Divagações, divagações... e para variar, vamos com
outra divagação nesse espaço que não foi criado para divagações (rs). Tudo bem,
sei que tenho que escrever sobre livros, fazer resenhas, elaborar listas
literárias e etc, mas sabem né... a carne é fraca e, às vezes – mas, um “as
vezes com frequência” (rs) – surgem alguns assuntos que eu acho que merecem uma
divagação nesse portal; e um desses assuntos pipocou na manhã de hoje, enquanto
passava a leitura das notícias do dia nas redes sociais.
Tudo começou com a notícia envolvendo a suspensão de
um judoca sérvio por violar regras religiosas durante as Olimpíadas de Paris de
2024. Por meio das redes sociais, o atleta contou que ficará cinco meses fora
dos tatames por decisão da Federação Internacional de Judô.
O judoca enfrentava o seu adversário pelas oitavas de
final da categoria até 90 kg quando gesticulou o sinal da cruz. Além de ter
perdido o duelo, o judoca sérvio recebeu o comunicado de suspensão um mês
depois do fim das Olimpíadas. Como parte da punição, ele não pode disputar,
treinar ou se preparar no judô.
Judoca sérvio Nemanja Majdov punido pelo Comitê Olímpico por ter feito o sinal da cruz
Cara, isso mesmo que você leu: o sujeito foi punido
por ter feito o sinal da cruz! Fiquei sabendo que a chamada “Carta Olímpica”
que foi uma espécie de decreto com um conjunto de normas que deveriam ser
seguidas na competição tinha um artigo que estabelecia que nenhum tipo de
manifestação religiosa seria permitida. Então, chega a abertura dos Jogos
Olímpicos e os seus organizadores arrebentam ou melhor, implodem um dos maiores
símbolos da fé católica: a imagem da “Última Ceia de Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
Para nós, católicos, a Última Ceia não é apenas um
quadro pintado por Leonardo Da Vinci. Esta imagem é muito mais do que uma
obra-prima artística; ela representa a instituição da Sagrada Eucaristia, um
dos ritos mais sagrados de nossa fé.
O que estou querendo ‘dizer’ é que eles proibiram
manifestações religiosas, mas foram os primeiros a utilizar um símbolo
religioso na abertura do seu evento; indo além: promovendo a degradação desse
símbolo religioso. Do outro lado da moeda estão os atletas que tem a sua fé, a
sua religião e não podem fazer o sinal da cruz ou se ajoelharem. Creio que a
palavra certa para isso seria: dois pesos e duas medidas, algo do tipo: isto
está proibido, mas eu posso fazer; você, não.
Judocas Larissa Pimenta e Odete Giuffrida
Se a justificativa do Comitê Organizador dos Jogos
Olímpicos de Paris foi proibir as manifestações de cunho religioso, durante as
competições, pensando na segurança dos atletas para evitar conflitos - envolvendo
credos diferentes - que poderiam desencadear atos violentos, então porque
escolheu justamente um símbolo religioso para polemizar? Na minha opinião,
errou e errou feio.
A atitude do atleta sérvio me levou a uma outra
reflexão relacionada diretamente ao que disse um conhecido jornalista esportivo
que opinou sobre as convicções e atitudes religiosas da skatista Rayssa Leal e
das judocas Larissa Pimenta e Odette Giufridda (Itália). Segundo esse jornalista, a
religiosidade extrema dos católicos e evangélicos serve como anulação do ser
humano, de suas potencialidades e qualidades. Segundo ele, o que adianta Rayssa
Leal ter treinado se Deus decidiu que ela não teria prata como na última
Olimpíada.
Ginasta brasileira Rebeca Andrade, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris
Acredito que esse jornalista quis dizer – com outras
palavras – que atribuir a Deus o êxito pela conquista da medalha seria bobagem.
Ôpa! Pera lá. Discordo, novamente. Cara, creio que atribuir
a Deus o resultado de uma conquista ou de uma derrota não significa que o
atleta não tem consciência dos fatores físicos e técnicos envolvidos.
Nossas atletas Rayssa, Larissa, além da judoca italiana Odette, com certeza,
sabem que só estão nas Olimpíadas de Paris porque ralaram muito. Não é
diferente com Rebeca Andrade, a estrela da ginástica que também fez questão de agradecer a Deus. Todas elas atribuem o
sucesso à combinação entre fé e treinamento árduo.
Nas Olimpíadas da França, a skatista Rayssa Leal utilizou a linguagem de sinais para expressar a sua fé
Concordo inteiramente com o que escreveu o sociólogo
Valdinei Ferreira num artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo – aliás, um
artigo muito bem escrito - quando disse que a mente do crente, ou seja,
daqueles que creem em Deus não é cheia de um ‘crentismo’ exagerado. De acordo
com o sociólogo, a crença religiosa, longe de anular as potencialidades e
qualidades humanas, frequentemente funciona como um elemento que desperta e
mantém a disciplina na vida pessoal e profissional.
Eu penso da seguinte maneira: quando eu consigo uma
conquista, uma vitória em minha atividade profissional eu agradeço a Deus pelo
dom, pelo talento que ele me deu; mas eu tenho consciência, também, que cabe a
mim desenvolver esse talento. O que estou querendo dizer é que naquele momento
em que os atletas cristãos atribuem suas conquistas a Deus, não significa que
estejam se autodesprezando. Trata-se mais do vínculo de reciprocidade
estabelecido numa relação entre pai e filhos. Portanto, acredito que no momento
em que eu, você ou um atleta cristão conquista uma vitória, pensamos: Deus me
deu a vida, a saúde e o talento, portanto, é justo que eu reconheça a
participação dele nas minhas conquistas.
Dessa forma, vou sim, continuar fazendo o sinal da
cruz; vou sim, continuar agradecendo a Deus por cada uma de minhas conquistas. Parabéns
para o judoca russo, para a judoca italiana e parabéns para as nossas três atletas brasileiras.
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