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21 agosto 2025

Antes de Partir

Gosto dos livros de Charlie Donlea, não em um todo, mas gosto. O que estou querendo explicar é que as vezes os plot twists secundários me agradam muito, enquanto o plot final me decepciona ou vice-versa; às vezes a história é fraca, mas por outro lado, as reviravoltas são fantásticas; e também, pode acontecer o contrário, as reviravoltas da obra são fracas mas o enredo e a composição dos personagens compensam essa falha. Enfim, de um modo geral, gosto sim de seus livros, com exceção de... Antes de Partir que me decepcionou. Dos livros que li do autor –A Garota do Lago, Não Confie em Ninguém, Procure nas Cinzas e Antes de Partir – esse último foi o mais fraco.

Achei a leitura maçante; a história não de se desenvolve, ao contrário, se arrasta. Donlea embaça muito, criando situações desnecessárias entre os personagens centrais Abby e Joel. Cada encontro que os dois tem é “recheado” de muita enrolação. A interação entre Abby e sua irmã Maggie também não evolui. Cada momento que as duas tinham eu já imaginava: “lá vem encheção de linguição”, o que de fato acontecia.

Achei o mistério da carta que Ben (marido de Abby) escreveu para a sua esposa antes do acidente apenas razoável, mas sem nenhum impacto – mesmo sendo um motivo nobre, mas como plot twist de uma história, a surpresa não foi nenhum pouco impactante.

Outro detalhe é que Donlea é um escritor respeitado por criar plot twists incríveis, além de compor personagens com químicas perfeitas. Mas desta vez, isso não aconteceu. Achei Abby e Joel personagens mornos, além disso, a química entre os dois não funcionou. Quanto ao final... muito estranho, juro que eu não esperava por aquele desfecho, o qual também não gostei. Acreditava que Ben acabaria conseguindo voltar para casa e assim, colocar o “mundo” de sua esposa de cabeça para baixo. Ficava imaginando comigo: - Putz, como Abby vai contornar essa situação – mas então Don Lea acabou optando por um final menos racional e mais... será que vou liberar spoiler??? Bom, paciência, lá vai: um final mais espiritual. Com isso, no meu modo de ver, o impacto também acabou se diluindo.

É importante frisar que Antes de Partir é um livro totalmente fora da curva na carreira literária de Charlie Donlea que é conhecido por escrever thrillers policiais e de suspense. Dessa vez, ele decidiu se enveredar pela senda do romance. Isso mesmo! Podem acreditar, Antes de Partir é uma história de amor completamente diferente do gênero que consagrou o criador do megassucesso A Garota do Lago.

Em Antes de Partir, o autor narra o drama de Abby Gamble que um ano após o avião em que o seu marido viajava ter desaparecido no oceano Pacífico, ela ainda tenta superar a dor da perda. O relacionamento entre ela e Ben era incondicional e profundo, e se fortaleceu ainda mais ao terem de lidar com uma tragédia na família anos atrás. Abby sabia que Ben iria querer que ela seguisse em frente. Seu primeiro passo foi entrar de cabeça no trabalho, dedicando-se a sua empresa de cosméticos... até que ela conhece Joel, um médico cujo passado é tão repleto de cicatrizes quanto o dela.

Taí galera, mesmo não tendo apreciado a leitura, espero, de coração, que gostem do livro. Afinal, nenhuma opinião carrega em si, a aura da unanimidade.

  

21 junho 2025

Sacanas do asfalto

Enrosquei no começo do livro; mas enrosquei mesmo. A leitura não ia, sei lá... não fluía. Melhorou depois, a partir do meio da obra, mas tive que ser persistente. Na minha opinião o excesso de diálogos entre os personagens abordando, muitas vezes, assuntos desinteressantes, do tipo ‘coisas’ cotidianas que não tinham nada a ver com a trama principal acabaram travando o desenvolvimento da história. Acho que poderia definir esse contexto da seguinte maneira: diálogos desnecessários e situações convenientes vividas pelos personagens. E já que toquei no assunto personagens, eles, também, não me cativaram no início.

Tudo isso acabou atravancando a leitura. Por isso mesmo, apesar de ser um livro curto, com pouco mais de 260 páginas, custei muito para termina-lo. Culpa do seu início frio. E olha que eu estava com muita vontade de ter esse livro em mãos; literalmente “babando” para ler “Sacanas do Asfalto” após ter visto a sua sinopse nas redes sociais.

Se você conseguir “vencer” esse início ou para ser mais exato, essa primeira metade da obra, com certeza, conseguirá deslanchar a sua leitura porque a segunda e última metade tem características bem distintas. Apesar de alguns diálogos desnecessários persistirem, a entrada de novos personagens como Samuel, o “Sr. Lobo”, além de uma gang de motoqueiros comandada por um punk ‘mutcho loko’ acabam dando um “Up” no enredo e a partir daí a leitura começa a fluir.

Colaboram muito para esse “Up” alguns segredos envolvendo três personagens principais que são revelados por Robson Gundim. O segredo da personagem Daisy tem “ares” de plot twist; melhor ‘dizendo’: é um verdadeiro plot twist porque muda tudo o que leitor imaginava ser verdadeiro na personagem. Outra reviravolta diz respeito a Samuel ou simplesmente “Sam”. Acredito que leitor irá se surpreender quando descobrir os motivos que levaram “Sam” a seguir um caminho não muito digno em sua vida. Quanto ao terceiro plot – esse bem menor do que os outros dois – acho que está mais para um pequeno segredo do que para um twist, é relacionado ao Sr. Lobo e ao punk mutcho loko. Todas essas novidades conseguem dar uma inflada no enredo.

Gostei também da entrada das “Três Furiosas” nesta segunda metade da trama. Foi uma participação relâmpago dessas “panteras” mas valeu muito a pena. O autor até poderia explorar um pouco mais a presença dessas garotas. Até fiquei imaginando e torcendo por um confronto entre a líder das Furiosas e o Punk mutcho loko, mas fiquei apenas na torcida.

Como Gundim é fã declarado de Quentin Tarantino, “Sacanas do Asfalto” traz muitas referências sobre o renomado diretor de cinema. Na trama, três jovens estudantes, com a chegada das férias, decidem viajar para se divertirem no melhor festival de rocxk da ilha de Vera Cruz. Movidos por uma harmonia e amizade indestrutíveis, eles tomam a estrada e chama a atenção de todos por onde passam. Porém, nem tudo parece ser tão agradável como supunham, sobretudo quando o líder de um grupo de motoqueiros resolve desafiá-lo, mexendo com seus medos e feridas, em uma implacável perseguição.

Enfim galera, é isso aí: um livro com início frio, muita enrolação, muitos diálogos e situações desnecessárias, mas que melhora muito depois da metade. Detalhe final: as gravuras que marcam o início de alguns capítulos foram desenhadas pelo próprio Gundim e ficaram ótimas, com um clima bem “Tarantino”.

Valeu!

01 junho 2025

A Empregada está de olho

Começo essa postagem já pedindo aos fãs da saga A Empregada de Freida McFadden para que esqueçam – mas um ‘esqueçam’ com todas as letras maiúsculas – da Millie dos dois primeiros livros (A Empregada e O Segredo do Empregada). A Millie de A Empregada Está de Olho é muito diferente; ela mudou demais. E na minha opinião, mudou para pior. Neste terceiro livro da saga não vemos aquela personagem ativa, arrojada, sem medo, perspicaz, capaz de enfrentar qualquer desafio. Pois é... a nossa Millie mudou.

No enredo de A Empregada Está de Olho já se passaram 20 anos dos acontecimentos do primeiro livro. E após essas duas décadas vemos uma Millie matrona, casada com Enzo e mãe de dois filhos: Nico, de 9 anos e Ada, de 11. Ela deixou para trás toda a sua impetuosidade e perspicácia. E foi justamente dessa impetuosidade e perspicácia que eu, como leitor, senti falta. Para se ter uma ideia do quanto ela mudou, em determinado capítulo, a personagem ficou embasbacada, completamente sem resposta, ao ser desafiada por um encanador que a acusava aos gritos – como não bastasse, ainda perto daquela víbora chamada Suzete - de lhe ter dado um cheque sem fundos. E para completar a humilhação, Suzete ainda fez questão de pagar o encanador e depois tirar um sarrinho na cara da Millie. Juro que fiquei puto da vida e exclamei: PQP! Cadê a minha Millie?!!!!!”

E já que mencionei a víbora da tal Suzete, aproveito também para acrescentar uma outra personagem – que se não víbora, pelo menos uma cobrinha – de nome Janice, ou seja, as duas novas vizinhas da nossa Empregada. Fiquei constrangido todas as vezes que as duas humilharam Millie. Suzete, aliás, chegou ao ponto de dar em cima do Enzo e na cara da Millie!!!

Fico imaginando o que teria acontecido com Suzete e Janice nos ‘velhos tempo’; as respostas afiadas que elas receberiam e que lhe fariam fechar a boca na hora.

Saudades de você Millie, mas da Millie do passado e não dessa nova versão, mas... tudo na vida muda, né? Fazer o que?!

Agora querem saber se eu gostei do livro? Gostei. - Ôpa!! Mas espera aí cara? Depois de tudo o que você escreveu acima, você ainda afirma que gostou da história? É muita incoerência!

Galera, calma aí; eu vou explicar porque essa linha de raciocínio não é assim tão incoerente. A Empregada Está de Olho é um dos raros livros em que você, apesar de se decepcionar com o personagem (s) principal (s) não se decepciona com o enredo; e o enredo desse – pelo menos, até agora - último livro da saga é muito bom. McFadden criou pequenas reviravoltas no decorrer do enredo quem conseguem manter os leitores ligados; plot twists pequenos, mas deliciosos. Outro  detalhe positivo é que alguns personagens não são o que aparentam ser; é aquela ‘coisa’ do tipo: “Putz, o cara fez isso?! Não acredito!!”. E, no meu caso, gosto muito de ser enganado pelo personagem de uma história; de ter sido feito bobo por ele. Adoro quando eu exclamo durante a leitura: “Caráculas! Não pode ser verdade!”. E o enredo desse terceiro livro da saga “A Empregada” tem pelo menos três surpresas que valem o selo “Não pode ser verdade!”: duas no meio da trama e outra no seu final.

Sydney Sweeney será Millie nos cinemas. O filme estreia nos Estados Unidos em dezembro de 2025

Por isso, não tem como eu criticar o enredo desenvolvido por McFadden; ele é muito bom, muito bem escrito. O que eu quis explicar logo no início do post é que fiquei decepcionado em ver uma Millie matrona, sossegada e sem aquela perspicácia que eu aprendi a definir como “perspicácia bandida” que desnorteava os seus ou as suas rivais.

Mas não fiquem pensando que ela amoleceu totalmente. No final, pelo menos ela mostra um pouco – não tudo, mas um pouco – dessa perspicácia ao confrontar a sua oponente. Tudo bem que ela não fez isso sozinha, mas com a ajuda de um parceiro (que por sinal, não foi o Enzo) mas, pelo menos, fez; e serviu para uma redenção da personagem, digamos que... meia boca.

Neste último livro da saga, como citei ,logo no início, já se se passaram 20 anos dos eventos que ‘rolaram’ no primeiro livro. Millie, agora casada com Enzo e com filhos, continua a enfrentar situações que a levam a questionar o que acontece ao seu redor, incluindo os seus vizinhos.

Nessa nova trama acompanhamos Millie e sua família se mudando para sua casa dos sonhos no subúrbio, onde acabam descobrindo que a vida fora da cidade grande não é tão tranquila quanto parece, muito menos segura.

Com a estranha família Lowell e sua empregada na casa ao lado, uma vizinha bisbilhoteira e paranóica do outro lado da rua, barulhos assustadores durante a madrugada e todos os membros da família mudando de comportamento sem motivo aparente, Millie começa a se perguntar se tomou a decisão certa ao se mudar.

Quando a empregada dos Lowells abre a porta, de avental branco e os cabelos presos num coque apertado, Millie está decidida a ser simpática, afinal, sabe exatamente como é estar nessa posição. Só que o olhar insistente dela lhe dá calafrios. E essa não é a única coisa esquisita no novo bairro. Millie passa a ver uma figura sinistra sempre à espreita, observando sua família, e, para piorar, seu marido começa a fazer passeios noturnos misteriosos. Como se não bastasse, a vizinha do outro lado da rua a adverte: “Se eu fosse você, tomaria cuidado com aquela mulher.”

Enfim, trata-se de um bairro muito louco, com vizinhos estranhos, com alguns deles guardando segredos perigosos, aliás... muito perigosos.

Enfim, é isso aí. Não gostei da nova versão da Millie, mas gostei do enredo.

Inté!

19 maio 2025

Conclave

Se você já assistiu “Conclave” de Edward Berger, filme indicado em oito categorias no Oscar 2025, incluindo a de “Melhor Filme” e “Melhor Roteiro Adaptado”, não perca o seu tempo lendo o aclamado livro homônimo de Robert Harris publicado originalmente em 2016 e que deu origem a produção cinematográfica. Não estou querendo “dizer” que a obra literária é ruim; longe disso. Quero apenas alertar: como o livro foi adaptado ao pé da letra para as telonas – com exceção dos nomes e nacionalidades de alguns personagens – as reviravoltas que deixam a trama interessante e com a capacidade de, com toda a certeza, surpreender o ‘leitor-cinéfilo’ perderão todo o seu impacto. Esses plot twists são semelhantes, ou seja, o que você assistiu no filme também irá ler no livro, sem mudanças, por mais sutis que sejam.

Feito essa ressalva, o livro de Harris é excelente e consegue prender a atenção dos leitores com a sua linguagem fluida e reviravoltas surpreendentes. Sendo mais específico: duas revelações envolvendo dois personagens e uma reviravolta bombástica (um verdadeiro soco no fígado) que acontece, somente, no final do livro. Para ser mais exato, esse “soco” é desferido nas últimas quatro páginas do romance. No meu caso, como ainda não tinha assistido ao filme, fiquei boquiaberto. Jamais pensei naquela reviravolta e olha que eu sou bom para descobrir plot twists por antecipação.

A trama de Conclave gira em torno da morte de um papa reformista e consequentemente do intrigante e misterioso processo de escolha de um novo líder da Igreja Católica.  Dias depois da morte do papa, mais de cem cardeais do mundo todo se reúnem para eleger seu sucessor. São todos homens santos, mas têm rivalidades, ambições e fraquezas, e, nas próximas setenta e duas horas, um deles se tornará a figura espiritual mais poderosa da Terra. A tarefa não se mostrará nada simples, pois entre os elegíveis e os grupos que se formam em torno deles há diferenças inconciliáveis: globalistas e isolacionistas, os que clamam pelo primeiro papa negro, religiosos com fortes opiniões sobre o papel das mulheres e do casamento gay, as correntes conservadoras e os reformistas, os que rejeitam a riqueza e os que abraçam o luxo. E, para completar, surge a notícia de que o falecido papa elegeu em segredo um cardeal até então desconhecido de todos.

O encarregado de executar e coordenar essa reunião confidencial do colégio de cardeais (Conclave) é cardeal italiano Lomeli que nos cinemas foi vivido pelo famoso ator Ralph Fiennes.

Os quatro principais candidatos a suceder o papa morto são Aldo Bellini, da Itália, um liberal na linha do falecido Papa; Joshua Adeyemi, da Nigéria, um conservador social; Joseph Tremblay, do Canadá, um moderado dentro da Igreja; e Goffredo Tedesco, da Itália, um tradicionalista convicto.

A linguagem do romance é tão fluida que o autor consegue fazer com que os leitores mergulhem dentro da história, por isso, temos a impressão de estar alí, no Conclave, no meio dos cardeais participando de suas tramas, alianças e reuniões secretas visando a escolha de um novo papa. Aliás, a descrição dos detalhes de como é organizado um conclave, além dos rituais de votação dos cardeais é perfeito. Fiquei imaginando se tudo aquilo não passava de invenção, bem longe da realidade, saída da cabeça de um escritor de ficção; mas no final do livro quando Robert Harris faz os seus agradecimentos as pessoas que colaboraram com a obra, ele ressalta que entrevistou um cardeal que já participou de um Conclave, no entanto, como as suas conversas foram não oficiais, ele optou por não citar o nome desse cardeal. O autor cita também que no início de suas pesquisas para escrever o livro, ele pediu permissão ao Vaticano para visitar as locações usadas durante um Conclave e que ficam permanentemente fechadas ao público. Esta permissão, segundo Harris, foi concedida por um monsenhor do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. Assim, está explicado o motivo da fluidez na construção da trama, principalmente, no que se refere a organização, realização e execução de um Conclave.

Mas vamos às três surpresas da trama que valem a pena ser destacadas. Sem spoilers, é claro. A primeira delas envolve o cardeal canadense Tremblay; a segunda, o cardeal nigeriano Adeyemi e o soco no fígado envolve o cardeal Benítez, cuja existência era desconhecida de todos os cardeais e que havia chegado ao Vaticano apenas poucas horas antes do Conclave. Não posso revelar mais do que isso, senão acabaria estragando um plot twist bombástico daqueles que desnorteiam qualquer leitor.

Enfim, é isso galera. Leiam o livro e somente depois assistam ao filme... se quiserem, porque, acredito, que apenas o livro já basta.

 

 

18 fevereiro 2025

Erupção

Confesso que ao saber que o espólio de Michael Crichton tinha lançado um novo livro póstumo em parceria com um outro escritor fiquei muito animado, mas animadíssimo, de fato. Os motivos dessa animação mesclada à expectativa – e uma boa expectativa – eram dois. Primeiro: sou ‘fanzaço’ confesso do autor e segundo: a minha última experiência envolvendo um livro póstumo de Crichton concluído por um outro escritor foi fantástica. Adorei Micro que foi finalizado por Richard Preston. Cara, que livraço! Amei! Amei!

Por “culpa” de toda essa empolgação fui ‘babando’ em busca de Erupção, enredo iniciado por Crichton que faleceu antes de concluí-lo. Dessa forma, a sua esposa Sherri Crichton que cuida do espólio do autor decidiu chamar James Patterson para concluir a história.

Comecei a ler Erupção com a certeza de que iria “topar” com uma narrativa envolvente e viciante, além de personagens carismáticos, duas características importantes na composição de um enredo e que fizeram com que eu devorasse Micro em poucos dias. Mas, então, veio a decepção, já que não encontrei nada disso.

A narrativa é lenta e arrastada até mesmo durante os momentos de ação; e os personagens não convencem nem um pouco porque além de serem chatos pra caramba, ainda carecem de desenvolvimento. A impressão que tive é que vários deles foram simplesmente jogados na narrativa deixando os leitores perdidos já que não tinham nenhuma informação adicional sobre esses personagens.

Perceberam que eu citei, acima, vários personagens? Pois é, de fato, são muitos personagens; uma miscelânea deles. Tantos que os leitores até se perdem durante a leitura, esquecendo alguns nomes. E sabemos que a partir do momento que um autor opta por incluir em sua trama literária muitos personagens, ele corre o risco de queimar alguns deles. O que estou tentando explicar é que nem todos os personagens ganham o desenvolvimento que merecem, ficando ali, simplesmente, jogados aleatoriamente no enredo ou então esquecidos. E foi, exatamente, isso que aconteceu com Erupção. Por exemplo, a personagem Drª Rachel Sherrill, uma botânica muito conceituada, responsável pelo Jardim Botânico de Hilo, no Havaí, que logo no início da trama descobre algo que “nada mais é” do que o plot principal da trama só aparece no prólogo; depois no decorrer da trama, seu nome é citado apenas uma ou duas vezes, e acrescente-se a isso, uma única aparição relâmpago da personagem no meio do livro. Na minha opinião, a Drª Rachel Serrill poderia ser muito mais aproveitada.

Quanto ao personagem principal da história, John Mac Gregor, além de não ter nenhum carisma, é chato de doer: mal humorado, sabichão das coisas, sem educação e teimoso. Dois outros personagens importantes pertencentes ao Exército dos Estados Unidos, não ficam atrás de Mac Gregor. Quanto a uma outra personagem que poderia contrabalancear esse lado chato de Mac Gregor e dos dois comandantes acabou morrendo no meio da trama. Já com relação aos outros muitos personagens “jogados” na história não há muito o que acrescentar.

A trama, também não me prendeu, nem mesmo nos momentos de ação perto das páginas finais. As explicações técnicas sobre vulcões quebram o ritmo já arrastado da narrativa. A obra trabalha com dois plots: a erupção do Mauna Loa, considerado o maior vulcão ativo do mundo situado no Havaí e um segredo terrível que o Exército americano guarda a sete chaves numa caverna localizada nas imediações desse vulcão. Quando o Mauna Loa entra em erupção, a lava expelida por ele pode destruir não só o Havaí, mas todo o planeta se atingir o tal segredo guardado pelo Exército americano. É aí que entra o chato do Dr. John Mac Gregor e outros personagens para tentar salvar o mundo.

Terminei Erupção no osso ou como costumo dizer: em “primeira marcha”. Se quiserem ler uma obra póstuma de Crichton, recomendo Micro; esse sim, vale a pena.

26 janeiro 2025

1822 (2º Volume da Trilogia Família Real no Brasil)

Pois é, oito dias sem nenhuma postagem. Galera, não esqueci do blog, não. Os motivos do “menino”, aqui, ter ficado mais de uma semana sem postar nada foram dois: o primeiro diz respeito a uma cirurgia que serei obrigado a fazer. Isso mesmo, obrigado, porque não tenho mais escapatória, não tenho mais onde me agarrar, portanto é agora ou agora. E os exames preparatórios para essa cirurgia demandam muito tempo e energia, já que o meu médico é muito meticuloso e graças a Deus por sê-lo. O segundo motivo está relacionado com o Projeto de Lei 5332 que, de maneira surpreendente e inesperada, foi vetado pelo Sr. Lula que desferiu um verdadeiro tapa na cara de todos os aposentados por invalidez permanente. Como os congressistas estarão se reunindo, provavelmente, em fevereiro para analisar se derrubam ou não o Veto 38, passo grande parte do meu tempo escrevendo para deputados e senadores, telefonando para os seus assessores pedindo apoio para a derrubada desse veto. Agora se você juntar esses dois motivos, garanto-lhes que toma muito do meu tempo. Espero ter justificado esses oito dias sem ter postado nada. Mas, com certeza, essa maré vai passar e no final de março voltarei ao esquema normal de publicações de posts.  Não estou “dizendo” que até lá não publicarei nada. Longe disso. Sempre estarei por aqui e também nas minhas redes sociais comentando, resenhando, divagando ou publicando as minhas listas literárias. Com menos frequência, mas estarei. Mas depois, no mês de março, tudo voltará ao normal, se Deus quiser e com certeza Ele quer.

Mas agora, vamos ao que interessa, vamos escrever sobre livros. Galera, há mais ou menos uma semana, conclui a leitura de 1822, segundo volume da trilogia Família Real no Brasil, premiada saga do jornalista Laurentino Gomes com mais de 4 milhões de exemplares vendidos e vencedora do prêmio Jabuti. A saga formada pelos livros 1808, 1822 e 1889 que contam de uma maneira divertida mas real a história da construção do Estado brasileiro no século XIX é considerada um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.

Adorei a leitura de 1808 que narra a chegada da família real ao Rio de Janeiro que sai praticamente fugida de Portugal após ser acossada pelas tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte. O livro aborda também as transformações feitas por D. João VI no Brasil colonial e a criação do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves, que colocou um ponto final no período colonial brasileiro, dando início ao processo de independência do País. Como “disse” acima, amei a obra (veja resenha aqui).

É uma pena afirmar que não posso expor o mesmo de 1822, segundo volume da saga. Não que o livro seja ruim, não é isso. 1822 é bom, mas falta a leveza e o ritmo de 1808. Enquanto que no primeiro volume da trilogia, o autor foge da chamada linguagem acadêmica, quase sempre cansativa e desinteressante, optando por uma abordagem leve e divertida – são narradas várias curiosidades interessantes e até mesmo engraçadas sobre a Família Real em nosso País e também como se deu o início da formação do Estado Brasileiro - em 1822, a linguagem acadêmica chega com tudo enquanto que aquelas curiosidades tão interessantes e ao mesmo tempo divertidas ficam mais escassas.

1822 compara diferentes relatos sobre o Sete de Setembro e a proclamação da independência e analisa como D. Pedro I conseguiu, apesar de todas as dificuldades, fazer do Brasil uma nação soberana.

Neste segundo volume de Família Real no Brasil o leitor fica sabendo que a independência do nosso País não terminou com o chamado ‘Grito do Ipiranga”. Ali, foi apenas o início. Para se tornar uma nação independente de Portugal o caminho foi longo, pois nem todos os estados (capitanias) concordavam com a independência e preferiam que o Brasil continuasse como colônia de Portugal. Dentro desse contexto, por muito pouco Pernambuco não se desvinculou do Brasil para se transformar em uma nação independente. Outras capitanias também tiveram essa mesma ideia.

Laurentino explica como Dom Pedro I, José Bonifácio e outros baluartes tiveram que se desdobrar para unir o Brasil e transformá-lo num País independente após o famoso grito: “Independência ou Morte”.

Laurentino Gomes, auto da trilogia "Família Real no Brasil"

Achei essa abordagem cansativa e me senti como um estudante num banco escolar participando de uma aula tradicional de História do Brasil num ritmo bem maçante.

A narrativa melhora muito, tornando-se bem interessante, quando o autor explora detalhes de figuras importantes da História do Brasil como a Princesa Leopoldina, a Marquesa de Santos, José Bonifácio e o próprio Dom Pedro I que ganham capítulos exclusivos no livro.

Ficamos sabendo o quanto a Princesa Leopoldina – mulher de Dom Pedro I – foi importante para a Independência do Brasil, além de detalhes do seu relacionamento conturbado com marido. Aprendemos a ver, também, um Dom Pedro desmistificado, com todos os seus defeitos – e olha que eram muitos – mas em contrapartida, um grande líder e um comandante sem igual. E já que estou “falando” em desmistificação, o autor desconstrói totalmente o “Grito do Ipiranga”, mostrando aos leitores como, de fato, aconteceu um dos momentos mais importantes da história do Brasil.

Aprendemos também a ver a verdadeira faceta da Marquesa de Santos, cujo nome verdadeiro era Domitila de Castro e que chegou a ter 14 filhos entre os quais, cinco com Dom Pedro I com o qual mantinha um romance secreto na época em que o Príncipe Regente era casado com a Princesa Leopoldina.

Todas essas narrativas prendem a atenção do leitor, o problema é que elas são intercaladas com as cansativas lições de História do Brasil, envolvendo os conflitos entre as capitanias; as diversas batalhas oriundas desses conflitos, entre as quais, a Batalha do Jenipapo, dos Mascates (envolvendo Olinda e Recife), além de uma longa explicação sobre as Cortes de Portugal que era algo parecido com uma Câmara dos Deputados, atualmente, onde eram tomadas decisões importantes envolvendo o Brasil. Enfim, quando a leitura engatava uma quinta marcha, de repente, ela era, abruptamente, reduzida para uma primeira, e bem forçada.

Quando terminei 1808 estava ansioso para ler 1822, mas agora que conclui a leitura do segundo volume da trilogia, aquele “fogo” deu uma ‘apagadinha”, tanto é verdade que optei por ler uma obra de ficção para somente depois encarar 1889 o qual espero tenha uma narrativa mais interessante e sem tantos altos e baixos.

Valeu galera!

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