Estava num evento na noite de ontem, com Lulu, quando
recebemos a notícia da queda de um avião com 62 pessoas, no interior do estado
de São Paulo, que não deixou sobreviventes. Tanto eu quanto ela somos assim,
‘meio’ esponjas, o que já adianto não é bom pra alguns profissionais como:
jornalistas – é o meu caso; médicos, bombeiros e fiscais de rodovias, entre os
que eu me lembre. São profissões que convivem diariamente com a morte – de outras
pessoas, o que considero ainda pior – e por isso, com o sofrimento, a dor e o
desespero daqueles que muitas vezes estão sob a sua responsabilidade.
Vejam o caso de um médico que cuida de determinado
paciente, há muito tempo, e acaba criando laços afetivos, então, chega o
momento em que não consegue salvá-lo da morte. Ou o bombeiro que vê uma pessoa
clamando por socorro num incêndio, mas se vê impossibilitado de ajuda-la. Ou
ainda, um jornalista que todos os dias é obrigado a fazer coberturas de fatos trágicos
envolvendo perdas humanas. E para fechar o rol de exemplos, posso citar o
fiscal ou socorrista de rodovias que é primeiro a chegar no local de um
acidente e presenciar a agonia de uma vida se extinguindo no meio das ferragens
de um veículo.
Imagine, se esses profissionais só fossem absorvendo
esses sentimentos; com certeza a sua saúde mental e consequentemente a sua
saúde física seria curta.
Lembro de um professor meu que costumava dizer que nessas
situações devemos aprender a ser peneira e não esponja. Ser peneira, como ele
argumentava naquela época, não queria dizer sermos indiferentes nesses momentos,
devemos sim, sermos solidários e viver aquela emoção durante alguns dias ou
semanas, sei lá; o que não podemos é somatizar essas emoções e carregarmos essa
carga durante um longo tempo.
Pois é, tanto eu quanto Lulu, estamos tentando ser
peneiras, mas confesso que ainda estamos dando os primeiros passos nessa
empreitada.
Por esse motivo, ao me inteirar sobre esse acidente
com a aeronave da “Voepass”, antiga Passaredo”, dei uma balançada e o meu lado
esponja veio a tona quando soube que um pai e sua filha de apenas 3 anos, além
de dois casais que deixaram órfãos filhos menores, estavam entre as vítimas.
Assim que o meu lado esponja se amenizou, surgiu o meu
lado profissional, investigativo. A primeira pergunta lógica: o que causou esse
grave acidente? Depois, comecei a comparar essa tragédia aérea com outros
acidentes do gênero que ocorreram no Brasil e também em outros países; e assim,
acabei tendo a ideia dessa postagem que vocês estão lendo agora.
E como já havia publicado dois posts sobre acidentes
marítimos (ver aqui e mais aqui), achei que a postagem de hoje completaria esse
ciclo. Selecionei cinco livros que exploram em detalhes os piores acidentes
aéreos que ocorreram no mundo e quais os motivos que levaram essas aeronaves,
consideradas tão seguras conduzidas por uma tripulação experiente, a
“despencarem” lá do alto. Vamos a eles.
01
- Voo Air France AF 447 - Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro
(Silvio Monteiro Junior)
Faz 15 anos que no Brasil viveu o seu pior acidente
aéreo. No início da madrugada de 2009, o voo Air France 447, inesperadamente,
chocou-se contra o Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo, sendo 58
brasileiros. Todos morreram. Este também pode ser considerado um dos maiores
acidentes da aviação comercial. O Airbus A330 que cobria a rota Rio de
Janeiro-Paris havia decolado do Aeroporto Internacional do Galeão.
A queda do avião francês no Oceano Atlântico inaugurou
um capítulo na história da aviação. Depois do acidente, o setor aéreo adotou
novas normas de treinamento da tripulação e procedimentos de segurança. O
evento também foi o 1º da história em que uma companhia aérea e a Airbus
–fabricante do avião– tiveram que responder na Justiça sob a acusação de por
homicídio involuntário corporativo.
No livro Voo Air
France AF 447 - Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro, Silvio
Monteiro Jr – especialista em Busca e Salvamento e na época, chefe da divisão
da Força Aérea Brasileira (FAB) – relata como foi viver de perto a tragédia do
voo Air France 447, que havia desaparecido dos radares e, a partir daí,
começaria uma operação que mudou a história da aviação no Brasil e em todo o
mundo.
É esse processo que ele relata em sua obra que foi
escrita com base em documentos, fotos, vídeos e na própria experiência do autor
à frente da operação, cuja investigação, até a conclusão final, demorou mais de
dois anos.
02
– Ninguém ficou para trás (Maria Tereza Kersul)
Há aproximadamente 18 anos, o voo 1907 que partia de
Manaus com destino ao Rio de Janeiro seria atingido por outro avião modelo
Legacy, da Embraer, que por sua vez conseguiria, milagrosamente, pousar minutos
depois em uma base da Força Aérea Brasileira (FAB) na Serra do Cachimbo. Já o
Boeing 737 da Gol como 148 passageiros e seis tripulantes não teve a mesma
sorte e... caiu; na selva amazônicas. Todos que estavam a bordo – 154 pessoas -
morreram. O acidente aconteceu no dia 29 de setembro de 2006. Os pilotos
americanos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foram condenados pela
Justiça Brasileira a três anos de prisão.
Ninguém
ficou para trás da jornalista Maria Tereza Kersul,
explora em detalhes todo o processo de recuperação dos restos mortais dos
passageiros e tripulantes, bem como o de peças importantes para a investigação,
como a caixa-preta e o gravador de voz da cabine.
Na época, tão logo o desaparecimento do Boeing foi
divulgado, um centro de operações foi montado em uma fazenda próxima ao local
do acidente, distante 741 quilômetros de Cuiabá. De lá, saíram os helicópteros
para a busca dos destroços.
O livro de Maria Tereza esmiúça todo esse trabalho e a
batalha árdua e emocionante das equipes envolvidas.
03
- O Rastro da Bruxa. História da Aviação Comercial Brasileira no Século Através
de Seus Acidentes. 1928-1996 (Carlos Ari César Germano da Silva)
Este livro aborda em ordem cronológica, 74 acidentes
aéreos ocorridos entre os anos de 1927 e 1996, período em que a aviação
comercial brasileira nasceu, se desenvolveu e consolidou. Esse número, no
entanto, não traduz a totalidade de acidentes com aviões de carreira
brasileiros ocorridos nesses últimos 97 anos, já que foram selecionados apenas,
os principais dentre os que envolveram voos regulares de passageiros.
Em O Rastro da
Bruxa, o comandante Carlos Ari César Germano da Silva conta em detalhes
desde o primeiro acidente da aviação comercial e a sua primeira vítima fatal
que, aliás, foi um militar norte-americano, num acidente com um Flyer dos
Irmãos Wright.
O livro descreve102 acidentes aéreos. Mais do que
fazer uma perícia dessas tragédias, porém, o autor descortina através delas a
realidade da aviação brasileira por 80 anos, acabando enfim por tecer um
curioso panorama de nosso próprio país ao longo do século 20 e 21. A qualidade
de impressão das fotos, é bastante boa.
04
– Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros (Ivan Sant’Anna)
Em Caixa-preta, Ivan Sant'Anna reconstitui a trágica
história desses três vôos. ONZE DE JULHO DE 1973. O Boeing 707 decola do
aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para um vôo de 14 horas rumo a Orly, na
França. Entre os passageiros, a socialite Regina Lecléry, o senador Filinto
Müller e o cantor Agostinho dos Santos. Esse voo, no entanto, jamais pousaria
em Orly: a menos de um minuto do pouso, mergulha numa plantação de repolhos,
tomado pelas chamas.
VINTE E NOVE DE SETEMBRO DE 1988. Mais uma ponte aérea
Brasília-Belo Horizonte-Rio na vida do experiente piloto Murilo de Lima e
Silva, que naquele dia comandava o VP-375. Para quem pilotara caças militares,
o trecho tranqüilo permitia até mesmo que ele e o co-piloto recebessem um amigo
no cockpit para um papo. O céu era de brigadeiro até que um dos passageiros,
armado, ordena que o avião seja espatifado no Palácio do Planalto. O desejo do
seqüestrador era claro: atingir o Presidente da República, José Sarney. Todos a
bordo morreriam juntos.
TRÊS DE SETEMBRO DE 1989. Maracanã lotado para
assistir ao Brasil X Chile, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 90. Longe
dali, em algum ponto a princípio entre Marabá e Belém, Cezar Augusto Garcez
comanda um vôo cego. Perdido em pleno ar, tenta se posicionar. No dia seguinte,
a imprensa publicaria: "Avião desaparece na Amazônia".
Partindo de um amplo trabalho de pesquisa e uma série
de entrevistas, faxes, e-mails, telefonemas, cartas, documentos e laudos, o
autor reuniu informações inéditas sobre os episódios e traçou os instantes que
antecederam os vôos, acompanhando os principais personagens, retratando os
momentos de pânico em que cada um viu a própria vida em risco.
05
– Detetives da aviação (Christine Negroni)
Não li o livro, mas a autora tem credenciais
suficientes para que eu possa afirmar que a obra tem tudo o que os aficionados
pelo tema procuram. Christine Negroni é uma jornalista investigativa, muito
competente, especialista em acidentes aéreos. Ela escreve, entre outros meios,
para o New York Times, a ABC News e a Air & Space, e para seu blog, o
Flying Lessons.
Em Detetives da
Aviação, a autora leva os leitores para dentro das investigações de
acidentes desde os primeiros dias da aviação até o presente. Ela explora o que
se sabe sobre o voo 370 desaparecido da Malaysia Airlines e propõe um cenário
provável para o que aconteceu a bordo do Boeing 777.
Negroni mostra como a segurança evoluiu ao longo dos
anos por causa do trabalho dos detetives de acidentes e como praticamente todos
os aspectos da aviação hoje foram moldados pelas lições aprendidas com
desastres.
investiga esses acidentes e tenta descobrir o que
realmente aconteceu por meio de um extenso trabalho de pesquisa.
Cada capítulo do livro é dedicado a um acidente aéreo
diferente, fornecendo uma visão detalhada dos eventos que levaram ao acidente e
das investigações subsequentes. A autora combina sua própria pesquisa com
entrevistas com especialistas e testemunhas para criar um retrato convincente
de cada acidente.
Por hoje é só galera. Inté!
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