Sempre fui fissurado pelos livros de contos de terror.
Definitivamente, eles não podem faltar em minha estante. No meu caso, essas
coletâneas são indispensáveis porque nem sempre tenho tempo para encarar uma
obra do gênero com mais de 400 páginas. Então, nesses momentos, saco da
prateleira um livro de contos e mando ver. Sempre falo para os meus amigos que
os contos são romances com poucas páginas onde o autor deixa de lado um monte
de descrições para ir direto ao que interessa, afinal, ele tem poucas páginas
para contar a sua história.
No post de hoje, selecionei 10 coletâneas de terror
que eu já li, gostei e aprovei. Vamos ao nosso toplist.
01
– Beijo (Roald Dahl)
Abro a nossa galeria com “Beijo” de Roald Dhal,
lançado originalmente em 1960. Um dos motivos que me prendeu ao livro - não o
soltando por nada – foi o caos intermitente presente das histórias, ou seja,
você começa a ler e quando tudo parece seguir para um determinado caminho que o
leitor espera; pronto; a história dá uma reviravolta que lhe deixa de queixo
caído.
Ler os 11 contos de “Beijo” é como andar por uma
estrada de madrugada, sem luar e na completa escuridão, não sabendo se o
caminho que você segue lhe reserva uma curva, um buraco ou pedras. A surpresa
sempre está presente, como no conto “Willian e Mary”, sobre uma mulher fumante
que sempre é censurada pelo marido ao pegar um cigarro; até o dia em que ele morre
e um amigo cientista opta por guardar o seu cérebro vivo em um pote. É a hora
da reprimida viúva dar o troco.
Há outros contos deliciosos tendo sempre por base o
humor e a surpresa, alguns recheados com muito terror, mas um terror sutil. Em
“Geléia Real”, um bebê se recusa a amamentar e por isso os pais passam a
alimentá-lo com a geléia que é o título do conto, um produto nutritivo de
origem das abelhas que substitui o leite materno. Cara! O final é
surpreendente!
Os outros nove contos que também misturam literatura
fantástica com terror são fantásticos.
02
– Tripulação de esqueletos (Stephen King)
Na minha opinião, “Tripulação de Esqueletos” pode ser
considerado o melhor livro de contos escritos por Stephen King. Um livraço!
Admito que não sou de ficar impressionado, por várias
semanas, por causa de um conto de terror - dois ou três dias sim, não mais que
isso – mas “Tripulação de Esqueletos” conseguiu quebrar esse paradigma
particular. Fiquei muito impressionado com alguns contos do livro que provocaram
aquele friozinho chato na espinha. O conto “Sobrevivente” foi um deles. Caraca,
que história macabra. Brrrrr!! “O Nevoeiro” é outro clássico dessa coletânea
que impressiona. A história, inclusive, foi adaptada para os cinemas e TV. “A
Balsa” é outra pedrada na alma. Tremi na base com o drama de um grupo de jovens
estudantes que ficam presos numa balsa abandonada no meio de um lago, cercados
por um ser monstruoso, sempre na espreita, escondido embaixo da embarcação,
esperando para devorar os banhistas.
O livro escrito em 1985 tem 22 contos, a maioria deles
bem assustadores. A obra ficou esgotada nas livrarias por um bom tempo, mas
agora já pode ser encontrada à preços normais.
03
– Sete ossos e uma maldição (Rosa Amanda Strausz)
Quatro dos dez contos escritos pela jornalista carioca
Rosa Amanda Strausz já valem a compra de “Sete ossos e uma maldição”. “Crianças
à venda. Tratar aqui”, “Dentes tão brancos”, “O fruto da figueira” e “Morte na
estrada” – são verdadeiras obras primas do gênero terror. Eles arranham,
machucam, enfim, deixam o leitor incomodado com aquele calafrio que começa na
nuca e termina na base da espinha.
“Crianças à venda. Tratar aqui’ é fodástico. É um
daqueles contos de terror que provocam
medo e mal estar. O final, então. Brrrrrrrrrrrr. Caraca, me coloquei no lugar
da irmã do ‘Fabiojunio’ (é assim mesmo que escreve) e juro que quase borrei as
calças. Strausz conta a história de uma mãe oportunista que, por viver na
miséria, decide colocar à venda os seus filhos, em busca de melhoria de vida
para as crianças, mas principalmente para ela. Cada um dos menores foi sendo
comprado por famílias ricas até que sobrou somente um, o tal do ‘Fabiojunio’
que acabou vendido para um casal muito estranho. A irmã do garoto decide
investigar mais a fundo os novos pais e descobre algo aterrorizante. Cara, esse
conto foi fatal, arrepiou todos os cabelos do meu corpo, até mesmo os mais
escondidos.
04
– Os melhores contos de H.P. Lovecraft (H.P. Lovecraft)
Trata-se de um livraço, mas desde que você o saiba
ler. Explico melhor. H.P. Lovecraft é um autor inteiramente e visceralmente
descritivo; diálogos, com certeza, não fazem parte do seu menu. Resultado: você
vai ter pela frente um livro com 741 páginas todo descritivo e praticamente sem
nenhuma interação direta entre os personagens, ou seja, sem aquele bate papo
gostoso entre mocinhos, heróis e vilões, recheado de travessões ou aspas. Para
não ser tão pessimista, talvez nos 19 contos do livro você consiga pescar dois
ou três diálogos e só.
Por isso, o leitor não pode mergulhar de cabeça na
leitura de “Os melhores contos de H.P. Lovecraft”, dedicando-se exclusivamente
à sua leitura. Se agir dessa maneira, o livro acaba ficando cansativo. O ideal
é mesclar a leitura desses contos com outras
obras menos descritivas escritos por autores diferentes. Aí sim, você
aproveitará ao máximo a sua leitura.
As 19 histórias que fazem parte da publicação da
editora Hedra, lançada em 2013, foram publicadas em ordem cronológica, seguindo
as datas de seus lançamentos originais.
O leitor irá encontrar verdadeiras obras primas como:
“O modelo de Pickman”, “A cor que caiu do céu”, “O caso de Charles DexterWard”, “O horror de Dunwich”, “Ar frio”, “Um sussurro nas trevas”, “O chamado
de Cthulhu” e “A sombra de Innsmouth”. Os personagens desses enredos
foram meus companheiros durante várias noites. Achei a maioria deles sinistros
e aterradores, fazendo jus ao estilo que consagrou Lovecraft.
05
– Visões da noite – Histórias de terror sarcástico (Ambrose Bierce)
Os 14 contos de "Visões da Noite – Histórias de terror sarcástico” escritos por Ambrose Bierce e organizados e traduzidos pela
escritora e jornalista Heloísa Seixas são ótimos. Acredito que ela deva ter
escolhido o melhor de do enigmático autor. Todas as 14 histórias são de
qualidade e conseguem prender a atenção da galera com direito a arrepios e
calafrios. E sabemos, que essa virtude é muito rara num livro de contos. Outro
detalhe que achei interessante é que Seixas deu preferência para as antologias,
que apesar de gelar a espinha do leitor, também apresentam um enredo ou final
sarcástico com Bierce muitas vezes zombando ou rindo de situações tétricas e
horripilantes. Isto explica o subtítulo da obra: “Histórias de terror
sarcástico”.
Bierce é considerado um autor enigmático porque
desapareceu da face da terra sem deixar rastros. Verdade! Aliás, o seu corpo
nunca foi encontrado. Estranho, não?!
A impressão que temos após lermos os contos é que Bierce
pregou uma enorme peça em nós, leitores, já que na maioria das histórias, os
personagens somem sem deixar nenhum tipo de rastro. Acho que ele já estava
tramando tudo, tudinho antes de sumir por esse mundão afora; coisa do tipo:
“Quero só ver a cara deles quando acabarem de ler esse conto!”
06
– Eu sou a lenda (Richard Matheson)
Logo nos primórdios do blog, em 2011, escrevi um post
específico sobre os dez contos que fazem parte do livro “Eu sou a lenda”,
lançado pela Novo Século em 2007 (ver aqui). Apenas para os leitores
interessados se situarem, essa obra que está esgotada nas livrarias, mas por
enquanto pode ser encontrada nos sebos a preços módicos, traz na capa uma cena
do filme protagonizado por Will Smith e Alice Braga em 2008. Tanto a história
principal, “Eu sou a lenda” quanto os outros 10 contos que completam a obra são
de autoria do gênio Richard Matheson que escreveu “A Casa Infernal” e “O Incrível homem que encolheu”, entre outros clássicos do terror e da ficção
científica.
As histórias são ótimas e a impressão que tive é que
estava assistindo um seriado do tipo “Além da Imaginação” ou “Galeria do
Terror” que fizeram muito sucesso nos anos 60 e 70.
Os contos que mais me agradaram foram: “O Quase
Defunto”, “Presa”, “Guerra de Bruxa”, “Dança dos Mortos”, “Casa Louca” e “O
Funeral”. Tem ainda o conto de uma boneca assassina que Deus me livre! Assusta
muito.
De todos os contos que fazem parte do livro “Eu sou a
lenda”; “Casa Louca” foi aquele que achei mais perturbador. É a história de um
homem com uma raiva incontrolável, melhor dizendo, uma fúria incontrolável,
capaz até mesmo de se auto-mutilar. Uma ponta de lápis que se quebra ou um
garfo que cai no chão já é o suficiente para desencadear um ataque de fúria no
personagem. Matheson narra com uma perfeição impressionante como esse
temperamento destrutivo vai influenciando todo o ambiente em que o pobre homem
vive. O final é surpreendente.
Um grande livro de contos de terror. Com certeza não
pode faltar em sua estante.
07
– Obras primas do conto fantástico (Vários autores)
Putz, as lendas urbanas da Junia e do Marquinhos ao
redor de uma fogueira... Putz! Que
cagaço naquela noite escura há mais de 20 anos. Todos nós reunidos em torno de
uma fogueira e contando ‘causos’. O assassino do gancho, o monstro devorador de
gente que se escondia debaixo da cama... Putz, putz e mais putz! Se você não
está entendendo nada dessas minhas divagações, leia esse post aqui.
Resumindo o mesmo medo e incômodo que senti naquela
noite de muitos anos atrás, tive, novamente, ao ler a antologia de “Obras
primas do conto fantástico”. No dia em que tive contato com as 27 histórias
curtas de terror de feras como Edgar Allan Poe, Maupassant, H.G. Wells e pasmem
Monteiro Lobato! Isso mesmo, Monteiro Lobato, escrevendo histórias de terror, entre
outros; foi como se tivesse entrado numa máquina do tempo e voltado há
aproximadamente duas décadas naquele acampamento, à noite, com os meus amigos,
sentados ao lado de uma fogueira, ouvindo aquelas historinhas macabras.
Não que a coletânea de contos, brilhantemente
organizada por Jacob Penteado, traga apenas em seu contexto lendas urbanas; há
histórias de terror de todos os tipos, do gótico ao fantástico, passando por
seres fantasmagóricos. Ocorre que as histórias metem medo, de fato, podendo ser
consideradas verdadeiras obras primas do gênero, fazendo jus ao título do
livro.
Cara, e já que falei de Monteiro Lobato no início
desse texto, o conto “Bugio moqueado”... ecaaa! Juro que o meu estômago revirou,
caraca! O que é aquilo?!! Imaginei-me no lugar daquele convidado infeliz
sentado na mesa de uma cozinha e... bem melhor deixar pra lá.
Um livro incrível e que mete muito medo.
08
– Contos de horror do século XIX (vários autores)
"Contos de horror fantásticos do século XIX" é outra antologia de terror que recomendo, tanto é verdade
que de tempos em tempos lá estou eu, retirando o livro da minha estante e
relendo alguns contos. Os enredos são ótimos e conseguem segurar os leitores
que adoram sentir aquele friozinho na espinha.
O cenário onde acontecem as histórias são dos mais
variados; desde igrejas em ruínas, subsolos pútridos, jardins abandonados,
espelhos encantados à criaturas invisíveis.
Logo na introdução da obra, o organizador da
coletânea, Alberto Manguel dá detalhes de como foi criado o gênero terror, além
de uma explicação do que vem a ser terror e horror. Ele ainda nos brinda com informações
sobre o conto e o autor, além da época em foi escrito. Dessa forma, cada hitória
tem uma introdução detalhando o mesmo.
Manguel editou uma dúzia de antologias de contos sobre
temas que vão do fantástico à literatura erótica. Autor de livros de ficção e
não-ficção, também contribui regularmente para jornais e revistas do mundo
inteiro. Uma curiosidade interessante é que cada conto tem um tradutor
diferente. E que tradutores! De Rubem Fonseca a Moacyr Scliar; preciso dizer
mais? Cara, tem até um conto de horror de Eça de Queiróz!
Com certeza, aqueles que apreciam uma boa história de
terror irão adorar.
09
– Incrível! Fantástico! Extraordinário! Outros casos verídicos de terror e
assombração (Almirante)
Comprei as histórias narradas pelo Almirante e não me
arrependi. Elas são incríveis, fantásticas e extraordinárias e bem ao estilo
cultural do povo brasileiro, ou seja, nada de ficção científica misturada com
terror; shows de lobisomens e vampiros; monstros estelares; feiticeiros que
voam; enfim, nada de americanismos. Os contos de "Incrível! Fantástico! Extraordinário! Outros casos verídicos de terror e assombração" são de assombração
mesmo! E assombrações brasileiríssimas. Pessoas que morrem e voltam para
assombrar a turma terrena ou então simples animais que fogem dos padrões comuns
- alicerçados apenas em seus instintos - e passam a agir como se tivessem
consciência, como os casos de um urubu que após ter sido cruelmente castigado
por um fazendeiro decide voltar para se vingar e uma pomba que toma uma atitude
sobre-humana durante o enterro de uma mulher. Cara, os contos do Almirante são
fóda! Oops! Me empolguei (rs).
Apesar do livro ser uma miscelânea de histórias de
assombração, há algumas poucas exceções sobrenaturais como por exemplo em “Três
Gotas de Sangue”, onde um cara após invocar o diabo por brincadeira acaba tendo
uma terrível surpresa ou ainda, “O Castigo” em que um grupo de pessoas acaba
recebendo uma visita inesperada e indesejada após zombarem dos sacramentos da
Igreja. Mas a maioria dos 44 contos é, de fato, sobre assombrações.
Mas vocês devem estar se perguntando: - “Quem é esse
tal Almirante?” Bem galera, vamos lá. Para início de conversa, Almirante era
apenas o apelido desse radialista. O seu nome verdadeiro era Henrique Foreis
Domingues. Em 1947, ele iniciou um programa totalmente inédito no rádio
brasileiro: o “Incrível! Fantástico! Extraordinário!”, que se propunha relatar
todo tipo de experiências inexplicáveis ocorridas com pessoas das mais diversas
partes do país. Para isso, Almirante se muniu de uma equipe que cuidava de
verificar (às vezes até mesmo indo até o lugar em que o fenômeno teria
ocorrido) a verdade do relato. Cartas eram checadas, nomes completos exigidos e
testemunhas solicitadas. Daí o encanto do programa que fazia famílias inteiras
se reunirem em torno do rádio para ouvir os “causos” levados ao ar pela Rádio
Tupi.
Na realidade, os contos do livro é um resumo das
histórias que o Almirante narrava em seu programa de rádio.
10
– Sombras da Noite (Stephen King)
Ok, me desculpem, mas tenho que repetir um autor nessa
toplist, afinal ele é considerado o mestre do terror. Considero “Sombras da Noite” no mesmo patamar de “Tripulação de Esqueletos. As duas coletâneas são
“The Best”.
Galera, King brinda os seus leitores com 20 histórias de
terror incríveis, daquelas que ficam gravadas na memória.
“Sombras da Noite”, simplesmente, não tem contos
decepcionantes, todos eles satisfazem a nossa vontade meio que masoquista –
convenhamos – de sentir medo e calafrios numa noite escura, abandonados em
nossos lares. Ok, prá você não ficar pensando que estou sendo exageradamente
otimista, vou dizer que dos 20 contos, achei apenas dois medianos, mas
mesmo assim, não desagradam.
Para que vocês tenham uma idéia da qualidade da obra,
basta citar que dos 20 contos, nove deles foram adaptados para o cinema: “O
Ressalto” e “Ex-Fumantes Ltda, que fizeram parte do filme “Olhos de Gato”
(1985), de 1985; “As Vezes Eles Voltam (1991), A Criatura do
Cemitério (1990); O Passageiro do Futuro” (1992); Colheita Maldita (1984),
adaptação do conto “As Crianças do Milharal”; Mangler – O Grito de Terror
(1995); “Campo de Batalha” (na minissérie Nightmares & Dreamscapes – 2006) e Trucks – Comboio
do Terror (1997).
Beleza? Portanto,
podem adquiri-lo sem receios. Os arrepios e calafrios estarão garantidos.
Galera, por hoje é só.
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