A Guerra do Lobo (Crônicas Saxônicas - Livro 11)

22 setembro 2019

Uhtred, sempre Uhtred. Digo isso porque mesmo quando o livro não atende as suas expectativas, lá está o famoso guerreiro pagão para salvar a história. E “A Guerra do Lobo”, 11º volume da saga “Crônicas Saxônicas” do escritor britânico Bernard Cornwell, infelizmente, não decola. Na minha opinião o autor deveria ter fechado a saga no momento em que Uhtred conquistou a ancestral fortaleza de Bebbanburg, a qual ele vinha lutando para conseguir desde os primeiros livros.
Se eu fosse o responsável pela saga e, claro, tivesse a capacidade e o dom da escrita de Cornwell, teria arrematado o enredo no 10° volume com a grande conquista de Uhtred, ao invés de ter a pretensão de contar a história completa do surgimento da Inglaterra. Pois é, mas pelo ‘andar da carruagem’, o autor pensa diferente. Por isso, certamente, teremos muitos mais “Crônicas Saxônicas” vindo por aí. Se estou exagerando? Acho que não. O escritor britânico deixou essa intenção bem claro nas notas históricas, no final de “A Guerra do Lobo”, onde ele diz: “A Inglaterra ainda não existe, mas seu nascimento, com sangue, matança e horror, está próximo. Mas isso também é história para outro romance”. O que você entende por isso? Está na cara que o autor deixou evidente que o arco principal de sua narrativa é o surgimento da Inglaterra, ou seja, como os vários reinos anglo-saxões transformaram-se no país britânico; quero dizer, suas lutas, intrigas e escaramuças, tendo Uhtred à frente para segurar a atenção dos leitores. Caso contrário, se o enredo excluísse Uhtred e focasse apenas no aspecto histórico, pelo menos para mim, seria muito monótono, sem nenhum interesse.
Ocorre que para os saxões transformarem os reinos de Wessex, Mércia, Nortumbia, Ânglia Oriental, Essex, Kent e Sussex, na Inglaterra, lutando batalhas sangrentas contra os noruegueses, ainda demora. Portanto, é aí que o bicho pega; e muito! A razão é simples: Uhtred já está velho. Em “A Guerra do Lobo”, por exemplo, ele passa dos 60 anos; o mesmo acontece com o seu principal guerreiro, Finan, considerado o segundo em comando das suas tropas. E convenhamos, o encanto da saga até agora foram as batalhas, os desafios e as intrigas enfrentadas pelo guerreiro pagão. Ver Uhtred se comportando numa batalha com toda a sua altivez, confiança e força é algo fantástico. Não há leitor que resista. Acho que o personagem, pela sua importância, merecia uma ‘saída’ honrosa; e Cornwell perdeu essa oportunidade quando escreveu "O Portador do Fogo". Até mesmo a frase utilizada por Uhtred e que fechou a história tinha caído como uma luva para um desfecho perfeito de toda a saga: “E havia lágrimas (de alegria) nos meus olhos turvando aquele caminho longo e brilhante. Porque eu estava em casa”. Perfeito para um final, não acham?
Quanto a conclusão envolvendo a transformação da Inglaterra Anglo-Saxã num País de uma só língua, Cornwell poderia arrematá-la neste mesmo volume com a ajuda de algumas notas históricas.
Mas tudo bem, foi uma opção sua, e deve ser respeitada. Apenas, não concordo.
Em “A Guerra do Lobo”, a história se arrasta na maior parte do enredo. Com a morte de Aethelflaed, rainha da Mércia, esse reino passa a ser cobiçado por seu irmão, Eduardo, rei da Mércia. Sua intenção é juntar esse reino aos demais, ocorre que nem todos concordam, principalmente os seguidores de Aethelflaed. Resultado: o surgimento de um conflito interno.
Os invasores noruegueses, agora, comandado por um temível e sanguinário viking chamado Skoll Grimmarson, aproveitam o momento de instabilidade da região para ocupar novas terras do reino, incluindo a Nortúmbia, local onde se encontra a fortaleza de Bebbanburg, de Uhtred.
O enredo tem muitos diálogos sem interesse, além de poucas batalhas. O leitor também verá um Uhtred bem mais fragilizado, distante da imagem do temível guerreiro de histórias anteriores. Isto fica evidente por meio da proteção excessiva imposta à ele pelos seus guerreiros, principalmente, Finan. Coisa do tipo: “O senhor já não é mais jovem, deixe que nós fazemos isso”. Cara, confesso, que tal atitude foi me enchendo o saco, e se nesses momentos, não fossem as tiradas sarcásticas e mordazes do guerreiro pagão, certamente, eu teria atirado o livro na parede.
Toda vez que o vilão Skoll escarnecia de Uhtred chamando-o de velho e covarde... PQP!!!!!! Juro que eu xingava Cornwell de todos os palavrões conhecidos, afinal um personagem tão icônico não precisaria estar passando por toda essa humilhação.
A minha esperança durante a leitura era de que alguma reviravolta acontecesse nas próximas páginas; sei lá, até mesmo uma redenção do nosso estimado Uhtred. Foi com essa esperança que me permiti continuar lendo “A Guerra do Lobo”. E cara... perto do final, essa reviravolta chegou; e chegou rasgando. Quando Uhtred foi obrigado a encarar o seu mais temível desafio, ele voltou a ser o guerreiro que todos nós respeitamos. Neste momento não consegui me conter e dei um grito de guerra, um grito de desabafo, de alívio, sei lá. Soltei um gostoso Iahuuuuuuuuuuu!!!!!
Pois é... Uhtred conseguiu salvar a história. Resta saber, agora, se ele ainda terá fôlego para salvar os próximos volumes de “Crônicas Saxônicas” que certamente virão por aí.

7 comentários

  1. 1 - Das Crônicas Saxônicas, qual é considerado o melhor livro?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Há algum tempo, acho que ainda não tinham lançado o 10º volume das 'Crônicas Saxônicas', as redes sociais e grande parte dos blogueiros literários fãs da saga, foram unânimes em apontar o 4º livro ("A Canção da Espada") como o melhor. Veja bem, apesar de ter gostado da história, na minha opinião, "Os Senhores do Norte" (3º Volume) continua sendo o melhor de toda a saga escrita por Cornwell.
      Cornwell arrebentou no terceiro livro. O enredo tem aventura, intrigas, traições e romance. Juntos, esses ingredientes, tecem uma teia de aranha que consegue prender em seus fios o mais disperso dos leitores.
      Por isso, concordo com o Maurilei que também citou em sua lista esse 3º volume das Crônicas; mas se você quiser aproveitar, de fato, a leitura e conhecer profundamente a personalidade e as motivações dos personagens comece pelo primeiro livro: "O Último Reino" que mostra as origens de Uthred.
      Espero ter ajudado!
      Abcs!!

      Excluir
  2. Olá,
    O autor já está lançando o 12º livro com o título "Sword Of Kings". Estará nas livrarias britânicas no dia 03/10/2019 e nas livrarias americanas a partir de 26/11/2019. Como sempre, sem previsão de lançamento aqui no Brasil. Fonte: Site do autor.
    Abraços,
    Sergio Mazzotti Neto

    ResponderExcluir
  3. Olá José Antônio,
    Vamos atualizar. O Autor anunciou o 13º livro da saga, com o título de War Lord, e com previsão de lançamento para outubro/2020 no Reino Unido. Pelo que eu entendi, será o último livro da saga.
    Enquanto isso, esperamos o 12º livro que ainda não tem previsão aqui no Brasil.
    Abraços,
    Sergio Mazzotti

    ResponderExcluir

Instagram