Nos
meus muitos anos de devorador de livros aprendi uma máxima que sigo até hoje em
minhas leituras e também nas resenhas que faço, aqui, no Livros e Opinião: “cada
releitura de um livro mostra para o leitor ângulos diferentes de uma história.
Por isso, cada releitura vale uma resenha, independentemente do número de vezes
que lermos essa obra”. O que estou querendo “dizer” é que aos “mergulharmos” no
enredo de um livro, geralmente o nosso cérebro foca em determinado plot da
narrativa que julga ser mais interessante, deixando os plots secundários num
processo de hibernação. Então, numa releitura dessa obra, como já temos noção
do que foi o plot principal, o nosso cérebro começa a focar nas subtramas que
completam esse enredo. A partir daí, percebemos que muitas dessas subtramas são
tão interessantes quanto o plot principal. Foi, exatamente, isso que aconteceu
comigo ao reler Cujo de Stephen King.
Quando
encarei a história pela primeira vez, tão logo foi relançada em 2016 na
coletânea Biblioteca Stephen King da
editora Suma de Letras, direcionei o foco da minha atenção para o plot
principal que é o ataque de um enorme cachorro à vários moradores de uma
pequena cidade. Um cachorro antes muito amoroso, mas que ao ser mordido por
morcegos com raiva acaba adquirindo a doença, transformando-se numa máquina de
matar”. Este plot ainda tem - muito bem escondido em suas entranhas - uma armadilha
FDP que neutraliza com muita eficiência as subtramas do enredo, por melhores
que sejam. Eu conto qual é: entre as vítimas do enorme cão enraivecido da raça
São Bernardo está uma mãe e o seu filho de 4 ou 5 anos – não me lembro a idade
exata – que ficam presos dentro de um carro que quebra justamente no interior
de uma propriedade onde está escondido o furioso cachorro.
Pimba!
Se o enredo principal já prendia a atenção dos leitores, imagine agora com o
reforço de uma mãe tentando salvar o seu filhar e também se proteger dos ataques
da fera. Adeus subtramas! Foi isso que aconteceu comigo há tempos atrás ao ler Cujo (veja resenha aqui).
Há
alguns dias, resolvi reler a obra de Stephen King porque havia comprado Mais Sombrio, novo livro de contos do
autor, do qual faz parte Cascavéis
que é a sequência de Cujo.
Como
gostei muito de Cujo resolvi reler essa
história para não perder nenhum detalhe de Cascavéis
– já deu pra perceber que comprei Mais
Sombrio somente por causa desse conto, né? Tomara que as outras histórias
da coletânea também sejam boas (rs).
“Entonce”
galera, ao reler Cujo como já estava
familiarizado com a trama central pude captar todas as nuances de suas subtramas
que, por sinal, são excelentes. Esta releitura me mostrou que King não escreveu
apenas a história de um cachorro assustador, contaminado com o vírus da raiva,
que sai por aí atacando as pessoas, mas também escreveu histórias paralelas tão
boas quanto a trama do tal cachorro.
Kin
trabalha em Cujo com os dramas de dois
núcleos familiares que, por sua vez, nos remetem a outros dois núcleos intimamente
ligados. Vamos ver se consigo explicar melhor...
O
primeiro núcleo familiar na subtrama desenvolvida por King é formado por Vic, Donna e Tad. Vic é um publicitário casado
com uma mulher de beleza estonteante chamada Donna e que tem um filho de quatro
ou cinco anos, Tad; uma criança muito amorosa. Vic e Donna passam a enfrentar
uma crise em seu relacionamento depois que... bem, leiam o livro, não quero dar
spoilers.
O
segundo núcleo familiar do enredo é composto por Joe Camber, Charity e Brett.
Joe é um mecânico rude que tem o hábito de agredir a sua mulher Charity porque
não aceita ser contrariado. Eles tem um filho adolescente, Brett. Eles também
são os proprietários do cão São Bernardo. Os três enfrentam sérias dificuldades
financeiras. Cara, nessa releitura, torci muito para que Clarity desse logo o
seu grito de liberdade como acredito que vocês também torcerão. Este grito de
liberdade acontece (aqui vai um pequeno e inofensivo spoiler) quando ela
resolve viajar com Brett e visitar a sua irmã rica e bem sucedida que mora numa
outra cidade e que está casada com um empresário que Joe Camber detesta.
Estes
dois núcleos familiares nos remetem a outros dois núcleos paralelos que estão
intimamente relacionados: os pais de Donna e os pais de Clarity. Eles fazem com
que os leitores entendam melhor algumas atitudes e a personalidade de Donna,
Clarity e também de sua irmã.
O
ponto alto da trama de King acontece nos capítulos finais quando o carro onde
estão Donna e Tad quebra na propriedade dos Camber. E adivinhem quem está
escondido e à espreita por lá? Isto mesmo, o cão raivoso. Posso reputar como um
dos capítulos mais tensos de todos os livros que já li. É muita adrenalina,
sustos, tensão e ação.
Mas
como já tinha vivido tudo isso na primeira vez que li a obra; nesta releitura, decidi saborear o “gosto” das
subtramas. Agora, você que pretende ler Cujo
pela primeira vez, quer um conselho? Procure ler a obra num todo, focando a sua
atenção não só para a adrenalina, sustos e ação do plot principal, mas também
para os dramas e emoções das subtramas.
A
história de um fiel e pacato cachorro da raça São Bernardo que se transformou num
verdadeiro “cão do inferno” foi publicada originalmente em 1981, mas o livro só
chegou ao Brasil em 1984 através da editora Record com o título de Cão Raivoso. Com o tempo, se transformou
numa das obras mais raras de Stephen King sendo vendida a peso de ouro nos
sebos até 2016 quando a Suma Letras resolveu colocar em prática o projeto “Biblioteca
Stephen” que reunia obras consideradas raras do autor. Cão Raivoso foi escolhido para inaugurar essa coletânea que já se encontra
em seu oitavo volume. Em seu novo projeto gráfico, a Suma optou trocar o título
da obra: saiu “Cão Raivoso” e entrou, simplesmente, “Cujo”, o nome do São
Bernardo.
Taí
galera, boa leitura ou releitura e não se esqueçam de aproveitar aquele
gostinho especial das subtramas da história.
2 comentários
Boa noite
ResponderExcluirSempre adorei a maioria dos filmes baseados em livros de King. E Cujo é um deles, que assisti há anos, muitos anos. Por isso quando saiu "Cujo" em capa dura logo comprei - junto com "A Hora do Lobisomem" - Lembro que li os dois não muito tempo depois, e por isso já faz um bom tempinho. E recordo muito do livro - eu adorei - e acredito que li muito atento porque lembro que além da trama principal gostei muito também das subtramas.
Lembro que na época só achei que King podia ter resumido um pouquinho a parte relacionada a agência de propaganda. É tão detalhado que a gente quase acha que fez parte do trabalho, he, he.
De resto, amei o filme ( que tem um final diferente) e amei o livro.
Mas na real, por que comentei? Pra saber se você vai ler logo - e comentar - o "Mais Sombrio". Pretendo comprar, estou esperando uma promoçãozinha, mas querendo saber se vale a pena ou devo ficar somente no Cujo mesmo.
Abraço!!!!!!
Boa noite Atas! Que bom vê-lo por aqui! De fato, o trecho sobre a agência de propagandas em "Cujo" ficou bem longo, mas ser descritivo é uma das características de SK, mas as vezes... (rs). Comecei lendo "Cascavéis" de "Mais Sombrio" porque é a sequência de "Cujo". Estou gostando. Neste conto, ele também é bem descritivo na subtrama envolvendo o relacionamento de dois personagens importantes de "Cujo". Apesar disso, a história consegue prender o leitor. Tão logo termine o conto pretendo resenhá-lo no blog.
ExcluirGrande abraço amigo!