30 julho 2014
“Eu, Christiane F., A Vida Apesar de Tudo” tenta repetir o sucesso de “Eu, Christiane F.. 13 anos, Drogada e Prostituída"
Não
vou ficar enaltecendo neste post as qualidades do livro “Eu, Christiane F.. 13
anos, Drogada e Prostituída”, mesmo porque pretendo escrever algo específico,
brevemente, aqui no Livros e Opinião. Por ora basta dizer que o livro, apesar
de ter sido lançado há 36 anos, não perdeu o seu impacto e atualidade. Mas... e
como estará hoje a personagem real que inspirou a obra escrita pelos
jornalistas Kai Hermann e Horst
Hieck em 1978? O que ela fez após o lançamento e sucesso do livro, durante
essas mais de três décadas e meia? Voltou aos tóxicos ou se recuperou, não
vindo a sofrer nenhuma recaída? Está viva? Tem filhos?
Acredito, que somente aqueles que leram o livro
na época de seu lançamento – assim como eu e todos aqueles da minha geração –
estejam com essas perguntas entaladas na garganta, desesperadamente loucos para
conhecer as respostas e ainda mais quando essas respostas saem da boca da
própria Christiane.
Pois é, tenho boas notícias para essa galera
“adolescentes de ontem-balzaquinos de hoje”: já está à venda o livro “Eu,
Christiane F., A Vida Apesar de Tudo”, onde Christiane Vera Felscherinow, ou
simplesmente ‘Christiane F.’, abre o jogo e conta como foi a sua vida desde que
conheceu o sucesso.
Ainda não comprei o livro, por isso não posso dizer se ele tem
o mesmo impacto de seu antecessor, mas zapeando na Net as opiniões de alguns
críticos literários, parece que a obra não decepcionou.
“Eu, Christiane F., A Vida Apesar de Tudo” demorou mais de três anos para ser escrito e
Christiane convidou a escritora Sonja Vukovic para organizar os seus rascunhos.
Pelo que eu pude pesquisar. Vukovic disse que só aceitaria escrever a obra se
Christiane abrisse o seu coração e fosse sincera ao extremo respondendo a tudo
o que ela perguntasse. Tudo indica que a escritora não queria fazer um livro
que apelasse para o sentimentalismo barato colocando a personagem como vítima
da sociedade ou então uma obra que funcionasse como canal de lobby para uma drogada
e ex-prostituta, pintando-a como um mártir ou santa do pau oco. Resultado, o
livro não nega fogo e faz uma devassa na vida da moça alemã. Por exemplo, Christiane
revela a Vukovic que passados mais de 35 anos, ela não conseguiu abandonar o vício e no momento em que descobriu ter uma
hepatite C devorando o seu fígado decidiu contar a sua vida. Ela ‘vomita’
verdades estarrecedoras em sua biografia, entre as quais que com apenas 12 anos
já havia provado haxixe, depois mudou para heroína com 13 e aos 14 já estava se
prostituindo para poder ‘pagar’ o vício. A sua avó ainda tentou ‘salvar’ a sua
vida, trazendo a menina para morar com ela, mas de nada adiantou, já que Christiane
acabou sendo condenada por envolvimento com drogas. A partir daí, colecionou
abortos e relacionamentos complicados.
Christiane F. nos tempos atuais |
Afirma que experimentou todos os tóxicos
possíveis e impossíveis, sendo o ecstasy o mais recente. Revela que apesar de
ter abandonado a prostituição, jamais conseguiu deixar o vício das drogas o que
culminou com a sentença de morte de seu fígado e consequentemente de sua vida
num futuro não muito distante.
Christiane diz também que nada doeu mais em sua
vida do que a perda da guarda de seu filho, hoje com 17 anos. A Justiça a
considerou uma mãe inapta para cuidar da criança (na época).
O livro desenterra as origens familiares de
Christiane, ou seja, como era o seu relacionamento com os pais. Ela relata a
violência física e moral com que o pai tratava a família,chegando ao ponto de
negar que tinha esposa e filha na frente dos amigos.
Enfim galera, revelações de deixar o queixo
caído. Por tudo isso, a obra promete ter o mesmo impacto de sua antecessora de
36 anos atrás.
“Eu, Christiane F., A Vida Apesar de Tudo” lançado pela Bertrand Brasil tem 266
páginas e pode ser encontrado na maioria das livrarias físicas e virtuais por
menos de R$ 30,00.
Entonce, quer dar uma conferida?
28 julho 2014
A Culpa é das Estrelas
Por culpa de “A Culpa é das Estrelas” levei a maior
bronca de uma banca de mestres na mesa de um bar. Deixe-me explicar melhor. Um
dia desses, quando estive em Bauru, após resolver alguns probleminhas
particulares, decidi parar em uma lanchonete para se deliciar com uma ‘loira
gelada’. Como iria retornar para a minha cidade só no dia seguinte, poderia me
deleitar, sem medo, nos braços suaves e sedosos dessa loira gostosa. Afinal de
contas, o dono da lanchonete não tinha o hábito de usar o bafômetro para medir
o nível alcoólico dos seus clientes.
Bem, eu estava na mesa quando chegaram numa
‘cacetada só’ quatro professores com os quais tive o privilégio de conviver nos
meus tempos de Unesp: a Sonia que leciona Semiótica; o Leonardo, grande mestre
em Literatura; o Jorge, ‘super-fera’ em Economia e o Magno que acabou se
aposentando, mas nos tempos áureos era o bam-bam-bam da temível – pelo menos
para mim – Estatística. Estes professores tinham algo em comum: só apreciavam
livros técnicos, principalmente a Sonia, tendo ojeriza aos chamados BestSeller,
os quais qualificavam como pura perda de tempo e atraso do desenvolvimento
intelectual.
Pois é, após a chegada dos estimados mestres,
começamos a bater um papo descontraído quando pintou o assunto cinema. De
repente, o Magno dispara a bomba: “- Fui assistir ao filme baseado na obra do
Green”. Bummmmm!! Cara! O Magno dizendo aquilo! Mêo, fiquei completamente sem
ação. Então, ele me pergunta se gostei do livro. –“Achei água com açúcar”,
respondi. Então, inesperadamente chega voando um novo petardo disparado pela
Sônia: - “Como?! Água com açúcar?! Ou você dormiu durante o filme ou não
entendeu nada do livro. A história é demais!” Bummm!!! Catapruummm!! Pôoooo!!
Smashhhh!! Caraca!! A Sônia que abomina livros e filmes de meros mortais disse
isso?! Galera, foi como se eu estivesse na Faixa de Gaza no epicentro de um
ataque.
Fiz questão de relatar esse encontro surreal com os
meus ex-professores para que vocês vejam como “A Culpa é das Estrelas”, tanto
livro quanto filme, fizeram a cabeça dos mais variados níveis intelectuais: do
letrado ao iletrado. Nem mesmo a Super-Sonia da Semiótica escapou. Por isso,
talvez, esse post possa fazer com que eu me torne um vilão de muitos leitores
que assistiram, leram e amaram a história. Mas no meu caso, confesso que não
deu... Não estou afirmando que o livro é ruim; o que estou dizendo
escrevendo é que a história do John Green é água com açúcar e daquelas bem
adoçadinha como muitos outros romances sentimentais.
Tá certo... tá certo... estou ciente da briga que
estou comprando com os fãs de Hazel e Gus; mas estou sendo sincero como sempre
fui nesse espaço. “A Culpa é das Estrelas” não vale todos os elogios que o
colocaram no patamar de melhor livro do gênero já escrito até agora. Pêra aí
gente, vamos com calma. Com certeza, “Marina” do escritor espanhol, Carlos Ruiz
Zafon é muito melhor e apesar disso, não
recebeu nem metade dos elogios da obra de Green.
Zafon criou uma história de amor dôce, mas não
melada e com momentos de tensão e mistério. As reviravoltas na trama são
constantes deixando o leitor com aquele quê de ‘queixo caído’ a cada final de
capítulo. Cara, nunca torci tanto para um casal como fiz por Oscar e Marina. E
no final do livro, mêo, não agüentei... chorei e chorei... foi muita emoção.
Zafon faz uma revelação final que surpreende o mais prevenido dos leitores;
algo que você jamais esperava.
Desculpem-me galera, sei que não estou aqui para
escrever sobre “Marina”, mas como essa história me emocionou demais, acabei
tomando-a por parâmetro quando tenho que analisar qualquer outra obra do
gênero. E para mim, “A Culpa é das Estrelas” é por demais inferior.
O livro de Green é um “Love Story” modernizado,
daqueles que você lê ou assiste, derrama algumas lágrimas ou pelo menos tenta e
depois esquece. Green conta a história de Hazel, uma adolescente com câncer na tireóide, com
metástase nos pulmões. Resumindo: uma paciente terminal. Devido a descoberta de
um medicamento experimental, os médicos lhe dão mais alguns poucos anos de
vida. Hazel começa a freqüentar um Grupo de Apoio à Crianças com Câncer onde
conhece um garoto bonito chamado Augustus Waters, ou simplesmente Gus. A partir
daí nasce a história de um amor impossível, um amor com os dias contados, seguindo
a mesma premissa de “Love Story”.
Achei o relacionamento de Hazel e Gus rápido demais.
Mal eles se conhecem no grupo de apoio e já estão namorando. Cara, a Hazel logo
no primeiro encontro já entra no carro do garoto e se debanda para a sua casa.
Tudo bem que os pais de Gus estavam lá, mas achei a situação muito forçada.
Parecia que o autor queria unir logo o casal para dar início ao drama dos dois.
Outra falha é que não rolou nenhum conflito entre
eles. Hazel e Gus se davam maravilhosamente, apaixonadamente, incomparavelmente
bem e cá entre nós, chega determinada hora que esse relacionamento do tipo “Jamais
quero te perder” enche o saco. Para completar a muvuca melada, os familiares do
casal adolescente se davam hiper bem e apoiavam o relacionamento dos seus
respectivos filhos. Os conflitos se restringiam a Hazel e sua mãe e relacionados
diretamente à doença da garota. Quanto ao relacionamento do casal: tudo paz e
amor.
Entonce entra na jogada o livro “Uma Aflição
Imperial” de um tal Peter Van Houten. Aí meu amigo, a ‘coisa’ fica pior ainda.
Explicando melhor: O sonho de Hazel era conhecer o final (que ficou em aberto) de
“Uma Aflição Imperial” – o qual considerava como uma verdadeira Bíblia -
escrito pelo recluso Van Houten, que ela também endeusava. E lá se vai Hazel e
Gus para o outro lado do mundo atrás do famoso escritor. Esta parte em que a
protagonista tenta descobrir o final do livro encheu o saco. Fiz força para
continuar a leitura.
Com relação a Van Houten, esperava uma redenção de
sua parte, assim como – guardada as devidas proporções - aconteceu com Batman
em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. O morcegão ficou por baixo, todo
quebrado, arrebentado, mas depois deu a volta por cima. Com Van Houten, isso
não acontece.
O que funcionou no livro, depois de várias e várias
páginas, foi a reviravolta envolvendo o personagem Gus. A partir desse momento,
talvez o leitor tenha que apelar para o lencinho e enxugar algumas lágrimas. Eu
disse talvez.
Para não disser que achei tudo “down”, lembro que “A
Culpa é das Estrelas” arrancou-me algumas risadas gostosas. As ‘tiradas’ de Gus
e Isaac, um personagem do grupo de apoio que acabou ficando cego, são muito
boas. As passagens em que Isaac quebra todos os troféus da coleção de Gus quando
descobre que ficará cego e depois, na sequência, para se vingar da namorada que
o deixou, se apodera de alguns ovos e tenta atirá-los no carro da ex são
impagáveis.
Enfim, “A Culpa é das Estrela” não passa de um livro
apenas regular (não mais do que isso) e que, sinceramente, não merecia o status
de ‘melhor dos melhores’.
26 julho 2014
Um dos muitos contos de terror do Almirante
Estou curtindo demais os contos do livro “Incrível!
Fantástico! Extraordinário!” Afinal, contos de terror brasileiríssimos que
abordem os ‘causos’, aqui da terrinha, do nosso povo, da nossa cultura são tão
raros, não é mesmo?
As 44 historietas – não ‘historietas’ no sentido
pejorativo, mas no sentido ‘tamanho’, já que são bem curtas, não ultrapassando
mais de três páginas – na realidade foram escritas para o rádio. Isso mesmo! Em
1947, o apresentador da Rádio Tupi, Henrique Foreis Domingues, mais conhecido
por “Almirante” iniciou um programa totalmente inédito no rádio brasileiro: o Incrível! Fantástico! Extraordinário! Que
propunha a relatar todo o tipo de experiências inexplicáveis ocorridas com
pessoas das mais diversas partes do
país. O programa se tornou um verdadeiro ícone do rádio no Brasil. Devido ao
sucesso do programa, em 1951, Almirante decidiu transferir para o livro 70 dos
casos narrados no rádio.
Tão logo conclua a leitura do livro estarei postando
a resenha no blog, enquanto isso, resolvi publicar nesse espaço um dos ‘causos’
presentes na obra do saudoso Almirante: um conto ‘danado’ de bom e que impressiona.
Enquanto a resenha não sai, ‘batam’ os dentes de medo com essa história.
Eheheheh. Faça de conta que você é um dos integrantes daquele famoso seriado dos
anos 80, Clube do Terror. Imagine-se sentando ao redor de uma fogueira ouvindo
a história de um dos garotos do grupo. Vamos à ela.
Bem o conto de hoje se chama...
PALAVRA ASSUMIDA
“Até
mesmo depois da morte, certos compromissos assumidos em vida, são respeitadas
pelas almas...”
‘Este caso se passou com L.D., que na época estava
com 17 anos e morava com seus pais na Fazenda Jupaguá, distante mais ou menos
nove quilômetros da cidade de Manga, em Minas Gerais. Todos os dias L. ia até a
cidade para fazer compras. Tinha lá inúmeros amigos e, entre lês, um dos mais
chegados era o Antônio.
No dia 3 de outubro de 1949, uma segunda-feira, L.
encontrou-se na cidade com seu amigo Antônio:
- Olá, Antônio, como vai?
- Salve, L. Vou bem, graças a Deus!
E os dois seguiram longo tempo em amistosa conversa,
que terminou com uma promessa de Antônio:
- Olha, L. Domingo que vem eu vou lá na tua casa...
Não era a primeira vez que Antônio fazia tal
promessa. Por diversas vezes ele havia garantido aquela visita, mas nunca a
fizera. Por isso, L. zombou, brincando:
- Qual... Você já cansou de prometer que vai lá em
casa e não aparece nunca! Você já está desacreditado, Antônio!
- Não, mas desta vez eu juro que vou. Estou falando
sério! Pode me esperar que domingo sem falta eu vou lá.
- Tá bom. Só quero ver isso!
- Eu juro. Antes eu nunca jurei, mas hoje estou
jurando. Portanto, até domingo!
- Até domingo – disse L., rindo como quem não
acredita.
Naquele dia L. terminou suas compras na cidade e foi
para caswa sem tornar a ver o amigo. No dia seguinte, seus pais viajaram e ele
não foi à cidade, onde só retornou na sexta-feira, dia 7 de outubro. Mas não se
avistou com o companheiro. Naquela mesma tarde, um portador foi levar-lhe uma
notícia tristíssima – seu amigo Antônio havia falecido repentinamente, naquela
manhã!
Imediatamente L. rumou para a cidade, onde chegou a
tempo de acompanhar o enterro do bom amigo. Depois, voltou para casa, abatido,
acabrunhado com a morte inesperada de Antõnio, comentando consigo mesmo a
última conversa que tivera com ele;
- E ele, coitado, que tinha jurado ir me visitar
domingo...
Pois é, pelo que parecia, estava escrito que Antônio
nunca lhe faria a prometida visita...
O dia de domingo foi triste para L. O amigo não lhe
saía da lembrança. À noite, L. e sua irmã foram deitar-se mais cedo do que o
costume. A moça dormia num quarto pegado ao seu e logo os dois pegaram no sono.
Mais ou menos às 10 horas da noite, L. acordou com
um som que parecia um tropel de um cavalo vindo pela estrada em direção a sua
casa e que parava no terreiro bem diante da porta. Depois de um instante de
silêncio – com o tempo exato de um cavaleiro desmontando e caminhando até a soleira,
L. ouviu as batidas.
Ele ia se levantar, mas percebeu que sua irmã tudo
escutara e já havia se antecipado. Ele ouviu, nitidamente, que ela abria a
porta e ... que alguma coisa anormal tinha acontecido.
- Quem é? Quem está aí Quem é?... – perguntava a
irmã num tom de voz que iniciou natural e foi ficando aflita.
Não havia ninguém do lado de fora. Nenhum cavalo no
terreiro! E ninguém que tivesse saltado ali e batido na porta teria tempo de se
afastar o suficiente e se esconder!
Assombrada, a garota fechou a porta depressa e
voltou correndo para seu quarto e não quis saber de mais nada. L., em sua cama,
tudo percebia mas, inexplicavelmente não tomava a resolução de ir ver o que
acontecia. Nesse meio tempo, as batidas à porta se repetiam...
Tremendo dos pés à cabeça, L. encolheu-se na cama,
enquanto ouviu o barulho característico de uma porta se abrindo. Ouviu também
passos caminhando em direção ao seu quarto... Percebeu que os passos
atravessavam a sala, que paravam junto à porta e que alguém batia levemente à
sua porta.
L. não pôde se mexer. Mas isso não foi necessário,
pois a porta foi se abrindo lentamente e nela apareceu, com nitidez, o vulto do
amigo Antônio, falecido dois dias antes!
Antônio vestia um terno branco e, deixando a porta
escancarada, caminhou até os pés da cama de L. e ali, fitando-o de modo
estranho, falou:
- Eu não disse que viria visitar você hoje?
L. ia gaguejar alguma coisa mas não teve tempo,
pois, repentinamente, a porta do quarto bateu com violência e a figura do amigo
desapareceu naquele instante...’
Taí galera! Este é um dos inúmeros “causos” que
vocês irão encontrar no livro do Almirante. E tem cada história de arrepiar.
Ah! Antes que me esqueça... se algum amigo ou amiga jurar que irá lhe visitar
determinado dia, siga um conselho de amigo: fala ela ‘desjurar’ (rs).
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