26 setembro 2015
Thammy: Nadando Contra a Corrente
Não que eu seja sanguessuga, mas pela segunda vez em
menos de um mês li um livro emprestado, novinho em folha, que caiu em minhas mãos
ainda dentro da embalagem. O seu dono – o mesmo amigo que já havia me
emprestado “Morri para Viver” – foi visitar a Bienal do Livro no Rio de Janeiro
e neste dia estava acontecendo o lançamento de “Thammy: Nadando Contra a Corrente”, a
biografia polêmica do ator e apresentador Thammy Miranda”, filho da cantora
Gretchen. Resumindo: ganhei o prazo de dois dias para ler o livro e entregá-lo ‘são
e salvo’ ao seu proprietário que estava com a sua lista de leitura bem
atrasadinha.
Li o livro e gostei. “Nadando Contra a Corrente” é
tão ou até mais polêmico do que “Morri para Viver” de Andressa Urach, mas com
uma diferença: os temas – alguns até pesados – são tratados sem aquela ‘veia’
de sensacionalismo, numa linguagem franca, mas ao meu tempo leve.
Thammy foi muito feliz ao escolher Márcia Zanelatto
para escrever a sua biografia. Não conheço o filho de Gretchen, mas ao lermos o
livro imaginamos um Thammy divertido, questionador e sem papas na língua,
abordando temas que tinham tudo para ser piegas e sensacionalistas, mas não
são. Não são por quê? Culpa (no bom
sentido) da linguagem utilizada por Zanelatto. Enquanto “Morri para Viver” é
denso e chocante de maneira escancarada; “Nadando Contra a Corrente” é denso e
chocante, mas de uma maneira natural, mais ou menos assim: “Levei essa
pancada da vida, mas tudo bem, vamos
levantar, sacudir a poeira e continuar tocando”; ao contrário daquele: “PQP!
Que tombo! Que decepção! Essas coisas só acontecem comigo! Assim não dá!”.
Capiche?
“Nadando Contra a Corrente” é uma represa sobre a
vida de Thammy com todas as comportas abertas.
Ele descreve detalhadamente o seu drama no momento
em que a mãe descobriu a sua sexualidade. Na época, o jovem tinha 16 anos,
acompanhava Gretchen em shows pelo Brasil e estava apaixonada por uma produtora
de televisão chamada Carla.
O trecho do livro em que Zanelatto revela como foi a
reação violenta da mãe de Thammy ao descobrir
o romance da – na época – filha é muito forte:
"Gretchen deixou descer pelas mãos toda sua
decepção, sua revolta. Sua mente estava turva, encharcada de decepção. Não
tinha recursos, não tinha mais palavra que dessem conta do que sentia. Restava
o gesto bruto. Pegou Thammy pelos cabelos e a atirou violentamente contra o
chão. A raiva era tanta que ela poderia ter feito pior; com dificuldade,
conseguiu se segurar. Mas nenhum tipo de agressão física poderia doer mais do
que a única frase inteira que Maria Odete conseguiu dizer: "Eu preferia
ter uma filha morta do que uma filha sapatão".
Se hoje, Gretchen aceita numa boa, a transformação
sexual da filha, no início, a relação entre as duas foi bem conflitante,
chegando a violência.
A mãe do artista e apresentador ainda aparece em
outros trechos da obra, como no capítulo onde Thammy conta o período em que
Gretchen se mudou para uma cidade do sertão de Pernambuco, após se casar com um
sujeito “manguaceiro das cadela” que mamava um álcool terrível. A cantora
estava numa fase decadente de sua carreira e se apresentava em clubes, além de fazer pequenos shows. O ‘manguaça’
agredia a cantora tanto física quanto verbalmente, além de proibi-la de fazer
as suas apresentações. Durante uma discussão, ele sacou uma arma e Thammy
partiu para cima do homem implorando para que ele não matasse sua mãe. Disse
que se Gretchen morresse, ela morreria junto. Thammy conseguiu impedir que uma
tragédia acontecesse na família e enfrentou com a mãe, grávida de gêmeos, e os
irmãos, uma viagem de ônibus de três dias com destino a São Paulo.
A percepção de estar em um corpo estranho também é
destacada na biografia desde a infância do artista, quando ela pediu para a avó
um Kichute, chuteira preta com travas, que fez sucesso entre os meninos nos
anos 80. Ela adorava jogar futebol, correr e brincar de carrinhos. Ainda
criança, a mãe a flagrou fazendo xixi em pé, mas pensou que a menina queria
apenas chamar a atenção, pois ela estava grávida do segundo filho.
A decisão de fazer a mastectomia também é abordada
em detalhes; além do momento de mais
intimidade que ela teve com um homem. A autora conta que “Thammy tinha 16 e foi
para um motel após uma festa à fantasia. O namorado estava fantasiado de Zorro.
Ele queria transar, mas aí ele demorou no banho para esperar ele dormir. Depois
foi a vez de ele entrar no banho e Thammy fingir que estava dormindo. Eles
ficaram naquela negociação para não ter penetração e não teve. Esse foi o
máximo que Thammy chegou com um homem”.
Além de sua intimidade
e do passado cheio de preconceitos, “Nadando Contra a Corrente” ainda traz uma
foto do artista nu onde mostra o peito após a retirada das mamas.
Enfim, galera; um livro
polêmico, mas sem sensacionalismo.
Valeu a leitura.
24 setembro 2015
As Bruxas
Por sempre defender o lema: “Leia o que quiser e
onde quiser”, dia desses ataquei de literatura infanto-juvenil – mais para o
infantil do que para o juvenil – em plena rodoviária lotadíssima. Como tinha de
fazer uma reportagem do tipo ‘vapt-vupt numa cidade próxima, optei pelo buzão.
Enquanto aguardava o dito cujo para retornar ‘in my house’, saquei da pasta “As
Bruxas” de Roald Dahl e mandei ver.
Leitura vai, leitura vem, quando percebi, estava tão compenetrado no livro que
quase perdi o meu meio de transporte. O jeito foi continuar lendo bem acomodado
na poltrona acolchoada do buzão. Podem
acreditar, li as 178 páginas de “As Bruxas”
em pouco mais de duas horas.
Apesar dos diálogos e até mesmo do roteiro bem
simples, Dahl tem o dom de seduzir o leitor. Cara, não dá pra parar de ler. Ele
te deixa completamente a vontade e o resultado é um mergulho de cabeça em sua
história.
Antes de viajar, saquei esse livro da estante porque,
a princípio, era bem curtinho e fino – não estava a fim de levar um calhamaço de
páginas ‘fincado’ em minha bolsa como um bloco de concreto -, mas após concluir
a leitura, o meu desejo era que as 178 páginas do livro fossem na realidade 300
ou 400, pois assim, poderia desfrutar
muito mais o prazer da leitura.
O livro de Dahl ganhou uma adaptação para os cinemas
em 1990 com o título de “A Convenção das Bruxas”. A obra escrita é muito
melhor, mas o filme com Anjelica Houston também não nega fogo. Considero o
livro melhor porque é bem mais detalhista, principalmente durante as
explicações sobre bruxas dadas pelo avó do personagem principal.
Dahl conta a história de um menino inglês – que não
tem o seu nome revelado no livro – que após a morte de seus pais, vai morar com
a sua avó na Noruega. Ele ama de paixão a velhinha bondosa e esperta. A vovó
sabe tudo sobre bruxas e acaba convencendo o garoto de que elas, realmente,
existem, mas por outro lado é muito difícil identificá-las já que são parecidas
com pessoas normais e levam uma rotina de vida, também, normal. Podem ser
professoras, médicas, secretárias e por aí afora.
A velhinha vai, então, dando dicas importantes que
podem ajudar a descobrir quando uma mulher é de fato, uma bruxa. Ok, lá vai
algumas: bruxas sempre usam perucas porque são carecas e por isso tem as cabeças
cobertas de perebas. Bruxas tem os pés sem dedos e assim, quando usam sapatos de bico fino acabam
mancando um pouco. Bruxas tem as narinas um pouquinho dilatadas para poder
farejar melhor o cheiro das crianças que planejam roubar e matar. Estas são
algumas das dicas da vovó, mas há muitas outras que você descobrirá ao ler o
livro. Resumindo: bruxa de verdade nem parece bruxa. E é aí que mora o perigo.
Nas férias escolares, avó e neto vão viajar para a
Inglaterra e ficam hospedados num hotel de luxo. No local está acontecendo uma
convenção anual de um grupo de respeitadas senhoras que fazem parte do grupo
Rel Soceidade para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças (RSPCC). Ocorre que
todas essas senhoras distintas são na realidade... bruxas!! E elas tem um plano
maligno.
Tanto o garoto quanto a vovó acabam se unindo para
tentar evitar que as tais bruxas consigam levar adiante o seu objetivo.
Amei livro e filme!
21 setembro 2015
A Garota na Teia de Aranha
Acredito que fui um dos primeiros a adquirir “A Garota na
Teia de Aranha”. Estava muito curioso para saber como David Lagercrantz se
sairia como sucessor de Stieg Larsson na sequência de uma das sagas mais bem
sucedidas da literatura policial contemporânea.
Como sabemos, após o sucesso da trilogia idealizada por
Stieg Larsson – que morreu em 2004, aos 50 anos, vítima de ataque cardíaco,
antes da publicação e do sucesso de seus três livros – os herdeiros do autor,
excetuando a sua viúva que se posicionou contrária a idéia de dar novo fôlego à
saga, concordaram que os
personagens Blomkvist e Lisbeth voltassem a atuar sob nova batuta. O maestro
dessa vez seria Lagercrantz.
Apo se tornar
público, o interesse dos familiares de
Larsson em publicar um novo livro, o circo pegou fogo. A coisa fedeu! Enquanto
o pai e o irmão de Larsson queriam de qualquer maneira a publicação de um
quarto livro pelas mãos de um novo autor, a viúva Eva Gabrielsson se
posicionava totalmente contrária á idéia.
Não pretendo entrar
nos detalhes dessa briga familiar, que acabou se tornando uma ferrenha disputa
judicial. Aqueles que quiserem saber os detalhes desse ‘péga prá capá’ podem
acessar aqui onde dou mais informações. O que pretendo, agora, é falar sobre o
livro que acabei de ler na quinta-feira passada.
Cara, “A Garota na Teia de Aranha” tem um enredo legal,
mas...
Caraca, sei não se foi uma boa Lagercrantz ter aceito
segurar esse rojão. Após ter lido o livro acho que o autor recebeu um
verdadeiro presente de grego dos familiares de Larsson.
Existem dois tipos de personagens na literatura: comuns e
antológicos. Os primeiros, apesar de fazer sucesso junto aos leitores, tem
poucos traços marcantes em sua composição e por isso podem ser ‘tocados’ por
muitos outros escritores, que não sejam o seu criador. Já o segundo tipo...
pode mesquecer. Eles pertencem a uma elite de personagens intocáveis, que só
podem ser ‘manuseados’ por aqueles escritores que lhe deram vida, ou seja, seus
verdadeiros pais. Se algum outro metido a besta resolver mexer nesses
personagens, acredite: vai dar merda. Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist – Lisbeth, bem mais – pertencem a
classe dos antológicos.
Entenderam, agora, porque achei que a
autorização para seqüenciar a trilogia de Larsson foi um ‘presentaço de grego’
para Lagercrantz?
Pois é, mas apesar disso, ele soube lidar,
em parte, com esse presente indigesto. O enredo mesmo sendo um pouco enfadonho
em alguns trechos, consegue prender a atenção do leitor. Os personagens
secundários, também cumprem bem o seu papel. Mas toda vez que Lisbeth e Mikael
são tocados pela ‘pena’ do autor, o negócio fica ‘meio que’ complicado. Larsson
conseguiu imprimir uma personalidade própria a hacker e ao jornalista da
revista Millennium, algo intocável.
Lagercrantz bem que tentou, mas não deu. A sua Lisbeth é mais pacata e
insegura, enquanto a Lisbeth de Larsson é menos cordial e mais firme. Aliás, eu
amava a personalidade dessa garota no passado (rs).
O que posso dizer é que entre mortos e
feridos, alguns se salvaram – enredo e personagens menores -, por o porque
daquela famosa frase: “o livro até que é bom, mas...”.
Inté!
19 setembro 2015
O Dia do Chacal
Li “O Dia do Chacal” de Frederick Forsyth na minha
fase de ‘rato de biblioteca’ quando fica enfunado no meio de uma imensidão de
livros da biblioteca municipal. Costumo dizer que a biblioteca pública de minha
cidade foi encolhendo com o passar dos anos, seguindo uma linha contrária a
evolução natural das coisas. Ao invés de ir crescendo e se aprimorando, ela foi
encolhendo e perdendo atrativos, até ficar reduzida a espaço ‘piquitico’ e
quase sem livros.
Mas na época em eu era um pré-adolescente, a saudosa
biblioteca ocupava um salão oval enoooorme, rodeada de obras de cima a baixo e com
a mesa da bibliotecária ficando no centro. Cara, era a coisa mais linda que
existia! O sonho de todos os leitores. Hoje, no local funciona – acho que – a sede
de um clube de futebol amador que nem sei se existe ou não.
Foi naquele espaço encantado – pelo menos para mim –
que conheci “O Chacal” e Claude Lebel: dois personagens que foram os
responsáveis pelas minhas noites em claro e pelas broncas levadas de minha mãe.
– Zé, você está acordado ainda?! Amanhã você tem que levantar cedo prá ir para
a escola. Apaga essa luz e vai dormir logo menino! – gritava ela. Mas no fundo, eu sabia que a sua
bronca era da boca para fora, já que ela ficava feliz em saber que, apesar da
pouca idade, eu já era um devorador de livros.
Pois bem, estas duas pessoas – quer dizer – estes dois
personagens me encantaram nos anos 70. Ora, torcia para o sujeito contratado
para matar Charles De Gaulle; ora, torcia para o cara que tinha a missão de
impedir esse ato terrorista. O Chacal idealizado por Forsyth, apesar de ser
considerado vilão, tem o poder de seduzir o leitor. O autor compôs um
personagem tão inteligente e detalhista que em certos momentos da trama, sem
perceber, você se vê torcendo por ele. Então, entra em cena Label, tão
inteligente e detalhista quanto o Chacal, aí lá vai você trocar de lado em sua
torcida. Este vai e vem na ‘preferência popular’ – bandido-mocinho,
mocinho-bandido – para descobrir quem
leva a melhor no final é constante. O carisma de Chacal e Label são fod...
O romance é baseado em um fato real: a tentativa de assassinar
o presidente francês
Charles de Gaulle, que aconteceu em 1963, por obra de Jean Bastien-Thiry. O
carro onde estava De Gaulle chegou a ser metralhado. Thiry era um funcionário
público francês insatisfeito em perder seu cargo na Argélia,
em virtude da independência do país promovida por De Gaulle.
Forsyth ‘agarrou’ esse fato para compor a sua trama,
com algumas modificações, é obvio. A principal delas foi trocar um funcionário
publico insatisfeito por um mercenário misterioso contratado com a missão de
eliminar o presidente francês.
“O Dia do Chacal” teve a sua primeira publicação lançada
em 1971, mas depois devido ao sucesso da obra, que projetaria o nome do
Forssyth mundialmente, muitas outras edições passaram a ser lançadas.
No livro, o “Chacal” é contratado por uma
organização do exército francês, inimiga da independência da Argélia, para dar
cabo do presidente De Gaulle. O mercenário bonito, carismático, com gestos
refinados e sem identidade definida mata, friamente, todos aqueles que se
colocam em seu caminho para cumprir a missão de eliminar De Gaulle.
O livro é dividido em três partes: “Anatomia de um
Complô”, “Anatomia de uma Caçada Humana” e “Anatomia de um Assassinato”. A
primeira parte destaca os detalhes perfeccionistas de como o Chacal planeja o
assassinato. A segunda, tem início no momento em que as forças policiais passam
a procurar o Chacal. “Anatomia de um Assassinato” é a mais curta e se refere ao
desfecho da trama.
O livro começa lento, com muitos personagens e
trechos descritivos, mas depois, com o virar das páginas, a “coisa” vai
engrenando. À partir da segunda parte, quando começa o jogo de gato e rato
entre o Chacal e o detetive Label, o enredo se torna eletrizante.
Cara, resumindo, um livro que vale a leitura e
muito!! Tanto é que apesar de décadas passadas, os detalhes da trama ainda continuam
‘fresquinhos’ em minha memória.
Por hoje é só!
17 setembro 2015
O Espetáculo Mais Triste da Terra – O Incêndio do Gran Circo Norte Americano
Você se lembra do incêndio do edifício Joelma? Com
certeza a resposta será: “Claro que sim!”. Mas se eu lhe perguntar sobre o
incêndio do Gran Circo Norte-Americano, você ficará “boiando” – como costumava
dizer o meu velho pai, o saudoso Kid Tourão.
Mas, se compararmos as proporções das duas
tragédias, o incêndio do circo que aconteceu em 17 de dezembro de 1961 em
Niterói, foi muito mais devastador.
Segundo dados oficiais, o Joelma teve 191 vítimas fatais, enquanto o Gran Circo
Norte-Americano computou, supostamente 503 mortes. Mas por que ‘supostamente’?
Cara, o incêndio foi tão demolidor, tão catastrófico, que após mais de meio
século, ninguém conseguiu apontar, exatamente, quantas pessoas perderam a
vida carbonizadas. Alguns estudiosos acreditam que esse número chegou a mil.
Há uma explicação para que esta tragédia tenha caído
no esquecimento através dos anos: a sua gravidade. O incêndio atingiu
proporções tão dantescas que o Rio de Janeiro – incluindo moradores,
autoridades e médicos que atenderam as vítimas naquela época – preferiram
apagá-lo de suas memórias, de suas vidas. Tanto é, que poucos cariocas gostam
de falar sobre o assunto. E esta foi uma das barreiras encontradas pelo autor
fluminense, Mauro Ventura para escrever o seu livro. Mas após um exaustivo e
minucioso trabalho investigativo, ele conseguiu desenterrar informações
preciosas sobre o incêndio.
“O Espetáculo Mais Triste da Terra” foi um dos
livros jornalísticos mais esclarecedores
que já li em toda a minha vida: uma obra completa. Ventura explorou todos os
ângulos da catástrofe que paralisou o País há 54 anos. Mesmo sem o advento da
internet e nem mesmo dispondo da facilidade do DDD (Discagem Direta a
Distância) – a Embratel só surgiria em 1965 – o incêndio do Gran Circo
Norte-Americano causou comoção em praticamente todo o mundo, mobilizando
médicos, artistas e voluntários de vários países, logo após a tragédia.
Após entrevistar médicos e sobreviventes, o autor conta
detalhadamente como ocorreu o incêndio. A sessão do circo chegava ao fim quando
se ouviu o grito de “Fogo!”. Na hora em que a trapezista Antonieta Stevanovich
deu o alerta, mais de três mil pessoas, a maioria crianças, lotavam a matinê do
dia 17 de dezembro de 1961, em Niterói, então capital do estado do Rio.
Bastaram menos de dez minutos para que Niterói nunca
mais fosse a mesma.
Ventura reconstitui em detalhes o drama das pessoas
que enfrentaram um verdadeiro inferno naquele dia. Um fato funesto que ajudou a
projetar o nome do cirurgião plástico Ivo Pintanguy e que contribuiu para
desenvolver a cirurgia plástica no Brasil.
Devido a franqueza do autor - que não esconde nada, ‘derramando’
na mesa, sem meias palavras, todo o resultado de toda a sua pesquisa - o livro chega
a ter trechos chocantes e que impressionam o leitor, como por exemplo o momento
em que ele revela que o número de vítimas era tão grande que chegavam a ser
transportadas em caminhões: mortos e agonizantes lado a lado, já que não dava
para identificar os mortos dos vivos.
Outra passagem forte é o capítulo em que Ventura
reconstitui o exato momento do acidente. Cara, é como se você estivesse ali, no
meio daquelas três mil pessoas. “Crianças, adultos e velhos foram atropelados e
pisoteados quando tentavam escapar. O perigo também vinha do alto. À medida que
as chamas avançavam pela cobertura, davam origem a uma chuva de gotas
incandescentes, que atingiam corpos e cabeças”.
Um suspeito pelo incêndio logo foi detido, mas sua
prisão dividiu o País: seria Dequinha o verdadeiro culpado ou um exibicionista
que tinha mania de assumir crimes que não havia cometido? Para uns, ele era o
mais terrível genocida de que até hoje se tem notícia no Brasil; para outros, o
bode expiatório ideal para dar satisfações rápidas à sociedade.
Juro que as falhas da polícia carioca no caso me
deixaram boquiaberto. Teve situações hilárias que mais se pareciam com os quadros
do humorístico Zorra Total, entre os quais a ‘brilhante’ tática de disfarce adotada
pelos policiais para evitar o linchamento de Dequinha pelas pessoas insandecidas
que cercavam o prédio da delegacia. Pois é, os ‘experts’ decidiram criar um
disfarce de PM para o suposto assassino com direito a quepe, farda e outros
apetrechos. Tudo estaria nos ‘trinques’ se os investigadores não tivessem se
esquecido dos sapatos ou coturnos. Iimagine você vendo um oficial da polícia
muito bem trajado, mas descalço!
Quer mais? Ok, lá vai. Quando a viatura da polícia
estava conduzindo Dequinha para um lugar secreto – executando várias manobras
para despistar o grande número de curiosos – tentando ser a mais discreta
possível - o motorista se esqueceu de um detalhe. Desligar sirene!!
Enfim, um livro sem segredo e que estará desnudando
todo o mistério que envolveu o incêndio do Gran Circo Norte-Americano.
Confiram abaixo algumas passagens bem fortes de “O
Espetáculo Mais Triste da Terra” que selecionei após a leitura. Trechos que
deixam mais do que evidente a dimensão daquela tragédia.
“O governador do Rio, Celso Peçanha, convocou os serviços de
todos os marceneiros e carpinteiros para a fabricação urgente de caixões no
estádio Caio Martins. A quadra ficou
lotada. Mal os esquifes eram finalizados, seguiam levados por outros voluntários.
O barulho das marteladas na madeira foi ouvido a noite toda pela cidade.
Ninguém cobrou nada pelo trabalho. No total, governo e prefeitura mandaram
construir 400 caixões”.
“O fogo teve início a cerca de vinte metros da entrada, do lado
esquerdo. Veio de baixo, a menos de três metros do chão, mas lambeu a lona com
tamanha rapidez que, ao ser visto, não pode mais ser contido. As labareda
avançaram com uma fúria inconcebível num espaço que até pouco antes era
dominado pela alegria das crianças.”
“No início, vinham uma, duas, três, no máximo quatro vítimas por
veículo. Logo depois, já paravam na porta do hospital caminhões com feridos
empilhados”.
Enfim galera, é isso aí. Em alguns momentos me
coloquei no lugar daquelas famílias e percebi que estava com os olhos úmidos.
Leitura obrigatória para aqueles que querem saber
todos os detalhes da maior tragédia que o nosso país enfrentou nas últimas
cinco décadas.
Inté!
13 setembro 2015
10 Filmes que dariam livros fantásticos
Muitas pessoas cantam enquanto tomam banho; eu tenho
o hábito de pensar em baixo do chuveiro. Meio esquisito né? Mas como diz aquele
velho ditado: “cada louco com a sua mania”. Grande parte dos posts do “Livros e
Opinião” surgiram enquanto estava com o sabonete nas mãos e uma ducha quentinha
caindo deliciosamente no corpo. E pra variar, dia desses, enquanto dava uma relaxada
num banho hiper-gostoso, altas horas da madrugada, me deu um insight daqueles
que chegam de repente e sem avisar: “Já pensou se vários filmes famosos tivessem
sido livros antes de se tornarem filmes?” Cara, imagine “Poltergeist, O
Fênomeno” nas páginas e só depois, então, ter a sua adaptação para os cinemas
ou “Seven – Os Sete Crimes Capitais” bombando nas páginas? Mêo, seria
fantástico!
Acredito que tanto o enredo, quanto os cenários e
personagens desses filmes teriam condições de serem melhores desenvolvidos nos
livros. Sei lá galera, ler uma obra literária e só depois vê-la transportada
para as telonas é algo por demais especial para nós leitores vorazes. Fica
aquela expectativa gostosa do tipo: “Puxa como será que os roteiristas vão
adaptar esse trecho do livro?” “Qual ator será escolhido para viver fulano ou
ciclano?”. Vai, não mente hienn?! Não é uma sensação gostosa?
Pois é, após esse insight no chuveiro, decide
escrever um post sobre o assunto, selecionando 10 filmes que, na minha opinião,
seriam verdadeiros Best-sellers se não tivessem... se tornado filmes! Vamos ao
nosso toplist
01
– Seven, Os Sete Crimes Capitais
Este filme daria um BestSeller tão bom quanto “O
Silencio dos Inocentes” de Thomas Harris. Para aqueles que estão achando
exagerada a minha afirmação, basta ver os ingredientes fantásticos do roteiro
elaborado por Andrew Kevin Walker: dois detetives com personalidades totalmente
diferentes trabalhando juntos num caso; um perigoso serial killer, cujo modus
operandi se baseia nos sete pecados capitais; a corrida contra o tempo para
deter o assassino, antes que ele feche o seu círculo, eliminando a sétima
vítimas; a escolha dessas vítimas, de acordo com os seus pecados capitais. Putz!
Que história daria mêo!
O suposto autor poderia dividir o seu livro em sete
capítulos, cada um correspondente a um pecado capital e narrando a corrida dos
dois detetives para conter a onda de mortes do serial killer. O perfil
psicológico das sete vítimas também poderia ser bem explorado. Uhauu! Demais!
Pena que no caso de “Seven, Os Sete Pecados
Capitais” a indústria cinematográfica foi mais esperta do que a indústria
literária.
02
– ET – O Extraterrestre
O filme de 1982 é um dos maiores sucessos de
bilheteria de toda a história do cinema, mas se algum escritor tivesse tido um
‘insight’ antes de Melissa Mathison – Hã-hã!!! E você que pensava que o enredo
havia saído da cabeça de Steven Spielberg, heinnn?!... Nõ, nõ... Ele apenas
dirigiu o blockbuster.
O drama do pequeno extraterrestre E.T., perdido na
Terra e empenhado em telefonar para sua casa, comoveu milhões de espectadores
há 30 anos e poderia, com certeza, emocionar também um grande número de
leitores.
Fico pensando como seria contada nas páginas a comovente
história da amizade especial surgida entre um solitário garotinho e o
carismático ET deixado, acidentalmente, na Terra.
E pensar que o roteiro de Mathison chegou a ser
rejeitado pelos estúdios Columbia Pictures por considerar que não havia um
público para esse tipo de filme. Uma decisão que lamentariam mais tarde, já que
o filme é até hoje um dos títulos mais rentáveis e emblemáticos da Universal
Studios.
03
– Dublê de Corpo
Queria ter lido essa história, mesmo ciente do sério
risco de plágio que o autor imaginário estaria correndo, já que o roteiro
desenvolvido por Brian de Palma e Robert J. Avrech faz várias referências
diretas e indiretas à “Janela
Indiscreta” e “Um Corpo Que Cai”. Mas, quem sabe... talvez... o escritor pudesse
explicar na introdução de sua obra, que estaria fazendo uma homenagem à Alfred
Hitchcock ou então qualquer outra desculpa. Mas
algo que não posso negar é que “Dublê de Corpo” darias um l-i-v-r-a-ç-o.
Cara, o filme é repleto de reviravoltas. Quando você
pensa que vai acontecer algo lógico, pimba! Lá vem um fato inesperado. E por aí
vai. Acredito que os leitores iriam devorar avidamente cada página da história.
Para aqueles que desconhecem o roteiro de De Palma, “Duble de Corpo” conta a história de
um fracassado e claustrofóbico ator de filmes B que sem ter onde morar acaba
recebendo uma proposta irrecusável de um colega: ficar num belo apartamento de
um amigo seu, até conseguir uma casa. No novo apartamento, ele presencia
estranhos acontecimentos com uma vizinha, e passa a persegui-la e a querer
ajudá-la, mas desconhece o perigo que está correndo.
04
– Um Tiro na Noite
Taí mais um roteiro com a marca de Brian de Palma.
Caraca, esse cara não poderia ter nascido escritor ao invés de roteirista ou
diretor?!! No roteiro de De Palma e Bill Mesce Jr., um talentoso técnico de áudio – vivido por John Travolta - que ganha a
vida gravando sons especiais para filmes de terror, acaba captando com o seu
equipamento, acidentalmente, um acidente de carro que mata um candidato à
presidência e fere sua jovem amante. Depois disso, o técnico de áudio é arremessado em um mistério ainda mais
aterrorizante do que qualquer dos filmes em que trabalha! Logo ele e a amante
do candidato precisam lutar para manterem-se vivos, pois vão descobrindo uma
explosiva conspiração política que atinge até mesmo os mais altos níveis
governamentais.
“Um Tiro na Noite” venderia mais do que água no
deserto. Putz, bem que poderia ter saído, primeiramente o livro; aí
entonce...ele estaria livre para ser adaptado para o cinema.
05
– O Sexto Sentido
O final desse filme de horror psicológico é
fodástico. Daqueles finais de derrubar no chão não só o queixo do cinéfilo, mas
todo o seu corpo. Enfim, um tombo completo.
Bem que o indiano naturalizado americano, M.Night
Shyamalan poderia ter optado pelas páginas ao invés das telas. Dessa maneira, nós
leitores inveterados, ganharíamos um presente inesquecível: “O Sexto Sentido” em
livro, antes de ser adaptado para os cinemas. Mas, nem tudo é perfeito...
Mil vezes caramba!!! Aquele final em que o
personagem do Bruce Willis descobre... Caraca, que arraso!!
“O Sexto Sentido” conta a história de um menino
isolado e incomodado com o seu dom de ver e falar com os mortos. Ele recebe o
acompanhamento de um psicólogo infantil, igualmente perturbado, vivido por
Bruce Willis, que tenta ajudá-lo.
O roteiro do filme vai mostrando vários detalhes,
aparentemente comuns, durante os seus mais de 100 minutos de exibição, mas no
final, esses detalhes, supostamente, insignificantes acabam sendo os
responsáveis pelo tombo no telescpectador. Já imaginou tudo isso num livro?!
06
– Chuva Negra
Este filme de 1989 é um de meus favoritos. Há
tempos, imagino os personagens de Michael Douglas (Nick) e Andy Garcia
(Charlie) nas páginas de um romance policial. O roteiro escrito por Graig
Bolotin e Warren Lewis é muito bom e posso garantir que – se o filme não
existisse – teríamos um ‘super Bestseller’.
No cinema, os dois amigos policiais
de Nova York tem a missão de escoltar um assassino membro da máfia japonesa
Yakuza de volta ao seu país natal, o Japão; chegando lá, no aeroporto de Osaka,
o prisioneiro escapa. Nick e Charlie tentam então trabalhar com relutantes
policiais japoneses para tentar recapturá-lo, logo a dupla se vê perdida no
Japão – onde não sabem se deslocar, além de ignorar o idioma -, o que os conduz
ao submundo exótico de Osaka e direto para o centro de uma furiosa e brutal
batalha entre gangues Yakuza.
Acredito que um dos pontos fortes
do livro – isto é, se um dia ele tivesse existido – seria a amizade entre os
dois policiais. Uma amizade tão sólida que um deles chega a desafiar a própria
Yakuza após algo que aconteceu com o seu amigo.
Nossa! Que livro! Mas... paciência.
07
– Ainda Muito Loucos
Sou grato há um amigo por ter indicado esse filme há
alguns ou muitos anos atrás. Valeu, mesmo, Marcelo Daniel. Você é o cara por
isso. Quase sempre lá estou eu assistindo as peripécias do Strange Fruit; um
grupo de rock – fictício – que fazia muito sucesso nos anos 70, mas em meio a
‘fogueira de vaidades’, drogas, mulheres, egos elevados e outras ‘cositas más’
que geralmente acabam culminando com a morte de muitas bandas de rock ou heavy metal, o Strange Fruit também morreu.
Mas num ‘belo dia’, um de seus integrantes resolve
“ressuscitar’ a banda com o objetivo de fazer uma turnê. Seria uma ótima idéia
desde que o vocalista não fosse um inimigo mortal do baixista ou então que o
guitarrista (considerado a alma do grupo) estivesse internado num sanatório ou
ainda que a confiança de todos eles estivesse muito abalada após o fiasco do
último show, há duas décadas, quando absolutamente tudo deu errado no palco.
Apesar dessas circunstâncias, eles resolvem voltar. Cara, o final é
e-m-o-c-i-o-n-a-n-t-e.
08
– Rede de Intrigas
Este filme do diretor Sidney Lumet exibido em 1976
nos cinemas seria um verdadeiro BestSeller. O roteirista Paddy Chayefsky esteve
inspirado quando escreveu a história de um
locutor de noticiário de uma rede de televisão americana que é demitido em razão da baixa audiência do
programa. Ele, então, anuncia que irá cometer suicídio no
ar. Por esta razão, os índices de audiência do programa voltam a crescer, ele
passa a ser conhecido como o Profeta Louco, e é readmitdo. Evidentemente,
quando o tal "profeta" perde a capacidade de seduzir o público,
alguma providência tem que ser tomada contra ele. De preferência, diante das
câmeras e com uma platéia dentro do estúdio....
A tensão que rola durante todo o
filme iria prender os leitores a cada página devorada.
O autor do livro poderia explorar
ao máximo – como aconteceu no filme de Lumet – a falta de ética que rola nos
bastidores da televisão, além da mentalidade capitalista e inescrupulosa dos
empresários ‘todo-poderosos’ que sugam a capacidade e o empenho de seus
funcionários até o bagaço e depois... os jogam fora.
09
– Rain Man
Veja só a sinopse resumida desse filmaço de 1988 com
Tom Cruise e Dustin Hoffman: “Um jovem yuppie
(Tom Cruise) fica sabendo que seu pai faleceu. Eles nunca se deram bem e não se
viam há vários anos, mas ele decide ir ao enterro e quando vai cuidar do
testamento fica sabendo que herdou um Buick 1949 e as roseiras premiadas do seu
pai, sendo que um "beneficiário" tinha herdado três milhões de
dólares. Fica curioso em saber quem herdou aquela fortuna e descobre que foi
seu irmão (Dustin Hoffman), que ele desconhecia a existência. O irmão dele é
autista, mas pode calcular problemas matemáticos complicados com grande
velocidade e precisão. O yuppie seqüestra seu irmão autista da instituição onde
ele está internado, pois planeja levá-lo para Los Angeles e exigir metade do
dinheiro, nem que para isto tenha que ir aos tribunais. É durante uma viagem
cheia de pequenos imprevistos que os dois se compreenderão mutuamente e
entenderão o significado de serem irmãos”.
Cara, será que eu preciso falar
escrever mais alguma coisa? Vai diz aí, daria ou não daria um livro encantador?
Pena que nenhum escritor teve essa idéia antes dos roteiristas Ronald Bass e
Barry Morrow. Fazer o quê? Nós, leitores, só temos que nos conformar.
10
–Uma Janela Para o Céu
Háhahahahahaha! Coloco minha mão no fogo se agora muitos
leitores não estão me chamando de piegas. Ligo não, porque adorei o filme de
1975 com o Beau Bridges e a Marilyn Hassett – por falar nisso, por onde anda
essa excelente atriz que literalmente sumiu após 1992 ? – baseado na história
real da esquiadora americana Jill Kinmont que em 1955, aos 18 anos de idade, revela um
enorme talento para o esqui e aposta certa para vencer os Jogos Olímpicos de
Inverno de 1956. Mas, uma fatalidade põe fim a esse sonho. Após uma queda
brutal na neve, ela acaba ficando paralisada do pescoço para baixo. Ainda que
esteja impedida de praticar esportes para sempre, Jill passa a enfrentar uma
nova batalha: viver e conviver com sua deficiência. Para isso ela vai contar
com a ajuda de amigos, dos pais, parentes e de um novo amor.
Mesmo sendo ‘crianção’, em meados
dos anos 70, lembro-me de que chorei até as gotas no final do filme. Depois,
morrendo de vergonha fiquei sentado com alguns amigos no banco da praça, em
frente ao Cine São Salvador, observando as pessoas que saiam da sala de
exibição. A maioria dos cinéfilos – homens e mulheres - se debulhavam em
lágrimas! Resultado: a vergonha sumiu.
Fico imaginando essa história num
livro. Mas nem tudo é perfeito.
Inté!
09 setembro 2015
Os Melhores Contos de Faroeste
Saudades do Gilmar.
Grande amigo que estudou comigo na antiga Fundação Educacional de Bauru, hoje
Unesp. Naquela época, amigaço do peito; hoje, não sei onde está. Sumiu, assim
como sumiram muitos outros colegas e amigos daqueles anos dourados.
O Gilmar era fissurado
em filmes de ação e nos finais de semana, a nossa tchurma – Salete, Vânia,
Laurindo, Lurdinha e outros que não me lembro os nomes – nos reuníamos numa república
de estudantes para assistir aos saudosos VHS.
Ocorre que dificilmente conseguíamos assistir um filme completo. Cara,
se faltassem balas voando, facões cortando cabeças, rabos de arraia ou socos
nos primeiros cinco ou dez minutos de exibição, lá ia o Gil trocar de filme.
- “Filme bom tem que
ter porrada logo de cara!” Dizia ele.
Pois é, há poucos dias,
acho que baixou o espírito do Gilmar em mim. De repente, senti uma vontade
enorme de ler algumas histórias de faroeste, mas daquelas em que a ação já
começava a rolar logo nas primeiras páginas. Cara, bateu uma saudade enorme dos
meus tempos de leitor de pulp-fictions e apesar da minha ‘musa-espiã’ Brigitte
Montfort sempre ter sido a primeira da a lista (tanto que cheguei a dedicar
dois posts especiais em sua homenagem – ver aqui e aqui), também gostava de ler
os selos Chumbo Grosso, Chumbo Quente e Oeste Brutal, sem contar El Coyote. As
histórias do Chumbo Grosso eram as que rolavam mais ação com tiroteios a
vontade.
Para satisfazer esse
meu desejo – que nem eu sei explicar como surgiu de repente – comei a fuçar na
Internet e acabei encontrando, por acaso, no portal da estante Virtual o livro
“Os Melhores Contos de Faroeste”, uma antologia de histórias clássicas de bang
bang reunindo autores consagrados do gênero. A seleção dos contos foi feita por
Jon E. Lewis e publicada pela editora José Olympio em 1991. Não pensei duas
vezes e fechei a compra imediatamente.
Quando o livro chegou,
a minha expectativa em recordar os desafios, tiroteios, combates entre índios e
cavalarias do exército e por aí afora era enorme. Mas ao abrir a obra e ler o
seu primeiro conto... o meu ânimo afrouxou. “Os Proscritos de Poker Flat” de
Bret Harte que chegou a ganhar várias filmagens, inclusive por John Ford em
1919 é muito lento e prá ser sincero: chato demais.
A minha decepção ficou
um pouco amenizada com o segundo conto de Mark Twain. “A Caminho do Oeste” é
muito bem escrito, mas... novamente, faltaram os duelos, as rusgas entre
cavaleiros rivais, enfim, o clima do velho oeste. Twain optou por escrever uma
lorota, onde o leitor dá muitas risadas com as peripécias dos personagens. Tem até
o danado de um búfalo que consegue subir numa árvore, sem contar um curioso
coelho-jumento que corre mais do que o The Flash. Caramba, mas e o clima dos
faroestes?!
Galera, e assim, a
minha leitura foi se arrastando. “Os Melhores Contos de Faroeste” não é um
livro ruim, mas peca pela falta do ritmo acelerado das pulp-fictions. Acredito
que uma das falhas de Lewis foi optar pela seleção de muitos contos clássicos,
onde a ação demora uma infinidade de tempo para acontecer.
Dos 17 contos, gostei
de apenas oito, quanto aos outros nove, sinto muito, mas não eram o que eu
esperava. Não se salvaram nem mesmo as histórias de Mark Twain e Jack London,
dois verdadeiros monstros sagrados da literatura mundial. Vejam bem, quando
escrevo “não se salvaram”, estou querendo dizer que os contos não atenderam as
minhas expectativas - histórias viscerais do velho oeste, mesmo que
estereotipadas, mas com uma carga satisfatória de ação. Mas se você, estiver à
procura de contos clássicos ao estilo de “Os Pioneiros”, com certeza irá
gostar.
Vou comentar
rapidamente apenas os contos que li e gostei.
01
– Ao Estilo de Um Caballero (O. Henry)
Um perigoso fora da lei,
rápido no gatilho, descobre que está sendo traído pela sua mulher. Hã-hã
biduzão, tá pensando que ele vai crivar o seu rival de balas, não é? Enganou-se
amigo, porque a sua vingança é, digamos... inusitada, aliás, muito inusitada, o
que não deixa de ser terrível.
02
– Penny, O Mau (B.M. Bower)
Um conto sobre
vaqueiros que ganham a vida tocando grandes manadas de bovinos. O autor narra a
saga desses cowboys durante uma longa e perigosa travessia, justamente quando cai
um temporal devastador com raios e trovões que provocam o estouro da boiada.
Para complicar ainda mais: um desses vaqueiros, apesar de experiente, é um ‘manguaceiro’
de mão cheia. O sujeito resolveu beber todas, e logo no momento crítico em que
São Pedro decidiu abrir todas as comportas do céu. Imagine só a confusão!
03
– O Patrulheiro (Zane Grey)
É a história de um
Texas Rangers muito respeitado na fronteira, um dos melhores, para não dizer o
melhor. Além de ser às no gatilho, também é um rastreador incomparável. Num
belo dia, a garota por quem nutre uma paixão platônica é seqüestrada por um
grupo de foras da lei. E lá vai o Texas Rangers, sozinho atrás da mina.
04
– Vinho no Deserto (Max Brand)
Um fora da lei cruel,
traiçoeiro e cínico e um estalajadeiro ‘humirdi de ré’ com uma perna de pau.
Eles são os únicos personagens desse conto. O safado do fora da lei decide
humilhar ao extremo o pobre coitado do estalajadeiro, sem saber da vingança
‘terrible’ que o homem da perna de pau lhe prepara.
05
– Quando Você Leva a Estrela (Ernest Haycox)
O conto é sobre o
autêntico ‘xerifão’. Aquele que coloca a lei acima de qualquer coisa. Agora,
ele terá que provar o seu lema ao pé da letra, já que um de seus melhores
amigos decidiu se enveredar para o caminho do mal, praticando um assalto com
morte. E lá vai o xerifão!
06
– Comando (James Warner Bellah)
O conto de James Warner
Bellah serviu de base para o grande sucesso cinematográfico “Legião Invencível”
(1949) com o mito John Wayne. Um sargento veterano e durão, John Utterback
comanda com mãos de ferro o seu regimento de cavalaria, mas acaba, quase sempre,
sendo questionado pelo seu primeiro oficial, um jovem impetuoso, mas
inexperiente. A prova de que um dos dois estará com a razão acontece no final
após uma empedernida batalha contra os índios cheyennes.
07
– Os Cativos (Elmore Leonard)
Taí mais um conto que
foi parar nos cinemas com o nome de “O Resgate do Bandoleiro” (1957) com
Randolph Scott e Maureen O’Sullivan. Quatro pessoas que viajam numa diligência
(um jovem casal, um jogador e o cocheiro) acabam caindo nas mãos de um grupo de
assaltantes que os fazem reféns. O enredo de Elmore é tenso prá dedéu e o ápice
acontece quando os dois sobreviventes do seqüestro decidem encarar, na troca
de balas, o bandido mais perigoso do
grupo.
08
– Soldado Só (T.V. Olsen)
Valeu pela excelente cena
de batalha descrita com perfeição pelo autor, logo no início do conto. Um
regimento da cavalaria americana é trucidado pelo ataque organizado de um grupo
de índios. Conseguem escapar apenas um soldado e uma mulher que precisam unir
forças - esquecendo as suas diferenças, que são muitas – para chegar até o Forte
mais próximo.
Bem é isso aí galera.
Quanto ao conto “Um Homem Chamado Cavalo” que eu considerava – antes da leitura
- a pedra filosofal do livro, foi uma verdadeira decepção. Nem se compara ao excelente
filme com Richard Harrison que passou nos cinemas em 1970.
Fui!
06 setembro 2015
“Grey” chega às livrarias brasileiras dia 18 de setembro. Obra foi massacrada pela critica especializada no mercado internacional
Por aqui, tá uma loucura galera. Pelo amor de
Diosss!! Só se ouve Grey, Grey e novamente Grey. As responsáveis pela agitação,
quase sempre, são adolescentes ou pouco mais que isso, mas também, tem muitos
marmanjos infiltrados nesse meio.
Acredito que essa celeuma já se tornou rotineira em
praticamente todo o Brasil. Pera aí, corrigindo’, em todo o mundo. O novo livro
da escritora britânica E.L. James é uma versão da trilogia “Cinquenta Tons” sob
a perspectiva do milionário Christian Grey.
A obra foi lançada no último dia
18, nos Estados Unidos, data de aniversário do personagem nos livros. Em quatro
dias, 1.1 milhão de cópias foram vendidas, segundo a Vintage Books. A versão em
português deve chegar ao Brasil em 18 de setembro, apesar de algumas livrarias
virtuais anunciarem o dia 23 como a data certa para a chegada do livro.
Na saga original formada por três
livros (“Cinquenta Tons de Cinza”, “Cinquenta Tons Mais Escuros” e “Cinquenta
Tons de Liberdade”), a história é contada sob o ponto de vista de Anastasia
Steele, que, durante uma entrevista, fica encantada pelo empresário Christian
Grey. Apaixonado, o milionário quer viver um romance com a estudante e, partir
daí, ela precisa decidir se quer participar das fantasias amorosas do sedutor.
Dito e feito, a cada virada de página o leitor passa a ingressar no mundo de
jogos eróticos do casal, alguns bem picantes e estranhos.
James revelou, pelas redes sociais,
que a idéia de escrever o livro veio de um pedido dos fãs. "Christian é um
personagem complexo que sempre instigou a curiosidade do público por seu
passado turbulento e gostos sexuais peculiares", afirma. A nova obra expõe
os pensamentos, as reflexões e os sonhos do empresário.
Contrastando com a euforia que
tomou conta dos fãs de Christian Grey e Anastasia Steele, a critica especializada
detonou o novo livro da autora. Na realidade foi um verdadeiro massacre.
O jornal britânico The Guardian, por exemplo,
afirmou que, enquanto “Cinquenta Tons de Cinza” foi um retrato bastante
divertido e leve sobre a fantasia sexual de uma mulher; “Grey Cinquenta
Tons de Cinza pelos Olhos de Christian” é repetitivo, monótono e distorcido
pela visão de um sujeito psicopata.
Christian Grey não tem um "deus interior"
para se corresponder, como acontece com Anastasia, portanto, os seus monólogos
acabam revelando pensamentos mais pornográficos do que no primeiro livro da
série. O sexo também é enxergado de maneira mais direta. Em alguns trechos,
Grey revela o ciúme paranóico que sente de Anastasia, além de ficar maravilhado
com as habilidades orais da parceira na hora do sexo.
O livro começa com Grey tendo um
pesadelo sobre sua dura infância – envolvendo carros de brinquedo e a própria
mãe. Acorda confuso. "Que diabos foi isso?", pergunta a si
mesmo. O tema foi abordado no primeiro livro, mas agora volta com mais
força. Segundo a maioria dos críticos americanos, o tema peca por não trazer
novidades. A Agencia Associated Press afirmou que “o novo livro é desprovido de
qualquer verdadeira surpresa.
Confiram algumas opiniões sobre
Grey:
The Independent
"Há muito sexo gráfico, mas a sequência deixa de
excitar. Pênis antropomórfico de Grey é a estrela do show e certamente merece
um próximo volume no ponto-de-vista dele"
USA Today
USA Today
"Grey é 50 tons de monotonia"
Entertainment Weekly
"Christian Grey é um psicopata previsível em Grey"
The Telegraph
50 Tons de Cinza é tão manipuladora como seu herói sádico"
Entertainment Weekly
"Christian Grey é um psicopata previsível em Grey"
The Telegraph
50 Tons de Cinza é tão manipuladora como seu herói sádico"
Mas quer saber de uma coisa?
Independentemente dos críticos internacionais estarem malhando “Grey”,
tenho certeza que a obra baterá todos os records de vendas no Brasil, à exemplo
do que aconteceu nos Estados Unidos. Grey e Anastasia tem um Fã Clube poderoso espalhado
por todo mundo.
Fui!
Detalhes
Grey:
Cinquenta tons de cinza pelos olhos de Christian, de E L James
Editora: Intrínseca
Tamanho: 576 páginas
Editora: Intrínseca
Tamanho: 576 páginas
02 setembro 2015
A importância dos desafios literários
Nunca dei muita atenção aos chamados desafios
literários – antes e também depois de ter um blog. Achava uma grande bobagem
esse lance de estabelecer metas de leitura, coisas do tipo ler ‘tantos’ livros
em uma semana; depois, ler outros tantos livros durante um mês e assim por
diante. Na minha, outrora, inocente
concepção, acreditava que bastava abrir um livro e apenas ler, sem nenhum compromisso
firmado, ou então até aparecer outra atividade, coisa do tipo ver filme, dar um
rolê com os amigos, ver Lulu e etc.
Cara, hoje eu entendo com estava errado. Se tivesse
estabelecido metas de leitura no passado teria lido muito mais livros e
consequentemente, hoje, poderia ampliar sem nenhum problema a minha lista de compras
literárias, deixando de ser tão seletivo.
Devo essa mudança de opinião em grande parte ao meu
pai-herói, o saudoso Kid Tourão (se você ainda não conhece o Kid veja aqui). Putz, que saudades dessa fera! Que vazio no
peito... Lágrima safada vai embora pô! Bem, mas como estava dizendo escrevendo,
foi o velho Kid que me puxou a orelha
sobre a importância de se tornar um leitor mais organizado e responsável. E
esta puxada de orelha chegou ‘babando’ de duas maneiras: direta e
indiretamente.
Certa vez apareci em casa ‘voando’ do trabalho e emborquei
no meu quarto para preparar uma nova pauta de reportagem ou entrevista que
tinha de concluir com urgência. Após algum tempinho eu ouvi o famoso ‘Toc-toc’
na porta e ao abri-la, lá estava o ‘super-velhinho’ – nesta época nem tão velho
e com a saúde em dia – dizendo:
- Nossa! A sua estante tá lotada de livros!
- Pois é pai, tá mesmo.
- Será que você vai conseguir ler tudo aquilo?
- Vou tentar.
O kid deu aquele manjado sorriso matreiro e concluiu:
- Se você não conseguir ler aquela ‘bolada’ de
páginas que está na sua estante, vai ficar um bom tempo sem comprar novos
livros que goste de ler.
Após receber a puxada de orelha animal, o tonto,
aqui, ouviu uma campainha disparar no seu cérebro, parecida com aqueles alarmes que soam nos filmes de ficção cientifica, no momento em que ocorre a contaminação por um vírus letal de um laboratório ultra secreto. UÔN-UÔN-UÔN-UÔN!!!
Quando o barulho da sirene parou no meu sub-consciente,
entendi a besteira que estava cometendo. Cara! Eu amava ler, mas não estava
lendo; bem... quer dizer, pensava que lia, mas não lia. Na realidade, enquanto
trabalhava ficava acalentando a expectativa da leitura prazerosa de um bom
livro – que já estava reservado na estante – mas que só iria fazer quando
concluísse todos os meus afazeres profissionais. Resultado: quando abria o tal livro
estava tão cansado que só conseguia ler apenas três ou quatro páginas e depois,
Zzzzzzzzzzzz. Sono!
Depois, olhei para a minha estante e o meu ânimo
naufragou mais fundo do que o Titanic. PQP!! Como vou ler tantos livros
maravilhosos, ‘devorando’ no pipoco, apenas quatro páginas por dia?!! Eu
parecia um beduíno morrendo de sede no meio de um oásis, impossibilitado de beber
água porque os lábios estavam... sei lá, colados! Capiche?
Taí! Esta foi a chamada na chincha direta do Kid
Tourão. Quanto a indireta, veio recentemente e de uma forma que dói muito todas
as vezes que me lembro. O Kid já estava começando a ficar debilitado pelo
câncer quando as viagens para hospitais
de Jaú e Bauru começaram a se intensificar num ritmo frenético. Eu e meus
irmãos revezávamos nesta missão, mas mesmo assim, o tempo para outras
atividades foi ficando cada vez mais escasso. Nestas horas, me lembrava do
famoso ‘toc-toc’ na porta do meu quarto e das palavras sábias do velho. Sabia, no meu íntimo, que ele iria ficar muito
triste se eu me tornasse relapso com as minhas leituras.
Estes dois fatos em minha vida - um feliz e outro
triste – me ensinaram a importância de estabelecer metas ou desafios literários
se você estiver a fim de desfrutar do prazer pleno que a leitura proporciona.
Hoje, apesar da vida corrida que levo, não deixo jamais de cumprir as minhas metas literárias
e já posso ver com alegria que as pilhas de livros da minha estante estão
diminuindo, e muito! Posso até soltar um Iahuuuuuuu!, escancaradamente alegre.
Pois é galera, o prazer pleno da leitura voltou.
Não quero aqui estabelecer parâmetros ou dar dicas
de como você deve ler ou então de quantos livros você deve encarar. Isto
depende de cada um. Acredito que o importante é que o leitor determine suas
próprias metas.
No meu caso, procuro fazer um desafio por semana,
além de estabelecer a leitura rotineira de pelo menos 30 páginas diárias. Menos
que isso, é pecado mortal (rs). Quer dizer, como a maioria das obras tem em
torno de 350 páginas, mantendo a minha meta, consigo ler um livro a cada 12
dias.
Quanto a disponibilidade, sou bem eclético. Leio de
manhã, advinha onde??? Biduzão... no banheiro – no trono que todos sentam -, no
intervalo em meu trabalho e a noite em casa. Além desses momentos sagrados, não
desperdiço oportunidades que aparecem, principalmente quando a história é
contagiante. Vale ler em consultório médico; na fila do banco; no carro,
enquanto espero alguém; e por aí afora.
Quanto aos desafios semanais, procuro criá-los. Recentemente
fui obrigado a ler “Morri Para Viver” de Andressa Urach em um dia (ver aqui). Há
dois meses, estabeleci por meta reler (queria muito!!) em 30 dias a trilogia “As Crônicas
de Artur” (O Rei do Inverno, O Inimigo de Deus e Exaclibur), além do primeiro volume de “Crônicas Saxônicas”, ambos de Bernard
Cornwell em um mês.
Hoje, percebo que a minha leitura flui melhor e que
o prazer de ler um livro também aumentou.
Taí galera, acabei me rendendo aos famosos desafios
literários. E pensar que no passado excomungava essa prática.
Hoje quero finalizar esse post de uma maneira
diferente daqueles tradicionais: “Valeu!”, “Thanks!”, “Até a próxima!”, etc.
Quero encerrar escrevendo:
“Obrigado Tourão e 'zimbora' com os desafios!!”
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