Cujo (Uma nova resenha com novas perspectivas)

21 julho 2024

Nos meus muitos anos de devorador de livros aprendi uma máxima que sigo até hoje em minhas leituras e também nas resenhas que faço, aqui, no Livros e Opinião: “cada releitura de um livro mostra para o leitor ângulos diferentes de uma história. Por isso, cada releitura vale uma resenha, independentemente do número de vezes que lermos essa obra”. O que estou querendo “dizer” é que aos “mergulharmos” no enredo de um livro, geralmente o nosso cérebro foca em determinado plot da narrativa que julga ser mais interessante, deixando os plots secundários num processo de hibernação. Então, numa releitura dessa obra, como já temos noção do que foi o plot principal, o nosso cérebro começa a focar nas subtramas que completam esse enredo. A partir daí, percebemos que muitas dessas subtramas são tão interessantes quanto o plot principal. Foi, exatamente, isso que aconteceu comigo ao reler Cujo de Stephen King.

Quando encarei a história pela primeira vez, tão logo foi relançada em 2016 na coletânea Biblioteca Stephen King da editora Suma de Letras, direcionei o foco da minha atenção para o plot principal que é o ataque de um enorme cachorro à vários moradores de uma pequena cidade. Um cachorro antes muito amoroso, mas que ao ser mordido por morcegos com raiva acaba adquirindo a doença, transformando-se numa máquina de matar”. Este plot ainda tem - muito bem escondido em suas entranhas - uma armadilha FDP que neutraliza com muita eficiência as subtramas do enredo, por melhores que sejam. Eu conto qual é: entre as vítimas do enorme cão enraivecido da raça São Bernardo está uma mãe e o seu filho de 4 ou 5 anos – não me lembro a idade exata – que ficam presos dentro de um carro que quebra justamente no interior de uma propriedade onde está escondido o furioso cachorro.

Pimba! Se o enredo principal já prendia a atenção dos leitores, imagine agora com o reforço de uma mãe tentando salvar o seu filhar e também se proteger dos ataques da fera. Adeus subtramas! Foi isso que aconteceu comigo há tempos atrás ao ler Cujo (veja resenha aqui).

Há alguns dias, resolvi reler a obra de Stephen King porque havia comprado Mais Sombrio, novo livro de contos do autor, do qual faz parte Cascavéis que é a sequência de Cujo.

Como gostei muito de Cujo resolvi reler essa história para não perder nenhum detalhe de Cascavéis – já deu pra perceber que comprei Mais Sombrio somente por causa desse conto, né? Tomara que as outras histórias da coletânea também sejam boas (rs).

“Entonce” galera, ao reler Cujo como já estava familiarizado com a trama central pude captar todas as nuances de suas subtramas que, por sinal, são excelentes. Esta releitura me mostrou que King não escreveu apenas a história de um cachorro assustador, contaminado com o vírus da raiva, que sai por aí atacando as pessoas, mas também escreveu histórias paralelas tão boas quanto a trama do tal cachorro.

Kin trabalha em Cujo com os dramas de dois núcleos familiares que, por sua vez, nos remetem a outros dois núcleos intimamente ligados. Vamos ver se consigo explicar melhor...

O primeiro núcleo familiar na subtrama desenvolvida por King é formado  por Vic, Donna e Tad. Vic é um publicitário casado com uma mulher de beleza estonteante chamada Donna e que tem um filho de quatro ou cinco anos, Tad; uma criança muito amorosa. Vic e Donna passam a enfrentar uma crise em seu relacionamento depois que... bem, leiam o livro, não quero dar spoilers.

O segundo núcleo familiar do enredo é composto por Joe Camber, Charity e Brett. Joe é um mecânico rude que tem o hábito de agredir a sua mulher Charity porque não aceita ser contrariado. Eles tem um filho adolescente, Brett. Eles também são os proprietários do cão São Bernardo. Os três enfrentam sérias dificuldades financeiras. Cara, nessa releitura, torci muito para que Clarity desse logo o seu grito de liberdade como acredito que vocês também torcerão. Este grito de liberdade acontece (aqui vai um pequeno e inofensivo spoiler) quando ela resolve viajar com Brett e visitar a sua irmã rica e bem sucedida que mora numa outra cidade e que está casada com um empresário que Joe Camber detesta.

Estes dois núcleos familiares nos remetem a outros dois núcleos paralelos que estão intimamente relacionados: os pais de Donna e os pais de Clarity. Eles fazem com que os leitores entendam melhor algumas atitudes e a personalidade de Donna, Clarity e também de sua irmã.

O ponto alto da trama de King acontece nos capítulos finais quando o carro onde estão Donna e Tad quebra na propriedade dos Camber. E adivinhem quem está escondido e à espreita por lá? Isto mesmo, o cão raivoso. Posso reputar como um dos capítulos mais tensos de todos os livros que já li. É muita adrenalina, sustos, tensão e ação.

Mas como já tinha vivido tudo isso na primeira vez que li a obra;  nesta releitura, decidi saborear o “gosto” das subtramas. Agora, você que pretende ler Cujo pela primeira vez, quer um conselho? Procure ler a obra num todo, focando a sua atenção não só para a adrenalina, sustos e ação do plot principal, mas também para os dramas e emoções das subtramas.

A história de um fiel e pacato cachorro da raça São Bernardo que se transformou num verdadeiro “cão do inferno” foi publicada originalmente em 1981, mas o livro só chegou ao Brasil em 1984 através da editora Record com o título de Cão Raivoso. Com o tempo, se transformou numa das obras mais raras de Stephen King sendo vendida a peso de ouro nos sebos até 2016 quando a Suma Letras resolveu colocar em prática o projeto “Biblioteca Stephen” que reunia obras consideradas raras do autor. Cão Raivoso foi escolhido para inaugurar essa coletânea que já se encontra em seu oitavo volume. Em seu novo projeto gráfico, a Suma optou trocar o título da obra: saiu “Cão Raivoso” e entrou, simplesmente, “Cujo”, o nome do São Bernardo.

Taí galera, boa leitura ou releitura e não se esqueçam de aproveitar aquele gostinho especial das subtramas da história.

2 comentários

  1. Boa noite
    Sempre adorei a maioria dos filmes baseados em livros de King. E Cujo é um deles, que assisti há anos, muitos anos. Por isso quando saiu "Cujo" em capa dura logo comprei - junto com "A Hora do Lobisomem" - Lembro que li os dois não muito tempo depois, e por isso já faz um bom tempinho. E recordo muito do livro - eu adorei - e acredito que li muito atento porque lembro que além da trama principal gostei muito também das subtramas.
    Lembro que na época só achei que King podia ter resumido um pouquinho a parte relacionada a agência de propaganda. É tão detalhado que a gente quase acha que fez parte do trabalho, he, he.
    De resto, amei o filme ( que tem um final diferente) e amei o livro.
    Mas na real, por que comentei? Pra saber se você vai ler logo - e comentar - o "Mais Sombrio". Pretendo comprar, estou esperando uma promoçãozinha, mas querendo saber se vale a pena ou devo ficar somente no Cujo mesmo.
    Abraço!!!!!!

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    Respostas
    1. Boa noite Atas! Que bom vê-lo por aqui! De fato, o trecho sobre a agência de propagandas em "Cujo" ficou bem longo, mas ser descritivo é uma das características de SK, mas as vezes... (rs). Comecei lendo "Cascavéis" de "Mais Sombrio" porque é a sequência de "Cujo". Estou gostando. Neste conto, ele também é bem descritivo na subtrama envolvendo o relacionamento de dois personagens importantes de "Cujo". Apesar disso, a história consegue prender o leitor. Tão logo termine o conto pretendo resenhá-lo no blog.
      Grande abraço amigo!

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