Há alguns dias, li uma entrevista de Stephen King
que me chamou a atenção. Perguntaram o que ele achava da adaptação
cinematográfica de “It”. O autor derramou elogios para o filme. Então, o repórter
da revista (não me lembro o nome do periódico) aproveitou o embalo e fez a
mesma pergunta, mas com relação a um outro filme: O Iluminado. Vicheeee!! King
detonou a adaptação e disse que a odiou. O curioso é que a produção dirigida
por Stanley Kubrick foi um sucesso de público e crítica, menos para King que
foi o autor do livro.
Após ler essa entrevista, tive a ideia de escrever
um post sobre autores que odiaram a versão de seus filmes para o cinema. E olha
que são muitos! Portanto, vamos conferir 10 filmes baseados em livros que por
muito pouco não provocaram um ataque de nervos em seus autores. Vamos à eles!
O filme de Stanley Kubrick lançado em 1980 foi
aclamado pela crítica e muito elogiado pelo público, mas mesmo assim, Stephen
King odiou a adaptação de seu livro para as telas.
Segundo o New York Daily News, King disse que não
gostou de Jack Nicholson como Jack Torrance, personagem pelo qual o ator é
sempre lembrado. Segundo o escritor, Nicholson já interpretava um louco mesmo
antes do protagonista se tornar um. Na opinião de King, Stanley Kubrick fez um
filme visualmente bonito, mas que não tem nada a ver com o terror e os aspectos
sobrenaturais que ele narrou em seu livro, começando pelo Hotel Overlook que no
enredo literário é o verdadeiro vilão, já no filme, ele perde grande parte da
sua aura maléfica.
King também criticou a personagem Wendy – esposa de
Jack Torrance – vivida pela atriz Shelley Duvall que só gritou no filme. O
autor explicou que criou uma personagem forte e que encarava qualquer perigo
para defender o filho, por sua vez, na produção de Kubrick, Wendy é uma mulher
fraca, submissa e medrosa.
Em entrevista à revista Writers Digest, o mestre do
terror disse que assistir a um formigueiro por 3 horas é mais emocionante do
que o filme de Kubrick e que esta é a única adaptação de seus livros que ele se
lembra de ter odiado.
02
– Bret Easton Ellis (Psicopata Americano)
O livro de Bret Easton Ellis foi publicado em 1991 e
o filme baseado na obra só seria lançado em 2000. Christian Bale foi muito elogiado pelo seu
trabalho como o jovem executivo Patrick Bateman que tem uma segunda vida como
um horrível assassino em série durante a noite.
Apesar da boa aceitação nas telonas, Ellis não
gostou da adaptação. Segundo ele, o seu livro jamais deveria ter se transformado
em filme. O próprio autor exlica: “eu acho que o problema com ‘Psicopata
Americano’ é que a obra foi concebida como um romance, um trabalho literário,
centrado em um narrador pouco confiável e o filme é um tipo de mídia que exige
respostas. Por mais ambíguo que você seja [na realização de um filme], não
importa, você sempre estará buscando respostas, uma resposta visual. E eu não
acho que ‘Psicopata Americano' é mais interessante, particularmente, se você
sabe que ele de fato agiu ou se aquilo não aconteceu apenas na cabeça dele.
Acho que a resposta a essa pergunta torna o livro infinitamente menos
interessante”. Taí.
03
– Milan Kundera (A Insustentável Leveza do Ser)
Milan Kundera odiou tanto a adaptação de sua obra “A
Insustentável Leveza do Ser, feita por Philip Kaufman, que chegou a proibir que
outros de seus livros sejam transformados em roteiros cinematográficos. Mas se
Kundera não aprovou, o público amou.
O filme lançado em 1988 foi indicado para o Globo de
Ouro - um dos principais prêmios do cinema – na categoria ‘Melhor Filme’. “A
Insustentável Leveza do Ser” conta a história de Thomas (Daniel Day- Lewis), um
neurocirurgião, que seduz metade das mulheres de Praga, mas não quer se
envolver com nenhuma. Até que aparece Tereza (Juliette Binoche) com a sua
inocência perturbadora. O ‘Don Juan’ Thomas acaba caindo em sua própria
armadilha.
O filme fez muito sucesso na época, apesar de
Kundera detestá-lo.
04
– Winston Groom (Forrest Gump)
Nem mesmo as seis estatuetas do Oscar, incluindo os
de melhor filme e melhor ator conseguiram mudar a opinião de Winston Groom com
relação a adaptação cinematográfica de seu livro Forrest Gump.
Pois é, Groom não gostou da interpretação de Tom
Hanks e, segundo o New York Times, preferia que o ator John Goodman
interpretasse Forrest nos cinemas. O autor ainda disse que a adaptação poliu o
personagem, retirando as partes mais profanas do livro para deixá-lo mais
aceitável aos olhos do público.
Em 1995, Groom escreveu a continuação do livro Gump
& Co. A primeira frase desta segunda obra é: “Nunca deixe alguém fazer um
filme sobre a sua história”. Ehehehe... já deu pra perceber que ele não gostou
nem um pouquinho do Gump dos cinemas.
05
– Anthony Burgess (Laranja Mecânica)
Bem antes de ter desagradado Stephen King com a
adaptação de “O Iluminado” em 1980, o cineasta Stanley Kubrick já havia irritado
o escritor Anthony Burgess com uma mexida ‘não muito legal’ em seu romance
Laranja Mecânica. Na opinião de Burgess o filme de 1971 não foi nada bom, nada
bom.
De acordo com a revista Mental Floss, o autor disse
o seguinte sobre o filme: “O livro pelo qual eu sou mais conhecido, ou
conhecido apenas por ele, foi reduzido a uma glorificação da violência e do
sexo. O filme tornou fácil para as pessoas não entenderem sobre o que o livro
se trata, e este mal-entendido vai me perseguir até a minha morte”.
Carácolas! Ele detestou, de fato, a adaptação de seu
livro feita por Kubrick.
06
– Anne Rice (Entrevista com o Vampiro)
Entrevista com Vampiro foi
dirigido por Neil Jordan e o roteiro ficou a cargo da própria Anne Rice. A
princípio, a autora desejava que seu protagonista fosse interpretado por Rutger
Hauer, o que não aconteceu, já que os produtores acabaram escolhendo Tom
Cruise, e Rice não gostou nada da escolha. Inclusive, chegou a disser que não
haveria elenco mais bizarro para a sua obra.
Vale lembrar que a adaptação cinematográfica de “Entrevista
com o Vampiro” reuniu em 1994, alguns dos maiores galãs da década de 90, entre
eles: Tom Cruise, Brad Pitt e Antônio Banderas.
Com relação a Cruise, a autora explicou que ele não daria
toda a profundidade necessária ao personagem com a sua atuação. Porém, após a
estreia do filme, voltou atrás no comentário e elogiou o ator.
“Eu achei que o Tom Cruise fez um trabalho excelente
no filme. Ele tentou capturar a beleza e o espírito de Lestat”. Mas no início,
ela não pensava bem assim.
07
– Michael Ende (História Sem Fim)
Este filme que está guardado no coração dos
adolescentes dos anos 80 teve uma gravação muito tumultuada. Michael Ende, autor
do livro “História Sem Fim”, inicialmente, estava participando da produção,
escrevendo o roteiro da trama, mas quando terminou, o estúdio não gostou do que
tinha visto e chamou outro roteirista para reescrever o texto. Pimba! Esta
decisão administrativa foi o início do estopim. Segundo Ende, o novo roteiro do
filme tirou toda a essência da obra, e a transformava em algo melodramático e
comercial”. O autor ficou tão irritado com todas essas mudanças, que tentou
barrar a produção, e impedir que o filme fosse lançado.
Quando ele não conseguiu, levou o caso para a
justiça, mas acabou sendo derrotado. Ende detestou tanto a releitura de seu
romance que exigiu que que seu nome fosse tirado da produção.
08
– Richard Matheson (Eu Sou a Lenda)
Richard Matheson que escreveu “Eu Sou a Lenda” em
1954 não aprovou nenhum dos três filmes
baseados em sua obra. Ele afirmou que todos eles descaracterizaram a história
original, principalmente o final “estranho” da produção mais recente com Will
Smith.
“Mortos que Matam” (1964), apesar de ser fiel ao
enredo do autor teve falhas de direção e de elenco grotescas que “assassinaram”
a produção. Já “A Última Esperança da Terra” (1971) mudou tudo o que Matheson
escreveu, o deixando furioso. E finalmente, “Eu Sou a Lenda” (2007) aniquilou o
final do livro, mudando inteiramente a sua essência. Nem é preciso dizer que
Matheson também cuspiu marimbondos.
09
– Roald Dhal (A Fantástica Fábrica de Chocolate)
Roald Dahl ficou decepcionado com o filme “A
Fantástica Fábrica de Chocolate” baseado em seu grande sucesso literário. Apesar
de ter escrito partes do roteiro do filme de 1971, ele não aprovou a versão
final. Segundo a BBC, Dahl não gostou que o foco da história passou para o
personagem Willy Wonka ao invés do garoto Charlie, o verdadeiro protagonista do
livro. Até o título original do filme foi alterado de “Charlie and the
Chocolate Factory” para “Willy Wonka and the Chocolate Factory”. Segundo a BBC,
o filme foi patrocinado pela Quaker que estava lançando os chocolates Wonka na
época.
A decepção de Dahl foi tão grande que ele não deixou
que a continuação da história, “Charlie e o Grande Elevador de Vidro”, virasse
outro filme. O autor também proibiu outras versões da Fantástica Fábrica de
Chocolate.
Somente após sua morte, em 1990, é que começaram as
negociações para um novo filme, que foi lançado em 2005 e produzido por Tim
Burton.
10
– Lauren Weisenberger (O Diabo Veste Prada)
A escritora norte americana, Lauren Weisenberger
pode até ter dito em algumas entrevistas que gostou da adaptação para os
cinemas de seu livros, mas no fundo ela ficou decepcionada. Tudo por causa da
personagem Miranda Priestly que teve a sua personalidade distorcida no filme. Priestly, interpretada pela atriz Meryl
Streep, pode ser considerada uma das personagens mais icônicas
do cinema contemporâneo, virando, até mesmo, uma referência quando o
assunto é patrão chato, mas apesar disso, não agradou Weisenberger, não
agradou; mesmo.
Palavras da autora em entrevista ao site
Cosmopolitan UK: “Não gostei que eles humanizaram tanto a Miranda. Entendo
que Meryl Streep queria fazer uma personagem tridimensional, porque ela
é o maior talento que conhecemos, mas eu tive dificuldades de imaginar
Miranda Priestly chorando em um quarto de hotel ou trocando confidencias com a
Andy. Eu fiquei ‘Oh, ela tá chorando? Eu acho que não!”.
Tai galera, por hoje é só.
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