Contão, contaço, super-conto; entenda como quiser, o
importante nisso tudo é que fique bem claro que Setphen King ‘matou a pau’ em Cascavéis, um dos contos do seu mais
recente lançamento Mais Sombrio. Tio
King dessa vez se superou, a história é excelente.
Digo que King se superou porque o enredo vai muito
além do simples terror – e no caso de Cascavéis,
esse terror causa calafrios – explorando também uma outra vertente: o drama
familiar. Com isso, SK prova que é um autor completo, diferenciado; capaz de explorar
vários gêneros literários e não só o terror que, de fato, é a sua praia. Ele já
provou que é expert em jornalismo ao publicar Sobre a Escrita; em drama, ao escrever À Espera de um Milagre; em ficção científica, com O Concorrente e O Apanhador de Sonhos; policial, ao publicar Mr. Mercedes e até mesmo – pasmem – romance! Isso mesmo, romance
com o delicioso e inesquecível Novembro de 63.
Por isso, não foi nenhuma surpresa para mim ao deparar
com o enredo eclético de Cascavéis onde
o autor capricha no drama com uma carga emocional muito grande, mas um drama de
qualidade envolvendo o protagonista. Como já havia lido Cujo me emocionei pra caráculas com várias passagens do conto ao
ponto de ficar, digamos... sensível. Não cheguei a ficar com os olhos úmidos
como no final emocionante de Novembro de63, mas confesso que cheguei perto.
Putz, King é mesmo fodástico, primeiro ele mexe com os
seus sentimentos e depois arranha os seus nervos lhe deixando com aquele medo
que incomoda e muito. Pois é, esse conto de Mais
Sombrio é assim.
O medo que senti ao ler a história se compara ao mesmo
medo que senti, logo no início da minha adolescência, ao ter assistido o filme “O
Anticristo” lançado em 1974, um ano após “O Exorcista”, com o objetivo único de
pegar carona no sucesso da megaprodução baseada no livro de William Peter
Blatty.
“O Anticristo” foi uma produção italiana bem mequetrefe
mas com cenas que causaram muito medo, uma delas – me lembro até hoje – foi o
momento em que um padre travou com um pedaço de pau a cadeira de rodas onde se
encontrava uma jovem possuída, toda desfigurada e com as mãos amarradas. O
problema era que essa cadeira rodas continuava se locomovendo e aparecendo em
todos os lugares da casa apesar de estar com as suas rodas travadas. O cinéfilo
percebia que a cadeira de rodas amaldiçoada iria aparecer ao ouvir o rangido de
suas rodas. Não me esqueço dessas cenas até hoje.
Por que estou contando disso? Simples. Algo parecido
(parecido; não semelhante) acontece com frequência no enredo de Cascavéis com o
poder de provocar aquele calafrio incômodo nos leitores.
Cascavéis
é a sequência do romance Cujo (ver resenhas aqui e mais aqui) publicado
pela primeira vez no Brasil em 1984 pela editora Record com o título de Cão Raivoso. Após 32 anos, uma outra editora, a Suma de
Letras, decidiu republicar a obra em capa dura como parte da luxuosa coleção Biblioteca Stephen King que reúne obras
raras do autor.
Para sentir todas as emoções que o conto oferece e
mais do que isso, para entender perfeitamente o seu enredo, aconselho aos
leitores que leiam antes Cujo já que as
duas histórias estão intimamente ligadas. Por outro lado, desaconselho totalmente
fazer o sentido inverso, ou seja, ler antes Cascavéis
e só depois, encarar Cujo. Se fizer
isso, você vai acabar matando o enredo desse segundo porque Cascavéis traz um caminhão de spoilers.
Portanto para aproveitar todas as nuances do conto: antes, leia Cujo.
Escrevendo bem resumidamente do que se trata Cascavéis para não liberar spoillers,
basta dizer que é a história de um dos personagens de Cujo que após muitos anos – trintas anos ou mais - dos
acontecimentos trágicos que marcaram a sua vida, decide passar uma temporada de
férias no apartamento de um amigo localizado numa cidade litorânea que no
passado foi infestada por cobras cascavéis. Elas foram responsáveis por uma tragédia
que marcou a vida de uma tradicional família daquela cidade; tragédia que por
sua vez também atingirá esse personagem de Cujo
que terá de lidar com a situação.
Se revelar mais do que isso, certamente, estarei
liberando spoillers e estragando o prazer de leitura daqueles que forem encarar
e devorar Cujo e na sequência Cascavéis.
Leiam as duas obras, vocês não irão se arrepender.
Ah! Gostei tanto do conto que resolvi escrever um post
só dele. Depois, quando concluir a leitura, resenho “Mais Sombrio” ‘num todo’.
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