27 fevereiro 2024
Cinco livros raros que merecem, há muito tempo, um relançamento. Editoras acordem!
“Se você os tiver guarde a sete chaves, se não os
tiver apenas sonhe, pois dificilmente os terá um dia”. Usei essa frase para
escrever uma postagem há mais de 12 anos, ainda nos primórdios do blog (confira
aqui). Foi um post sobre livros raros que naquela época haviam deixado de ser
publicados há ‘muuuuitos’ anos. Alguns deles foram relançados após poucas
editoras terem percebido, mesmo tardiamente, a importância dessas obras e o
brado popular de muitos leitores que exigiam um relançamento. Por outro lado,
ainda há livros que continuam com o status de raros não sendo encontrados nem
mesmo em sebos e quando o são, os preços exorbitantes assustam o mais calmo dos
leitores.
Neste post selecionei cinco livros raríssimos que já
estão merecendo um relançamento – de preferência em edição luxuosa – há muito
tempo. Quem sabe, alguma editora desperte de sua hibernação literária e assim,
resolva relançar estas obras incríveis que infelizmente sumiram das livrarias e
dos sebos. Vamos a elas.
01
– Primeiro Sangue (David Morrell)
Primeiro Sangue de David Morrell publicado originalmente em 1972
ganhou notoriedade após o lançamento do arrassa quarteirões chamado “Rambo”. O
filme produzido em 1982 transformou Sylvester Satallone num dos atores de filmes de ação mais
rentáveis de Hollywood nos anos de 1980; fama que carregou nas costas até há
pouco tempo. Quanto a “Rambo” virou uma das sagas cinematográficas mais
icônicas de todos os tempos, tanto é que rendeu outras quatro continuações.
Após o sucesso do filme de 1982, o livro de Morrell
foi relançado nesse mesmo ano, mas com a capa do filme, depois... caiu no
esquecimento das editoras, mas não no esquecimento dos leitores e até mesmo
cinéfilos que passaram a exigir uma republicação da história. Infelizmente todo
esse clamar popular não foi atendido, até agora, por nenhuma editora.
Há alguns anos surgiram comentários de que a DarkSide
havia decidido relançar essa preciosidade, mas os comentários ficaram apenas
nos comentários, já que a “caveirinha” não se pronunciou sobre o assunto. Uma pena.
Li Primeiro
Sangue – tenho o livro, ufaaaa!! – e posso garantir que o enredo é muito
diferente do filme; bem mais profundo e tenso. Vamos torcer para que alguma
editora acorde e perceba a importância desse livro.
02
– “Duro de Matar” (Roderick Thorp)
Ufaaaaa! Também tenho. Há muitos anos atrás, quando
ainda não havia ganhado o status de raro, adquiri a obra de Roderick Thorp num
sebo e acredite: a preço módico. Trata-se de mais um livro que rendeu um filme
famoso de ação. Tão famoso que acabou se tornando uma saga cinematográfica com
seis filmes.
Nothing
Lasts Forever (Nada
Dura para Sempre, traduzido ao pé da letra) publicado originalmente em 1979
só foi lançado no Brasil após o sucesso do filme “Duro de Matar” com Bruce
Willis e que bombou nos cinemas em 1988. Portanto, o livro de Thope no qual o
filme foi baseado só chegou nas livrarias brasileiras, nove anos após a sua
publicação original. E chegou no Brasil com o mesmo nome e também a mesma capa
do filme. A editora Record, na época, optou por dispensar o título original do
livro de Thorpe.
A obra teve uma passagem rápida pelas livrarias já que
a Record decidiu não colocar no mercado novas edições e assim, o livro foi
sumindo... sumindo... sumindo, até se extinguir das prateleiras das livrarias e
dos sebos.
Como acontece com qualquer adaptação, existem
diferenças entre o romance de Thorp e o filme. No livro, o nome do herói é
Joseph Leland, que, como John McClane, é um policial de Nova York. Embora o
filme com Bruce Willis e o livro sejam diferentes em algumas áreas, Duro de
Matar incluiu muitas das sequências de ação de Nothing Lasts Forever (confiram a resenha que fiz sobre o livro
aqui).
Ah! Ia me esquecendo; encontrei um único exemplar no
portal da Estante Virtual pela “bagatela” de R$ 129,00!
03
– O Visconde de Bragelonne (Alexandre Dumas)
Este livro de Alexandre Dumas fecha a história da saga
dos mosqueteiros composta pelos livros: Os
Três Mosqueteiros, Vinte Anos Depois
e O Visconde de Bragelonne. O detalhe
é que a história foi publicada por Dumas no formato de folhetim – como fez com O Conde de Monte Cristo – e por isso,
décadas depois, quando foi lançada no formato livro chegou a ter 10 volumes com
aproximadamente 300 páginas cada.
Que eu saiba, a última edição de O Visconde de Bragelonne aconteceu nos anos 60 pela editora Saraiva
que colocou no mercado 6 volumes. Antes tivemos publicações da editora Lello,
se não me falhe a memória em sete volumes e ‘mais antes ainda’, lá pelos anos
50, a Livraria Fittipaldi Editora publicou a história em dez partes. Além
dessas edições temos ainda um ‘resumão’ da história – de apenas 149 páginas,
direcionando ao público infantojuvenil lançado pela editora Melhoramentos em
1964. Depois disso, nenhuma outra editora ousou publicar a última parte da saga
Os Três Mosqueteiros.
Se alguém desejar concluir a leitura da antológica
trilogia de Dumas, terá de recorrer aos sebos e torcer para encontrar O Visconde de Bragelonne em seis, sete
ou dez volumes; sem contar a tradução desatualizada, ortografia antiga e o
risco de topar com livros em estado precário de conservação. Quanto ao resumão
da Melhoramentos, esqueça. Cara, resumindo: é muito pouco dos nossos editores
com um enredo considerado essencial para a conclusão das aventuras dos quatro
inseparáveis mosqueteiros.
É muita tortura você ter em mãos edições luxuosas de Os Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois, mas depois ficar
chupando o dedo por um terceiro livro que você sabe... não “existe” - pelo menos numa nova edição.
Fica aqui, um recadinho para a editor Zahar: “Poxa
vida, vocês lançaram em edições luxuosas: Os
Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois
e agora empacaram na conclusão da saga?! Sem contar que relançaram O Conde de Montecristo que a exemplo de O Visconde de Bragelonne foi escrito no
formato de folhetim. Por que não fazer o mesmo com o “nosso” Visconde?
04
– Depois da Meia-noite (Stephen King)
Depois
da Meia-noite é uma coletânea de novelas escritas por
Stephen King em 1988 e 1989 e publicadas em agosto de 1990. É seu segundo livro
desse tipo, sendo o primeiro As Quatro
Estações. A coleção ganhou o Prêmio Bram Stoker em 1990 para Melhor Coleção
e foi indicada ao Prêmio Locus em 1991.
O livro de 667 páginas e que se tornou o sonho de
consumo de 10 em cada 10 fãs de Stephen King reúne quatro noveletas – Os Longoliers, Janela Secreta, Secreto Jardim, O
Policial da Biblioteca e O Cão da
Polaroide. Desses contos, dois foram adaptados para as telas: Longoliers e Janela Secreta, Secreto Jardim. O primeiro foi parar na TV em 1995,
se não me engano na Rede Record, no formato de uma minissérie chamada “Fenda no
Tempo”; enquanto que o segundo acabou ‘aterrissando’ nos cinemas com o título
resumido de “Janela Secreta” com ninguém menos do que Johnny Depp no papel de
protagonista.
Depois
da Meia-noite foi lançado pela editora Francisco Alves
em 1992 e depois disso não teve nenhuma outra edição.
Se, por acaso, você tem esse livro, escute o meu
conselho: jamais o empreste, nem mesmo para o seu pai, muito menos para o seu
irmão. Guarde-o num cofre e esconda a chave.
Agora se prepare para o susto. Sugiro que tome algum
calmante antes de ler as próximas linhas. Vamos lá: pesquisei bastante na
internet e só consegui encontrar um exemplar usado num sebo filiado a Amazon
pelo valor de... já tomou o calmante? Então lá vai: R$ 550,00!!
Putz Suma!! Tenha piedade de todos nós, fás de King, e
coloque logo esse livro na série Biblioteca
Stephen King!
05
– A Casa do Passado (Algernon Blackwood / Heloisa Seixas)
Quer levar mais um susto? Que tal pagar R$ 300,00 por
um livro usado com aproximadamente 300 páginas? Entonce, esse é o valor de A Casa do Passado na Estante Virtual. Já
um livreiro da Amazon teve um pouco mais de compaixão e resolveu fazer um corte
menos profundo no bolso dos leitores: R$ 170,00. Qual outra prova será
necessária para que os editores aqui da terrinha entendam a importância dessa
obra e o quanto ela está merecendo uma republicação? Acho que essas editoras
estão morgando.
A
Casa do Passado é uma antologia de contos de terror do
inglês Algernon Blackwood, um mestre do gênero, redescoberto no Brasil pela
jornalista e escritora Heloisa Seixas. A obra reúne histórias como Os salgueiros, sua obra-prima, O quarto ocupado, A Ala Norte e A boneca,
clássicos da literatura de horror.
Esta é a terceira coletânea de contos de terror
organizada e traduzida por Heloisa Seixas. A obra foi lançada em 2001. Os
personagens dos contos de Blackwood vivem situações horripilantes, que não
imaginaríamos nos nossos piores pesadelos. São pessoas comuns, subitamente
envolvidas em histórias que fogem ao controle da lógica e do que pode ser
explicado.
Blackwood, que já foi tão famoso quanto seus
contemporâneos Bernard Shaw, H. G. Wells e Conan Doyle, caiu em esquecimento
logo após sua morte, há cerca de 50 anos. Hoje, os milhares de fãs do gênero,
ávidos por uma história angustiante cercada de sustos, fantasmas e surpresas
estão sofrendo porque não conseguirem encontrar mais o livro e quando o
encontram quase caem de costas por causa dos preços “milionários”.
Parabéns à Heloísa Seixas pela sua iniciativa em
resgatar esse importante autor e a minha indignação por nenhuma editora ter
tomado, até agora, a iniciativa de relançar essa coletânea antológica de contos
de terror.
Valeu galera!
23 fevereiro 2024
Descobri somente agora que a trilogia “Mulheres Assassinas” foi relançada em 2023 num box luxuoso
Como jornalista acompanhei, mesmo à distância, três
casos policiais que chocaram o País; crimes que envolveram três mulheres que
acabaram sendo julgadas e condenadas. Tenho certeza que a maioria dos leitores
viram a exaustão nos meios de comunicação de massa – não importa seja jornal,
rádio, TV ou redes sociais – matérias sobre os assassinatos do casal Manfred e
Marísia von Richthofen; do CEO da Yoki, uma das maiores companhias de alimentos
do Brasil, Marcos Kitano Matsunaga; e do pastor Anderson do Carmo de Souza.
Todos esses assassinatos planejados e executados por três mulheres: Suzane von
Richthofen, Elize Matsunaga e Flordelis dos Santos de Souza, respectivamente. A
primeira, filha do casal Richthofen; a segunda, esposa de Marcos; e a terceira,
também esposa do pastor Anderson.
Acompanhei a distância porque não estava no local dos
fatos para ouvir os envolvidos. Ficava sabendo das novidades, através das agências
de notícias que são parceiras da empresa de comunicação onde trabalho ou então,
como vocês, através da TV e dos jornais.
Não há como negar que foram três crimes que chocaram o
País, tanto é verdade que ao longo dos anos surgiram livros, filmes e até
séries de TV sobre esses três casos. ‘Falando’ especificamente dos livros,
confesso que até há pouco tempo, nenhum deles havia chamado a minha atenção; por
isso mesmo, não os comprei. Mas na semana passada, enquanto vasculhava a “Dona
Internet” a procura de informações complementares para uma reportagem que
estava preparando, me deparei com uma trilogia de livros sobre o assunto que
despertou em mim aquele comichãozinho. Sabem aquele comichãozinho característicos
de nós leitores quando surge repentinamente o impulso de comprar mais um livro?
Pois é, é esse aí. Foi “ele” que me deixou em dúvida quanto a adquirir essa
trilogia mesmo estando com o meu cartão de crédito na UTI.
Quando o meu “radar” acendeu o interesse por esses
três livros resolvi sondar algumas opiniões nas redes sociais – de críticos
literários e também de leitores – e os resultados foram animadores porque a
maioria das críticas eram positivas.
Esta trilogia de livros tem o título de Mulheres Assassinas. Publicada pela
editora Matrix, em 2023, é composta pelos best-sellers Suzane — Assassina e manipuladora; Elize Matsunaga — A mulher que esquartejou o marido; e Flordelis — A pastora do diabo. A série
de livros foi escrita pelo jornalista Ulisses Campbell.
As três obras contando a vida das criminosas foram
atualizadas. Entre as novidades estão detalhes sobre a recente gravidez de
Suzane von Richthofen, que planejou o assassinato dos pais, em 2002. A nova
edição também apresenta uma entrevista com Daniel Cravinhos, um dos cúmplices
de Suzane no crime.
No livro sobre Matsunaga, o autor mostra que, após
cumprir sua pena, a assassina do marido, Marcos Matsunaga, chegou a falsificar
atestado de antecedentes criminais e hoje dirige transporte de aplicativo.
Campbell atualizou a parte de Flordelis com uma entrevista com a pastora, presa
em 2021 pela morte do marido.
Vale lembrar que a publicação original do livro sobre
Suzane von Richthofen aconteceu em janeiro de 2020. O sucesso da obra fez com
que o jornalista lançasse mais dois títulos, Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido, em 2021 e Flordelis, a pastora do diabo, em 2022.
Em 2023, a trilogia ganhou uma nova edição, com um box
especial e novas informações sobre os três casos. Coleção Mulheres Assassinas: Suzane, Flordelis e Elize Matsunaga
figura como a obra mais vendida em Crimes Reais Biografia e Memórias da Amazon.
Campbell que se tornou um dos autores que mais se
destaca no cenário do true crime brasileiro explica que que
todas as três mulheres tiveram mudanças muito grandes em suas vidas nestes
últimos anos e por isso propôs uma atualização de seus livros o que acabou
sendo aceita pela editora. A importância que a Matrix deu a esse relançamento
fica evidente na proposta de transformar a trilogia num box ultra luxuoso.
Olha o meu radar me alertando que a minha lista de
leituras já está perto do limite (rs).
18 fevereiro 2024
História real de canibalismo em Porto Alegre inspira livro do escritor e roteirista Tailor Diniz. A obra “Os canibais da Rua do Arvoredo” já está nas livrarias
Cara, me lembro do dia em que comi carne de capivara
sem saber que era carne de capivara. Isto foi há muitos, mas há muitos anos e
coloca mais anos nisso. Muito longe dos meus sessenta e pouquinhos anos atuais,
mas ainda me lembro da experiência macabra que tive. Escolhi a palavra
“macabra” porque segundo o Dicionário Oxford, o termo significa “horrendo”,
“hediondo”, algo que desperta o horror”. E todos esses adjetivos se enquadram
perfeitamente na experiência que vivi.
Foi na casa de um amigo meu. Na ocasião, ele me disse
que se tratava de carne de porco, mas ao experimentar um pedaço – pedaço que
infelizmente e incautamente degluti – percebi um gosto muito adocicado e...
parei na mesma hora.
Vem do o meu semblante com um olhar estupidificado.
Ele decidiu revelar o teor de sua brincadeira – para mim, de muito mau gosto –
juro que fiquei um bom tempo sem comer carne de porco ou de vaca, além de ter
sido obrigado a lidar com um verdadeiro motim provocado pelas minhas tripas; um
motim que incluiu todos os tipos de revoltas: das náuseas aos vômitos, passando
pelo mau estar prolongado.
Ao escrever essa postagem fico imaginando como vários
moradores residentes em Porto Alegre se sentiram no período de 1863 a 1864 ao
descobrirem que comeram durante todo esse período linguiças preparadas não com carne
de capivara, mas com carne humana!! Isto mesmo! Você sabia que na capital do
Rio Grande do Sul, um casal assassinou homens, moeu as carnes e os transformou
em linguiças comercializadas por toda a cidade? Os moradores, por sua vez,
comeram essa iguaria imaginando que estavam deglutindo linguiças preparadas com
carne suína ou bovina. Pode parecer uma história macabra, digna de filme de
terror, mas foi isso que Catarina Palse e José Ramos fizeram em Porto Alegre,
no século XIX.
A prática insólita dos crimes era feita da seguinte
forma: os acusados atraiam vítimas para matá-las e, provavelmente, desfaziam de
partes dos corpos produzindo linguiças de carne humana pra serem vendidas em um
açougue da cidade. Catarina seduzia e atraía os homens para a sua casa, onde o
seu marido José Ramos – que ficava escondido no quarto – matava as vítimas. O curioso
nisso tudo é que Catarina, pelo que consta, não era uma mulher bonita e muito
menos atraente.
Apesar de ser um caso real, ele ainda está presente no
imaginário popular local, tendo-se tornando uma espécie de lenda urbana da
cidade gaúcha. O fato ficou conhecido no meio policial daquela época como “Os
crimes da Rua do Arvoredo”, local onde foram encontrados os restos dos corpos
das vítimas e onde as linguiças macabras eram produzidas.
Este enredo hediondo e real valeu um livro chamado Canibais: Paixão e Morte na Rua do Arvoredo
de David Coimbra que foi colunista do jornal Zero Hora. No livro publicado em
2005, o autor que faleceu em 2022 aos 60 anos - vítima de um câncer - optou por
dar aos fatos jornalístico um tom de romance o que deixou o enredo bem mais
fluído.
Escritor, jornalista e roteirista Tailor Diniz
Agora, quase 20 anos após a publicação dessa obra, “Os
Crimes da Rua do Arvoredo” voltam as livrarias, mas pelas mãos de um outro
escritor, também gaúcho: Tailor Diniz. O escritor, jornalista e roteirista de
cinema revive as figuras assombrosas de Catarina Palse e José Ramos na obra Os canibais da Rua do Arvoredo. Neste
enredo, o autor satiriza os fatos, também numa linguagem fluida, onde um casal
de jovens se muda para antiga residência dos assassinos e quando descobrem um
porão, coisas bizarras começam acontecer. Possuídos pelos espíritos dos antigos
criminosos, sentem-se designados a cumprirem uma missão de vingança, que, em
princípio, não sabem exatamente qual é. Até que cometem o primeiro crime.
Em uma mistura de realidade e ficção, o autor constrói
um enredo instigante e assustador que retrata até mesmo os desejos mais
estranhos do ser humano.
Os
canibais da Rua do Arvoredo é o 22º livro de Diniz e, entre
eles, estão Em linha reta,
semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura 2015; Crime na Feira do Livro, traduzido na Alemanha e lançado na Feira
de Frankfurt, em 2013; Transversais do
tempo, Prêmio Açorianos de Literatura – Melhor Livro de Contos de 2007; e A superfície da sombra, traduzido na
Bulgária e adaptado para o cinema pelo diretor Paulo Nascimento, em 2017.
Os
Canibais da Rua do Arvoredo teve os seus direitos adquiridos
pela Accorde Filmes que fará uma adaptação para o streaming roteirizada pelo
próprio Diniz e levando a assinatura do diretor Paulo Nascimento ('A Oeste do
Fim do Mundo'). O projeto será distribuído pela Paris Filmes.
O livro lançado pela Citadel Grupo Editorial em 30 de
dezembro de 2023 está à venda nas livrarias físicas e virtuais do País.
14 fevereiro 2024
Livros e filmes sobre o avião que caiu nos Andes em 1972
Em 13 de outubro de 1972, o avião que transportava a
equipe de rúgbi uruguaia 'Old Christians Club' colidiu tragicamente contra uma
montanha na Cordilheira dos Andes com 45 pessoas a bordo, entre jogadores,
familiares e amigos. Os sobreviventes, confrontados inicialmente com o impacto
brutal da aeronave, logo se viram diante de adversidades implacáveis, como o
frio intenso, isolamento severo, ausência de perspectiva de resgate e fome.
Para não morrer, os sobreviventes concordaram em
recorrer a uma medida extrema: praticar o canibalismo, consumindo os corpos das
vítimas da tragédia. No desfecho dessa narrativa, 16 pessoas foram
eventualmente resgatadas, marcando o fim de uma jornada de sofrimento e
resiliência.
Quatro anos depois da tragédia seria lançado o filme
“Os Sobreviventes dos Andes”, uma produção mexicana bem modesta e com efeitos
especiais de quinta categoria – para não dizer de sexta categoria. Mas apesar
disso, a estreia do longa foi marcada por polêmicas envolvendo o canibalismo
retratado de forma realista e a exposição de cadáveres.
Lembro-me muito bem dessa polêmica. Tinha 16 ou 17
anos quando assisti ao filme no cinema da minha cidade. Não me pergunte como
consegui entrar na sala de exibição apesar da minha pouca idade; só sei que...
consegui, não me lembro como.
Uma das cenas que me marcou - tanto é verdade que
ainda me recordo dela, apesar de tantos anos decorridos – acontece no momento
em que o avião cai e um sobrevivente, estudante de medicina, tenta empurrar para
dentro da barriga de um moribundo parte do seu intestino que ficou exposto.
Brrrrrrr! A partir daquela cena, percebi que o filme ia ser trucão e o Jam,
“garoto de ontem”, sexagenário de hoje; teria de ser forte para aguentar o
repuxo. As próximas cenas não aliviaram e junto com elas vieram os momentos de
canibalismo. Hoje, ainda me lembro, que no momento dessas cenas quase que
explícitas, um silêncio total invadiu a sala de exibição.
Se hoje, o que chama a atenção dos cinéfilos nessa
produção mexicana de 1976 são os seus efeitos visuais risíveis, há
aproximadamente 48 anos, esses mesmo efeitos tinham o poder de impactar os
espectadores.
Nos livros, a tragédia nos Andes chegou três anos
antes do cinema. Em 1973, o escritor e jornalista inglês Piers Paul Read lançou
Os Sobreviventes que só iria parar
nas telonas vinte anos depois numa produção que contou com Ethan Hawke e
narração de John Malkovich.
Após ter assistido, recentemente, um filme sobre o
assunto na Netflix, decidi escrever essa postagem sobre os livros e as
produções cinematográficas que abordaram um dos acidentes mais graves da
aviação em todo o mundo. Selecionei quatro filmes e três livros para os nossos
seguidores que estão interessados em saber mais detalhes sobre esse acidente
que ficou conhecido como a “tragédia dos Andes”. Começando pelos livros.
Livros
Os
Sobreviventes (Piers Paul Read)
O livro de Piers Paul Read se tornou uma obra
raríssima e difícil de ser encontrada; apesar disso, o seu preço não valorizou.
Após zapear na Net descobri alguns poucos exemplares com preço médio de R$
30,00, o que para uma obra que está perto da extinção, sai praticamente de
graça.
Para compor a sua obra, Read entrevistou todos os
sobreviventes que narram detalhes sobre a tragédia e o que fizeram para
sobreviver. Por isso, alguns críticos reputam o livro do autor como o mais
completo de todos.
Os
Sobreviventes é um relato cru, sincero e visceral,
detalhado a um ponto de fazer o livro ser difícil de ler, mostrando o ambiente
isolado e inóspito dos Andes que levou um grupo de pessoas a optar pelo
canibalismo para tentar sobreviver, rompendo conceitos sociais e normas morais.
Ao longo da leitura, o relato ganha a forma de um romance de não-ficção. Foi
adaptada para os cinemas em 1993.
02
– Milagre nos Andes – 72 dias na montanha e minha longa volta para casa (Nando
Parrado)
Milagre nos Andes – 72 Dias na Montanha e Minha Longa Volta para Casa,
é um livro para leitores de estômago e nervos bem fortes. Nesta obra, o autor
Nando Parrado – que é um dos sobreviventes do grave acidente aéreo nas
profundezas dos Andes – exorciza todos os seus medos e angustias, fazendo um
relato detalhado dos 72 dias de sofrimento nas geladas e isoladas montanhas
andinas. Parrado não usa meias palavras e tão pouco esconde fatos ou segredos
que ocorreram no acidente, nem os mais traumáticos e chocantes. Costumo dizer
que ele “vomita” tudo o que aconteceu naquele fatídico dia em que o um time de
rugby do Uruguai decidiu emprestar um Fairchild F-227 da Força Aérea Uruguaia
para fazer uma partida amistosa no Chile.
Os sobreviventes dos Andes se alimentaram de carne
humana por um período de aproximadamente dois meses. No início, segundo
Parrado, apenas de pedaços superficiais do músculo do antebraço dos mortos, mas
quando o “alimento” começou a faltar, eles tiveram de comer também pulmões,
rins, cérebro e até coágulos de artérias. Ele dá detalhes de tudo isso sem
meias palavras.
03
– A Sociedade da Neve (Pablo Vierci)
A Sociedade da Neve de Pablo Verci intercala as narrativas
dos sobreviventes com relatos do autor que, por sua vez, dá detalhes sobre os
fatos relacionados ao acidente. Cada capítulo é iniciado com descrições de
Vierci sobre a tragédia, desde os momentos descontraídos que marcaram o
embarque dos jovens no avião da Força Aérea Uruguaia até o instante do resgate,
passando pela provação dos 72 dias que definiram a sobrevivência dos 16 jovens,
na época. Logo depois desses preâmbulos vem as narrativas com as experiências
pessoais de cada sobrevivente. O livro dedica um capítulo inteiro para cada um
dos sobreviventes contarem as suas sagas.
A
Sociedade da Neve mostra ainda como foi a reinserção dessas
16 pessoas na sociedade, as dificuldades que elas sofreram para voltar a ter,
novamente, uma vida normal; os momentos emocionantes que marcaram o resgate
após os 72 dias perdidos nos Andes; a reação de seus familiares quando souberem
que eles tiveram de praticar canibalismo para sobreviver; além de outros
assuntos.
Filmes
01
– Os Sobreviventes dos Andes (1976)
O filme mexicano foi a primeira adaptação a narrar o
desastre dos Andes no cinema. Poucos anos após o acidente, em 1976, a estreia
do longa foi marcada por polêmicas envolvendo o canibalismo retratado de forma
realista e a exposição de cadáveres. Por essa espetacularização do drama
enfrentando pelo grupo de sobreviventes, a produção cinematográfica recebeu
fortes críticas pela maneira como abordou.
O filme não tem boa performance no IMDb, obtendo nota
5.6, com base em 631 avaliações, mas teve bom retorno no Google, com 73% de
aprovação do público.
Com Direção René Cardona, o elenco é protagonizado por
Pablo Ferrel, ,, Hugo Stiglitz, Norma Lazareno, entre outros.
Onde
assistir: Plex TV
02
– Vivos (1993)
O filme “Vivos” baseado no livro homônimo de Piers
Paul Read, é a segunda versão lançada no cinema sobre a trágica história da
equipe de rúgbi uruguaia nas montanhas dos Andes. É por muitos considerado mais
fiel à realidade que a obra anterior, de 1976. Um dos sobreviventes do
desastre, Nando Parrado (interpretado por Hawke no filme), atuou como consultor
técnico do filme.
Os nomes das pessoas que morreram no acidente foram
alterados no filme. Havia três exceções principais: Eugenia e Susana Parrado
(mãe e irmã de Nando Parrado, respectivamente), e Liliana Methol (esposa de
Javier Methol).
Com direção de Frank Marshall (O Curioso Caso de
Benjamin Button), o longa de ficção é estrelado por Ethan Hawke, Vincent Spano,
Josh Hamilton, Bruce Ramsay entre outros nomes. “Alive” está disponível para
assistir na Apple TV+.
Onde
assistir: Aple TV+
03
– A Sociedade da Neve (2007)
Ao contrário da produção homônima da Netflix, este
filme de 2007 é um documentário que mostra o testemunho dos dezesseis
sobreviventes do acidente aéreo na Cordilheira dos Andes. Na obra, eles relatam
detalhes desde como foi a fuga, a decisão de se alimentar dos corpos dos
companheiros, até o resgate.
Dirigido pelo uruguaio Gonzalo Arijón (Battle for Rio),
o documentário “A Sociedade da Neve” foi sucesso de crítica. A produção obteve
nota 8.0 no IMDb e 93% de aprovação da audiência no Rotten Tomatoes.
Participam do documentário os sobreviventes José Pedro
Algorta, Roberto Canessa Alfredo Delgado, Daniel Fernández Bobby François, Roy
Harley, Coche Inciarte, Álvaro Mangino, Javier Methol, Carlos Páez, Nando
Parrado, Moncho Sabella, Fito Strauch, Eduardo Strauch, Tintín Vizintín e
Gustavo Zerbino.
Onde
assistir: Pluto Tv.
04
– A Sociedade da Neve (2023)
“A Sociedade Da Neve”, em cartaz na Netflix, é
dirigido pelo espanhol J.A. Bayona que ganhou respeito com produções
inteligentes, profundas e impactantes, tais como: “O Orfanato” (2007) e “Sete
Minutos Depois da Meia-Noite” (2016).
Em formato de ficção baseada em fatos reais, o filme
traz como um dos protagonistas Numa Turcatti (Vogrincic), uma vítima fatal,
como forma de dar voz àqueles que não voltaram da montanha.
Bayona quis focar no aspecto humano da tragédia e
optou por não tratar explicitamente dos atos de canibalismo. Assim, ele diz que
houve uma generosidade entre os sobreviventes — em referência a um acordo de
que, se morressem, eles podiam comer a carne dos corpos.
A crítica do jornal britânico The Guardian feita por
Peter Bradshaw analisa que “o próprio filme minimiza a repulsa explícita pelo
que estava acontecendo, em favor de destacar a agonia e a dura resiliência nas
condições extenuantes”.
A produção inspirada no livro de Pablo Vierci, amigo de
infância de algumas vítimas, foi indicado ao prêmio Oscar na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro".
10 fevereiro 2024
6 coleções de livros do passado que deixaram muitas saudades
Nesta semana enquanto dava uma “zapeada” em minha
estante de livros, vi ali, meio que escondidinho, o romance As Sandálias do Pescador de Morris West
que eu havia lido em minha adolescência. Ao olhar para a sua capa,
imediatamente me lembrei de uma coleção famosa que tinha na biblioteca da minha
escola e que eu sempre levava emprestado para ler em casa. Estou me referindo a
coleção literária Grandes Sucessos Abril
Cultural que fez muito sucesso no início dos anos 80. As Sandálias do Pescador foi a porta de entrada que me levou a
lembrar de outros títulos dessa coleção. Esta mesma “porta” me levou para mais
uma coleção famosa, cujos livros eu devorava e amava: Mestres do Horror e da Fantasia. Gostava tanto que até rendeu uma
postagem especial no blog (ver aqui).
A partir daí refleti porquê não escrever um post sobre
as séries de livros que marcaram gerações de leitores dos anos 70 e 80? Foi
assim que “pintou” esse texto que você está lendo agora.
Selecionei seis coleções literárias que fizeram a
cabeça de muitos leitores nessas duas décadas. Não importa se eram vendidas em
bancas ou livrarias, o sucesso era o mesmo. Vamos a elas.
01
– Grandes Sucessos Abril Cultural
É evidente que vou começar com a coleção que me
inspirou a escrever esse post. Grandes
Sucessos foi uma coleção de obras literárias que obteve grande êxito, publicada
pela Abril Cultural entre os anos de 1980 e 1983.
A coleção foi lançada no segundo semestre de 1980,
tendo como primeiro título O Dia do
Chacal, ao custo então de Cr$ 95,00. A coleção completa chegou a 113 livros
na Série Branca e 24 livros na Série Ouro que tinha a capa preta. O sucesso da
coleção levou a editora a trabalhar com tiragens médias de 100 mil exemplares
por obra.
Verdadeiros clássicos fizeram parte dessa coleção,
entre os quais: O Chefão (Mario
Puzo), Um Certo Capitão Rodrigo
(Érico Veríssimo), O Colecionador (John
Fowles), Carrie (Stephen King), O Exorcista (Wiiliam Peter Blatty),
entre outros.
Os livros da série Grandes
Sucessos Abril Cultural eram vendidos nas bancas de revistas e jornais. Não
tenho a informação se a tiragem das obras era mensal, bimensal ou então sem uma
periodicidade definida.
02
– Mestres do Horror e da Fantasia
A coleção Mestres do Horror e da Fantasia começou a ser publicada pela editora Francisco
Alves em 1981. Logo de cara, lançou Eu Sou a Lenda de Richard Matheson; depois vieram outros lançamentos que
fizeram a alegria dos leitores do gênero de terror e suspense. Vale lembrar que
grande parte dos livros, hoje raros, de Stephen King, fizeram parte dessa
coleção. Vou citar alguns: A Metade Negra,
Depois da Meia-Noite, Trocas Macabras, Os Estranhos e do raríssimo – quase extinto nos sebos - Os Livros de Bachman.
A coleção teve ainda outros títulos famosos: A Assombração da casa da Colina (Shirley
Jackson), A Ilha do Dr.Moreau (H.G.
Wells) e As Máquinas do Prazer (Ray
Bradbury). Os exemplares da Francisco Alves publicaram até mesmo uma raridade: Miniaturas do Terror, o único livro de
Tabitha King, esposa de Stephen King, lançado no Brasil.
Em 1993, o sonho terminaria com o anúncio feito pela
editora de que a sua famosa coleção havia chegado ao fim. O seu lançamento
derradeiro foi Trocas Macabras de
Stephen King em 1992. Depois Zéfini.
Hoje, a maioria das obras que fazem parte de Mestres do Horror e da Fantasia são
consideradas raras e com preços nas nuvens só podendo ser encontradas em
pouquíssimos sebos.
03
– Supersellers
A Record é considerada a editora pioneira na venda de
livros em bancas de jornais e revistas. Tenho vários títulos da Record em minha
estante e que na década de 1980 e meados de 1990 fizeram um baita sucesso nas
prateleiras das bancas sendo muito procurados. Sei disso porque esses livros
foram presentes de um amigo que tinha o hábito de compra-los em bancas de
jornais e revistas. Entre eles posso citar: O
Milagre de Irving Wallace e A
Profecia de David Seltzer.
Estes livros da Record vendidos nas bancas faziam
parte do selo Supersellers e
inicialmente tinham a encadernação no formato brochura, mas devido as vendas
que superavam todas as expectativas, a editora resolveu apostar alto e assim,
em 1995, investiu US$ 250 mil em publicidade televisiva – uma fortuna para os
padrões da época - para relançar a série, mas desta vez em capa dura reunindo
autores consagrados como Sidney Sheldon e Mario Puzo.
O empreendimento foi lançado em parceria com a editora
Altaya, que entrava com os custos de impressão das obras. A venda em bancas foi
um achado para a Record, segundo a diretora da editora, naquela época, Luciana
Villas-Boas.
Essa foi a terceira coleção que a Record lançou para
venda em bancas e a que mais vendeu. As anteriores foram Mostra de Literatura Contemporânea e as obras da escritora Agatha
Christie.
04
– Edibolso
No final dos anos 60 e início da década de 70, os
livros de bolso explodiram em vendas em todo o Brasil. Foi a época de ouro de
editoras como a Prisma, Melhoramentos; Dominus, Artenova e muitas outras. Mas
acredito que a mais famosa e com o maior número de vendagem de suas edições foi
a Edibolso que antecedeu as editoras Monterrey, Ediouro e Martin Claret - a
Martin Claret continua em atividade até hoje.
A história da Edibolso começou em 1971, a partir de
uma sociedade entre a Editora Abril (sócia majoritária), a Bantam Books, a
Difel, a Record e a Círculo do Livro, com a intenção de disponibilizar um
catálogo variado e que pudesse ser vendido em bancas. Dessa maneira, nascia o
selo Edibolso que fez um grande sucesso nas bancas de jornais e revistas. Suas
obras abrangiam ficção e não-ficção de autores nacionais e estrangeiros. Mas
ela não teve vida longa: encerrou as atividades em 1978, com uma centena de
livros de bolso publicados.
Verdadeiras obras primas foram lançadas pela Edibolso
no formato edição econômica, entre eles: O Destino do Poseidon (Paul Gallico), As Vinhas da Ira (John Steinbeck), 2001
– Uma Odisséia no Espaço (Arthur C. Clarke) e A Revolução dos Bichos (George Orwell).
O slogan famoso utilizado pela Edibolso e que ficava
fixado nos expositores de livros era: “Edibolso – Livros Gostosos por Preços
Gostosos”. Simples, mas objetivo, não acham? (rs).
05
– Vagalume
Muitos adultos se orgulham em dizer sem medo, vergonha
ou receio, que autores como Lúcia Machado de Almeida, Maria José Dupré e José
Rezende Filho continuam sendo importantes em suas vidas de leitor ou então que
“O Escaravelho do Diabo” foi um dos melhores enredos policiais já lidos.
Acreditem! As obras daquele vagaluminho simpático de boina, cavanhaque, calça
boca-de-sino e medalhão presente no logotipo da série tinham esse poder.
A autora que inaugurou a série de livros da Vagalume
foi Maria José Dupré com o título A Ilha Perdida que pode ser considerado o
marco inicial dessa famosa coleção. A obra foi publicada em 1973. Na
realidade, o lançamento da Ática, era uma terceira edição da obra, publicada
originalmente em 1944.
Outras obras que fizeram parte dos primeiros títulos
da “Vaga-lume” também eram consagradas do grande público, como Éramos Seis (1943) da mesma Maria José Dupré e O
Feijão e o Sonho (1949) de Orígenes Lessa. Após as reedições desses livros da
fase inicial da Vaga-lume, viriam, então, as obras inéditas escritas pelos
novos autores ou aqueles escritores ‘reciclados’ da velha guarda.
Muitos leitores da série - jovens de ontem e adultos
hoje – tem como tema principal em suas rodas de discussão a polêmica sobre qual
foi o maior sucesso entre todos os livros lançados pela Vaga-lume. E olha que a
lista de candidatos é enorme; mas se formos fazer uma pesquisa entre os fãs da série, com
certeza O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida ganharia a
enquete.
Enfim, a coleção Vagalume pode, tranquilamente, ganhar
o carimbo de “antológica” pois fez parte da vida de uma grande geração de
leitores brasileiros. Aqueles que quiserem saber mais sobre as origens dessa
série bastam acessar uma postagem especial (confira aqui) onde conto os
primórdios da Vagalume.
06
– Círculo do Livro
Fecho essa lista com o Círculo de Livro que não poderia faltar nessa lista de maneira
alguma. As obras publicadas por essa editora que implantou um dos primeiros
clubes de assinatura de livros do País se tornaram antológicas e fizeram parte
da vida da maioria dos leitores brasileiros. Lembro aqueles que quiserem
conhecer um pouco mais a fundo a história do Círculo do Livro que publiquei nos primórdios do blog, em 2012, um
post especial sobre o assunto (confiram aqui).
A editora surgiu em 1973 através de um acordo firmado
entre o Grupo Abril e a editora alemã Bertelsmann e vendia livros por um
"sistema de clube", onde a pessoa era indicada por algum sócio e, a
partir disso, recebia uma revista quinzenal com dezenas de títulos a serem
escolhidos. O novo sócio teria então a obrigação de comprar ao menos um livro
no período.
Foram reunidos até 1975 duzentos e cinquenta mil
sócios, número que dobrou em 1978.
Em 1982, as vendas alcançaram cinco milhões de
exemplares, totalizando dezessete milhões nos primeiros dez anos de existência
da Círculo.
O Círculo do Livro funcionou até 1990 e durante o
período em que esteve ativa publicou vários livros de sucesso, em capa dura,
que ainda podem ser encontrados nos sebos espalhados pelo Brasil afora.
Taí galera, espero que tenham gostado e rememorado
essas coleções de obras literárias que marcaram as nossas vidas de devoradores
de livros.
Inté!
04 fevereiro 2024
13 livros para falar sobre temas difíceis com as crianças
Eu e Lulu temos muitos amigos que são pais de crianças
e sabemos o quanto eles pelejam para bordar temas “espinhosos” com os pequenos.
Em nossas conversas que acontecem durante os happy hours ou então nas reuniões
de finais de semana sempre surgem algumas colocações sobre esse assunto. Pode
ser o pai que se separou e foi embora, a morte de um avô querido, o bullying
sofrido na escola, entre tantos outros questionamentos.
Por isso, tive a ideia de escrever essa postagem com a
intenção de ajudar alguns pais que acompanham o blog e estejam passando por
situações ‘digamos’ que... um tanto ‘complicated’ e estão em dúvida sobre como
abordá-las para os seus filhos menores de idade.
Escolhi 13 livros que certamente serão úteis para
esses pais encontrarem a melhor maneira de conversar com as crianças e fazê-las
entender a situação difícil, complicada ou dolorosa pela qual estão passando.
01
– Morte de alguém que amamos
Livro:
A Árvore das lembranças (Britta Teckentrup)
É muito difícil superarmos a morte de alguém. Para as
crianças não é diferente. Não é segredo para ninguém de como os pequenos são
ligados com os seus avôs, não é verdade? A situação se complicada ainda mais
quando a mãe ou o pai acaba falecendo. A
Árvore das lembranças da escritora alemã Britta Teckentrup mostra para as
crianças como podemos lembrar daqueles que se foram.
Tudo bem que seja um livro sobre morte, um tema
considerado pesado, mas ele é escrito de uma maneira tão bonita e delicada, além
de conter lindas ilustrações, que a narrativa acaba se tornando leve e até
mesmo poética. As crianças irão adorar e passar a entender melhor essa situação
tão delicada.
A autora conta a história de uma raposa que levou uma
vida longa e feliz na floresta. Mas quando se sentiu muito, muito cansada,
entendeu que era hora de partir. Tristes, os animais da floresta reúnem-se em
volta da amiga para relembrar os momentos felizes que viveram junto com ela.
Mas uma agradável surpresa irá aquecer o coração de cada um deles e transformar
a dor da saudade em um alegre farfalhar de folhas ao vento. Um livro delicado e
tocante, que celebra a vida e nos ajuda a resgatar as doces lembranças daqueles
que amamos.
Livro:
O Passeio (Pablo Lugones)
A história trabalha de uma forma muito bonita o ciclo
da vida, a morte e as mudanças que isso significa e como esse ciclo sempre
continua, no caso o passeio.
O autor aborda o relacionamento de uma menina e seu
pai. A narrativa é linda e triste pela passagem em que o pai dela falece, mas
por outro lado, também é uma história muito bonita porque mostra o ciclo de
vida, morte e vida para as crianças. Após algum tempo, depois do falecimento do
pai da personagem, ela tem o seu filho e, assim, começa o ciclo da vida
novamente, sempre tendo o passeio de bicicleta compartilhado como analogia do
caminhar junto na vida.
Livro:
O Livro do Adeus (Todd Parr)
Como já escrevi no início dessa postagem, compreender
a morte como um processo natural e aceitá-la de forma serena é uma tarefa
difícil até para gente grande. Imagina para a criança que, de uma hora para
outra, se vê obrigada a dizer adeus a um bichinho de estimação ou a um membro
da família?
A fim de descomplicar essa delicada situação, o
renomado autor e ilustrador norte-americano Todd Parr criou O livro do adeus. Com seus coloridos
desenhos, a obra traz uma comovente e esperançosa história sobre dizer adeus a
alguém que a gente ama. O autor, conhecido por abordar de forma simples e
educativa questões que povoam a imaginação e as dúvidas dos pequenos, garante
que este foi o livro mais difícil que já escreveu.
A obra é uma ótima opção para crianças pequenas, de
até 6 anos, As páginas, educativas e cheias de cores, também auxiliam na missão
de transformar o tema do luto em algo mais natural.
02
– Separação dos pais
Livro:
O reino partido ao meio (Rosa Amanda Strauz)
A separação dos pais sempre foi um processo complicado
para nós adultos, imagine para as crianças. A autora carioca Rosa Amanda Strauz
descomplica esse processo em seu livro que recebeu críticas favoráveis de
leitores e também de críticos literários. Vale destacar também as ilustrações
de Natália Colombo que são fantásticas.
Em O reino
partido ao meio, a escritora e jornalista explica que existem coisas na
nossa vida que parece que nunca vão mudar. Mas às vezes, quando menos
esperamos, um acontecimento repentino tira tudo do lugar. É o que se passa com
o pequeno príncipe desta história. Por culpa de um dragão raivoso, de uma hora
para outra, seu reino e as coisas que existem nele são partidos ao meio. No
começo, a situação parece assustadora e é difícil de encarar. Mas com o tempo,
o príncipe acaba descobrindo novos arranjos e percebendo que não existe apenas
um jeito de viver.
É um livro que trata da separação de pais, mas também
serve para qualquer mudança difícil em nossas vidas e principalmente na vida
das crianças, ou seja, qualquer processo de desconstrução. Mostra que quando
estamos passando por um momento difícil fica complicado estudar, comer,
dormir... mas com amor, paciência e com uma rede de apoio conseguimos superar
aos poucos e tudo vai ficando melhor.
Livro:
Brincar de ser feliz (Libby Rees)
Brincar
de Ser Feliz foi escrito pela autora quando ela tinha
9 anos! Após o divórcio de seus pais, que aconteceu quando ela tinha 6 anos,
Libby Rees resolveu escrever uma lista de ações para saber enfrentar o problema
de um jeito prático. A ideia acabou virando livro.
Trata-se de uma obra repleta de pequenas ideias
originais que estimula os pequenos leitores a vencer as dificuldades típicas da
infância. Com maturidade emocional, a autora compartilha suas estratégias
simples e prova que o caminho para a felicidade é muito divertido.
03
– Racismo
Livro:
As cores do mundo (Rafael Calça)
Os livros infantis sobre racismo são fundamentais para
estimular a educação antirracista tanto na escola quanto em casa. É importante
frisar que as famílias não pretas são fundamentais nesse processo, pois quanto
mais crianças brancas forem educadas a respeito da importância de combater o
racismo, mais a luta antirracista alcançará novos lugares de fala, promovendo
mudança e progresso.
O livro As cores
do mundo do premiado autor Rafael Calça – vencedor do Prêmio Jabuti - pode ser personalizado com o nome e o
personagem da criança. O escritor leva os pequenos em um divertido passeio para
aprender sobre empatia, respeito e a capacidade que cada um tem de mudar o
mundo. Com uma narrativa lúdica, ele mostra para as crianças que cada cor
existente no mundo carrega uma história, uma cultura, um jeito de pensar,
vestir e falar que deve ser respeitado e valorizado.
Livro:
Sulwe (Lupita Nyong’o)
Cara, as ilustrações desse livro são
m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a-s. Crianças e adultos irão amar!
Escrito pela atriz e vencedora do Oscar, Lupita
Nyong’o, o livro conta a história de Sulwe, uma garotinha preta que desejava
brilhar como o sol. Sulwe tem a pele da cor da meia noite. Ela é mais escura
que todos de sua família. Ela é mais escura que todos de sua escola. Por isso,
Sulwe se sentia deslocada. Só queria ser bonita, ser igual aos outros, ser
aceita. Até que um fato a ensina a perceber o brilho que ela sempre teve.
Uma história linda e delicada para falar sobre
amor-próprio e aceitação. A obra é de uma beleza ímpar, não só o capricho das
ilustrações, a qualidade do papel, da capa, mas sobretudo a mensagem que é de
uma sinceridade e sensibilidade profundas. É uma história que deve cativar a
qualquer pessoa.
A autora escreveu no Twitter que Sulwe é um espelho que reflete todas as crianças pretas e uma
janela para todas as outras.
04
- Gordofobia
Livro:
Andréia baleia (Davide Cali)
Na aula de natação, Andreia é o alvo das brincadeiras
de suas colegas. Isso porque ela é gorducha. Tanto que as meninas a chamam de
Baleia. A garota Andreia sofre com as provocações e falas desrespeitosas dos
colegas. Por isso, todas as quartas-feiras, Andreia caminha cabisbaixa para a
aula de natação.
As provocações e os gritos das colegas não param: “Andreia
é uma baleia!”, só porque ela provoca uma grande onda quando mergulha na
piscina.
A protagonista se sente pesada demais para esse
esporte e acha que não nada bem. Mas, ao conversar com seu professor, amplia seu
olhar diante das formas e dos pesos das coisas. Então, Andreia experimenta
pensar diferente diante das situações perigosas ou embaraçosas, como diz seu
professor, “somos o que pensamos ser”.
Com o incentivo e as orientações de seu professor, o
corpo de Andréia deixa de ser pesado demais para um corpo que realiza feitos
extraordinários, pois tudo é uma questão de mente, de cabeça. Assim, a sua
autoestima e confiança, aumentam, e muito!
Livro:
Carlota bolota (Cristina Porto)
Você já teve um apelido? Alguns são carinhos, outros
inofensivos, mas há aqueles que machucam. E quanto mais você se incomoda e
reclama, mais as pessoas usam. Carlota ganhou um apelido: Bolota. Mas ela vai
aprender que as vezes aquilo que te chateia pode se transformar naquilo que te
faz feliz.
A história é narrada por Carlota, uma menina que sofre
bullying por causa de sua obesidade, começando pelo apelido de “Carlota Bolota”
colocado pelo seu irmão. Ela conta sua vida, do nascimento até se tornar craque
de um time de futebol.
A autora começa a narrativa contando a história de
vida de Carlota e de sua família e como ela reage ao escutar esse apelido dado
a ela pelo seu irmão. Tudo começa a mudar quando uma família se muda na esquina
de sua casa com a qual Carlota fez amizade. Ela aprendeu com essa família que
uma pessoa é muito mais do que a sua aparência exterior.
As ilustrações são de Sonja Bougaeva que também
ilustrou Andréia Baleia.
Livro:
Laís, a fofinha (Walcyr Carrasco)
O livro Laís, a
fofinha aborda o drama da personagem-título, que passa a sofrer bullying na
nova escola por ser gordinha. Desanimada com a vida, Laís inventa dietas
malucas que colocam sua saúde em risco e se torna uma criança triste, até que
vê a oportunidade de superação.
O livro traz uma importante lição sobre aceitação
própria e mostra como questões estéticas se revelam tão sem importância no
decorrer da vida.
Para o autor, conhecido por ter escrito novelas como
“Verdades Secretas” (2015), “O Outro Lado do Paraíso” (2017) e “A Dona do
Pedaço (2019) – ambas na Globo –, é preciso falar sobre o preconceito com as
diferenças. “O bullying nas escolas é um assunto muito debatido e, hoje, não se
pode pensar na formação da criança sem combatê-lo de forma orgânica e bem
estruturada”, afirma ele. “Quando escrevo, minha primeira intenção é sempre
criar uma trama cativante, seja no universo infantil ou adulto. Mas esses
livros, em especial, aliam a trama à questão do bullying. Cada um deles fala
sobre o ‘ser diferente’ e a inclusão”.
05
– Inclusão social
Livro:
Rodrigo enxerga tudo (Markiano Charan Filho)
O livro infanto-juvenil conta a história de Rodrigo,
um garoto com deficiência visual que acaba virando um amigo de escola de André.
Ele foi transferido para lá de uma escola especial. Apesar de ser deficiente
visual, os seus novos amigos percebem que ele tem outras formas de enxergar,
jeitos diferentes de ver as coisas. E como todo mundo, tem talentos e pontos
fracos com os quais tem que lidar.
Rodrigo
enxerga tudo trem uma abordagem sensível e tocante. Leitura
ideal para as crianças na faixa etária de nove a doze anos.
O autor da obra, Markiano Charan Filho, ficou
completamente cego logo que nasceu. Por isso, bem pequenino, já aprendeu
Braille, uma forma de ler e escrever inventada especialmente para auxiliar
deficientes visuais. E aí ninguém segurou o Markiano: ele estudou pra valer,
fez faculdade e tem dedicado a sua vida na defesa dos direitos de outros
deficientes. Além disso, começou a escrever contos e crônicas e também
literatura infantil, como o livro Rodrigo
enxerga tudo.
Livro:
Do jeito que você é (Telma Guimarães)
Estre livro vai ensinar as crianças a respeitarem as
diferenças que existem entre elas. A premiada escritora Telma Guimarães instiga
as descobertas e experiências que permitem o amadurecimento de meninos e meninas.
A história é de uma garotinha chamada Sandra, que se
muda com a família para morar em um prédio. Lá, as outras crianças a acham
diferente, com cabelo esquisito e roupas estranhas, e passam a criticar e
rejeitar a menina. Depois de alguns dias rejeitada, Sandra ensina aos pequenos
vizinhos que, apesar das diferenças, eles têm muito em comum e podem ser amigos
de verdade.
Livro:
Daniel no mundo do silêncio (Walcyr Carrasco)
Taí mais um livro muito importante sobre inclusão
escrito por Walcyr Carrasco. Desta vez, ele conta a história de um menino
chamado Daniel que perde a audição, aos 7 anos, por isso, ele precisa aprender
a se comunicar de outra maneira: com as mãos.
Seus pais e o irmão mais novo dão o maior apoio
durante essa adaptação, e os pais o matriculam em uma escola especializada em
educação para surdos, onde ele aprende a LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais.
É assim que ele e a família se comunicam.
Depois de um tempo, Daniel passa a frequentar
simultaneamente uma escola comum. Nesta, porém, ele sofre bullying e não
consegue interagir com os colegas, pois ninguém compreende a língua de sinais.
Tudo muda quando o garoto por pouco não sofre um grave acidente devido à
surdez. A cena é presenciada por uma colega de classe que, naquele instante,
entende o que é ser surdo.
A partir daí surge a solidariedade. Os colegas
descobrem que falar com as mãos pode ser divertido e ganham um amigo esperto e
inteligente. E a diretora da escola providencia um intérprete de LIBRAS para
acompanhar Daniel durante as aulas – uma obrigatoriedade legal que ela
desconhecia.
Galera, por hoje é só, mas volta ainda nessa semana
para “falarmos” de livros.