29 março 2011

Definida a data de lançamento da seqüência O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei

Acredito que um bom livro seja como o vinho. Mas aquele vinho de safra especial que fica guardado com todo carinho em nossa adega esperando o momento mágico para ser apreciado. E um livro que venho guardando em minha estante, já há muito tempo, para ser devorado lentamente – pois quero sentir cada sensação existente em suas páginas – é “O Nome do Vento”, que faz parte da série “A Crônica do Matador do Rei”, do autor Patrick Rothfuss, publicado no Brasil pela editora Sextante.
O primeiro motivo que despertou o meu interesse pela obra foi, evidentemente, o seu enredo que me atraiu logo de cara e em seguida as críticas, tanto do público quanto da imprensa especializada.
É muito difícil uma obra obter unanimidade total e irrestrita, do tipo: de cada 100 opiniões, 100 derramam elogios. Pois é, O Nome do Vento conseguiu mais do que isso; a obra de Rothfuss hipnotizou a crítica especializada que não conseguiu encontrar defeitos em seu contexto. Quanto aos leitores, transformaram-na em algo mítico. Passando a aguardar com expectativa o lançamento da seqüência da história.
Pronto! Será que tudo isso justifica todo esse meu ritual para ler a obra? Acho que sim. As vezes me pergunto se serei eu o primeiro a discordar da crítica e da horda de leitores da obra. Ehe! Ehe!Ehe... pensamento tolo esse; mas quem sabe...
Bem, mas o objetivo principal desse post é avisar aquelas pessoas que já leram a obra de Rothfuss que já foi definido o lançamento da seqüência da história do enigmático personagem Kote, considerado a estrela desse romance que vem arrebatando leitores de todo o mundo.
Tudo indica que a seqüência, ainda sem título definido no Brasil, será lançado nas terras daqui em junho próximo, portanto, dentro de aproximadamente três meses. Taí pessoal, podem comemorar e ao mesmo tempo ficar na expectativa. No meu caso, tão logo termine de reler a trilogia “As Crônicas de Artur” vou começar a saborear “O Nome do Vento”.

Capa americana da sequencia 
"O Nome do Vento"

Para aguçar a curiosidade daqueles que ainda não tiveram contato com a obra de Rothfuss, segue um breve resumo (sem spoillers) da história do primeiro livro do herói ou vilão Kote. Vamos à ela:
‘Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.
Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano – os lendários demônios que assassinaram sua família no passado.
Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita de que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade.
Pouco a pouco, a história de Kote vai sendo revelada, assim como sua multifacetada personalidade – notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame.
Nesta provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança.
Mais do que a trama bem construída e os personagens cativantes, o que torna O nome do vento uma obra tão especial – que levou Patrick Rothfuss ao topo da lista de mais vendidos do The New York Times – é sua capacidade de encantar leitores de todas as idades’.
Confira agora o próprio Kote se auto-analisando. O texto é um trecho de “O Nome do vento”. Confiram:
"Meu nome é Kvothe, com pronúncia semelhante à de ‘Kuouth’. Os nomes são importantes, porque dizem muito sobre as pessoas. Já tive mais nomes do que alguém tem o direito de possuir.Meu primeiro mentor me chamava de E’lir, porque eu era inteligente e sabia disso.
Minha primeira amada de verdade me chamava de Duleitor, porque gostava desse som. Já fui chamado de Umbroso, Dedo-Leve e Seis-Cordas. Fui chamado de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; e Kvothe, o Matador do Rei. Mereci esses nomes.
Comprei e paguei por eles.
Mas fui criado como Kvothe. Uma vez meu pai me disse que isso significava ‘saber’.
Fui chamado de muitas outras coisas, é claro. Grosseiras, na maioria, embora pouquíssimas não tenham sido merecidas.
Já resgatei princesas de reis adormecidos em sepulcros. Incendiei a cidade de Trebon.
Passei a noite com Feluriana e saí com minha sanidade e minha vida. Fui expulso da Universidade com menos idade do que a maioria das pessoas consegue ingressar nela.
Caminhei à luz do luar por trilhas de que outros temem falar durante o dia. Conversei com deuses, amei mulheres e escrevi canções que fazem os menestréis chorar.
Vocês devem ter ouvido falar de mim." 
Taí o Kote por ele mesmo. Agora é só aguardar a chega de junho; do tão esperado junho (rs).

27 março 2011

Parede de escudos

“Parede de escudos!” Se você leu a trilogia As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell, com certeza vai se lembrar dessa frase. Aliás, ela é um elemento indispensável no contexto da história, já que não dá para imaginar uma cena de batalha no livro sem a tal parede de escudos.
Depois de pesquisar sobre o assunto na internet – em sites especializados em táticas de combate – passei a entender porque os valentes guerreiros da trilogia de Cornwell, fossem britânicos ou saxões enchiam a cara de hidromel e outras misturas alcoólicas antes de entrarem numa batalha. Enfrentar uma parede de escudos não era missão para qualquer um. Até mesmo o mais valente dos soldados, na hora H, tinha vontade de virar as costas e sair correndo ou então se esconder.
O segundo livro da trilogia, Inimigo de Deus que comecei a reler, logo nas primeiras páginas, deixa evidente o pesadelo dessa modalidade de combate, quando Derfel, o comandante guerreiro de Artur e narrador da história, explica que um campo após a batalha é uma coisa pavorosa. “Tínhamos vencido, mas não havia empolgação em nossas almas, apenas cansaço e alívio”, revela o bravo soldado e confidente de Artur. Ele acrescenta que após a batalha a maioria dos guerreiros não conseguia dormir por estarem ainda muito assustados com a luta sangrenta, e aqueles que conseguiam fechar os olhos não dormiam bem por causa dos pesadelos com as lanças da parede de escudos inimiga rasgando barrigas e ceifando vidas.
Como sempre, Bernard Cornwell foi muito competente em sua pesquisa e antes de escrever As Crônicas de Artur pesquisou à exaustão sobre o assunto e valeu à pena. Hoje temos comunidades e enquetes no Orkut específicas sobre parede de escudos, graças aos livros “O Rei do Inverno”, “Inimigo de Deus” e “Excalibur” que compõem a saga arturiana escrita por Cornwell. Lembro-me de uma mais ou menos assim: “Quem você gostaria de ter à sua direita numa parede de escudos?”. Enfim, graças à obra, o assunto foi propalado ao máximo na net.
A tática da parede de escudos foi amplamente utilizada nas batalhas pelos exércitos medievais, incluindo os violentos combates que aconteceram nos séculos V e VI na Britânia, quando o exército britânico tentava a todo custo impedir ou pelo menos retardar a invasão dos saxões.
A organização de uma parede consistia em “colar” borda de escudo com borda de escudo. Segundo a Wikipédia, cada homem cobria com a arma de ataque o companheiro à sua direita (considerando-se apenas destros) e seu escudo cobria o lado direito do homem à sua esquerda.
A regra básica nesta tática de combate era que os homens mais corajosos ficassem na primeira fileira da parede, pois se a formação rompesse, os guerreiros do exército inimigo se infiltrariam pelos buracos da parede e então... o estrago estava feito, pois uma parede de escudos rompida é morte certa de seus integrantes.
Outro detalhe importante: quanto mais “grossa” for a parede, ou seja, quanto mais homens de profundidade ela tiver, maiores são as chances dela resistir mais tempo e também forçar a parede inimiga.
Segundo o que pesquisei, a luta entre duas paredes de escudos era algo brutal ao extremo, um verdadeiro morticínio. Muitas vezes, formava-se pilhas de cadáveres  que separavam as paredes dos dois exércitos, o que contribuia para o rompimento de uma delas, quase sempre daquela que tentava escalar o monte de guerreiros mortos ou agonizantes, já que nesse momento se alguém tropeçasse, a parede de escudos era rompida.
No livro “O Rei do Inverno”, primeiro da trilogia arturiana, Derfel narra que geralmente quando a matança era grande, as duas paredes recuavam, até que os mortos e feridos fossem retirados da linha de batalha.
Além das Crônicas de Artur, outro livro que explora bem o tema parede de escudos é “Terra em chama”, quinto volume das crônicas saxônicas, também de Cornwell. Quanto a filmes, nada melhor do que “300”, aquele em que o brasileiro Rodrigo Santoro interpretou o vilão Xerxes. Mas como a missão do nosso blog é ajudar na escolha de livros e não de filmes; aos “internautas leitores” que se interessaram pelo assunto recomendo ler com urgência os três livros que compõem “As Crônicas de Artur”. E aí? Mãos a obra.

26 março 2011

O Rei do Inverno (As Crônicas de Artur)


(Contém Spoilers) Acabei de reler  “O Rei do Inverno”, primeiro volume da série “As Crônicas de Artur”, e com certeza estarei relendo tantas outras vezes porque a história de Bernard Cornwell é delirantemente fantástica. A série desmistifica toda a lenda arturiana como conhecíamos em nossa infância ou adolescência.
Esqueça a Távola Redonda, Camelot, espada encantada, donzelas suaves, Santo Graal e um Merlin com poderes sobrenaturais. Se prepare para ver um Lancelot covarde, um Artur sem coroa, um Mordred aleijado e um Merlin malandro e charlatão, mas muito inteligente e perspicaz. Você deve estar se perguntando: “Caramba! O autor arrebentou a história de Artur!!” Aqueles que pensam dessa maneira, se enganam redondamente. Pelo contrário, Cornwell reescreveu a história de Artur... do verdadeiro Artur, sem damas do lago, monstros que propõem soluções de enigmas, cavaleiros galantes e espada encantada que num passe de mágica sai do meio de uma rocha.
Todo o enredo dos três livros que compõem a “As Crônicas de Artur” foi escrito baseado em pesquisas arqueológicas e documentos importantes resgatados das décadas de 540 e 600 d.C. Por isso, aqueles que lêem os livros passam a ter uma idéia mais realista de quem foi esse grande comandante guerreiro que viveu nos séculos V e VI e que enfrentou os saxões defendendo a Grã-Bretanha de uma invasão. Como já disse, uma visão realista da história de Artur, sem fantasia e contos de fadas.
Em  “O Rei do Inverno”, primeiro volume da série, vemos o nascimento do príncipe Mordred, herdeiro do trono da Dumnonia, principal reino da Britânia (Inglaterra), e por isso cobiçado por outros reis poderosos da mesma terra.
Com a morte do pai de Mordred; o avô do pequeno príncipe herdeiro, o poderoso  Uther, rei da Dumnnonia e também Grande Rei (Pendragon) de toda a Britânia - já muito doente e perto da morte – decide, contra sua vontade, convoca r o seu filho bastardo Artur para ser um dos guardiões do pequeno Mordred até que ele cresça e tenha condições de assumir o trono. Com a morte de Uther, cresce a cobiça dos reis de Silúria e Powys em tomar o trono da criança que para complicar, ainda nasceu aleijada, com um dos pés completamente tortos, o que coloca em dúvida a sua capacidade de assumir o controle do reino mais importante de toda a Britânia..
A situação fica  insustentável quando Artur  recusa se casar com Ceinwyn, filha do ambicioso e vingativo Gorfyddyd, rei de Powys, para fugir com Guinivere,  a amante do rei. Esta traição de Artur, cometida em nome do amor, coloca um ponto final na esperança de um acordo de paz entre os reinos da Britânia. Até mesmo os outros reis aliados da Dumnnonia que juraram lealdade para proteger Mordred rompem a aliança, o que força Artur e seus fiéis guerreiros a lutarem sozinhos contra os reinos de Powys e Silúria na apoteótica batalha do “Vale de Lugg”.
Toda essa história é narrada, anos depois dos acontecimentos, por Derfel, um dos guerreiros mais poderosos de Artur. Em “O Rei do Inverno” aprendemos também a conhecer Derfel, já que a sua história se funde com a de Artur, pois além de ser seu confidente também lutou todas as batalhas ao lado de seu senhor.
O livro imortalizou a famosa frase: “Parede de Escudos”, tática de batalha muito utilizada pelos guerreiros daquele tempo.
As cenas de batalhas descritas por Cornwell, principalmente o confronto final que ocorre no “Vale de Lugg”, são eletrizantes e fazem com que o leitor “devore” as páginas da obra. O carisma dos personagens Artur e Derfel; a ambigüidade da feiticeira Nimue, ora doce como um anjo, ora violenta como um furacão, além da enigmática Guinivere também contribui para que a leitura fique ainda mais interessante. Até mesmo a covardia de Lancelot atrai o leitor. É curioso ver a desmistificação de um personagem, que em obras arturianas anteriores, era tido como um dos mais valentes cavaleiros da Távola Redonda. Na saga de Cornwell, Lancelot não passa de um cavaleiro medroso e arrogante que paga aos bardos para escrever histórias heróicas sobre ele, mas que na hora da batalha... se esconde ou foge.
Agora, estou começando a reler, “O Inimigo de Deus”, a segunda parte das “Crônicas de Artur”, e com certeza, tão bom quanto os outros dois que completam a saga.. Inté!

25 março 2011

Milagre nos Andes – 72 dias na montanha e minha longa volta para casa

“Milagre nos Andes – 72 Dias na Montanha e Minha Longa Volta para Casa”, é um livro para leitores de estômago e nervos bem fortes. Nesta obra, o autor Nando Parrado – que é um dos sobreviventes do grave acidente aéreo nas profundezas dos Andes – exorciza todos os seus medos e angustias, fazendo um relato detalhado dos 72 dias de sofrimento nas geladas e isoladas montanhas andinas. Parrado não usa meias palavras e tão pouco esconde fatos ou segredos que ocorreram no acidente, nem os mais traumáticos e chocantes. Costumo dizer que ele “vomita” tudo o que aconteceu naquele fatídico dia em que o um time de rugby do Uruguai decidiu emprestar um Fairchild F-227 da Força Aérea Uruguaia para fazer uma partida amistosa no Chile.
O livro “Milagre nos Andes” é muito mais detalhista e profundo do que “Os Sobreviventes”, de Piers Paul Read, lançado em 1973, um ano após a tragédia. Enquanto Read escreveu sua obra seguindo uma linha jornalística baseada em depoimentos das vítimas sobreviventes do Fairchild, um relato puramente técnico, deixando o emocional de lado; Parrado optou pela vertente da emoção, ou seja, após mais de 30 anos, ele decidiu abrir as comportas do seu coração e de sua memória e despejou na obra os seus medos, incertezas, sofrimento, enfim a epopéia que viveu num mundo completamente frio, isolado e aterrador. Ele não esconde absolutamente nada dos seus leitores, nem os fatos mais lúgubres e pavorosos, como o sofrimento de uma mulher que ficou presa nas ferragens após a queda do avião. Sem chances de solta-la da cadeira toda retorcida, os amigos de Nando foram obrigados a deixá-la ali sofrendo com a sua dor. Nando relata que à noite, os sobreviventes tinham de dormir com os lamentos e gritos de dor da mulher ecoando em seus ouvidos, implorando para que eles a libertassem. Num dos momentos mais fortes do livro – se não, o mais forte, - o autor relata como ele e seus amigos, para não morrerem de inanição – foram obrigados a comer a carne dos cadáveres do acidente. Nesta parte da obra, o leitor tem que ter estômago muito forte para enfrentar as páginas em que Parrado dá detalhes do canabalismo forçado. Para que o leitor tenha uma idéia, para continuarem vivos, os sobreviventes dos Andes se alimentaram de carne humana por um período de aproximadamente dois meses. No início, segundo Parrado, apenas de pedaços superficiais do músculo do antebraço dos mortos, mas quando o “alimento” começou a faltar, eles tiveram de comer também pulmões, rins, cérebro e até coágulos de artérias. Ele dá detalhes de tudo isso sem meias palavras.
Roberto Canessa e Nando Parrado
“Milagre nos Andes” é acima de tudo o relato da luta de uma pessoa que jamais desistiu da vida, nem mesmo quando ouviu pelo rádio dos destroços do avião que as buscas pelos sobreviventes haviam sido encerradas. Foi à partir daí que Nando Parrado e seu amigo Roberto Canessa entenderam que tinham de enfrentar e vencer as montanhas dos Andes em busca de socorro, numa viagem – para muitos – sem esperança.
O autor dedica ainda uma boa parte de sua obra para explicar o que os seus amigos que sobreviveram ao acidente estão fazendo atualmente e como reagiram á tragédia depois de 30 anos.
Enfim, “Milagre nos Andes – 72 Dias na Montanha e Minha Longa Volta para Casa” é uma obra para estômagos e nervos fortes, sem dúvida; mas também é uma leitura obrigatória para aquelas pessoas que tem curiosidade para conhecer à fundo tudo o que aconteceu  no fatídico dia 13 de outubro de 1972 com esse grupo de jovens atletas de rugby.

20 março 2011

10 grandes livros que geraram obras cinematográficas inesquecíveis

Não sei bem onde li, uma certa vez, que o número de obras literárias adaptadas para o cinema, se comparadas com aquelas que tem roteiros originais, atinge uma proporção do tipo 5 por 1. Isto significa que de cada cinco filmes apenas um não teve o seu enredo retirado das páginas do nosso bom e velho amigo livro.
Esta pesquisa me estimulou a selecionar – na minha humilde opinião – dez grandes livros que foram transformados em filmes marcantes. Fiquem a vontade para concordar, discordar ou então dar a sua lista de “livros/filmes”.
01 – O Poderoso Chefão
Quando um único livro com pouco mais de 430 páginas prova ter folêgo para gerar três grandes filmes, não preciso dizer mais nada. “O Poderoso Chefão” é um retrato do submundo do crime dos anos  40 com os seus códigos de honra e conduta. A história da Família Corleone se passa no final da 2ª Guerra Mundial quando a maioria das famílias de mafiosos decide entrar nos negócios do narcotráfico. Quando a família Corleone comandada por Don Vito decide não aderir a nova moda (na época) das drogas, bate de frente com a maioria dos clãs mafiosos. Pronto! Está declarada uma guerra que dura uma geração. Tanto livro quanto filme são fantásticos, apesar da obra de Mário Puzo ser bem mais rica em detalhes, descrevendo de maneira minuciosa e nem um pouco cansativa as cinco famílias mafiosas estabelecidas em Nova York nos anos 40. Mas a produção cinematográfica também não nega fogo, afinal, O Poderoso Chefão I e II foi vencedor do Oscar de melhor filme, sendo a unica continuação da história a receber um Oscar. É que preciso dizer mais alguma coisa? (rs)
02 – O Retorno do Rei (O Senhor dos Anéis)
A coleção de três livros da série O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei) é fantástica e renderam filmes antológicos, mas “O Retorno do Rei” é uma obra prima. O melhor livro da série também gerou o melhor filme da trilogia. O Retorno do Rei é dividido em duas partes. Na primeira, Aragorn e Théoden usam toda a força e coragem para tentar evitar a invasão de Gondor que está ameaçada pelas forças do mal representadas por um exército de orcs. O Bem e o Mal se enfrentam numa batalha épica que faz o leitor devorar as páginas do livro. A segunda parte da obra de Tolkien está reservada para Frodo e seu fiel escudeiro Sam, além do traiçoeiro Gollum. Perto do final, as duas histórias se cruzam. Quanto ao filme O Retorno do Rei, posso defini-lo como um épico inesquecível recheado de heróis, monstros e seres fantásticos. Considero as cenas de lutas campais como as melhores que já vi em toda a minha vida nos filmes do gênero.
03 – E o Vento Levou
Há casos raros de escritores que escreveram apenas um livro em toda a sua vida, mas escreveram para toda a posteridade, já que a sua obra se tornou mundialmente famosa conquistando gerações e mais gerações de leitores. Margaret Mitchell (E o Vento Levou) e Emily Bronte (O Morro dos Ventos Uivantes) são duas escritoras que podem ser incluídas nessa categoria. E o Vento Levou provoca um verdadeiro reboliço nos sentimentos do leitor. Ódio, ciúmes, paixão, amor, vingança, enfim, uma miscelânea de sensações está presente nas mais de 900 páginas da obra de Mitchell que se assemelha a um diamante bruto com uma escrita dura e realista. A ambigüidade dos personagens faz com que o amemos por alguns momentos, mas após virarmos algumas páginas, passamos a odiá-los. Quanto ao filme vou poupar comenta-lo, acho que os 10 prêmios Oscar que ganhou em 1940 são capazes de explicar a qualidade do filme melhor do que qualquer texto. 
04 – Laranja Mecânica
Um livro bizarro em algumas partes, mas nem por isso deixa de ser fascinante. Além do mais,  rendeu uma obra prima para as telonas. Escrito por  Anthony Burgess em 1962, só veio a ser lançado no Brasil 40 anos depois. Conta a história de Alex, um adolescente barra pesada e que apronta coisas inimagináveis. O garoto e a sua gangue são violentos ao extremo. Eles espancam, roubam, estupram e matam por puro prazer e passa-tempo, até o dia em que Alex é preso e usado numa experiência chamada "Método Ludovico", criada pelo Estado e destinada a refrear os impulsos destrutivos dos delinquentes. Quando volta às ruas regenerado, passa a sofrer com aqueles que antes eram as vítimas. Após ser usado num jogo político pelo partido de esquerda, o Estado reverte o seu "tratamento". O filme é bem fiel ao livro, e não caia no erro de acreditar que esteja desatualizado, porque mesmo após quatro décadas, a produção cinematográfica de Stanley Kubrick ainda choca aqueles que a assistem.
05 – O Morro dos Ventos Uivantes
Obra única de Emily Bronté e que arrebatou as emoções de milhares de leitores. Talez, Heathcliff e Cathy formem o casal mais emblemático da literatura mundial. Em alguns momentos se amam e em outros, se odeiam, uma relação tumultuada de amor e ódio, que lembra vagamente outro casal conhecido, mas da literatura adolescente:  Patch e Nora Grey, de Sussurro (ver comentário neste blog – As Decepções Wake e Sussurro). Mas quero ressaltar que ao contrário dos chatos Patch e Nora Grey, o casal Heathcliff e Cathy não cansa o leitor, já que o fio narrativo de Emily Bronte deu vida e principalmente “passado” aos personagens. Sabemos que o irmão de Cathy fez Heathcliff sofrer muito, há anos atrás, quando ambos eram jovens e que Cathy se casou com outro homem, renegando o amor visceral que Heathcliff tinha por ela. Mas será que isso, justifica as atitudes vingativas – algumas vezes horriveis – de Heathcliff? Algumas vezes o leitor torce por ele, em outras o queria ver morto. Dos quatro filme feitos para o cinema, sem dúvida o melhor é de 1939 com Laurence Olivier e Merle Oberon, como Heathcliff e Cathy, mas a produção de 1992 com Ralph Fiennes e Juliette Binoche não pode ser menosprezada por dar ênfase  a segunda geração de personagens da história.
06- Harry Potter  (O Prisioneiro de Azkaban)
Li toda a saga Harry Potter e confesso que achei Relíquias da Morte o melhor dos sete livros, superando até mesmo o Prisioneiro de Azkaban. Voce deve estar se perguntando: “Ué? Então porque o cara indicou O Prisioneiro de Azkaban ao invés de As Relíquias?” Fiz isso porque As Relíquias da Morte não se tornou um filme a altura de suas páginas. A primeira parte ficou muito aquém do que se esperava. Vamos aguardar agora a Parte 2, que dizem por aí, é bem melhor. Por sua vez, a história de O Prisioneiro de Azkaban, conseguiu ser transposta para o cinema com maestria, resultando no melhor filme de toda a série até agora. Como o tema proposto desse post são grandes livros que geraram obras cinematográficas inesquecíveis, eu não teria como selecionar “As Reliquias da Morte”, já que livro e filme não fizeram o casamento perfeito, ao contrário de ‘Azkaban’ que pode ser considerado uma dos melhores roteiros cinematográficos adaptados de todos os tempos. O diretor Alfredo Cuaron fez melhor do que Chris Columbus que havia acabado de deixar a direção da série. Cuaron fez um filme sombrio, tenso, mas ao mesmo tempo divertido.
07 – À Espera de Um Milagre
Realmente este filme é um verdadeiro milagre, pois conseguiu se tornar sucesso de crítica e público, quebrando a velha rotina: “livros ótimos, filmes horríveis”, que sempre marcou a vida do famoso escritor Stephen King. É incrível como a maioria dos diretores e roteiristas que decidiram levar para as telona obras de Stephen King acabaram implodindo as mesmas, transformando o contetxto do livro numa verdadeira bagaceira, digna de um filmizinho de terror classe Z. Por isso, sem querer ser redundante, “À Espera de Um Milagre” foi um milagre pois reverteu essa situação. O sucesso estrondoso do filme provou que os livros de King, quando adaptados e dirigidos por profissionais competentes, podem se tornar sucessos garantidos de crítica e público. Pena que muito poucos tiveram essa sorte, o que faz crer que as obras do mestre do terror são para ser lidas e não assistidas. “À Espera de Um Milagre” é uma dessas raríssimas exceções. O grandalhão Michael Clarke Duncan dá um verdadeiro show vivendo um prisioneiro negro acusado injustamente de estuprar e matar duas jovens meninas. Tom Hanks, como o guarda da prisão onde se encontra o personagem de Duncan, mesmo tendo uma atuação discreta, convence. Durante o filme, uma grande amizade surgirá entre os dois. Vale à pena ler e assistir.
08 – Jurassic Park
Para mim, o melhor livro de Michael Crichton, onde ele dosa de forma notável tecnologica e aventura que são os dois ingredientes principais de todos os seus livros. Em Jurassic Park  (O Parque dos Dinossauros) o homem paga caro por tentar ganhar dinheiro fácil usando uma tecnologia que não domina totalmente. Uma verdadeira lição de vida para os nossos tempos. Apesar do filme ser bem diferente do livro não podemos negar as suas virtudes, à começar pela direção de Spielberg que mesmo modificando grande parte da história conseguiu transformar O Parque dos Dinossauros numa das produções cinematográficas mais rentáveis da história do cinema. Ele cria momentos de tensão no telespectador como o encontro do braquiossauro com o personagem de Sam Neil e o ataque do Tiranossauro Rex no momento em que dois carros de visitantes quebram durante o passeio inaugural no parque. Os efeitos especiais e os dinossauros que aparecem no filme são outro show à parte. Vou ressaltar algumas diferenças entre livro e filme. Na Obra de Crichton, os tiranossauros são dois, no filme de Spielberg apenas um; os velociraptores só conseguem ser mortos com tiros de bazuca e são eles que colocam o parque novamente nos eixos e por aí vai. Mas apesar dessas diferenças, tanto livro quanto filme fantásticos. Uma curiosidade: O filme O Parque dos Dinossauros foi produzido em 1993, ou seja, somente três anos após o lançamento do livro de Crichton.
09 – O Silêncio dos Inocentes
O psicopata canibal, Hannibal Lecter, rendeu história para quatro livros, um excelente, outro ótimo e dois terríveis. “O Silêncio dos Inocentes” se enquadra na mesma situação do “Prisioneiro de Azkaban”, da série Harry Potter (ver comentário neste post), ou seja, o melhor livro dos quatro sobre Lecter é Dragão Vermelho (Red Dragon), mas o filme baseado nesta obra é medonho de ruim. Por isso não poderia inclui-los nesta lista. Por outro lado, “O Silêncio dos Inocentes”, mesmo sendo inferior a Red Dragon – e quando digo inferior não estou menosprezando a obra porque ela é muito boa – deu origem a um filme maravilhoso. Sendo assim, é o meu escolhido para entrar nesta listagem. A produção dirigida por Jonathan Demme mantem o mesmo clima tenso do livro de Thomas Harris. Enquanto nos livros posteriores: Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal, Lecter não assusta nem criancinhas, em “Red Dragon” e “O Silêncio dos Inocentes” ele provoca calafrios. Se em “Red Dragon” ele é perverso ao extremo; em “O Silencio dos Inocentes”, ele tem um auto-controle e perspicácia incríveis que aliadas a sua inteligência o transformam num dos maiores vilões do cinema. Um detalhe que ajuda a exacerbar o medo em quem lê ou assiste “O Silêncio dos Inocentes”, é que Lecter mesmo preso num pavilhão isolado de uma cadeia, é capaz de matar, como fez com um outro detento que se encontrava numa cela ao lado da sua. Detalhe: ele não usou as mãos , mas a boca, já que as suas palavras acabaram enlouquecendo a vítima que se matou. Viu só? Já deu pra ter uma idéia do psicopata com o qual a agente do FBI, Clarice Sterling terá se aliar para conseguir prender um serial killer que esfola suas vítimas vivas. O filme é uma guerra de interpretação (no bom sentido) entre Anthony Hopkins (Lecter) e Jodie Foster (Sterling), mas no final, Hannibal Lecter acaba vencendo essa disputa, tanto que levou o Oscar de Melhor Ator pela sua interpretação em 1991.
10 - Blade Runner – O Caçador de Andróides
Fecho esta lista com o livro de Philip K. Dick, para mim, como o mestre da ficção cientifica moderna. O livro é ambientado em 2021 numa terra devastada e em ruinas, onde um ex-policial que acabou se tornando caçador de recompensas recebe a perigosa missão de recapturar um grupo de andróides parecidos com os humanos que perderam o controle. Os replicantes tem características físicas semelhantes à nossa, mas são bem mais fortes e resistentes. Eles são utilizados para fazer serviços pesados numa base espacial, já que a terra está colonizando outros planetas. Para o leitor amante da ficção científica, essa obra de Philip K. Dick é obrigatória. Quanto ao filme, na época de seu lançamento, em 1982, não foi bem recebido pela crítica e público, mas algum tempo depois se tornou cult. Considero “O Caçador de Andróides” o divisor de água dos filmes de ficção cientifica. Simplesmente fantástico.

17 março 2011

As decepções Wake e Sussurro

Atualmente, a literatura adolescente vem dominando as prateleiras das livrarias em todo o País. Vampiros bonzinhos, puros sangues da mitologia grega, nefilins, adolescente com poder de entrar nos sonhos alheios, anjos caídos. Ufaaa!! É uma invasão pior do que os alienígenas de Independence Day!
E tudo o que é novidade atrai a nossa atenção, afinal de contas, somos meros mortais. Por isso, após ler tantos comentários, resenhas, fotos e fóruns de discussões sobre alguns desses livros, resolvi comprar “Wake” e “Sussurrro” (confesso que as capas muito bem produzidas das duas obras pesou em minha decisão). Resultado: decepção total.
Em “Wake”, até que a escritora Lisa McMann teve uma idéia inteligente: escrever uma estória enxuta com capítulos curtos, o que resultaria num livro com poucas páginas, possibilitando uma leitura dinâmica e nem um pouco cansativa.
Ocorre que como diz o ditado popular: o “feitiço virou contra o feiticeiro”. Na ânsia de resumir ao máximo a história de Janie, uma garota de 17 anos, que frequentemente é sugada para dentro dos sonhos de outras pessoas, sem poder controlar esse dom, Mc Mann transformou o enredo numa verdadeira salada russa.
A obra que segue o modelo tradicional de narrativa - onde Janie é personagem da estória e não a narradora – começa no presente com a adolescente entrando involuntariamente no sonho de um colega de classe. Após uma página e meia, o leitor é atirado no passado de Janie, ou seja, há nove anos, quando ela era apenas um criança com 8 anos de idade. Em aproximadamente 25 linhas (descontando o sonho que ela tem em um ônibus) ficamos conhecendo o passado da personagem! Em 25 linhas!
Acredito que o que torna um personagem marcante para o leitor em um romance é o seu passado, as suas origens.  Harry Potter e vampiros da saga Crepúsculo que o digam. Mas no caso de Janie, sabemos apenas que ela era uma menina pobre (pelo menos me pareceu) e vivia com sua mãe alcoólatra e... e... e... só. Esta falta de identidade com o passado, deixa a personagem superficial e – pelo menos para mim – chata demais, sem sal e açúcar.
A maneira como Janie também é sugada para dentro dos sonhos não tem nenhum atrativo. Ela simplesmente entra nos sonhos e apenas os assistem, não participando diretamente deles. Lembro-me de dois filmes (um ótimo e outro “meia-boca”) que abordaram temas semelhantes: personagens com o dom de entrar nos sonhos ou pensamentos de outras pessoas. Em “A Morte nos Sonhos” (o ótimo) e “A Cela” (o meia-boca), Dennis Quaid e Jennifer Lopez, respectivamente, conseguiam penetrar nos sonhos alheios, além de influir neles, correndo, assim,  inúmeros riscos, tornando a história muito mais interessante.
Além da capa, outro motivo que me fez comprar “Wake” foram os enredos desses dois filmes, principalmente “A Morte nos Sonhos” que marcou muito a minha pós-adolescência. Mas confesso que me decepcionei.
Quanto a Cabel, outro protagonista do livro, também não desperta interesse. Perto do final da trama quando descobrimos quem ele realmente é, o desapontamento é grande, pois a sua profissão não tem nada a ver com o personagem do início da obra.
Juro que ainda não entendi o que fez a Paramount Pictures comprar os direitos da obra de Mc Mann para transforma-la em filme com a atriz Milley Cyrus. Confesso que não terei fôlego e paciência para ler os outros dois livros seguintes da trilogia: “Fade” e “Gone”.
Quanto a Sussurro, primeiro livro da série “Hush, Hush”, baseado no relacionando de uma garota, Nora Grey com um anjo, Patch, também não decola.
O estilo literário da autora Becca Fitzpatrick, lembra muito a saga Crepúsculo onde Bella Swan é a narradora de suas aventuras com o vampiro Edward Cullen. Em Sussurro, Nora Grey também exerce esse mesmo papel, mas ao contrário de “Crepúsculo”, a obra de Fitzpatrick carece de personagens carismáticos que se tornem íntimos do leitor. Em “Crepúsculo”, a antipatia mutua existente entre Bella e Edward durou por pouco tempo; depois que os dois passaram a se conhecer melhor, parte dos conflitos foram resolvidos. Com isso, eles passaram a “funcionar” como um casal normal (excetuando que ele era um vampiro – rs) tendo as suas brigas, crises, mas depois tudo voltando ao normal. Em “Sussurro”, Nora e Patch são dois vulcões em plena ebulição, dificilmente se entendendo. Esse relacionamento tenso que ocupa a maior parte das páginas do livro - até o momento em que Patch , pelo menos tenta, se tornar um bom menino, abandonando o gênero rebelde sem causa - cansa o leitor. O fio narrativo não muda, só fica gravitando em torno desse relacionamento tenso e nervoso, quebrando a empatia do leitor com os dois personagens.
“Sussurro” também transcorre no mesmo erro de “Wake” ao abordar superficialmente (quase omitindo) o passado do personagem principal. Na obra de Fitzpatrick, sabemos “muito por cima” como o anjo Patch perdeu as suas asas e caiu na terra, o que considerei um engodo à bela capa do livro. Com certeza, isso vai servir de lição para que nas próximas vezes eu descarte totalmente o quesito “Capa” na hora de comprar um livro.
E para finalizar, não sei se depois de “Sussurro” terei coragem de encarar “Fall en”, outro livro sobre anjos caídos, que ganhei de presente e está na prateleira de minha biblioteca esperando ser lido.

16 março 2011

Água para Elefantes

Há livros que tem o poder de emocionar; arrancar lágrimas não dos olhos, mas do nosso coração. Livros que são pura emoção e que ao terminarmos a sua leitura, ficamos com a sensação de termos realizado uma viagem que jamais esqueceremos. Pronto! Acho que já define, em poucas palavras, o conteúdo da obra prima de Sara Gruen,  “Água para Elefantes”.
Há muito tempo eu estava com vontade de ler um livro que abordasse a magia do mundo do circo. Este desejo surgiu e foi aumentando logo depois que assisti o filme “O Maior Espetáculo da Terra”, de Cecil B. Demille,  com Charlton Heston, James Stewart, Cornel Wilde e mais uma constelação de astros e estrelas. Queria  ler uma história que se aproximasse do conteúdo e da qualidade do filme, mas não estava encontrando nenhuma. Então numa madrugada, quando estava revirando as livrarias on line, descobri a jóia rara “Água para Elefantes”. Como as críticas eram muito positivas, tomei a decisão de comprar o livro, e não me arrependi.
A obra é narrada em flashback por Jacob Jankowski que aos 93 anos e viúvo se encontra numa casa de repouso para idosos, onde raramente é visitado pelos seus filhos e netos. Quando um circo chega na cidade e começa a armar as lonas ao lado da casa de repouso, Jacob inicia a sua viagem no tempo, recordando o período de sua juventude quando trabalhou para uma modesta empresa circense.
A partir daí, é como se Jacob pegasse o leitor pelas mãos e o conduzisse para dentro da história, de sua história. O felizardo que lê a obra tem a oportunidade de conhecer à fundo toda a engrenagem que mantinha em funcionamento os saudosos circos ambulantes das décadas de 20 e 30 dos Estados Unidos, cuja trupe viajava de trens de cidade em cidade para se apresentar. Jacob não esconde absolutamente nada.  Ele revela os códigos de honra e conduta dos artistas daquela época, as leis rigorosas que muitas vezes chegavam a ser desumanas. Enfim, como a própria autora define na “orelha” do livro: “Um mundo de encanto, repleto de maravilhas e paixões, mas que também abriga muita dor e ódio”.
Os personagens de Água para Elefantes são cativantes e envolventes e por isso não deixam a história perder o ritmo. Tio Al é o empresário impiedoso e mau caráter do Circo Irmãos Benzini, que além de sugar e explorar os artistas, tratadores de animais e peões que ajudam na montagem das lonas, ainda ordena aos seus capangas que jogue para fora do trem (em movimento e de preferência quando estiver passando por um viaduto bem alto) os trabalhadores e artistas doentes ou velhos que se tornaram improdutivos para o seu espetáculo. August, é o chefe dos tratadores de animais, casado com Marlena. A personalidade ambígua de August, ora encantadora, ora intratável, onde às vezes deixa vir a tona uma raiva e ódio incontroláveis, acaba dividindo a preferência dos leitores, que em alguns momentos sentem uma certa empatia pelo personagem e em outros, torcem pelo seu fim. Marlena, é a bela estrela da principal atração dos Irmãos Benzini: um número de cavalos.
Não posso, também, deixar de citar mais três personagens cativantes: o anão Kinko, no início ranzinza e egoísta, mas após Jacob conquistar a sua confiança; leal e sincero; a elefanta Rosie, que tem um papel decisivo na história e a cadela Queenie, inseparável companheira e mascote de Kinko.
O ponto forte do romance é o triangulo amoroso vivido por Jacob, Marlena e August, gerando conflitos, disputas e vingança, tendo como pano de fundo este misterioso e mágico mundo do circo. E é para lá que Jacob nos leva...
Uma obra insuperável e que sempre terá um lugar de destaque em minha biblioteca.
Que Sara Gruen mantenha sua inspiração por muito tempo para escrever novas obras tão boas quanto Água para Elefantes.
 

Presa

Para você ter uma ideia de como Presa é eletrizante, basta dizer que antes de escrever esse artigo, eu estava “morrendo” de sono e ainda com uma leve indisposição estomacal (quem manda se alimentar tarde da noite –rsss); mesmo assim, quando comecei a resenhar a obra de Crichton, me esqueci completamente do sono e do meu estômago!
Presa é muito bom! Bom não; é excelente! Na primeira parte do livro, você acompanha a deterioração do relacionamento do casal de protagonistas. A personagem Julia muda o seu comportamento, da água para o vinho, com os filhos e também com o marido, um gênio da informática. Essa mudança faz com que ele, primeiramente, desconfie que está sendo traído, ou seja, algum “Ricardão” teria invadido  a sua vida conjugal, mas a situação é bem mais grave do que isso. Crichton amarra muito bem os diálogos do casal e cria um clima angustiante, onde os conflitos de Julia e Jack são freqüentes.
Mas é na segunda parte do livro que o “bicho” pega, e pega literalmente. Quando Jack é convidado pelo seu ex-patrão para dar assessoria na empresa onde sua mulher ocupa um cargo de destaque, ele descobre que a companhia está trabalhando num ultra-secreto projeto de nanotecnologia criando micro-robôs invisíveis à olho nu, com objetivos militares e comerciais. Quando essa nuvem de nanopartículas sai do controle de seus criadores, ela deixa um rastro de morte, além de sitiar o laboratório da empresa que está localizado no meio do deserto. É a partir daí que começa a luta de um grupo de cientistas orientados por Jack para tentar conter os micro-robôs assassinos, que passam a reproduzir e pensar por conta própria.
Você deve estar perguntando o que essas nanoparticulas tem haver com a mudança no comportamento de Júlia. Cara! Simplesmente, tem tudo a ver! Só mesmo lendo o livro. Não quero estragar a sua leitura com spoillers.
Detalhes, atravessei três noites em 2011 relendo “Presa”, isto porque eu já tinha lido o livro na época de seu lançamento, em 2008 (*****).  
Valeu à pena!

A Incrível História de Henry Sugar e outros contos

Meu interesse pela obra de Roald Dahl surgiu num certo dia, ou melhor, numa certa noite – quando estava “fuçando” a net atrás de um livro de contos fantásticos ou de terror. Já tinha lido muito Stephen King, Lovecraft, Ambrose Bierce e queria “mudar de ares”. Foi neste fuça-fuça na Rede que descobri um livro de contos chamado “O Beijo” (sobre o qual falarei mais tarde), que me interessei e arrisquei compra-lo. Literalmente, amei! Após a leitura de apenas dois contos, já podia afirmar que Dahl fazia parte da relação dos meus escritores de literatura fantástica.
Por isso, não tive nenhuma dúvida em comprar o livro “A Incrível História de Henry Sugar e outros contos”. Antes de começar a ler, a minha expectativa já era grande com relação aos sete contos que fazem parte dessa obra do escritor. Pensei encontrar ali, histórias, de fato, fantásticas, algumas com direito à um ligeiro calafrio na base da espinha, à exemplo de “O Beijo”; mas dos sete contos que fazem parte do livro, apenas três tem aquela pitada de insólito, tão peculiar neste tipo de literatura.
Acredito que  “A Incrível História de Henry Sugar e outros contos” poderia se chamar “Minha Vida”, “Reminiscências”,  ou qualquer outra coisa parecida, já que nos contos, com exceção de “O Menino que falava com os bichos” , “O Cisne” e “Henry Sugar”, o escritor descreve passagens interessantes de sua vida, e quão interessantes! Certamente, quem ler a obra vai conhecer à fundo quem é Roald Dhal, e mais do que isso, vai ficar sabendo como ele se tornou um célebre escritor. Quer ainda mais? Ok, então anote; vai conhecer momentos tristes e dolorosos de sua vida, como por exemplo, os sofrimentos que enfrentou na infância quando estudou em colégios internos, onde foi vítima de professores e alunos sádicos que tinham como tara “descarregar” chibatadas nas costas dos estudantes mais novos, além de fazê-los de escravos para várias tarefas domésticas; passagens emocionantes como o dia em que conseguiu vender o seu primeiro conto, ou então quando conheceu o mito Walt Disney, vindo a trabalhar com ele; situações engraçadas como a carona que deu para um “mestre dos dedos”. E como não bastasse tudo isso, o leitor ainda ganha como brinde o primeiro conto escrito por Dahl, antes de ficar famoso; “Moleza”, que na realidade não é um conto de ficção, mas um relato do período em que pilotava os velhos aviões Gladiators da Força Aérea da Grã-Bretanha (RAF), durante a 2ª Guerra Mundial.  
Por tudo isso, é evidente que não me decepcionei ao ler “A Incrível História de Henry Sugar”, mesmo tendo muito pouco de literatura fantástica. Mesmo assim, de repente me vi devorando as páginas, e por incrível que pareça, não aquelas dos contos com um pequeno “quê” de insólito, mas as páginas que falavam sobre a vida de Dahl. Encontrei tudo ali: humor, suspense, tristeza, alegria, aventura; enfim, todos os ingredientes para se escrever um romance. Aliás, a vida de Dahl foi um romance repleto de surpresas e aventuras. Valeu a pena!
Para você, que se interessou por esse texto até aqui, vou fazer um pequeno resumo dos sete contos de “A Íncrível História de Henry Sugar”; é claro, sem spoilers.
O menino que falava com os bichos
Dahl escolheu um conto que desafia as supostas leis do real para abrir a sua coletânea de sete histórias curtas. Um menino que tem o dom de falar com os bichos, encontra uma velha tartaruga gigante aprisionada na praia por um grupo de pescadores que pretendem vender o animal para fins gastronômicos. Após convencer o seu pai a comprar a liberdade da tartaruga; no dia seguinte, o menino simplesmente desaparece. Onde será que ele foi? Alguém o seqüestrou? Ele está vivo? Morto? Pois é, só lendo esse conto muito interessante.
O carona
Dhal deixa no ar se esse conto é ficção ou se, realmente, aconteceu em sua vida. Aliás, o mesmo acontece com “Henry Sugar”, a história principal do livro. O carona dá a entender que o escritor em uma de suas viagens vê um homem pequenino com cara e olhos de rato na beira da estrada pedindo carona. Ele resolve parar e pede para o estranho caronista entrar no carro... É aí que os seus problemas começam.
O tesouro de Mildenhall
História real escrita por Dahl, quando ainda era solteiro e morava com a mãe, bem antes de se tornar um escritor famoso. Dois agricultores encontram um famoso tesouro enterrado. Um deles tenta passar a perna no parceiro para ficar com o “achado”, mas acaba se dando muito mal. Dahl entrevista um desses agricultores que após muita insistência decide lhe contar toda a história.
O Cisne
À exemplo de “O menino que falava com os bichos”, “O cisne” é outro conto com um toque de fantástico, mas somente no final, quando um dos personagens realiza uma proeza pra lá de insólita. A via crucis do personagem Peter Watson nas mãos de dois brutamontes é um alerta contra o bullying que já fez tantas vítimas. Os três garotos estudam na mesma escola, e um deles (Watson) vira saco de pancadas dos outros dois por ser considerado o mais inteligente da turma. Um conto claustrofóbico que faz o leitor ficar em agonia, principalmente na cena em que Watson é amarrado nos trilhos para ser trucidado por um trem. Arghhh!
A incrível história de Henry Sugar
Só fui descobrir que Henry Sugar é uma história fictícia após ler o conto posterior (Golpe de Sorte) que na realidade é um “resumão” muito bem feito da vida do escritor englobando sua infância, adolescência e fase adulta, onde ele apresenta alguns rascunhos que deram origem a pequenos contos curtos, entre os quais “Henry Sugar”. Dhal se torna personagem de seu próprio livro no final da história, interagindo com um outro personagem, por isso, apesar da negativa do autor, ainda estou em dúvidas, se “Henry Sugar”, de fato, não é uma história verdadeira. Neste conto, após treinar exaustivamente a sua mente, o jovem e ambicioso Henry Sugar adquiri o poder de enxergar com os olhos fechados.
Golpe de Sorte
Como já disse antes,esse conto é um “resumão” da vida do escritor. Uma jóia rara para os seus fãs que vão conhecer momentos tristes e alegres, conquistas e derrotas, e principalmente, o fato decisivo na vida de Dahl que fez com que ele se tornasse escritor. Em minha opinião, o melhor momento do conto é a narrativa do autor sobre o período em que participou da 2ª Guerra Mundial com piloto da RAF.
Moleza
Uma jóia rara, um verdadeiro tesouro literário para os fãs do autor. Simplesmente, trata-se do primeiro conto escrito por Dahl; aquele – que devido a sua boa aceitação – acabou decidindo o rumo de sua vida. Este conto pode ser comparado à um pequeno diário, onde ele narra parte de suas aventuras como piloto da RAF.
E aí? Prontos para degustarem esse cardápio de Dahl?


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