Os melhores contos de H.P. Lovecraft

06 novembro 2018

O meu erro foi querer ler numa tacada só as mais de 740 páginas de “Os Melhores Contos de H.P. Lovecraft. Por isso, aconselho que você jamais faça isto. Por que? Simples. Lovecraft é um autor inteiramente e visceralmente descritivo; diálogos, com certeza, não fazem parte do seu menu. Resultado: você vai ter pela frente um livro com 741 páginas todo descritivo e praticamente sem nenhuma interação direta entre os personagens, ou seja, sem aquele bate papo gostoso entre mocinhos, heróis e vilões, recheado de travessões ou aspas. Para não ser tão pessimista, talvez nos 19 contos do livro você consiga pescar dois ou três diálogos e só.
Há algum tempo, li “Sobre a escrita” de Stephen King, onde o mestre do terror - um dos maiores admiradores do trabalho de Lovecraft -  dizia que elaborar diálogos não era a praia do criador dos “Mitos de Cthulhu”.
Vejam bem, não estou afirmando que pela falta de diálogos a obra seja ruim; longe dessa injúria. O que estou querendo dizer é que dedicar-se, exclusivamente, à leitura desse calhamaço de 741 páginas vai te esgotar e muito. No meu caso, quando cheguei perto do final do livro já estava caçando, desesperadamente, algum diálogo como se procura água no deserto e por isso, a leitura começou a travar, simplesmente, não fluía mais.

A minha recomendação é que se intercale a leitura de “Os Melhores Contos de H.P. Lovecraft” com um outro livro que não seja tão descritivo. Seguindo essa metodologia, com certeza, o leitor sentirá muito prazer nos contos lovecraftianos. Leia um ou dois contos do livro, depois dê um tempo e parta para outras obras. Assim que tomar um fôlego retorne aos contos.
As 19 histórias que fazem parte da publicação da editora Hedra, lançada em 2013, foram publicadas em ordem cronológica, seguindo as datas em que foram escritas pelo autor.
O leitor irá encontrar verdadeiras obras primas como: “O modelo de Pickman”, “A cor que caiu do espaço”, “O caso de Charles DexterWard”, “O horror de Dunwich”, “Ar frio”, “Um sussurro nas trevas”, “O chamado de Cthulhu” e “A Sombra de Innsmouth”.  Os personagens desses enredos foram meus companheiros durante várias noites. Achei a maioria deles sinistros e aterradores, fazendo jus ao estilo que consagrou Lovecraft.
A obra começa com os contos mais curtos, geralmente aqueles que tem uma, duas ou três páginas. As últimas nove histórias que fecham a coletânea, por serem mais longas, foram publicadas separadamente como livros de terror.
Em muitas delas, Lovecraft mistura terror e ficção científica, como no caso de “A cor que caiu do céu” e “Nas montanhas da loucura”.
Sinceramente, não gostei dos enredos oníricos – “Navio Branco”, “Celephais”, “Os outros deuses” e “A busca onírica por Kadath”, onde o personagem Randolf Carter  -  considerado o alter ego do escritor – um experiente explorador da ‘Terra dos Sonhos”, planeja encontrar uma cidade cidade dourada que certa vez vislumbrou em uma de sua viagens oníricas. Para isso, Carter deverá empreender uma jornada por todo o mundo dos sonhos, enfrentando vários perigos. Cara, caaannnsativo de mais.
Outra curiosidade que gostaria de citar no post está relacionada aos contos “Ar frio” e “O modelo de Pickman”, ambos escritos em 1926. As duas narrativas, verdadeiras obras primas da literatura de terror, foram adaptadas para a televisão como episódios da famosa série de TV dos anos 70 “Galeria do Terror” apresentada e produzida por Rod Sterling, o mesmo do antológico “Além da Imaginação”. Estes dois contos também estão na edição de 741 páginas da Hedra.
Em “Ar frio”, Lovecraft narra o dilema de um médico que é obrigado a viver num apartamento com um sistema de refrigeração que mantém o ambiente sempre na temperatura de 12 graus. Um vizinho que começa a sentir um forte cheiro de amônia, resolve investigar o que acontece no misterioso apartamento, então...
Já em “O Modelo de Pickman”, um famoso artista que pinta quadros de natureza profundamente infernal acaba tendo o segredo de sua arte descoberto por um fã que, por sua vez, quase enlouquece com a terrível descoberta.
Taí galera, sem dúvida, um grande livro, mas como já disse no início, inteiramente descritivo com a maioria das histórias narradas em primeira pessoa.
Boa leitura!

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