Gente, existem os livros raros, não é? Entonce, nesse caso, nós leitores ainda temos esperança, por menor que seja, de um dia tê-los em mãos. Ainda podemos sonhar que daqui alguns “anos-luz”, uma santa e bendita editora decida recolocar no mercado determinada obra que julgávamos perdida. Mas, infelizmente, temos o outro lado da moeda; e um lado triste e sombrio: as obras que morreram, de fato. Mas como assim? Simples, galera. São aqueles livros que temos a certeza de que jamais - e olha que eu disse jamais com toda a minha convicção – serão relançadas, por um motivo ou por outro. Triste, não?
Conheço duas obras que se enquadram nessa categoria: “Os Livros de Bachman” e “Roberto Carlos em Detalhes”. Se você, por acaso, deu sorte de ter adquirido essas obras quando elas ainda podiam ser, facilmente, encontradas em quaisquer livrarias e a preços módicos, sinta-se um grande felizardo. Expondo a situação hiperbolicamente, seria o mesmo que você tivesse ganho um prêmio acumulado há vários concursos na Megasena.
Por isso, jamais empreste, ou melhor, retire-os da sua
estante, para evitar que sejam algo de cobiça alheia e os guarde no fundo de um
baú do tipo onde os piratas escondiam os seus valiosos tesouros.
Vocês devem estar curiosos para saber o motivo desses
dois livros terem entrado para o rol dos produtos literários extintos. Vamos
aos tais motivos.
01 – Os Livros de Bachman (Stephen King)
“Os Livros de Bachman” é considerado a obra mais rara de Stephen King pelo motivo que já descrevi no início desse post. O próprio King baniu a obra das prateleiras e proibiu qualquer eventual republicação. Tudo isso por causa do tiroteio que aconteceu na Heath High School em West Paducah, Kentucky, Estados Unidos em 1 de dezembro de 1997 quando um adolescente de apenas 14 anos chamado Michael Carneal abriu fogo sobre um grupo de estudantes, matando 3 e ferindo 5.
Carneal envolveu duas escopetas e dois fuzis em um cobertor e os levou para a escola, passando-os despercebidos como um projeto de arte que ele estava trabalhando. Ele também carregava uma pistola 22 carregada. Carneal foi para a escola com sua irmã e chegou a cerca das 7h45min, ele colocou tampões de ouvido e levou a pistola em sua mochila. Ele atirou oito rodadas, em sucessão rápida, em um grupo de oração de jovens. Cinco pessoas foram atingidas na cabeça e outras três foram atingidas em seus corações. Três meninas morreram enquanto hospitalizados e outras cinco vítimas ficaram feridas.
Após o massacre, Carneal colocou a pistola no chão e se entregou ao diretor da escola. Depois de largar a arma, o assassino disse: "Mate-me, por favor. Eu não posso acreditar que fiz isso."
Michael Carneal, o autor do massacre na Heath High School em 1997 |
Durante buscas realizadas no armário do estudante, autor do tiroteio, os policiais encontraram uma cópia de “Fúria (Rage)” (primeiro romance escrito por King em 1966, sob o pseudônimo de Richard Bachman, porém só publicado em 1977). Neste livro, o autor conta a história de um aluno adolescente chamado Charlie que armado invade a escola onde estuda e torna reféns professores e colegas. King admite que escreveu “Fúria” em um período de grande repressão sexual, envolvimento com entorpecentes, e grandes revoltas. Na época, ele tinha 19 anos.
Em 1985, oito anos após o seu lançamento, “Fúria” seria relançado no Brasil pela editora Francisco Alves, mas no formato conto fazendo parte da obra “Os Livros de Bachman” que tem ainda outras três histórias: “A Longa Marcha”, “A Autoestrada” e “O Sobrevivente”. Portanto a história polêmica só pode ser encontrada em nosso País nesse livro raríssimo de contos. E como o mestre do terror proibiu a republicação da história após o tiroteio na Heath High School, consequentemente a obra “Os Livros de Bachman” também entrou no rol do banimento.
Hoje, “Os Livros de Bachamn” chegam a custar no Mercado Livre em torno de R$ 1.000,00.
“02 – Roberto Carlos em Detalhes (Paulo César de Araújo)
Hoje, se você estiver pensando em comprar um exemplar de “Roberto Carlos em Detalhes”, deverá ter em mãos em torno de R$ 150,00 a R$ 200,00. Ah! O livro só poderá ser encontrado em sebos, já que além de esgotado, encontra-se proibido.
Tudo teve início na manhã de 17 de janeiro de 2007. Há pouco mais de 12 anos, Roberto Carlos entrava na Justiça com uma queixa crime e um pedido de busca e apreensão contra a biografia “Roberto Carlos em Detalhes”, de Paulo César de Araújo. A editora Planeta já tinha colocado milhares de cópias nas lojas quando, cinco dias depois, uma determinação da Justiça ordenou a retirada dos exemplares e estipulou uma multa de R$ 50 mil ao lojista que mantivesse a vida de Roberto exposta na vitrine.
Araújo disse numa entrevista em 2016 que é muito triste saber que numa democracia, o seu livro é o único censurado no Brasil. Mas apesar do golpe recebido, o autor não desanimou e lançou em 2014 pela Companhia das Letras, “O Réu e o Rei: Minha História com Roberto Carlos” onde aborda a polêmica proibição da biografia sobre o cantor. O novo trabalho chegou às livrarias sem qualquer campanha de divulgação por parte das editoras, mas mesmo assim, tornou-se um dos livros mais vendidos naquele ano.
Roberto Carlos e Paulo César Araújo |
Apesar do recente entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre biografias não autorizadas, “Roberto Carlos em Detalhes” ainda continua proibido no Brasil.
É isso aí, galera. Sintam-se no céu se vocês tem esses dois livros.
Por hoje é só.
Postar um comentário