“Ler alguns livros pode fazer mal para a sua saúde;
por isso, muito cuidado!” Está frase pode assustar muitos leitores e leva-los a
pensar que o conteúdo de algumas obras pode afetar diretamente o seu bem estar
físico, levando-os a ficar doentes. Não é por aí galera. Confesso que quis
apenas dar algum ‘ar’ de impacto no início desse texto. Na realidade, podem
esquecer o conteúdo e focar as suas atenções nas capas e páginas dessas obras;
capas e páginas em seu sentido físico, literalmente.
Há alguns dias, fiquei surpreso ao ler uma reportagem
publicada em 2013 no jornal Gazeta de Povo, de Curitiba, cujo título dizia: “Fungo
obriga biblioteca a incinerar 20 mil livros”.
A matéria de 11 anos atrás dizia que uma equipe de
especialistas havia descoberto dois tipos de fungos prejudiciais à saúde no
acervo de uma biblioteca municipal em Curitiba. Fungos, inclusive, com um alto
grau de transmissibilidade capaz de provocar algumas doenças como endocardite
(infecção que atinge parte da membrana que encobre as válvulas cardíacas e que
pode atingir várias partes do coração), meningite, ventriculite e infecções na
corrente sanguínea. A reportagem dizia que aqueles que tivessem contato com esses
fungos poderiam também sofrer com infecções como viroses e lesões cutâneas.
Pelo o que eu entendi, esses fungos estavam na parede
da biblioteca e acabou atingindo todo o acervo que teve que ser retirado por
pessoas especializadas usando luvas e roupas especiais para não serem
contaminados. E como diz o próprio título da matéria, cerca de 200 mil livros
tiveram de ser incinerados.
Juro que fiquei atônito e por isso, fui pesquisar um
pouco mais sobre o assunto e, então, descobri outra informação - não digo
semelhante mas com algumas particularidades com esse fato que aconteceu há mais
de uma década na capital paranaense. Este fato diz respeito, unicamente, as
capas de algumas obras. Vou explicar melhor. Durante o século 19, à medida que os livros
começaram a ser produzidos em massa, os encadernadores fizeram a transição de
capas de couro caras para itens de tecido mais acessíveis. Para atrair
leitores, essas capas de tecido eram frequentemente tingidas em cores
brilhantes e chamativas.
De acordo com matéria publicada, recentemente, na
Revista Galileu, um desses pigmentos mais populares populares foi o verde de
Scheele, nomeado em homenagem a Carl Wilhelm Scheele, um químico germano-sueco
que em 1775 descobriu que um pigmento verde vívido poderia ser produzido a
partir de cobre e arsênico. Este corante não era apenas barato de fazer, também
era mais vibrante do que os verdes de carbonato de cobre que haviam sido usados
por mais de um século.
O verde de Scheele eventualmente caiu em desuso porque
tinha tendência a desbotar para preto quando reagia com poluentes à base de
enxofre liberados do carvão. Mas novos corantes baseados na descoberta de
Scheele, como o verde esmeralda e o verde Paris, mostraram-se muito mais
duráveis. Eles foram rapidamente adotados para uso em vários itens, incluindo
capas de livros, roupas, velas e papel de parede.
Tudo poderia transcorrer dentro da normalidade, sem
nenhum alarde, se os corantes verde esmeralda e o verde Paris não tivessem uma
desvantagem significativa: eles degradavam facilmente, liberando arsênico
venenoso e carcinogênico!
Os frequentes relatos de crianças envenenadas por
velas verdes em festas de Natal, trabalhadores de fábricas encarregados de
aplicar tinta em enfeites convulsionando e vomitando água verde, e avisos de
vestidos de baile venenosos levantaram sérias preocupações sobre a segurança
desses corantes verdes.
Mas isso é assunto para uma outra postagem, citei esse
fato que aconteceu no século 19 na França apenas para ilustrar como o estado
físico de alguns livros mais antigos merecem a nossa atenção; e por tabela, a
importância de nos conscientizarmos dos cuidados na conservação dos nossos
queridos ‘bebês’. Se não cuidarmos deles, com certeza, eles também não irão
cuidar de nós.
Galera, a leitura, no caso os livros mais antigos, tem
que nos dar prazer e não... alergia.
Saiba que muitos livros antigos encontrados em sebos
podem não apresentar boas condições de conservação, com páginas amareladas e um
característico mau cheiro. Nesses casos, o comprador deve tomar cuidado, já que
esses fatores podem ser prejudiciais à sua saúde, ocasionando reações alérgicas
e problemas respiratórios.
Mas isso pode acontecer também dentro de sua casa, na
sua estante ou prateleira de livros onde você guarda sem nenhum cuidado os seus
amados “livrinhos”. Umidade, poeira, recinto nada arejado, enfim, um ambiente
profícuo para a propagação de fungos; não semelhante, mas pelo menos, com
algumas características daquele ambiente da biblioteca de Curitiba que citei no
início dessa postagem.
Cara, sem querer ser chato e começar a dar palpites em
sua vida, mas ser leitor não é apenas sair por aí comprando, lendo e depois
jogando os seus “bebes” em qualquer canto ou deixando-os anos a fio abandonados
numa estante sem nenhum cuidado. É aquilo que eu já escrevi acima: “se você não
cuidar deles, eles também não irão cuidar de você.
Segundo entrevista da Chefe do Centro de Conservação e
Encadernação (CCE) da Biblioteca Nacional, Silvana Bojanoski ao Jornal do
Brasil, vários são os fatores que podem ocasionar
mau cheiro em livros. Os cuidados e providências que devem ser tomados para
amenizar o odor variam de acordo com sua causa.
Para livros que permaneceram muito tempo em um lugar
fechado, úmido e sem ventilação, a especialista recomenda, além de areja-los,
fazer uma limpeza com uma trincha (espécie de pincel) macia nas capas e em
todas as suas folhas.
Já nos livros que apresentam cheiro característico
decorrente da acidez do papel muito frequente no processo de envelhecimento de
suas folhas, que se tornam amareladas e quebradiças Silvana afirma que o maior
problema é a fragilidade das folhas, não existindo qualquer risco para a saúde.
Livros guardados em lugares úmidos, segundo a
especialista, também podem conter fungos, apresentando manchas de cores
variadas e um cheiro característico de umidade. Nesses casos, alguns fungos
podem ser prejudiciais à saúde.
Galera, evitar esse “balde de problemas” é mais
simples do que possa parecer, basta manter os “berços” de seus “bebês” sempre
limpos e arejados. Dessa forma, os fungos e outros microrganismos não darão os
“ares de sua graça”. A ventilação eficaz também é fundamental, pois reduz os
níveis de esporos de mofo no ar, mantendo o ambiente seco e fresco.
Conhecem aquela música do Legião Urbana, “Quando o sol
bater na janela do teu quarto”? Então, que tal trocar “do teu quarto” por “da
tua biblioteca”?
Façam isso.
2 comentários
Post bem interessante e pertinente, Jam. Temos que manter o hábito da leitura sem descuidar da saúde, especialmente quem tem problemas respiratórios. Não tenho problema com livros usados, mas evito ler edições muuuito antigas.
ResponderExcluirAqui onde moro é bastante úmido, então fungo e mofo são uma realidade (nos livros não pega, mas nos móveis e paredes sim). Já ouvi dizer (e não sei se procede) que grande quantidade de livros e, por consequência, de papel atrai mofo. Enfim, temos que cuidar.
Grande abraço!
Olá Tex! Que bom vê-lo por aqui, novamente, e saber que você continua acompanhando as nossas postagens. Pois é, eu que o diga (rs), já que tenho problemas respiratórios (rinite alérgica). Portanto, essa postagem foi muito útil para quem escreveu (rs). Quanto ao mofo, procede sim. Guardar os livros em caixas de papelão é um convite certo para a visita do sr. Mofo.
ExcluirGrande abraço Tex!!