28 agosto 2011

Os 10 confrontos "heróis x vilões" mais eletrizantes da literatura

Os duelos entre heróis e vilões estão ficando cada vez mais raros na literatura. E quando digo duelo, estou me referindo aquele confronto “tetê-a-tête”, onde tanto herói quanto vilão não conta com a ajuda de nenhum aliado para vencer. São somente os dois: cara a cara e que vença o melhor.
Na realidade o que há em abundância nos quadrinhos, falta nos livros. Basta você abrir uma revista da Marvel ou da DC Comics para perceber que herói ou vilão que se preze “pega o touro a unha” sozinho, sem depender de ninguém. Prova disso são os combates antológicos entre Homem Aranha e Duende Verde, Super Homem e Lex Luthor, Batman e Coringa, Hulk e Abominável, Demolidor e Rei do Crime, além de tantos outros.
Na literatura contemporânea o que vemos são “mocinhos” assessorados por uma horda de auxiliares ou guarda costas enfrentando bandidos cercados por capangas. No final das contas, os grupos de apoio do bem e do mal é quem acabam suando a camisa para que os seus “chefinhos” se saiam vencedores. Francamente! Assim não tem graça!
Por isso, hoje, tive a idéia de homenagear os verdadeiros heróis e vilões. Aqueles personagens que dispensaram qualquer tipo de ajuda para liquidar o seu oponente. E a melhor forma que encontrei para isso foi selecionar dez confrontos entre “mocinho e bandido” que marcaram época na literatura romanceada, alguns deles antológicos. Confesso que foi difícil, mas no final deu para fazer uma seleção de embates. Os duelos selecionados fazem parte do meu contexto literário, mas com certeza, existem outros que estão em livros que desconheço ou então que ainda não tive a oportunidade de ler.
Mas chega de blá-blá-blá e vamos ao que interessa. Aos combates da literatura que deixaram saudades.
01 – Jason Bourne x Carlos, “O Chacal” ("A Identidade Bourne" e "O Ultimato Bourne") 
Jason Bourne
Esqueça aquele Jason Bourne dos cinemas, vivido pelo ator Matt Damon. Vamos nos centrar no Bourne dos livros, criado por um dos mestres da literatura de espionagem, Robert Ludlum. Ao contrário do Bourne de Matt Damon que enfrenta um bando de matadores treinados pela Treadstone,  braço assassino da CIA; o Bourne de Ludlum age a moda antiga, ou seja, prefere enfrentar um vilão clássico, no caso, o terrorista internacional Carlos, “O Chacal”.
O livro “A Identidade Bourne”, lançado em 1980 e eleito o segundo melhor romance de espionagem de todos os tempos pela Publishers Weekly, brinda os seus leitores com uma luta eletrizante entre Jason Bourne e Carlos “O Chacal nas páginas finais. A descrição do embate entre os dois personagens letais é impágável e faz com que o leitor não desprenda os olhos das páginas um minuto sequer.
Considero a disputa entre Bourne e “O Chacal”, no livro “A Identidade Bourne”, como a segunda melhor sequencia de luta da história da literatura, só conseguindo ser superada pela extraordinária batalha do Monte Badon entre os exércitos de Artur e os saxões, presente no livro “Excalibur”, de Bernard Cornwell.
Carlos, "O Chacal"
Confira a descrição de um pequeno trecho do combate dos dois e veja se não tenho razão: “Bourne lançou a cabeça rapidamente para trás enquanto o fio afiado como navalha da lâmina cortava a carne debaixo do queixo, a erupção do sangue derramando-se pela mão que empunhava a faca.. Ele lançou com força o pé direito para frente, atingindo o atacante invisível na rótula, depois fez o pivô e bateu com o calcanhar esquerdo na virilha do homem. Carlos se virou e de novo a lâmina surgiu...” Cara, vou para por aqui para não estragar a surpresa daqueles que pretendem ler “A Identidade Bourne”, mas a transcrição da luta escrita por Ludlum é uma verdadeira odisséia.
Bourne e “O Chacal” ainda voltariam a se encontrar no desafio final, onde só um conseguiu sair vivo. A conclusão da saga dos personagens se dá no livro “O Ultimato Borune” que fecha a trilogia escrita por Robert Ludlum – no segundo livro da série “A Supremacia Bourne”, “O Chacal” dá um tempo e Jason Bourne enfrenta um outro inimigo .
Em “O Ultimato Bourne”, os dois personagens, já velhos, voltam a se degladiar e apesar da idade avançada não negam fogo, com a pancadaria e o festival de tiroteio rolando soltos, mas só entre os dois, como prevê uma verdadeira luta de “mocinho e “bandido”.
02 – Harry Potter x Voldemort ("Harry Potter  e As Relíquias da Morte")
É deles o troféu “Duelo mais longo da literatura”. Também não é para menos! Os dois brigaram durante sete anos, ou se preferirem, em sete livros. No início, Voldemort estava meio “acabadaço”, após tentar matar o recém nascido Harry Potter, no berço, lançando o feitiço mortal Avada Kedavra. Mas como já é do conhecimento de todos que leram a série, a azaração não atingiu Harry que estava resguardado por um intransponível feitiço de proteção preparado pelos seus pais. Pior para Voldemort, que acabou bebendo do seu próprio veneno, pois o feitiço lançado se voltou contra ele. Resultado: Voldemort teve o seu corpo carnal destruído e só foi recuperá-lo, novamente, nos dois últimos volumes da saga.
No período em que era só carcaça, Voldemort usou outros aliados para perseguir o pequeno Potter, a maioria deles, professores de Artes das Trevas da Escola de Bruxaria de Hogwarts que faziam de tudo para agradar o seu mestre. Se os livros de J.K. Rowling continuassem nesse ritmo, certamente, Potter e Voldemort não mereceriam fazer parte da galeria desse post, além de que, o próprio menino-bruxo contou, nessa época, com a ajuda dos seus inseparáveis amigos Ron Weasley e Hermione Granger para conseguir se safar de inúmeras situações provocadas pelos fiéis seguidores “Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado”. Mas então, surgiu um livro chamado “As Relíquias da Morte” que mudou todo esse panorama. Na obra, Voldemort está totalmente recuperado e mais forte do que nunca. Quanto a Harry, deixou de ser aquele menino-bruxo dependente de seus dois amigos, principalmente de Hermione.
Em “As Relíquias da Morte”, Harry já pode ser considerado um pós- adolescente com uma personalidade firme, destemido e com espírito de liderança, além de dominar com perfeição a sua varinha mágica. O que isso significava? Simples. Que os dois personagens estavam prontos para o confronto final. Somente os dois; sem a ajuda de ninguém. E foi o que aconteceu na notável obra de Rowling.
O confronto entre Harry Potter e Voldemort no salão principal da Escola de Bruxaria de Hogwarts – quase que totalmente destruída após o ataque dos comensais da morte – é de tirar o fôlego. Expelliarmus x Avada Kedavra; quem vencerá? Pois é, já é do conhecimento de todos que Harry Potter mandou “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado” para o outro mundo; não sem antes quase “bater as botas”. É importante lembrar que anteriormente ao duelo final em Hogwarts, os dois já haviam se enfrentado na Floresta Proibida e nessa luta, Harry levou a pior, só conseguindo se salvar graças a intervenção – nada normal – de Narcisa, mãe de Draco Malfoy, que após escutar o coração de Harry confirmou para Voldemort que o menino-bruxo estava morto. Um tremendo golpe baixo em Voldemort aplicado pela mamãe de um dos inimigos declarados de Harry. Acho que não é preciso lembrar aos pottermaniacos que naquele momento, Harry estava “vivinho da silva”.
03 – Sherlock Holmes x Professor Moriarty ("O Problema Final")
Considero James Moriarty um dos maiores vilões da literatura. E olha que estou em dúvida se não o reputo como o “maior”. O sujeito é fera! Afinal de contas, ele conseguiu matar o herói do livro! Está certo que ele também morreu, mas levou junto consigo para o além o seu adversário. Ok, ok, você deve estar pensando que o adversário do professor foi um “heróizinho” medíocre, afinal de contas, ele deixou-se matar. Nada a ver. Moriarty tirou a vida de ninguém menos do que o maior detetive que o mundo já conheceu; uma verdadeira lenda da literatura policial: Sherlock Holmes.
Conan Doyle, o intrépido criador do famoso detetive inglês decidiu matar o seu personagem em 1893 no livro “O Problema Final”. Para essa tarefa criou um gênio do crime, tão inteligente e perspicaz quanto Holmes. Duas mentes brilhantes, uma à serviço do bem e outra à serviço do mal. O confronto entre Sherlock Holmes e James Moriarty pode entrar para os anais da literatura policial.
Tive a oportunidade de ler o livro e escrevo sem medo de errar que o detetive inglês encontrou o seu pior pesadelo. No livro, Holmes consegue desvendar o mistério que envolve os negócios escusos de Moriarty e assim dá o golpe final na organização criminosa do professor, desmantelando a sua rede com ramificações em praticamente todo o mundo. Um verdadeiro golpe de mestre. Mas é a partir daí que começa o pesadelo de Holmes. Jurando vingança, o professor Moriarty vai atrás do detetive como um pitibul enlouquecido. Dessa maneira, Sherlock Holmes é forçado a fugir. Cara! Quando eu li esse trecho não acreditei! Holmes fugindo de um vilão??!! Acredite, isso aconteceu. O mais famoso e destemido detetive que o mundo já conheceu fugindo para escapar da vingança de um adversário.
O professor Moriarty persegue o detetive até nos confins da Suíça e consegue encontrá-lo perto das cataratas de Reichenbach. É neste local que acontece um violento combate corpo a corpo com os dois caindo agarrados um ao outro do topo das cataratas. Pronto. É o fim do maior detetive de todos os tempos.
Depois de alguns anos, atendendo aos pedidos de seus leitores, Conan Doyle acabou ressuscitando Sherlock Holmes no conto “A Casa Vazia”.
04 - Tom Sanders x Meredith Johnson ("Revelação")
Olha, pra ser sincero, esqueça a Cruela Cruel, considerada a vilã mais malvada da Disney; a Feiticeira Branca que espalhou o terror no mundo mágico de Nárnia; esqueça também a Bruxa Malvada, considerada a algoz de Branca Neve. Meredith Johnson coloca todas essas personagens más no bolso.
Ela é dissimulada, perversa, cruel, depravada e vingativa. Pronto, será que preciso dizer mais alguma coisa sobre ela? Meredith é de uma letalidade à toda prova e o curioso: sem usar nenhum tipo de armamento ou feitiços. A moça é perigosa utilizando somente a sua inteligência, beleza e sensualidade. E que mulherão! Capaz de virar a cabeça de qualquer homem, seja ele casado, enrolado ou celibatário.
Você deve estar curioso para saber quem é essa mulher fatal. Está bem, vou revelar quem ela é. Meredith Johnson é uma das personagens centrais do livro “Revelação”, de Michael Crichton que deu origem ao filme “Assédio Sexual” com Demi Moore e Michael Douglas. Aliás, a personagem Meredith Johnson caiu como uma luva para a Demi Moore que na época do lançamento do filme, em 1994, era considerada um verdadeiro símbolo sexual de Hollywood.
Capa do livro de Michael Crichton
E para variar, o livro é muito melhor do que o filme, explorando de maneira completa a personalidade maléfica de Meredith que transforma a vida de Tom Sanders num verdadeiro inferno, levando o homem as raias da loucura.
Em resumo, o livro conta a história de Sanders, um executivo de uma bem sucedida empresa de computação que acredita ter chegado a sua vez de ser promovido a diretor, mas de maneira surpreendente, quem acaba ocupando o cargo é uma mulher (a própria Meredith) com quem ele teve um envolvimento no passado. Apesar da frustração e do constrangimento, ele resolve, em nome do profissionalismo, acatar as ordens de sua chefe, mas  logo ele descobre que um dos objetivos dela é seduzi-lo. Em virtude da recusa de Sanders, a sua chefe jura destruí-lo na empresa e assim, arma uma teia diabólica da qual Tom não consegue escapar.  
Cartaz polêmico do filme "Assédio Sexual"
O plano de Meredith é tão perfeito quanto ardiloso. Ela consegue destruir o casamento de Sanders; humilha o coitado nas reuniões da empresa, fazendo-o passar por incompetente; sabota todos os seus projetos; além de provocar a sua demissão numa inversão de papéis, já que apesar de Sanders ter sido vítima de asseio sexual, quem acaba perdendo o emprego é ele. A vilã inventou que foi o seu empregado quem tentou seduzi-la, forçando-a a ter relações sexuais com ele.
Depois de atingir o fundo do poço, o pobre homem resolve ir a luta e com a ajuda de uma advogada também arma um plano perfeito para desmascarar a sua algoz. O duelo dos dois personagens prende o leitor a partir do meio do livro quando o embate pega fogo. Defino a contenda entre Tom Sandres e Meredith Johnson como um jogo de xadrez, onde o jogador que der um lance errado perde a partida.
05 – Chiyo (Sayuri) x Hatsumomo ("Memórias de uma Gueixa")  

Sayuri, na reprodução da capa do livro

Hatsumomo, no filme baseado no livro
Chiyo – mais tarde, Sayuri – e Hatsumomo são personagens do livro “Memórias de uma Gueixa”, de Arthur Golden, que também deu origem a um belo filme em 2005, apesar de malhado injustamente pela crítica especializada.
Chiyo é uma menina pobre, filha de um pescador viúvo, que é vendida para uma casa de gueixas na cidade japonesa de Kyoto. Chegando ao local, ela passa a ser tratada como escrava realizando todos os trabalhos pesados da okyia (casa de gueixas) sendo muito maltratada pelos donos e também pela principal gueixa da casa, Hatsumomo. A vilã Hatsumomo é tão bela quanto invejosa e faz de tudo para humilhar e prejudicar Chiyo, a quem enxerga como rival. Na realidade, Hatsumomo vê um potencial enorme na garota e que se for descoberto por alguém poderá transformá-la numa gueixa muito mais bonita do que ela própria. Por isso, Hatsumomo tenta de todas as formas destruir a força de vontade existente na pequena Chiyo, fazendo intrigas, contando calunias e a humilhando.
A inveja de Hatsumomo fica incontrolável quando Chiyo é acolhida pela sua maior rival, Mameha. Sob sua tutela, Chiyo inicia um duro aprendizado até se tornar a gueixa Sayuri. Como uma gueixa reconhecida, ela passa a fazer parte de uma sociedade cheia de riquezas, privilégios e intrigas, mas sempre cercada pela inveja de Hatsumomo.
No decorrer da história, percebemos a evolução de Sayuri e a decadência de Hatsumomo. É a chance de Chiyo, agora uma gueixa famosa, devolver todas as humilhações sofridas.
06 – James Bond x Blofeld ("A Serviço Secreto de Sua Majestade" e "A Morte no Japão")
Do vasto rol de vilões de James Bond, indubitavelmente, Ernst Stavro Blofeld é o maior e mais terrível adversário que o agente inglês já enfrentou. Os dois brindaram os leitores dos livros: “A Serviço Secreto de Sua Majestade” e “A Morte no Japão” com combates homéricos, daqueles que não dá para esquecer mesmo com o passar dos anos.
Blofeld foi o único da lista que conseguiu deixar o herói com seqüelas, aliás, duas seqüelas, uma em cada livro. O primeiro golpe que desnorteou completamente James Bond foi em “A Serviço Secreto de Sua Majestade”, quando o vilão da Espectro, após conseguir escapar de 007 durante uma perseguição frenética, assassinou a mulher com a qual o espião inglês iria se casar. Para que os leitores tenham uma noção do impacto desse golpe na vida de James Bond, basta expor que Tracy foi a única mulher que ele realmente amou em toda a sua vida, chegando ao ponto de lhe propor casamento! Dá para imaginar 007 casado?! Dá para imaginar, 007 “carregando um caminhão de cimento nas costas” por uma mulher?! Taí, uma mulher conseguiu mudar todos os conceitos machistas do agente inglês. Fiz essa breve colocação para que vocês entendam a importância de Tracy na vida de Bond e como foi grande o golpe sofrido com a sua morte. Essa perda fez com que o famoso espião de sua Majestade sofresse um colapso nervoso, custando para recuperar a razão. Por esse motivo, ele quase foi desligado do Serviço Secreto Britânico, perdendo o “duplo zero” que dá licença para matar.
O outro golpe do espião da Espectro que atingiu em cheio 007, aconteceu no livro “A Morte no Japão”, quando após descobrir os negócios escusos de Blofeld; Bond mesmo eliminando o vilão,  acabou sendo vítima de uma explosão que lhe deixou com amnésia. Pronto! Esta foi a “brecha” que os russos estavam esperando para capturar Bond e lhe fazer uma lavagem cerebral. A SMERSH planejava usar Bond para assassinar “M”, o todo poderoso do Serviço Secreto Britânico. E por pouco essa tragédia não acontece logo no início do livro “O Homem do Revólver de Ouro” quando “M” conseguiu escapar por um triz.
Com um vilão desse naipe, certamente as cenas de ação são garantidas. E foi o que aconteceu nos dois livros (À Serviço Secreto de Sua Majestade e A Morte no Japão) que renderam confrontos antológicos entre Bond e Blofeld. No livro “À Serviço Secreto de Sua Majestade” destaco a perseguição em trenós de gelo entre Bond e Blofeld. Na época em que li o livro não desgrudei das páginas um momento sequer. Imagine dois trenós deslizando loucamente por uma montanha de gelo repleta de armadilhas. Já em “A Morte no Japão”, o confronto entre Bond e Blofeld atinge o clímax quando o agente inglês, após conseguir escapar de ser assado vivo em uma armadilha sai na captura de Blofeld dando início a uma luta de espadas eletrizante. Após vários golpes de lado a lado, Bond consegue matar Blofeld e assim vingar a sua amada Tracy. Mas a vingança pediu um preço bem caro: a memória de Bond; que ao tentar escapar do castelo em ebulição de Blofeld, sofre uma forte pancada na cabela ficando completamente desmemoriado. O agente inglês é dado como morto pelo Serviço Secreto de Sua Majestade.
Enfim, um dos maiores duelos entre herói e vilão na literatura policial, merecendo fazer parte dessa galeria.
07 – Van Helsing x Drácula ("Drácula de Bram Stocker")
Alguns leitores do post podem achar que estou entrando em contradição ao incluir o duelo dos personagens de Drácula de Bram Stocker nesta galeria. Para aqueles que já exclamaram: -“Van Helsing não enfrentou Drácula sozinho, mas acompanhado de um grupo de homens, por isso não merece estar nessa galeria!”; eu respondo que ele merece estar sim e com todos os méritos.
Tá certo que na obra de Stcker, o célebre professor Van Helsing, especialista em doenças obscuras, foi até o castelo do conde vampiro, na Transilvânia, acompanhado do Dr. Sweard e do destemido caçador Arthur Holmwood, mas na realidade quem segurou o rojão na hora do “vamu vê” foi Van Helsing. Quando o vampiro deu as caras, se não fosse o brilhante professor enfrentá-lo cara a cara, o grupo inteiro tinha ido para o além... e o que é pior, na forma de mortos vivos.
No livro, Van Helsing começa a sua caçada em Londres e só termina na própria Transilvânia, onde ele consegue destruir o Conde Drácula depois de um duelo mortal. Por isso, é uma questão de justiça tê-lo aqui em nossa galeria, juntamente com Drácula, é claro.
08 – Peter Pan x Capitão Gancho ("Peter Pan")
Não é apenas a literatura adulta que tem confrontos memoráveis entre heróis e vilões. Alguns livros infanto-juvenis também podem ser incluídos neste contexto, como é o caso de “Peter Pan” escrito por J.M. Barrie em 1911. Faz muito tempo que li “Peter Pan”; acho que na biblioteca da minha escola primária, mas a história de Barrie me marcou muito. Ela é empolgante e ao mesmo tempo triste e alegre, sem contar a perseguição do malvado Capitão Gancho aos meninos da Terra do Nunca que contam com a proteção de Peter Pan.
O primeiro encontro de Peter Pan com o Capitão Gancho está guardado na memória da maioria das “crianças de ontem - adultos de hoje”. É nesse duelo que o pirata tem a mão amputada por um golpe de espada após uma luta empedernida com o “menino que não queria crescer”. Quem tira proveito dessa disputa é um enorme crocodilo que abocanhou a mão do capitão e com um relógio de brinde. O animal apreciou tanto o sabor da “iguaria”, que passou a perseguir o Capitão Gancho para devorar o que lhe restou desde então. Por sorte, o crocodilo engoliu um relógio e sempre que se aproxima do navio o 'tic tac' previne Gancho de ser devorado.
Na luta final, Peter derruba Gancho na água que se depara com o terrível jacaré (agora sem o relógio) pronto para saborear o pirata.
09 – Will Graham x Fada dos Dentes ("Dragão Vermelho")
Agente especial do FBI, Will Graham, no filme
Dragão Vermelho, lançado em 2002
Não vou detalhar esse tópico por um motivo bem simples. Acabei de ler “Dragão Vermelho”, de Thomas Harris, que será o tema da minha próxima resenha, por isso, vou deixar para explorar o confronto dos dois personagens principais oportunamente. Basta dizer que o duelo entre o agente do FBI, Will Graham e o psicopata Francis Dolarhyde, vulgo “Fada dos Dentes” é exaltante. Algo que “cola” o leitor nas páginas do intrigante romance policial.
Para que você tenha uma noção do enredo de “Dragão Vermelho”, o agente especial do FBI, Will Graham por pouco não foi morto por Hannibal Lecter quando tentava capturá-lo. Com Lecter já preso, Graham é obrigado a usar o psicopata como consultor para obter maiores informações sobre Francis Dolarhyde, o “Fada dos Dentes”, um serial killer que tem deixado a cidade em pânico. Mas o que Graham não sabe é que ao mesmo tempo em que Lecter o auxilia em sua investigação também repassa ao próprio Fada dos Dentes informações sobre a família do policial.
Ralph  Fiennes como o serial killer "Fada dos Dentes"
Êpa! Pêra aí! Um livro com Hannibal Lecter, onde ele não é o personagem principal?! Isso mesmo. Em “Dragão Vermelho”, o famoso Hannibal “O Canibal”, não passa de um simples coadjuvante. Mas isto, é assunto para a resenha que estarei postando brevemente por aqui.
Durante quase todo o livro, Will Graham conta com a ajuda de uma equipe de especialistas do FBI para localizar o serial Killer Fada dos Dentes, mas quem coordena todas as ações é o próprio Grahan que é considerado paranormal por ter uma percepção aguçada. O “Fada dos Dentes” também não fica para trás, pois apesar de ser um desequilibrado mental possui um QI acima da média. Mas nas últimas páginas do livro, o embate final acontece apenas entre os dois: Graham e Dolarhyde e que vença o melhor.
Um duelo de titãs e que, de fato, deixa o leitor de “Dragão Vermelho” roendo as unhas, pois tanto herói quanto vilão tem um QI acima da média. Um encontro que merece estar nesta galeria.
Damien Karras x Demônio ("O Exorcista")
Pe. Damien Karras prosseguindo com o exorcismo de Reagan,
após  a morte do Pe. Merrin
Meu amigo... Resolvi fechar o post com esse encontro porque a briga entre o Padre Karras e o encardido saiu faísca! Quem leu “O Exorcista”, de William Peter Baltty sabe que a endemoniada Reagan deu trabalho para os padres Merrin e Karras.
As páginas onde Peter Blatty narra o exorcismo de Reagan praticado pelos dois sacerdotes são aterradoras e prendem a atenção dos leitores mais corajosos. Durante o ritual, o demônio acaba matando o Padre Merrin, então sobra para o outrora descrente Karras enfrentar o bicho. É aí que o caldo engrossa para o príncipe das trevas, pois o Pe. Karras, apesar de mais jovem e menos experiente que Merrin – num embate mortal – consegue expulsar o demônio Pazuzu do corpo da menina Reagan, mas pagando com a sua própria vida.
Como já escrevi no post sobre o livro “O Exorcista”, a cena em que Karras expulsa o demônio no “muque” é antológica.
Tai pessoal, os 10 confrontos “herói versus” vilão” mais eletrizantes da literatura, isto é, dos livros que tive a oportunidade de ler. Espero que tenham gostado.
Inté a próxima!


21 agosto 2011

O exorcista

Sempre adiei a leitura de “O Exorcista”, de William Peter Blatty. Demorei para comprar o livro e demorei para decidir à lê-lo. Lembro-me que nos meus dias de estudante secundarista, quando era um verdadeiro rato de bibliotecas, cheguei a sacar o livro (uma edição de bolso em folha de papel jornal) da estante, mas ao ler as primeiras páginas acabei desistindo. Não que o livro fosse ruim. Longe disso, a criação de Blatty é uma verdadeira obra prima; o problema era comigo mesmo. Eu considerava “O Exorcista”, o monte Everest dos livros de terror e para encará-lo tinha de estar preparado. Não queria fazer como fiz com o filme em minha pré-adolescência, quando resolvi assisti-lo e depois...  me arrependi. Fiquei sem dormir alguns dias pensando na personagem da Linda Blair possuída virando o pescoço para trás num ângulo de 360 graus e descendo uma escadaria imitando uma aranha. Sei que hoje, esses efeitos especiais são tão simplórios que chegam a ser risíveis, mas há 39 anos atrás eram, de fato, assustadores.
Bem, resumindo, após exorcizar todos os meus fantasmas e chegar a conclusão que estava em “ponto de bala” para ler a obra de Blatty, não pestanejei em comprar o livro num sebo e encará-lo. Ao terminar a leitura pude ratificar que “O Exorcista” ainda continua sendo o monte Everest das obras de terror, pelo menos daquelas que eu li.
O início do livro já cria um clima assustador, mostrando o trabalho em vão de médicos, psiquiatras e psicólogos em tentar descobrir a estranha doença de  Regan, uma menina de apenas 12 anos. Logo de cara, o leitor já vai se preparando para a “carga pesada” que está por vir, ou seja, o famoso embate entre o bem e o mal,  representados na história pelo demônio Pazuzu (que possui a alma de Regan) e os padres Merlin e Damien Karras.
Mas por incrível que pareça considerei o início do livro, que mostra o desespero dos médicos em tentar encontrar uma explicação para a doença incomum que se apossou de Regan, bem mais assustador do que a parte em que o demônio dá as caras. Quanto mais Regan vai se transformando, menos a ciência vai encontrando respostas para o seu problema. O desconhecido sempre nos assusta, pois gera incerteza e coloca em xeque as nossas convicções. William Peter Blatty nos mostra isso com perfeição no início de sua obra.
A conversa que o psiquiatra mantém, logo após hipnotizar Reagan, com a entidade do mal que se apossou da menina, chega a provocar calafrios no leitor. Se formos levar ao pé da letra, o diálogo entre os dois nada tem de incomum, mas ao constatarmos que o psiquiatra não sabe com o que está lidando, já é o suficiente para transformar aquela conversa simples em algo aterrorizante.
No momento em que a ciência esgota todos os seus recursos na esperança de curar a menina, só resta apelar para a religião, para a fé. É nesse momento que a mãe de Reagan procura o padre Damien Karras e conta a sua história. Mas, surpreendentemente, quando ela espera encontrar o apoio necessário para fortalecer a sua fé, a fé na cura de sua filha, aquele que poderia indicar esse caminho lhe dá um banho de água fria ao deixar evidente a sua descrença em Deus. O padre Karras insiste que o caso de Regan não é de possessão demoníaca, mas um problema meramente psiquiátrico, um caso de histeria. Para Karras, Deus não existe, o diabo também não. Sua falta de fé é latente. Mas qual seria o motivo da falta de fé desse sacerdote? Para dar essa explicação, Blatty “escancara” a vida de Karras para o leitor que passa a conhecer o padre em profusão de detalhes, algo que não acontece no filme.
Cena polêmica de "O Exorcista": Regan descendo a escadaria
imitando uma aranha
O livro mostra ainda o caminho que Karras percorre para reencontrar a sua fé perdida e qual foi o fator decisivo que o fez acreditar que Regan estava, realmente, possuída.
Por todos esses motivos, acredito que “O Exorcista” seja um livro sobre Karras; muito mais do que o Padre Merrin e bem mais do que o próprio demônio.
O embate entre os Padres Merrin e Karras contra o demônio é bem mais assustador no livro do que no cinema. O enredo presente nas páginas tem uma carga emocional muito mais forte do que no filme. Isto se deve aos diálogos bem elaborados entre os padres que representam o bem e o demônio, representante do mal. Esse jogo de palavras, ou melhor, esse embate de palavras cria um clima tenso no contexto da história seduzindo o leitor.
O trecho em que o Padre Karras resolve sair no muque com o espírito que domina Regan também é impagável. Enfim, tudo o que você assistiu no cinema, você verá com riqueza de detalhes na obra. Além disso, o livro traz muita coisa que foi cortada no filme, como por exemplo, detalhes sobre a origem e ritual das missas negras; o confronto anterior entre Pazuzu - o demônio que se apossou de Regan - e o Padre Merrin, quando ele ainda não era um exorcista famoso, mas apenas um auxiliar de outros padres; e como já disse, uma exposição, em riqueza de detalhes, da vida do Padre Damien Karras.
Para finalizar esse post, à título de informação, “O Exorcista” teria sido baseado nos registros de um caso real, realizado em Mount Rainier, no estado de Maryland. O jornal The Washington Post teria relatado o discurso de um padre feito numa sociedade de parapsicologia amadora, na qual este teria afirmado haver exorcizado um demônio em um menino de 13 anos de idade chamado Ronald, cujo sofrimento durou cerca de seis semanas, e terminado em 19 de abril de 1949.
Portanto tai. Você que só assistiu ao filme, mas pretende ler o livro, pode ter certeza de que a obra escrita de William Peter Blatty é muito mais assustadora do que a adaptação feita para as telonas.
Boa leitura... e bom sustos.

14 agosto 2011

Primeiro sangue

Capa original do livro lançado pela
Editora Record no Brasil em 1972
Se você pretende ler “Primeiro Sangue”, de David Morrell, livro que deu origem a série Rambo nos cinemas, esqueça o John Rambo de Sylvester Satolle. O personagem principal do romance de Morrell é encrenqueiro, problemático, turrão, prepotente, além de querer que a sua palavra sempre seja a última. Pois é, não lembra em nada aquele ex-boina verde vivido por Stallone nos cinemas que visita uma pacata cidade na esperança de reencontrar um velho amigo que lutou ao seu lado nas forças especiais contra os vietcongs. Ele só se rebela após ser humilhado e espizinhado pelo xerife da localidade. E olha que o John Rambo do filme agüentou várias provocações do “xerifão” vivido pelo Brian Dennehy. A lista de humilhações foi grande, entre as quais: alguns guardinhas rasos ficarem dando risada na cara do sujeito, tirando sarro das suas maneiras; ficar pelado e agüentar um banho na mangueira encostado na parede; ver o seu medalhão de combatente ser arrancado do pescoço pelas mãos balofas do xerife; além de outras provocações. Tudo isso, o Rambo de Stalollone suportou calado. Ele só não agüentou quando quiserem cortar os seus cabelos e fazer a sua barba, para isso, um dos guardinhas lhe deu uma chave de pescoço e sacou uma navalha. Pronto, a visão da navalha já foi o suficiente para despertar em Rambo as recordações da época em que havia sido torturado pelos vietcongs. A partir daí, o combatente se transforma numa máquina de guerra e mesmo assim faz questão de não matar ninguém no filme, apenas imobilizar ou ferir aqueles que o perseguem.
Capa do livro relançado no
Brasil após o sucesso do filme
Quanto ao livro. Bem... apague tudo, esqueça tudo. O Rambo das páginas é totalmente o inverso. Para início de conversa, Morrel não cita que ele seja um herói de guerra, apenas um combatente altamente treinado que esteve no Vietnã. E como já disse no início desse post, o sujeito é por demais encrenqueiro e questionador. Na cadeia, após ser preso para averiguação, ele é obrigado a tomar uma “chuveirada” e quando lhe pedem para fechar a torneira, pois o seu tempo já acabou, Rambo finge que não ouve e continua se lavando. Antes disso, o xerife pede que ele tire a roupa para ser revistado. No início, ele “bate o pe´” e diz que não irá atender a ordem do policial, só concordando em ficar nu após algumas ameaças.
“Primeiro Sangue” é um livro que rompe os paradigmas das histórias de heróis e vilões, bandidos e mocinhos. Morrell optou por um contexto onde não existem heróis, mas apenas vilões. Rambo e o Xerife Teasle são verdadeiros homens das cavernas que não aceitam mudar os seus princípios mesmo quando estão errados. Esta desmistificação dos romances tradicionais torna a leitura ainda mais interessante, pois você não tem aquele personagem certinho e de princípios ou, então na pior das hipóteses um anti-herói para torcer. No livro de Morrel, todo mundo é vilão mesmo! Caçado e caçadores. Um querendo ver o sangue do outro. Isto faz com que as vezes você acabe torcendo para o problemático Rambo e em outras, para o “mala” do xerife.
Diferente do primeiro filme, o personagem do livro não pensa duas vezes em puxar o gatilho para eliminar quem entrar em seu caminho; para ele a sua única amiga é a liberdade e para alcançá-la é capaz de tudo. O ex-combatente provoca várias mortes, incluindo pessoas inocentes, tudo para conseguir fugir e se ver livre.
O embate entre Rambo e Teasle é eletrizante e ao contrário do filme, o personagem não usa uma faca multifuncional, mas apenas um rifle e isso já é o suficiente para provocar uma chacina durante a sua fuga. O contexto de livro e filme são bem diferentes e acredito que Morrell ao roteirizar “Rambo – Programado para Matar”, em 1982, aproveitou muito pouco o  conteúdo de sua história escrita. Um desses raros trechos é aquele em que Rambo consegue derrubar um helicóptero com uma pedra.
E como não poderia ser diferente, o livro é muito mais profundo do que o filme dando ao leitor um perfil completo dos principais personagens. No caso de Rambo ficamos sabendo alguns detalhes de sua infância e o que serviu de gatilho para que ele entrasse no exército. Nesse ínterim tomamos conhecimento da infância sofrida de Rambo e do dia em que ele tentou matar o próprio pai. Morrell também explica em detalhes o período em que o ex-combatente se tornou um fuzileiro passando a integrar as forças especiais do exército americano. Neste ponto da obra é explicado todo o treinamento pelo qual são submetidos os soldados selecionados para integrar a elite do exército.
Quanto a Teasle descobrimos que ele também foi duro na queda, fazendo parte do exército e tendo sido agraciado com a Cruz do Mérito Militar. Na época em que estava na Marinha, o xerife participou do “Reservatório de Choisin”, uma das mais famosas batalhas da Coréia e que custou ao inimigo trinta e sete mil homens. E Teasle estava bem no meio dessa campanha, o que prova o seu valor em combate. 
Capa americana do livro
Já o xerife do filme “Rambo – Programado para Matar” é um “João ninguém” sem nenhuma experiência militar e que de caçador se transforma em presa. No livro, tanto Rambo como Teasle tem as suas qualidades em batalha, mas sem dúvida alguma, a “cria” do coronel Trautman leva vantagem, tanto no físico quanto no raciocínio rápido.
SPOILER: O final do livro é completamente diferente do filme. Após tanta matança, Rambo acaba morrendo pelas mãos de seu mentor, o cornel Trautman, que é chamado para tentar controlar a sua máquina de guerra. O ex-fuzileiro morre após receber um balaço na cabeça. Se você optou por ler esse spollier e mesmo assim ficou P. da Vida comigo, saiba que David Morrell decidiu ressuscitar o personagem num segundo livro, devido ao sucesso de “Primeiro Sangue”. Agora, como Rambo voltou do mundo dos mortos após receber um tiro certeiro na cabeça não é explicado por Morrel; também como explicar o inexplicável? (rs). No livro “Rambo II – A Missão”, ele volta e pronto.
Ah! Antes que me esqueça. Deixei a “coruja” para o final. Entre tantas passagens sangrentas e indigestas do livro, a da “coruja” é impagável. E para ser sincero, toda vez que me lembro perco o apetite. É sério, não estou brincado. Por isso, se você estiver lendo esse post antes do almoço ou jantar, pare por aqui.
Num dos momentos mais nojentos da obra, Rambo está no meio do mato, escondido numa mina abandonada e vivendo em condições sub-humanas. É quando a fome aperta e no desespero, ele não pensa duas vezes e acaba devorando uma coruja! Morrell narra em detalhes como ele limpa e preparara a coruja. Neste trecho me senti lendo um livro de gastronomia, uma gastronomia que prefiro esquecer. Confira alguns pequenos trechos: “Rambo segurou a coruja pelo dorso macio e flexível, agarrou um punhado de penas da barriga e puxou-as. Estas, ao saírem produziram um ruído estranho e áspero. Em seguida enfiou a ponta da faca (que não é multifuncional) na parte inferior das costelas”.... Ecaaa. Cara, acho melhor parar por aqui porque não quero me lembrar do resto dos detalhes.
Enfim, excetuando essa parte garstronômica, recomendo a leitura. Vale a pena, pois a obra foge completamente dos padrões tradicionais onde sempre temos os heróis de um lado e os vilões de outro.
Inté!

07 agosto 2011

Hitler

Pretendia escrever esse post um pouquinho depois do carnaval, período em que terminei a leitura do tal “calhamaço” de 1.160 páginas e mais de 1,6 Kg. Mas acabei justamente num período meio conturbado de minha vida, quando estava enfrentando alguns problemas de saúde em família, além de coincidir com o início da montagem desse blog. Resultado: a resenha do tal calhamaço ficou para trás. Então, ontem, recebi um telefonema do Afrânio, um velho amigo dos tempos de universidade, que me estimulou a fazer a tão adiada resenha.
- E aí Zé, leu o livro?
- O livro do seu amigo?
- Credo em Cruz!
Após rir do Credo em Cruz  assustado do Afrânio, disse que havia lido sim e que tinha achado uma obra muito esclarecedora. Enfim, tinha gostado do livro apesar do seu tamanho fenomenal e assustador.
Hitler foi o amigo que o Afrânio esconjurou pelo telefone e que, com certeza, a maioria (para não dizer todos) os leitores desse blog também iriam querer manter distância absoluta.
Não me pergunte porque fui deixando essa resenha pra depois e colocando outras menos importantes neste blog... sei lá. Talvez, tenha sido alguns trechos – de fato – perturbadores da obra, como os detalhes descritos sobre a matança de judeus que chegou muito perto do aniquilamento de uma raça ou a infância complicada do Fuhrer, principalmente no que se refere ao relacionamento com os seus pais. Não consigo explicar, mas creio que por ter lido uma obra “pesada” (nada a ver com quilos – rs) e “densa” me senti um pouco “down”, com as baterias descarregadas e então, quis manter uma certa distância do tema. Fuga? Falta de coragem? Fragilidade? Tudo bem, entenda como quiser; só sei que após mais de 1.100 páginas sobre a vida de um personagem tão maligno, responsável pelo massacre de um número assustador de judeus,  além de ter deixado um saldo de 50 milhões de mortos, resultado de uma guerra provocada por ele, preferi arejar um pouco a mente, procurando leituras mais leves. Vejam bem, não estou querendo dizer que o livro é ruim. Nada disso. Para aqueles que querem conhecer o perfil completo desse homem que abalou as estruturas do século XX, e mais do que isso, se inteirar sobre detalhes importantes relacionados às duas guerras mundiais, trata-se de uma leitura obrigatória. Mas antes de iniciar a leitura, prepara-se muito bem, porque o teor é pesadíssimo. O autor Ian Kershaw abre as comportas sobre a vida de Hitler, narrando em profusão de detalhes todas as monstruosidades cometidas com o endosso do Fuhrer, desde o sacrifício de milhares de judeus até as experiências médicas atrozes realizadas em outras pessoas que eram consideradas uma raça impura pelos nazistas.
Se analisarmos o seu aspecto bibliográfico, o livro é tão interessante que nem mesmo o meu amigo Afrânio conseguiu escapar da sua sedução. Logo o Afrânio que dificilmente lia um livro, apenas quadrinhos da Marvel.
Ian Kershaw inicia a sua obra discorrendo sobre a infância de Hitler, e a partir daí passamos a conhecer numa riqueza de detalhes a personalidade de seus pais. O pequeno Adolf Hitler tinha um pai despótico e uma mãe submissa aos extremos, tão submissa que mesmo após a morte do marido optou por manter numa estante os seus cachimbos com os quais conversava antes de tomar uma decisão, como que pedindo permissão ao finado esposo.
Kershaw explora detalhadamente não só a infância do Fuhrer como também a de seu pai. Como ele – mesmo pertencendo a uma família humilde – conseguiu se ascender socialmente tornando-se um agente alfandegário do governo. O egocentrismo e a falta de humildade de Alois Schicklgruber – pai do líder nazista – eram tantos que ele chegou ao ponto de trocar o seu sobrenome porque achava que Schicklgruber era difícil de ser pronunciado e consequentemente memorizado pelas outras pessoas. E assim, nasceria o sobrenome Hitler que entraria para a história mundial de uma forma trágica e cruel, que todos nós queremos esquecer.
Segundo pesquisa do autor, Alois era um verdadeiro tirano não só com a sua esposa Klara, mas também com Adolf, o que explica o amor ultra-protetor e sufocante da mãe com o filho.
O livro deixa no ar que talvez, esse amor protetor “aos extremos” da mãe somado ao pavor do pai tenham sido os responsáveis pela mediocridade de Adolf Hitler nos estudos. O ditador sonhava ser artista e tentou ingressar na Escola de Artes de Viena, mas sem sucesso, pois foi reprovado duas vezes nos exames, ficando ao mesmo tempo sem estudar e trabalhar. É a partir daí que o leitor começa a entender que a vida de Hitler teve mais perdas do que conquistas.
O perfil cruel, dominador e genocida de Hitler, como conhecemos, surge após ele ingressar no exército alemão e lutar a Primeira Guerra Mundial. Kershaw explica como Hitler, da noite para o dia, se transformou na grande sensação do Partido Nazista, ou seja, de um João Ninguém a líder de uma nação. Como uma criança mimada e superprotegida pela mãe e depois um jovem com uma inteligência limitada e medíocre nos estudos conseguiria levantar multidões e reestruturar todo o exército alemão, após a Primeira Guerra Mundial? Kershaw tenta explicar esse enigma.
Kershaw mostra um Hitler megalomaníaco, hipocondríaco e que não aceitava jamais ser contrariado por ninguém. Os poucos que ameaçavam, discordar de suas idéias acabavam tendo um final trágico.
A relação de Hitler e Eva Braun também é dissecada por Ian Kershaw que mostra em sua obra como os dois se conheceram em 1929 e o que levou a jovem a manter um relacionamento tão atípico, já que a relação dos dois era mantida em segredo absoluto na Alemanha. Hitler não aparecia com Eva Braun em público de maneira alguma.
Mas, sem dúvida alguma, os capítulos que mais me impressionaram foram aqueles relacionados ao holocausto, onde a cada invasão alemã, grupos de judeus eram exterminados de uma maneira impiedosa e que manchou a história no passado. Um verdadeiro genocídio. Como já escrevi no início do post, para ler esses capítulos é preciso se preparar antes. Eles são por demais sombrios, já que o autor explana em detalhes esse período negro da história mundial.
“Hitler”, de Ian Kershaw também traz informações importantes sobre as duas guerras mundiais; a derrota sofrida pelo exército alemão na primeira guerra e que acabou originando instabilidade política, miséria e até mesmo reflexos negativos na cultura alemã.
Enfim, um livro completo... mas denso e pesado. Talvez, por esse motivo, tenha adiado tanto essa resenha, e só tenha criado ânimo para fazê-la após o telefonema do Afrânio.
Ah! Antes que me esqueça. Ian Kershaw  lançou essa obra em dois volumes nos anos de 1998 e 2000, mas devido ao estrondoso sucesso de público e crítica, ele decidiu compilar os dois volumes num só livro, com várias ilustrações e relançá-lo em 2010. Para isso, ele teve de abolir cerca de 400 páginas e mesmo assim, o livro “Hitler”, lançado pela editora Companhia das Letras, ainda ficou enorme com 1.160 páginas.
Inté!  

05 agosto 2011

Inferno na torre

Capa do livro de Richard Martin Stern

Em uma das minhas muitas madrugadas vasculhando livrarias e principalmente sebos on line “dei de cara” com  um livro que me fez voltar há décadas e mais décadas no tempo. Ao ver na capa um edifício arranha céu em chamas cercado de helicópteros e com várias pessoas no topo tentando escapar do fogo e da morte eminente, lembrei de um filme que assisti quando tinha 15 anos. Se não me engano, a produção é de 1974, na época em que os filmes apelidados de disaster-movies estavam fazendo história. Lembro-me de alguns: “O Destino do Poseidon”, “Terremoto”, “O Enxame” e é claro “Inferno na Torre” .
A capa do livro em questão é exatamente de “Inferno na Torre”. Não fiquei em dúvida um minuto sequer; comprei logo o livro por um preço módico. E para ser sincero, não me arrependi. O enredo é muito bom e consegue prender o leitor, à exemplo do filme com Paul Newman e Steve McQueen. Em resumo é a história do drama de um grupo de pessoas influentes convidado a participar da inauguração da Torre, considerado o edifício mais alto do mundo com 125 andares. Após um defeito num dos sistemas de segurança, o prédio acaba sofrendo um incêndio que vai se alastrando, deixando completamente isolados no último andar: prefeitos, governador, senadores, empresários, milionários e outros convidados ilustres. Enquanto isso, um corajoso bombeiro e o arquiteto que projetou a Torre se unem – apesar das divergências – para tentar salvar as pessoas que estão presas no topo do edifício cercadas pelas chamas.
Aqui vale uma curiosidade para aqueles que assistiram o filme de 1974. A superprodução cinematográfica dirigida por Irwin Allen foi baseada em dois livros: “The Glass Inferno”, de Thomas N. Scortia e “Torre de Vidro”, de Richard Martin Stern, que nas edições posteriores teve o seu nome trocado para “Inferno na Torre”, pegando uma “rabeira” no mega-sucesso do filme nos cinemas.
O livro de Martin Stern que emprestou parte de sua história para a criação do filme, por sua vez, é muito diferente do próprio filme. Enquanto Irwin Allen apostou nas cenas de ação onde não faltam explosões, quedas, tomadas de cenas frenéticas e muita pirotecnia; Martin Stern procurou mesclar adrenalina com drama. Estou tentando explicar que o livro “A Torre de Vidro” ou “Inferno na Torre” não se resume a ação, cedendo um espaço considerável para os conflitos pessoais, familiares e profissionais dos seus personagens principais.
O conflito central envolve o casal Nat e Zib. Ao projetar a Torre, Nat, um jovem e respeitado arquiteto exigiu que o engenheiro responsável pela obra utilizasse equipamentos de segurança – principalmente elétricos – de última geração para evitar acidentes graves como um incêndio. Nat ama Zib com quem é casado há vários anos, mas a sua dedicação ao trabalho acaba provocando um distanciamento entre os dois. O autor vai contando o drama do casal que vai aumentando a cada dia: Nat só pensando no trabalho e Zib fica fantasiando relações com outros homens. E justamente quando explode o incêndio na Torre, Nat se ausenta ainda mais de casa, fazendo com que a sua mulher tenha um caso extra-conjugal com um outro sujeito. Quem? Leia o livro e garanto que você irá se surpreender com o “Ricardão”, já que ele era amigo do arquiteto, antes do incêndio, e tem uma papel fundamental na tragédia da Torre.
Cena do filme "Inferno na Torre"
Martin Stern nos mostra ainda como pessoas importantes, verdadeiros líderes mundiais acostumados a tomar decisões difíceis capazes de modificar a vida de milhares de pessoas, se comportam numa situação de extremo perigo, quando a sua própria vida está risco. Neste contexto conhecemos o governador Bent Armitage que assume o controle da situação quando o incêndio começa a se alastrar, atingindo o último andar. Ele prova ser capaz de dar a própria vida para salvar um cidadão comum, provocando a ira de seus assessores e guarda-costas. O senador Jake Peters, adversário político de Armitage, também é outro personagem que me cativou. O velhinho é fogo! Não tem papas na língua, o que tem para dizer, diz “na lata”, mas por outro lado, tem a mesma personalidade altruística de Armitage. Peters se transforma no braço direito do governador no controle daquele momento dramático quando a morte passa a rondar o 125º andar.
O comandante dos bombeiros também tem uma relação conflituosa com Nat e vive dizendo à ele coisas do tipo: “nossa função é apagar o fogo dos arranha-céus que vocês constroem”. Mas no final, ambos se tornam aliados na esperança de encontrar meios de controlar as chamas.
Na trama de Martin Sterm há também os maus caráter; alguns tão bem construídos pelo autor que são capazes de despertar raiva e ódio nos leitores. Milionários que tentam enganar as pessoas na esperança de se salvarem; políticos que se julgam no direito de serem os primeiros a saírem do prédio em chamas por se sentirem mais importantes do que os pobres mortais, e assim por diante.
Mas de todos os personagens destituídos de valor, com certeza, o pior deles é o engenheiro Paul Simmom, responsável direto pelo incêndio da Torre já que não seguiu as especificações técnicas do projeto de Nat. Ele optou por comprar materiais elétricos de quinta categoria pagando um preço bem menos por eles. Depois, Simmons, simplesmente, embolsou o dinheiro que sobrou com a economia de materiais. A irresponsabilidade do engenheiro acabou causando o incêndio da Torre.
Martin Stern capricha nas relações dramáticas de seus personagens, mas por outro lado, não esquece da ação que também norteia a história. O trabalho incessante de bombeiros, engenheiros e construtores que juntamente com Nat tentam encontrar meios de salvar as pessoas presas no último andar do arranha-céu em chamas prende o leitor como uma teia de aranha. Quando o grupo descobriu um meio de retirar, pelo menos algumas  as pessoas do edifico, juro que agarrei as páginas do livro e não parei a leitura até a conclusão do contexto.
Enfim, “Inferno na Torre” ou “A Torre de Vidro” é um livro que vale a pena ser lido, e como vale. Depois, de “lambuja”, você ainda pode assistir ao filme de Irwin Allen que também é magnífico.
Boa leitura... e bom filme!
                 

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