28 outubro 2023

10 Livros conhecidos que viraram filmes marcantes nos anos 80

Cara, nesses últimos dias estou saudosista, mas muito saudosista. Tão saudosista que Lulu vive dizendo para mim – Jam, vou comprar uma máquina do tempo para você ficar resgatando as suas lembranças, menos as amorosas de muitas décadas atrás das quais não participei – depois me olha com aquele jeito matreiro que eu amo e cai na risada. Respondo para ela ficar tranquila porque as minhas recordações são apenas de filmes que marcaram os anos 80. Ela, imediatamente responde rindo – Piorou, não sei o que rolou na poltrona do cinema durante o filme e se é esse “durante” que é o verdadeiro motivo da sua viagem – e tornamos a rir muito.

Lulu não tem nada de ciumenta, pelo contrário, posso fazer o que quiser, desde que respeite os limites do bom senso que sempre deve prevalecer no relacionamento de um casal que se ama e se respeite. Também penso da mesma forma: o respeito, a confiança e o amor são os principais alicerces de um relacionamento; e o nosso alicerce está bem sólido, por isso brincamos tanto com temas que as vezes podem acabar provocando brigas ou desentendimentos em outros casais que optem por ultrapassar esses limites do bom senso num relacionamento.

Mas deixe-me voltar ao tema principal dessa postagem. Parei no momento em que estava ‘dizendo’ que resgatava as recordações de filmes que marcaram a geração dos anos 80, filmes que pelo menos para mim, foram fantásticos, tão fantásticos que mesmo após décadas ainda sinto uma baita saudade.

Mas como o nosso blog aborda temas literários resolvi, como diz o ditado popular, ‘unir o útil ao agradável’ e escrever um post de livros conhecidos que deram origem a filmes famosos nos anos 80. E assim, surgiu essa lista que você lê agora. Pretendo elaborar, também, uma lista específica para os anos 90. Aliás, na minha opinião essas duas décadas foram as melhores no que se refere a lançamentos de filmes. Tivemos verdadeiras joias raras, produções cinematográficas – muitas delas baseadas em livros – que podem, tranquilamente, ganhar o status de antológicas.

E vamos com a nossa top list de livros que viraram filmes marcantes nos anos de 1980.

01 – Os Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas (Philip K. Dick)

Filme: Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982)

Vários filmes de sucesso foram adaptados dos livros escritos por Philip K. Dick mas nenhum deles foi tão comentado, tão elogiado e tão icônico quanto “Blade Runner: O Caçador de Andróides”. Esta produção cinematográfica de 1982 que teve nos papéis principais Herrison Ford, Rutger Hauer e Daryl Hannah foi a primeira adaptação de um livro de K. Dick que inclusive não chegou a ver nenhuma das adaptações de suas obras literárias. Ele morreu quase quatro meses antes de Blade Runner que estreou nos Estados Unidos no dia 25 de junho de 1982.

O filme foi baseado no livro Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? relançado pela Editora Aleph há quatro anos – a publicação original é de 1968. A trama do livro se passa em um planeta Terra devastado por uma guerra atômica, grande parte da população sobrevivente emigra para os mundos-colônias, fugindo da poeira radioativa que extinguiu inúmeras espécies de animais e plantas. Toda criatura viva se torna, então, um objeto de desejo para aqueles que permaneceram, mas esse é um privilégio de poucos. Para a maioria que não pode pagar por um espécime autêntico, empresas começam a desenvolver réplicas eletrônicas e incrivelmente realistas de pássaros, gatos, ovelhas... e até mesmo de seres humanos.

Rick Deckard é um caçador de recompensas. Seu trabalho: eliminar androides que vivem ilegalmente na Terra. Livro e filmes tem muitas diferenças. No livro, por exemplo, Dick apresentou um cenário social mais amplo sobre a sociedade pós-apocalíptica, mostrando os costumes, o cotidiano, o comportamento e as crenças das pessoas que permaneceram na Terra. Há dilemas morais e religiosos envolvidos, que trazem camadas diferentes para a estória. No filme, o foco ficou na personagem de Deckard e em seu relacionamento com os andróides.

02 – O Iluminado (Stephen King)

Filme: O Iluminado (1980)

Tudo bem que Stephen King tenha odiado o filme dirigido pelo gênio Stranley Kubrick e que a atriz Shelley Duval, intérprete da personagem Wendy Torrance, tenha gritado e se encolhido de pavor durante o filme todo, mas que o tal filme fez um baita sucesso, isso fez sim. 

Apesar do sucessaço de público e crítica, o mestre do terror excomungou a produção cinematográfica de 1980, principalmente a Wendy reinventada por Kubrick. King afirmou que não é fã dessa versão de Wendy, muito mais pela forma que foi escrita no filme do que pela atuação da intérprete: “Uma das personagens mais misóginas já colocadas em um filme. Ela basicamente está lá para gritar e ser estúpida. Essa não foi a mulher que eu escrevi.” 

Mas apesar da esculachada de King, “O Iluminado” de Kubrick acabou se transformando numa produção cult, num dos maiores filmes de terror de todos os tempos.

Tanto livro quanto filme contam a saga de Jack Torrance (Jack Nicholson) um homem que durante o inverno é contratado para ficar como vigia em um hotel no Colorado e vai para lá com a mulher Wendy Torrance (Shelley Duvall) e seu filho Danny Torrance(Danny Lloyd). Porém, o contínuo isolamento do hotel começa a lhe causar problemas mentais sérios e ele vai se tornado cada vez mais agressivo e perigoso, ao mesmo tempo em que seu filho passa a ter visões de acontecimentos ocorridos no passado, que também foram causados pelo isolamento excessivo.

03 – Primeiro Sangue (David Morrell)

Filmes: Rambo: Programado para matar (1982), Rambo 2: A missão (1985) e Rambo 3 (1988)

Se existe uma saga cinematográfica que foi cultuada por várias gerações de cinéfilos, esta saga se chama “Rambo”. Seus três filmes produzidos na década de 80 se tornaram verdadeiros ícones do cinema de ação, além de consolidar a carreira de Sylvester Stallone como um dos maiores nomes das produções do gênero em Hollywood. O que poucas pessoas sabem é que essa trilogia de sucesso nos cinemas (isso mesmo, eu disse trilogia porque é para esquecer os outros dois filmes de 2008 e 2019 que foram verdadeiros fiascos), principalmente o primeiro filme, foi baseada em um livro escrito por David Morrel chamado Primeiro Sangue.

A obra foi lançada no Brasil pela editora Record em 1972 e na época passou até que desapercebida pelos leitores, só ganhando o status merecido dez anos depois com o lançamento do filme com Stallone. Em 1988, a editora Nova Cultural que havia adquirido os direitos de publicação da obra, relançou o livro com a capa do filme que fez parte da coleção chamada “Campeões de Bilheteria” com narrativas que deram origem a filmes de sucesso.

O contexto de livro e filme são bem diferentes e acredito que Morrell ao roteirizar “Rambo – Programado para Matar” (sim, ele também escreveu o roteiro desse primeiro filme) aproveitou muito pouco o conteúdo de sua história escrita. Um desses raros trechos é aquele em que Rambo consegue derrubar um helicóptero com uma pedra.

E como não poderia ser diferente, o livro é muito mais profundo do que o filme dando ao leitor um perfil completo dos principais personagens. No caso de Rambo ficamos sabendo alguns detalhes de sua infância e o que serviu de gatilho para que ele entrasse no exército.

Morrell ainda escreveria outros dois livros sobre o personagem que não passaram de simples novelizações de Rambo II e III e por isso ficaram muito longe do sucesso de Primeiro Sangue.

04 – Duro de Matar (Roderick Thorp)

Filme: Duro de Matar (1988)

Podem acreditar é a mais pura verdade: o filme “Duro de Matar” com Bruce Willis foi baseado em um livro. Acredito que muitos desconheciam este lado da produção que passou nos cinemas em 1988 e acabaria se transformando numa das sagas de ação mais badaladas de todos os tempos; tanto é que ganhou mais quatro sequencias além do filme original – “Duro de Matar 2” (1990), “Duro de Matar: A Vingança” (1995), “Duro de Matar 4.0” (2007) e “Duro de Matar: um bom dia para morrer” (2013).

"Duro de matar" fez de Bruce Willis uma estrela de Hollywood — até então, ele era mais conhecido por seu papel cômico como um detetive particular na série "A gata e o rato" (1985-89), contracenando com Cybill Shepherd. O longa ainda consagrou internacionalmente o britânico Alan Rickman (1946-2016), por sua atuação memorável como o grande vilão Hans Gruber.

Na minha opinião, pouca coisa foi alterada do livro para o filme, entre elas, o nome do personagem principal: sai Joe Leland e entra John McClane. O Leland da obra escrita é bem mais velho e sisudo do que o detetive John McClane interpretado por Buce Willis no filme. O clima do livro policial também é muito pesado, com Leland e os terroristas assumindo um duelo psicológico perturbador nos intervalos dos tiroteios e explosões. Já nas telonas, McClane é bem mais jovem e humorado. Quanto ao duelo psicológico, existe, mas de uma maneira mais moderada, com o diretor preferindo dar ênfase para a ação. Outra mudança é com relação a mulher de McClane. No livro, ela não é esposa, mas sim a sua filha. 

Excetuando essas diferenças, o filme é muito fiel ao texto de Roderick Thorp, inclusive, o leitor tem a impressão que várias cenas de ação contidas nas páginas da história foram adaptadas integralmente para o cinema.

NothingLasts Forever foi publicado originalmente em 1979 mas só chegou ao Brasil - quase dez anos depois, na época do lançamento do filme - por intermédio da editora Record, inclusive a editora aproveitou a imagem de uma cena do filme para ilustrar a capa da obra literária.

05 – A Hora da Estrela (Clarice Lispector)

Filme: A Hora da Estrela (1985)

“A Hora da Estrela” é uma adaptação do romance homônimo da escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia, Clarice Lispector, considerada um dos nomes mais respeitados da terceira fase do modernismo brasileiro, chamada de "Geração de 45". Recebeu diversos prêmios, dentre eles o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal e o Prêmio Graça Aranha.

A Hora da Estrela foi o último livro lançado em vida por Clarice Lispector e ganhador do Jabuti de melhor romance. A autora conta a história de uma alagoana órfã que vai morar no Rio de Janeiro e trabalha como datilógrafa. Virgem, ingênua e solitária, Macabéa apenas vê a vida passar sem compreender muito bem o que lhe acontece.

Em sua narrativa, já doente e ciente que a morte estava próxima, Clarice coloca um pouco de si em Macabéa e em Rodrigo, narrador-personagem da história, e nos revela seu processo de criação, assim como suas angústias sobre a morte.

A adaptação cinematográfica, a exemplo do livro, alcançou um enorme sucesso e conquistou alguns dos principais prêmios no Festival de Brasília, em 1995, como o de Melhor filme, Melhor ator (José Dumont), Melhor atriz (Marcélia Cartaxo), Melhor fotografia, Melhor diretor (Suzana Amaral) e Melhor edição. No exterior, recebeu o prêmio de Melhor diretor no Festival de Havana. Marcélia Cartaxo ainda recebeu o Urso de Prata em Berlim, por sua interpretação de Macabéa. Enfim, tanto livro quanto filme bombaram – no bom sentido, claro.

Clarice faleceu em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Ela foi hospitalizada, com um câncer de ovário detectado tarde demais e inoperável. A doença se espalhara por todo o seu organismo.

06 – O Nome da Rosa (Umberto Eco)

Filme: O Nome da Rosa (1986)

O Nome da Rosa do escritor italiano Umberto Eco foi publicado em 1980. Seis anos depois foi lançado o filme homônimo dirigido pelo francês Jean-Jacques Annaud e contando com Sean Connery e Christian Slater nos papéis principais.

A narrativa se passa na Itália no período medieval. O cenário é um mosteiro beneditino, onde um frei é chamado para fazer parte de um concílio do clero que investiga crimes de heresia. Entretanto, assassinatos misteriosos começam a ocorrer.

Essa história se tornou um clássico, mesclando romance investigativo com inspiração em Sherlock Holmes, mais: religião, erotismo, violência e um toque de humor em plena Idade Média.

A obra alcançou enorme reconhecimento e projetou Umberto Eco como um célebre escritor. O filme também foi um sucesso, embora tanto o público como a crítica especializada tenham achado o livro melhor do que o filme.

07 – Os eleitos (Tom Wolfe)

Filme: Os eleitos onde o futuro começa (1983)

O filme “Os Eleitos: Onde o futuro começa” baseado no livro homônimo de Tom Wolfe, de 1979, conta a história real de um grupo de astronautas do final dos anos 40, no início da Guerra Fria, onde estavam começando os programas espaciais das potências da época, Estados Unidos e União Soviética. O foco principal do filme e também do livro está na vida real e frustrações dos astronautas americanos com os seus fracassos e sucesso parcial dos soviéticos. A história também explora os dramas desses pioneiros espaciais com a família, esposa e outros dilemas.

Livro e filme são muito parecidos. Wolfe escolheu como protagonistas os sete primeiros astronautas da história dos Estados Unidos, selecionados em 1959 para participar do projeto Mercury. Os chamados “Mercury Seven” tinham muitas coisas em comum, como a experiência com voos militares na Segunda Guerra Mundial ou na Guerra da Coreia, a relativa juventude —a maioria estava na casa dos 30 anos— e alguma ligação com a cultura dos pilotos de testes, embora nem todos fizessem parte da elite dessa profissão.

O fato de que alguns dos principais pilotos de testes americanos não tenham sido escolhidos para integrar os “Mercury Seven” talvez explique por que os que continuaram a pilotar aviões experimentais torciam o nariz para os astronautas.

Wolfe também dedica grande parte de sua narrativa em Os Eleitos a Chuck Yeager. Com Ele não só foi o primeiro piloto a quebrar a barreira do som – e vale dizer que nessa altura ninguém sabia dizer se um ser humano sobreviveria a tal velocidade – como estabeleceu várias outras marcas fundamentais para a aviação.

Apesar de ter achado livro e filme um pouco cansativos, ambos foram endeusados pelos críticos literários e cinematográficos.

08 – As minas do rei Salomão (H. Rider Haggard)

Filme: As minas do rei Salomão (1985)

Muitos preferem o filme original de 1950 com Stewart Granger como o explorador Allan Quatermain e a excelente Deborah Kerr como sua companheira de aventuras, mas na realidade o remake de 1985 com Richard Chamberlain e a estonteante (na época) Sharon Stone acabou sendo o filme mais comentado por causa do seu clima de aventura que é uma verdadeira montanha russa de emoções.

Tudo bem que a produção de 1950 venceu o Oscar nas categorias de melhor fotografia colorida e melhor montagem, além de ter sido indicado para melhor filme, mas não podemos desprezar o filme com Chamberlain e Stone que fez num enorme sucesso nos anos 80.

As duas películas foram baseadas no livro homônimo britânico de 1885 escrito por Henry Rider Haggard. As Minas do Rei Salomão não se trata apenas de um bom, mas sim de um ótimo livro de ação.

Se você amou A terra que o tempo esqueceu, de Edgar Rice Burroughs; O Mundo Perdido, de Arthur Conan Doyle; King Kong, de Edgar Wallace; e O homem que queria ser rei, de Rudyard Kipling, com certeza, também irá amar o livro escrito por H. Rider Haggard.

A obra literária narra uma jornada ao coração da África feita por um grupo de aventureiros liderados por um caçador de elefantes e também exímio conhecedor do território africano chamado Allan Quatermain em busca das lendárias Minas do rei Salomão.

Já no filme de 1985, o enredo muda um pouquinho. Nele, Allan Quatermain (Richard Chamberlain) concorda em se unir a bela Jesse Huston (Sharon Stone) em uma missão para localizar o seu pai arqueólogo, que foi raptado pelo seu conhecimento das minas lendárias do rei Salomão. Como os sequestradores viajam pelas selvas da África, Allan e Jesse tem que ir atrás deles lutando com nativos ferozes e perigosas criaturas, entre outros obstáculos.

09 – Nascido para matar (Gustav Hasford)

Filme: Nascido para matar (1987)

O diretor Stanley Kubrick tomou como base para “Nascido para matar” o romance The Short-Timers que Gustav Hasford publicou em 1979, narrando suas experiências durante a Guerra do Vietnã como jornalista militar e correspondente de guerra. Na adaptação que fez para o cinema, o diretor escreveu o roteiro em colaboração com Michael Herr e também com o próprio autor da história.

Kubrick dividiu “Nascido Para Matar” em dois atos. No primeiro, seguindo fielmente o livro, acompanhamos o treinamento de um pelotão de fuzileiros navais, comandado por um sargento tirano que submete os seus recrutas a uma série de humilhações, principalmente verbais. Joker e Pyle são os dois recrutas que mais sofrem com a tirania do sádico sargento.

Na segunda parte, o personagem Joker experimenta a guerra em todas as suas facetas, incluindo as violentas ruas de Saigon. “Nascido para matar” é considerado um dos grandes filmes sobre a Guerra do Vietnã, juntamente com “Platoon” e “Apocalypse Now”.

10 – As Quatro Estações – conto “O corpo” (Stephen King)

Filme: Conta comigo (1986)

“Conta Comigo” que ganhou rasgados elogios dos críticos cinematográficos e também dos cinéfilos foi baseado no terceiro conto do livro Different Seasons de Stephen King, lançado no Brasil com o título de As Quatro Estações.

A história é narrada em primeira pessoa por Gordie Lachance, um escritor famoso que começa a recordar do verão de 1960. Naquele ano, aos 12 anos, ele e três amigos - Chris, Teddy e Vern - saem em uma aventura para encontrar o corpo de um menino que estava desaparecido e teria sido morto atropelado por um trem. O que eles não poderiam imaginar é que esse passeio mudaria a vida deles para sempre.

Perdi as contas das vezes que assisti esse filme maravilhoso, aliás, uma magia de filme que retrata o verdadeiro valor da amizade, essa que dificilmente encontramos nos dias de hoje. O conto do livro As Quatro Estações, a exemplo dos demais que compõem a coletânea – também é soberbo.

Vale a pena ler e assistir.

22 outubro 2023

Os Doze trabalhos de Hércules (Monteiro Lobato)

Pense num livro que imediatamente vem à sua cabeça, sem a necessidade de parar, pensar e refletir antes de responder: “qual livro marcou determinada fase de minha vida”?

Os 12 Trabalhos de Hércules de Monteiro Lobato. Taí. No meu caso, já dei a resposta. Alguns podem me questionar: “Pô! Mas é um livro infantil e você já é um balzaquiano!”. E eu respondo um “e daí!!!”; bem sonoro e com direito a três sinais de exclamação, sendo que caberia muito bem quarto, um quinto e por aí afora. 

Não vou nem mesmo utilizar o argumento de que a literatura infantil possui um encanto que alcança as crianças, mas também toca de forma especial os adultos dispostos a se aventurar sem medo de julgamentos. Vou também dispensar o argumento de que muitos adultos consagrados em seu campo profissional adoram esse tipo de livro. Vou dizer apenas que adorei a história e que essa obra de Lobato marcou muito determinado momento de minha vida. Foi o dia em que a minha mãe me levou pela primeira vez à uma biblioteca. Esta é uma das recordações que jamais iriei esquecer: a imagem de dona Lázara me buscando na escola primária. Antes de irmos para casa, ela fazia questão de toda a semana dar uma passadinha comigo na a Biblioteca Pública Municipal. Ela fazia isso com a desculpa de que iria conversar um pouco com a sua amiga que era a bibliotecária.

Quando chegávamos por lá, antes ficar papeando com a amiga, ela me levava para o setor de literatura infantil e dizia para que eu escolhesse alguns livros para ler. Depois colocava esses livros sobre a mesa, ficava um pouquinho comigo, e ia por as “histórias da cidade” em dia com a amiga bibliotecária.

Foi ali que tive o meu primeiro contato com o mundo mágico do Sitio do Pica Pau Amarelo e de seus personagens. Um dos livros que marcou essa minha fase de leitor foi Os 12 Trabalhos de Hércules, obra que até hoje trago guardada na memória, tanto é que já reli várias vezes, a mais recente, aconteceu na semana passada.

Entonce... e não é que depois de muitos anos, descobri que essas idas de minha mãe à biblioteca para “fofocar” (rs) com a sua amiga, na realidade, não passavam de um pretexto para que eu criasse o hábito pela leitura. Quem me revelou o segredo foi a própria bibliotecária, pouco tempo depois da morte de mamãe. Ah, dona Lázara, só mesmo a senhora...

Alguns ainda podem afirmar que o livro de Lobato não passa de um gatilho que dispara uma memória afetiva muito querida em minha vida, me ajudando a reconstruir um momento importante que vivi no passado. Não é só isso galera, ocorre que o enredo é muito bom.

Existem livros infantis e infanto-juvenis que tem o dom de fisgar a atenção dos leitores adultos por causa de seus personagens e enredos muito bem compostos. Os 12 Trabalhos de Hércules é um desses, principalmente se você – assim, como eu – adora mitologia grega.

A genialidade de Monteiro Lobato fica evidente nessa obra. Ele consegue ensinar mitologia grega, explorando vários momentos importantes desse gênero de uma maneira leve e divertida. É algo ímpar, uma verdadeira magia, ver Pedrinho, Narizinho, Emília, enfim, toda a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo interagindo com personagens marcantes da mitologia grega. Outro detalhe importante que vale a releitura foi a ideia genial que Lobato teve ao compor um Hércules diferenciado daquele ser poderoso e infalível da mitologia. O Hércules de Lobato é mais “acessível”, ou seja, mais humano. Ele também erra, tem as suas falhas, além de ser menos arrogante do que o Hércules original que aprendemos a conhecer. Gostei muito dessa reconstrução do personagem.

O autor conduz os leitores mirins e adultos para uma das passagens mais icônicas da mitologia grega: os 12 trabalhos realizados pelo famoso semideus, entre os quais: matar o leão da Neméia, capturar o javali de Erimanto e o touro de Creta, além de outros. Adorei ver os personagens do Sítio do Pica Pau também metidos no meio dessas aventuras.

Através das viagens que os personagens do sítio empreendem com Hércules, Lobato não conta só os doze trabalhos, como também os principais e mais belos trechos da mitologia grega, em uma linguagem apropriada para crianças com uma riqueza de detalhes raramente encontrada em outros livros, mesmo para adultos. Por exemplo, os deuses são mostrados de forma fiel à mitologia com todas as suas trapaças em contraste com a versão mais amena da Disney que suprime todas essas mesmas trapaças. Talvez, por isso, alguns críticos literários tenham defendido, na época, que a obra não se encaixava no gênero de literatura infantil. Não quero entrar no mérito dessa questão, gostaria apenas de dizer que o enredo do livro não teve nenhuma influência negativa no meu desenvolvimento moral.

Os 12 Trabalhos de Hércules pode ser considerado como uma “meia sequência” de um outro livro de Lobato chamado O Minotauro, onde Pedrinho após testemunhar a morte da Hidra de Lerna, fica obcecado em conhecer Hércules e por isso, decide retornar à Grécia Antiga com Emília e Visconde para presenciar os outros onze trabalhos do semideus.

Valeu galera!

18 outubro 2023

"Deixe-me com os meus livros e não enche o saco!" Cobranças chatas e até humilhantes que nós leitores ouvimos de pessoas que não gostam de ler

Não há nada mais irritante para um leitor de carteirinha – e quando ‘digo’ leitor de carteirinha, estou me referindo aquele leitor que não lê mas devora uma obra; aquele adora sentir o cheiro de livro novo; aquele que mergulha de cabeça numa história e aquele que volta e meia entra em Depressão Pós Livro, a conhecida DPL; enfim aquele leitor que sente tudo o que eu sinto (rs) – do que ouvir frases como: “Nossa! Você está lendo muito”! “Para um pouquinho de ler e vai se divertir”, “Caramba, você só sabe ler?”. Mas apelar e chamar alguém que ama ler de “come livro”, coisa do tipo: “Caraca, você parece um come-livro, para com isso”! Aí meu amigo, sinto dizer, mas arregaça as mangas porque é caso de briga, pra sair no pau, valendo tudo, inclusive cabelos no caso das mulheres) e golpe baixo (no caso dos homens). Rsssssssssssss!!! Brincadeirinha galera, não precisa chegar a tanto, mas que irrita, irrita, e muito.

Na postagem de hoje quero lembrar algumas dessas saias justas que passei quando tive a infelicidade de me encontrar com pessoas que... digamos... não tem os livros incluídos no rol de seus melhores amigos.

Uma dessas situações desagradáveis aconteceu há poucos dias e acredito que foi o que me levou a idealizar esse post. Tudo começou quando eu e Lulu estávamos na festa de aniversário de uma amiga e nos encontramos – numa feliz coincidência - com colegas com os mesmos gostos literários e, então, começamos a trocar ideias sobre os livros escritos pela Ana Cláudia Quintana Arantes. Enquanto conversávamos fomos interrompidos por um casal que estava na mesa ao lado. O homem tinha uns 30 anos; a mulher, acho que a mesma faixa etária. Eles estavam acompanhados de uma criança que não tirava os olhos do celular. Foi quando esse senhor ou esse rapaz, tanto faz, soltou a bomba: - “Vocês estão falando sobre livros né? Meu filho ‘tava’ nessa; só lia, lia e lia. Sabem? Tive que dar um basta. O moleque não se divertia mais, deixou até o seu videogame de lado. Falei: ‘parô’; deixa esse treco aí, vai se ‘diverti’ um pouco”. – PQP!! Pensei comigo: o FDP que teve a capacidade de cometer essa heresia com o seu filho, ainda tem a ousadia de chamar um livro de ‘treco’, como se fosse a ‘coisa’ mais vil e descartável do mundo?!.

Nesse momento, Lulu olhou disfarçadamente para mim, pedindo através daquele olhar: “Pelo amor de Deus, amor, não fala nada, não vale a pena”. Mas, infelizmente, o seu olhar chegou alguns segundos atrasado e, foi nesse atraso que automaticamente escapou da minha boca: “E isso está fazendo um bem danado para o seu filho, né? Respondi, olhando para o  Battle Royale que o garoto jogava no celular.

Quando disse isso, Lulu novamente através do seu olhar se expressou: “Fudeu tudo” (rs). Fomos salvos pelos anfitriões da festa que nos convidaram para ver um velho amigo que havia chegado de viagem. No final do encontro quando já estávamos indo embora, Lulu me disse que o sujeito me olhou pelas costas como se quisesse me devorar vivo. Ufaaaa! Foi por pouco, mas, confesso, que valeu a pena. Os colegas que estavam em nossa mesa também “zarparam” após darem uma desculpa qualquer, evitando assim, ficar ouvindo ataques desnecessários aos livros como se fossem o mal do século. 

O algoz de uma outra situação foi um amigo meu. Acredita! Sendo traído e espezinhado pelo próprio amigo (rs). É por isso, esse fato que eu vou contar agora, doeu tanto. Veja só o que aconteceu. Mariana e o Carlos Luiz a quem eu chamo de “Caco” moram em São Paulo, mas quase sempre eles “baixam” por aqui. O casal tem um filho de 7 anos, a quem eu chamo de Caquinho. Um amor de criança e um amor de casal. Tanto eu quanto Lulu, gostamos demais deles. Numa de suas visitas, a Mariana me pediu emprestado a saga “O Senhor dos Anéis” que por incrível que possa parecer, ela ainda não havia lido. Apesar de ter um ciúme enorme dos meus “bebês”, achei que seria deselegante recusar o seu pedido já que ela havia conhecido a minha sala de leitura. E assim, a Mariana levou os meus três volumes da saga que eu havia comprado na época de seu lançamento pela editora Martins Fontes. Isso lá nos idos de 2000.

Após ‘uns’ três meses, eles voltaram e no momento em que a Mariana me devolveu a trilogia, o Caco soltou ‘pérola’: “Tá loco! Vocês são uns come-livros. Não sei como aguentam!” – e logo em seguida, olhando para a mulher, fechou com chave de ouro o seu ‘pronunciamento’: “Essa aí só sabe ficar lendo, não faz outra coisa na vida”.  Pera aí que ainda não acabou porque o Caco soltou outra pérola ainda “mais lapidada”: “O gente, larga um pouco isso aí, faz mal ficar só lendo, lendo e lendo”.

Como eu tenho muito liberdade com o casal eu já estava preparado para mandar o meu digníssimo o meu amigo para a PQTP. Mas no final, a Mariana acabou sendo a minha porta-voz contra o marido: “Melhor do que ficar enchendo o ‘pandu’ de cerveja e salsisha estragada curtida com vinagre, ouvindo um monte de besteiras na mesa de um bar. Ao final, todos nós acabamos rindo quando o Caco respondeu todo murcho: “Pô amor, eu só ‘tava’ brincando, eu até gosto dessa história que passou na TV – Eheheheh, garanto que ele não gosta porque nunca leu Tolkien e nenhum outro livro. Na verdade, ele conhece todos os lançamentos de games. Um expert no assunto.

E para fechar, conto o terceiro golpe recebido. Essa foi como um tiro com bala de prata na alma de um lobisomem. Me matou. Já contei esse caso aqui no blog quando resenhei o livro “Mundo Perdido” de Michael Crichton, mas a situação foi tão sui generis que merece ser relembrada. Infelizmente existem muitas pessoas que deixam de ler um livro só porque a sua história foi adaptada para o cinema. Elas preferem assistir ao invés de ler o enredo. Talvez por impaciência de encarar 300, 800 ou até 1.000 páginas ou então, simplesmente porque não gostam de ler.

Não sei porque tenho uma sorte nada agradável em encontrar pessoas que pensam dessa maneira. Para elas, basta assistir um filme para dispensar a leitura do livro. Todas as vezes que tentei argumentar com elas acabei me dando mal. Cheguei à conclusão que a maioria daqueles que tem essa ideologia, são muito intransigentes e não aceitam em hipótese alguma uma contra-argumentação, do tipo: “olha fulano, acho que o enredo do livro é mais completo do que o seu roteiro adaptado para as telonas” e por aí afora. Então, quando insistimos, a coisa complica. Por isso, quando encontro alguém com essa linha de raciocínio e o papo sobre o assunto começa a rolar, apenas ouço, ouço e ouço... nada mais. Evito entrar em detalhes, como fiz há muito tempo quando estava num ônibus seguindo para São Paulo numa noite chuvosa.

Meu companheiro de viagem, além de um senhor calvo de aproximadamente 40 anos sentado ao meu lado, era o livro Mundo Perdido, de Michael Crichton. Cara! Eu não estava lendo, estava devorando com avidez as suas páginas, não me incomodando nem um pouco com a rala “iluminação”. Inesperadamente, o senhor calvo, engravatado e bem vestido, com pinta de executivo, disparou a bomba: - “Para que ficar sofrendo nessa semi-escuridão, assiste ao filme que é a mesma coisa”. Depois desse petardo, esperei um pouco até passar o atordoamento e perguntei: “O senhor já leu o livro”? De imediato, ele respondeu: “Claro que não! Pra que perder tempo se eu tenho o cinema? Tudo o que está nessas páginas eu já vi”. Bem, depois desse massacre me senti o próprio soldado combatente estirado no fundo de uma trincheira, com o corpo despedaçado por um morteiro. Então, pensei com os meus botões: “pobre coitado, mal sabe ele que assistiu a um filme que não tem nada a ver com o livro de Michael Crichton; uma história completamente diferente”. Melhor deixa-lo na luz da sua ignorância e, assim, continuei devorando a obra. Este fato rolou na época do lançamento de Mundo Perdido nos cinemas.

Pois é galera, nós devoradores de livros, muitas vezes, somos obrigados a ter uma paciência de Jó.

14 outubro 2023

10 livros sobre true crimes para você ter em sua estante

O chamado “true crime” está catapultando as vendas de livros em todo o mundo, principalmente no Brasil. Uma reportagem que li - em meados de 2022 – não me lembro em qual jornal, revista ou site, afirmava que esse gênero literário passou a ser o mais vendido aqui na terrinha, superando os tradicionais romances policiais, thrillers psicológicos, biografias e autobiografias, além das melosas histórias de amor que tem em Nicholas Sparks o seu melhor e maior representante.

O gênero “true crime” envolve as narrativas que contam crimes reais. Os livros, podcasts ou séries de TV trazem informações sobre a investigação e reconstrução dos fatos envolvendo esses crimes. As histórias tratam da psicologia dos criminosos, bem como da forma como os crimes aconteceram, depoimentos de testemunhas e sobreviventes e o processo de investigação policial. O conteúdo dessas obras é, em sua maioria, jornalísticos: entrevistas, áudios de processos, gravações feitas em tribunais, imagens da cobertura da imprensa dos crimes e diversos outros.

O crime mais comumente retratado é o de assassinato, com uma boa parte dos títulos focando em um assassino em série. A abordagem varia entre análise do perfil do criminoso, o desenrolar do caso – com detalhes sobre as investigações –, explicação do modus operandi (o método do criminoso), e até mesmo equívocos que possam ter acontecido no processo de análise do crime.

Este gênero ganhou cada vez mais espaço nos diferentes tipos de mídia, principalmente nos livros e na televisão. Séries que abordaram os assassinatos da atriz Daniela Perez (Pacto mortal) ou a ascensão e queda da deputada e pastora Floderlis, acusada e condenada pelo assassinato de seu marido em 2019 (Em nome da mãe) explodiram nos streamings alavancando as audiências da Globay e da HBO, respectivamente. O mesmo fenômeno, mas com temas diferentes também vingaram nos livros fazendo com que a maioria das editoras explorassem esse filão ao máximo. Prova disso, foi a DarkSide que chegou até mesmo a criar uma marca relacionada ao tema batizada de “Crime Scene” e que se tornou uma das mais rentáveis da editora carioca.

Resumindo: nunca um gênero literário esteve tão em alta como o true crimes. Por isso, o “Livros e Opinião” também decidiu embarcar nessa onda e elaborar uma postagem direcionada, especialmente, aos leitores que apreciam essa categoria de livros. Neste post, escolhi 10 obras de “true crimes” que ganharam a cabeça da galera. Eles fazem ou fizeram parte de qualquer lista de mais vendidos. Seus temas são intrigantes e certamente irão agradar em cheio. Vamos a eles:

01 – Lady killers (Tori Telfer)

Lady Killers foi inspirado na coluna homônima da escritora Tori Telfer no site Jezebel.com. O livro é um dossiê de histórias sobre assassinas em série e seus crimes ao longo dos últimos séculos.

Telfer caprichou. Acredito que ela gastou muito tempo em suas pesquisas para montar o seu enredo. Escrever sobre assassinas em série, de um modo geral, já é difícil devido a falta de material sobre o assunto, o que não acontece quando o tema diz respeito à assassinos. Por algum motivo, o material sobre homens que matam em série é muito mais amplo do que aqueles que se referem sobre o mesmo tema, mas tendo o sexo oposto sob os holofotes. Apesar disso, a autora conseguiu escrever um livraço.

Com um texto informativo, mas também ao mesmo tempo fluido, Telfer recapitula a vida de catorze mulheres com apetite para destruição, suas atrocidades e o legado de dor deixado por cada uma delas.

Em Lady Killers você vai conhecer, por exemplo, a Vovó Sorriso, que dominou as páginas dos jornais norte- americanos em 1950 por seu carisma e piadas mórbidas. Ela teria matado quatro maridos! Outro destaque é para Kate Bender que recebia viajantes em sua hospedaria e tinha o hábito de assassinar todos que ousavam flertar com ela! Uma verdadeira viúva negra.

O que levou essas e outras Lady Killers do livro a cometerem esses crimes? Como era o seu modus operandi? Como a polícia chegou até elas?  Você irá conseguir desvendar esses mistérios após ler a obra de Tori Telfer.

02 – Serial killers – Anatomia do mal (Harold Schechter)

O subtítulo do livro de Harold Schechter já explica a sua essência: “Entre na mente dos psicopatas”. E é, exatamente, isso que os seus nove capítulos fazem. O leitor acaba mergulhando fundo na mente de predadores assassinos que ficaram famosos ao longo da história por causa das atrocidades cometidas. O autor não esconde absolutamente nada, revelando detalhes macabros de crimes horrendos e os motivos que poderiam ter levado esses serial killers a cometerem tais monstruosidades.

Serial Killers – Anatomia do Mal faz um estudo minucioso da mente dos serial killers, desde a sua infância até a fase adulta, apontando as possíveis causas que poderiam ter levado uma criança normal a se transformar num assassino cruel, sanguinário e sem remorsos.

Schechter que é professor de literatura e cultura americana no Queens College, na Universidade da Cidade de Nova York, renomado por suas obras sobre crimes verídicos, aponta os principais sinais que indicam que uma criança possa vir se tornar um serial killer no futuro. Cara! Impressionante esse capítulo! Ele explica ainda a diferença das categorias de assassinatos: em “série”, “em massa” e “relâmpago”. As nuances entre psicótico e psicopata.

03 – Modus Operandi: Guia de true crimes (Carol Moreira e Mabê Bonafé)

Carol Moreira e Mabê Bonafé tem um podcast chamado Modus Operandi que apesar do pouco tempo em atividade (nasceu em janeiro de 2020) já angariou uma audiência gigantesca.

Agora, as duas trazem para o papel toda a experiência que acumularam em mais de cem episódios em um livro para quem quer saber tudo sobre “true crimes”, um universo que conquista cada vez mais fãs.

Em Modus Operandi: Guia de true crime, as autoras abordam as principais bases do gênero de maneira simples, objetiva e bem-humorada. Entre capítulos sobre sistema de justiça, polícia, investigação, casos arquivados, serial killers e outros, a dupla descreve dezenas de crimes que impactaram o Brasil e o mundo, conta a história de assassinos em série e traz diversas curiosidades e fontes para quem quiser saber mais sobre o assunto.

Com referência a casos célebres, muitos deles contados no podcast do Globoplay, e a filmes e séries, Modus Operandi passeia pela história do gênero, listam os tipos de crime, os passos de uma investigação e como funcionam os sistemas judicial e carcerário.

O famoso Bope carioca ganha um espaço especial quando falam do sequestro do ônibus 174, em 2000, uma tragédia que exemplifica como o “sistema falhou”, de acordo com Mabê. Elas discorrem também sobre como as penitenciárias brasileiras refletem o racismo estrutural.

Tanto o podcast quanto o livro continuam sendo muito elogiados por críticos e leitores.

04 – O Caso Evandro (Ivan Mizanzeck)

No início da década de 90, várias crianças desapareceram no Paraná. Em 6 de abril de 1992, na cidade de Guaratuba, litoral do estado, foi a vez do menino Evandro Ramos Caetano, de 6 anos. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem mãos, cabelos e vísceras, o que levou à suspeita de que ele fora sacrificado num ritual satânico. Passados três meses, numa reviravolta que deixou até os investigadores atônitos, sete pessoas — incluindo a esposa e a filha do prefeito da cidade — foram presas e confessaram o crime. O caso, que ficou conhecido como "As bruxas de Guaratuba", teve imensa repercussão. 

Especulações sobre o crime diabólico preencheram páginas e mais páginas de jornais, e ocuparam a programação televisiva. Os desdobramentos judiciais se estenderam por cerca de três décadas.

Neste livro reportagem, criado a partir da pesquisa feita para a quarta temporada do podcast “Projeto Humanos”, Ivan Mizanzuk conta como procedimentos investigativos contestáveis e denúncias de tortura puseram em xeque a validade não apenas do trabalho policial, mas também das confissões dos supostos culpados.

05 – Mindhunter: O primeiro caçador de serial killers americano (John Douglas e Mark Olshaker)

Mindhunter: O primeiro caçador de serial killers americano se tornou o livro mais vendido da editora Intrínseca em 2017. A obra arrebentou em vendas naquele ano e, agora, nos tempos atuais, ainda continua conquistando novos leitores. O livro fez tanto sucesso que acabou virando uma série na Netflix.

Mindhunter: O primeiro caçador de serial killers americano mostra os bastidores de alguns dos casos mais terríveis, fascinantes e desafiadores do FBI.

Durante as mais de duas décadas em que atuou no FBI, o agente especial John Douglas tornou-se uma figura lendária. Em uma época em que a expressão serial killer, assassino em série, nem existia, Douglas foi um oficial exemplar na aplicação da lei e na perseguição aos mais conhecidos e sádicos homicidas de nossos tempos. Como Jack Crawford em O Silêncio dos Inocentes, Douglas confrontou, entrevistou e estudou dezenas de serial killers e assassinos, incluindo Charles Manson, Ted Bundy e Ed Gein.

Com uma habilidade fantástica de se colocar no lugar tanto da vítima quando no do criminoso, Douglas analisa cada cena de crime, revivendo as ações de um e de outro, definindo seus perfis, descrevendo seus hábitos e, sobretudo, prevendo seus próximos passos.

O livro é um fascinante relato da vida de um agente especial do FBI e da mente dos mais perturbados assassinos em série que ele perseguiu.

06 – A Sangue frio (Truman Capote)

Nos anos 60, Truman Capote, revolucionou a literatura com a obra A Sangue Frio. O livro, que narra desde o brutal assassinato de uma conhecida família de Kansas até a execução dos assassinos, é até hoje um marco na história do jornalismo investigativo e, referência para qualquer um que queira escrever um romance de não-ficção.

Mesmo que a obra de Capote fuja um pouco das vertentes do “true crime” já que o autor romantizou os fatos reais, não posso negar que A Sangue Frio foi um divisor de águas, ou seja, foi a partir dele que outros autores começaram a escrever romances policiais baseados em fatos reais, mas não deixando de lado as características principais do gênero “true crimes” onde o autor examina um crime real e detalha as ações de pessoas reais apesar da chamada "romantização da verdade”.

Capote narra os detalhes de um crime que chocou o estado de Kansas, nos Estados Unidos, em 15 de novembro de 1959 quando a respeitada família Clutter foi encontrada morta em sua fazenda na cidade de Holcomb. Os quatro membros: o pai Herbert, de 48 anos; a mãe Bonnie, de 45 anos; a filha de 16 anos, Nancy, e o filho mais novo, Kenyon de 15 anos, foram amordaçados e baleados por Richard Eugene “Dick” Hickock e Perry Edward Smith.

O crime teve ampla cobertura da imprensa local, por se tratar de uma família conhecida e pela gravidade, até então, não explicada das ações. Assim que soube da notícia, Capote resolveu viajar até o Kansas para cobrir a história, levou consigo a também escritora, e amiga de infância, Nelle Harper Lee. Juntos entrevistaram os assassinos e revelaram detalhes da chacina.

O livro foi lançado em 1965, acompanhou Dick e Perry até o dia da execução. O lançamento foi um sucesso instantâneo e, hoje é o segundo livro de crime mais vendido na história.

A narrativa vai muito além da cobertura de um crime, com razões e consequência para a brutalidade. Capote consegue nos fazer imergir na história. Entendendo o que motivou o crime, e os diversos ângulos que ele engloba.

07 – Columbine (Dave Cullen)

Quando falamos de massacres em escolas, o primeiro pensamento na mente de qualquer um é o (infelizmente) conhecido ‘Massacre de Columbine’. Ocorrido no dia 20 de abril de 1999, o caso entrou para a história dos Estados Unidos depois que dois estudantes do Columbine High School entraram no colégio armados e, depois de assassinarem brutalmente 13 pessoas — 12 estudantes e um professor — e ferirem outros 21, se suicidaram.

O trágico episódio — realizado por Eric Harris e Dylan Klebold — teve um impacto significativo na cultura americana e levou a debates sobre controle de armas, bullying nas escolas e saúde mental.

Dave Cullen foi um dos primeiros repórteres a chegar à cena e passou dez anos escrevendo Columbine, livro que hoje é considerado a obra definitiva sobre o tema. Os episódios recontados são uma mistura das reportagens que Cullen publicou na época com anos de pesquisa ― incluindo centenas de entrevistas com a maioria dos diretores envolvidos, a análise de mais de 25 mil páginas de evidências policiais, incontáveis horas de vídeo e áudio, e o trabalho extenso de outros jornalistas de confiança.

Columbine ganhou vários prêmios e honras, incluindo o Edgar Allan Poe Award (2010), o Barnes & Noble’s Discover Award (2009) e o Goodreads Choice Award (2009. Columbine também foi indicado em mais de vinte listas de melhores livros de 2009, incluindo The New York Times, Los Angeles Times, Publishers Weekly, e foi eleito como uma das melhores obras da década de 2000 pelo American School Board Journal.

08 – BTK Profile: Máscara da maldade (Roy Wenzl)

Ao longo de três décadas, um monstro aterrorizou os moradores de Wichita, Kansas. Um assassino em série que amarrava, torturava e matava mulheres, homens e crianças, iludiu a polícia por anos a fio enquanto se vangloriava de suas terríveis façanhas para a mídia. A nação ficou chocada quando os crimes de BTK — a sigla para os termos em inglês bind, torture, kill, que eram sua assinatura criminosa — foram enfim associados a Dennis Rader, um vizinho amigável, marido devoto e respeitado presidente da congregação de uma igreja local.

Este livro é fruto da intensa colaboração entre polícia e imprensa local. Os dois resolveram se unir e trabalhar em conjunto pois entendiam que para manter a cidade informada e a salvo, imprensa – no caso jornal – e polícia precisavam colaborar e já que o BTK queria a atenção da mídia e se comunicava com os jornais locais, por isso, nada melhor do que dividir isso com a polícia.

O autor de BTK Profile: Máscara da maldade é repórter do jornal Wichita Eagle e tinha conhecimento dos crimes do BTK ao longo dos anos. A intenção com este livro era corrigir os erros de edições que falavam dos assassinatos e escrever a versão definitivas sobre o que de fato aconteceu.

09 – Caso Henry: Morte anunciada (Paolla Serra)

Na madrugada de 8 de março de 2021, o menino Henry Borel chegou à emergência de um hospital do Rio sem respirar e com o corpo gelado. Foi levado pela mãe, Monique Medeiros, e seu companheiro, o vereador em quinto mandato Dr. Jairinho. Um mês depois, os dois eram presos, acusados pela morte da criança. 

A investigação da morte do menino de apenas 4 anos tinha tudo para ser arquivada por falta de provas e sepultada nos escaninhos da burocracia oficial. Mas o poder e o prestígio de Jairinho esbarraram em médicos comprometidos com a vida, em policiais focados em descobrir a verdade e na determinação de Paolla Serra, jornalista de “O Globo” que foi a responsável por fazer o caso se tornar conhecido publicamente e teve papel fundamental na investigação da morte de Henry Borel.

Nos últimos oito meses a jornalista se dedicou ao caso e ao livro que relata os bastidores de mais um homicídio infantil que chocou o país. Em “Caso Henry: Morte anunciada”, a autora conta informações exclusivas e inéditas que levaram à prisão do casal. Além disso, o público também poderá ver o perfil de um dos protagonistas dessa trama.

10 – Elize Matsunaga – A mulher que esquartejou o marido (Ullisses Campbell)

Foi em 19 de maio de 2012 que Elize Matsunaga matou o marido Marcos com um tiro na cabeça. Em seguida, esquartejou o corpo por cerca de seis horas, distribuindo os pedaços em malas e desovando em uma mata. Como em um filme, Matsunaga tinha planejado passo a passo após o crime. Visitou os sogros e os mostrou um e-mail falso, do qual o texto havia sido escrito por ela, que se passava pelo marido morto, dizendo que estava tudo bem. Enquanto mostrava a mensagem eletrônica aos pais de Marcos, Elize chorava afirmando que ele havia fugido com uma amante.

Dez anos após o assassinato, muitos se perguntam qual a razão de Elize ter matado seu marido. Neste livro, Ullisses Campbell narra a juventude conturbada de Elize Matsunaga, o relacionamento problemático de seus pais, o estupro na adolescência e muitas outras marcas que afetaram, e provavelmente a afetam até hoje.

Quem é Elize? Por que Elize matou seu marido? Como ela está após anos na prisão? Essa e muitas outras respostas em uma obra de Ulisses Campbell, lançada pela editora Matrix.

As opções estão aí para você que gosta do gênero true crime fazer a sua escolha. Espero ter ajudado.

Por hoje é só galera.

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