O exorcista

21 agosto 2011
Sempre adiei a leitura de “O Exorcista”, de William Peter Blatty. Demorei para comprar o livro e demorei para decidir à lê-lo. Lembro-me que nos meus dias de estudante secundarista, quando era um verdadeiro rato de bibliotecas, cheguei a sacar o livro (uma edição de bolso em folha de papel jornal) da estante, mas ao ler as primeiras páginas acabei desistindo. Não que o livro fosse ruim. Longe disso, a criação de Blatty é uma verdadeira obra prima; o problema era comigo mesmo. Eu considerava “O Exorcista”, o monte Everest dos livros de terror e para encará-lo tinha de estar preparado. Não queria fazer como fiz com o filme em minha pré-adolescência, quando resolvi assisti-lo e depois...  me arrependi. Fiquei sem dormir alguns dias pensando na personagem da Linda Blair possuída virando o pescoço para trás num ângulo de 360 graus e descendo uma escadaria imitando uma aranha. Sei que hoje, esses efeitos especiais são tão simplórios que chegam a ser risíveis, mas há 39 anos atrás eram, de fato, assustadores.
Bem, resumindo, após exorcizar todos os meus fantasmas e chegar a conclusão que estava em “ponto de bala” para ler a obra de Blatty, não pestanejei em comprar o livro num sebo e encará-lo. Ao terminar a leitura pude ratificar que “O Exorcista” ainda continua sendo o monte Everest das obras de terror, pelo menos daquelas que eu li.
O início do livro já cria um clima assustador, mostrando o trabalho em vão de médicos, psiquiatras e psicólogos em tentar descobrir a estranha doença de  Regan, uma menina de apenas 12 anos. Logo de cara, o leitor já vai se preparando para a “carga pesada” que está por vir, ou seja, o famoso embate entre o bem e o mal,  representados na história pelo demônio Pazuzu (que possui a alma de Regan) e os padres Merlin e Damien Karras.
Mas por incrível que pareça considerei o início do livro, que mostra o desespero dos médicos em tentar encontrar uma explicação para a doença incomum que se apossou de Regan, bem mais assustador do que a parte em que o demônio dá as caras. Quanto mais Regan vai se transformando, menos a ciência vai encontrando respostas para o seu problema. O desconhecido sempre nos assusta, pois gera incerteza e coloca em xeque as nossas convicções. William Peter Blatty nos mostra isso com perfeição no início de sua obra.
A conversa que o psiquiatra mantém, logo após hipnotizar Reagan, com a entidade do mal que se apossou da menina, chega a provocar calafrios no leitor. Se formos levar ao pé da letra, o diálogo entre os dois nada tem de incomum, mas ao constatarmos que o psiquiatra não sabe com o que está lidando, já é o suficiente para transformar aquela conversa simples em algo aterrorizante.
No momento em que a ciência esgota todos os seus recursos na esperança de curar a menina, só resta apelar para a religião, para a fé. É nesse momento que a mãe de Reagan procura o padre Damien Karras e conta a sua história. Mas, surpreendentemente, quando ela espera encontrar o apoio necessário para fortalecer a sua fé, a fé na cura de sua filha, aquele que poderia indicar esse caminho lhe dá um banho de água fria ao deixar evidente a sua descrença em Deus. O padre Karras insiste que o caso de Regan não é de possessão demoníaca, mas um problema meramente psiquiátrico, um caso de histeria. Para Karras, Deus não existe, o diabo também não. Sua falta de fé é latente. Mas qual seria o motivo da falta de fé desse sacerdote? Para dar essa explicação, Blatty “escancara” a vida de Karras para o leitor que passa a conhecer o padre em profusão de detalhes, algo que não acontece no filme.
Cena polêmica de "O Exorcista": Regan descendo a escadaria
imitando uma aranha
O livro mostra ainda o caminho que Karras percorre para reencontrar a sua fé perdida e qual foi o fator decisivo que o fez acreditar que Regan estava, realmente, possuída.
Por todos esses motivos, acredito que “O Exorcista” seja um livro sobre Karras; muito mais do que o Padre Merrin e bem mais do que o próprio demônio.
O embate entre os Padres Merrin e Karras contra o demônio é bem mais assustador no livro do que no cinema. O enredo presente nas páginas tem uma carga emocional muito mais forte do que no filme. Isto se deve aos diálogos bem elaborados entre os padres que representam o bem e o demônio, representante do mal. Esse jogo de palavras, ou melhor, esse embate de palavras cria um clima tenso no contexto da história seduzindo o leitor.
O trecho em que o Padre Karras resolve sair no muque com o espírito que domina Regan também é impagável. Enfim, tudo o que você assistiu no cinema, você verá com riqueza de detalhes na obra. Além disso, o livro traz muita coisa que foi cortada no filme, como por exemplo, detalhes sobre a origem e ritual das missas negras; o confronto anterior entre Pazuzu - o demônio que se apossou de Regan - e o Padre Merrin, quando ele ainda não era um exorcista famoso, mas apenas um auxiliar de outros padres; e como já disse, uma exposição, em riqueza de detalhes, da vida do Padre Damien Karras.
Para finalizar esse post, à título de informação, “O Exorcista” teria sido baseado nos registros de um caso real, realizado em Mount Rainier, no estado de Maryland. O jornal The Washington Post teria relatado o discurso de um padre feito numa sociedade de parapsicologia amadora, na qual este teria afirmado haver exorcizado um demônio em um menino de 13 anos de idade chamado Ronald, cujo sofrimento durou cerca de seis semanas, e terminado em 19 de abril de 1949.
Portanto tai. Você que só assistiu ao filme, mas pretende ler o livro, pode ter certeza de que a obra escrita de William Peter Blatty é muito mais assustadora do que a adaptação feita para as telonas.
Boa leitura... e bom sustos.

10 comentários

  1. Não sabia que o filme tinha sido baseado em uma obra literária.

    E que texto meu irmão, não consegui parar de ler. Parabéns!

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  2. Acabei de ler o livro hoje, a historia é realmente empolgante e emocionante! Estava eu comentando com uma amiga e ela mencionou q poderia ter continuação mas não tinha certeza nas minhas pesquisas não achei nada q pudesse me dar essa certeza (vi outros livro do mesmo autor) gostaria de saber se á uma continuação, agradeço desde já!!

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  3. Otávio, tem uma continuação sim e escrita pelo próprio William Peter Blatty. O livro se chama "O Espírito do Mal", o qual estarei comentando brevemente por aqui. Vc encontrará essa obra, facilmente, nos sebos virtuais. Basta acessar www.estantevirtual.com.br.
    Abcs!!

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    1. Eu tenho esse livro! Devorei em 1 semana... É tão bom quanto o do Exorcista...

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  4. Obg, hoje mesmo estarei indo em sebos aqui da minha cidade
    Obs: adoro o blog!

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  5. Veja bem Otávio, o livro não é tão difícil de encontrar, mas suponhamos que vc não o localize no sebo de sua cidade, então, basta acessar a estante virtual (www.estantevirtual.com.br) que reúne milhares de sebos de todo o país. Os pontos positivos da "estante" são os preços módicos e as facilidades de entrega e opções de pagamento. O livro que vc procura está por um preço camarada, acredito que menos de R$ 10,00. Dê uma verificadinha.
    Agradeço por visitar o blog. E que bom que gostou! Volte sempre.
    Inté!

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  6. Muito bom o post José Antônio. Vou te confessar que comecei a ler o livro em 2010, parei na metade e até hoje ainda não tive coragem de retomar a leitura. Sem dúvida alguma é o livro mais assustador que comecei a ler. Acho que o fato de saber que se está lendo algo em parte "real", o torna mais difícil. Nas primeiras semanas de leitura eu já comecei a ter sonhos ruins.. Foi bem complicado.. É como se um medo incontrolável tomasse conta de você, a cada página lida. Espero que um dia possa ter coragem para retomá-la!

    Abraço

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    1. Sem dúvida, Claiton, o livro é aterrorizante. Tanto é que na época de seu lançamento, há decadas atrás, provocou uma histeria em massa, à exemplo do filme. Hoje, após mais de 30 anos, grde parte desse impacto foi perdido, mas mesmo assim, "O Exorcista" continua sendo uma história que 'mete' medo.
      Abcs!

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  7. Creio que jamais haverá obra como essa novamente. Li o livro no feriadão e digo: simplesmente não há como parar de ler. A narração é envolvente, os personagens bem construídos e o desfecho sensacional.

    É realmente uma pena que nem mesmo o próprio autor conseguiu alcançar tamanha grandiosidade após "O Exorcista".

    Obra-prima do terror!

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    1. Grande Tex!
      "O Exorcista" é um romance diferenciado. Um verdadeiro clássico da literatura de terror e que serviu de inspiração para uma geração de escritores que tiveram em William Peter Blatty um verdadeiro mestre. Pena que o mestre nunca mais conseguiu repetir o êxito de seu primeiro livro.

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