Saudades do Gilmar.
Grande amigo que estudou comigo na antiga Fundação Educacional de Bauru, hoje
Unesp. Naquela época, amigaço do peito; hoje, não sei onde está. Sumiu, assim
como sumiram muitos outros colegas e amigos daqueles anos dourados.
O Gilmar era fissurado
em filmes de ação e nos finais de semana, a nossa tchurma – Salete, Vânia,
Laurindo, Lurdinha e outros que não me lembro os nomes – nos reuníamos numa república
de estudantes para assistir aos saudosos VHS.
Ocorre que dificilmente conseguíamos assistir um filme completo. Cara,
se faltassem balas voando, facões cortando cabeças, rabos de arraia ou socos
nos primeiros cinco ou dez minutos de exibição, lá ia o Gil trocar de filme.
- “Filme bom tem que
ter porrada logo de cara!” Dizia ele.
Pois é, há poucos dias,
acho que baixou o espírito do Gilmar em mim. De repente, senti uma vontade
enorme de ler algumas histórias de faroeste, mas daquelas em que a ação já
começava a rolar logo nas primeiras páginas. Cara, bateu uma saudade enorme dos
meus tempos de leitor de pulp-fictions e apesar da minha ‘musa-espiã’ Brigitte
Montfort sempre ter sido a primeira da a lista (tanto que cheguei a dedicar
dois posts especiais em sua homenagem – ver aqui e aqui), também gostava de ler
os selos Chumbo Grosso, Chumbo Quente e Oeste Brutal, sem contar El Coyote. As
histórias do Chumbo Grosso eram as que rolavam mais ação com tiroteios a
vontade.
Para satisfazer esse
meu desejo – que nem eu sei explicar como surgiu de repente – comei a fuçar na
Internet e acabei encontrando, por acaso, no portal da estante Virtual o livro
“Os Melhores Contos de Faroeste”, uma antologia de histórias clássicas de bang
bang reunindo autores consagrados do gênero. A seleção dos contos foi feita por
Jon E. Lewis e publicada pela editora José Olympio em 1991. Não pensei duas
vezes e fechei a compra imediatamente.
Quando o livro chegou,
a minha expectativa em recordar os desafios, tiroteios, combates entre índios e
cavalarias do exército e por aí afora era enorme. Mas ao abrir a obra e ler o
seu primeiro conto... o meu ânimo afrouxou. “Os Proscritos de Poker Flat” de
Bret Harte que chegou a ganhar várias filmagens, inclusive por John Ford em
1919 é muito lento e prá ser sincero: chato demais.
A minha decepção ficou
um pouco amenizada com o segundo conto de Mark Twain. “A Caminho do Oeste” é
muito bem escrito, mas... novamente, faltaram os duelos, as rusgas entre
cavaleiros rivais, enfim, o clima do velho oeste. Twain optou por escrever uma
lorota, onde o leitor dá muitas risadas com as peripécias dos personagens. Tem até
o danado de um búfalo que consegue subir numa árvore, sem contar um curioso
coelho-jumento que corre mais do que o The Flash. Caramba, mas e o clima dos
faroestes?!
Galera, e assim, a
minha leitura foi se arrastando. “Os Melhores Contos de Faroeste” não é um
livro ruim, mas peca pela falta do ritmo acelerado das pulp-fictions. Acredito
que uma das falhas de Lewis foi optar pela seleção de muitos contos clássicos,
onde a ação demora uma infinidade de tempo para acontecer.
Dos 17 contos, gostei
de apenas oito, quanto aos outros nove, sinto muito, mas não eram o que eu
esperava. Não se salvaram nem mesmo as histórias de Mark Twain e Jack London,
dois verdadeiros monstros sagrados da literatura mundial. Vejam bem, quando
escrevo “não se salvaram”, estou querendo dizer que os contos não atenderam as
minhas expectativas - histórias viscerais do velho oeste, mesmo que
estereotipadas, mas com uma carga satisfatória de ação. Mas se você, estiver à
procura de contos clássicos ao estilo de “Os Pioneiros”, com certeza irá
gostar.
Vou comentar
rapidamente apenas os contos que li e gostei.
01
– Ao Estilo de Um Caballero (O. Henry)
Um perigoso fora da lei,
rápido no gatilho, descobre que está sendo traído pela sua mulher. Hã-hã
biduzão, tá pensando que ele vai crivar o seu rival de balas, não é? Enganou-se
amigo, porque a sua vingança é, digamos... inusitada, aliás, muito inusitada, o
que não deixa de ser terrível.
02
– Penny, O Mau (B.M. Bower)
Um conto sobre
vaqueiros que ganham a vida tocando grandes manadas de bovinos. O autor narra a
saga desses cowboys durante uma longa e perigosa travessia, justamente quando cai
um temporal devastador com raios e trovões que provocam o estouro da boiada.
Para complicar ainda mais: um desses vaqueiros, apesar de experiente, é um ‘manguaceiro’
de mão cheia. O sujeito resolveu beber todas, e logo no momento crítico em que
São Pedro decidiu abrir todas as comportas do céu. Imagine só a confusão!
03
– O Patrulheiro (Zane Grey)
É a história de um
Texas Rangers muito respeitado na fronteira, um dos melhores, para não dizer o
melhor. Além de ser às no gatilho, também é um rastreador incomparável. Num
belo dia, a garota por quem nutre uma paixão platônica é seqüestrada por um
grupo de foras da lei. E lá vai o Texas Rangers, sozinho atrás da mina.
04
– Vinho no Deserto (Max Brand)
Um fora da lei cruel,
traiçoeiro e cínico e um estalajadeiro ‘humirdi de ré’ com uma perna de pau.
Eles são os únicos personagens desse conto. O safado do fora da lei decide
humilhar ao extremo o pobre coitado do estalajadeiro, sem saber da vingança
‘terrible’ que o homem da perna de pau lhe prepara.
05
– Quando Você Leva a Estrela (Ernest Haycox)
O conto é sobre o
autêntico ‘xerifão’. Aquele que coloca a lei acima de qualquer coisa. Agora,
ele terá que provar o seu lema ao pé da letra, já que um de seus melhores
amigos decidiu se enveredar para o caminho do mal, praticando um assalto com
morte. E lá vai o xerifão!
06
– Comando (James Warner Bellah)
O conto de James Warner
Bellah serviu de base para o grande sucesso cinematográfico “Legião Invencível”
(1949) com o mito John Wayne. Um sargento veterano e durão, John Utterback
comanda com mãos de ferro o seu regimento de cavalaria, mas acaba, quase sempre,
sendo questionado pelo seu primeiro oficial, um jovem impetuoso, mas
inexperiente. A prova de que um dos dois estará com a razão acontece no final
após uma empedernida batalha contra os índios cheyennes.
07
– Os Cativos (Elmore Leonard)
Taí mais um conto que
foi parar nos cinemas com o nome de “O Resgate do Bandoleiro” (1957) com
Randolph Scott e Maureen O’Sullivan. Quatro pessoas que viajam numa diligência
(um jovem casal, um jogador e o cocheiro) acabam caindo nas mãos de um grupo de
assaltantes que os fazem reféns. O enredo de Elmore é tenso prá dedéu e o ápice
acontece quando os dois sobreviventes do seqüestro decidem encarar, na troca
de balas, o bandido mais perigoso do
grupo.
08
– Soldado Só (T.V. Olsen)
Valeu pela excelente cena
de batalha descrita com perfeição pelo autor, logo no início do conto. Um
regimento da cavalaria americana é trucidado pelo ataque organizado de um grupo
de índios. Conseguem escapar apenas um soldado e uma mulher que precisam unir
forças - esquecendo as suas diferenças, que são muitas – para chegar até o Forte
mais próximo.
Bem é isso aí galera.
Quanto ao conto “Um Homem Chamado Cavalo” que eu considerava – antes da leitura
- a pedra filosofal do livro, foi uma verdadeira decepção. Nem se compara ao excelente
filme com Richard Harrison que passou nos cinemas em 1970.
Fui!
3 comentários
Me interessei muito pelo tema de faroeste, pois nunca li um livro deste gênero. Vou dar uma olhada no mencionado Os Pioneiros. Jam, você poderia me indicar alguns livros de faroeste dentre os melhores que tem conhecimento ?
ResponderExcluirbomlivro1811.blogspot.com.br
Olá Maurilei!
ExcluirVou indicar dois que li há algum tempo e gostei muito: "Valdez Vem Aí" e "Hombre", ambos de Leonard Elmore. Este autor que faleceu em 2013 foi um mestre dos diálogos. O cara era fera no assunto; os seus diálogos, de fato, prendem o leitor. Tanto Valdez quanto Hombre foram transformados em filmes - o primeiro com Burt Lancaster e o segundo com Paul Newman - de grande sucesso nos cinemas da década de 70. Os dois livros são ótimos. Pode ler, sem medo.
Abcs!
Vou dar uma pesquisada agora mesmo. Agradeço muito as dicas !
Excluirbomlivro1811.blogspot.com.br