Cinco livros sobre grandes tragédias aéreas que marcaram a história

11 agosto 2024

Estava num evento na noite de ontem, com Lulu, quando recebemos a notícia da queda de um avião com 62 pessoas, no interior do estado de São Paulo, que não deixou sobreviventes. Tanto eu quanto ela somos assim, ‘meio’ esponjas, o que já adianto não é bom pra alguns profissionais como: jornalistas – é o meu caso; médicos, bombeiros e fiscais de rodovias, entre os que eu me lembre. São profissões que convivem diariamente com a morte – de outras pessoas, o que considero ainda pior – e por isso, com o sofrimento, a dor e o desespero daqueles que muitas vezes estão sob a sua responsabilidade.

Vejam o caso de um médico que cuida de determinado paciente, há muito tempo, e acaba criando laços afetivos, então, chega o momento em que não consegue salvá-lo da morte. Ou o bombeiro que vê uma pessoa clamando por socorro num incêndio, mas se vê impossibilitado de ajuda-la. Ou ainda, um jornalista que todos os dias é obrigado a fazer coberturas de fatos trágicos envolvendo perdas humanas. E para fechar o rol de exemplos, posso citar o fiscal ou socorrista de rodovias que é primeiro a chegar no local de um acidente e presenciar a agonia de uma vida se extinguindo no meio das ferragens de um veículo.

Imagine, se esses profissionais só fossem absorvendo esses sentimentos; com certeza a sua saúde mental e consequentemente a sua saúde física seria curta.

Lembro de um professor meu que costumava dizer que nessas situações devemos aprender a ser peneira e não esponja. Ser peneira, como ele argumentava naquela época, não queria dizer sermos indiferentes nesses momentos, devemos sim, sermos solidários e viver aquela emoção durante alguns dias ou semanas, sei lá; o que não podemos é somatizar essas emoções e carregarmos essa carga durante um longo tempo.

Pois é, tanto eu quanto Lulu, estamos tentando ser peneiras, mas confesso que ainda estamos dando os primeiros passos nessa empreitada.

Por esse motivo, ao me inteirar sobre esse acidente com a aeronave da “Voepass”, antiga Passaredo”, dei uma balançada e o meu lado esponja veio a tona quando soube que um pai e sua filha de apenas 3 anos, além de dois casais que deixaram órfãos filhos menores, estavam entre as vítimas.

Assim que o meu lado esponja se amenizou, surgiu o meu lado profissional, investigativo. A primeira pergunta lógica: o que causou esse grave acidente? Depois, comecei a comparar essa tragédia aérea com outros acidentes do gênero que ocorreram no Brasil e também em outros países; e assim, acabei tendo a ideia dessa postagem que vocês estão lendo agora.

E como já havia publicado dois posts sobre acidentes marítimos (ver aqui e mais aqui), achei que a postagem de hoje completaria esse ciclo. Selecionei cinco livros que exploram em detalhes os piores acidentes aéreos que ocorreram no mundo e quais os motivos que levaram essas aeronaves, consideradas tão seguras conduzidas por uma tripulação experiente, a “despencarem” lá do alto. Vamos a eles.

01 - Voo Air France AF 447 - Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro (Silvio Monteiro Junior)

Faz 15 anos que no Brasil viveu o seu pior acidente aéreo. No início da madrugada de 2009, o voo Air France 447, inesperadamente, chocou-se contra o Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo, sendo 58 brasileiros. Todos morreram. Este também pode ser considerado um dos maiores acidentes da aviação comercial. O Airbus A330 que cobria a rota Rio de Janeiro-Paris havia decolado do Aeroporto Internacional do Galeão.

A queda do avião francês no Oceano Atlântico inaugurou um capítulo na história da aviação. Depois do acidente, o setor aéreo adotou novas normas de treinamento da tripulação e procedimentos de segurança. O evento também foi o 1º da história em que uma companhia aérea e a Airbus –fabricante do avião– tiveram que responder na Justiça sob a acusação de por homicídio involuntário corporativo.

 

No livro Voo Air France AF 447 - Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro, Silvio Monteiro Jr – especialista em Busca e Salvamento e na época, chefe da divisão da Força Aérea Brasileira (FAB) – relata como foi viver de perto a tragédia do voo Air France 447, que havia desaparecido dos radares e, a partir daí, começaria uma operação que mudou a história da aviação no Brasil e em todo o mundo.

É esse processo que ele relata em sua obra que foi escrita com base em documentos, fotos, vídeos e na própria experiência do autor à frente da operação, cuja investigação, até a conclusão final, demorou mais de dois anos.

02 – Ninguém ficou para trás (Maria Tereza Kersul)

Há aproximadamente 18 anos, o voo 1907 que partia de Manaus com destino ao Rio de Janeiro seria atingido por outro avião modelo Legacy, da Embraer, que por sua vez conseguiria, milagrosamente, pousar minutos depois em uma base da Força Aérea Brasileira (FAB) na Serra do Cachimbo. Já o Boeing 737 da Gol como 148 passageiros e seis tripulantes não teve a mesma sorte e... caiu; na selva amazônicas. Todos que estavam a bordo – 154 pessoas - morreram. O acidente aconteceu no dia 29 de setembro de 2006. Os pilotos americanos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foram condenados pela Justiça Brasileira a três anos de prisão.

Ninguém ficou para trás da jornalista Maria Tereza Kersul, explora em detalhes todo o processo de recuperação dos restos mortais dos passageiros e tripulantes, bem como o de peças importantes para a investigação, como a caixa-preta e o gravador de voz da cabine.

Na época, tão logo o desaparecimento do Boeing foi divulgado, um centro de operações foi montado em uma fazenda próxima ao local do acidente, distante 741 quilômetros de Cuiabá. De lá, saíram os helicópteros para a busca dos destroços.

O livro de Maria Tereza esmiúça todo esse trabalho e a batalha árdua e emocionante das equipes envolvidas.

03 - O Rastro da Bruxa. História da Aviação Comercial Brasileira no Século Através de Seus Acidentes. 1928-1996 (Carlos Ari César Germano da Silva)

Este livro aborda em ordem cronológica, 74 acidentes aéreos ocorridos entre os anos de 1927 e 1996, período em que a aviação comercial brasileira nasceu, se desenvolveu e consolidou. Esse número, no entanto, não traduz a totalidade de acidentes com aviões de carreira brasileiros ocorridos nesses últimos 97 anos, já que foram selecionados apenas, os principais dentre os que envolveram voos regulares de passageiros.

Em O Rastro da Bruxa, o comandante Carlos Ari César Germano da Silva conta em detalhes desde o primeiro acidente da aviação comercial e a sua primeira vítima fatal que, aliás, foi um militar norte-americano, num acidente com um Flyer dos Irmãos Wright.

O livro descreve102 acidentes aéreos. Mais do que fazer uma perícia dessas tragédias, porém, o autor descortina através delas a realidade da aviação brasileira por 80 anos, acabando enfim por tecer um curioso panorama de nosso próprio país ao longo do século 20 e 21. A qualidade de impressão das fotos, é bastante boa.

04 – Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros (Ivan Sant’Anna)

Em Caixa-preta, Ivan Sant'Anna reconstitui a trágica história desses três vôos. ONZE DE JULHO DE 1973. O Boeing 707 decola do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para um vôo de 14 horas rumo a Orly, na França. Entre os passageiros, a socialite Regina Lecléry, o senador Filinto Müller e o cantor Agostinho dos Santos. Esse voo, no entanto, jamais pousaria em Orly: a menos de um minuto do pouso, mergulha numa plantação de repolhos, tomado pelas chamas.

VINTE E NOVE DE SETEMBRO DE 1988. Mais uma ponte aérea Brasília-Belo Horizonte-Rio na vida do experiente piloto Murilo de Lima e Silva, que naquele dia comandava o VP-375. Para quem pilotara caças militares, o trecho tranqüilo permitia até mesmo que ele e o co-piloto recebessem um amigo no cockpit para um papo. O céu era de brigadeiro até que um dos passageiros, armado, ordena que o avião seja espatifado no Palácio do Planalto. O desejo do seqüestrador era claro: atingir o Presidente da República, José Sarney. Todos a bordo morreriam juntos.

TRÊS DE SETEMBRO DE 1989. Maracanã lotado para assistir ao Brasil X Chile, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 90. Longe dali, em algum ponto a princípio entre Marabá e Belém, Cezar Augusto Garcez comanda um vôo cego. Perdido em pleno ar, tenta se posicionar. No dia seguinte, a imprensa publicaria: "Avião desaparece na Amazônia".

Partindo de um amplo trabalho de pesquisa e uma série de entrevistas, faxes, e-mails, telefonemas, cartas, documentos e laudos, o autor reuniu informações inéditas sobre os episódios e traçou os instantes que antecederam os vôos, acompanhando os principais personagens, retratando os momentos de pânico em que cada um viu a própria vida em risco.

05 – Detetives da aviação (Christine Negroni)

Não li o livro, mas a autora tem credenciais suficientes para que eu possa afirmar que a obra tem tudo o que os aficionados pelo tema procuram. Christine Negroni é uma jornalista investigativa, muito competente, especialista em acidentes aéreos. Ela escreve, entre outros meios, para o New York Times, a ABC News e a Air & Space, e para seu blog, o Flying Lessons.

Em Detetives da Aviação, a autora leva os leitores para dentro das investigações de acidentes desde os primeiros dias da aviação até o presente. Ela explora o que se sabe sobre o voo 370 desaparecido da Malaysia Airlines e propõe um cenário provável para o que aconteceu a bordo do Boeing 777.

Negroni mostra como a segurança evoluiu ao longo dos anos por causa do trabalho dos detetives de acidentes e como praticamente todos os aspectos da aviação hoje foram moldados pelas lições aprendidas com desastres.

investiga esses acidentes e tenta descobrir o que realmente aconteceu por meio de um extenso trabalho de pesquisa.

Cada capítulo do livro é dedicado a um acidente aéreo diferente, fornecendo uma visão detalhada dos eventos que levaram ao acidente e das investigações subsequentes. A autora combina sua própria pesquisa com entrevistas com especialistas e testemunhas para criar um retrato convincente de cada acidente.

Por hoje é só galera. Inté!

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