A Casa dos Espíritos

19 setembro 2016
Edição lançada pelo Círculo do Livro em 1982
Acabei de ler “A Casa dos Espíritos” da autora chilena Isabel Allende e sinceramente não sei o que escrever nesse post, porque tudo o que tinha que ser dito sobre a obra – coisas boas e ruins – já foi dito. O que me levou a criar inspiração para escrever esse texto foi o comentário de um amigo que me disse: - O livro é cansativo, mas apesar disso, consegue prender a atenção do leitor – Ele concluiu dizendo – Mas afinal, todas as sagas tem os seus momentos cansativos.
Mil vezes caraca! Eu não penso dessa maneira. Por discordar dessa opinião, acabou surgindo esse post como uma forma de protesto.
Acredito que um livro cansativo nunca irá conseguir prender a atenção do leitor. Você pode ser até um cara teimoso e enfrentar – aos trancos e barrancos –  o enredo até o final, mas vai achá-lo dose prá leão. Quanto as sagas, de um modo geral, terem os seus momentos cansativos ou arrastados, não é bem assim. Quando o enredo é ‘costurado por mãos hábeis’ ele se torna perfeito.  Que o digam: “Harry Potter” de J.K. Rowling, “As Crônicas de Artur” de Bernard Cornwell (ver aqui, aqui e aqui) e “Médicos de Homens e de Almas” de Taylor Caldwell, sobre a vida do apóstolo São Lucas (ver aqui). São histórias notáveis que prendem os leitores da primeira a ultima página. Portanto, existem sagas diferenciadas, sim. Dessa forma, quebra-se o mito de que todas elas tem os seus momentos cansativos. “A Casa dos Espíritos” se encaixa nessa categoria.
Não estou querendo bancar o advogado de defesa do livro de Allende; quero apenas dar a minha opinião. Dizer o que senti ao ler a obra. E o enredo é perfeito. Só isso.
“A Casa dos Espíritos” narra a saga da família Trueba no período de 1905 a 1975 e funciona como uma biografia disfarçada sobre vida da autora - principalmente na segunda parte da saga que conta o golpe militar ocorrido no Chile em 11 de setembro de 1973 e que culminou coma deposição do presidente  Salvador Allende.
A escritora é sobrinha do ex-presidente do Chile e relata na última parte do livro – mesclando personagens reais e fictícios - os momentos tensos que culminaram com a eleição de Salvador Allende e logo depois com a sua deposição e suicídio. Apesar de Isabel Allende não dar nomes próprios aos personagens reais apenas da trama, sabemos muito bem quem são eles. O “Candidato” é o seu tio Salvador Allende e o Poeta é ninguém menos do que Pablo Neruda. Os personagens fictícios que formam o núcleo da família “Del Valle foram baseados nos familiares da autora: pais, avós e tios.
A segunda parte do romance é densa e muito triste, mas também serve para reconstruir um dos personagens principais: Esteban Trueba. Costumo dizer que nos capítulos finais da saga, ele morreu para renascer e, renascer muito melhor.
No início vemos um Trueba centralizador, arrogante, perverso, maldoso e defensor ferrenho de um governo que menospreza as camadas sociais menos abastadas. Após o golpe militar, esse Trueba morre; nasce, então, um novo homem, com novos ideais e capaz de atitudes que o leitor jamais poderá  imaginar. E uma dessas atitudes é a reconciliação com um personagem que ele sempre fez questão de hostilizar. Cara, essa parte do enredo te emociona, e muito!
Se a segunda parte de “A Casa dos Espíritos” é repleta de tensões, a primeira parte é dedicada a magia. E que magia gostosa!
As excentricidades da “Família Del Valle”, principalmente de Clara, são o contrapeso para o ‘pega pra capá’ que chega na segunda parte da saga. Temos o esquisito e adorável Barrabás, um cão do tamanho de um boi e que apronta verdadeiras peripécias na história; o senador Severo Del Valle e a sua mania por carros velozes e esquisitos; Marcos, o tio de Clara, que vive aprontando confusões antológicas; e por aí afora.
Nem mesmo momentos macabros como aquele em que Clara decide sair procurando a cabeça de um personagem que ficou perdida após ter sido decepada num acidente automobilístico, deixa de ser engraçada.
Galera, enfim, um livraço. E nada cansativo.
Comprei num sebo a edição capa dura e com letras miudíssimas lançada pelo saudoso Circulo do Livro e a devorei em dois dias.

Valeu muito.

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