Sabem quando um escritor é bom, de fato? No momento
em que ele consegue transformar um personagem amorfo, sem sal ou açúcar – com toda a minha sinceridade: um cú de vaca
que não presta prá nada – no sujeito mais carismático e fodástico do enredo.
Mêo! Prá conseguir essa proeza, o autor tem que ser fera, bom mesmo; e pode
crer, Michael Crichton fez isso.
Tom Sanders, o personagem do livro “Revelação”,
idealizado pelo saudoso autor é um cara
medíocre ao extremo. Ele só leva ‘cala-boca’ da esposa e do chefe, além de
demonstrar toda a sua incompetência ao chegar atrasado no serviço – justamente no
dia da sua promoção!! - para poder suprir a inabilidade da esposa em preparar
os filhos para irem à escola.
Então, o belezura chega no serviço e recebe a
informação de que não será mais promovido porque eles encontraram uma outra
pessoa bem mais jovem e impetuosa do que ele, além de ter o perfil da empresa.
Estou falando escrevendo sobre a linda e estonteante Meredith Johnson.
Ok, você deve estar pensando que Sanders depois que recebeu a notícia esbravejou,
gritou, esperneou e cuspiu poucas e boas para o velhote de seu chefe metido.
Ah! Ta! Me engana que eu gosto! Pode acreditar que ele simplesmente deu algumas resmungadas bem
baixinhas pra ninguém ouvir, se fêz de vítima e parou por aí mesmo. Mêo, para
vai! Você acha que os leitores conseguem se simpatizar com um sujeito assim?! O
pior, é que conseguem!! Bem mais do que isso: nós conseguimos torcer por Sanders
e passamos – com o virar das páginas – até mesmo a descobrir virtudes no pobre
coitado que estavam escondidas.
Sei que Crichton morreu, que eu sou seu fã, que ele
é um gênio da escrita, mas em “Revelação”, o cara se ‘Revelou’ (desculpem o
pleonasmo) num grande dum calhorda machista ao ter transformado o seu principal
personagem masculino num herói valente e santo e a sua linda Meredith Johnson, sua
principal personagem feminina, numa Cruela dos diachos; numa vilã tão maléfica,
mas tão maléfica, capaz de fazer com que as feministas de carteirinhas –
aquelas bem fanáticas – fiquem com vontade de esganá-la e depois trucidar o seu
cadáver. Johnson é um poço de maldade bem profundo e muito mais.
Ao longo da história, Sanders vai crescendo e
mostrando aos poucos que não é tão bobo quando imaginamos. Ele acaba
conseguindo até mesmo, fazer a cabeça de uma advogada para que o defenda. Pois
é, eu falei uma advogada e não advogado. A extensão da crueldade e safadeza de
Johnson é tão extensa que consegue fazer com que uma outra mulher acabe
aceitando como cliente um homem que diz ter sido vítima de assédio sexual. A
advogada acredita mais no sujeito do que na mulher que, por sua vez, inverte os
papéis, passando a afirmar que a abusada foi ela!
No enredo do autor, Tom Sanders é um executivo bem
sucedido da DigiCom, uma empresa especializada no desenvolvimento de sistemas
de computador. Seus sonhos de alçar-se à alta gerência da organização que ele
ajudou a progredir, no entanto, começam a ruir quando ele reencontra Meredith
Johnson, uma antiga amante, com quem viveu uma relação atribulada no passado, e
descobre que ela foi escolhida para ser a nova diretora em seu lugar.
Apesar da frustração e do constrangimento, ele
resolve, em nome do profissionalismo, acatar as ordens de sua chefe. Logo
descobre que uma das determinações dela é seduzi-lo.
Pronto! Está armada a armadilha. Assediado
sexualmente, Sanders acaba envolvido numa trama em que a verdade dos fatos não
corresponde às aparências.
A manipulação cínica de dados atinge sua máxima
tensão quando ele é acusado precisamente de assédio sexual pela chefe.
Processado, Sanders com a ajuda de sua advogada, percebe que a DigiCom esconde
um mistério que caberá a eles desvendar.
Portanto galera, deu pra ver que o livro de Crichton
não se resume apenas aos ataques sexuais de Johnson para cima de um acuado
marido fiel. Por trás disso, esconde algo muito maior; um segredo que a ‘Cruela
Malévola’ e a DigiCom guardam a sete chaves e o qual Sanders pretende descobrir
a qualquer custo.
A Rocco lançou o livro no Brasil em 1993 com o
título de “Revelação”; um ano depois, Barry Levinson levaria para as telonas a
adaptação cinematográfica, mas com um outro nome: “Assédio Sexual”. E a Rocco
que não é ‘boba, nem nada’, aproveitaria a polêmica do filme para relançar, em conjunto com a L&PM a
história de Crichton, mas agora com o mesmo título do filme.
Mas deixem o cinema para lá... o livro é muito
melhor!
2 comentários
Eu ganhei esse livro há alguns anos e até hoje não me puxei a ler. Quem sabe agora, né, já que, pelo post, a história parece ser de tirar o fôlego!
ResponderExcluirO problema, é que, após ter aberto um novo sebo aqui na minha cidade (até que enfim!), me vi na obrigação de adquirir várias obras raras que encontrei por lá, dentre elas algumas de Stephen King, das antigas editoras Nova Cultural e Francisco Alves, além de Agatha Christie!!!
Conclusão: estou com um baita pilha de livros pra ler, que nem sei por onde começar!
Mas prometo que, após concluída a leitura do sensacional Os Mortos Vivos, de Peter Straub, começarei a ler a obra de Crichton.
Valeu pela postagem, e até a próxima!!!
Tex,pode ler sem receio pque "Revelação" (Assédio Sexual) é muito bom. Quanto as obras de King que conseguiu adquirir no sebo, deve ter garimpado verdadeiras relíquias (rs).
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