Existem personagens sagrados que devem ser deixados
quietos no seu canto. Eles conseguiram revolucionar o sentimento de tantos
leitores que se tornaram verdadeiros ícones da literatura ficcional. Resumindo:
eles cumpriram o seu papel, de maneira brilhante, sem a necessidade de uma saga
ou série, mas apenas um livro para contar a sua história.
Infelizmente existem familiares de escritores que na
ânsia de ganhar mais dinheiro com o espolio do morto famoso concordam em deixar
que outros autores mexam em sua obra e com isso cometam o sacrilégio de criar
novos enredos para personagens emblemáticos que já tinham fechado o seu círculo
de aventuras com chave de ouro, sem a necessidade de nenhuma continuação.
Resultado: a imagem, antes irrepreensível, desse personagem acaba ficando
maculada e muitas vezes, ele acaba caindo no ridículo.
Pois é, e agora uma nova personagem vem se juntar a
essa galeria. Trata-se de inteligente, sedutora e carismática Tracy Whitney do
delicioso Se Houver Amanhã de Sidney
Sheldon, escrito em 1985 e que agora foi jogada na lama em duas continuações: Em Busca de Um Novo Amanhã e Um Amanhã de Vingança.
Acredito que o maior erro dos herdeiros de Sheldon
foi ter deixado que uma nova autora assumisse o seu legado depois de sua morte,
e pior... ter dado autorização para que ela alterasse o destino de personagens
considerados verdadeiros emblemas criados pelo famoso autor. Tilly Bagshawe não
é uma má autora, pelo contrário, tem bons livros publicados – apesar de poucos
conhecidos por aqui – entre eles Fama
(2013) que recebeu muitos elogios da crítica americana. Repito que o erro da
autora foi querer sequenciar enredos que já tinham cumprido o seu ciclo nas
mãos de Sheldon. Tudo bem, ela poderia até mesmo escrever novas histórias
seguindo o estilo de Sheldon com fez com AViúva Silenciosa, Depois da Escuridão
e Sombras de Um Verão que agradaram
os leitores do autor. Mas a partir do momento em que ela decidiu dar sequência
em obras que não precisavam de uma continuação por terem tido início, meio e
fim perfeitos, a ‘coisa’ complicou. Exemplo disso foram os decepcionantes A Senhora do Jogo continuação de O Reverso da Medalha e agora, mais
recentemente, em Um Novo Amanhã e Um Amanhã de Vingança, sequencias de Se Houver Amanhã.
Sinto dizer, mas a autora moeu Tracy Whitney. A
personagem forte, marcante e sedutora de Se
Houver um Amanhã se transformou numa protagonista apagada e sem
personalidade nesses dois livros. Muito, mas muito sem graça.
Vi uma Tracy ingênua e boba, que me fez parar a
leitura várias vezes e perguntar a mim mesmo: “Caráculas, essa a Tracy que vi
em Se Houver Amanhã?
Nestas duas sequencias, Tracy enfrenta uma
organização radical de hackers chamada Grupo 99 que tem por objetivo atacar os
grandes monopólios comerciais. Eles invadem sistemas de agências governamentais
e grandes empresas, provocando um verdadeiro caos, prejudicando muitas pessoas.
Um dia, eles decidem radicalizar ao extremo e então, sequestram uma vítima
influente, o matam com um tiro na cabeça e divulgam o vídeo na internet.
As agências de inteligência americanas e europeias
se unem para caçar essa organização criminosa. Tracy é convidada a ajudar nessa
caçada, mas a princípio recusa, pois a sua única intenção é viver
tranquilamente, longe de confusões, ao lado de seu filhos; até que algo
inesperado acontece, obrigando a protagonista a mudar os seus planos. Este é um
breve resumo da duologia escrita por Bagshawe e que descaracterizou inteiramente
uma das personagens mais famosas e emblemáticas já criadas por Sheldon.
Uma pena.
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