Desculpem galera. Fuji um pouco do tempo habitual de postagem nesta semana por causa de uma baita crise hemorroidária. Daquelas que você pensa que está parindo por trás com direito a sangue, dores e gritos. E olha que não estou mentindo. Somando-se a isso, um dos meus colegas de trabalho teve que ficar de quarentena por causa do filho que estava com suspeita de Covid-19. Resultado: apesar das dores cruciais tive que dobrar a minha carga de trabalho para cobrir a função desse colega. Confesso que ao chegar em casa vestido com absorvente Dia/Noite e com dores (só quem tem sabe que eu não estou mentindo) não tinha uma gota de ânimo para escrever meia linha sequer e malemá fazer a minha leitura de início de noite.
Cara, o que você acha dessa equação matemática:
hemorroidas de 2º grau triscando no 3º (em crise) + síndrome do Intestino
Irritável (ora ressecado, ora diarreico, no atual estágio diarreico) = dor,
muuuuita dor!
Por isso, esperei dar uma amenizada no atual “quadro
político da coisa” para escrever a postagem de um livro que terminei
recentemente e gostei muito. Belê? Então, sem mais delongas vamos a ela.
Parece cena de faroeste: dois pistoleiros prontos para o duelo. Senti isso, toda vez que ia ao WC |
Se você quiser ler um King eclético e não só um King
que escreva terror, Tudo é Eventual é
o livro certo. Tem absolutamente de tudo nos 14 contos que compõem a obra:
suspense, humor negro, ficção científica e claro – como não poderia faltar –
muito terror. Confesso que achei interessante e até mesmo gratificante conhecer
esse outro lado de Stephen King e quer saber?... Ele se saiu muuuuito bem fora
de sua praia como fica evidente nos contos: “A Morte de Jack Hamilton”, “Na
Câmara da Morte”, “Almoço no Café Gotham” e “Tudo é Eventual”. Estas histórias
fogem do gênero terror e nem por isso deixam de ser interessantes o que prova
que autor é, de fato, um gênio da escrita capaz de ‘casar e combinar’ com
qualquer gênero literário até mesmo – pasmem! - ficção científica. E por falar
nesse gênero literário, adorei Tudo é
Eventual, história que dá título à coletânea lançada, por aqui, pela
editora Objetiva em 2002.
Mas não pensem que o autor se esqueceu ou amenizou
aquilo que ele sabe fazer de melhor: botar medo, muito medo nos outros, não. Os
três contos de terror de Tudo é Eventual
– “As Irmãzinhas de Eluria”, “1.408” e principalmente “O Vírus da Estrada vai
para o Norte” mostram para o que o vieram: aterrorizar, principalmente esse
último que deixa o leitor incomodado, ainda mais se ele decidir ler a história
a noite. Achei o conto tão horripilante que decidi até mesmo dedicar um post
exclusivo a ele (ver aqui). “As Irmãzinhas de Eluria” que narram os eventos que
antecedem “O Pistoleiro”, volume 1 da saga “A Torre Negra” e “1.408” – foi
adaptado para o cinema em 2007 com John Cusak e Samuel L. Jackson – também não
negam fogo.
Gostei também das histórias de humor negro: “Sala de
Autópsia 4”, “Almoço no Café Gotham”, “Andando na Bala” e “O Homem de Terno
Preto”, esse, muitos classificam como uma história de terror mas na minha
opinião entendi como sendo humor negro. “Sala de Autópsia 4” tem trechos
impagáveis onde o leitor não sabe se ri ou se arrepia. O momento em que a
médica legista segura o órgão genital do suposto cadáver e descobre algo inesperado
é hilário. Só mesmo King para saber dosar humor e terror na medida certa.
De um modo geral apreciei os 14 contos, mas se me
pedissem para enumerar aqueles que eu achei mais fracos ficaria com “A Teoria
de L.T. sobre Animais de Estimação”, “Tudo o que você ama lhe será arrebatado”
e “A Moeda da Sorte”. Gosto de finais em aberto, mas o “The End” de “A Teoria
de L.T... ficou muito estranho, aberto demais. Quanto a “Tudo o que você ama
lhe será arrebatado” e “A Moeda da Sorte”, achei lento demais: sem terror,
mistério, suspense, sei lá, achei insosso.
Mesmo assim, os três são passáveis.
Como saldo final posso dizer que recomendo a
leitura, pois a maior parte dos contos, com certeza, irão prender a atenção dos
leitores. Confiram um breve resumo das histórias sem spoilers.
01
– Sala de autópsia 4
Um corretor de imóveis por algum motivo (vocês
ficarão sabendo ao ler a história) acorda numa mesa de autopsia. Seus únicos companheiros na sala são uma
médica e dois auxiliares. Ele tenta falar, mas apenas seus olhos – e, ainda,
sem conseguir mexe-los - conseguem passar alguma informação. O pânico começa a
tomar conta do seu corpo e mente, principalmente quando percebe a quantidade de
utensílios cirúrgicos que estão ao seu lado prontos para rasgar seu corpo.
02
– O homem de terno preto
Neste conto um homem já idoso narra seu encontro
extraordinário, quando garoto, com um homem sinistro e misterioso que usava um
terno preto. O encontro aconteceu à beira do rio Castle e marcou a vida desse
homem para sempre.
03
– Tudo o que você ama lhe será arrebatado
Um homem se encontra perante um bizarro dilema: se
matar ou publicar sua coletânea de anotações de frases escritas em banheiros
públicos. Neste conto que não tem nada a ver com horror, King mostra como a
rotina excessiva também pode ser prejudicial e afetar a cabeça de algumas
pessoas.
04
– A morte de Jack Hamilton
Conto escrito em primeira pessoa a partir da visão
de um membro da gang de John Dillinger. Narra a história real dos últimos dias
de Jack Hamilton, amigo inseparável de Dillinger. Num estilo de filme de
gangster com muitos tiros e perseguições, Dillinger e sua gang fogem da polícia. Durante uma fuga,
Jack acaba levando um tiro e a partir deste momento, sua última semana de vida
é narrada, incluindo muito sangue.
05
– Na câmara da morte
Um repórter do New York Times, chamado Fletcher
acusado de ajudar um líder comunista muito influente acaba sendo capturado pelo
governo de um país fictício (apesar de King não citar o nome, tudo leva a crer
ser um País da América Latina). Ele acaba acordando em uma sala de
interrogatório, com 4 pessoas. Para conseguir respostas ele é torturado com
vários choques, até que o prisioneiro resolve tomar uma atitude por demais
inusitada. Um dos contos mais violentos do livro. Apesar de não ter sido o meu
preferido, gostei muito.
06
– As Irmãzinhas de Eluria
Embora não tenha lido a saga A Torre Negra e consequentemente pouco familiarizado com o
personagem Roland Deschain e sua busca pela referida torre, gostei muuuito
dessa história que se passa antes do volume 01 da Torre chamado “O Pistoleiro”. Aliás, “As Irmãzinhas de Eluruia” é uma
história independente da saga e pode ser compreendida sem nenhum problema por
quem não leu os livros da série. Nela, o pistoleiro Roland, após ser atacado
por um grupo de mutantes vai parar num hospital e passa a ser cuidado por seis
estranhas irmãs vestidas de branco. Detalhe: cada noite, um paciente desaparece
misteriosamente da enfermaria. Então, Roland descobre um terrível e macabro
segredo.
07
– Tudo é eventual
Neste conto que dá título ao livro, um adolescente
consegue seu primeiro emprego. Vai ter que morar longe da mãe, mas, pensando
bem, isso não chega a ser um problema. Ele só precisa navegar pela Internet e
ter que gastar cada centavo da bolada que recebe semanalmente. Tudo parece bom
demais para ser verdade, até que ele passa a desconfiar desse emprego. Quando
quer sair, percebe ser tarde demais.
08
– A Teoria de L.T. sobre animais de estimação
Achei um dos mais fracos da coletânea, juntamente
com “Tudo o que você ama lhe será arrebatado” e “A Moeda da Sorte”. O enredo
arrastado com um final chocho não me agradou. Após vários desentendimentos, uma
mulher abandona o marido e leva consigo o cachorro de estimação, deixando com ele apenas o gato. Vale lembrar que ela não nutria nenhuma simpatia pelo bichano. O homem
tenta entender o motivo do abandono e sai à procura da ex-esposa.
É nesse momento que descobre algo terrível.
09
– O vírus da estrada segue para o Norte
PQP! Que cagaço! Suei as bicas e só faltei deixar
uma mancha na calça quando li esse conto. Impressiona demais! Aliás, me
impressionou tanto que acabei criando um post somente para ele (ver aqui).
Um escritor famoso de histórias de terror acaba
comprando um quadro maldito que retrata um jovem demoníaco com dentes pontudos
– parecendo um canibal - atrás do volante de um carro possante cruzando uma
ponte. O nome da “arte” é “o vírus da estrada vai para o norte”. Tudo seria normal se a imagem do canibal não
começasse a mudar de lugar no quadro, com frequência, dando a impressão de
estar perseguindo o escritor. Brrrrr!
10
– Almoço no Café Gotham
Humor
negro da melhor qualidade. Steve Davis chega em sua casa um certo dia e
descobre que sua mulher, Diana, o abandonou, pedindo divórcio. Os dias que se
seguem são extremamente estressantes e tristes para ele. O advogado de Diana
marca uma reunião no Café Gotham, um restaurante, para discutirem as questões
do divórcio. Mesmo após Steve descobrir que o seu advogado não poderia ir, ele
resolve ir mesmo assim, apenas para ver Diana novamente. Então entra em ação um
estranho garçom que acabar provocando um verdadeiro pandemônio.
11
– Você só pode dizer o nome daquela sensação em francês
Conto razoável, mas sabemos que o razoável na
“Medida King” é considerado bem acima da média. O escritor conta a história de
uma mulher casada com um grande chefe de uma indústria de softwares chamado
Bill (provavelmente uma citação ou homenagem a Bill Gates) em uma viagem de
segunda lua-de-mel. A esposa de Bill (cujo nome não é dito no conto) tem
constantes Déjà Vu, sensação em que a pessoa sente já ter presenciado um
determinado evento. Porém, a vida dela continua se repetindo indefinidamente
entre o momento que ela e o marido estão no avião e o momento em que estão de
carro chegando na casa alugada aonde passarão as férias. Prestem atenção no
final aberto, mas nem tanto.
12
– 1.408
Vicheeee!! Este é outro conto assustador e que mete
medo. Mike Enslin é um escritor de obras de não ficção baseadas no tema de
lugares assombrados: “Dez Noites em Dez Casas Assombradas”, “Dez Noites em Dez
Cemitérios Assombrados” e por aí afora. Nada o assusta até o dia em que ele
decide desafiar o quarto de nº 1.408 de um hotel famoso em Nova York. O gerente
do hotel alerta o escritor do perigo que irá enfrentar e pede para que mude de
ideia pois todos aqueles que resolveram passar uma noite no quarto se
suicidaram, enlouqueceram ou ficaram muito doentes. Advinha se Mike Enslin
seguiu os conselhos do gerente. Pois é, terá de arcar com as consequências.
13
– Andando na bala
Alan Parker está na universidade quando recebe o
telefonema de uma vizinha de sua mãe dizendo que a mesma sofrera um derrame e
encontra-se no hospital. Na expectativa de ver a mãe o mais rápido possível, o
jovem resolve cair na estrada na
esperança de conseguir uma carona, já que o seu carro está quebrado. Numa noite
de lua cheia ele consegue uma carona com um motorista sinistro e muito
estranho. Alan jamais esquecerá essa carona.
14
– Moeda da sorte
Acho que é o conto mais curto do livro e também o
mais fraco. Uma camareira de hotel de beira de estrada vê sua sorte mudar ao
ganhar de um hóspede uma moeda que lhe traz muita sorte e muito dinheiro, mas
ela descobre que nem tudo é um mar de rosas em sua vida, apesar da moeda da
sorte. Um conto bem melancólico e sem elementos de terror.
Ah! Tem mais; antes ou depois de cada conto, King
explica como surgiu a inspiração para escrevê-lo. Achei uma sacada muito legal
porque o leitor passa a conhecer como foi grande parte do processo de criação
dos contos.
Inté!
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