Depois que li e assisti “O Destino do Poseidon” fiquei
com um receio tão grande de cruzeiros transatlânticos que passei a recusá-los
todos, dos mais longos aos mais curtos. Lulu dá boas risadas na minha cara
desse medo bobo, mas fazer o que, não dá. Se eu já tinha medo do mar antes,
depois da obra literária de Paul Gallico e do filme com Gene Hackman e Ernest
Borgnine que catapultou filas e mais filas nos cinemas de 1972, esse medo
transformou-se em pânico.
Encaro avião e até mesmo aqueles busões mal
acabados, mas navio ou qualquer outra coisa que se mantenha ‘sobre’ ou ‘sob’ o
mar, simplesmente, dispenso.
Ontem, depois do jantar, Lulu perguntou se o meu
pavor “das águas”, como ela costuma dizer, tinha melhorado, respondi que não. –
Acho difícil isso acontecer. – Acrescentei. Não são sei o motivo da pergunta,
nem o que ela quis dizer, mas acho que tinha um “meio planejamento” de alguma
viagem transatlântica passando na cabeça de Lulu. Sei lá, a minha única certeza
é que essa conversa me rendeu um insight. – Caraca! Acidentes marítimos! Isto
dá um post e tanto – exclamei.
Fiquei com vergonha e receio de contar o meu insight
para a Lulu porque no mínimo, viria mais tiração de sarro para o meu lado.
Coisa do tipo: “PQP! Quer passar o seu medo para os outros, agora?!!” ou então
“Tá bancando o corvo Jam! Só porque tem medo de encarar um cruzeiro, agora fica
azarando a viagem dos outros?!” Pois é, conheço muito bem a minha cara metade.
Por isso fiquei na minha, mas não vai adiantar grande coisa, já que ela lê
todos os meus posts e por isso, certamente saberá de onde tirei a inspiração
para escrever esse texto.
Ok, chega de enrolação e vamos ao que interessa, ou
seja, “a postagem sobre “10 livros que falam sobre acidentes marítimos”.
01
– O Destino do Poseidon (Paul Gallico)
Não poderia deixar de abrir esse post com o livro
responsável pela minha fobia de viagens de navio. Paul Gallico escreveu “O Destino do Poseidon” em 1969. Três anos depois, a sua história iria parar nos
cinemas papando dois Oscars – melhores efeitos visuais e melhor canção.
A história idealizada por Gallico sobre uma
catástrofe em alto mar consegue prender o leitor da primeira a última página. O
S.S. Poseidon, um antigo e gigantesco transatlântico convertido em navio de
cruzeiro, transportando mais de 500 passageiros numa viagem de réveillon, é
atingido por uma gigantesca onda que acaba virando o navio de cabeça para
baixo.
No meio dessa tragédia temos dois grupos de
sobreviventes: um composto por pessoas conformadas que preferem aguardar o
salvamento no meio dos destroços e outro grupo formado por aventureiros que decidem
encarar uma viagem cheia de perigos até o casco do navio que se encontra na
superfície. O livro é sobre esses aventureiros. Suas vitórias, derrotas,
tristezas, alegrias, desentendimentos, traições, provas de amizade e coragem,
durante essa jornada suicida.
Editora:
Edibolso
Ano:
1978
Páginas:
288
02
– Horas Decisivas – A História Real do Mais Ousado Resgate Marítimo (Michael J.
Tougias e Casey Sherman)
O livro de Michael J. Tougias e Casey Sherman foi
muito elogiado tanto pela crítica especializada quanto pelo público em geral.
Falando o português claro e usando apenas um tiquinho – veja bem, só um
tiquinho – de hipérbole, posso dizer que todo
mundo adorou a história do livro e também do filme.
“Horas Decisivas” conta a saga, baseada em fatos
reais, do maior salvamento da guarda costeira americana. A história se passa em
1952 quando uma grande tempestade racha o casco do navio SS Pendleton que
possuía 84 tripulantes a bordo. Apesar de diversas embarcações serem enviadas
para o resgate, é um grupo de 4 pessoas em um barco pequeno, com capacidade
para 12 pessoas, que consegue resgatar os 32 tripulantes do SS Pendleton. Para
isso, eles precisam enfrentar uma tempestade de neve, ondas de 20 metros,
bancos de areia, e instrumentos de orientação inoperantes.
O filme da Disney “Horas Decisivas” (2016) com Chris
Pine (o Capitão James T, Kirk da nova franquia ‘Star Trek’ de J.J. Abrams) foi
baseado no livro de Tougias e Sherman lançado originalmente em 2009 nos Estados
Unidos. Sete anos depois, aproveitando o lançamento do filme no Brasil, a
editora Gente publicou o livro com a capa do filme.
Editora:
Gente
Ano:
2016
Páginas:
256
03
– Titanic – A História Completa (Philippe Masson)
O naufrágio do Titanic continuará sendo lembrado
ainda por muitas décadas. A prepotência de seus construtores era tamanha que
eles chegaram a afirmar “Que nem Deus poderia afundar o Titanic” devido as
técnicas avançadas de engenharia utilizadas em sua construção. Está frase considerada herética por alguns e
petulante por outros ficou muito famosa após a tragédia envolvendo a
embarcação.
“Titanic – A História Completa” foi escrita pelo professor
universitário e historiador francês Phillipe Masson e lançado pela editora
Contexto em 2011. A obra aborda em detalhes o naufrágio do navio mais famoso do
mundo, desde a sua construção, em 1909 até a trágica noite de 15 de abril de
1912. Aliás, uma noite dramática para mais
de 2.200 pessoas que deveriam desembarcar em Nova York em 17 de abril daquele
mesmo ano, mas após o Titanic atingir um iceberg, acabaram tendo a sua viagem
abreviada. Mais de 1.500 pessoas morreram.
O livro explora minuciosamente os fatos que
ocorreram antes, durante e depois do acidente. “Detalhes cobre a construção do
navio”, “as façanhas heroicas de tripulantes e passageiros”, “as possíveis causas
que teriam levado o navio a se chocar contra um iceberg”. Tudo isso e muito
mais é narrado em detalhes pelo autor.
Editora:
Contexto
Ano:
2011
Páginas:
272
04
– Bateau Mouche – Uma Tragédia Brasileira (Ivan Sant’Anna)
Em “Bateau Mouche”, Ivan Sant’Anna – também autor de
“Caixa Preta” que restitui a história de três acidentes aéreos que comoveram o
País – apresenta um trabalho investigativo para reconstituir as causas do
acidente que chocou todo o Brasil no réveillon de 1988. Naquela noite, 150
pessoas saíram da enseada de Botafogo, na Baía da Guanabara, para comemorar a
chegada do ano a bordo do Bateau Mouche IV. No caminho, o barco naufragou,
matando mais de 50 pessoas.
O naufrágio aconteceu entre a Ilha de Cotunduba e o
Morro da Urca. De casco chato, mais adequado a águas tranquilas, o barco não
aguentou o excesso de peso.
Ao longo das 168 páginas o leitor vai ficando
indignado com as sucessivas falhas que levaram ao acidente: a aprovação, pela
Capitania dos Portos, da transformação do pesqueiro construído nos anos 1970
para levar 20 pessoas num barco de turismo para 153; a falta de vistoria, por
parte da própria Capitania e dos tripulantes, na noite do réveillon, de todas
as instalações (havia furos no casco, um problema na descarga dos banheiros do
subsolo e escotilhas abertas, o que permitiu a passagem de água); a má
localização dos coletes salva-vidas, deixados inacessíveis aos passageiros
porque haviam ocorrido roubos em viagens anteriores; a decisão equivocada do
capitão, que, no afã de seguir até Copacabana, para o espetáculo de fogos que
se iniciaria, aventurou-se em mar aberto a despeito das condições adversas do
tempo.
Sem dúvida nenhuma, um excelente trabalho
investigativo do autor que foi muito elogiado na época de seu lançamento em
2015.
Editora:
Objetiva
Ano:
2015
Páginas:
168
05
– No Coração do Mar (Nathaniel Philbrick)
“No Coração do Mar” do historiador Nathaniel Philbrick
é um livro estritamente jornalístico, à exemplo de “A Tormenta: A História Real
de Uma Luta de Homens Contra o Mar”, mas nem por isso cansativo ou chato. Pelo
contrário, os dois livros tem uma escrita fluida que prende atenção dos leitores
de uma tal maneira que torna-se impossível largá-los (se você quiser saber mais
clique aqui e aqui).
Tendo como base para a sua narrativa, os depoimentos
de sobreviventes, Philbrick narra uma das mais angustiantes tragédias marítimas
do século XIX: o naufrágio do baleeiro americano Essex e a luta pela
sobrevivência de seus 21 tripulantes. No final, os poucos marinheiros que
escaparam foram obrigados a conviver - pelo resto de suas vidas - perturbados
psicologicamente por lembranças aterradoras como por exemplo terem sido obrigados
a praticar o canibalismo para não morrerem. Eles se alimentaram dos corpos dos seus
próprios amigos.
Nunca se imaginava que uma baleia pudesse atacar um
navio. Em 1820, porém, o baleeiro Essex foi abalroado por um cachalote
enfurecido e afundou rapidamente. Os marujos reuniram o que puderam em três
botes e, durante três meses, navegaram milhares de milhas pelo Pacífico, em
busca de salvação. Os rigores da natureza, a fome e a sede lhes impuseram
sofrimentos atrozes e os levaram aos extremos da loucura, da morte e do
canibalismo.
O acidente com o baleeiro Essex inspirou a criação
do clássico literário “Moby Dick” escrito um ano após a tragédia pelo
romancista Herman Melville. Por sua vez, o livro de Philbrick inspirou o filme homônimo
de 2015 com Chris Hemsworth, que se despiu do uniforme de Thor para viver o
marinheiro Owen Chase, um dos sobreviventes da fatídica aventura.
Editora:
Companhia das Letras
Ano:
2000
Páginas:
371
06
– Costa Concórdia – Crônica de um Naufrágio (J. Quercus)
Pois é, para quem não lembra, o Costa Concordia era
um navio de turismo que em 2012 levava mais de 4.200 pessoas. Depois de umas
“gracinhas” do capitão Schettino, que passou da conta na bebida no jantar, o
navio abalroou rochas na costa a Ilha de Giglio, no litoral italiano, e
naufragou. O capitão, ao contrário do que manda o livro, foi um dos primeiros a
abandonar o navio, no melhor estilo “cada um por si e Deus por todos”. 32
pessoas morreram. Entoce, que coisa heimm... o sujeito parece que amassou e
ainda pisou em cima daquela regrinha básica no meio naval que diz que o
comandante de um navio deve ser sempre o último a abandonar a embarcação.
O jornal espanhol El Mundo recordou após o naufrágio
que enquanto Schettino estava a são e salvo, em terra firme, muitas das 4229
pessoas a bordo do Concordia (3216 passageiros e 1013 tripulantes) continuavam tentar
fugir do barco que se ia inclinando cada vez mais.
Em fevereiro de 2015, três anos depois do desastre,
Schettino foi, nos tribunais de primeira instância, condenado a 16 anos e um
mês de prisão pelos 32 homicídios, abandono do navio e estragos ambientais.
O livro de J. Quercus narra a viagem e o naufragio
do Concordia sob o ponto de vista dos passageiros. Em estilo leve, mas instigante,
o autor leva o leitor para dentro do navio, serve-lhe de guia nas visitas às
cidades portuárias, acompanhando-os no cruzeiro, até o momento em que o casco da
embarcação é rasgado por algumas rochas, permitindo que as águas inundassem as
suas entranhas, transformando o Costa Concordia em mais uma triste história
envolvendo acidentes marítimos.
Editora:
Schoba
Ano:
2012
Páginas:
160
07
– Moby Dick (Herman Melville)
O livro de Herman Melville publicado originalmente
em 1851 traz descrições detalhadas sobre como costumava ser a rotina de um
baleeiro. Repleto de referências náuticas, ensina medidas, processos e termos
que guiavam a vida dos homens em alto mar. É importante lembrar que Melville
também trabalhou como marinheiro em navios mercantes e baleeiros, o que o
tornou um profundo conhecedor do cotidiano e da mentalidade de quem depende do
mar para viver.
Como já citei nesse post, o romance foi inspirado no
naufrágio do navio Essex, comandado pelo capitão George Pollard, que perseguiu
teimosamente uma baleia e ao tentar destruí-la, afundou. Outra fonte
de inspiração foi o cachalote albino Mocha Dick, supostamente morta na década
de 1830 ao largo da ilha chilena de Mocha, que se defendia dos navios que a
perturbavam com premeditada ferocidade.
“Moby Dick” narra a história do marinheiro Ismael
que na cidade de New Bedford, em Massachusetts, conhece o arpoador Queequeg e,
juntos, partem para a ilha de Nantucket em busca de trabalho no mercado de caça
às baleias. Lá, eles embarcaram no baleeiro Pequod para uma viagem de três anos
aos mares do sul. Entre eles estão tripulantes de diversas nacionalidades, arpoadores,
além de Ahab, o sombrio capitão que ostenta uma enorme cicatriz do rosto ao
pescoço e uma perna artificial, feita do osso de cachalote. Obcecado por
encontrar a fera responsável por seus ferimentos e que nenhum arpoador jamais
conseguiu abater - a temível "Moby Dick" -, o capitão Ahab conduz o
baleeiro e toda a sua tripulação por uma rota de perigos e incertezas.
Editora:
Cosac & Naify
Ano:
2008
Páginas:
656
08
– O Naufrágio do Golden Mary (Charles Dickens e Wilkie Collins)
Este livro escrito a quatro mãos por Charles Dickens
e Wilkie Collins conta a história fictícia do Goldem Mary, um grande e belo
navio a vela que no século XIX parte da Inglaterra para a América, levando a
bordo, além da tripulação, emigrantes e aventureiros em busca de ouro na Califórnia.
A embarcação, porém, não atinge o seu destino porque afunda, logo após bater
num iceberg.
Depois do acidente, os passageiros, imediatamente, são
recolhidos em uma lancha e um bote comandados pelo capitão e seu oficial que
tem que administrar três barris de água, três sacos de bolachas, algumas
porções de carne crua para 45 pessoas. Tanto o capitão quanto o seu imediato
fazem de tudo para manter os sobreviventes vivos.
“O Naufrágio de Golden Mary” conta o drama dessas
pessoas e a sua luta pela sobrevivência, enfrentando uma série de percalços
durante a viagem.
Editora:
FTD
Ano:
1998
Páginas:
138
09
– As Aventuras de Pi (Yann Martel)
“As Aventuras de Pi” do escritor canadense Yann
Martel é considerado por alguns críticos como um dos romances mais importantes
do século. Publicado pela primeira vez em 2001 o romance foi rejeitado por pelo
menos cinco editoras de Londres, antes de ser aceito pela Knopf Canadá que
o publicou em setembro de 2001. A edição britânica ganhou o Prêmio Man Booker -
um dos mais importantes do Reino Unido - no ano seguinte.
“As Aventuras de Pi” rendeu uma polêmica danada
quando Martel foi acusado de ter plagiado um conto do livro “Max e os Felinos”
do escritor gaúcho Moacyr Scliar. Depois do estardalhaço dessa notícia, Martel
veio a público confessar que, de fato, tinha se baseado na mesma premissa do
livro brasileiro e inseriu uma nota de agradecimento no prefácio de sua obra.
No livro, todo ele escrito em primeira pessoa pelo
personagem chamado Pi, uma família indiana vegetariana e dona de um jardim
zoológico está com graves problemas econômicos e decide mudar-se para o Canadá
em um barco. Após o naufrágio do barco, o rapaz sobrevive e encontra-se perdido
no oceano, dividindo um bote com um tigre, uma hiena, um orangotango e uma
zebra. A história é narrada pelo rapaz, já adulto, relatando sua aventura para
um autor, que o entrevista, encantado com sua história.
“As Aventuras de Pi” também rendeu um filme de grande sucesso dirigido por
Ang Lee em 2012.
Editora:
Nova Fronteira
Ano:
2012
Páginas:
424
10
– A Tormenta – A História Real de Uma Luta de Homens Contra o
Mar” (Sebastian Junger)
“A Tormenta”, como o próprio subtítulo aponta, é a
história de vários homens e mulheres que em outubro de 1991 enfrentaram uma
tempestade criada por uma combinação de fatores que os meteorologistas a
consideraram de “tempestade perfeita” ou a “tempestade do século”. A tormenta
atingiu várias cidades de Massachusetts, mas a pior parte ficou reservada para
os pescadores de espadarte do porto de Gloucester, principalmente aqueles que
no momento do fenômeno se encontravam com os seus barcos em alto mar, entre os
quais os tripulantes do Andrea Gail que praticamente estavam no olho da
tempestade. É a história desses heróis e heroínas que Sebastian Junger oferece
– num cardápio de primeira – para os seus leitores.
Neste contexto, o drama dos pescadores acaba se
fundindo com a história dos paraquedistas de resgate, conhecidos por PRs, que
muitas vezes são obrigados a driblar o terror de enfrentar ondas da altura de
um edifício de 10 andares para poderem salvar vidas que estão por um fio no mar
bravio.
Junger inicia “A Tormenta: A História Real de Uma Luta
de Homens Contra o Mar” nos apresentando a tripulação do Andrea Gail. Mais do
que mostrar algumas características desses pescadores, o autor brinda os seus
leitores com a rotina do dia a dia desses homens que entraram para a história
de Gloucester ao enfrentar a tempestade do século.
O filme “Mar em Fúria”, de 2000, com George Clooney,
Mark Wahlberg e Diane Lane foi baseado no livro de Junger.
Editora:
Ediouro
Ano:
1997
Páginas:
254
E aí? Beleza? Por hoje é só galera.
Valeu!
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