas de atrocidades, por aqui, os desajustados socialmente, os alcoólatras, as vítimas de estupros, os desabrigados, os renegados pela própria família e os doentes mentais eram os escolhidos para serem enviados ao campo de extermínio do Colônia.
O livro de Arbex escancara as portas da verdade sobre tudo o que aconteceu atrás dos muros e das portas daquela casa de horrores, principalmente no pavilhão Afonso Pena, onde eram registradas cenas que mais se pareciam com um filme de terror.
A autora foi muito corajosa ao remexer em feridas purulentas, trazendo à tona a verdade sobre o Colônia. O leitor passa a saber de tudo o que aconteceu no hospício mineiro, além de conhecer os poucos, mas importantes “heróis da resistência”,  pessoas que se opuseram ao regime de barbárie e fizeram de tudo para mudar a situação, pagando um alto preço por isso, sofrendo as piores retaliações, desde demissões, calúnias e ameaças.
Internos no pátio do Colônia, vivendo em condições sub-humanas
Para ler a obra de Arbex, o leitor deve preparar o seu espírito porque realizará uma verdadeira viagem ao inferno, inclusive, é dessa maneira, ou seja, no âmago do inferno, que uma funcionária do Colônia se sente ao iniciar o seu primeiro dia de trabalho no hospício. Marlene Laureano revela em entrevista à autora do livro que ao entrar pela primeira vez na instituição imaginou estar abrindo as portas da casa de Lúcifer. “Um cheiro insuportável alcançou a sua narina... Marlene foi surpreendida pelo odor fétido, vindo do interior do prédio. Nem tinha se refeito de tamanho mal estar, quando avistou montes de capim espalhados pelo chão. Junto ao mato havia seres humanos esquálidos. Duzentos e oitenta homens, a maioria nu, rastejavam pelo assoalho branco com tozetos pretos em meio à imundície do esgoto aberto que cruzava o pavilhão. Marlene sentiu vontade de vomitar. Queria gritar, mas a voz desapareceu da garganta”.
Optei por narrar boa parte do que a funcionária sentiu para que o leitor sinta um pouco o clima do livro e o que irá encontrar à partir do momento em que ingressar nessa “viagem”.
Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: as atrocidades inimagináveis, praticadas durante a maior parte do século 20 no maior hospício do Brasil.
Ao resgatar essa história terrível, a autora e jornalista mineira, traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conveniência de médicos, funcionários e também da população, pois como diz a própria Arbex, “nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade”.
Jornalista e escritora mineira, Daniela Arbex
Como o próprio subtítulo da obra revela, pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros do Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. E pasmem: pelo menos 33 eram crianças que ficavam confinadas junto com os adultos, a maioria deles nus, vivendo com verdadeiros animais!
Quando chegavam ao hospício, suas cabeças eram raspadas, suas roupas arrancadas e seus nomes descartados pelos funcionários, que os rebatizavam. O cartão de visitas para os novos “moradores” era o temível eletrochoque, quando os internos eram amarrados pelas mãos e pelos pés ao leito. Os gritos de medo e pavor das pobres vítimas eram calados pela borracha colocada à força entre os lábios, única maneira de garantir que não tivessem a língua cortada durante as descargas elétricas.
Os pacientes do Colônia às vezes comiam ratos, bebiam água do esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados. Nas noites geladas da Serra da Mantiqueira, eram deixados, nus ou cobertos apenas por trapos. Pelo menos 30 bebês foram roubados de suas mães. As pacientes conseguiam proteger sua gravidez passando fezes sobre a barriga para não serem tocadas. Mas, logo depois no parto, os bebês eram tirados de seus braços e doados.
Paciente bebe água do esgoto que corta o pavilhão
Um dos capítulos mais revoltantes do livro é aquele que retrata a fábrica de cadáveres do Colônia. O hospício se transformou no período de 1969 a 1980 numa macabra indústria de venda de corpos. Neste período, a sua direção negociou mais de 1.800 corpos para dezessete faculdades de medicina do país. Como a subnutrição, as péssimas condições de higiene e de atendimento provocaram mortes em massa no hospital, onde registros da própria entidade apontam  dezesseis falecimentos por dia, em média, no período de maior lotação. Os corpos dos indigentes eram negociados por aproximadamente R$ 200,00 a peça (valores atualizados). Quando os corpos começaram a não ter mais interesse para as universidades, que ficaram abarrotadas de cadáveres, eles passaram a ser decompostos em ácido, na frente dos pacientes, dentro de tonéis que ficavam no pátio do Colônia.
Outro momento que mexe com as estruturas do leitor são as fotos feitas nos anos 60 pelo repórter-fotográfico Luiz Alfredo, da revista “O Cruzeiro”, que teve acesso ao interior do hospital. Cara... cada foto... elas, de fato, incomodam. A lente de Alfredo retrata todo o sofrimento daqueles pacientes, vítimas de um holocausto que não difere em nada de um outro que você, certamente, já conhece.
Talvez para dar uma quebrada no clima tenso de sua narrativa, Arbex decidiu dedicar um capítulo inteiro ao fotógrafo Luiz Alfredo, onde descreve momentos importantes de sua vida. Na minha opinião, esse capítulo destoou do restante do livro, fugindo de seu contexto principal que era retratar a história do Colônia e não a história do repórter-fotográfico. Mas isso não tira os méritos de “Holocausto Brasileiro”: um livro-reportagem que devolve nome, história e identidade aos pacientes, verdadeiros sobreviventes de um holocausto, além de revelar toda a verdade que estava escondida atrás dos muros do maior hospício do Brasil.
Como costumo dizer ou escrever: um livro “fantastic”.


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