Nunca dei muita atenção aos chamados desafios
literários – antes e também depois de ter um blog. Achava uma grande bobagem
esse lance de estabelecer metas de leitura, coisas do tipo ler ‘tantos’ livros
em uma semana; depois, ler outros tantos livros durante um mês e assim por
diante. Na minha, outrora, inocente
concepção, acreditava que bastava abrir um livro e apenas ler, sem nenhum compromisso
firmado, ou então até aparecer outra atividade, coisa do tipo ver filme, dar um
rolê com os amigos, ver Lulu e etc.
Cara, hoje eu entendo com estava errado. Se tivesse
estabelecido metas de leitura no passado teria lido muito mais livros e
consequentemente, hoje, poderia ampliar sem nenhum problema a minha lista de compras
literárias, deixando de ser tão seletivo.
Devo essa mudança de opinião em grande parte ao meu
pai-herói, o saudoso Kid Tourão (se você ainda não conhece o Kid veja aqui). Putz, que saudades dessa fera! Que vazio no
peito... Lágrima safada vai embora pô! Bem, mas como estava dizendo escrevendo,
foi o velho Kid que me puxou a orelha
sobre a importância de se tornar um leitor mais organizado e responsável. E
esta puxada de orelha chegou ‘babando’ de duas maneiras: direta e
indiretamente.
Certa vez apareci em casa ‘voando’ do trabalho e emborquei
no meu quarto para preparar uma nova pauta de reportagem ou entrevista que
tinha de concluir com urgência. Após algum tempinho eu ouvi o famoso ‘Toc-toc’
na porta e ao abri-la, lá estava o ‘super-velhinho’ – nesta época nem tão velho
e com a saúde em dia – dizendo:
- Nossa! A sua estante tá lotada de livros!
- Pois é pai, tá mesmo.
- Será que você vai conseguir ler tudo aquilo?
- Vou tentar.
O kid deu aquele manjado sorriso matreiro e concluiu:
- Se você não conseguir ler aquela ‘bolada’ de
páginas que está na sua estante, vai ficar um bom tempo sem comprar novos
livros que goste de ler.
Após receber a puxada de orelha animal, o tonto,
aqui, ouviu uma campainha disparar no seu cérebro, parecida com aqueles alarmes que soam nos filmes de ficção cientifica, no momento em que ocorre a contaminação por um vírus letal de um laboratório ultra secreto. UÔN-UÔN-UÔN-UÔN!!!
Quando o barulho da sirene parou no meu sub-consciente,
entendi a besteira que estava cometendo. Cara! Eu amava ler, mas não estava
lendo; bem... quer dizer, pensava que lia, mas não lia. Na realidade, enquanto
trabalhava ficava acalentando a expectativa da leitura prazerosa de um bom
livro – que já estava reservado na estante – mas que só iria fazer quando
concluísse todos os meus afazeres profissionais. Resultado: quando abria o tal livro
estava tão cansado que só conseguia ler apenas três ou quatro páginas e depois,
Zzzzzzzzzzzz. Sono!
Depois, olhei para a minha estante e o meu ânimo
naufragou mais fundo do que o Titanic. PQP!! Como vou ler tantos livros
maravilhosos, ‘devorando’ no pipoco, apenas quatro páginas por dia?!! Eu
parecia um beduíno morrendo de sede no meio de um oásis, impossibilitado de beber
água porque os lábios estavam... sei lá, colados! Capiche?
Taí! Esta foi a chamada na chincha direta do Kid
Tourão. Quanto a indireta, veio recentemente e de uma forma que dói muito todas
as vezes que me lembro. O Kid já estava começando a ficar debilitado pelo
câncer quando as viagens para hospitais
de Jaú e Bauru começaram a se intensificar num ritmo frenético. Eu e meus
irmãos revezávamos nesta missão, mas mesmo assim, o tempo para outras
atividades foi ficando cada vez mais escasso. Nestas horas, me lembrava do
famoso ‘toc-toc’ na porta do meu quarto e das palavras sábias do velho. Sabia, no meu íntimo, que ele iria ficar muito
triste se eu me tornasse relapso com as minhas leituras.
Estes dois fatos em minha vida - um feliz e outro
triste – me ensinaram a importância de estabelecer metas ou desafios literários
se você estiver a fim de desfrutar do prazer pleno que a leitura proporciona.
Hoje, apesar da vida corrida que levo, não deixo jamais de cumprir as minhas metas literárias
e já posso ver com alegria que as pilhas de livros da minha estante estão
diminuindo, e muito! Posso até soltar um Iahuuuuuuu!, escancaradamente alegre.
Pois é galera, o prazer pleno da leitura voltou.
Não quero aqui estabelecer parâmetros ou dar dicas
de como você deve ler ou então de quantos livros você deve encarar. Isto
depende de cada um. Acredito que o importante é que o leitor determine suas
próprias metas.
No meu caso, procuro fazer um desafio por semana,
além de estabelecer a leitura rotineira de pelo menos 30 páginas diárias. Menos
que isso, é pecado mortal (rs). Quer dizer, como a maioria das obras tem em
torno de 350 páginas, mantendo a minha meta, consigo ler um livro a cada 12
dias.
Quanto a disponibilidade, sou bem eclético. Leio de
manhã, advinha onde??? Biduzão... no banheiro – no trono que todos sentam -, no
intervalo em meu trabalho e a noite em casa. Além desses momentos sagrados, não
desperdiço oportunidades que aparecem, principalmente quando a história é
contagiante. Vale ler em consultório médico; na fila do banco; no carro,
enquanto espero alguém; e por aí afora.
Quanto aos desafios semanais, procuro criá-los. Recentemente
fui obrigado a ler “Morri Para Viver” de Andressa Urach em um dia (ver aqui). Há
dois meses, estabeleci por meta reler (queria muito!!) em 30 dias a trilogia “As Crônicas
de Artur” (O Rei do Inverno, O Inimigo de Deus e Exaclibur), além do primeiro volume de “Crônicas Saxônicas”, ambos de Bernard
Cornwell em um mês.
Hoje, percebo que a minha leitura flui melhor e que
o prazer de ler um livro também aumentou.
Taí galera, acabei me rendendo aos famosos desafios
literários. E pensar que no passado excomungava essa prática.
Hoje quero finalizar esse post de uma maneira
diferente daqueles tradicionais: “Valeu!”, “Thanks!”, “Até a próxima!”, etc.
Quero encerrar escrevendo:
“Obrigado Tourão e 'zimbora' com os desafios!!”
2 comentários
Gostei muito desse post, principalmente porque me identifico com essa mudança de opinião. Estou começando a definir metas agora e percebi que é muito útil para acelerar a leitura e tornar o simples fato de ler mais prazeroso!!
ResponderExcluirNa realidade, estabelecemos metas para tudo em nossas vidas, não é verdade? Então porque não estabelecermos, também, metas para as nossas leituras?
ExcluirAbcs!