Talvez eu diga uma grande besteira; sem mais enrolação
lá vai: - As pessoas que acharam o filme “O Iluminado” fantástico, com certeza,
não leram o livro de Stephen King. Já aqueles que leram o livro, acharam o
filme de Stanley Kubrick uma bomba. Pois é, eu me enquadrava no primeiro grupo
até a semana passada, mas após ler a obra de King... caraca! Mudei, na hora, o
meu modo de pensar.
Galera, Kubrick, apesar de toda a sua capacidade e
genialidade, arrebentou com o enredo construído de forma brilhante por King.
Não satisfeito, ainda modificou – para pior – as características dos
personagens da obra literária.
Acredito que os fãs do saudoso cineasta americano
estejam me excomungando, mas antes de criticarem a minha postura, leiam o livro
e depois comparem as duas obras. As diferenças são gritantes. E não me venham
com aquela velha conversa de que as vezes algo bom existente em um livro não
ficaria legal num filme. Tudo na obra de King é legal, surpreendente, além dos
personagens com características marcantes, principalmente o casal Jack e Wendy
Torrance.
Enquanto a Wendy ‘recriada’ por Kubrick – vivida
pela atriz Shelley Duval - só mostra o seu lado fraco e submisso; a personagem
original – presente nas páginas – mesmo tendo as suas fraquezas e momentos de insegurança,
na Hora H quando o ‘calo aperta’, ela se transforma numa leoa, capaz de
enfrentar a socos e pontapés qualquer Jack Torrance possuído ou neurótico. E o
calo de Wendy aperta toda vez que alguém maltrate o seu filho Danny, o
iluminado do título.
Já o Jack Torrance criado por King é complexo e
assustador. Ora boa gente, ora um velhaco; ora educado, ora descontrolado;
amoroso com o filho de três anos, mas também capaz de agredi-lo e feri-lo
fisicamente. King explica através de narrativas em flashback o motivo desse
comportamento ambíguo de Torrance e assim, o leitor toma conhecimento da
infância complicada do sujeito; culpa de sua família mais complicada
ainda. Ao final das contas, acabamos
entendendo que os principais responsáveios pelo descontrole e ‘recaídas de caráter’ de Torrance são os seus
pais.
Enquanto temos um Jack Torrance complexo e
instigante nas páginas, o personagem do filme é raso e em alguns momentos,
monótono.
Outra mudança proposta por Kubrick em sua produção
cinematográfica está relacionada ao Hotel Overlook. No livro, o hotel é um
personagem que manipula todos aqueles que freqüentam as suas dependências –
desde hóspedes a funcionários – e instiga Jack voltar a beber álcool e
assassinar a esposa e o filho. Não vemos o hotel como hotel, mas como uma
entidade do mal que manipula as pessoas. Resumindo, na obra escrita, o Overlook
é o verdadeiro vilão da história. Na verdade, no final do livro, entendemos
tudo isso, pois passamos a ver o Overlook como um ser maligno.
E quanto a Danny? Caraca! É Danny que enfrenta essa
entidade do mal. O duelo ocorre nas últimas páginas. E que duelo! Fiquei com o
coração na mão. Muito tenso. King criou um conflito de difícil solução para a
criança. Como não quero estragar o texto com spoillers, paro por aqui.
O Danny original de King é muito mais profundo, completamente
diferente do Danny genérico do filme. Ao passo que o personagem idealizado pelo
autor vai crescendo no decorrer da história, chegando ao ponto de lutar pela
sua vida e também pela de sua mãe, o Danny modificado por Kubrick é apenas um
garotinho que vê e sente fantasmas nos corredores do hotel.
No final desse post, vale um lembre muito
importante. Se forem comprar o livro
optem pela edição capa dura da coleção “Biblioteca Stephen King” lançada pela
Suma de Letras. Além do layout incrível, a obra traz ainda prólogo e epilogo
inéditos, nunca encontrados em edições anteriores.
Por tudo isso e muito mais, ta explicado por Stephen
King detestou tanto filme de 1980.
Conselho?
Leiam o livro.
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