O gatilho para escrever esse post – um post que mais
uma vez foge do contexto desse blog literário foi uma cena que presenciei numa
agência do INSS há pouco mais de um ano. Acredito que estávamos quase no fim da
pandemia de coronavírus, aqui, no Brasil. Aliás, uma cena muito triste e que
marcou demais o meu emocional. Então pensei comigo: “esta cena vale uma nova
divagação aqui no blog e com certeza, os meus leitores e seguidores entenderão
mais essa fugida do ‘mundo literário’.
Tudo teve início quando fui até essa agência do INSS fazer
uma matéria jornalística para a rádio e o jornal onde trabalho. Minha função é editor,
mas como naquele dia todos os nossos repórteres estavam cobrindo outros
assuntos, fui eu mesmo até essa agência para fazer a cobertura do tema
designado.
Ao chegar no local vi um Fiat Uno no meio da rua com o
pisca alerta ligado – todas as vagas de estacionamento para idosos ou pessoas
especiais estavam ocupadas. Continuei observando a cena enquanto uma mulher já
idosa que havia descido do carro – ela estava no banco dianteiro – abria a
porta traseira para que um homem que aparentava ter “uns” 45 ou 50 anos descia
do veículo, se apoiando numa bengala, com muita dificuldade.
Continuei observando enquanto os dois se dirigiam
lentamente até a agência onde me encontrava. Minha curiosidade jornalística se
aflorou imediatamente e assim, lá vou eu oferecer ajuda aquela dupla e ao mesmo
tempo perguntar o que o homem tinha. Não foi ele que me respondeu, mas a sua acompanhante.
– Ele é meu filho. Está aposentado por invalidez; mesmo assim, foi convocado
para perícia – respondeu a mulher. Depois que ficamos mais íntimos, aquele
senhor perdeu a timidez e contou toda a sua história: pedreiro; caiu de um
andaime, rompeu os ligamentos, trincou uma vértebra, passou por dois peritos
(um administrativo e outro judicial) e mesmo assim, lá estava ele com muitas
dores, andando com dificuldade, esperando passar por um médico perito e apesar
de estar lotado de exames e laudos médicos que comprovavam a sua incapacidade
permanente, percebi o seu medo de ser reprovado na perícia e perder o seu
benefício que segundo a sua mãe, é utilizado em quase sua totalidade para a
compra de remédios e comida, já que ele ajudava no sustento da casa.
Hoje, antes de escrever essa postagem, me lembrei de
milhares de aposentados por invalidez que se encontram na situação daquele homem.
Aposentados com menos de 55 anos que são obrigados a se deslocarem até agências
do INSS, muitos deles, praticamente se arrastando tendo como companheiras
cadeiras de rodas, bengalas, andadores ou então, a ajuda de algum familiar que
os escore. Me perdoem pela dureza das palavras que utilizei, mas infelizmente,
essa é a realidade de muitos desses aposentados que mesmo se ‘escorando’ (esse
é o termo certo) ainda são convocados para perícias médicas, muitas delas,
humilhantes.
O segundo gatilho que me levou a escrever esse texto,
fugindo da proposta principal do blog, é que sinto na pele o drama dessas
pessoas. Tenho um enteado com esquizofrenia e que após passar por vários
peritos conseguiu há alguns anos a sua aposentadoria por incapacidade
permanente. Ao ser diagnosticado com a doença ele teve que deixar o trabalho. Amo
meu enteado. Digo para Lulu que tenho um filho e não um enteado. Afirmo com
propriedade que só aqueles que convivem com doentes nessa situação, sabem o quanto
eles e os seus familiares sofrem. ‘Achar que alguém os perseguem, ouvir vozes
estranhas, alterações de humor, delírios, alucinações; todos esses sintomas
fazem parte do pacote dessa terrível enfermidade.
Paro para pensar quantos aposentados por incapacidade
permanente convivem com essa doença e, mesmo, assim, são convocados para
perícias, muitas das quais, acabam desestabilizando ainda mais a sua já abalada
situação mental.
E sabem o que mais dói no meu coração? Ok. Eu digo. É
o pouco caso de alguns parlamentares com o drama dessas pessoas; milhares de pessoas
com graves problemas físicos ou mentais que foram obrigadas a encerrar as suas
atividades profissionais não porque elas queriam, mas porque se acidentaram
gravemente ou então ficaram doentes. Você acha que alguém em sã consciência vai
querer deixar os ganhos de sua atividade profissional para receber um salário
mínimo da Previdência?
Será que esses parlamentares com os seus polpudos
salários, além de outros benefícios extras, sabem a falta que um salário mínimo
– usado no limite para a compra de medicamentos ou comida – faz para esses
aposentados?
E agora vemos um projeto tão importante quanto o PL
5332 travado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. Projeto que
estará restituindo a dignidade desses aposentados pois passa a tratar o beneficiário
por invalidez permanente com menos de 55 anos como aposentado, de fato, e não
como se estivesse afastado, recebendo apenas o auxílio temporário.
Este projeto obteve parecer favorável em todas as
comissões pela qual já passou, inclusive o parecer positivo do senador Fabiano
Contarato (PT) que foi o relator da proposta na Comissão de Assuntos Sociais. Portanto,
essa proposta só aguarda a liberação para votação por parte do presidente da CAS,
senador Humberto Costa (PT) que até agora não se pronunciou a respeito e com
isso, o PL 5332 encontra-se esquecido nessa comissão embolado com tantos outros
projetos.
Os meus últimos contatos com a assessoria de alguns
parlamentares da CAS – com exceção do senador Contarato – foram frustrantes. Fui
tratado com uma indiferença glacial por assessores do senador Humberto Costa.
Quanto ao apelo que fiz para senadora Mara Gabrilli que é vice-presidente da CAE,
ficou no vazio, já que não obtive nenhuma resposta.
O que me entristece é que tenho um respeito muito
grande pelo presidente da CAE; respeito que já vem de algum tempo, desde a
época em que ele foi ministro da Saúde no início da primeira gestão do
presidente Lula. Por isso quando soube que o PL 5332 iria direto para as mãos de
Humberto Costa - parlamentar que criou o “Farmácia Popular” e o “SAMU”, além de
ser médico - fiquei muito tranquilo, mas agora começo ter minhas dúvidas. Apesar
essa dúvida que começa a surgir, acredito que um médico que acompanhou de perto
a situação triste de muitos de seus pacientes, cuidando deles, não pode ser
capaz de ignorar o apelo de milhares de aposentados por invalidez com doenças
graves. Creio que isso não é possível; e se acontecer, chegará perto do surreal.
Por isso, me estranha muito todo esse silêncio do presidente da CAS com relação
ao PL 5332 e principalmente, a sua inércia em liberá-lo para votação.
Quero aqui, agradecer a atenção e a educação dos
assessores do senador Fabiano Contarato que foi o relator do PL 5332 na CAS. Agradeço,
também, diretamente a esse senador por ter dado a atenção que esse PL merece.
Não posso me esquecer também de alguns canais do Youtube
que assumiram a bandeira de todos os aposentados por invalidez lutando pelos
seus direitos, brigando dia e noite pela aprovação do PL 5332. Entre esses
canais destaco três que considero de uma importância relevante nessa luta: “Milton
Dantunes”, “AGIR” (Caco Siqueira) e o VFNews (Verusa Figueiredo).
Milton, Caco, Verusa; vocês são grandes!
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