Ler alguns livros pode prejudicar a sua saúde. Ah! E não se esqueça: cuide bem de seus "bebês".

21 agosto 2024

“Ler alguns livros pode fazer mal para a sua saúde; por isso, muito cuidado!” Está frase pode assustar muitos leitores e leva-los a pensar que o conteúdo de algumas obras pode afetar diretamente o seu bem estar físico, levando-os a ficar doentes. Não é por aí galera. Confesso que quis apenas dar algum ‘ar’ de impacto no início desse texto. Na realidade, podem esquecer o conteúdo e focar as suas atenções nas capas e páginas dessas obras; capas e páginas em seu sentido físico, literalmente. 

Há alguns dias, fiquei surpreso ao ler uma reportagem publicada em 2013 no jornal Gazeta de Povo, de Curitiba, cujo título dizia: “Fungo obriga biblioteca a incinerar 20 mil livros”.

A matéria de 11 anos atrás dizia que uma equipe de especialistas havia descoberto dois tipos de fungos prejudiciais à saúde no acervo de uma biblioteca municipal em Curitiba. Fungos, inclusive, com um alto grau de transmissibilidade capaz de provocar algumas doenças como endocardite (infecção que atinge parte da membrana que encobre as válvulas cardíacas e que pode atingir várias partes do coração), meningite, ventriculite e infecções na corrente sanguínea. A reportagem dizia que aqueles que tivessem contato com esses fungos poderiam também sofrer com infecções como viroses e lesões cutâneas.

Pelo o que eu entendi, esses fungos estavam na parede da biblioteca e acabou atingindo todo o acervo que teve que ser retirado por pessoas especializadas usando luvas e roupas especiais para não serem contaminados. E como diz o próprio título da matéria, cerca de 200 mil livros tiveram de ser incinerados.

Juro que fiquei atônito e por isso, fui pesquisar um pouco mais sobre o assunto e, então, descobri outra informação - não digo semelhante mas com algumas particularidades com esse fato que aconteceu há mais de uma década na capital paranaense. Este fato diz respeito, unicamente, as capas de algumas obras. Vou explicar melhor.  Durante o século 19, à medida que os livros começaram a ser produzidos em massa, os encadernadores fizeram a transição de capas de couro caras para itens de tecido mais acessíveis. Para atrair leitores, essas capas de tecido eram frequentemente tingidas em cores brilhantes e chamativas.

De acordo com matéria publicada, recentemente, na Revista Galileu, um desses pigmentos mais populares populares foi o verde de Scheele, nomeado em homenagem a Carl Wilhelm Scheele, um químico germano-sueco que em 1775 descobriu que um pigmento verde vívido poderia ser produzido a partir de cobre e arsênico. Este corante não era apenas barato de fazer, também era mais vibrante do que os verdes de carbonato de cobre que haviam sido usados por mais de um século.

O verde de Scheele eventualmente caiu em desuso porque tinha tendência a desbotar para preto quando reagia com poluentes à base de enxofre liberados do carvão. Mas novos corantes baseados na descoberta de Scheele, como o verde esmeralda e o verde Paris, mostraram-se muito mais duráveis. Eles foram rapidamente adotados para uso em vários itens, incluindo capas de livros, roupas, velas e papel de parede.

Tudo poderia transcorrer dentro da normalidade, sem nenhum alarde, se os corantes verde esmeralda e o verde Paris não tivessem uma desvantagem significativa: eles degradavam facilmente, liberando arsênico venenoso e carcinogênico!

Os frequentes relatos de crianças envenenadas por velas verdes em festas de Natal, trabalhadores de fábricas encarregados de aplicar tinta em enfeites convulsionando e vomitando água verde, e avisos de vestidos de baile venenosos levantaram sérias preocupações sobre a segurança desses corantes verdes.

Mas isso é assunto para uma outra postagem, citei esse fato que aconteceu no século 19 na França apenas para ilustrar como o estado físico de alguns livros mais antigos merecem a nossa atenção; e por tabela, a importância de nos conscientizarmos dos cuidados na conservação dos nossos queridos ‘bebês’. Se não cuidarmos deles, com certeza, eles também não irão cuidar de nós.

Galera, a leitura, no caso os livros mais antigos, tem que nos dar prazer e não... alergia.

Saiba que muitos livros antigos encontrados em sebos podem não apresentar boas condições de conservação, com páginas amareladas e um característico mau cheiro. Nesses casos, o comprador deve tomar cuidado, já que esses fatores podem ser prejudiciais à sua saúde, ocasionando reações alérgicas e problemas respiratórios.

Mas isso pode acontecer também dentro de sua casa, na sua estante ou prateleira de livros onde você guarda sem nenhum cuidado os seus amados “livrinhos”. Umidade, poeira, recinto nada arejado, enfim, um ambiente profícuo para a propagação de fungos; não semelhante, mas pelo menos, com algumas características daquele ambiente da biblioteca de Curitiba que citei no início dessa postagem.

Cara, sem querer ser chato e começar a dar palpites em sua vida, mas ser leitor não é apenas sair por aí comprando, lendo e depois jogando os seus “bebes” em qualquer canto ou deixando-os anos a fio abandonados numa estante sem nenhum cuidado. É aquilo que eu já escrevi acima: “se você não cuidar deles, eles também não irão cuidar de você.

Segundo entrevista da Chefe do Centro de Conservação e Encadernação (CCE) da Biblioteca Nacional, Silvana Bojanoski ao Jornal do Brasil, vários são os fatores que podem ocasionar mau cheiro em livros. Os cuidados e providências que devem ser tomados para amenizar o odor variam de acordo com sua causa.

Para livros que permaneceram muito tempo em um lugar fechado, úmido e sem ventilação, a especialista recomenda, além de areja-los, fazer uma limpeza com uma trincha (espécie de pincel) macia nas capas e em todas as suas folhas.

Já nos livros que apresentam cheiro característico decorrente da acidez do papel muito frequente no processo de envelhecimento de suas folhas, que se tornam amareladas e quebradiças Silvana afirma que o maior problema é a fragilidade das folhas, não existindo qualquer risco para a saúde.

Livros guardados em lugares úmidos, segundo a especialista, também podem conter fungos, apresentando manchas de cores variadas e um cheiro característico de umidade. Nesses casos, alguns fungos podem ser prejudiciais à saúde.

Galera, evitar esse “balde de problemas” é mais simples do que possa parecer, basta manter os “berços” de seus “bebês” sempre limpos e arejados. Dessa forma, os fungos e outros microrganismos não darão os “ares de sua graça”. A ventilação eficaz também é fundamental, pois reduz os níveis de esporos de mofo no ar, mantendo o ambiente seco e fresco.

Conhecem aquela música do Legião Urbana, “Quando o sol bater na janela do teu quarto”? Então, que tal trocar “do teu quarto” por “da tua biblioteca”?

Façam isso.

2 comentários

  1. Post bem interessante e pertinente, Jam. Temos que manter o hábito da leitura sem descuidar da saúde, especialmente quem tem problemas respiratórios. Não tenho problema com livros usados, mas evito ler edições muuuito antigas.
    Aqui onde moro é bastante úmido, então fungo e mofo são uma realidade (nos livros não pega, mas nos móveis e paredes sim). Já ouvi dizer (e não sei se procede) que grande quantidade de livros e, por consequência, de papel atrai mofo. Enfim, temos que cuidar.
    Grande abraço!

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    1. Olá Tex! Que bom vê-lo por aqui, novamente, e saber que você continua acompanhando as nossas postagens. Pois é, eu que o diga (rs), já que tenho problemas respiratórios (rinite alérgica). Portanto, essa postagem foi muito útil para quem escreveu (rs). Quanto ao mofo, procede sim. Guardar os livros em caixas de papelão é um convite certo para a visita do sr. Mofo.
      Grande abraço Tex!!

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