(Contém spoilers) Para que você tenha uma idéia da qualidade da obra de Taylor Caldwell, basta dizer escrever que ontem eu me encontrava num verdadeiro inferno astral onde tudo dava errado. Logo pela manhã levei uma “sapatada” do meu ‘chefe-mor’, mas juro que o incidente que originou a tal ‘sapatada’ não foi minha culpa; depois, meu pai perde três pivôs que foram implantados recentemente em sua boca, lembrando que ele tem nevralgia do nervo trigêmio que provoca uma das dores mais atrozes que o ser humano pode sentir; à tarde, vejo um motociclista perder o controle de sua moto e, literalmente, pranchar a poucos metros de mim. Bancando o bom samaritano, parei o meu carro no estacionamento de um supermercado para ligar ao SAMU, já que o motoqueiro “caiu e apagou”; então chega um FDP bem perto de mim e diz: “Tira logo esse carro daí que eu to querendo sair!! Se mexe mêo!!”. Pode acreditar, o infeliz viu a pobre vítima apagada no chão, viu o tumulto na frente do estacionamento e o mais importante, me viu no telefone falando com o atendente do SAMU e mesmo assim ainda me esculacha! Viram só que dia !
Mas apesar de todos esses problemas que alimentaram a minha segunda-feira, eu estava feliz, aliás muito feliz, como se fosse uma sexta-feira, véspera de feriado prolongado. O motivo desse misto de felicidade com euforia era o livro “Médico de Homens e de Almas”. Naquela segunda-feira, à noite, na tranqüilidade da minha sala de leitura pretendia devorar os capítulos finais da obra de Caldwell. Não via a hora de ler o momento em que Lucano (apelido do evangelista São Lucas – assim, ele era chamado pelos seus familiares e amigos) se encontraria com Maria, mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como seria esse encontro? O que Maria iria revelar sobre a infância do Menino Deus?
O encontro de Lucano e Maria acontece nas últimas páginas de “Médicos de Homens e de Almas” e é o momento mais emocionante da obra, que por sua vez, tem muitas outras passagens capazes de quebrar o mais duro dos corações. Defino o romance de Caldwell como um poço de emoções; sendo mais claro: ‘das mais belas emoções’. Um livro capaz de fazer com que eu me esquecesse do “dia de cão” que estava vivendo. É isso aí.
Mas vamos ao que interessa: São Lucas, Lucas ou simplesmente Lucano – autor de um dos quatro Evangelhos da Bíblia e também dos Atos dos Apóstolos – foi o único apóstolo que não era judeu, nunca viu Cristo e tudo o que está escrito em seu Evangelho foi adquirido por meio de pesquisas e do testemunho da mãe de Cristo, dos discípulos e dos apóstolos.
Mesmo não tendo a oportunidade de conhecer Cristo, pessoalmente, São Lucas, que ao que tudo indica teria nascido na Antioquia, se tornou o maior defensor da fé cristã e, como Saulo de Tarso (mais tarde Paulo, o apóstolo dos gentios), não acreditava que Nossos Senhor Jesus Cristo tinha vindo para salvar apenas os judeus.
Antes de se tornar um dos maiores apóstolos de Cristo, Lucas foi um grande médico que viajou para vários países do mundo sempre com o firme propósito de cuidar da saúde dos mais pobres e miseráveis, que não tinham condições de pagar por um médico particular.
Taylor Caldwell levou 46 anos para escrever “Médico de Homens e de Almas”, mas todo esse período valeu à pena já que o livro se transformou num fenômeno de vendas através dos tempos, entrando para a lista das obras mais importantes dos últimos 100 anos.
A obra trata de Nosso Senhor Jesus Cristo apenas indiretamente, pois segundo a autora, não há romance e nem livro histórico que possam transmitir a história de Sua vida tão bem quanto a Santa Bíblia. Portanto, “Médico de Homens e de Almas” é um livro sobre a vida de São Lucas, desde a sua infância até a fase adulta. Talvez, o maior segredo do sucesso do romance de Caldwell é que a vida do apóstolo é o espelho da nossa vida no que diz respeito ao relacionamento com Deus.
Quando criança, Lucano amava o Deus Desconhecido – como era chamado pelos gregos – de corpo e alma, chegando a ficar em estado de graça após as suas orações e meditações. Mas foi só acontecer algo ruim em sua vida para que ele passasse a culpar esse mesmo Deus. Ao perder o seu grande amor, Lucano mudou a sua postura com Deus – como nós fazemos muitas vezes – e começou a culpá-lo por todas as desgraças que aconteciam com as pessoas. “Se Deus é tão bom porque não pune apenas os maus? Porque as pessoas boas que o louvam sofrem tanto?” Essas eram algumas das indagações feitas por Lucas que só vai começar a acreditar no Pai novamente, num dos trechos mais emocionantes do livro, quando Deus faz com que ele encontre uma pessoa, a qual vinha procurando há muitos anos.
E quer queiram ou não, todos nós seres humanos somos assim, parecidos com São Lucas. Amamos e louvamos à Deus diariamente; até o momento em que enfrentamos dores atrozes em nossas vidas. Então, nossa fé sofre um abalo e passamos a questionar o nosso Pai e até mesmo culpá-lo por estarmos vivendo determinada provação. Após o seu reencontro com o Deus, Lucano ensina-nos que esse Deus é o Deus do amor e não da vingança e que até o fatos negativos e tristes que acontecem em nossas vidas acabam sendo importantes para o nosso crescimento como seres humanos. E bem lá na frente, esses mesmos fatos que sangraram o nosso coração, acabarão propiciando momentos felizes em nossas vidas.
É a partir desse reencontro muito especial que São Lucas começa a escrever o seu evangelho baseado no que ouvira dos apóstolos e discípulos de Jesus. Ele deixaria a primeira parte do seu livro reservado para o relato de Maria, a mulher que carregou Deus em seu ventre.
Lucano passa vários meses à procura de Maria e quando ele a localiza... agüenta coração!!! O encontro de Maria com o apóstolo é uma avalanche de emoção.
Maria relata detalhes da infância de Jesus; do amor de seu esposo José pelo Menino Deus e dos brinquedos que fazia para Ele quando garoto; do embate entre Jesus e Satanás que ao tentar seduzi-lo a esquecer a humanidade, fugindo assim da crucificação, acaba sendo refutado e expulso pelo Cristo. Maria narra para São Lucas os detalhes desse encontro do seu filho com o anjo do mal e que teria sido presenciado por ela. A Virgem conta, ainda, de maneira minuciosa como foi o momento da aparição do Arcanjo Gabriel que anunciou que ela seria a mãe de Jesus. Revela também detalhes de seu encontro com a prima Isabel e da origem do canto Magnificat.
Escritora Taylor Caldwell |
Além da emocionante narrativa de Maria, a obra de Caldwell prende o leitor por explorar detalhes interessantes da vida de vários personagens bíblicos que aparecem apenas discretamente nos quatro evangelhos, apesar de terem vividos momentos decisivos com o Mestre. É o caso, por exemplo, de Hillel bem Hamram, o rico judeu que ao ver Jesus pregar, se aproximou e perguntou: - “Bom Mestre, o que devo fazer para merecer a vida eterna?”. Ao que Jesus, respondeu: - “Conheces os mandamentos, não deves matar, roubar, dar falso testemunho ou cometer adultério. Deves honrar teu pai e tua mãe. O rico judeu respondeu: - “Desde a minha juventude respeito os mandamentos”. Então, Jesus finalizou dizendo: - “Falta-te uma coisa: vende o que tens, pois é rico, e dá o resultados disso aos pobres. Então, terás os tesouros do céu”. Ao ouvir essas palavras, o homem rico ficou muito triste porque não queria dispor de seus bens, então, virou as cotas e foi embora.
Em “Médicos de Homens e de Almas”, Lucano encontra Hillel em profunda depressão, desejando apenas a morte, arrependido de não ter seguido Jesus. Agora é tarde demais porque o Cristo já fora crucificado. Cabe à Lucano acalmar o espírito atormentado do homem, dando-lhe a paz que tanto procurava. Após ouvir as palavras reconfortantes do apóstolo, Hillel se recupera e narra com pormenores como foi o seu encontro com Jesus naquele dia, inclusive a passagem em que Ele repreende os seus apóstolos dizendo: “Deixai vir à mim as crianças, pois é dela o reino dos céus”.
Durante o romance, Hillel vem a se tornar um dos melhores amigos de São Lucas, ajudando-o, inclusive, a localizar o paradeiro de Maria.
Outra passagem que merece ser lembrada é o encontro de Lucano com o seu irmão Prisco, o soldado romano que ficou incumbido da crucificação de Jesus. Segundo a autora, os homens que fixaram os cravos que rasgaram as mãos e os pés de Jesus durante a sua crucificação estavam sob o comando de Prisco. Antes desse momento de dor, os olhares do soldado e de Jesus se cruzam e então algo acontece...
Pouco tempo após a crucificação, Prisco também se entrega ao remorso e em seu leito conta toda a sua história para o seu irmão. Este seria o Evangelho da crucificação escrito por São Lucas.
Muitos outros personagens importantes cruzam o caminho de Lucas e assim o apóstolo vai ouvindo os testemunhos dessas pessoas e escrevendo o seu Evangelho. É o caso de Pilatos; Heródes; o centurião romano chamado Antônio que teve um amigo curado por Jesus naquela famosa passagem bíblica: “Senhor diga só uma palavra e ele será curado”, se lembram?. E mais: Ramo, o liberto de Lucano que presenciou Jesus devolver a vida ao filho único de uma viúva que chorava a sua morte; o soldado romano Aulo que se converteu ao ver Jesus criando a oração do “Pai Nosso”; enfim todos esses personagens ajudaram São Lucas a escrever o seu Evangelho.
Enfim, “Médicos de Homens e de Almas” é um livro cativante e emocionante... Tudo isso e muito mais.
Para ler, reler e se emocionar.
13 comentários
Estou terminando de ler esse livro e realmente é uma obra prima da escritora!
ResponderExcluirAcabei de ler a página 547 e não vejo a hora de conhecer o encontro de Maria com Lucano.
É bom demais!!
Riquezas de detalhes são as marcas desse livro!!
Boa tarde,
ExcluirJanet Taylor C. é minha autora favorita. Já li muitos livros dela, estou iniciando O desafio do justo. Já percebi, pelas dedicatórias que ela faz ao marido dela, que ele lhe é muito precioso. Neste que inicio agora, ela diz: "Ao meu adorado marido William Robert Prestie, que sempre 'reage como homem'." O que vocês entendem que ela quer dizer como "reage como homem", entre aspas? Porque se ela tivesse escrito sem as aspas, eu até acharia natural um elogio ao marido, salientando sua condição declaradamente de homem no seu papel tradicional, mas as aspas, me deixaram com um ponto de interrogação!
Também fiquei encantada com a riqueza de detalhes, viajei na narrativa que é muito bem elaborada por sinal,vale a pena ler e recomendo....
ResponderExcluirSuely, não há como não ficar encantado com essa obra de Taylor Caldwell. O encontro entre Lucano e Maria é por demais emocionante. haja coração!
ExcluirAbcs!
Minha mãe leu esse,livro antes doo meu nascimento e amou tanto o romance que me deu o nome de Lucano. Li esse livro duas vezes e é apaixonante.
ResponderExcluirLucano, o livro de Taylor Caldwell se tornou mitológico por causa dessas histórias reais tão bonitas e especiais... como a sua e de sua mãe.
ResponderExcluirAbcs!!
Só faltou contar o final. PÉSSIMA resenha!
ResponderExcluirLi muitos livros de Taylor Caldweel numa determinada época, e apesar de achá-la conservadora demais em alguns pontos de vista, é uma excelente escritora. Essas biografias de figuras do catolicismo e figuras históricas ainda não li, mas pretendo futuramente.
ResponderExcluirComece com "Médico de Homens e de Almas". Acredito que irá gostar.
ExcluirJá estava interessada nessa obra. Será minha próxima aquisição.
ResponderExcluirElenita, você não irá se arrepender. "Médico de Homens e de Almas" é uma leitura fantástica! A vida do apóstolo São Lucas é muito interessante. Um verdadeiro exemplo de fé, força e coragem.
Excluir:)
Taylor Caldweel é uma escritora sensitiva ou mediúnica, como queiram. Suas obras refletem aquilo que existe de mais importante na literatura, faz com que o leitor viaje junto com a narrativa, fazendo parte da história. Leiam também o "Grande Amigo de Deus", obra que narra a vida de São Paulo.
ResponderExcluirLucano ou Lucas, não foi apóstolo, foi evangelista.
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