27 fevereiro 2024

Cinco livros raros que merecem, há muito tempo, um relançamento. Editoras acordem!

“Se você os tiver guarde a sete chaves, se não os tiver apenas sonhe, pois dificilmente os terá um dia”. Usei essa frase para escrever uma postagem há mais de 12 anos, ainda nos primórdios do blog (confira aqui). Foi um post sobre livros raros que naquela época haviam deixado de ser publicados há ‘muuuuitos’ anos. Alguns deles foram relançados após poucas editoras terem percebido, mesmo tardiamente, a importância dessas obras e o brado popular de muitos leitores que exigiam um relançamento. Por outro lado, ainda há livros que continuam com o status de raros não sendo encontrados nem mesmo em sebos e quando o são, os preços exorbitantes assustam o mais calmo dos leitores.

Neste post selecionei cinco livros raríssimos que já estão merecendo um relançamento – de preferência em edição luxuosa – há muito tempo. Quem sabe, alguma editora desperte de sua hibernação literária e assim, resolva relançar estas obras incríveis que infelizmente sumiram das livrarias e dos sebos. Vamos a elas.

01 – Primeiro Sangue (David Morrell)

Primeiro Sangue de David Morrell publicado originalmente em 1972 ganhou notoriedade após o lançamento do arrassa quarteirões chamado “Rambo”. O filme produzido em 1982 transformou Sylvester Satallone  num dos atores de filmes de ação mais rentáveis de Hollywood nos anos de 1980; fama que carregou nas costas até há pouco tempo. Quanto a “Rambo” virou uma das sagas cinematográficas mais icônicas de todos os tempos, tanto é que rendeu outras quatro continuações.

Após o sucesso do filme de 1982, o livro de Morrell foi relançado nesse mesmo ano, mas com a capa do filme, depois... caiu no esquecimento das editoras, mas não no esquecimento dos leitores e até mesmo cinéfilos que passaram a exigir uma republicação da história. Infelizmente todo esse clamar popular não foi atendido, até agora, por nenhuma editora.

Há alguns anos surgiram comentários de que a DarkSide havia decidido relançar essa preciosidade, mas os comentários ficaram apenas nos comentários, já que a “caveirinha” não se pronunciou sobre o assunto.  Uma pena.

Li Primeiro Sangue – tenho o livro, ufaaaa!! – e posso garantir que o enredo é muito diferente do filme; bem mais profundo e tenso. Vamos torcer para que alguma editora acorde e perceba a importância desse livro.

02 – “Duro de Matar” (Roderick Thorp)

Ufaaaaa! Também tenho. Há muitos anos atrás, quando ainda não havia ganhado o status de raro, adquiri a obra de Roderick Thorp num sebo e acredite: a preço módico. Trata-se de mais um livro que rendeu um filme famoso de ação. Tão famoso que acabou se tornando uma saga cinematográfica com seis filmes. 

Nothing Lasts Forever (Nada Dura para Sempre, traduzido ao pé da letra) publicado originalmente em 1979 só foi lançado no Brasil após o sucesso do filme “Duro de Matar” com Bruce Willis e que bombou nos cinemas em 1988. Portanto, o livro de Thope no qual o filme foi baseado só chegou nas livrarias brasileiras, nove anos após a sua publicação original. E chegou no Brasil com o mesmo nome e também a mesma capa do filme. A editora Record, na época, optou por dispensar o título original do livro de Thorpe.

A obra teve uma passagem rápida pelas livrarias já que a Record decidiu não colocar no mercado novas edições e assim, o livro foi sumindo... sumindo... sumindo, até se extinguir das prateleiras das livrarias e dos sebos.

Como acontece com qualquer adaptação, existem diferenças entre o romance de Thorp e o filme. No livro, o nome do herói é Joseph Leland, que, como John McClane, é um policial de Nova York. Embora o filme com Bruce Willis e o livro sejam diferentes em algumas áreas, Duro de Matar incluiu muitas das sequências de ação de Nothing Lasts Forever (confiram a resenha que fiz sobre o livro aqui).

Ah! Ia me esquecendo; encontrei um único exemplar no portal da Estante Virtual pela “bagatela” de R$ 129,00!

03 – O Visconde de Bragelonne (Alexandre Dumas)

Este livro de Alexandre Dumas fecha a história da saga dos mosqueteiros composta pelos livros: Os Três Mosqueteiros, Vinte Anos Depois e O Visconde de Bragelonne. O detalhe é que a história foi publicada por Dumas no formato de folhetim – como fez com O Conde de Monte Cristo – e por isso, décadas depois, quando foi lançada no formato livro chegou a ter 10 volumes com aproximadamente 300 páginas cada.

Que eu saiba, a última edição de O Visconde de Bragelonne aconteceu nos anos 60 pela editora Saraiva que colocou no mercado 6 volumes. Antes tivemos publicações da editora Lello, se não me falhe a memória em sete volumes e ‘mais antes ainda’, lá pelos anos 50, a Livraria Fittipaldi Editora publicou a história em dez partes. Além dessas edições temos ainda um ‘resumão’ da história – de apenas 149 páginas, direcionando ao público infantojuvenil lançado pela editora Melhoramentos em 1964. Depois disso, nenhuma outra editora ousou publicar a última parte da saga Os Três Mosqueteiros.

Se alguém desejar concluir a leitura da antológica trilogia de Dumas, terá de recorrer aos sebos e torcer para encontrar O Visconde de Bragelonne em seis, sete ou dez volumes; sem contar a tradução desatualizada, ortografia antiga e o risco de topar com livros em estado precário de conservação. Quanto ao resumão da Melhoramentos, esqueça. Cara, resumindo: é muito pouco dos nossos editores com um enredo considerado essencial para a conclusão das aventuras dos quatro inseparáveis mosqueteiros.

É muita tortura você ter em mãos edições luxuosas de Os Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois, mas depois ficar chupando o dedo por um terceiro livro que você sabe...  não “existe” - pelo menos numa nova edição.

Fica aqui, um recadinho para a editor Zahar: “Poxa vida, vocês lançaram em edições luxuosas: Os Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois e agora empacaram na conclusão da saga?! Sem contar que relançaram O Conde de Montecristo que a exemplo de O Visconde de Bragelonne foi escrito no formato de folhetim. Por que não fazer o mesmo com o “nosso” Visconde?

04 – Depois da Meia-noite (Stephen King)

Depois da Meia-noite é uma coletânea de novelas escritas por Stephen King em 1988 e 1989 e publicadas em agosto de 1990. É seu segundo livro desse tipo, sendo o primeiro As Quatro Estações. A coleção ganhou o Prêmio Bram Stoker em 1990 para Melhor Coleção e foi indicada ao Prêmio Locus em 1991.

O livro de 667 páginas e que se tornou o sonho de consumo de 10 em cada 10 fãs de Stephen King reúne quatro noveletas – Os Longoliers, Janela Secreta, Secreto Jardim, O Policial da Biblioteca e O Cão da Polaroide. Desses contos, dois foram adaptados para as telas: Longoliers e Janela Secreta, Secreto Jardim. O primeiro foi parar na TV em 1995, se não me engano na Rede Record, no formato de uma minissérie chamada “Fenda no Tempo”; enquanto que o segundo acabou ‘aterrissando’ nos cinemas com o título resumido de “Janela Secreta” com ninguém menos do que Johnny Depp no papel de protagonista.

Depois da Meia-noite foi lançado pela editora Francisco Alves em 1992 e depois disso não teve nenhuma outra edição.

Se, por acaso, você tem esse livro, escute o meu conselho: jamais o empreste, nem mesmo para o seu pai, muito menos para o seu irmão. Guarde-o num cofre e esconda a chave.

Agora se prepare para o susto. Sugiro que tome algum calmante antes de ler as próximas linhas. Vamos lá: pesquisei bastante na internet e só consegui encontrar um exemplar usado num sebo filiado a Amazon pelo valor de... já tomou o calmante? Então lá vai: R$ 550,00!!

Putz Suma!! Tenha piedade de todos nós, fás de King, e coloque logo esse livro na série Biblioteca Stephen King!

05 – A Casa do Passado (Algernon Blackwood / Heloisa Seixas)

Quer levar mais um susto? Que tal pagar R$ 300,00 por um livro usado com aproximadamente 300 páginas? Entonce, esse é o valor de A Casa do Passado na Estante Virtual. Já um livreiro da Amazon teve um pouco mais de compaixão e resolveu fazer um corte menos profundo no bolso dos leitores: R$ 170,00. Qual outra prova será necessária para que os editores aqui da terrinha entendam a importância dessa obra e o quanto ela está merecendo uma republicação? Acho que essas editoras estão morgando.

A Casa do Passado é uma antologia de contos de terror do inglês Algernon Blackwood, um mestre do gênero, redescoberto no Brasil pela jornalista e escritora Heloisa Seixas. A obra reúne histórias como Os salgueiros, sua obra-prima, O quarto ocupado, A Ala Norte e A boneca, clássicos da literatura de horror.

Esta é a terceira coletânea de contos de terror organizada e traduzida por Heloisa Seixas. A obra foi lançada em 2001. Os personagens dos contos de Blackwood vivem situações horripilantes, que não imaginaríamos nos nossos piores pesadelos. São pessoas comuns, subitamente envolvidas em histórias que fogem ao controle da lógica e do que pode ser explicado.

Blackwood, que já foi tão famoso quanto seus contemporâneos Bernard Shaw, H. G. Wells e Conan Doyle, caiu em esquecimento logo após sua morte, há cerca de 50 anos. Hoje, os milhares de fãs do gênero, ávidos por uma história angustiante cercada de sustos, fantasmas e surpresas estão sofrendo porque não conseguirem encontrar mais o livro e quando o encontram quase caem de costas por causa dos preços “milionários”.

Parabéns à Heloísa Seixas pela sua iniciativa em resgatar esse importante autor e a minha indignação por nenhuma editora ter tomado, até agora, a iniciativa de relançar essa coletânea antológica de contos de terror.

Valeu galera!

23 fevereiro 2024

Descobri somente agora que a trilogia “Mulheres Assassinas” foi relançada em 2023 num box luxuoso

Como jornalista acompanhei, mesmo à distância, três casos policiais que chocaram o País; crimes que envolveram três mulheres que acabaram sendo julgadas e condenadas. Tenho certeza que a maioria dos leitores viram a exaustão nos meios de comunicação de massa – não importa seja jornal, rádio, TV ou redes sociais – matérias sobre os assassinatos do casal Manfred e Marísia von Richthofen; do CEO da Yoki, uma das maiores companhias de alimentos do Brasil, Marcos Kitano Matsunaga; e do pastor Anderson do Carmo de Souza. Todos esses assassinatos planejados e executados por três mulheres: Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Flordelis dos Santos de Souza, respectivamente. A primeira, filha do casal Richthofen; a segunda, esposa de Marcos; e a terceira, também esposa do pastor Anderson. 

Acompanhei a distância porque não estava no local dos fatos para ouvir os envolvidos. Ficava sabendo das novidades, através das agências de notícias que são parceiras da empresa de comunicação onde trabalho ou então, como vocês, através da TV e dos jornais.

Não há como negar que foram três crimes que chocaram o País, tanto é verdade que ao longo dos anos surgiram livros, filmes e até séries de TV sobre esses três casos. ‘Falando’ especificamente dos livros, confesso que até há pouco tempo, nenhum deles havia chamado a minha atenção; por isso mesmo, não os comprei. Mas na semana passada, enquanto vasculhava a “Dona Internet” a procura de informações complementares para uma reportagem que estava preparando, me deparei com uma trilogia de livros sobre o assunto que despertou em mim aquele comichãozinho. Sabem aquele comichãozinho característicos de nós leitores quando surge repentinamente o impulso de comprar mais um livro? Pois é, é esse aí. Foi “ele” que me deixou em dúvida quanto a adquirir essa trilogia mesmo estando com o meu cartão de crédito na UTI.

Quando o meu “radar” acendeu o interesse por esses três livros resolvi sondar algumas opiniões nas redes sociais – de críticos literários e também de leitores – e os resultados foram animadores porque a maioria das críticas eram positivas.

Esta trilogia de livros tem o título de Mulheres Assassinas. Publicada pela editora Matrix, em 2023, é composta pelos best-sellers Suzane — Assassina e manipuladora; Elize Matsunaga — A mulher que esquartejou o marido; e Flordelis — A pastora do diabo. A série de livros foi escrita pelo jornalista Ulisses Campbell.

Ulisses Campbell

As três obras contando a vida das criminosas foram atualizadas. Entre as novidades estão detalhes sobre a recente gravidez de Suzane von Richthofen, que planejou o assassinato dos pais, em 2002. A nova edição também apresenta uma entrevista com Daniel Cravinhos, um dos cúmplices de Suzane no crime.

No livro sobre Matsunaga, o autor mostra que, após cumprir sua pena, a assassina do marido, Marcos Matsunaga, chegou a falsificar atestado de antecedentes criminais e hoje dirige transporte de aplicativo. Campbell atualizou a parte de Flordelis com uma entrevista com a pastora, presa em 2021 pela morte do marido.

Vale lembrar que a publicação original do livro sobre Suzane von Richthofen aconteceu em janeiro de 2020. O sucesso da obra fez com que o jornalista lançasse mais dois títulos, Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido, em 2021 e Flordelis, a pastora do diabo, em 2022.

Em 2023, a trilogia ganhou uma nova edição, com um box especial e novas informações sobre os três casos. Coleção Mulheres Assassinas: Suzane, Flordelis e Elize Matsunaga figura como a obra mais vendida em Crimes Reais Biografia e Memórias da Amazon.

Campbell que se tornou um dos autores que mais se destaca no cenário do true crime brasileiro explica que que todas as três mulheres tiveram mudanças muito grandes em suas vidas nestes últimos anos e por isso propôs uma atualização de seus livros o que acabou sendo aceita pela editora. A importância que a Matrix deu a esse relançamento fica evidente na proposta de transformar a trilogia num box ultra luxuoso.

Olha o meu radar me alertando que a minha lista de leituras já está perto do limite (rs).

18 fevereiro 2024

História real de canibalismo em Porto Alegre inspira livro do escritor e roteirista Tailor Diniz. A obra “Os canibais da Rua do Arvoredo” já está nas livrarias

Cara, me lembro do dia em que comi carne de capivara sem saber que era carne de capivara. Isto foi há muitos, mas há muitos anos e coloca mais anos nisso. Muito longe dos meus sessenta e pouquinhos anos atuais, mas ainda me lembro da experiência macabra que tive. Escolhi a palavra “macabra” porque segundo o Dicionário Oxford, o termo significa “horrendo”, “hediondo”, algo que desperta o horror”. E todos esses adjetivos se enquadram perfeitamente na experiência que vivi.

Foi na casa de um amigo meu. Na ocasião, ele me disse que se tratava de carne de porco, mas ao experimentar um pedaço – pedaço que infelizmente e incautamente degluti – percebi um gosto muito adocicado e... parei na mesma hora.

Vem do o meu semblante com um olhar estupidificado. Ele decidiu revelar o teor de sua brincadeira – para mim, de muito mau gosto – juro que fiquei um bom tempo sem comer carne de porco ou de vaca, além de ter sido obrigado a lidar com um verdadeiro motim provocado pelas minhas tripas; um motim que incluiu todos os tipos de revoltas: das náuseas aos vômitos, passando pelo mau estar prolongado.

Ao escrever essa postagem fico imaginando como vários moradores residentes em Porto Alegre se sentiram no período de 1863 a 1864 ao descobrirem que comeram durante todo esse período linguiças preparadas não com carne de capivara, mas com carne humana!! Isto mesmo! Você sabia que na capital do Rio Grande do Sul, um casal assassinou homens, moeu as carnes e os transformou em linguiças comercializadas por toda a cidade? Os moradores, por sua vez, comeram essa iguaria imaginando que estavam deglutindo linguiças preparadas com carne suína ou bovina. Pode parecer uma história macabra, digna de filme de terror, mas foi isso que Catarina Palse e José Ramos fizeram em Porto Alegre, no século XIX.

A prática insólita dos crimes era feita da seguinte forma: os acusados atraiam vítimas para matá-las e, provavelmente, desfaziam de partes dos corpos produzindo linguiças de carne humana pra serem vendidas em um açougue da cidade. Catarina seduzia e atraía os homens para a sua casa, onde o seu marido José Ramos – que ficava escondido no quarto – matava as vítimas. O curioso nisso tudo é que Catarina, pelo que consta, não era uma mulher bonita e muito menos atraente.

Apesar de ser um caso real, ele ainda está presente no imaginário popular local, tendo-se tornando uma espécie de lenda urbana da cidade gaúcha. O fato ficou conhecido no meio policial daquela época como “Os crimes da Rua do Arvoredo”, local onde foram encontrados os restos dos corpos das vítimas e onde as linguiças macabras eram produzidas.

Este enredo hediondo e real valeu um livro chamado Canibais: Paixão e Morte na Rua do Arvoredo de David Coimbra que foi colunista do jornal Zero Hora. No livro publicado em 2005, o autor que faleceu em 2022 aos 60 anos - vítima de um câncer - optou por dar aos fatos jornalístico um tom de romance o que deixou o enredo bem mais fluído.

Escritor, jornalista e roteirista Tailor Diniz

Agora, quase 20 anos após a publicação dessa obra, “Os Crimes da Rua do Arvoredo” voltam as livrarias, mas pelas mãos de um outro escritor, também gaúcho: Tailor Diniz. O escritor, jornalista e roteirista de cinema revive as figuras assombrosas de Catarina Palse e José Ramos na obra Os canibais da Rua do Arvoredo. Neste enredo, o autor satiriza os fatos, também numa linguagem fluida, onde um casal de jovens se muda para antiga residência dos assassinos e quando descobrem um porão, coisas bizarras começam acontecer. Possuídos pelos espíritos dos antigos criminosos, sentem-se designados a cumprirem uma missão de vingança, que, em princípio, não sabem exatamente qual é. Até que cometem o primeiro crime.

Em uma mistura de realidade e ficção, o autor constrói um enredo instigante e assustador que retrata até mesmo os desejos mais estranhos do ser humano.

Os canibais da Rua do Arvoredo é o 22º livro de Diniz e, entre eles, estão Em linha reta, semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura 2015; Crime na Feira do Livro, traduzido na Alemanha e lançado na Feira de Frankfurt, em 2013; Transversais do tempo, Prêmio Açorianos de Literatura – Melhor Livro de Contos de 2007; e A superfície da sombra, traduzido na Bulgária e adaptado para o cinema pelo diretor Paulo Nascimento, em 2017.

Os Canibais da Rua do Arvoredo teve os seus direitos adquiridos pela Accorde Filmes que fará uma adaptação para o streaming roteirizada pelo próprio Diniz e levando a assinatura do diretor Paulo Nascimento ('A Oeste do Fim do Mundo'). O projeto será distribuído pela Paris Filmes.

O livro lançado pela Citadel Grupo Editorial em 30 de dezembro de 2023 está à venda nas livrarias físicas e virtuais do País.

14 fevereiro 2024

Livros e filmes sobre o avião que caiu nos Andes em 1972

Em 13 de outubro de 1972, o avião que transportava a equipe de rúgbi uruguaia 'Old Christians Club' colidiu tragicamente contra uma montanha na Cordilheira dos Andes com 45 pessoas a bordo, entre jogadores, familiares e amigos. Os sobreviventes, confrontados inicialmente com o impacto brutal da aeronave, logo se viram diante de adversidades implacáveis, como o frio intenso, isolamento severo, ausência de perspectiva de resgate e fome.

Para não morrer, os sobreviventes concordaram em recorrer a uma medida extrema: praticar o canibalismo, consumindo os corpos das vítimas da tragédia. No desfecho dessa narrativa, 16 pessoas foram eventualmente resgatadas, marcando o fim de uma jornada de sofrimento e resiliência.

Quatro anos depois da tragédia seria lançado o filme “Os Sobreviventes dos Andes”, uma produção mexicana bem modesta e com efeitos especiais de quinta categoria – para não dizer de sexta categoria. Mas apesar disso, a estreia do longa foi marcada por polêmicas envolvendo o canibalismo retratado de forma realista e a exposição de cadáveres.

Lembro-me muito bem dessa polêmica. Tinha 16 ou 17 anos quando assisti ao filme no cinema da minha cidade. Não me pergunte como consegui entrar na sala de exibição apesar da minha pouca idade; só sei que... consegui, não me lembro como.

Uma das cenas que me marcou - tanto é verdade que ainda me recordo dela, apesar de tantos anos decorridos – acontece no momento em que o avião cai e um sobrevivente, estudante de medicina, tenta empurrar para dentro da barriga de um moribundo parte do seu intestino que ficou exposto. Brrrrrrr! A partir daquela cena, percebi que o filme ia ser trucão e o Jam, “garoto de ontem”, sexagenário de hoje; teria de ser forte para aguentar o repuxo. As próximas cenas não aliviaram e junto com elas vieram os momentos de canibalismo. Hoje, ainda me lembro, que no momento dessas cenas quase que explícitas, um silêncio total invadiu a sala de exibição.

Se hoje, o que chama a atenção dos cinéfilos nessa produção mexicana de 1976 são os seus efeitos visuais risíveis, há aproximadamente 48 anos, esses mesmo efeitos tinham o poder de impactar os espectadores.

Nos livros, a tragédia nos Andes chegou três anos antes do cinema. Em 1973, o escritor e jornalista inglês Piers Paul Read lançou Os Sobreviventes que só iria parar nas telonas vinte anos depois numa produção que contou com Ethan Hawke e narração de John Malkovich.

Após ter assistido, recentemente, um filme sobre o assunto na Netflix, decidi escrever essa postagem sobre os livros e as produções cinematográficas que abordaram um dos acidentes mais graves da aviação em todo o mundo. Selecionei quatro filmes e três livros para os nossos seguidores que estão interessados em saber mais detalhes sobre esse acidente que ficou conhecido como a “tragédia dos Andes”. Começando pelos livros.

Livros

Os Sobreviventes (Piers Paul Read)

O livro de Piers Paul Read se tornou uma obra raríssima e difícil de ser encontrada; apesar disso, o seu preço não valorizou. Após zapear na Net descobri alguns poucos exemplares com preço médio de R$ 30,00, o que para uma obra que está perto da extinção, sai praticamente de graça. 

Para compor a sua obra, Read entrevistou todos os sobreviventes que narram detalhes sobre a tragédia e o que fizeram para sobreviver. Por isso, alguns críticos reputam o livro do autor como o mais completo de todos.

Os Sobreviventes é um relato cru, sincero e visceral, detalhado a um ponto de fazer o livro ser difícil de ler, mostrando o ambiente isolado e inóspito dos Andes que levou um grupo de pessoas a optar pelo canibalismo para tentar sobreviver, rompendo conceitos sociais e normas morais. Ao longo da leitura, o relato ganha a forma de um romance de não-ficção. Foi adaptada para os cinemas em 1993.

02 – Milagre nos Andes – 72 dias na montanha e minha longa volta para casa (Nando Parrado)

Milagre nos Andes – 72 Dias na Montanha e Minha Longa Volta para Casa, é um livro para leitores de estômago e nervos bem fortes. Nesta obra, o autor Nando Parrado – que é um dos sobreviventes do grave acidente aéreo nas profundezas dos Andes – exorciza todos os seus medos e angustias, fazendo um relato detalhado dos 72 dias de sofrimento nas geladas e isoladas montanhas andinas. Parrado não usa meias palavras e tão pouco esconde fatos ou segredos que ocorreram no acidente, nem os mais traumáticos e chocantes. Costumo dizer que ele “vomita” tudo o que aconteceu naquele fatídico dia em que o um time de rugby do Uruguai decidiu emprestar um Fairchild F-227 da Força Aérea Uruguaia para fazer uma partida amistosa no Chile.

Os sobreviventes dos Andes se alimentaram de carne humana por um período de aproximadamente dois meses. No início, segundo Parrado, apenas de pedaços superficiais do músculo do antebraço dos mortos, mas quando o “alimento” começou a faltar, eles tiveram de comer também pulmões, rins, cérebro e até coágulos de artérias. Ele dá detalhes de tudo isso sem meias palavras.

03 – A Sociedade da Neve (Pablo Vierci)

A Sociedade da Neve de Pablo Verci intercala as narrativas dos sobreviventes com relatos do autor que, por sua vez, dá detalhes sobre os fatos relacionados ao acidente. Cada capítulo é iniciado com descrições de Vierci sobre a tragédia, desde os momentos descontraídos que marcaram o embarque dos jovens no avião da Força Aérea Uruguaia até o instante do resgate, passando pela provação dos 72 dias que definiram a sobrevivência dos 16 jovens, na época. Logo depois desses preâmbulos vem as narrativas com as experiências pessoais de cada sobrevivente. O livro dedica um capítulo inteiro para cada um dos sobreviventes contarem as suas sagas.

A Sociedade da Neve mostra ainda como foi a reinserção dessas 16 pessoas na sociedade, as dificuldades que elas sofreram para voltar a ter, novamente, uma vida normal; os momentos emocionantes que marcaram o resgate após os 72 dias perdidos nos Andes; a reação de seus familiares quando souberem que eles tiveram de praticar canibalismo para sobreviver; além de outros assuntos.

Filmes

01 – Os Sobreviventes dos Andes (1976)

O filme mexicano foi a primeira adaptação a narrar o desastre dos Andes no cinema. Poucos anos após o acidente, em 1976, a estreia do longa foi marcada por polêmicas envolvendo o canibalismo retratado de forma realista e a exposição de cadáveres. Por essa espetacularização do drama enfrentando pelo grupo de sobreviventes, a produção cinematográfica recebeu fortes críticas pela maneira como abordou.

O filme não tem boa performance no IMDb, obtendo nota 5.6, com base em 631 avaliações, mas teve bom retorno no Google, com 73% de aprovação do público.

Com Direção René Cardona, o elenco é protagonizado por Pablo Ferrel, ,, Hugo Stiglitz, Norma Lazareno, entre outros.

Onde assistir: Plex TV

02 – Vivos (1993)

O filme “Vivos” baseado no livro homônimo de Piers Paul Read, é a segunda versão lançada no cinema sobre a trágica história da equipe de rúgbi uruguaia nas montanhas dos Andes. É por muitos considerado mais fiel à realidade que a obra anterior, de 1976. Um dos sobreviventes do desastre, Nando Parrado (interpretado por Hawke no filme), atuou como consultor técnico do filme.

Os nomes das pessoas que morreram no acidente foram alterados no filme. Havia três exceções principais: Eugenia e Susana Parrado (mãe e irmã de Nando Parrado, respectivamente), e Liliana Methol (esposa de Javier Methol).

Com direção de Frank Marshall (O Curioso Caso de Benjamin Button), o longa de ficção é estrelado por Ethan Hawke, Vincent Spano, Josh Hamilton, Bruce Ramsay entre outros nomes. “Alive” está disponível para assistir na Apple TV+.

Onde assistir: Aple TV+

03 – A Sociedade da Neve (2007)

Ao contrário da produção homônima da Netflix, este filme de 2007 é um documentário que mostra o testemunho dos dezesseis sobreviventes do acidente aéreo na Cordilheira dos Andes. Na obra, eles relatam detalhes desde como foi a fuga, a decisão de se alimentar dos corpos dos companheiros, até o resgate. 

Dirigido pelo uruguaio Gonzalo Arijón (Battle for Rio), o documentário “A Sociedade da Neve” foi sucesso de crítica. A produção obteve nota 8.0 no IMDb e 93% de aprovação da audiência no Rotten Tomatoes.

Participam do documentário os sobreviventes José Pedro Algorta, Roberto Canessa Alfredo Delgado, Daniel Fernández Bobby François, Roy Harley, Coche Inciarte, Álvaro Mangino, Javier Methol, Carlos Páez, Nando Parrado, Moncho Sabella, Fito Strauch, Eduardo Strauch, Tintín Vizintín e Gustavo Zerbino.

Onde assistir: Pluto Tv.

04 – A Sociedade da Neve (2023)

“A Sociedade Da Neve”, em cartaz na Netflix, é dirigido pelo espanhol J.A. Bayona que ganhou respeito com produções inteligentes, profundas e impactantes, tais como: “O Orfanato” (2007) e “Sete Minutos Depois da Meia-Noite” (2016).  

Em formato de ficção baseada em fatos reais, o filme traz como um dos protagonistas Numa Turcatti (Vogrincic), uma vítima fatal, como forma de dar voz àqueles que não voltaram da montanha.

Bayona quis focar no aspecto humano da tragédia e optou por não tratar explicitamente dos atos de canibalismo. Assim, ele diz que houve uma generosidade entre os sobreviventes — em referência a um acordo de que, se morressem, eles podiam comer a carne dos corpos.

A crítica do jornal britânico The Guardian feita por Peter Bradshaw analisa que “o próprio filme minimiza a repulsa explícita pelo que estava acontecendo, em favor de destacar a agonia e a dura resiliência nas condições extenuantes”.

A produção inspirada no livro de Pablo Vierci, amigo de infância de algumas vítimas, foi indicado ao prêmio Oscar na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro".

10 fevereiro 2024

6 coleções de livros do passado que deixaram muitas saudades

Nesta semana enquanto dava uma “zapeada” em minha estante de livros, vi ali, meio que escondidinho, o romance As Sandálias do Pescador de Morris West que eu havia lido em minha adolescência. Ao olhar para a sua capa, imediatamente me lembrei de uma coleção famosa que tinha na biblioteca da minha escola e que eu sempre levava emprestado para ler em casa. Estou me referindo a coleção literária Grandes Sucessos Abril Cultural que fez muito sucesso no início dos anos 80. As Sandálias do Pescador foi a porta de entrada que me levou a lembrar de outros títulos dessa coleção. Esta mesma “porta” me levou para mais uma coleção famosa, cujos livros eu devorava e amava: Mestres do Horror e da Fantasia. Gostava tanto que até rendeu uma postagem especial no blog (ver aqui).

A partir daí refleti porquê não escrever um post sobre as séries de livros que marcaram gerações de leitores dos anos 70 e 80? Foi assim que “pintou” esse texto que você está lendo agora.

Selecionei seis coleções literárias que fizeram a cabeça de muitos leitores nessas duas décadas. Não importa se eram vendidas em bancas ou livrarias, o sucesso era o mesmo. Vamos a elas.

01 – Grandes Sucessos Abril Cultural

É evidente que vou começar com a coleção que me inspirou a escrever esse post. Grandes Sucessos foi uma coleção de obras literárias que obteve grande êxito, publicada pela Abril Cultural entre os anos de 1980 e 1983. 

A coleção foi lançada no segundo semestre de 1980, tendo como primeiro título O Dia do Chacal, ao custo então de Cr$ 95,00. A coleção completa chegou a 113 livros na Série Branca e 24 livros na Série Ouro que tinha a capa preta. O sucesso da coleção levou a editora a trabalhar com tiragens médias de 100 mil exemplares por obra.

Verdadeiros clássicos fizeram parte dessa coleção, entre os quais: O Chefão (Mario Puzo), Um Certo Capitão Rodrigo (Érico Veríssimo), O Colecionador (John Fowles), Carrie (Stephen King), O Exorcista (Wiiliam Peter Blatty), entre outros.

Os livros da série Grandes Sucessos Abril Cultural eram vendidos nas bancas de revistas e jornais. Não tenho a informação se a tiragem das obras era mensal, bimensal ou então sem uma periodicidade definida.

02 – Mestres do Horror e da Fantasia

A coleção Mestres do Horror e da Fantasia começou a ser publicada pela editora Francisco Alves em 1981. Logo de cara, lançou Eu Sou a Lenda de Richard Matheson; depois vieram outros lançamentos que fizeram a alegria dos leitores do gênero de terror e suspense. Vale lembrar que grande parte dos livros, hoje raros, de Stephen King, fizeram parte dessa coleção. Vou citar alguns: A Metade Negra, Depois da Meia-Noite, Trocas Macabras, Os Estranhos e do raríssimo – quase extinto nos sebos - Os Livros de Bachman

A coleção teve ainda outros títulos famosos: A Assombração da casa da Colina (Shirley Jackson), A Ilha do Dr.Moreau (H.G. Wells) e As Máquinas do Prazer (Ray Bradbury). Os exemplares da Francisco Alves publicaram até mesmo uma raridade: Miniaturas do Terror, o único livro de Tabitha King, esposa de Stephen King, lançado no Brasil.

Em 1993, o sonho terminaria com o anúncio feito pela editora de que a sua famosa coleção havia chegado ao fim. O seu lançamento derradeiro foi Trocas Macabras de Stephen King em 1992. Depois Zéfini.

Hoje, a maioria das obras que fazem parte de Mestres do Horror e da Fantasia são consideradas raras e com preços nas nuvens só podendo ser encontradas em pouquíssimos sebos.

03 – Supersellers

A Record é considerada a editora pioneira na venda de livros em bancas de jornais e revistas. Tenho vários títulos da Record em minha estante e que na década de 1980 e meados de 1990 fizeram um baita sucesso nas prateleiras das bancas sendo muito procurados. Sei disso porque esses livros foram presentes de um amigo que tinha o hábito de compra-los em bancas de jornais e revistas. Entre eles posso citar: O Milagre de Irving Wallace e A Profecia de David Seltzer.

Estes livros da Record vendidos nas bancas faziam parte do selo Supersellers e inicialmente tinham a encadernação no formato brochura, mas devido as vendas que superavam todas as expectativas, a editora resolveu apostar alto e assim, em 1995, investiu US$ 250 mil em publicidade televisiva – uma fortuna para os padrões da época - para relançar a série, mas desta vez em capa dura reunindo autores consagrados como Sidney Sheldon e Mario Puzo.

O empreendimento foi lançado em parceria com a editora Altaya, que entrava com os custos de impressão das obras. A venda em bancas foi um achado para a Record, segundo a diretora da editora, naquela época, Luciana Villas-Boas.

Essa foi a terceira coleção que a Record lançou para venda em bancas e a que mais vendeu. As anteriores foram Mostra de Literatura Contemporânea e as obras da escritora Agatha Christie.

04 – Edibolso

No final dos anos 60 e início da década de 70, os livros de bolso explodiram em vendas em todo o Brasil. Foi a época de ouro de editoras como a Prisma, Melhoramentos; Dominus, Artenova e muitas outras. Mas acredito que a mais famosa e com o maior número de vendagem de suas edições foi a Edibolso que antecedeu as editoras Monterrey, Ediouro e Martin Claret - a Martin Claret continua em atividade até hoje.

A história da Edibolso começou em 1971, a partir de uma sociedade entre a Editora Abril (sócia majoritária), a Bantam Books, a Difel, a Record e a Círculo do Livro, com a intenção de disponibilizar um catálogo variado e que pudesse ser vendido em bancas. Dessa maneira, nascia o selo Edibolso que fez um grande sucesso nas bancas de jornais e revistas. Suas obras abrangiam ficção e não-ficção de autores nacionais e estrangeiros. Mas ela não teve vida longa: encerrou as atividades em 1978, com uma centena de livros de bolso publicados.

Verdadeiras obras primas foram lançadas pela Edibolso no formato edição econômica, entre eles: O Destino do Poseidon (Paul Gallico), As Vinhas da Ira (John Steinbeck), 2001 – Uma Odisséia no Espaço (Arthur C. Clarke) e A Revolução dos Bichos (George Orwell).

O slogan famoso utilizado pela Edibolso e que ficava fixado nos expositores de livros era: “Edibolso – Livros Gostosos por Preços Gostosos”. Simples, mas objetivo, não acham? (rs).

05 – Vagalume

Muitos adultos se orgulham em dizer sem medo, vergonha ou receio, que autores como Lúcia Machado de Almeida, Maria José Dupré e José Rezende Filho continuam sendo importantes em suas vidas de leitor ou então que “O Escaravelho do Diabo” foi um dos melhores enredos policiais já lidos. Acreditem! As obras daquele vagaluminho simpático de boina, cavanhaque, calça boca-de-sino e medalhão presente no logotipo da série tinham esse poder.

A autora que inaugurou a série de livros da Vagalume foi Maria José Dupré com o título A Ilha Perdida que pode ser considerado o marco inicial dessa famosa coleção.  A obra foi publicada em 1973. Na realidade, o lançamento da Ática, era uma terceira edição da obra, publicada originalmente em 1944.

Outras obras que fizeram parte dos primeiros títulos da “Vaga-lume” também eram consagradas do grande público, como Éramos Seis (1943) da mesma Maria José Dupré  e O Feijão e o Sonho (1949) de Orígenes Lessa. Após as reedições desses livros da fase inicial da Vaga-lume, viriam, então, as obras inéditas escritas pelos novos autores ou aqueles escritores ‘reciclados’ da velha guarda.

Muitos leitores da série - jovens de ontem e adultos hoje – tem como tema principal em suas rodas de discussão a polêmica sobre qual foi o maior sucesso entre todos os livros lançados pela Vaga-lume. E olha que a lista de candidatos é enorme; mas se formos fazer  uma pesquisa entre os fãs da série, com certeza O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida ganharia a enquete.

Enfim, a coleção Vagalume pode, tranquilamente, ganhar o carimbo de “antológica” pois fez parte da vida de uma grande geração de leitores brasileiros. Aqueles que quiserem saber mais sobre as origens dessa série bastam acessar uma postagem especial (confira aqui) onde conto os primórdios da Vagalume.

06 – Círculo do Livro

Fecho essa lista com o Círculo de Livro que não poderia faltar nessa lista de maneira alguma. As obras publicadas por essa editora que implantou um dos primeiros clubes de assinatura de livros do País se tornaram antológicas e fizeram parte da vida da maioria dos leitores brasileiros. Lembro aqueles que quiserem conhecer um pouco mais a fundo a história do Círculo do Livro que publiquei nos primórdios do blog, em 2012, um post especial sobre o assunto (confiram aqui).

A editora surgiu em 1973 através de um acordo firmado entre o Grupo Abril e a editora alemã Bertelsmann e vendia livros por um "sistema de clube", onde a pessoa era indicada por algum sócio e, a partir disso, recebia uma revista quinzenal com dezenas de títulos a serem escolhidos. O novo sócio teria então a obrigação de comprar ao menos um livro no período.

Foram reunidos até 1975 duzentos e cinquenta mil sócios, número que dobrou em 1978.

Em 1982, as vendas alcançaram cinco milhões de exemplares, totalizando dezessete milhões nos primeiros dez anos de existência da Círculo.

O Círculo do Livro funcionou até 1990 e durante o período em que esteve ativa publicou vários livros de sucesso, em capa dura, que ainda podem ser encontrados nos sebos espalhados pelo Brasil afora.

Taí galera, espero que tenham gostado e rememorado essas coleções de obras literárias que marcaram as nossas vidas de devoradores de livros.

Inté!

04 fevereiro 2024

13 livros para falar sobre temas difíceis com as crianças

Eu e Lulu temos muitos amigos que são pais de crianças e sabemos o quanto eles pelejam para bordar temas “espinhosos” com os pequenos. Em nossas conversas que acontecem durante os happy hours ou então nas reuniões de finais de semana sempre surgem algumas colocações sobre esse assunto. Pode ser o pai que se separou e foi embora, a morte de um avô querido, o bullying sofrido na escola, entre tantos outros questionamentos.

Por isso, tive a ideia de escrever essa postagem com a intenção de ajudar alguns pais que acompanham o blog e estejam passando por situações ‘digamos’ que... um tanto ‘complicated’ e estão em dúvida sobre como abordá-las para os seus filhos menores de idade.

Escolhi 13 livros que certamente serão úteis para esses pais encontrarem a melhor maneira de conversar com as crianças e fazê-las entender a situação difícil, complicada ou dolorosa pela qual estão passando.

01 – Morte de alguém que amamos

Livro: A Árvore das lembranças (Britta Teckentrup)

É muito difícil superarmos a morte de alguém. Para as crianças não é diferente. Não é segredo para ninguém de como os pequenos são ligados com os seus avôs, não é verdade? A situação se complicada ainda mais quando a mãe ou o pai acaba falecendo. A Árvore das lembranças da escritora alemã Britta Teckentrup mostra para as crianças como podemos lembrar daqueles que se foram.

Tudo bem que seja um livro sobre morte, um tema considerado pesado, mas ele é escrito de uma maneira tão bonita e delicada, além de conter lindas ilustrações, que a narrativa acaba se tornando leve e até mesmo poética. As crianças irão adorar e passar a entender melhor essa situação tão delicada.

A autora conta a história de uma raposa que levou uma vida longa e feliz na floresta. Mas quando se sentiu muito, muito cansada, entendeu que era hora de partir. Tristes, os animais da floresta reúnem-se em volta da amiga para relembrar os momentos felizes que viveram junto com ela. Mas uma agradável surpresa irá aquecer o coração de cada um deles e transformar a dor da saudade em um alegre farfalhar de folhas ao vento. Um livro delicado e tocante, que celebra a vida e nos ajuda a resgatar as doces lembranças daqueles que amamos.

Livro: O Passeio (Pablo Lugones)

A história trabalha de uma forma muito bonita o ciclo da vida, a morte e as mudanças que isso significa e como esse ciclo sempre continua, no caso o passeio. 

O autor aborda o relacionamento de uma menina e seu pai. A narrativa é linda e triste pela passagem em que o pai dela falece, mas por outro lado, também é uma história muito bonita porque mostra o ciclo de vida, morte e vida para as crianças. Após algum tempo, depois do falecimento do pai da personagem, ela tem o seu filho e, assim, começa o ciclo da vida novamente, sempre tendo o passeio de bicicleta compartilhado como analogia do caminhar junto na vida.

Livro: O Livro do Adeus (Todd Parr)

Como já escrevi no início dessa postagem, compreender a morte como um processo natural e aceitá-la de forma serena é uma tarefa difícil até para gente grande. Imagina para a criança que, de uma hora para outra, se vê obrigada a dizer adeus a um bichinho de estimação ou a um membro da família? 

A fim de descomplicar essa delicada situação, o renomado autor e ilustrador norte-americano Todd Parr criou O livro do adeus. Com seus coloridos desenhos, a obra traz uma comovente e esperançosa história sobre dizer adeus a alguém que a gente ama. O autor, conhecido por abordar de forma simples e educativa questões que povoam a imaginação e as dúvidas dos pequenos, garante que este foi o livro mais difícil que já escreveu.

A obra é uma ótima opção para crianças pequenas, de até 6 anos, As páginas, educativas e cheias de cores, também auxiliam na missão de transformar o tema do luto em algo mais natural.

02 – Separação dos pais

Livro: O reino partido ao meio (Rosa Amanda Strauz)

A separação dos pais sempre foi um processo complicado para nós adultos, imagine para as crianças. A autora carioca Rosa Amanda Strauz descomplica esse processo em seu livro que recebeu críticas favoráveis de leitores e também de críticos literários. Vale destacar também as ilustrações de Natália Colombo que são fantásticas.

Em O reino partido ao meio, a escritora e jornalista explica que existem coisas na nossa vida que parece que nunca vão mudar. Mas às vezes, quando menos esperamos, um acontecimento repentino tira tudo do lugar. É o que se passa com o pequeno príncipe desta história. Por culpa de um dragão raivoso, de uma hora para outra, seu reino e as coisas que existem nele são partidos ao meio. No começo, a situação parece assustadora e é difícil de encarar. Mas com o tempo, o príncipe acaba descobrindo novos arranjos e percebendo que não existe apenas um jeito de viver.

É um livro que trata da separação de pais, mas também serve para qualquer mudança difícil em nossas vidas e principalmente na vida das crianças, ou seja, qualquer processo de desconstrução. Mostra que quando estamos passando por um momento difícil fica complicado estudar, comer, dormir... mas com amor, paciência e com uma rede de apoio conseguimos superar aos poucos e tudo vai ficando melhor.

Livro: Brincar de ser feliz (Libby Rees)

Brincar de Ser Feliz foi escrito pela autora quando ela tinha 9 anos! Após o divórcio de seus pais, que aconteceu quando ela tinha 6 anos, Libby Rees resolveu escrever uma lista de ações para saber enfrentar o problema de um jeito prático. A ideia acabou virando livro.

Trata-se de uma obra repleta de pequenas ideias originais que estimula os pequenos leitores a vencer as dificuldades típicas da infância. Com maturidade emocional, a autora compartilha suas estratégias simples e prova que o caminho para a felicidade é muito divertido.

03 – Racismo

Livro: As cores do mundo (Rafael Calça)

Os livros infantis sobre racismo são fundamentais para estimular a educação antirracista tanto na escola quanto em casa. É importante frisar que as famílias não pretas são fundamentais nesse processo, pois quanto mais crianças brancas forem educadas a respeito da importância de combater o racismo, mais a luta antirracista alcançará novos lugares de fala, promovendo mudança e progresso.

O livro As cores do mundo do premiado autor Rafael Calça – vencedor do Prêmio Jabuti -  pode ser personalizado com o nome e o personagem da criança. O escritor leva os pequenos em um divertido passeio para aprender sobre empatia, respeito e a capacidade que cada um tem de mudar o mundo. Com uma narrativa lúdica, ele mostra para as crianças que cada cor existente no mundo carrega uma história, uma cultura, um jeito de pensar, vestir e falar que deve ser respeitado e valorizado.

Livro: Sulwe (Lupita Nyong’o)


Cara, as ilustrações desse livro são m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a-s. Crianças e adultos irão amar! 

Escrito pela atriz e vencedora do Oscar, Lupita Nyong’o, o livro conta a história de Sulwe, uma garotinha preta que desejava brilhar como o sol. Sulwe tem a pele da cor da meia noite. Ela é mais escura que todos de sua família. Ela é mais escura que todos de sua escola. Por isso, Sulwe se sentia deslocada. Só queria ser bonita, ser igual aos outros, ser aceita. Até que um fato a ensina a perceber o brilho que ela sempre teve.

Uma história linda e delicada para falar sobre amor-próprio e aceitação. A obra é de uma beleza ímpar, não só o capricho das ilustrações, a qualidade do papel, da capa, mas sobretudo a mensagem que é de uma sinceridade e sensibilidade profundas. É uma história que deve cativar a qualquer pessoa.

A autora escreveu no Twitter que Sulwe é um espelho que reflete todas as crianças pretas e uma janela para todas as outras.

04 - Gordofobia

Livro: Andréia baleia (Davide Cali)

Na aula de natação, Andreia é o alvo das brincadeiras de suas colegas. Isso porque ela é gorducha. Tanto que as meninas a chamam de Baleia. A garota Andreia sofre com as provocações e falas desrespeitosas dos colegas. Por isso, todas as quartas-feiras, Andreia caminha cabisbaixa para a aula de natação.

As provocações e os gritos das colegas não param: “Andreia é uma baleia!”, só porque ela provoca uma grande onda quando mergulha na piscina.

A protagonista se sente pesada demais para esse esporte e acha que não nada bem. Mas, ao conversar com seu professor, amplia seu olhar diante das formas e dos pesos das coisas. Então, Andreia experimenta pensar diferente diante das situações perigosas ou embaraçosas, como diz seu professor, “somos o que pensamos ser”.

Com o incentivo e as orientações de seu professor, o corpo de Andréia deixa de ser pesado demais para um corpo que realiza feitos extraordinários, pois tudo é uma questão de mente, de cabeça. Assim, a sua autoestima e confiança, aumentam, e muito!

Livro: Carlota bolota (Cristina Porto)

Você já teve um apelido? Alguns são carinhos, outros inofensivos, mas há aqueles que machucam. E quanto mais você se incomoda e reclama, mais as pessoas usam. Carlota ganhou um apelido: Bolota. Mas ela vai aprender que as vezes aquilo que te chateia pode se transformar naquilo que te faz feliz.

A história é narrada por Carlota, uma menina que sofre bullying por causa de sua obesidade, começando pelo apelido de “Carlota Bolota” colocado pelo seu irmão. Ela conta sua vida, do nascimento até se tornar craque de um time de futebol.

A autora começa a narrativa contando a história de vida de Carlota e de sua família e como ela reage ao escutar esse apelido dado a ela pelo seu irmão. Tudo começa a mudar quando uma família se muda na esquina de sua casa com a qual Carlota fez amizade. Ela aprendeu com essa família que uma pessoa é muito mais do que a sua aparência exterior.

As ilustrações são de Sonja Bougaeva que também ilustrou Andréia Baleia.

Livro: Laís, a fofinha (Walcyr Carrasco)

O livro Laís, a fofinha aborda o drama da personagem-título, que passa a sofrer bullying na nova escola por ser gordinha. Desanimada com a vida, Laís inventa dietas malucas que colocam sua saúde em risco e se torna uma criança triste, até que vê a oportunidade de superação. 

O livro traz uma importante lição sobre aceitação própria e mostra como questões estéticas se revelam tão sem importância no decorrer da vida.

Para o autor, conhecido por ter escrito novelas como “Verdades Secretas” (2015), “O Outro Lado do Paraíso” (2017) e “A Dona do Pedaço (2019) – ambas na Globo –, é preciso falar sobre o preconceito com as diferenças. “O bullying nas escolas é um assunto muito debatido e, hoje, não se pode pensar na formação da criança sem combatê-lo de forma orgânica e bem estruturada”, afirma ele. “Quando escrevo, minha primeira intenção é sempre criar uma trama cativante, seja no universo infantil ou adulto. Mas esses livros, em especial, aliam a trama à questão do bullying. Cada um deles fala sobre o ‘ser diferente’ e a inclusão”.

05 – Inclusão social

Livro: Rodrigo enxerga tudo (Markiano Charan Filho)

O livro infanto-juvenil conta a história de Rodrigo, um garoto com deficiência visual que acaba virando um amigo de escola de André. Ele foi transferido para lá de uma escola especial. Apesar de ser deficiente visual, os seus novos amigos percebem que ele tem outras formas de enxergar, jeitos diferentes de ver as coisas. E como todo mundo, tem talentos e pontos fracos com os quais tem que lidar.

Rodrigo enxerga tudo trem uma abordagem sensível e tocante. Leitura ideal para as crianças na faixa etária de nove a doze anos.

O autor da obra, Markiano Charan Filho, ficou completamente cego logo que nasceu. Por isso, bem pequenino, já aprendeu Braille, uma forma de ler e escrever inventada especialmente para auxiliar deficientes visuais. E aí ninguém segurou o Markiano: ele estudou pra valer, fez faculdade e tem dedicado a sua vida na defesa dos direitos de outros deficientes. Além disso, começou a escrever contos e crônicas e também literatura infantil, como o livro Rodrigo enxerga tudo.

Livro: Do jeito que você é (Telma Guimarães)

Estre livro vai ensinar as crianças a respeitarem as diferenças que existem entre elas. A premiada escritora Telma Guimarães instiga as descobertas e experiências que permitem o amadurecimento de meninos e meninas. 

A história é de uma garotinha chamada Sandra, que se muda com a família para morar em um prédio. Lá, as outras crianças a acham diferente, com cabelo esquisito e roupas estranhas, e passam a criticar e rejeitar a menina. Depois de alguns dias rejeitada, Sandra ensina aos pequenos vizinhos que, apesar das diferenças, eles têm muito em comum e podem ser amigos de verdade.

Livro: Daniel no mundo do silêncio (Walcyr Carrasco)

Taí mais um livro muito importante sobre inclusão escrito por Walcyr Carrasco. Desta vez, ele conta a história de um menino chamado Daniel que perde a audição, aos 7 anos, por isso, ele precisa aprender a se comunicar de outra maneira: com as mãos. 

Seus pais e o irmão mais novo dão o maior apoio durante essa adaptação, e os pais o matriculam em uma escola especializada em educação para surdos, onde ele aprende a LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais. É assim que ele e a família se comunicam.

Depois de um tempo, Daniel passa a frequentar simultaneamente uma escola comum. Nesta, porém, ele sofre bullying e não consegue interagir com os colegas, pois ninguém compreende a língua de sinais. Tudo muda quando o garoto por pouco não sofre um grave acidente devido à surdez. A cena é presenciada por uma colega de classe que, naquele instante, entende o que é ser surdo.

A partir daí surge a solidariedade. Os colegas descobrem que falar com as mãos pode ser divertido e ganham um amigo esperto e inteligente. E a diretora da escola providencia um intérprete de LIBRAS para acompanhar Daniel durante as aulas – uma obrigatoriedade legal que ela desconhecia.

Galera, por hoje é só, mas volta ainda nessa semana para “falarmos” de livros.

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