Quando lemos um romance – pode ser um thriller
policial, um suspense ou uma história de terror ou de amor – mal sabemos que
aquela narrativa que nos seduz a cada página, muitas vezes, foi criada a partir
de uma situação real vivida pelo autor. O que estou tentando expor é que o
enredo de alguns livros não foram simplesmente “imaginados” pelos escritores
mas baseados em situações reais vividas ou presenciadas por eles.
Vamos ver se através de alguns exemplos práticos
consigo explicar melhor. Frankenstein; claro que você conhece
essa obra prima do terror. Pois é, a ideia do romance surgiu em uma noite
chuvosa de verão quando Mary Shelley foi desafiada a escrever um conto de
terror. Então, ela usou como plot um sonho ou pesadelo que teve na noite
anterior e “jogou” grande parte disso no papel. Pronto! Surgia assim, um dos
maiores clássicos de todos os tempos da literatura de terror. Ah! ainda tem o
“lance” de Stephen King. Veja só: Certo dia, o autor foi levar a sua moto para
consertar e ao chegar na oficina do mecânico deu de cara com um cão São
Bernardo enorme rosnando pra ele. O medo que sentiu foi visceral. Esse medo foi
o ponto de partida para o surgimento de Cujo.
Neste post vamos escrever sobre isso. Situações reais,
boas ou más, vividas por escritores conhecidos e que acabaram servindo de
inspiração para os seus enredos que se tornaram verdadeiros best-sellers. E
tudo graças a essas situações.
01
– O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)
Inspiração:
queda de um avião no deserto
O livro escrito pelo aviador francês Antoine de
Saint-Exupéry foi publicado em 1943 e já vendeu mais de 200 milhões de cópias
no mundo todo, tornando-se uma das obras mais famosas da história.
O clássico moderno conta a história de um
principezinho, que viaja pelo universo em busca de sabedoria. Na Terra ele
encontra um aviador perdido no deserto, a quem conta toda sua jornada até
então.
É importante frisar que antes de se tornar o famoso
escritor de O Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry
era um conhecido aviador vindo de uma família da aristocracia francesa. Ele foi
piloto de testes e ajudou a implantar rotas de correio na África e na América
do Sul.
Num belo e formoso dia, nos de 1935, o “aviador-escritor”
resolveu tentar quebrar o recorde da viagem mais rápida entre Paris e Saigon.
Resultado: acabou caindo com o seu avião no deserto a 200 Km de distância do
Cairo, no Egito. O aviador e seu copiloto sobreviveram e passaram 4 dias
perdidos no deserto, até serem encontrados por um integrante de um povo local
que salvou suas vidas. Nascia dessa maneira, o plot do livro que o tornou uma
verdadeira lenda no mundo literário.
02
– O Exorcista (William Peter Blatty)
Inspiração:
um caso real de exorcismo
O livro O Exorcista gira em torno da história de possessão demoníaca de Reagan
MacNeil. Uma garotinha de 12 anos de idade, filha de uma famosa atriz de
cinema. Ao brincar com uma tábua Ouija, acaba abrindo uma porta para se
encontrar com um espírito maligno. A partir daí o diabo toma conta do corpo da
criança produzindo fenômenos apavorantes.
Desesperada, sua mãe pede a ajuda de um padre jesuíta
para tentar exorcizá-la e salvar sua vida.
Reza a lenda que o autor William Peter Blatty teria
ouvido ainda nos tempos de faculdade uma história de possessão. O caso,
ocorrido em 1949, em Mount Rainier, no estado de Maryland, sobre
a possessão de um menino de 14 anos foi a inspiração.
O jornal The Washington Post e supostamente outros
periódicos locais relataram o discurso de um padre feito numa sociedade de
parapsicologia amadora, na qual ele teria afirmado haver exorcismado um demônio
em um menino de 13 anos de idade chamado Ronald, cujo sofrimento durou cerca de
seis semanas, e terminado em 19 de abril de 1949.
A partir desse relato, que ficou famoso nas páginas do
Washington Post de 20 de agosto de 1949, a história teria sido escrita.
03
– Cujo (Stephen King)
Inspiração:
O cachorro do mecânico
Considero Cujo
o livro mais agressivo e impactante de Stephen King, um verdadeiro soco no
estõmago. O romance de terror psicológico foi escrito inteiramente em um único
capítulo, um relato ininterrupto e chocante que nos incomoda profundamente,
como um bom livro de terror deve ser.
Após seu lançamento inicial em 1981, o romance
conquistou e manteve uma alta posição nas listas de best-sellers nos Estados
Unidos. Alguns críticos criticaram o romance por seu final sombrio, e bota
sombrio nisso.
O livro conta a história O livro conta a história da
família Trenton, de classe-média que enfrenta sérios problemas conjugais e
financeiros; problemas que são agravados pelo perigo mortal quando mãe e filho são
aterrorizados por um cão da raça São Bernardo chamado Cujo que foi mordido por
um morcego com raiva. O livro foi adaptado em 1983 para um filme homônimo.
De acordo com King, a história surgiu de um episódio
real, quando o autor decidiu levar a sua moto para conserto a um mecânico que
morava na zona rural de Brigdton, no Maine. Ao chegar à oficina, King se
deparou com o maior cachorro que já havia visto na vida, rosnando para ele. O
autor relembra o medo que sentiu naquele momento, já que sua moto havia acabado
de estragar definitivamente e ele não tinha como, nem para onde correr. Apenas
esse “pedaço de uma história” operou em sua imaginação para se tornar uma de
suas tramas mais conhecidas.
04
– A Casa dos Espíritos (Isabel Allende)
Inspiração:
Golpe de Estado no Chile em 1973
Publicado originalmente em 1982, Casa dos Espíritos nasceu de uma carta que Isabel Allende escreveu,
no ano anterior, para seu avô, então com 99 anos e que parecia estar à beira da
morte. Nesta época, Isabel vivia em Caracas e trabalhava como jornalista
freelancer. Ela tinha deixado o Chile em 1973, após o golpe militar que
derrubou Salvador Allende da presidência. Salvador era primo de primeiro grau
do pai da autora (daí o sobrenome em comum). A família inteira do presidente
deposto e morto teve que abandonar o Chile às pressas.
A carta ao avô, que tinha o propósito de ser uma
homenagem à sua memória, logo se transformou em um livro em que Isabel
denunciava os abusos cometidos pela ditadura de Augusto Pinochet. Com passagens
biográficas de seus familiares e com elementos de Realismo Fantástico nasceu A Casa dos Espíritos que retrata a saga
de uma família chilena por quatro gerações (no período de 1905 a 1975).
O livro, portanto, funciona como uma biografia
disfarçada sobre vida da autora - principalmente na segunda parte da saga que
conta o golpe militar ocorrido no Chile em 11 de setembro de 1973 e que culminou
coma deposição do presidente Salvador Allende.
A escritora é sobrinha do ex-presidente do Chile e
relata – mesclando personagens reais e fictícios - os momentos tensos que
culminaram com a eleição de Salvador Allende e logo depois com a sua deposição
e suicídio. Apesar de Isabel Allende não dar nomes próprios aos personagens
reais na trama, sabemos muito bem quem são eles. O “Candidato” é o seu tio
Salvador Allende e o Poeta é ninguém menos do que Pablo Neruda. Os personagens
fictícios que formam o núcleo da fictícia família “Del Valle” foram baseados
nos familiares da autora: pais, avós e tios.
05
– Tubarão (Peter Benchley)
Inspiração:
histórias ouvidas na infância
O megassucesso literário de Peter Benchley lançado em
1974 conta a história de um grande tubarão-branco que ataca uma pequena cidade
turística e a jornada de três homens que tentam matá-lo.
O que poucas pessoas sabem é que Tubarão (aqui e aqui) nasceu após o autor ter ouvido com frequência histórias de
ataques de tubarão. Os familiares de Benchley tinham o hábito de contar essas
histórias quando ele ainda era um adolescente. Brrrrrrrr! Entoce... quando
cresceu, influenciado por essas narrativas decidiu criar a sua própria
história.
A obra ficou internacionalmente conhecida após a
adaptação cinematográfica dirigida por Steven Spielberg, em junho de 1975. O
filme omitiu muitas das pequenas subtramas do livro, concentrando-se mais no
tubarão e nas caracterizações dos três protagonistas. “Tubarão” se tornou o
filme de maior bilheteria da história até aquele momento, transformando-se num
divisor de águas na história do cinema e o pai dos filmes blockbusters de
verão. A produção cinematográfica seguiu com três sequências.
06
– Frankenstein (Mary Shelley)
Inspiração:
um desafio literário
O romance de terror gótico escrito por Mary Shelley obteve
grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência
na literatura e cultura popular ocidental. O aclamado autor de literatura de
terror Stephen King considerou Frankenstein
um dos três grandes clássicos do gênero, sendo os outros dois Drácula e O Estranho Caso do Dr Jekyll and Mr Hyde.
O romance relata a história de Victor Frankenstein, um
estudante de ciências naturais que constrói um monstro em seu laboratório.
A ideia para Frankenstein surgiu em uma noite chuvosa
de verão na Suíça, onde Mary Shelley passava férias ao lado de dois poetas
ingleses: Percy Bysshe Shelley, seu futuro marido, e o célebre Lord Byron,
locatário da residência onde o casal estava hospedado. Como os três estavam
presos em casa em função da tempestade, Lord Byron sugeriu um passatempo. O
poeta, ícone do romantismo, desafiou cada um dos presentes a escrever uma
história de fantasmas.
Em um primeiro momento, Mary Shelley, na época com
apenas 19 anos, relutou em aceitar o desafio. Alguns dias depois, entretanto,
na madrugada de 16 de junho de 1816, a escritora teve a visão de um jovem
estudante dando vida a ossos que havia recolhido de uma sepultura. Dessa forma.
Ela criou Frankenstein. A ideia virou um
conto e foi apresentado aos demais presentes na casa.
Incentivada por Percy Bysshe Shelley, Mary trabalhou
para desenvolver o conto e transformá-lo em um romance, essencialmente próximo
da história original. No livro, o jovem estudante de medicina Victor
Frankenstein (que, na cultura popular, acabou por emprestar ao monstro seu
nome) dá vida a uma criatura a partir de cadáveres. O monstro, abandonado pelo
criador, começa a assimilar os sentimentos humanos e a compreender sua triste
condição, revoltando-se e perseguindo Frankenstein.
Taí galera, essa postagem mostrou que nem todos os
enredos que devoramos contaram apenas com uma imaginação fértil de seus
autores; alguns tiveram que ter um empurrãozinho da realidade.
Inté!
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