Uma das fases mais felizes da minha vida foi a época
de “rato de bibliotecas” quando na adolescência e juventude com a grana contada
para as necessidades básicas, tinha que apelar para as bibliotecas públicas ou
escolares para satisfazer a minha fome de devorador de livros.
Neste período – saudosos anos 70 e começo dos 80 –
mesmo com pouco dinheiro no bolso nunca deixava de adquirir um livro do qual
gostava, mas não podia abusar, por isso as aquisições próprias eram poucas. A
minha fome literária era mantida pela minha mãe, meu irmão e principalmente
pelas bibliotecas que eu visitava com frequência.
Desse período trago ótimas recordações que valeram,
até mesmo, várias postagens aqui no blog, como por exemplo essa aqui, onde
abordo a importância que algumas bibliotecárias tiveram em minha vida de
leitor.
Hoje, relembrando essa fase com Lulu, descobri, para
minha surpresa, que ela teve uma trajetória semelhante à minha. Ela também foi
uma rata de biblioteca, assim como eu; e pelo mesmo motivo: grana curta. Lulu
me disse também que era uma assinante do Círculo do Livro, mas com um adendo:
eram os seus pais que pagavam a assinatura.
Conversa vai e conversa vem, ela acabou me dando a
ideia de escrever uma postagem sobre os livros que marcaram a minha fase de
rato de bibliotecas. Achei uma boa ideia e no início queria incluir não só os
meus, mas também os seus livros marcaram a sua fase de rata (rs). Mas, a minha
ratinha achou melhor “falar” apenas sobre as obras que marcaram a minha vida de
rato. Concordei com a sua proposta e assim nasceu esse texto que você está
lendo agora. Espero que goste. Então, vamos lá.
01
– Os Doze Trabalhos de Hércules (Monteiro Lobato)
Esta obra de Monteiro Lobato marcou muito determinado
momento de minha vida. Foi o dia em que a minha mãe me levou pela primeira vez
à uma biblioteca. Esta é uma das recordações que jamais iriei esquecer: a
imagem de dona Lázara me buscando na escola primária. Antes de irmos para casa,
ela fazia questão de toda a semana dar uma passadinha comigo na a Biblioteca
Pública Municipal. Ela fazia isso com a desculpa de que iria conversar um pouco
com a sua amiga que era a bibliotecária.
Quando chegávamos por lá, antes ficar papeando com a
amiga, ela me levava para o setor de literatura infantil e dizia para que eu
escolhesse alguns livros para ler. Depois colocava esses livros sobre a mesa,
ficava um pouquinho comigo, e ia pôr as “histórias da cidade” em dia com a
amiga bibliotecária.
Foi ali que tive o meu primeiro contato com o mundo
mágico do Sitio do Pica Pau Amarelo e de seus personagens. Um dos livros que
marcou essa minha fase de leitor foi Os Doze Trabalhos de Hércules, obra que até hoje trago guardada na memória, tanto é
que já reli várias vezes, a mais recente, em outubro do ano passado.
A genialidade de Monteiro Lobato fica evidente nessa
obra. Ele consegue ensinar mitologia grega, explorando vários momentos
importantes desse gênero de uma maneira leve e divertida. É algo ímpar, uma
verdadeira magia, ver Pedrinho, Narizinho, Emília, enfim, toda a turma do Sítio
do Pica-Pau Amarelo interagindo com personagens marcantes da mitologia grega.
Outro detalhe importante que vale a releitura foi a ideia genial que Lobato
teve ao compor um Hércules diferenciado daquele ser poderoso e infalível da
mitologia. O Hércules de Lobato é mais “acessível”, ou seja, mais humano. Ele
também erra, tem as suas falhas, além de ser menos arrogante do que o Hércules
original que aprendemos a conhecer. Gostei muito dessa reconstrução do
personagem.
02
– David Copperfield (Charles Dickens)
Este livro faz com que eu me recorde de uma
bibliotecária muito especial e também muito importante em minha vida, pois
contribuiu bastante para que eu me tornasse um leitor assíduo, daqueles de carteirinha.
Posso dizer que ela foi uma das responsáveis por plantar uma das sementinhas
que desenvolveram o meu hábito pela leitura.
Dona Alice Tuma foi a minha bibliotecária no ginasial.
Ainda me recordo, vagamente, da biblioteca da antiga escola Industrial; hoje,
Escola em Tempo Integral “Professora Maria Angélica Marcondes”. Não vou
esconder que deixava de correr, jogar bola, conversa fora e também de paquerar
as alunas de outras séries, mas revelo que na maioria das vezes, aproveitava a
hora do recreio para ficar ‘enfurnado’ na biblioteca lendo os meus livros
preferidos. Toda vez que chegava no recinto, Dona Alice já ia dizendo mais ou
menos assim: “Oba! Lá vem um dos meus visitantes preferidos!” Ela tinha uma
tática infalível que era a de perguntar detalhes sobre o livro que eu havia
lido. – Me conte o que você achou da história – dizia ela. Agora me responda,
qual devorador de livros não gosta de falar sobre o que leu? Eu, claro, não era
uma exceção e assim, mais do que rápido começava a lhe contar detalhes sobre a
narrativa. Dona Alice colocava as mãos no queixo e ficava olhando para mim e
escutando com toda a atenção. Eu saía daquela biblioteca realizado e... com
mais vontade ainda de ler.
Ela usou essa tática com o clássico David Copperfield de Charles Dickens e
deu certo. Apesar dos meus 15 anos, naquela época, ainda me recordo que foi dona
Alice que me indicou esse livro, dizendo que já tinha lido e que depois que eu
lesse, iriamos conversar sobre a obra. Gostei tanto do livro que acabei utilizando-o num trabalho de escola.
David
Copperfield dispensa comentários. Basta dizer que é
um verdadeiro clássico da literatura mundial. A obra é um relato de formação de um menino
descobrindo um mundo que é, ao mesmo tempo, mágico, assustador e terrivelmente
real. Assim, seguimos a vida de David, desde a sua infância pobre e difícil até
a descoberta da vocação de escritor, numa jornada repleta de aventuras cômicas,
sentimentais e por vezes trágicas. É impossível não se comover com o destino do
personagem.
03
– Os Sobreviventes (Piers Paul Read)
Quase todo final de tarde, após o trabalho, tinha
parada obrigatória na Biblioteca Municipal e lá ficava vasculhando algumas
obras para ler. Foi durante a minha fase de reco do “Tiro de Guerra”, lá para
os meus 18 anos.
Pois é, nessa biblioteca tinha outros dois “anjos da
guarda literários”: Ângela e Cida. A Ângela utilizava uma tática quase parecida
com a de Dona Alice para incentivar o meu amor pelos livros. Sempre que chegava
na biblioteca – naquela época, funcionava onde hoje se encontra a 2ª Companhia
de Policiamento Militar - para pegar alguns livros emprestados, logo de cara ia
ganhando um elogio da Ângela - Nossa! você deve ser muito inteligente. Continue
lendo bastante. – Quase sempre, ela também me pedia sugestões de leitura.
Resumindo: As suas atitudes tinham o poder de turbinar ainda mais a minha
vontade de ler.
Já a “Cida das Flores” – ela tinha esse apelido porque
além de ter um amor enorme por flores, sempre trazia uma nos cabelos - utilizava um método diferente. Sempre que eu
passava na Biblioteca Municipal, via em cima de sua mesa dois ou três livros já
me esperando. Obras que ela já tinha lido e gostado e por isso as deixava
separadas para mim.
Cara, essas duas bibliotecárias foram dois verdadeiros
anjos literários em minha vida, à exemplo de dona Alice, minha mãe, e outros.
Os
Sobreviventes de Piers Paul Read foi uma sugestão tanto
da Ângela quanto da Cida. Gostei bastante da indicação que narra um acidente de
avião, ocorrido em 1972, que levava um time de rugby uruguaio para uma competição
no Chile e que acabou caindo caiu na Cordilheira dos Andes após se chocar com
uma montanha de gelo. O enredo narra a saga de um grupo de sobreviventes num
local isolado de tudo e de todos.
04
– Um Estranho no Espelho (Sidney Sheldon)
O meu primeiro contato com Sidney Sheldon foi numa
biblioteca. Para ser mais exato, na Biblioteca Pública Municipal de minha
cidade.
Ainda me lembro que enquanto os meus amigos, após o
serviço, iam direto para os barzinhos ou butecos da vida, o rato de biblioteca,
aqui, se enfunava no meio dos livros para mergulhar em viagens fantásticas que vários
enredos tinham o poder proporcionar. No final, sempre levava um livro para ler
em casa.
Foi naquela saudosa biblioteca que ‘peguei’ gosto
pelos livros de Sidney Shelson. Ainda me recordo que havia uma coleção de uns
10 livros do autor, a qual acabei devorando todinha. Pois é, Um estranho no espelho, fazia parte
dessa coleção. Gostei tanto do livro que acabei relendo-o outras vezes, sendo a
mais recente no mês passado.
Os personagens Toby Temple e Jill Castle foram os
primeiros de Sheldon, os quais tive contato. Eles representam, a grosso modo, o
bem e o mau, o lado médico e o lado monstro. Toby é o egocêntrico narcista,
metido e insensível. Ele se considera um rei e por isso, pode fazer o que
quiser com as pessoas e quando quiser. Por sua vez, Jill é aquela mocinha que
sofreu, foi enganada e humilhada por todos, mas mesmo assim, aguentou firme,
sem revidar. Quando os dois se encontram e começam um relacionamento, muitas
surpresas e reviravoltas começam a acontecer.
Como já citei acima, foi a partir de Um Estranho no Espelho que me tornei um
grande fã de Sidney Sheldon.
05
– O Destino do Poseidon (Paul Gallico)
Apesar de ter sido apenas um “crianção” no início dos
anos 70, ainda me recordo do filme O Destino do Poseidon sobre um enorme transatlântico que após ser atingido
por um vagalhão, vira de cabeça para baixo, fazendo com que um grupo de
sobreviventes lute para chegar ao casco antes que a embarcação afunde. Esta
produção cinematográfica com Gene Hackman, Ernest Borgnine e Shelley Winter foi
um verdadeiro “arrasa-quarteirões” em 1972.
Após ter visto o filme; no dia seguinte, fui correndo
até a biblioteca da minha escola e passei horas e horas lendo o livro de Paul
Gallico publicado originalmente em 1969 e que serviu de base para a produção
que passou nos cinemas. Anos depois, já adulto, o tal do livro voltou a minha
memória reativando toda aquela vontade louca de relê-lo. Pronto, e assim, lá
vai este blogueiro atrás da obra de Paul Gallico. Foi uma verdadeira saga para
consegui-la. Após muito esforço, localizei um livreiro que tinha a obra e
assim, realizei o meu sonho. Há anos guardo a edição de bolso de O Destino do
Poseidon (1978) com todo o cuidado e carinho numa posição de destaque em minha
estante. E imaginar que tudo começou com um filme e depois se estendeu para uma
biblioteca.
06
– Pássaros Feridos (Colleen McCullough)
Pássaros Feridos foi mais um livro da minha fase de rato de biblioteca. Descobri a obra na biblioteca da minha escola, na época do ginasial. Havia lido na minha adolescência, mas após tantos anos, resolvi rele-la e achei o enredo um tanto cansativo, Estranho, né? Na primeira vez em que li numa biblioteca, havia gostado, tanto é verdade que resolvi reler a obra depois, mas com o passar do tempo, analisando o enredo de uma maneira mais madura, acabei mudando a minha maneira de “enxergar” a história de Colleen McCullough. Apesar disso, não posso negar que foi uma obra que fez parte do meu período de rato de bibliotecas.
A saga de Pássaros
Feridos começa no início do século XX e conta os acontecimentos de três
gerações da família Cleary, misturando ambição, amor e ódio; conquistas e
derrotas. Ao contrário do que muitos leitores pensam não se trata de uma
simples história de amor proibido envolvendo uma mulher e um padre. O enredo vai muito mais
além. A autora australiana narra a saga de três gerações de uma família no
período de 1915 a 1969.
O livro aborda as alegrias e tristezas da família
Cleary - formada pelo casal Paddy, Fee e
os seus sete filhos – que devido a dificuldades financeiras decidem mudar-se de
sua humildade propriedade na Nova Zelândia e emigrar para a Austrália, após
receberem um convite de Mary Carson,
irmã de Paddy . Como ela não vê o
irmão há muitas décadas e encontra-se sozinha e com a saúde debilitada, decide
convidá-lo, juntamente com a sua família, á morarem e trabalharem em sua
propriedade chamada Drogheda, uma vasta e rica fazenda de criação de carneiros.
A partir daí começam os momentos bons e ruins vividos pelos Cleary’s. Alguns
personagens morrem, outros nascem; tristezas e alegrias chegam e vão; e por aí
afora.
Por hoje é só, inté galera!
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