Cascavéis (Stephen King)

28 julho 2024

Contão, contaço, super-conto; entenda como quiser, o importante nisso tudo é que fique bem claro que Setphen King ‘matou a pau’ em Cascavéis, um dos contos do seu mais recente lançamento Mais Sombrio. Tio King dessa vez se superou, a história é excelente.

Digo que King se superou porque o enredo vai muito além do simples terror – e no caso de Cascavéis, esse terror causa calafrios – explorando também uma outra vertente: o drama familiar. Com isso, SK prova que é um autor completo, diferenciado; capaz de explorar vários gêneros literários e não só o terror que, de fato, é a sua praia. Ele já provou que é expert em jornalismo ao publicar Sobre a Escrita; em drama, ao escrever À Espera de um Milagre; em ficção científica, com O Concorrente e O Apanhador de Sonhos; policial, ao publicar Mr. Mercedes e até mesmo – pasmem – romance! Isso mesmo, romance com o delicioso e inesquecível Novembro de 63.

Por isso, não foi nenhuma surpresa para mim ao deparar com o enredo eclético de Cascavéis onde o autor capricha no drama com uma carga emocional muito grande, mas um drama de qualidade envolvendo o protagonista. Como já havia lido Cujo me emocionei pra caráculas com várias passagens do conto ao ponto de ficar, digamos... sensível. Não cheguei a ficar com os olhos úmidos como no final emocionante de Novembro de63, mas confesso que cheguei perto.

Putz, King é mesmo fodástico, primeiro ele mexe com os seus sentimentos e depois arranha os seus nervos lhe deixando com aquele medo que incomoda e muito. Pois é, esse conto de Mais Sombrio é assim.

O medo que senti ao ler a história se compara ao mesmo medo que senti, logo no início da minha adolescência, ao ter assistido o filme “O Anticristo” lançado em 1974, um ano após “O Exorcista”, com o objetivo único de pegar carona no sucesso da megaprodução baseada no livro de William Peter Blatty.

“O Anticristo” foi uma produção italiana bem mequetrefe mas com cenas que causaram muito medo, uma delas – me lembro até hoje – foi o momento em que um padre travou com um pedaço de pau a cadeira de rodas onde se encontrava uma jovem possuída, toda desfigurada e com as mãos amarradas. O problema era que essa cadeira rodas continuava se locomovendo e aparecendo em todos os lugares da casa apesar de estar com as suas rodas travadas. O cinéfilo percebia que a cadeira de rodas amaldiçoada iria aparecer ao ouvir o rangido de suas rodas. Não me esqueço dessas cenas até hoje.

Por que estou contando disso? Simples. Algo parecido (parecido; não semelhante) acontece com frequência no enredo de Cascavéis com o poder de provocar aquele calafrio incômodo nos leitores.

Cascavéis é a sequência do romance Cujo (ver resenhas aqui e mais aqui) publicado pela primeira vez no Brasil em 1984 pela editora Record com o título de Cão Raivoso.  Após 32 anos, uma outra editora, a Suma de Letras, decidiu republicar a obra em capa dura como parte da luxuosa coleção Biblioteca Stephen King que reúne obras raras do autor.

Para sentir todas as emoções que o conto oferece e mais do que isso, para entender perfeitamente o seu enredo, aconselho aos leitores que leiam antes Cujo já que as duas histórias estão intimamente ligadas. Por outro lado, desaconselho totalmente fazer o sentido inverso, ou seja, ler antes Cascavéis e só depois, encarar Cujo. Se fizer isso, você vai acabar matando o enredo desse segundo porque Cascavéis traz um caminhão de spoilers. Portanto para aproveitar todas as nuances do conto: antes, leia Cujo.

Escrevendo bem resumidamente do que se trata Cascavéis para não liberar spoillers, basta dizer que é a história de um dos personagens de Cujo que após muitos anos – trintas anos ou mais - dos acontecimentos trágicos que marcaram a sua vida, decide passar uma temporada de férias no apartamento de um amigo localizado numa cidade litorânea que no passado foi infestada por cobras cascavéis. Elas foram responsáveis por uma tragédia que marcou a vida de uma tradicional família daquela cidade; tragédia que por sua vez também atingirá esse personagem de Cujo que terá de lidar com a situação.

Se revelar mais do que isso, certamente, estarei liberando spoillers e estragando o prazer de leitura daqueles que forem encarar e devorar Cujo e na sequência Cascavéis.

Leiam as duas obras, vocês não irão se arrepender.

Ah! Gostei tanto do conto que resolvi escrever um post só dele. Depois, quando concluir a leitura, resenho “Mais Sombrio” ‘num todo’.

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